Quem é o consumidor de materiais de construção
Setor deve continuar investindo em capacitação profissional para atender a um público cada vez mais exigente
Além de conhecer plenamente todas as características e funcionalidades de cada produto, quem comercializa materiais de construção também deve ficar atento ao perfil dos seus consumidores. Saber como o comprador se comporta no ponto de venda é fundamental para direcionar tanto as ações de comunicação da marca como a própria postura dos vendedores.
Para a profissional de Marketing, Kátia Matias, Gerente Geral da Doutores da Construção, PDV é o local onde opções podem ser comparadas, no entanto, somente com um bom apoio de um vendedor treinado e conhecedor dos produtos que vende, o consumidor conseguirá sair da loja com o produto certo para a sua necessidade, analisa.
De acordo com a pesquisa Comportamento do Consumidor em Lojas de Materiais de Construção e Home Centers, realizada pelo POPAI Brasil em 2009, 71% dos consumidores finais decidem a compra direto no ponto de venda. Já entre os consumidores profissionais, 56% das decisões de compra são tomadas no PDV. Considerando estes dados, compreende-se que, quanto mais informações o consumidor tiver, mais seguro ele ficará ao optar entre um ou outro produto.
A pesquisa do POPAI identificou também que o sistema de auto-serviço, no qual o próprio cliente escolhe o produto na prateleira sem a intervenção de um vendedor, ainda não é tão habitual no Brasil. Segundo a pesquisa, a preferência dos consumidores é pelo contato direto com o vendedor. A partir desta informação conclui-se que o investimento e a capacitação da equipe de vendas continuam sendo diferenciais importantes para a decisão de compra.
Para Cesar Luiz Gonçalves, presidente do Simaco (Sindicato do Comercio Varejista de Materiais de Construção no Paraná) e VicePresidente da Fecomercio (Federação do Comercio do Paraná), o vendedor de materiais de construção é encarado muitas vezes como um consultor e, por isso, deve estar muito bem preparado. O consumidor espera que o vendedor ofereça a ele o melhor produto para a sua necessidade, pelo menor custo possível diz.
Segundo Kátia Matias, um bom profissional de vendas é aquele que conhece bem o sistema construtivo e pode ajudar o consumidor a identificar o que ele realmente precisa para que sua construção ou reforma seja concluída de maneira eficiente e sem desperdício. Capacitar esse profissional de vendas é muito importante, e a Doutores da Construção vem trabalhando fortemente nisso em conjunto com as lojas e com as indústrias.
Lidando com diferentes perfis
O setor de materiais de construção tem a característica peculiar de ter que lidar com dois públicos bem definidos: os consumidores domésticos e os consumidores profissionais.
O profissional, seja ele um arquiteto, engenheiro ou mestre de obras, costuma ser mais exigente, especialmente quanto à qualidade do produto, por estar habituado com a utilização dos materiais de construção em seu dia a dia. A gerente da Doutores da Construção sugere que o ideal é que os vendedores conheçam tecnicamente as soluções das indústrias e possam apoiar o momento da compra, levando ao consumidor profissional informações relevantes sobre as diferentes opções do mercado.
Dificilmente o profissional aceita ser atendido por um vendedor que tenha menos conhecimento que ele acredita Cesar Luiz Gonçalves. Já em relação ao consumidor final, ele diz que o vendedor tem a tarefa de vender a realização de um sonho.
Mesmo ainda havendo a predominância de consumidores homens, é importante que o setor também esteja preparado para atrair e fidelizar o público feminino. Kátia Matias afirma que as mulheres influenciam bastante a compra de materiais de construção, principalmente no que se refere aos materiais de acabamento. No geral, o que temos notado é um aumento do número de mulheres nesse mercado, inclusive entre aquelas que buscam um conhecimento profissional para atuação no setor. Temos em torno de 3% da base de profissionais treinados pela Doutores da Construção composto pelo público feminino exemplifica.
O presidente do Simaco concorda que as mulheres preocupam-se mais com a estética, enquanto os homens são mais focados nos custos. Segundo Gonçalves, o vendedor deve estar apto a apresentar a elas os valores agregados de cada produto.
Em relação à classe social, o estudo mostrou que a maior parte dos compradores de material de construção é da classe B, representada por 52%; seguida pelas classes C, com 31%, A, com 14% e D, com 3%. Na avaliação de Kátia, as expectativas positivas de retomada de crescimento, de emprego e o próprio PAC auxiliarão o mercado e farão com que as vendas aumentem em todas as classes, inclusive entre as mais baixas.
Cesar Luiz Gonçalves ressalta ainda a importante participação no mercado do consumidor formiguinha, aquele que, aos poucos, vai comprando os materiais e realizando, sozinho ou com serviço terceirizado, a reforma ou a construção da casa própria. É esse consumidor que garante a sobrevivência das pequenas lojas de materiais existentes nas periferias e seu potencial deve ser considerado diz.
Contatos:
Doutores da Construção: italo.genovesi@ketchum.com.br
Simaco: simacopr@simaco.com.br
Texto complementar
Doutores da Construção é uma plataforma de negócios que se utiliza de técnicas de treinamento, relacionamento e fidelização, tendo como objetivo principal melhorar a experiência do consumidor. O trabalho é focado nos profissionais instaladores que atuam na construção civil - pedreiros, pintores, encanadores, eletricistas, além dos vendedores de lojas de materiais de construção. O programa disponibiliza treinamento para este público por meio de salas de aulas nas lojas credenciadas, utilizando um sistema de transmissão ao vivo via satélite.
Os profissionais passam por uma avaliação teórica, todos os treinados têm o seu nome disponibilizado no site www.doutoresdaconstrucao.com.br. Também podem ser obtidas informações sobre profissionais, lojas e a Comunidade, pelo telefone (11) 3103-2900.
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Imóveis financiados com poupança batem recorde em 2009
Dados da Abecip revelam que o valor financiado chegou a R$ 34,017 bilhões, o que representa crescimento de 13,3% em relação a 2008
O financiamento imobiliário com recursos da poupança foi recorde em 2009, em valor e em número de unidades, segundo divulgou a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). O valor financiado chegou a R$ 34,017 bilhões, o que representa crescimento de 13,3% em relação aos R$ 30,032 bilhões de 2008. Foram financiadas 302.680 mil unidades, superando as 299.746 mil do ano anterior, que também tinha sido recorde.
O crédito habitacional com recursos da poupança deve crescer 50% em 2010 na comparação com o ano passado, conforme projeção da Abecip, chegando a R$ 45 bilhões. A entidade estima, ainda, financiamento recorde de 400 mil a 450 mil unidades. O crédito imobiliário com recursos de poupança aumentou 51% no mês de dezembro, para R$ 3,829 bilhões. O número de unidades financiadas foi de 31.688 mil - 24,45% acima do registrado em dezembro de 2008.
Em dezembro, a Abecip afirmou, em nota, que o desempenho dos financiamentos com recursos da poupança em 2009 deveria ser "ainda melhor que o de 2008". A projeção representava melhora em relação à estimativa divulgada em agosto pela entidade de crédito imobiliário de, no mínimo, R$ 30 bilhões.
No ano passado, a captação líquida (depósitos menos retiradas) dos recursos da poupança destinados ao Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE) aumentou 11,05%, para R$ 23,805 bilhões. Em dezembro, a captação líquida cresceu 2,92%, para R$ 7,164 bilhões.
Fonte: Abecip
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Construtoras descobrem a terceira idade
Projeto criado na Universidade Federal de São Paulo adapta apartamentos às pessoas com mais de 60 anos
Novos empreendimentos começam a propor construções que levem em conta as necessidades da terceira idade. Isso surge em função da demanda, já que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projeta que, até 2025, a população brasileira terá cerca de 32 milhões de pessoas com idade acima dos 60 anos. Pensando nesse público, e em seu potencial de compra, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com a Tecnisa, desenvolveu o projeto "Construindo com Consciência Gerontológica".
O trabalho foi conduzido por um grupo multidisciplinar, formado por professores da universidade, arquitetos, engenheiros, gerontólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais, e consiste em adaptar plantas às normas de acessibilidade da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). O resultado prático criou menos escadas e mais rampas; facilitou o acesso às piscinas; implantou fechaduras invertidas e pisos opacos e antiderrapantes nos banheiros; eliminou os cantos vivos e tornou mais largas as áreas de circulação e os vãos das portas.
A coordenadora do projeto foi a gerontóloga Naira Dutra Lemos, da Unifesp, que levou em consideração os dados do Sistema Único de Saúde (SUS), que aponta que as quedas em ambientes domésticos lideram as estatísticas de acidentes envolvendo pessoas da terceira idade. O índice é tão alto que a Organização Mundial da Saúde já criou o Dia Mundial de Ação contra Quedas, que é em abril, exatamente para combater ambientes que ofereçam risco para os idosos. Então, uma das preocupações do projeto foi atentar para os pisos antiderrapantes, sobretudo nos banheiros, afirmou a médica.
Naira Dutra Lemos chama a atenção para o fato de que o programa "Construindo com Consciência Gerontológica" não inviabiliza que idosos e jovens convivam no mesmo imóvel adaptado para a terceira idade. O projeto é útil também para quem têm crianças pequenas, e hoje é muito comum em uma casa ou em um apartamento residirem um senhor ou uma senhora de 70, 80 anos e uma criança de 3, 4 anos, diz.
A gerontóloga elenca as principais reclamações dos idosos com relação às habitações:
* Prédios baixos, de até cinco andares, pecam pelo excesso de escadas e a ausência de rampas e elevadores.
* Algumas edificações, sobretudo as mais antigas, não possuem rampas que deem acesso à entrada do prédio. Neste caso, um idoso ou um cadeirante sente muitas dificuldades para ingressar no imóvel.
* Vãos das portas estreitos, que dificultam o tráfego interno de um idoso que, por ventura, precise do auxílio de um andador, cadeira de rodas ou até mesmo bengala.
* Banheiros sem pisos antiderrapantes e com poucos pontos de apoio, como barras de segurança, principalmente na área do banho.
* Ambientes com iluminação precária, que facilitam os tropeços, esbarrões e, consequentemente, as quedas.
* Portas com fechaduras sem alça, o que dificulta o apoio e o manuseio.
A especialista avalia que a nova preocupação das construtoras com a terceira idade tem a ver com um novo posicionamento do mercado. No Brasil, já é comum pessoas com idade acima de 60 anos continuarem plenamente ativas e com renda média até superior aos mais jovens. A medicina evoluiu, a tecnologia evoluiu e o idoso também evoluiu. Ele hoje é tão consumidor quanto um adulto de 30 anos. Por isso, passou a exigir acessibilidade adequada e habitações adaptadas a ele, diz Naira Dutra Lemos, lembrando que o idoso já enfrentar condições difíceis quando sai de casa, com calçadas irregulares, e o mínimo que pode exigir é que a construção civil lhe ofereça conforto em casa.
Entrevistada: Naira Dutra Lemos: nairadutra@uol.com.br
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Como evitar os danos causados por desastres naturais
Engenheiros lançam manifesto para alertar autoridades e sociedade sobre a necessidade de ações urgentes a fim de se evitar e minimizar as catástrofes
A cada ano, em especial na época de chuvas, repetem-se no Brasil as tragédias decorrentes de desastres naturais, como enchentes e deslizamentos, sem que sejam tomadas medidas efetivas de prevenção. Diante deste cenário, entidades de diversas categorias se mobilizam com a intenção de oferecer às autoridades competentes subsídios técnicos capazes de prevenir ou ao menos amenizar as perdas.
Um exemplo é a ABENC (Associação Brasileira de Engenheiros Civis) que, em dezembro de 2009, realizou simultaneamente, em Curitiba, o 1º Seminário Brasileiro sobre Catástrofes Naturais e Antropogênicas e o 1º Seminário Brasileiro de Engenharia Civil Emergencial. Após os debates, concluiu-se que pouco ou quase nada tem sido feito em relação à utilização de conhecimentos e ferramentas já desenvolvidas a fim de se evitar e minimizar os efeitos de catástrofes. Com base nesta conclusão, e considerando necessárias mudanças de atitude, os participantes organizaram um manifesto com orientações sobre as causas, efeitos, prevenção e mitigação das catástrofes naturais e antropogênicas e seu atendimento emergencial.
Na entrevista a seguir, o presidente da ABENC, engenheiro civil Ney Fernando Perracini de Azevedo, fala sobre a importância da prevenção e as ações da entidade neste sentido.
Quais os desastres naturais mais preocupantes no país atualmente?
Em várias regiões do País problemas com inundações e deslizamentos de encostas têm ocorrido frequentemente, exigindo maiores atenções das autoridades e da sociedade.
É consenso que muitos estragos decorrentes de fenômenos naturais poderiam ser evitados. Muitas soluções técnicas, inclusive, já foram apresentadas. O que o país precisa fazer, então, para minimizar os danos?
Embora muitas vezes fenômenos naturais extremos surpreendam, a prevenção pode reduzir significativamente os efeitos de ocorrências graves e até amenizá-las. Sem dúvida, o primeiro passo é o da prevenção, desde as previsões climáticas, que podem antecipar informações úteis para providências específicas em áreas de risco, até rigorosos critérios de ocupação e uso do solo. Os administradores públicos têm o dever de assumir responsabilidades, sobretudo no impedimento de ocupação de áreas impróprias e na fiscalização de ocupações irregulares. Para tanto, há necessidade de estudos pertinentes, como mapeamento das áreas de risco e criação de bancos de dados, que podem fornecer úteis subsídios para decisões de caráter preventivo.
Como o setor da construção civil pode colaborar com a prevenção de desastres naturais?
A Engenharia Civil, abrangendo o setor da construção, desempenha importante papel na prevenção. Cabem-lhe as atribuições de identificar e avaliar áreas de risco e de indicar, recomendar, projetar e executar obras necessárias à segurança do patrimônio e das pessoas. A Engenharia Civil combate os riscos, que geralmente se associam à falta de critérios técnicos, e dispõe de instrumentos para preveni-los e, no caso de já existirem, eliminá-los ou reduzi-los. A ABENC luta para que esse relevante papel seja melhor compreendido, em especial no âmbito municipal. É recomendável que a classe dos Engenheiros Civis e o setor da Construção Civil se envolvam nesse processo, que passa pela conscientização dos administradores públicos e da sociedade.
O que caracteriza uma obra segura?
Adequação ambiental e segurança são aspectos intrínsecos da Engenharia Civil, que, por suas próprias características, intervém no meio natural, porém racionalmente, atendendo a múltiplos requisitos. Evidentemente, obra bem projetada e bem construída atende aos requisitos de segurança, mas é preciso considerar a sua localização, o seu entorno, porque há riscos externos, como os riscos comuns em áreas sujeitas a enchentes ou deslizamentos de encostas. Para ser segura, a obra tem que se situar em local seguro. Não pode haver obra segura em local de risco.
Como se certificar que uma obra é segura e que vai resistir a um possível fenômeno natural de maior intensidade?
É quase zero a probabilidade de ocorrência grave em edificação projetada e construída por profissionais capacitados, de acordo com as normas técnicas e em local considerado adequado, desde que bem conservada. Deslizamentos são comuns em regiões montanhosas e as inundações afetam áreas que podem ser facilmente identificadas como de risco. No entanto, não se deve esquecer do imponderável, do improvável, como inesperados tornados que recentemente afetaram algumas cidades brasileiras, mas os riscos de ocorrências dessa natureza são muito pequenos.
A falta de manutenção das obras acentua os riscos?
Representando o Colégio de Entidades Nacionais (CDEN), a ABENC participou recentemente de grupo de trabalho formado pelo Confea para estudar a valorização e regulamentação da manutenção das obras de Engenharia, considerando-se edificações, pontes, estradas, barragens e outras. Há consenso quanto à necessidade de manutenção contínua, com inspeções ou fiscalizações periódicas, tanto em obras de infraestrutura como em edificações de uso público, como escolas, hospitais, terminais de transporte, hotéis e shoppings, entre outras. Em algumas cidades brasileiras já atuam empresas de Engenharia especializadas na manutenção de edifícios altos. A ABENC tem como uma das suas bandeiras o apoio à valorização das atividades de manutenção das obras de Engenharia Civil.
A Lei de Assistência Técnica Gratuita pode contribuir com a construção de edificações mais seguras? De que maneira?
Certamente, a assistência técnica é essencial para a segurança. A construção de edificações por pessoas sem a necessária habilitação profissional, ainda comum nas áreas mais modestas de algumas regiões brasileiras, atende precariamente a contingentes populacionais de baixa renda, sem lhes garantir conforto e segurança. A referida lei permite acesso a serviços de Engenharia para essas pessoas e lhes abre perspectivas de melhor qualidade de vida.
Quais são as características de uma área para que ela seja considerada de risco?
Condições topográficas, geológicas, pluviométricas, fluviométricas e outras devem ser consideradas para estabelecer características de uma área e seu risco, além do histórico de ocorrências extremas na região ou em condições similares. A partir dessas condições, cada caso merece análise específica.
Construções em encostas podem ser viáveis? Existem áreas de encostas que, com planejamento adequado, podem ser habitadas?
Nessa questão é recomendável não generalizar. Dependendo das condições locais, algumas obras em encostas podem ser aceitas, mas sendo respeitadas as condições originais, como, por exemplo, evitando grandes cortes ou interferências no fluxo das águas.
Após os últimos acontecimentos, quais deveriam ser os próximos passos, em relação à prevenção de catástrofes?
A sucessão de catástrofes ou desastres exige séria reflexão de todos os brasileiros sobre a questão, muitas vezes tratada sem a merecida importância. Procurando fazer a sua parte, como representante de uma das profissões de maior responsabilidade no processo de desenvolvimento nacional, a ABENC realizou em Curitiba, em dezembro de 2009, dois seminários nacionais, um para debater as catástrofes naturais e antropogênicas e outro para focar a Engenharia Civil Emergencial, contando com participantes de todas as regiões brasileiras. Os participantes desses seminários aprovaram documento final recomendando a implantação de fórum nacional de debate sobre o tema, a ser coordenado pela ABENC, e realização de programas de prevenção, contando com a participação da Secretaria Nacional da Defesa Civil, além de mobilização geral para estudos de causas e consequências de desastres e catástrofes.
Entrevistado:
Ney Fernando Perracini de Azevedo é engenheiro civil, formado pela UFPR em 1965. Trabalhou no Comitê Coordenador dos Estudos Energéticos da Região Sul do Brasil (Comitê Sul), que realizou os primeiros estudos do aproveitamento integrado do potencial energético da região. Atuou por 30 anos na Copel, em atividades relativas às obras das usinas de Salto Osório e Foz do Areia, na manutenção de obras civis e, por mais de 16 anos, na Assessoria da Presidência da Empresa. Foi professor da Faculdade Católica de Administração e Economia (FAE), por sete anos. Aposentou-se como Professor Adjunto da UFPR, onde lecionou por 30 anos disciplinas relativas a Estatística e Qualidade. Presidiu o Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) por três gestões. Presidiu o Departamento do Paraná da Associação Brasileira de Engenheiros Civis (ABENC/PR). Atualmente é Presidente da ABENC/Nacional.
E-mail
presidencia@abenc.org.br
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Texto complementar
MANIFESTO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHEIROS CIVIS SOBRE PREVENÇÃO DE CATÁSTROFES E MELHORIA DO ATENDIMENTO EMERGENCIAL
O 1º Seminário Brasileiro sobre Catástrofes Naturais e Antropogênicas e o 1º Seminário Brasileiro de Engenharia Civil Emergencial realizaram-se em Curitiba, simultaneamente, de 14 a 16 de dezembro de 2009, idealizados e organizados pela Associação Brasileira de Engenheiros Civis (ABENC), como uma das atividades comemorativas dos seus 30 anos de fundação.
Causas, efeitos, prevenção e mitigação das catástrofes naturais e antropogênicas e seu atendimento emergencial foram debatidos com a comunidade de Engenheiros Civis e profissões correlatas, bem como autoridades e representantes de organizações regionais, nacionais e internacionais, ensejando reflexões sobre os desafios que a sociedade deve enfrentar.
1. Constatando que pouco ou quase nada tem sido feito em relação à utilização de conhecimentos e ferramentas já desenvolvidas e existentes no sentido de evitar e minimizar os efeitos de catástrofes e considerando necessária mudança de atitudes que atualmente no Brasil quase se restringem a reparos e reconstruções após as ocorrências, aceitas como frutos da fatalidade , os participantes dos Seminários decidem:
1.1. Alertar as administrações federal, estaduais e municipais para a necessidade de medidas preventivas eficazes, como forma de evitar inestimáveis prejuízos ao patrimônio público e privado e ameaças à vida humana pelas catástrofes naturais e antropogênicas que vêm se repetindo, com preocupante freqüência, no continente e especialmente em nosso País.
1.2. Ressaltar o papel da Engenharia Civil e das profissões correlatas como de fundamental importância para estudo, prevenção e minoração das causas e efeitos das catástrofes.
1.3. Recomendar mapeamento das áreas de risco como providência primordial para identificação da vulnerabilidade, definição de ação preventiva e rápido atendimento das ocorrências, ajudando a hierarquizar prioridades.
1.4. Recomendar a criação e manutenção de bancos de dados de geodesastres, pluviométricos, fluviométricos e outros considerados pertinentes e defender sua melhor utilização para estudos de riscos e prevenção.
1.5. Recomendar às administrações municipais que dediquem especiais atenções às áreas de risco e priorizem projeto e execução de obras de Engenharia Civil como de canalização de rios, drenagens, proteção e recuperação de encostas, entre outras , importantes para evitar problemas em áreas de risco e proporcionar a desejável segurança da população.
1.6. Enfatizar a responsabilidade das administrações municipais quanto à necessidade de limitar e/ou orientar a sempre crescente impermeabilização do solo e de evitar ocupação desordenada do espaço físico, recomendando maior rigor no planejamento territorial urbano e rural quanto à ocupação e ao uso do solo.
1.7. Recomendar efetiva fiscalização municipal na expansão urbana, combatendo ocupações irregulares, que degeneram as cidades e comprometem seriamente a qualidade de vida.
1.8. Regulamentar a manutenção predial como exigência para edificações com grande número de usuários, sejam públicas como terminais de transporte, escolas, hospitais e outras ou privadas como hotéis, shoppings e outras.
1.9. Recomendar rigorosa fiscalização do comportamento de obras de grande porte, como barragens, obras de arte especiais, estradas e outras.
1.10. Enfatizar a co-responsabilidade dos diversos setores governamentais na prevenção e mitigação de riscos.
1.11. Propor o estabelecimento de políticas públicas que tratem do tema.
2. Levando em conta que a sociedade tem responsabilidades e muitas vezes interfere no meio, provocando catástrofes não-naturais, e que o ser humano, por viver aglomerado nas cidades, tornou-se mais vulnerável aos eventos extremos da natureza e suas consequências, os participantes dos Seminários decidem:
2.1. Reforçar a necessidade da educação ambiental e da conscientização com vistas à aplicação continuada de seus ensinamentos e conceitos pela sociedade.
2.2. Recomendar campanhas de orientação à população quanto aos riscos e inconvenientes da ocupação de áreas impróprias.
3. Buscando melhoria do atendimento emergencial, os participantes dos Seminários decidem:
3.1. Destacar que, nos atendimentos de emergência, em cooperação com os demais participantes da Defesa Civil, os Engenheiros Civis podem oferecer notáveis contribuições, por disponibilizarem instrumentos técnicos úteis para ordenamento de ações e tomada de decisões, contribuindo para redução dos riscos e minimização dos danos.
3.2. Observar que fazem parte das atribuições profissionais do Engenheiro Civil a avaliação, a inspeção e a liberação de áreas de risco.
3.3. Estimular o preparo de pessoas com forte e competente formação técnica nas áreas da Engenharia Civil, da Geologia, da Geografia e demais profissões correlatas, para atendimento pré, durante e pós ocorrência das catástrofes.
3.4. Promover a integração entre órgãos governamentais, entidades prestadoras de apoio e comunidade, com vistas a respostas integradas a toda a sociedade logo após a ocorrência.
3.5. Comunicar constantemente à população, em linguagem simples e inteligível, os fatos reais e as ações mitigadoras, do momento e futuras no curtíssimo prazo, de modo a evitar ao máximo a ansiedade, o pânico e também o possível afluxo de pessoas despreparadas às regiões sinistradas, durante o atendimento emergencial.
3.6. Defender o envolvimento e efetiva parceria da área judicial com os diversos órgãos de Defesa Civil, de modo a agilizar, com atitudes judiciais rápidas e pontuais, o atendimento às potenciais ocorrências.
3.7. Indicar como fundamental, após solucionada a ocorrência, a retro análise da situação, como forma de melhor entendê-la e registrar subsídios que possam orientar providências em relação a possíveis problemas futuros.
3.8. Recomendar que a recuperação dos espaços degradados e a reconstrução emergencial obedeçam a critérios técnicos adequados, evitando-se a repetição de erros ou a realização de obras precárias.
4. Diante da clara necessidade de ações práticas para debate com vistas a prevenção de catástrofes e melhoria do atendimento emergencial, os participantes dos Seminários decidem:
4.1. Propor a criação de fórum nacional de debate sobre catástrofes e atendimento emergencial, sob coordenação da ABENC e participação de outras instituições interessadas.
4.2. Recomendar à Secretaria Nacional da Defesa Civil que lidere, em nível nacional, programas de Prevenção de Desastres, pois somente a prevenção pode evitar e/ou minimizar os desastres e suas conseqüências, abrangendo aspectos humanos, materiais e econômico/financeiros.
4.3. Mobilizar instituições de ensino, órgãos públicos e organizações privadas no sentido de que promovam estudos permanentes sobre catástrofes, inclusive no tocante a possíveis causas e mudanças climáticas.
4.4. Encaminhar este Manifesto a órgãos públicos e entidades privadas, incluindo associações de municípios e outras instâncias políticas, para que suas orientações e recomendações alcancem diretamente os agentes políticos.
Curitiba/PR, 16 de dezembro de 2009
Inicio e Fim de Pega. Qual a utilidade?
Embora sejam termos conhecidos no meio técnico, ainda permanecem algumas dúvidas sobre a utilidade destes conceitos e como são utilizados no concreto
Créditos: Engº Jorge Aoki - Gerente de Assessoria Técnica da Itambé
Nos manuais de concreto é muito comum a referência aos tempos de pega e em todo ensaio de cimento chega a ser quase obrigatória a determinação destes tempos. A norma brasileira NBR NM 65:2003 - Cimento Portland - Determinação do tempo de pega, utiliza a pasta de consistência normal (NM 43:2002) e o aparelho de Vicat. Também define no item 3.1 o conceito de tempo de inicio de pega: "É, em condições de ensaio normalizadas, o intervalo de tempo transcorrido desde a adição de água ao cimento até o momento em que a agulha de Vicat correspondente penetra na pasta até uma distância de (4 ± 1) mm da placa base". Já para o fim de pega, o item 3.2 define que este tempo ocorre quando a agulha estabiliza a 0,5 mm na pasta.
Na prática, os tempos de pega referem-se às etapas do processo de endurecimento, solidificação ou enrijecimento do cimento e, em consequência, do concreto. Também são utilizados os termos perda de plasticidade, perda de trabalhabilidade ou ainda cristalização para o entendimento destes tempos. Não conseguimos ainda encontrar um significado para a palavra "pega". Apenas a associação do sentido de 'pegar' com endurecer ou solidificar.
Mas outra questão mais intrigante nos chama a atenção: o que é e qual a utilidade do tempo de fim de pega?
O tempo de inicio de pega é mais fácil de ser entendido. O cimento necessita de água para formar um processo cristalino que conduz a sua solidificação, principal característica reológica. Usamos o termo "hidratação' para designar as reações deste processo. Porém, os compostos que formam o cimento (aluminatos e silicatos na maioria) não reagem com a mesma velocidade, ou melhor, não se hidratam ao mesmo tempo. Segundo os pesquisadores METHA & MONTEIRO as reações com aluminatos ocorrem primeiro e são as responsáveis pela perda da consistência e pela pega. Já as reações com os silicatos respondem pelo endurecimento e ganho de resistência mecânica em idades posteriores.
Das reações com os aluminatos resulta um cristalino na forma de pequenas agulhas prismáticas que começam a ocorrer após algumas horas (geralmente entre 2 a 4 horas) do inicio da hidratação. Este "retardamento" se deve à adição de sulfato de cálcio (gesso), já que a reação com o aluminato do cimento é instantânea, ou seja, a pega é imediata.
Portanto, o momento de início da cristalização ou do endurecimento é chamado de tempo de inicio de pega. No concreto, este tempo determina o período útil que temos para terminar o processo de aplicação, ou seja, compreende desde a mistura dos materiais - contato da água com o cimento - até o seu adensamento e acabamento final.
Mas e o tempo de fim de pega? Diversos autores o definem como o momento final do enrijecimento do concreto ou o inicio do ganho da resistência mecânica propriamente dita. Talvez por isso, as normas brasileiras determinem seu valor máximo, que é de 10 horas. Porém, na prática, não o utilizamos para as medidas pós-acabamento como a cura, serragem para execução de juntas ou polimento superficial. Tampouco para o cálculo das dosagens ou mesmo no processo de fabricação do cimento.
Os tempos de pega contam hoje com diversos aditivos que aceleram ou retardam estes tempos, sem prejuízo para o desenvolvimento das outras características do concreto, como as resistências. Em determinadas situações de concretagem as alterações destes tempos são muito úteis e até necessárias, como no transporte do concreto em longas distâncias ou regiões de tráfego complicado.
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Tubos de concreto para saneamento agregam nova tecnologia
Projeto desenvolvido na USP permite que o Brasil passe a produzir equipamentos reforçados com fibras de aço
O setor de saneamento básico no Brasil dispõe agora de tecnologia para a produção de tubos de concreto reforçados com fibras de aço. O projeto foi desenvolvido a partir da dissertação de mestrado apresentada na Escola Politécnica da USP pelo engenheiro Pedro Jorge Chama Neto, da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). A pesquisa contou com a parceria do professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP, Antônio Domingues de Figueiredo.
O projeto foi concluído em 2008, mas só agora começou a ser incorporado em obras de saneamento. Companhias do interior de São Paulo, do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro passaram a agregar os tubos com fibras de aço, o que deverá puxar o preço do novo produto para baixo, já que eles dependem dos valores praticados no mercado para as fibras e para os vergalhões e telas metálicas. Em uma simulação verificou-se que, com o aumento da demanda, os tubos podem até ser mais baratos quando produzidos com fibras ao invés de vergalhões, disse o professor Antônio Domingues de Figueiredo.
O professor da USP também avalia que o projeto do qual fez parte ajudou a despertar o envolvimento das companhias de saneamento básico nas pesquisas. Elas são as grandes interessadas em fomentar e viabilizar estudos mais aprofundados e de longo prazo, como aqueles que envolvem a avaliação da durabilidade e vida útil destes componentes, afirmou.
Vantagens das fibras de aço em tubos de concreto
A primeira vantagem da utilização das fibras de aço nos tubos de concreto é a maior facilidade de produção. Quando são utilizadas fibras de aço evita-se o tempo perdido na preparação da armadura, pois as fibras são adicionadas ao concreto diretamente na mistura, como se fosse um agregado e, uma vez misturado, pode-se lançar o concreto diretamente no tubo. Com isto, agiliza-se o processo de produção e se consome menos energia e mão-de-obra, dado que não é mais necessária a etapa de montagem da armadura.
Outra vantagem importante da fibra está ligada à condição de reforço. Enquanto os vergalhões ficam muito próximos da parte central do tubo, em função das exigências de recobrimento, as fibras reforçam até as proximidades das bordas do componente, aumentando a resistência à fissuração e, consequentemente, a durabilidade do componente.
Este aumento de durabilidade também ocorre pelo fato da fibra ser menos susceptível à corrosão que o vergalhão convencional, além de evitar o lascamento do concreto quando ocorre oxidação, preservando a integridade do componente. O reforço distribuído da fibra no concreto também oferece uma segunda vantagem, que é a redução das perdas por quebras de bordas dos tubos durante os processos de estocagem, transporte e instalação das peças.
NBR 8890:07
A NBR 8890:07 foi finalizada em 2007 e prevê a utilização de fibras de aço para reforço do concreto de tubos, o que já é previsto em normas europeias, além do sistema normal de reforço com vergalhões de aço para concreto armado convencional. Na versão brasileira, a norma contempla algumas mudanças no sistema principal de qualificação dos tubos com fibras, ou seja, reformula o procedimento de ensaio de compressão axial teste realizado para verificar a resistência do material.
No caso de utilização de fibras de aço, o procedimento de ensaio consiste numa rotina de carregamento, descarregamento e recarregamento do tubo, para verificar a capacidade resistente pós-fissuração. A norma é mais exigente para os tubos reforçados com fibras do que para os tubos convencionais, não permitindo o surgimento de qualquer tipo de dano ao componente quando o mesmo é submetido à carga de fissuração prevista para o tubo convencionalmente armado, lembra o professor Antônio Domingues de Figueiredo.
Além disso, o procedimento envolve um prolongamento do ensaio, em relação à norma europeia, que possibilita a determinação da carga máxima pós-fissuração, o que é um parâmetro fundamental para a otimização do sistema de reforço com fibras para os tubos. Além dessas exigências, o tubo reforçado com fibras deverá atender a todos os requisitos básicos estabelecidos também para o tubo com reforço convencional.
Entre essas exigências estão a isenção de defeitos, verificada por análise visual, e a conformidade com as tolerâncias dimensionais. Outra exigência importante é a de estanqueidade do tubo que é avaliada em ensaio específico. O concreto deve também ser submetido ao ensaio de determinação da absorção de água. De qualquer forma, é extremamente importante que cada fabricante que pretenda utilizar o concreto com fibras faça o controle de qualidade de produção adequado, realizando os ajustes necessários para que o produto atenda às exigências presentes na norma NBR8890, ressalta Domingues de Figueiredo.
Entrevistados:
Antonio Domingues de Figueiredo, professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP:
antonio.figueiredo@poli.usp.br
Pedro Chama Neto, engenheiro da Companhia de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo (Sabesp): pchama@sabesp.com.br
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Ferrovias no Brasil: é hora de concretizar essa ideia
País necessita ampliar e modernizar sua malha ferroviária. Mas para que essa revolução ocorra, a indústria do concreto é fundamental
Recente pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) revelou que o Brasil precisaria investir R$ 54 bilhões para solucionar os gargalos de sua malha ferroviária. O trem hoje é responsável por 25% do transporte de carga no país, mas o ideal seria que representasse pelo menos 38%. Sem investimentos relevantes há 40 anos, a malha ferroviária nacional atual é de 29 mil quilômetros de trilhos, quando já deveria estar em 52 mil.
Os números mostram que são urgentes os investimentos em ferrovias. Mas a dúvida reside em que tipo de sistema investir, e de que forma. Há consenso de que as linhas de trem que hoje cortam o país, e que ainda utilizam tecnologia da 1.ª metade do século passado, levaram o transporte ferroviário a perder confiabilidade. As composições, por exemplo, trafegam a uma velocidade média de 25 km/h, enquanto no resto do mundo o transporte de cargas é feito a 80 km/h.
Houve avanços pontuais em trechos que foram privatizados a partir de 1996, sobretudo para o transporte de minério de ferro e de contêineres, o que coloca o Brasil como o 7º país em transporte ferroviário de cargas, mas há muito ainda por se fazer. Principalmente quando o assunto é trem de passageiros. Somente agora, com a chegada de eventos como Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016, é que o assunto entrou na agenda nacional. Porém, de forma equivocada.
TAV ou Maglev?
Autor do livro O Futuro das Estradas de Ferro no Brasil, o pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Eduardo Guilherme David, avalia que a aposta do Brasil no Trem de Alta Velocidade (TAV) pode jogar o país numa encruzilhada tecnológica. Segundo ele, a opção não é a mais recomendada para o Brasil. Por dois motivos: o TAV não permitirá conexão com a malha ferroviária já existente e não é o sistema ideal para fazer a fusão entre o transporte ferroviário de longa distância e o transporte público urbano, que é o mais urgente no Brasil.
Segundo Eduardo Guilherme David, o ideal seria que o transporte ferroviário brasileiro optasse pelo sistema de levitação magnética o Maglev. O modelo foi adotado com sucesso na China um país ainda mais continental do que o Brasil -, servindo tanto para longas como para curtas distâncias. O TAV é uma tecnologia de 1959, desenvolvida no Japão, ainda atrelada ao tradicional roda-trilho. No trecho em que ele está sendo proposto (Rio-São Paulo) vai enfrentar muitos problemas por causa da grande densidade populacional e da topografia acidentada. Além do mais, não vai poder operar sobre linhas convencionais e nem compartilhar estações. Não tem sentido focalizar apenas o passado, avalia.
As vantagens do Maglev, segundo o pesquisador, é que ele permitira também agregar tecnologia nacional, já que há um protótipo desenvolvido na UFRJ, pelo COPPE (Instituto Alberto Luiz Coimbra e Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia). Existe uma comunidade que estuda levitação magnética no Brasil e é muito respeitada lá fora. No entanto, nunca foi chamada pelo governo para discutir projetos nacionais, diz Eduardo Guilherme David.
Entre os estudos feitos na UFRJ, um deles é o que permite compatibilizar a nova tecnologia com a antiga malha ferroviária do país. Uma das patentes do Maglev brasileiro consiste em unificar uma via ferroviária tradicional com novas linhas magnéticas, de tal forma que os sistemas roda-trilho de levitação condutora conviveriam sem problemas. Isso também permitiria que, gradualmente, a tecnologia mais nova fosse aposentando a mais antiga, aproveitando o investimento pronto, explica o pesquisador.
Tecnologia da ABCP
Na nova proposta ferroviária para o Brasil, a indústria do concreto desponta como uma grande parceira. Por exemplo, a tecnologia de pavimento rodoviário rígido, difundida pela Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), poderia ser adaptada ao transporte ferroviário. Além disso, o Maglev também abre o segmento de obras ferroviárias em estrutura pré-moldada. O Brasil tem expertise em concreto armado, um setor pouco dependente de exportação e grande empregador. É preciso que a ABCP deixe de ver apenas dormente de concreto como uso potencial do cimento nas ferrovias. Existe um grande mercado virgem a ser explorado, cita Eduardo Guilherme David.
A grande vantagem do Maglev-Cobra, que é a tecnologia de levitação supercondutora da COPPE-UFRJ, é permitir sua instalação em uma estrutura dimensionada como uma passarela de pedestres. Nestas passarelas a sobrecarga pela norma é de 500 kgf/m², resultando em 1.250 kgf/m² em uma passarela de 2,5 m de largura, que é o padrão. O trem lotado sobrecarrega a via com a taxa de 1.000 kgf/m². Logo, poderia circular sobre uma passarela de pedestres. É esta sua maior força: rapidez de implantação e descentralização, pois existem centenas de fornecedores de passarelas de concreto por todo o Brasil. Outra vantagem é que o Maglev causa menor impacto ambiental, permite ser construído com maior velocidade e tem menor custo operacional. A modernização do transporte ferroviário no Brasil está entre as grandes obras de infra-estrutura das quais o país tanto precisa. A hora é agora, finaliza Guilherme David.
Entrevistado:sirfe@uol.com.br
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Norma amplifica responsabilidade na engenharia
Profissionais da construção civil nunca estiveram tão atentos à responsabilidade legal das obras.
Cresce no setor construtivo a importância de conscientizar os profissionais sobre a responsabilidade na construção civil. Em 2009, publicações e palestras sobre o tema foram alguns dos mais procurados por engenheiros, arquitetos, projetistas e construtores em geral, além de fabricantes de materiais.
O objetivo dos interessados era conhecer as restrições, as limitações e as responsabilidades importantes a serem respeitadas e seguidas, quando da atividade de construir, para minimizar os riscos de desagradáveis ações judiciais.
Autor do livro Responsabilidade dos Engenheiros e Arquitetos, Rone Antônio de Azevedo é um dos palestrantes mais requisitados no Brasil para falar do assunto. Engenheiro civil e especialista em avaliações e perícia da engenharia, entre outras formações, Rone trata, em sua obra, de forma didática das principais dúvidas do setor.
Nela, ele examina as atividades de avaliação de imóveis, a perícia de edificações, a inspeção predial, as principais ações no Direito de construir, a crescente importância da Engenharia Legal e sua relação com o Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor, além das normas técnicas correlatas e resoluções do sistema Confea/Crea.
Na entrevista concedida, Rone Antônio Azevedo pincela trechos relevantes de seu livro e mostra o quão importante é que os profissionais do setor estejam atentos às normas de construção civil, sobretudo a partir de maio deste ano, quando entra em vigor a norma técnica NBR 15575/08 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos - Desempenho, da ABNT. Confira:
Qual a diferença entre as responsabilidades de meio e de resultado para o exercício profissional dos engenheiros e arquitetos?
A diferença está na forma de atuação dos engenheiros e arquitetos. Enquanto profissionais liberais, eles possuem responsabilidade de meio. Quando exercem a atividade técnico-econômica da construção há responsabilidade de resultado.
A responsabilidade de meio obriga aos engenheiros e arquitetos a empregarem seus conhecimentos para alcançarem o resultado final, conforme a boa técnica e a ética profissional. Mas não são obrigados a assegurar o zero defeito ou total ausência de falhas. Eles lidam com a incerteza das teorias, dos modelos de cálculo, das técnicas de construção, do comportamento dos materiais, das ações humanas e da natureza. Os profissionais minimizam os riscos seguindo as orientações das normas técnicas e adotando boas práticas de projeto, execução e manutenção.
Exemplificando, nenhum projetista de barragens, por mais competente que seja, pode garantir com 100% de confiabilidade a segurança contra rompimento por enchentes. Geralmente, para grandes obras, trabalha-se com a probabilidade de ocorrer uma grande cheia a cada dez mil anos período de retorno decamilenar.
Outro exemplo: a estrutura mista aço-concreto das torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, foi calculada para resistir à colisão de aeronaves do porte do modelo Boeing 707. No entanto, as torres desabaram em 11 de setembro de 2001 quando houve o impacto da aeronave Boeing 767, cerca de 20% maior do que o Boeing 707. Richard M. Kielar, porta-voz da Tishman Realty & Construction Co., gerente de construção do projeto original afirmou que "nenhuma estrutura poderia ter suportado esse tipo de ataque". Esse trágico acontecimento revela que sempre haverá incerteza nos projetos, por melhor elaborados que sejam.
Na responsabilidade de resultado, engenheiros e arquitetos desenvolvem atividade técnico-econômica de construção ou incorporação com resultados e garantias legais. Estão obrigados a executarem e entregarem obras sem vícios construtivos e defeitos, sendo o último prejudicial à solidez e segurança da edificação. O Código de Defesa do Consumidor veda ao construtor ou incorporador colocar no mercado apartamentos e casas nessas condições, por exemplo.
A responsabilidade de meio é subjetiva, devendo ser provada a negligência, imprudência ou imperícia do engenheiro ou arquiteto. A responsabilidade de resultado é objetiva, ou seja, independe de prova, sendo suficiente a relação direta entre o dano e as potenciais causas. O ônus da prova é invertido no último caso, suportado pela sociedade ou firma estabelecida pelos engenheiros e arquitetos para a atividade de construção.
Confira, ao final da entrevista, mais informações sobre as responsabilidades que envolvem a construção civil.
A norma técnica NBR 15575/08, da ABNT, que trata do desempenho das edificações habitacionais de 5 pavimentos, entrará em vigor em maio de 2010. Ela altera algo na responsabilidade civil na construção civil?
A norma técnica NBR 15575/2008 estabelece critérios de desempenho e qualidade para os diferentes sistemas construtivos para edificações habitacionais com até cinco pavimentos. É a primeira norma brasileira de desempenho, com ênfase à sustentabilidade, manutenção periódica e rastreabilidade dos componentes das edificações. Sua adoção será compulsória a partir de 12 de maio de 2010.
De acordo com essa norma, os projetos devem ser elaborados prevendo explicitamente a vida útil mínima para cada sistema da construção. A durabilidade mínima para a estrutura e revestimentos externos será de 40 anos; para instalações hidrossanitárias e revestimentos internos, a duração deve ser igual ou superior a 20 anos. Esses valores da durabilidade dos componentes das edificações são apenas referência para o projeto e não valem como prazos de garantia.
O Anexo D da NBR 15575/2008 informa os prazos de garantia, fixados entre 1 a 5 anos conforme cada sistema, iniciando-se sua contagem a partir da data de expedição do habite-se. Por exemplo, as instalações hidrossanitárias e de gás devem ser estanques, sem vazamentos, durante o prazo de 5 anos após a entrega da edificação; a pintura possui garantia de 2 anos contra alteração de cor ou deterioração de acabamento.
Esses prazos não existiam na legislação em vigor e orientarão a realização de inspeções prediais, perícias e demandas judiciais. Vale lembrar que até a entrada em vigor da NBR 15575/2008, existia a garantia obrigatória de cinco anos para defeitos e vícios ocultos, assegurada pelo Código de Defesa do Consumidor e pelo Código Civil.
No prazo de garantia, a responsabilidade da construtora é objetiva, basta comprovar a existência do fato. Findo o prazo de garantia, a responsabilidade será subjetiva, necessitando comprovação por perícia. No caso de defeitos que afetam a solidez e segurança das edificações conforme Súmula 194 do STJ prescreve em 20 anos o tempo para ação visando a obter indenização do construtor.
O construtor deverá disponibilizar o manual do proprietário com instruções claras e precisas para o correto uso e manutenções periódicas. O usuário, por sua vez, deverá fazer a manutenção nos prazos de previstos no manual. As manutenções devem ser realizadas por profissionais habilitados, registradas para efeito de comprovação, conforme a norma NBR 5674/1999 Manutenção de Edificações. A realização das perícias e demandas judiciais levará em consideração esses critérios. Caso o comprador não efetue as manutenções nos prazos estipulados, haverá perda da garantia.
Vale ressaltar que a NBR 15575/2008 não será aplicável aos seguintes casos: obras em andamento quando entrar em vigor; edificações concluídas até 12/05/2010; projetos protocolados até 12/11/2010 (seis meses após a entrada em vigor da norma); obras de reforma e retrofit.
A NBR 15575/2008 trará benefícios socioeconômicos e ambientais, aumentando a durabilidade das edificações. A cadeia produtiva da Construção Civil será aperfeiçoada, desde a elaboração do projeto, rastreabilidade de componentes, e inspeção predial. Considerando o grande número de prédios de porte a serem construídos nos próximos anos, especialmente para a baixa renda. A norma poderá ser aplicada a edificações com mais de 5 pavimentos.
Na Engenharia Legal quais precauções devem ser tomadas antes do início da construção?
São necessários vários cuidados antes do início da construção. Além do planejamento e da análise de viabilidade técnica-econômica dos empreendimentos, é preciso avaliar as condições do terreno e da incorporação imobiliária.
Devem ser contratados estudos geotécnicos e ambientais para avaliação dos impactos decorrentes do empreendimento. Várias construtoras adotam a vistoria cautelar dos imóveis na vizinhança do empreendimento para solução de problemas e redução de eventuais demandas judiciais referentes a danos físicos surgidos após o início da construção.
Toda construção pressupõe a realização de diversos serviços técnicos especializados, executados por profissionais qualificados. É imprescindível contratar engenheiros e arquitetos com experiência em projetos e execução de obras.
O seguro de Responsabilidade Civil é outra alternativa bastante utilizada no exterior, disponível para profissionais e construtoras no Brasil, cobrindo vários tipos de danos. Os agentes financiadores do empreendimento normalmente exigem que as construtoras contratem seguros contra danos físicos.
Planejar ações para proteção da saúde e segurança dos trabalhadores, respeitando a legislação e as normas aplicáveis, especialmente a Norma Regulamentadora NR-18 do Ministério do Trabalho e Emprego. O número de acidentes na Construção Civil é bastante preocupante e requer mais empenho do setor, maior compromisso dos profissionais, atuação dos sindicatos e fiscalização do governo.
Cada vez será mais necessário o acompanhamento pós-venda, tanto para verificar as manutenções obrigatórias quanto para melhorar a qualidade dos imóveis. O atendimento e aplicação das normas NBR 15575/2008 e NBR 5674/1999 resultará na oferta de serviços de manutenção aos usuários finais, nicho mercadológico com benefícios para todos.
É preciso cuidar para que os serviços e produtos estejam dentro dos parâmetros de qualidade, segurança e economia. Dessa forma, engenheiros e arquitetos estarão resguardados de futura responsabilização. O profissional tem por obrigação esclarecer o consumidor sobre as características intrínsecas do serviço, os riscos e os custos da relação contratual.
A responsabilidade civil sobre a construção acaba com o fim do prazo de garantia da obra?
De forma alguma, apesar de alguns entendimentos nessa direção. A Súmula n.º 194 do Superior Tribunal de Justiça (SJT) orienta que o comprador terá 20 anos de prazo para propor ação indenizatória contra a construtora por defeitos que afetam a solidez e segurança da edificação, considerando sua constatação no período de garantia de 5 anos. Entretanto, encerrado o prazo de garantia, a culpa do construtor deverá ser provada através de perícia técnica, responsabilidade subjetiva.
O art. N.º 618 do Código Civil determina que o prazo de garantia para defeitos que afetem a solidez e segurança da edificação é de cinco anos a partir da entrega da edificação. Devem ser reclamados, no máximo, seis meses após a data de seu aparecimento, sob pena de decadência. Até 5 anos a partir da entrega da construção, presume-se a culpa da construtora, caracterizada por responsabilidade objetiva do Código de Defesa do Consumidor.
O art. n.º 205 do Código Civil estabelece o prazo de garantia genérico de 10 anos para falhas construtivas não previstas nos demais artigos. Alguns doutrinadores entendem ser esse o maior prazo de garantia aplicável às construções, contado a partir da data da sua entrega expedição do habite-se. A Súmula n.º 194 do STJ não seria aplicável para essas falhas.
A estatística de problemas na construção civil se relaciona mais a projetos ou à execução das obras?
Há grande diversidade de ocorrência, complexidade das causas e indisponibilidade de pesquisas sobre problemas na Construção Civil no Brasil. A abordagem requer muita investigação e organização de banco de dados por associações de profissionais, construtoras e centros de pesquisa. No entanto, alguns estudiosos podem ser mencionados, a título de referência.
Jean Blevot realizou estudo emblemático muito detalhado das causas de quase 3 mil sinistros das estruturas de concreto armado, ocorridos entre 1948 e 1974, nos arquivos empresa seguradora francesa Bureau Securitas e Socotex. Ele constatou que as deficiências de projeto foram responsáveis, direta e indiretamente, por 77,9% dos sinistros, sendo 12,0% por erros de cálculo e 55,9% por falha na previsão do comportamento real dos materiais; defeitos de execução respondem por 16,5% dos acidentes; outras falhas representam 5,6%.
Lamentavelmente, no Brasil, ainda há a cultura de resolver as lacunas do projeto no canteiro de obras. Projetos mal detalhados, memoriais descritivos com especificações genéricas atrasam a evolução da obra, permitindo maior incidência de problemas na execução. Nos países desenvolvidos, o raciocínio é inverso.
Muitas vezes, o engenheiro ou arquiteto assumem a responsabilidade técnica pela execução de várias obras simultaneamente. Naturalmente sobrecarregados, eles não tem tempo para interagir com os projetistas e fornecedores, propondo melhorias com ganho de qualidade.
As empresas com maior estrutura gerencial implementaram programas de Qualidade Total para redução das não conformidades, baseados na implementação das normas ABNT de Sistemas de Gestão da Qualidade, e de Gestão Ambiental, séries ISO NBR 9000 e ISO NBR 14000. Esses sistemas serão cada vez mais importantes para rastreabilidade, melhoria contínua e correção de falhas na Construção Civil.
É preciso investir em projetos bem elaborados com detalhamento suficiente para execução, memoriais descritivos com especificações precisas, procedimentos de execução, manuais bem elaborados para os usuários.
O conhecimento especializado dos engenheiros e arquitetos precisa ser valorizado como diferencial de qualidade e produtividade. A atuação dos profissionais é essencial durante em todas as etapas da construção, desde o planejamento até a manutenção.
Saiba mais sobre as responsabilidades que envolvem a construção civil:
Responsabilidade por obrigação de meio: cumprir uma obrigação de meio é empregar todas as técnicas, recursos e esforços que estiverem ao alcance do profissional, no sentido de alcançar o resultado contratado. Só há que se falar em descumprimento de uma obrigação de meio se o resultado não for alcançado no prazo e no modo contratados. Isso decorre do fato de o contratado não ter empregado todas as técnicas, recursos ou esforços ao seu alcance. Assim, se o exato resultado contratado for alcançado, não há que se falar em inexecução da obrigação de meio.
Responsabilidade por obrigação de resultado: significa entregar ao contratante o resultado esperado e não menos que isso, independentemente das técnicas, métodos e esforços empregados na tentativa de alcançar o resultado esperado.
Responsabilidade técnica: advém dos profissionais que executam atividades específicas dentro das categorias tecnológicas, sendo responsáveis por todo trabalho técnico que realizam. Tanto o arquiteto, que elabora o projeto, quanto o engenheiro civil, que executa, são igualmente responsáveis técnicos.
Responsabilidade contratual: decorre do contrato firmado entre as partes para a execução de uma determinada obra.
Responsabilidade pela solidez e segurança: o profissional responde pela solidez e segurança da obra por um prazo de cinco anos, nos termos do Código Civil. Neste caso, a data do término da obra deve ser documentada oficialmente. Se uma perícia constatar que o profissional é responsável por problemas de solidez e segurança, ele responderá civilmente independentemente do prazo transcorrido, de acordo com a jurisprudência existente.
Responsabilidade pelos materiais: se o material não estiver de acordo com as especificações, o profissional deve rejeitá-lo, sob pena de responder por danos futuros.
Responsabilidade por danos causados a terceiros: cabe ao profissional tomar as providências necessárias para a preservação da saúde, segurança e sossego de terceiros, em caso de vibração de estaqueamentos, fundações e quedas de materiais. Neste caso, os prejuízos são de responsabilidade solidária do profissional do proprietário da obra ou construtora.
Responsabilidade penal ou criminal: decorre de desabamentos, desmoronamentos, incêndio por sobrecarga elétrica, intoxicação e contaminação, havendo ou não lesão corporal ou dano material, desde que caracterize risco à vida e á propriedade.
Responsabilidade administrativa: imposta por organismos públicos, através de código de obras, de águas e esgoto, de normas técnicas, regulamentações profissionais e planos diretores. Cabe ao profissional seguir as leis, sob pena de suspensão do exercício profissional.
Responsabilidade objetiva: resulta das relações de consumo ditadas pelo Código de Defesa do Consumidor.
Responsabilidade ética: resulta de faltas que contrariem a conduta moral na atividade profissional, pelo sistema CREA/CONFEA.
Entrevistado:
Rone Antônio de Azevedo, engenheiro civil e especialista em avaliações e perícia da engenharia: suporte@aspeago.com
Site: www.aspeago.com
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Minha Casa, Minha Vida, da teoria à prática
Especialistas tiram dúvidas sobre contratos para aquisição da casa própria, dentro do novo programa habitacional do governo
O programa Minha Casa, Minha Vida encerrou 2009 com 247.950 mil contratos fechados. A expectativa era que pelo menos 400 mil fossem contratados, de um total de um milhão de moradias previstas pelo programa. Um dos motivos da demanda ter ficado abaixo da expectativa é que, da teoria à prática, o programa ainda gera muitas dúvidas, sobretudo nos seguintes quesitos: formas de financiamento, desoneração de tributos e despesas cartoriais e bancárias.
Para ajudar a esclarecer alguns pontos polêmicos, e que suscitaram vários emails ao Itambé Empresarial, foram entrevistados dois especialistas. Um deles é Mário Pazutti Mezzari, uma das maiores autoridades do país em direito registral imobiliário. O outro é Flávio Prando, vice-presidente de Habitação do Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo). As perguntas foram baseadas nas dúvidas dos internautas. Confira:
O governo federal, ao anunciar o programa Minha Casa, Minha Vida, disse que haveria desoneração na compra de imóveis, principalmente de taxas cartoriais, como registro e escrituração. Na prática, isso já acontece?
Mário Pazutti Mezzari - Os únicos parceiros do programa Minha Casa, Minha Vida que estão dando contribuição gratuita são os cartórios de registro de imóveis. Dentro do programa, a compra e o registro da garantia relativa ao financiamento concedido para a primeira aquisição de imóvel residencial é totalmente gratuita para as pessoas com renda familiar até três salários mínimos. Para as demais faixas de renda familiar, existem descontos que vão de 75% até 90%. Os cartórios estão cumprindo com a lei, apesar do absurdo de serem os únicos penalizados com a gratuidade ou com enormes reduções nos emolumentos.
Flávio Prando - Essa desoneração está prevista no programa, mas só será percebida no momento de entrega das unidades. Deve-se lembrar que o produto imobiliário é de longa maturação, ou seja, entre a aprovação do projeto até a entrega das chaves são necessários, no mínimo, dois anos.
E impostos como ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis) e laudêmio (imposto cobrado de obras construídas em áreas litorâneas pertencentes à Marinha) sofreram redução?
Mário Pazutti Mezzari - A Caixa (Econômica Federal), como agente coordenador do programa, tem conseguido em diversas prefeituras a liberação do imposto de transmissão. No entanto, liberar ou não é ato de vontade do poder público municipal, e não depende apenas do prefeito. É necessário que seja editada lei municipal. Então, reduções ou gratuidades no ITBI dependem de iniciativa da Caixa de negociar com cada município. Quanto ao laudêmio, trata-se da mesma situação quando ele é devido ao poder público e depende também de negociação.
Flávio Prando - O ITBI é um imposto municipal, calculado de forma diferente de cidade para cidade e sobre o qual o programa Minha Casa, Minha Vida não alterou nada. Quanto ao laudêmio, as cidades litorâneas são as mais atingidas por esse imposto e o programa também não o afetou.
Em qual tipo de compra mais incidem tributos: na de um imóvel novo ou na de um imóvel usado?
Mário Pazutti Mezzari - Há dois tipos de tributos na transmissão de imóveis por compra e venda: o ITBI (imposto de transmissão devido ao município) e o laudêmio (devido ao senhorio direto). A tributação é igual, tanto para imóveis novos quanto para imóveis já usados. No entanto, há que considerar que o Minha Casa, Minha Vida só financia o que ele denomina de imóveis novos. Entenda-se por novos os imóveis que nunca foram habitados, e cujas construções ocorreram após março de 2009.
Flávio Prando - Praticamente as despesas do comprador, tanto de imóveis novos quanto de imóveis usados, são iguais. São as taxas da prefeitura e as custas cartoriais.
A adaptação à legislação do Minha Casa, Minha Vida varia de município para município e de estado para estado. Como o governo federal vai regular isso?
Mário Pazutti Mezzari - O governo federal não pode modificar legislação municipal ou estadual. O princípio federativo desautoriza tal intromissão. A competência para legislar está estabelecida na Constituição Federal e nenhum dos entes da administração direta - União, Estados, Municípios e Distrito Federal - podem adentrar na esfera de competência do outro.
Flávio Prando - Quanto às regras do programa, não há distinção legal por município, pois o programa segue as normas da Caixa. Assim, o que as empresas têm de cumprir são regras de aprovação impostas pelo agente financeiro. As diferenças consistem na disponibilidade de terrenos dos municípios para a construção de empreendimentos voltados para famílias com renda de até três salários mínimos. Aí sim devem ser seguidas as normas das prefeituras.
Se na compra de um imóvel dentro do programa Minha Casa, Minha Vida o consumidor não obtiver os descontos prometidos, para quem ele deve recorrer?
Mário Pazutti Mezzari A Caixa é gestor do programa e, portanto, é quem melhor pode orientar o consumidor.
Flávio Prando - Não existe essa possibilidade, porque todo o financiamento e concessão de subsídio se darão por intermédio da Caixa Econômica Federal. O programa é muito sério.
Para quem tem um terreno, e decide construir um imóvel dentro da faixa do Minha Casa, Minha Vida (até R$ 130 mil), ele também tem direito a reivindicar descontos?
Mário Pazutti Mezzari O Programa Minha Casa Minha Vida compreende o financiamento para a construção de imóvel residencial (para quem já tem terreno) ou para financiar a compra do imóvel. Porém, somente os contratos celebrados via Caixa é que estão enquadrados no programa e gozam dos descontos ou gratuidades da Lei nº 11.977, de 2009.
Flávio Prando Não. Os benefícios do programa são exclusivos para os compradores de imóveis novos, produzidos formalmente por empresários da construção civil e do setor imobiliário.
Para quem compra imóveis na planta, as chances de obter os descontos prometidos pelo programa são maiores?
Mário Pazutti Mezzari Como já foi dito acima, não é questão de chance, mas de o negócio ser realizado via Caixa, com recursos do Minha Casa, Minha Vida. A compra de imóveis na planta pode ocorrer em várias modalidades, mas somente quando esta compra for financiada pelo programa é que ela gozará de gratuidade ou descontos.
Flávio Prando O Minha Casa, Minha Vida é voltado para a compra de imóveis novos e na planta. Se o contrato de construção do imóvel estiver atrelado ao programa os descontos serão concedidos. Caso contrário, não existe a possibilidade de usufruir dos benefícios.
Se um comprador obtém um financiamento através do programa Minha Casa, Minha Vida, mas depois percebe que não tem dinheiro para pagar os tributos, ele fica sujeito a multas ou simplesmente pode desistir do negócio?
Mário Pazutti Mezzari Para quem tem renda de até três salários mínimos a incidência de emolumentos é tão ínfima que dificilmente servirá de pretexto para desistir do negócio. Agora, se depois de registrado o contrato o comprador se vir impedido de continuar pagando as prestações, poderá procurar a Caixa e entregar o imóvel (no que se chama de dação em pagamento), liberando-se da dívida.
Flávio Prando - A intenção do governo com esse programa é sanar o déficit habitacional do país. O Minha Casa, Minha Vida consiste no primeiro passo para isso, pois prevê a construção de um milhão de moradias e o déficit habitacional do Brasil é superior a oito milhões de unidades. O programa foi desenhado de maneira a dar condições amplas de aquisição de imóveis para famílias com renda de até 10 salários mínimos, portanto, não há a intenção de dificultar a obtenção do imóvel, muito pelo contrário. Há a concessão de subsídios para as famílias, isenção de custas cartoriais para famílias com renda de até três salários mínimos, com redução dos valores para as demais faixas de renda. Foi criado o Fundo Garantidor prevendo possível inadimplência e também auxiliar as famílias em apuros, ou seja, aquelas que possam sofrer com o desemprego no decorrer do caminho. Para essas famílias existe a possibilidade de deixarem de pagar seis parcelas, até que se restabeleçam. Enfim, as condições de financiamento são bastante favoráveis de maneira a evitar a desistência e a cobrança de multa.
A nova lei do inquilinato pode ter algum tipo de influência no Minha Casa, Minha Vida, no sentido de que a tendência é que cresça a oferta de imóveis para locação?
Mário Pazutti Mezzari Não gostaria de fazer projeções de mercado.
Flávio Prando - Não há correlação entre a legislação do inquilinato e o programa Minha Casa, Minha Vida. É bom esclarecer que os adquirentes de imóveis pelo programa não podem utilizar de má fé, ao adquirirem um imóvel em condições altamente favoráveis, e depois oferecê-lo para locação. Deve-se lembrar, sempre, que o objetivo do programa é combater e solucionar o déficit habitacional do país.
Com relação ao construtor, o Minha Casa, Minha Vida também previa desconto, como redução da alíquota do RET (Regime Especial de Tributação da Construção Civil). Na prática isso já ocorre?
Mário Pazutti Mezzari Neste caso, o construtor deve procurar a Receita Federal e fazer o devido enquadramento para ter direito aos descontos ou tributação unificada.
Flávio Prando - Sim, para as empresas que tiveram projetos aprovados pela Caixa Econômica Federal. Algumas prefeituras, inclusive, estão criando benefícios especiais para as empresas que produzirem dentro do Minha Casa, Minha Vida, em especial na faixa até três salários mínimos, quais sejam: redução ou isenção do ISS durante a obra; isenção ou redução do IPTU do terreno durante a obra; remissão de IPTU de terrenos/imóveis com dívidas anteriores; flexibilização de coeficientes urbanísticos potencializando a ocupação do terreno e análise agilizada dos respectivos projetos. Entretanto, ainda permanece, em especial nas maiores cidades, lentidão nas aprovações e nos cartórios, especialmente quando envolve organismos ambientais e de trânsito.
Entrevistados:
Mário Pazutti Mezzari, especialista em direito registral imobiliário: maramezzari@gmail.com
Flávio Prando, vice-presidente de Habitação do Secovi-SP: Assessoria de imprensa: shirley@secovi.com.br
Vogg Branded Content Jornalista responsável Altair Santos MTB 2330
FNE estimula jovens a aderir à engenharia
Federação Nacional dos Engenheiros lança campanha nas escolas de ensino médio e chama a atenção para déficit profissional no Brasil
A fim de atrair estudantes do ensino médio para a carreira de Engenharia, a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) enviará para escolas públicas e privadas de todo o país um vídeo de 18 minutos a respeito das vantagens da profissão. A distribuição será feita a partir do início do ano letivo, em fevereiro. A ideia é estimular os estudantes a optarem pelo curso, que tem grande variedade de opções e especializações.
Segundo Murilo Pinheiro, presidente da FNE, é preciso fazer com que os jovens enxerguem a engenharia como a profissão do momento e do futuro. O desenvolvimento contínuo do País tem de servir de estímulo para o ingresso na carreira", afirma.
Segundo números da FNE, que constam do estudo "Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento", apenas para dar conta do setor petrolífero serão necessários cerca de 170 mil profissionais nos próximos anos. Os 2.032 cursos oferecidos no País formam cerca de 40 mil profissionais por ano, número que precisaria ser dobrado para 80 mil em um prazo de seis a dez anos, nas contas de Pinheiro.
O maior problema, diz ele, é que a taxa de abandono dos cursos de engenharia é altíssima. Apenas 30% dos 140 mil estudantes que ingressam nas faculdades se formam. A desistência se concentra nos dois primeiros anos. Ele atribui o alto índice de abandono a vários fatores, como a incapacidade de as faculdades reterem os alunos. A forte carga teórica inicial assusta os alunos, que muitas vezes entram despreparados na faculdade, diz.
O salário é outra questão. O piso nacional da carreira é de nove salários mínimos (R$ 4.590), mas na prática o valor é bem menor, apesar da demanda crescente por esse tipo de profissional.
Fonte: FNE