Engenharia pericial requer estudo intenso

Área de atuação exige conhecimento de normas e leis, e exige especialização que pode ser alcançada através de cursos e pós-graduação

Por: Altair Santos

Teoricamente, todo o engenheiro filiado ao sistema CREA-CONFEA tem habilitação para emitir laudos, realizar perícias, elaborar pareceres e inspecionar obras. Na prática, porém, só se atinge o grau de engenheiro perito com especialização. E isso só é alcançado através de pós-graduação e cursos intensivos. “Essa capacitação vem da busca pelo conhecimento de normas e leis e da própria experiência que o perito adquire em sua área de atuação. Por isso, é um ramo da engenharia em que dificilmente se encontra um recém-formado”, explica Vera Lúcia de Campos Corrêa Shebalj, presidente do IBAPE-PR (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Paraná).

Vera Lúcia de Campos Corrêa Shebalj: “jeitinho brasileiro” prejudica qualidade das obras.

O engenheiro perito pode entrar em cena acionado pela Justiça ou contratado particularmente.  “Por isso, o mercado de trabalho para esse profissional é infinito”, diz Vera Lúcia, contando um caso em que já atuou. “Uma residência foi entregue com inúmeros defeitos de execução e de projeto e nem a construtora nem o engenheiro responsável pela obra se manifestaram. A única maneira encontrada pelo cliente foi protocolar judicialmente um documento técnico, um laudo, que constatasse os defeitos e apontasse o porquê deles, fosse por má execução, má qualidade do material ou erro do projeto. Quem fez essa análise técnica fui eu, que sou engenheira perita”, disse.

A presidente do IBAPE-PR cita que quando a Norma de Desempenho de Edificações (NBR 15.575) estiver plenamente em vigor, haverá uma tendência de que as ações judiciais envolvendo construtores e clientes, que são as que mais demandam trabalho ao engenheiro perito, reduzam. Em tese, a norma passou a valer em 12 de maio de 2010, mas a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil) pediu revisão ao Comitê Brasileiro da Construção Civil, sob alegação de que o mercado ainda não está preparado para atender imediatamente vários parâmetros da NBR 15.575. Assim, o texto passa por revisão e a tendência é de que antes de março de 2012 a norma não seja praticada pela construção civil.

Segundo Vera Lúcia de Campos Corrêa Shebalj, há muitos casos de execução errada. “A mão de obra que atua na construção civil enfrenta graves problemas de qualificação. Há 33 anos, quando me formei, havia mestres de obras que eram verdadeiras sumidades. Hoje isso não existe mais”, avalia a engenheira perita. Outro motivo que leva o especialista a entrar em ação é o chamado “jeitinho brasileiro”. “As normas que regem a construção civil brasileira são tão boas quanto às de outros países. Só que o jeitinho brasileiro está no nosso DNA. Por isso, a responsabilidade profissional de um perito é sempre muito grande. Ele tem que ter uma postura rígida para não se deixar levar por artifícios”, afirma.

O engenheiro perito tem também a missão de alertar sobre obras que estejam sob risco iminente.  “É obrigação técnica acionar os organismos públicos, como a Defesa Civil, por exemplo, se de repente o profissional observar irregularidade em algum imóvel ou aparelho público”, destaca Vera Lúcia. Segundo a presidente do IBAPE-PR, o organismo que ela dirige constantemente promove cursos sobre engenharia pericial. É uma tentativa de suprir a pouca atenção que o nível acadêmico dá para a matéria.  “São poucas as faculdades que têm uma ou outra disciplina sobre a iniciação à perícia”, diz. No Brasil, desde 2004, a Escola Politécnica (Poli) da USP (Universidade de São Paulo) oferece as seguintes disciplinas de pós-graduação: Tópicos de Direito Tecnológico, Ciência Forense aplicada a Sistemas de Informação, Fundamentos da Ciência Forense e Metodologia da Prova Pericial.

Quando o engenheiro perito é requisitado:

Vistoria cautelar
Visa o prévio exame de imóveis vizinhos antes da instalação de um canteiro de obras, diante de um risco iminente ou mesmo para a simples verificação de uma situação que possa ter como causa a negligência, vício ou mau uso de material. Outros exemplos são ações para caracterizar responsabilidade por infiltrações em apartamentos ou danos causados a um imóvel pelo inquilino.

Desapropriação

Perícia que visa buscar informações de modo a obter a justa indenização pela expropriação de um bem pelo Poder Público, seu agente ou concessionário de serviço público.

Retificação de registro
Uma retificação de registro ou de metragem de imóveis ocorre nos casos de omissão de medidas ou impropriedade das mesmas nos documentos de propriedade. Obrigatoriamente tem que ser feita por engenheiro. É uma ação de cunho administrativo, em princípio não litigiosa e tem origem nas varas de registro público de imóveis.

Nunciação de obra nova e embargo
Aquela em que há o risco iminente a terceiros (ou danos já ocorreram). O perito deve fundamentar seu parecer de tal forma a afastar a responsabilidade por prejuízos por lucros cessantes decorrentes de um embargo ou nunciação da obra.

Entrevistada:
Vera Lúcia de Campos Corrêa Shebalj, presidente do IBAPE-PR (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Paraná)
Currículo

Vera Lúcia de Campos Corrêa Shebalj
Arquiteta e urbanista, engenheira de segurança no trabalho
Graduada em 1978, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAU-Farias Brito (SP)
Pós-graduada em Engenharia de Segurança do Trabalho, pelo Cefet/PR/UTFPR (2004-2005)
Pós-graduada em Avaliação e perícias de engenharia, pelo Ibape/Moura Lacerda (2009-2010)
Presidente do IBAPE-PR
Vice-presidente do IBAPE Nacional
Contato: proojekt@gmail.com / proojekt@creapr.org.br

Crédito foto: Arquivo pessoal

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Prevenção é a melhor solução contra catástrofes

Apesar de a engenharia já dispor de técnicas para construir em áreas de risco, o ideal é que essas regiões sejam preservadas

Por: Altair Santos

Para o presidente da ABENC (Associação Brasileira de Engenheiros Civis), Ney Fernando Perracini de Azevedo, o acidente natural que ocorreu no início de 2011 na região serrana do Rio de Janeiro, e que resultou em quase 900 mortes, segundo números oficiais, foi uma catástrofe anunciada. Em novembro de 2010, no 2.º Seminário Brasileiro sobre Catástrofes Naturais e Antropogênicas, realizado coincidentemente no Rio de Janeiro, o alerta já havia sido dado. “Levamos a preocupação às autoridades do Rio e mostramos um fundo de vale cheio de casas nas encostas. Quando apresentamos as fotos, o público ficou abismado. Era um risco real, e aconteceu”, disse o dirigente.

Fortes chuvas causaram avalanches na região serrana do Rio, levando abaixo construções em áreas de risco.

De acordo com Perracini, há no Brasil uma política muito tênue de prevenção contra as chuvas, que é o principal acidente natural a que o país está exposto. “Falta mapeamento de riscos, que deveria ser uma incumbência dos municípios; falta uma fiscalização mais rigorosa, porque há muitas ocupações em áreas irregulares, e faltam planos diretores mais rigorosos”, avalia. No entender do presidente da ABENC, essa política deveria ir muito além da atuação da Defesa Civil, cuja função é atender a emergência e não fazer a prevenção. “É preciso não só uma política nacional, mas estadual e municipal. Principalmente o município precisa desenvolver projetos urbanos que evitem essas catástrofes”, diz.

Os seguidos acidentes naturais no país desencadearam no surgimento da engenharia civil emergencial, que envolve especialistas capazes de saber o que fazer em situações de catástrofe. “Durante o caos é preciso ter gente capacitada para dizer o que é preciso ser feito. Já ouvimos relatos de engenheiros que, quando chegavam ao local de um acidente, viam trator trabalhando em área prestes a desmoronar ou a população presente em um local que deveria estar isolado. Então, surgiu a engenharia civil emergencial para orientar o que deve ser feito. Agora, prevenção é outro aspecto e passa pelo planejamento urbano”, comenta Ney Fernando Perracini de Azevedo.

Como construir

Atualmente, um dos centros de excelência em gestão de risco contra catástrofes naturais encontra-se na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde funciona o Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (CEPED). Na segunda semana de fevereiro de 2011, houve um encontro entre diretores do CEPED e o consultor oficial do Banco Mundial em gestão de risco e desastre, Aires Zulian da Conceição. Na reunião foram apresentados os projetos e estudos atualmente desenvolvidos na área de desastres, os quais serão incorporados às diretrizes do Plano Nacional de Gestão de Integração de Riscos (GIRD), e que são: gestão para reduzir riscos e ações para responder com rapidez aos desastres.

Fortes chuvas causaram avalanches na região serrana do Rio, levando abaixo construções em áreas de risco.

De acordo com o geólogo e engenheiro Ruan Antonio Altamirano Flores, do CEPED, uma das medidas é impedir que a população avance clandestinamente sobre esses locais ou aquela que já está instalada continue cavando a encosta para a construção de moradias. “Isso desestabiliza todo o morro. Daí, a força da gravidade, aliada às causas naturais, como fortes chuvas, pode provocar deslizamentos”, diz. Segundo Flores, uma maneira de construir em áreas de encosta, desde que haja permissão do poder público, é usar pilares para evitar que o corte desestabilize o morro. No entanto, alerta, toda a operação deve ser precedida de um estudo feito por especialistas, que  deve ser contratado por quem realiza a obra.

O presidente da ABENC ressalta que hoje a engenharia brasileira está preparada para construir em qualquer lugar, mas o ideal é que as áreas de risco sejam poupadas. “Por que ocupar uma área de risco se tem outras para se construir? É evidente que não adianta fazer uma construção numa encosta que vai deslizar. Mesmo que se usem todas as boas técnicas de construção virá tudo abaixo. O morro quando desce, desce inteiro, levando não só uma casa, mas um bairro todo como a gente viu nas imagens da tragédia na região serrana do Rio”, disse.

Ney Perracini - Presidente da ABENC

Tipos de acidentes naturais mais comuns no Brasil

Inundações

Áreas de risco: planícies aluviais e áreas baixas do litoral.
Prevenção: construir diques, erguer barragens, limpar o leito dos rios e impedir construção nas áreas de risco.
Agravamento pelo homem: construção nas áreas de risco, obstáculos no leito dos rios, desmatamento e impermeabilização do solo.

Desabamentos, deslizamentos e avalanches

Áreas de risco: regiões com declive acentuado, montanhas e locais cuja composição do solo seja favorável a esse tipo de acidente
Prevenção: impedir construções e erguer muros de suporte
Agravamento pelo homem: desmatamento das vertentes


Entrevistado
Ney Fernando Perracini de Azevedo, presidente da ABENC (Associação Brasileira de Engenheiros Civis)
Currículo

Ney Fernando Perracini de Azevedo é engenheiro civil, formado pela UFPR em 1965. Trabalhou no Comitê Coordenador dos Estudos Energéticos da Região Sul do Brasil (Comitê Sul), que realizou os primeiros estudos do aproveitamento integrado do potencial energético da região. Atuou por 30 anos na Copel, em atividades relativas às obras das usinas de Salto Osório e Foz do Areia, na manutenção de obras civis e, por mais de 16 anos, na Assessoria da Presidência da Empresa. Foi professor da Faculdade Católica de Administração e Economia (FAE), por sete anos. Aposentou-se como Professor Adjunto da UFPR, onde lecionou por 30 anos disciplinas relativas à Estatística e Qualidade. Presidiu o Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) por três gestões e presidiu o Departamento do Paraná da Associação Brasileira de Engenheiros Civis (ABENC/PR).
Contato: presidencia@abenc.org.br

CEPED UFSC
Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres, da Universidade Federal de Santa Catarina
O que é
O CEPED UFSC atua nas áreas de ensino, pesquisa e extensão relacionadas à redução de riscos de desastres, com a finalidade de cooperar para o desenvolvimento técnico, científico e cultural da sinistrologia e de sua difusão junto à sociedade.
Foi constituído pelo Acordo de Cooperação Técnica assinado em 13 de novembro de 2000, atende à Política Nacional de Defesa Civil e posteriormente ao Decreto nº 5.376 de 17 de fevereiro de 2005.
A cooperação se estabelece entre o Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil; o Estado de Santa Catarina, por meio do Departamento Estadual de Defesa Civil; e a Universidade Federal de Santa Catarina.
Contato: ceped@ceped.ufsc.br

Créditos Fotos: Agência Brasil

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

COPA 2014: Arena Pantanal é modelo para "Copa Verde"

Estádio de Cuiabá para o mundial de 2014 será um dos poucos do mundo com certificação LEED e terá arquibancadas removíveis

Por: Altair Santos

O Brasil pretende que a Copa do Mundo de 2014 fique conhecida como a “Copa Verde”. A indicação de cidades como Manaus e Cuiabá para serem subsedes explicitam essa intenção. No caso da capital do Mato Grosso, o contexto ecológico agrega inclusive o estádio. A Arena Pantanal, um empreendimento em uma área de 300 mil metros quadrados e capacidade para 42,5 mil lugares, antes mesmo de ser concluída já foi premiada. No final de 2010, seus idealizadores ganharam o American Property Awards.

Arena Pantanal - Cuiabá/MT

O reconhecimento internacional se deu por causa do comprometimento da obra com a sustentabilidade, a responsabilidade sócio-ambiental e a requalificação urbana que ela irá produzir na cidade de Cuiabá. “O estádio deixará um legado importante para a cidade. Além disso, a Arena Pantanal pode ser considerada modelo no que se refere à responsabilidade sócio-ambiental. A ponto de ser um dos poucos estádios do mundo a requerer a certificação LEED (selo que designa as construções sustentáveis, de acordo com os critérios de racionalização de recursos de energia e de água)”, explica Sérgio Coelho, responsável pelo projeto da Arena Pantanal.

O arquiteto instalou uma equipe em Cuiabá para acompanhar em tempo integral o andamento da obra, a fim de garantir que o projeto seja construído dentro dos preceitos LEED. “Um empreendimento só é realmente certificado após a conclusão da obra e a verificação de que a mesma foi realizada dentro dos preceitos da certificação, ainda que todos os elementos sustentáveis do projeto tenham sido realmente executados”, explica Sérgio Coelho, da GCP Arquitetos.

Para conquistar o selo de construção sustentável LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), a Arena Pantanal terá sistemas de reaproveitamento de águas pluviais e uma estação de tratamento de afluentes, que poderão gerar economia de até 30%. Além disso, o consumo de energia foi projetado para gerar economia de pelo menos 20%. Outra novidade do estádio está em sua arquitetura, que permite a ventilação natural das arquibancadas. Membranas na cobertura e o paisagismo no entorno do estádio ajudam na circulação e no resfriamento do ar.

Outra novidade da Arena Pantanal está nas arquibancadas localizadas nos fundos dos gols. Elas serão construídas em estrutura metálica (pilares e vigas) aparafusada, com degraus em concreto pré-moldado. Isso vai permitir a desmontagem destes setores do estádio após a Copa do Mundo, o que reduzirá a capacidade do estádio em 30%. “O Arena terá conforto e uma ambientação para o jogo com a qual não estamos acostumados no Brasil”, comenta Sérgio Coelho.

A previsão é de que a Arena Pantanal seja concluída até dezembro de 2012. Atualmente, estão em obras a fundação e os muros de arrimo do estádio. O custo da obra está orçado em R$ 495 milhões. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Sócio-Econômico) irá financiar 74% do projeto (R$ 393 milhões). Os demais recursos virão do governo do Mato Grosso e da prefeitura de Cuiabá. As obras serão de responsabilidade do consórcio Santa Bárbara/ Mendes Júnior. Pela projeção dos construtores, serão consumidas 15 mil toneladas de cimento na obra.

Entrevistado

Sérgio Coelho, sócio-fundador da GCP Arquitetos
Currículo
Graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, desde 1976
Contato: gcp@gcp.arq.br

Crédito das fotos:
Sérgio Coelho
Secom/MT
Arena Pantanal
GCP/Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Assista ao vídeo do andamento das obras


Setor do material de construção segue otimista

ANAMACO e ABRAMAT projetam números positivos para 2011, mas alertam sobre gargalos a serem superados e desafios para atender o consumidor

Por: Altair Santos

Os presidentes da ANAMACO (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção), Cláudio Elias Conz, e da ABRAMAT (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção), Melvyn Fox, avaliam que 2011 continuará sendo um ano positivo tanto para o comércio quanto para a indústria da construção civil. No entanto, avaliam que o setor terá alguns desafios pela frente para manter o crescimento sustentável. Entre eles, estão a funcionalidade dos produtos, a carga tributária e a qualificação da mão de obra.

Segundo Cláudio Elias Conz e Melvyn Fox, o chamado “consumidor formiga”, que é aquele que faz a construção autogerida, assim como os programas federais, como Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Minha Casa, Minha Vida, seguirão desempenhando papéis relevantes para impulsionar as vendas de materiais de construção. A seguir, acompanhe as opiniões relevantes dos dirigentes de duas das mais importantes associações ligadas ao setor:

Claudio Elias Conz - Presidente da ANAMACO

EXPECTATIVA DE CRESCIMENTO
Cláudio Elias Conz, da ANAMACO
Apesar de os números de novembro, dezembro e janeiro não terem sido bons, a perspectiva é positiva. Achamos que podemos repetir 2010, com crescimento em torno de 10%. Isso, referindo-se ao varejo de material de construção. Mas precisamos aguardar o andamento do primeiro trimestre para podermos consolidar esta perspectiva.

Melvyn Fox, da ABRAMAT
Nossa projeção é de um crescimento próximo a 9% este ano. Mas fizemos uma projeção junto à FGV (Fudação Getúlio Vargas), que vai até 2016, e que aponta que o setor sairá de um faturamento de R$ 109 bilhões em 2010 para R$ 175 bilhões em 2016. Isso dá um crescimento em seis anos em torno de 60%, ou seja, a gente tem perspectivas realmente bastante positivas não só para 2011, mas também para os próximos anos.

GARGALOS
Cláudio Elias Conz, da ANAMACO
Achamos que precisa se adequar mais às novas exigências do mercado. Vou pegar dois exemplos: o saco de cimento e a lata de tinta. Há pelo menos 50 anos o saco de cimento tem o padrão atual, com 50 quilos. Ele é difícil de ser carregado e ainda faz sujeira no veículo do consumidor. Isso precisa ser repensado, assim como a ergonomia dos latões de tinta, que não têm nem onde segurar. Isso sem falar dos tubos de PVC de seis metros, que não cabem sequer numa Kombi. O setor precisa estar atento a isso para se adequar às novas exigências do consumidor.

Melvyn Fox - Presidente da ABRAMAT

Melvyn Fox, da ABRAMAT
Não diria gargalo, mas desafio. E o desafio é estar preparado para atender a demanda. A indústria vem trabalhando com uma capacidade ociosa baixa, em torno de 12% a 13%, ou seja, estamos utilizando uma média de 86 a 87% do total de capacidade instalada do setor. Isso é um nível, diria, um pouco alto, mas não preocupa por que o nível de investimento para os próximos 12 meses está num patamar ao redor de 72% e 73%. Agora, um gargalo que preocupa está relacionado à mão de obra disponível, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos.

CONSUMIDOR
Cláudio Elias Conz, da ANAMACO
O consumidor está cada vez mais bem informado. Ainda mais agora com as redes sociais. Antes de comprar, ele pergunta: “Você já teve problema com o cimento tal?”, “Você já teve problema com a cerâmica tal?”, “Você já teve problema com a tinta tal?”, “Você já teve problema com a empresa tal?”. De repente, aparece um monte de gente dizendo se teve problema ou não e isso muda o nível de exigência do consumidor. Então a loja tem de estar preparada para isso e qualificar seus vendedores. O bom atendimento, a orientação ao consumidor, a disponibilidade do produto, a acessibilidade à loja, a segurança, a entrega do produto e a forma de pagamento é que vão determinar a compra do cliente. Principalmente por que hoje o protagonista é o consumidor formiga, que é aquele que procura o mercado para reformar, ampliar e fazer a construção autogerida. Este é a estrela do nosso setor.

Melvyn Fox, da ABRAMAT

Hoje, todos os produtos nacionais têm que estar dentro das normas da ABNT. Infelizmente, temos a concorrência de produtos que vêm de fora e entram com qualificação fiscal errada, tributação menor e acabam não atendendo as normas da legislação brasileira. Então, o que recomendamos ao consumidor é que ele fique atento quando ver um produto similar ao nacional, mas com preço extremamente diferenciado. Ele que verifique a qualidade deste material e evite problemas futuros. Até por que, hoje o consumidor, sabedor de seus direitos, quer produtos de qualidade.

PAC e MINHA CASA, MINHA VIDA
Cláudio Elias Conz, da ANAMACO
São programas que geram consumo. Veja, o PAC agora quer construir nove mil UPAS (Unidades de Pronto Atendimento). Tudo isso leva tijolo, janela e desencadeia ações que acabam consumindo material de construção. Já o Minha Casa, Minha Vida, é outro elemento importante por que estimula o consumo formiga. O contemplado com a casa nova corre para a loja de material de construção para pintar as paredes de outra cor, para trocar o piso, para fazer um puxadinho da garagem ou melhorar a entrada da casa. Enfim, tudo isso gera consumo.

Melvyn Fox, da ABRAMAT
Estes programas são essenciais. Eles deram dinamismo ao setor. O PAC, voltado à infraestrutura, e o Minha Casa, Minha Vida, à habitação, trouxeram muitos bons resultados para o setor e continuarão trazendo, por que apesar de o governo ter anunciado cortes no orçamento de 2011 esses programas foram preservados.

TRIBUTOS
Cláudio Elias Conz, da ANAMACO
O tamanho da carga tributária tem que ser o tamanho do tipo que a sociedade quer de serviços prestados pelo Estado. Saúde para todos, ensino gratuito para todos e aposentadoria jovem para todos têm um preço. E o preço disso chama-se carga tributária. Não acho que a carga seja elevada, mas é burra, burocrática e trata de questões desnecessárias. Mas quem tem de discutir isso é a sociedade e não só o setor da construção civil.

Melvyn Fox, da ABRAMAT
Estamos na batalha pela ampliação da redução do IPI.  No final de 2010 entregamos ao governo uma proposta de IPI zero para todos os materiais de construção por um prazo indeterminado. Entendemos que isso é fundamental, pois faz parte de um dos instrumentos de crescimento do país. Propusemos também um estudo de redução de PIS e COFINS em termos federais. Estamos agora entrando com um estudo especifico de ICMS. Nós entendemos que deveria haver uma redução de ICMS forte. Nossa proposta é baixar em 50% o ICMS de todos os materiais de construção em todos os 27 estados, e de uma forma conjunta para que não aja nenhuma criação de guerra de preços. Vamos continuar atuando nesta área de redução de tributos de uma forma bastante intensa no decorrer deste ano.

Entrevistados:

Cláudio Elias Conz, é presidente da ANAMACO (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção)
Contato
imprensa3@anamaco.com.br
Twiiter: http://twitter.com/claudioconz

Melvyn Fox é presidente da ABRAMAT (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção)
Contato:
fernando@rrpconsultores.com.br (assessoria de imprensa)

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Brasil projeta investimento forte em energia elétrica

Segundo prevê o Plano Decenal de Expansão de Energia, país precisa injetar R$ 214 bilhões no setor, até 2019, para suprir a demanda

Por: Altair Santos

Em novembro de 2010, o Ministério de Minas e Energia aprovou o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), que traça um cenário do setor até 2019. Segundo o relatório elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo crescerá a uma taxa média anual de 5,4% até o final desta década. Isso significa que, entre 2011 e 2019, haverá elevação da oferta interna per capita de 2.782 kWh/hab para 4.016 kWh/hab, o que vai exigir investimento da ordem de R$ 214 bilhões em produção de energia elétrica para suprir a demanda.

Flávio Neiva - presidente da ABRAGE
Flávio Neiva - presidente da ABRAGE

Parte deste investimento refere-se a usinas já concedidas e autorizadas, enquanto os empreendimentos de geração ainda não concedidos ou não autorizados serão responsáveis por R$ 108 bilhões. Segundo o presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (ABRAGE), Flávio Neiva, a projeção feita no relatório aprovado pelo Ministério de Minas e Energia está de acordo com a expectativa do setor.

Ainda segundo o presidente da ABRAGE, o Plano Decenal é importante, pois esse tipo de infraestrutura, que envolve a construção de hidrelétricas, tem um período de maturação muito longo. “Ele aponta para a necessidade de consumo daqui a cinco, seis, dez anos, e define uma cesta de obras que fique pronta quando este consumo se realizar. Se a projeção for abaixo, o consumo chega e a obra não entrou. Então, a oferta tem sempre que estar equilibrada com a demanda”, diz Flávio Neiva.

Atualmente no Brasil três usinas hidrelétricas são consideradas estratégicas para suprir a demanda de energia nesta década: as em construção no Rio Madeira - Santo Antônio e Jirau -, cada uma com capacidade de gerar 3.300 megawatts, e a de Belo Monte, que já foi licitada e será erguida no Rio Xingu. Todas elas serão construídas em parceria entre o governo federal e consórcios de empresas.

Hoje, as hidrelétricas são responsáveis por 80% da geração de energia elétrica consumida no Brasil. Para o presidente da ABRAGE, dificilmente essa matriz energética deixará de ser prioritária no país. “A hidrelétrica tem custo baixo de operação e é perene para mais de 100 anos. Ela pode ter um custo alto no investimento, em relação às termoelétricas, mas é disparada muito mais econômica quando precisa cumprir sua finalidade, que é gerar energia”, afirma Flávio Neiva.

Estratégica para a construção civil
De acordo com Neiva, a energia renovável da hidrelétrica é um bem econômico importantíssimo e que dá ao Brasil um fator diferencial grande em relação às outras nações. “Muitos questionam o impacto ambiental, mas se comparado às termoelétricas ele é menor. Uma hidrelétrica não emite gases nocivos à atmosfera quando está em operação. De qualquer forma, é importante para o país investir em todas as fontes possíveis de geração de energia, sejam elas termoelétricas, nucleares, eólicas ou de biomassa. Tudo isso, aliás, o Brasil está fazendo”, cita.

No entanto, para a construção civil, nada é mais interessante do que o projeto de uma usina hidrelétrica. “Ela engloba toda a cadeia do setor, exigindo alta demanda de mão de obra, de concreto, de ferro, de aço e de engenharia hidromecânica. Enfim, é o tipo de obra que mais emprega no país quando está em construção. Curiosamente, na operação, as usinas empregam pouco, devido à automação de seus componentes”, comenta Flávio Neiva.

Hoje, com as tecnologias de construção, uma hidrelétrica de porte médio pode ser construída num prazo de três anos. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), atualmente operam no país 158 usinas, que produzem um total de 74.438.695 kW. Estão em construção outras 9 usinas e 26 outorgadas ainda não saíram do papel.

Entrevistado
Flávio Neiva, presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (ABRAGE)

Currículo

Graduado em engenharia elétrica na Escola de Engenharia da UFMG
Pós- graduado em Operação de Sistemas Hidrotérmicos e em Planejamento Energético de Sistemas
Desde 1999 é presidente da ABRAGE
Contato: faneiva@abrage.com.br

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Sobram engenheiros, faltam especialistas

Brasil tem número suficiente de graduados, mas carece de profissionais que atendam as demandas exigidas pelas empresas

Por: Altair Santos

Na 6.ª edição de seu boletim Radar, intitulado “Tecnologia, Produção e Comércio Exterior”, lançada no ano passado, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) detectou que de cada 3,5 engenheiros formados no Brasil um está formalmente empregado. O ideal, segundo o estudo, é de que, com o PIB (Produto Interno Bruto) do país crescendo a taxas médias de 5%, o mercado de trabalho absorvesse um engenheiro entre dois que saem dos bancos escolares.

O relatório do IPEA conclui que o Brasil tem um número suficiente de engenheiros para dar conta dos novos postos que devem surgir com o crescimento econômico, mas é necessário que aumente a proporção de profissionais dedicados às áreas específicas da engenharia.

A avaliação vai ao encontro do que diz o diretor da Escola Politécnica de Engenharia da USP (Universidade de São Paulo), José Roberto Cardoso. Segundo ele, o que falta no mercado são profissionais especializados. “A educação continuada agora é a palavra chave. Não se pode mais parar de estudar”, alerta.

Simone Turra - Diretora da 4Search Consultoria

A tese do professor também coincide com a análise da diretora-executiva da empresa 4Search Consultoria, Simone Turra, que recentemente firmou parceria com o IEP (Instituto de Engenharia do Paraná) para ajudar a recolocar no mercado profissionais do setor. “A falta de mão de obra na engenharia não diz respeito ao profissional que apresente simplesmente a graduação específica, mas ocorre quando falamos de cargos mais especialistas, ou mesmo de gestão, que exigem do profissional a vivência real na atividade”, diz.

Segundo a consultora, o Brasil vive um gap (vácuo) no mercado de trabalho de engenharia, por causa das décadas de 1980 e de 1990, que foram de baixa demanda para o setor. Assim, grande parte dos engenheiros formados pelo país naquela época se encaixou em outras áreas da economia, o que gerou o seguinte dilema: há, hoje, engenheiros muito jovens, recém-formados, e engenheiros mais antigos, mas que perderam o foco na especialização. “Então, a escassez de mão de obra se dá pelo fato de que o mercado procura aquele engenheiro com diferencial técnico e experiência superior a 8, 10 anos de campo, e não encontra”, cita Simone Turra.

A solução encontrada pelas empresas para suprir essa lacuna é investir na formação de jovens talentos, recém-egressos das universidades, através de programas de trainee e de estágio. Outra opção foi buscar o auxílio de consultorias especializadas em hunting, para identificar no mercado profissionais que tenham o perfil das vagas ofertadas.  “O processo de hunting acaba por tornar-se a única forma de localizar o profissional adequado. Mas outro caminho para amenizar este impacto de mercado é a intensificação de planos e programas de carreira, que incluem os trabalhos de avaliação de desempenho, potencial e amplos programas de treinamento e desenvolvimento”, completa Simone Turra.

Entrevistada:
Simone Turra
Currículo:

- Diretora Executiva da 4Search Consultoria
- Psicóloga especializada em Psicologia Clínica e Recursos Humanos
- Professora Universitária, Comentarista em Rádio e TV sobre conteúdo de Recursos Humanos
Contato: simone@4search.com.br

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Mercado imobiliário brasileiro vive círculo virtuoso

Presidente da ADEMI-RJ, Rogério Chor, atribui ao Minha Casa, Minha Vida o “milagre” que começa a reduzir o déficit habitacional no país

Por: Altair Santos

A adoção de políticas públicas efetivas para combater o déficit habitacional brasileiro, consolidadas no programa Minha Casa, Minha Vida, é que faz o mercado imobiliário brasileiro viver hoje um momento histórico. A opinião é de Rogério Chor, presidente da ADEMI-RJ, para quem as esferas de governo municipal, estadual e federal finalmente decidiram enfrentar o problema de frente. “A burocracia e o atraso foram substituídos por uma espiral positiva de investimentos. Tudo isso nos traz a sensação de que estamos caminhando na direção certa”, afirma Chor.

O presidente da ADEMI-RJ cita números que mostram como o Brasil está virando a página do déficit habitacional brasileiro. “O Minha Casa, Minha Vida elevou a oferta de imóveis com preço médio até R$ 130 mil de 9% para 40% do total do nosso mercado”, explica. Chor completa, dizendo que novas condições favoráveis de crédito devem impulsionar as famílias com menor poder aquisitivo a adquirir a casa própria. Ele se refere à recente decisão do Conselho Curador do FGTS de ampliar o limite do financiamento com recursos do fundo para a população de baixa renda.

A medida atinge as regiões metropolitanas de São Paulo, Rio e Brasília. O novo teto para o financiamento passa de R$ 130 mil para R$ 170 mil. Nas demais capitais, o valor máximo do imóvel dentro do programa foi elevado de R$ 100 mil para R$ 150 mil. Para municípios com população a partir de 250 mil habitantes ou integrantes de regiões metropolitanas, o valor máximo passará de R$ 80 mil para R$ 130 mil.

Outra mudança acertada foi a elevação do valor máximo para cidades com população a partir de 50 mil habitantes, de R$ 80 mil para R$ 100 mil. Para os demais municípios, o valor segue em R$ 80 mil. Diante destas mudanças, Chor afirma que, agora, o maior desafio das construtoras e incorporadoras é adequar as ofertas imobiliárias para as classes média e média-baixa e oferecer  empreendimentos que atraiam ainda mais os investidores. “O momento é bom para isso. Com a abertura de capital de algumas das maiores incorporadoras do País, e a criação de fundos de investimento, foi possível alongar os prazos de financiamento para o comprador e a parcela a ser paga durante a obra diminuiu sensivelmente", afirma.

Antes desta nova era do mercado imobiliário brasileiro, as construtoras financiavam no máximo 60% do valor do imóvel durante o período da obra. Hoje, a proporção já chega a 80% em alguns casos. A tendência é que essa margem possa aumentar ainda mais, levando o financiamento da casa própria a se aproximar de um modelo parecido ao praticado hoje para a venda de veículos. Demanda para isso é que não falta. Segundo dados da ABECIP (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança), neste ano pelo menos 9 milhões de famílias pretendem comprar casa própria. Em 2008, quando o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida foi implementado, 4,2 milhões tinham esse plano.

Entre os que apontaram intenção de adquirir um imóvel, 83%, ou 7,5 milhões, estão nas classes C (renda familiar de 3 a 10 salários mínimos), D (1 a 3 mínimos) e E (até 1 salário mínimo); 17% são das classes A e B (10 a 20 mínimos). O aumento da renda, o acesso ao crédito e a maior escolaridade são os principais fatores para o impulso. A procura maior é por casas, seguida por terrenos e apartamentos.

Entrevistado
Rogério Chor
Currículo
- Presidente da Construtora CHL (grupo PDG Realty)
- Presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio de Janeiro (Ademi-RJ)

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Demandas ambientais levam tecnologia à indústria do cimento

Indústria investe cada vez mais em produtos menos impactantes e influencia positivamente em toda a cadeia da construção civil

Por: Altair Santos

A indústria cimenteira do Brasil é uma das menos poluentes do mundo. Seja pelo uso de energia limpa, seja pela forma como extrai os componentes para a produção de cimento e seus derivados, ela emite bem menos CO2 se comparada a outros países. Isso não significa que não haja investimento em pesquisa para amenizar o impacto ambiental causado pelo setor. Pelo contrário, segundo o professor e pesquisador da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Vanderley Moacyr John, a indústria cimenteira é atualmente uma das áreas mais atentas à busca de avanços tecnológicos para se adequar às demandas ambientais.

Vanderley Moacyr Jonh

Na opinião do especialista, a mobilização da indústria cimenteira em direção às questões ambientais tem influenciado positivamente toda a construção civil. A começar pelo investimento em tecnologia do concreto. “Certamente, a próxima fronteira é a transformação do que chamamos de agregados, que hoje são produtos muito rudimentares, em um produto industrial mais sofisticado, com grande controle de forma, distribuição granulométrica, entre outros. É muito provável que o tamanho máximo dos agregados fique abaixo de 6mm nos próximos anos e que o número de faixas granulométricas se multiplique permitindo um maior controle reológico e economia de ligantes”, explica o professor.

Vanderley Moacyr John lembra que hoje a tecnologia do concreto está cada vez mais avançada.  “Em boa parte do mundo não se faz mais concreto misturado em obra. Geralmente se usam os aditivos dispersantes ou plastificantes, que além das razões econômicas, podem reduzir o custo e trazer grandes benefícios ambientais. Atualmente, o concreto definido como mistura de clínquer, um pouco de sulfato, areia, brita e água é quase considerado um crime ambiental”, conta John. Ainda de acordo com o especialista, essa guinada tecnológica se deve muito à produção de cimentos mais sofisticados.

Os “cimentos genéricos”, analisa o professor da USP, estão fadados à extinção. “Eles vão perder espaço para cimentos que incorporarão aditivos dispersantes, fibras e teores variáveis de fíler com granulometria controlada. Para o futuro, certamente serão desenvolvidas soluções customizadas para nichos de mercado, com alto valor agregado”, revela Vanderley Moacyr John, acreditando que daqui a 10 anos até a nanotecnologia já estará fazendo parte da produção de cimento. “Em uma década ela será uma ferramenta poderosa para desenvolver novas soluções e otimizar os produtos”. completa.

Uma aplicação interessante já comercializada, ligado a nanopartículas, é a produção de concreto autolimpante com partículas de Anatásio (TiO2). “Imagino que no futuro será possível deixar uma superfície de concreto aparente sem se preocupar com limpeza periódica”, afirma o especialista. Ele alerta, porém, que no Brasil os estudos sobre o uso de nanofibras de carbono em cimento ainda estão começando. A única pesquisa neste sentido está em desenvolvimento na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas com pouca divulgação. “Existe o temor de que as nanofibras tenham riscos similares aos observados com o amianto. Por isso, as pesquisas ainda se desenvolvem sob sigilo”, revela Vanderley Moacyr John, convicto de que a tecnologia do cimento causará grandes transformações na construção civil.

Entrevistado
Vanderley Moacyr John
Currículo

- Doutor em engenharia civil
- Professor e pesquisador da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
>> Contato: vanderley.john@poli.usp.br

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Construções sustentáveis criam raízes no Brasil

Conceito de “prédio verde” chegou ao país em 2007 e não para de atrair adeptos. Desafios climáticos forçam adaptações do mercado e dos profissionais

Por: Altair Santos

Já há consenso na construção civil de que a opção pelos chamados “prédios verdes” não é mais modismo ou alternativa para encarecer a obra. Os desafios climáticos e ambientais a que as cidades estão expostas obrigam mudanças de hábitos e valorizam as práticas sustentáveis. Felizmente, isso não acontece apenas no exterior, mas no Brasil também. Ainda que timidamente, se comparado com outras regiões, as construções sustentáveis fecharam 2010 com números expressivos no país.

Segundo balanço da Green Building Council Brasil (GBC Brasil), no ano passado houve 23 empreendimentos que receberam a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e passaram a ser reconhecidas como construções sustentáveis. Outras 211 obras também requereram o “selo verde” em 2010. Este ano, a expectativa da GBC Brasil é de que esse número suba para 35 certificações concedidas e 300 requisições.

São dados que fizeram o país saltar da 5.ª para a 6.ª colocação no ranking das nações que possuem a maior quantidade de “prédios verdes”. De acordo com o engenheiro Marcos Casado, gerente-técnico da GBC Brasil, esse é um caminho sem volta. Números revelados por ele mostram que até 2013 pelo menos 50% da construção civil mundial já terá aderido ao conceito de obras sustentáveis. “Empresas que ainda não estão preocupadas com a sustentabilidade deverão se adequar rapidamente para que não sejam excluídas pelas novas exigências do setor”, alerta.

Casado avalia que o Brasil iniciou tardiamente a adesão às construções sustentáveis – a primeira obra surgiu em 2007 -, mas esse movimento já se reflete no mercado. O custo dos “prédios verdes” tem caído sensivelmente. “A prática está mostrando que para executarmos uma obra sustentável temos tido um acréscimo de custo médio de 5%, que nem se compara com os benefícios econômicos, ambientais e sociais que as mesmas proporcionam. Estes resultados vêm estimulando cada vez mais novos projetos a seguirem esses conceitos, o que provoca redução de custos pelo aumento da demanda”, explica.

Marcos Casado, gerente da GBC Brasil.

O conceito de “prédio verde” também tem mudado o comportamento dos profissionais. A procura por atualizações é intensa, assegura Marcos Casado. Por isso, a GBC Brasil passou a ser não só um organismo que emite certificações como um ponto de apoio para os profissionais. “Já contamos com mais de 23 mil engenheiros e arquitetos participando de nosso programa educacional, que vai desde cursos online até pós-graduações para capacitação do setor em várias regiões do país”, disse Casado, revelando que a construção sustentável cria raízes rapidamente no Brasil.

Conheça aqui a programação de cursos de extensão, MBA's, workshops e seminários para 2011, promovidos pela Green Building Council do Brasil.

Saiba mais sobre o assunto: http://www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/cresce-a-procura-por-construcoes-sustentaveis/

Veja quais são os 23 empreendimentos com certificação LEED no Brasil:

Banco Real Agencia Bancaria Granja Viana
Delboni Auriemo - Dumont Villares
Morgan Stanley
Edifício Cidade Nova – Bracor
Rochaera Corporate Towers - Torre B
Eldorado Business Tower
Ventura Corporate Towers - Torre Leste
WTorre Nações Unidas 1 e 2
McDonalds - Riviera São Lourenço
CD BOMI Matec
Pão de Açúcar
Torre Vargas 914
Brasken
Centro de Cultura Max Feffer
Fleury Medicina Diagnostica Rochaera
Building the Future (Boehringer Ingelheim)
Unilever TI – Rochaera
Sede GBC Brasil
Pavilhão Vicky e Joseph Safra
Centro de Desenvolvimento Esportivo
Rochaera Torre
WTorre JK - Torre Sao Paulo
Ecopatio Bracor Imigrantes

Entrevistado
Marcos Casado
Currículo
- Gerente Técnico LEED Green Building Council Brasil
- Engenheiro Civil

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330