Arquitetos ganham conselho próprio

Lei que cria o CAU, e desvincula os profissionais do sistema Confea/CREA, foi sancionada no final do ano passado

Por: Altair Santos
José Antonio Lanchotti: o CAU permitirá uma fiscalização maior do profissional de arquitetura e, consequentemente, trará mais qualidade à construção civil.

Um dos últimos atos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi sancionar a lei que cria o Conselho de Arquitetura e Urbanismo e desvincula a categoria do sistema Confea/Crea. Este ano ocorrerá a transição, para permitir a estruturação do CAU. Um dos que está à frente desta transição é o arquiteto e urbanista José Antônio Lanchotti, presidente da ABEA (Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo). Na entrevista a seguir ele explica como vai funcionar o CAU e quais serão os benefícios que o novo conselho trará para a construção civil brasileira. Confira:

Qual influência a criação do CAU trará para os profissionais de arquitetura e no que irá refletir no complexo Confea/CREA?
A importância para os arquitetos e urbanistas, de possuírem um conselho próprio, está na possibilidade de defendermos a sociedade dentro de uma área de extrema importância, que é a qualidade de produção do espaço. É importante frisar que este conselho não é um conselho de defesa dos profissionais. Ele é uma autarquia federal e a função principal é a defesa da sociedade dos maus profissionais. Como nós temos hoje um sistema multiprofissional, como é o Confea/CREA, ele congrega muitos profissionais, muitos mais do que apenas os engenheiros civis, os agrônomos e os arquitetos. Por isso, há uma grande dificuldade de fazer a devida fiscalização nos moldes que a sociedade necessita. Então, este conselho próprio vem cuidar dos assuntos ligados à Arquitetura e Urbanismo voltado à sociedade. Aí insere toda a discussão de produção dos espaços construídos, dos espaços urbanos, da produção da cidade e o que estes profissionais que estão exercendo a profissão realmente fazem com a devida qualidade. Este é um grande ganho, não só dos profissionais, que vão ver o engrandecimento de sua área profissional, mas da sociedade, que vai ter aí um conselho que vai fiscalizar o exercício da profissão.

Haverá reflexo no mercado de trabalho para arquitetos e engenheiros?
O reflexo sempre acontece, por que vai ter a obrigatoriedade de profissionais em áreas específicas. Tem a realização do projeto de arquitetura feito por um arquiteto e urbanista e, em alguns casos, a execução ficará a cargo dos engenheiros civis, pois vai envolver cálculos mais complexos. Em alguns momentos, no caso de edificações de pequeno porte, teremos aí a possibilidade dos dois personagens atuarem em uma mesma situação, mas na maioria dos casos não. Hoje, quando se faz uma construção, por exemplo, não se vê o pintor fazendo a instalação elétrica ou colocando o telhado. Para cada tipo de atividade numa edificação há um profissional desempenhando a sua função. Nas áreas projetual e construtiva também. Vamos ter um profissional responsável pelo projeto, garantindo a qualidade do projeto para o usuário, e vamos ter um outro profissional responsável pela sua execução, barateamento e a qualidade da construção. Então quem ganha com isso? A sociedade.

Há quanto tempo os arquitetos reivindicavam a criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo?
Há mais de 50 anos pleiteávamos esta separação. Hoje há mais de 80 mil profissionais em todo o Brasil, o que fez com que os arquitetos merecessem um conselho próprio.

Quais foram as etapas superadas para se chegar ao CAU?
Bom, a primeira etapa foi a produção desta legislação, que partiu da Casa Civil. Nós tínhamos um texto inicial, que havia sido produzido pelo Senado e tramitou em 2007. Mas quando ele chegou na Presidência da República, foi vetado por um problema de vício de origem. Por ser uma criação de uma autarquia federal ela não poderia acontecer com origem no Congresso Nacional, mas apenas no Executivo. Então, o presidente Lula, quando vetou, foi com o compromisso de fazer uma nova redação, e assim foi feito. A Casa Civil produziu este texto em parceria com as entidades nacionais de Arquitetura e Urbanismo – ABAE (Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo), AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura), IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), Abap (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas) e a FNA (Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas). Este documento passou por seis ministérios, que fizeram as suas contribuições e depois houve uma grande discussão com o próprio Confea. Aí foi para os deputados. Na Câmara, nós tivemos seis comissões discutindo e contribuindo com o projeto até ele ser votado em novembro. No Senado, a tramitação foi mais rápida. Em apenas 15 dias foi votado e em uma semana foi sancionado pelo Presidente da República. O trabalho maior se deu em 2009, quando nós estávamos discutindo o texto junto com os ministérios e com a própria Casa Civil.

Como será a fase de estruturação do CAU?
A legislação que foi aprovada, assinada dia 30 de dezembro e publicada no dia 31 de dezembro de 2010, por enquanto tem dois artigos valendo. São os que constituem a comissão que vai criar o regimento interno e preparar a primeira eleição do conselho nacional. Após a construção do processo eleitoral e do regimento interno é que nós estaremos estruturando todo o resto. Temos até dia 31 de dezembro para fazermos a nossa eleição. Então há, neste momento, 27 câmaras de arquitetura dos CREAs, no Brasil todo, discutindo o regimento e as cinco entidades nacionais (ABAE, AsBEA, IAB, Abap e FNA) agindo como parceiras na discussão deste documento. Toda a estruturação de funcionamento está sendo trabalhada e estamos usando como referência diversos conselhos profissionais para ver aquilo que funciona em cada um deles. O objetivo é fugir de situações que não são bem vindas e de vícios que a gente conhece da estrutura do atual sistema Confea/CREA. Estamos tentando enxugar, para termos um conselho mais simples, do que a estrutura grande que o Confea tem hoje. A preocupação maior é garantir a fiscalização do exercício profissional. Tenho certeza que conseguiremos fazer isso com uma estrutura bem menor do que a que o Confea tem hoje.

Quais devem ser as metas da primeira gestão?
A própria estruturação é uma delas. Estamos num processo de efervescência projetual. O Brasil nunca cresceu tanto como está crescendo nestes anos e este crescimento se dá muito pela construção civil. Então, quando se abre uma licitação pública, por exemplo, há a exigência da comprovação de trabalhos anteriores e estes trabalhos eram feitos via sistema Confea/CREA.  Agora, os profissionais estão nesta expectativa: como é que eu faço? Pode ou não pode? Essas dúvidas todas vão ter de ser sanadas. Além disso, tem a construção da estrutura no Brasil todo, com sedes, contratação de funcionários, regimentos internos de cada um dos Estados. Resumindo, vamos começar uma vida nova.

Em termos de ensino da Arquitetura e Urbanismo, o CAU pretende influenciar numa reforma curricular, por exemplo?
Não só o CAU. A conjuntura internacional é que esta direcionando para isso. Neste mês de março estarei em uma reunião na UNESCO sobre as discussões de ensino de arquitetura e urbanismo. É uma pré-discussão do congresso que vai acontecer em Tóquio, em setembro. E essas discussões, obviamente, trarão para a construção do nosso CAU. O Ministério da Educação já está prevendo as alterações das diretrizes curriculares por conta de uma resolução que já vinha acontecendo dentro do Confea, e que agora ganha força com a instalação do CAU. Como as atribuições hoje estão colocadas em lei, e não mais em resolução, obviamente a diretriz curricular vai ter que ter aí as suas adequações. Então, nós teremos sim um grande trabalho da ABEA junto ao Ministério da Educação e junto às organizações internacionais, como a UIA (União Internacional de Arquitetos), que já foi presidida pelo paranaense Jaime Lerner há seis anos. Nós temos que garantir essa visão globalizada da arquitetura e do urbanismo e, consequentemente, do ensino, que vai fazer com que os novos profissionais atuem no mercado nacional e até internacional.

No dia a dia dos arquitetos, o que muda com o CAU?
No dia a dia não muda nada. Os profissionais continuarão trabalhando, tendo as suas atribuições profissionais, se mantendo informado com o seu conselho profissional e também prestando informações ao conselho nacional, além de seguir com suas obrigações, como recolher tributos e cadastrar suas obras. A alteração que vai ter será na fiscalização, pois teremos uma fiscalização muito mais atuante para garantir que atividades que estão destinadas aos arquitetos e urbanistas sejam feitas por arquitetos e urbanistas.

Passam a existir antagonismos entre arquitetos e engenheiros?
Eu não vejo desta maneira. Há sim alguns colegas da engenharia civil que veem isso com uma grande preocupação. Há um grande medo de se estar perdendo mercado. Isto não é real. O mercado nunca esteve tão bom para todos. Nós entendemos que não somos antagônicos, e sim parceiros da construção da cidade, das edificações e da construção do país. É apenas uma reação imediata que está acontecendo, que é a dúvida do desconhecido. Ninguém tem certeza de como funcionará o sistema e há um grande medo por parte de alguns profissionais. Mas quando estivermos com toda a documentação estabelecida, e em funcionamento, este medo vai acabar.

Hoje, como está o mercado de trabalho para os arquitetos?  Muito se fala do aquecimento do mercado para engenheiros, mas pouco se fala dos arquitetos.
Quanto se fala que há um aquecimento da engenharia civil, na verdade é um aquecimento da construção civil. E este crescimento é fruto de vários profissionais: engenheiros civis, engenheiros eletricistas, agrônomos e arquitetos. Há um número grande de profissionais ligados a área tecnológica e em atuação na construção civil. Só que o mercado reconhece, por uma questão histórica, que somente o engenheiro civil é que está vendo o mercado aquecido. Não. São vários profissionais desta área tecnológica que veem o mercado aquecido. Por que que só fala no engenheiro civil? Por uma questão histórica. Tem muita gente que acha que somente o civil que faz este tipo de atividade, e não o é. Na hora em que tivermos esta separação ficará muito mais fácil divulgarmos.

Para a cadeia produtiva da construção civil, o que muda com o surgimento do CAU?
Eu entendo que muda a qualidade. Temos aí um grande avanço da qualidade da produção destes espaços e a sociedade é quem vai acabar ganhando com isso. Há uma grande preocupação de que isso trará o encarecimento da obra, o que também não é verdade. É apenas uma separação da atribuição profissional. Isso não é encarecimento da obra. Então, para a cadeia produtiva nós temos a garantia de uma melhor qualidade dos projetos que estarão sendo construídos no Brasil.

Onde será a sede do CAU?
A nacional, em Brasília. Daí cada capital deverá ter a sua sede.

Entrevistado
José Antônio Lanchotti, presidente da ABEA (Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo)
Currículo

- Arquiteto e urbanista graduado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutor em acessibilidade pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP)
- Presidente da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (Abea)
- Conselheiro federal do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea/CREA)
- Membro do Conselho Nacional das Cidades, coordenador das oficinas de acessibilidade da Abea-MCidades e do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Moura Lacerda
- Conselheiro do Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (CONADE)
Contato: lanchotti@gmail.com

Crédito: Arquivo pessoal

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Energia eólica impulsiona a construção civil

Usinas que geram energia a partir dos ventos tornam-se relevantes consumidoras de concreto e despertam o interesse do setor

Por: Altair Santos

O Brasil, segundo a International Energy Agency (IEA), é o país que mais produz eletricidade a partir de fontes de energia limpa e renovável, como hidrelétricas, usinas de biomassa e eólicas. Do total da eletricidade fornecida no país, 85,9% provém deste tipo de matriz energética. É mais do que a soma do que geram os outros países do BRIC (Brasil, Rússia, índia e China) e os Estados Unidos, que juntos produzem 65,8% de energia limpa.

Parque 3 do Complexo Eólico Cerro Chato: fundações consumiram 5 mil m³ de concreto e 500 toneladas de aço

Dentro da matriz de eletricidade do Brasil, a energia eólica ocupa 0,8%. O país tem instalado 926 megawatts em 51 parques eólicos em operação, que vão desde o Piauí até o Rio Grande do Sul. O investimento neste tipo de fonte de energia está crescendo, ainda que lentamente. Em 2009, os ventos produziam 606 megawatts. Porém, leilões promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), entre 2009 e 2010, comercializaram mais 3,8 mil megawatts, com previsão de entrega até 2013.

Segundo o estudo Sustentabilidade Ambiental no Brasil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o país está atrasado na geração de energia eólica em relação a outras nações. “Até um tempo atrás, esse tipo de energia estava fora de pauta. Hoje é objeto de corrida internacional, e o Brasil está ainda bastante atrasado”, avalia o pesquisador Albino Alvarez, do Ipea. Para comparar, a Alemanha dispõe atualmente de 25.777 megawatts instalados. Os EUA, 35.159; a Espanha, 19.149; a China, 25.805, e a Índia, 10.926, segundo o Conselho Global de Energia Eólica (GWEC).

Só que o setor de energia eólica está ganhando um parceiro importante para disseminá-lo país afora. São as construtoras brasileiras. Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (AbEEólica), as novas tecnologias de construção das torres – não mais em aço, mas em concreto - é que tem atraído o interesse da construção civil. Além disso, há outras aplicações no setor eólico ligadas à área da engenharia civil. Como as fundações para cada torre eólica.

Solo fértil para o concreto

Em fevereiro de 2011, a Eletrobras Eletrosul concluiu a décima base dos aerogeradores que formarão o parque 3 do Complexo Eólico Cerro Chato, em Sant’Ana do Livramento (RS). A fase é considerada um marco para as obras do empreendimento, que terá 90 megawatts de potência instalada e está dividido em três usinas. Iniciadas há 45 dias, as fundações já consumiram 5 mil m³ de concreto e 500 toneladas de aço - o suficiente para construir dez edifícios de 12 andares -, e mais cinco bases estão em construção.

Pedro Perrelli: regiões Sul e Nordeste são as que têm maior potencial para explorar a energia eólica no Brasil.

Segundo Pedro Perrelli, diretor-executivo da ABEEólica, as bases que sustentam as usinas eólicas requerem, de fato, muito concreto. “Em alguns lugares, o terreno é arenoso e isso exige diferentes tecnologias. Para se ter uma ideia, da base ao centro do rotor são mais de 100 metros de altura. Cada hélice do rotor tem cumprimento  acima de 40 metros. Imagine o efeito alavanca que isso gera. Por isso, a fundação precisa estar muito bem concretada”, explica.

Perrelli lembra que o mercado para o setor eólico no Brasil tem muito a crescer. Segundo ele, o primeiro passo é atualizar o atlas eólico do país. O mais recente, que mapeou as correntes de ar, saiu em 2001. “Ele está desatualizado tecnicamente, mas as duas regiões que mostram o maior potencial de geração elétrica por eólica são Sul e Nordeste. Mas é bom lembrar que só há cinco anos ela passou a ser explorada industrialmente no Brasil. Portanto, há muito por fazer no setor eólico”, diz.

Uma das iniciativas da ABEEólica, junto ao Ministério de Ciência e Tecnologia e do Ministério de Minas e Energia, é que seja criado no Brasil um centro de pesquisa para que o país possa dominar toda a cadeia produtiva de energia eólica. A meta também é criar usinas adaptadas aos vários tipos de ventos que predominam nas regiões brasileiras. “A intenção é que este centro gere uma situação equivalente ao que a gente tem hoje com o carro flex. Você tem um vento no Brasil que tem características diferentes. Ele é um no Nordeste e outro no extremo sul. Por isso, requer pesquisa e investimento para que se possa usar todo o potencial de geração de energia dos ventos”, afirma Perrelli.

Entrevistado
Pedro Perrelli, diretor-executivo da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica)
Currículo

- MSc Production Management & Manufacturing Technology – 1978 – Univ. of Strathclyde - Glasgow - Scotland – UK
- Diploma in Production Engineering – 1976 - University of Strathclyde - Glasgow - Scotland – UK
- Graduado em Engenharia de Segurança – 1975- Escola de Engenharia Industrial - S. J. dos Campos/SP
- Graduado Engenheiro Mecânico – 1972 - Escola de Engenharia de Taubaté - Taubaté/SP
Contato: pedro@abeeolica.org.br

Crédito Fotos: Jornal Já/Cléber Dioni

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

A expansão da construção civil (Podcast)

O professor, palestrante e escritor Carlos Alberto Júlio, fala sobre a expansão da construção civil nos últimos anos e sobre o modelo de gestão das empresas do setor no Brasil

Por: Altair Santos 
Carlos Alberto Júlio

Currículo: Carlos Alberto Júlio
Atualmente, é vice-presidente do conselho de administração da Tecnisa e conselheiro da Camil Alimentos. Foi presidente da HSM do Brasil, empresa líder em educação executiva focada em alta gestão. Foi presidente da Polaroid do Brasil e vice-presidente da Voko Sistemas Ltda. É autor de quatro best-sellers na área de negócios. O mais recente sucesso é Superdicas Para Vender e Negociar Bem. "A Arte da Estratégia", "A Magia dos Grandes Negociadores" e "Reinventando Você!", são algumas das obras anteriores. Palestrante há 10 anos, recebeu o prêmio Top de Marketing em RH como um dos cinco palestrantes mais lembrados do país e foi apontado pelas revistas Veja e Exame como um dos melhores palestrantes do Brasil. É professor de MBA da FEA/USP, no GVPEC da FGV/SP e na ESPM. É administrador de empresas, possui mestrado nos EUA e especialização em marketing pela Harvard Business School e pelo MID de Lausanne, Suiça.
Contato: julio@carlosjulio.com.br

Clique no player abaixo e ouça agora um resumo da entrevista. Para ouvir a entrevista na íntegra clique aqui.


Bloco de concreto começa a virar o jogo

Com tecnologia, investimento e normatização mais rigorosa, produto ocupa cada vez mais espaço no mercado, aponta presidente da BlocoBrasil

Por: Altair Santos

Essenciais à alvenaria, os tijolos precisam atender a itens básicos, como resistência mecânica, peso, absorção de umidade, características de isolamento e condução térmica, além de se adequarem aos tipos de superfície e à compatibilidade com o acabamento, seja pintura, revestimento com argamassa ou outro material. Atualmente, dois produtos atendem com mais eficácia a esses requisitos: os blocos cerâmicos, popularmente conhecidos como tijolos de barro, e os blocos de concreto.

Blocos de concreto: presente em 95% das paredes estruturais.

 

Hoje, eles disputam o mercado praticamente em condições de igualdade, apesar de os tijolos cerâmicos ainda dominarem uma fatia maior. Não por muito tempo, estima o arquiteto Carlos Alberto Tauil, presidente da BlocoBrasil (Associação Nacional dos Fabricantes de Blocos de Concreto). Na entrevista a seguir, ele expõe as razões pelas quais os blocos de concreto já dominam as obras industriais e têm conseguido quebrar preconceitos relacionados às obras residenciais. Confira:

Comparando blocos de concreto aos de tijolos, quais as vantagens e desvantagens de usar um ou outro em uma obra?
No caso do bloco cerâmico (tijolo), existem vários tipos, mas, apesar de a fabricação seguir normas da ABNT, o produto final é irregular. Então, ele exige uma camada de revestimento muito grande. Aí é que o bloco de concreto, falando em alvenaria de vedação, leva vantagem. Ele tem medidas com tolerâncias muito pequenas, o que permite uma redução acentuada na aplicação de revestimento em relação ao tijolo cerâmico. É por esse motivo também que, no caso das paredes em alvenaria estrutural, a maioria das obras opta pelo bloco de concreto.

Em percentual, qual o espaço que cada um ocupa na construção civil brasileira?
Na Grande São Paulo, incluindo capital e região metropolitana, e onde a BlocoBrasil tem um mapeamento do consumo destes dois materiais, é mais ou menos 50% a 50%. Isso falando em paredes de vedação. No caso de parede estrutural, como disse, o bloco de concreto já ocupa 95%. Ainda em se tratando de parede vedação, o uso de tijolo cerâmico e de bloco de concreto varia de região para região. No Norte e no Nordeste do país, o cerâmico está presente em 90% das obras. No Sul, também é muito utilizado o bloco cerâmico, mas o de concreto já ocupa uma boa parcela. Diria que hoje o uso está em torno de 60% cerâmico e 40% concreto.

Carlos Alberto Tauil: no Sul, bloco de concreto já detém cerca de 40% do mercado.

 

Por que para as obras industriais o bloco de concreto é mais eficiente?
Os blocos de concreto são mais eficientes para obras industriais, por que, além de ter mais resistência, normalmente são paredes grandes em que eles são deixados aparentes e simplesmente pintados, dispensando o custo com camadas de revestimento.

É possível bloco de concreto e bloco cerâmico conviverem em harmonia numa obra?

Não é recomendável. O que é utilizado muitas vezes é a elevação com bloco de concreto e o revestimento externo com tijolinho comum. São plaquetas de tijolo que são usadas como acabamento de aparência. Daí, a parte interna da parede em bloco de concreto recebe o gesso aplicado diretamente.

Qual mercado hoje é o mais aquecido: o que vende bloco de concreto ou que vende tijolo?
O bloco cerâmico é encontrado em mais pontos de venda do que o bloco de concreto. Por isso, ele ainda é a primeira opção para o chamado consumo formiguinha. Agora, quando o construtor quer realmente tirar partido da economia ele utiliza o bloco de concreto pela vantagem que tem na redução das camadas de revestimento. Então, no Brasil, o bloco cerâmico ainda vende mais, mas o bloco de concreto tem recebido muitos investimentos. Novas empresas têm surgido, a produção aumentou e, consequentemente, os pontos de venda também.

Há termo comparativo de preço: qual é mais barato?

Bloco por bloco, o cerâmico é mais barato. Parede por parede, a parede com bloco de concreto é mais barata pelo fator revestimento.

Em termos de aprimoramento do material, o que se tem hoje de avanço para o bloco de concreto e para o tijolo?

O bloco de concreto tem um desenho que há muitos anos é utilizado e tem uma modulação e uma norma consolidada. Agora, os blocos cerâmicos passaram a imitar as dimensões dos blocos de concreto, principalmente para projetos de alvenaria estrutural, onde a vedação é feita com mais eficiência com blocos de concreto.

Para regiões mais frias do país, por questões de isolamento térmico, o tijolo ainda ocupa mais espaço nas obras ou não?

Se o revestimento externo for realizado com 2,5cm de argamassa e o revestimento interno com gesso, o comportamento térmico entre uma parede com bloco de concreto e uma com bloco cerâmico é praticamente o mesmo. Agora, se não houver revestimento, de fato o bloco cerâmico conduz o calor mais lentamente do que o bloco de concreto.

Em termos de sustentabilidade, qual dos dois materiais é o que causa menos impacto ambiental?

O bloco de cerâmica depende do barro, que é extraído de terra boa. São terras que normalmente seriam utilizadas para o plantio. Alguns países, como a China, já restringem o bloco cerâmico, pois eles prejudicam áreas aráveis. Sob este aspecto, os danos para a natureza são menores quando se opta pelo bloco de concreto, que depende do cimento, que não usa terra, mas tem como elemento básico a rocha.

Algumas pesquisas começam a testar, por exemplo, materiais como entulhos de construção e até papel de sacos de cimento para produzir tijolos e blocos. Qual a eficiência destes produtos?
A eficiência ainda não é comprovada quando se agregam materiais recicláveis. Agora, a dificuldade maior é industrializar isso, obter volume suficiente para manter uma linha de produção. Outra questão é a qualidade do produto. No caso do bloco cerâmico, a argila é selecionada, assim como no do bloco de concreto, em que os agregados, a granulometria e a qualidade do cimento são rigorosamente inspecionados.

Entrevistado
Carlos Alberto Tauil, secretário-executivo da BlocoBrasil (Associação Nacional dos Fabricantes de Blocos de Concreto) e especialista em construção industrializada
Currículo
- Arquiteto formado pela FAUUSP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo ) – 1967
- Fez curso de extensão universitária no BOWCENTRUM de Roterdã- Holanda -1971
- Atuou em pesquisa sobre metodologia de projeto com o grupo SAR da Universidade de Eindhoven, utilizando a coordenação modular-1971
- Introduziu o sistema construtivo de Alvenaria Estrutural na Cohab-SP em 1976
- Co-autor dos livros: Alvenaria Armada- 1981  e Alvenaria Estrutural – 2009, da Editora Pini
- Proferiu ao longo da carreira profissional centenas de palestras sobre Alvenaria Estrutural por todo Brasil e Estados Unidos.
Contato
Email: carlosalberto.tauil@gmail.com

Créditos:
Divulgação/ BlocoBrasil
Carlos Alberto/Secom MG

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

PNLT traz novos rumos ao transporte no Brasil

Plano Nacional de Logística e Transportes projeta expansão das ferrovias. Para isso, conta com participação ativa da construção civil 

Por: Altair Santos

Lançado em 2007, o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT) é o indutor do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para obras rodoviárias, ferroviárias e aquaviárias. O objetivo do plano, que foi elaborado pelo Centro de Excelência em Engenharia de Transportes (CENTRAN) – organismo ligado ao Ministério da Defesa – em conjunto com o Ministério dos Transportes, é reequilibrar a matriz de transporte no Brasil, dando ênfase às ferrovias. 

Com a reversão proposta pelo PNLT, a expectativa é de que até 2023 a participação do modal ferroviário cresça de 25% para 32%, que o aquaviário se eleve de 13% para 29%, que o dutoviário vá de 3,6% a 5% e o aéreo de 0,4% para 1%. Se atingidas essas metas, a participação do modal rodoviário, principalmente no transporte de cargas, cairia de 58% para 33% no país. Para tal, só o transporte ferroviário prevê investimento de R$ 50 bilhões neste período (veja quadro). 


Segundo Luiz Carlos Rodrigues Ribeiro, Coordenador-Geral de Planejamento da Secretaria de Política Nacional de Transportes, o PNLT propõe a construção de pelo menos 12 mil novos quilômetros de ferrovias até 2023. “Hoje nós temos 28 mil quilômetros e iremos para algo em torno de 40 mil”, antecipa. Ainda segundo Ribeiro, o PNLT foi elaborado procurando atender as prioridades estaduais e regionais. 

Ferrovia Norte-Sul: dormentes em concreto pré-moldado movimentam cadeia da construção civil.

Assim, vários estados também criaram seus próprios planos estaduais de logística e transporte, sintonizados com o Plano Nacional de Logística e Transportes. “A diretriz, quem dá, é o PNLT”, diz o Coordenador-Geral de Planejamento da Secretaria de Política Nacional de Transportes. Os vetores logísticos que norteiam o PNLT são: 

AEP (Aumento da Eficiência Produtiva em Áreas Consolidadas): tem como foco o abastecimento e o escoamento em áreas mais desenvolvidas (aumento de capacidade rodoviária, dragagem e administração de conflitos entre ferrovias e espaço urbano). 

Duplicação em pavimento rígido da BR 101 Nordeste: uma das obras prioritárias do PNLT.

IDF (Indução ao Desenvolvimento de Áreas de Expansão de Fronteira Agrícola e Mineral): atuará apoiando principalmente a expansão da fronteira agrícola na Região Centro-Oeste e em áreas de exploração mineral (recuperação, reconstrução de rodovias e implantação de novos eixos ferroviários). 

RDR (Redução de Desigualdades Regionais em Áreas Deprimidas): almeja, através da implantação de infraestruturas (que atuem enquanto há externalidades positivas), favorecer o desenvolvimento de regiões deprimidas como a recuperação da malha viária e a adequação de portos. 

IRS (Integração Regional Sul-Americana): busca melhorar a fluidez das infraestruturas rodoviárias através da construção de pontes em áreas de fronteira. 

Construção civil e o PNLT
O PNLT prevê um programa de obras intenso. Independentemente do modal, a construção civil tem participação ativa no que o plano estabelece. Muitos destes projetos não dispensam, por exemplo, o uso do concreto. No caso da expansão das ferrovias, a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) defende, o uso de dormentes em pré-moldado

Eclusa de Tucuruí, no Rio Tocantins (Pará): plano pretende expandir o transporte hidroviário no Brasil.

Além de colaborar na preservação do meio ambiente, pois substitui o dormente de madeira, o equipamento em concreto tem várias vantagens relacionadas pela ANTF. Entre elas: maior estabilidade da linha, maior vida útil do componente, capacitação para futuros aumentos de carga por eixo e compatibilidade com vários modelos de ferrovias. Ainda de acordo com a ANTF, só este ano 1,5 milhão de dormentes de concreto serão usados na expansão de linhas férreas no Brasil. 

Parte desta produção será utilizada na ampliação do ramal ferroviário interligando os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, onde dois novos ramais serão construídos. Segundo o presidente da Ferroeste, Maurício Querino Theodoro, a dotação de recursos para o projeto da ferrovia sairá em 2012, uma vez que parte da expansão já está contemplada no PAC e projetada pelo PNLT. 

Entrevistado
Luiz Carlos Rodrigues Ribeiro, Coordenador-Geral de Planejamento da Secretaria de Política Nacional de Transportes
Contato:
luis.ribeiro@transportes.gov.br 

Crédito: Secom/Ministérios dos Transportes 

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Renovada, Coordenação Modular voltou para ficar

Sistema ganha revisão de normas e, incentivado pelo Minha Casa, Minha Vida, rompe o preconceito gerado pelos “pombais” do extinto BNH

Por: Altair Santos

Surgido no pós-guerra, a fim de viabilizar a reconstrução da Europa, o sistema de Coordenação Modular tornou-se agente importante para racionalizar e industrializar a construção civil. No Brasil, o modelo esteve em alta nos anos 1970 e 1980, por conta dos estímulos recebidos do extinto Banco Nacional de Habitação (BNH), mas depois quase caiu em desuso. Agora, começa a ser redescoberto pelo setor, sobretudo pela sua capacidade de reduzir custos, otimizar o uso de matéria-prima, aumentar a produtividade e diminuir desperdícios.

Genericamente, Coordenação Modular pode ser definida como um sistema que racionaliza a construção. Ele proporciona a aplicação eficiente de recursos para viabilizar uma obra, integrando toda a cadeia produtiva. Compreende desde a normalização, certificação e projeto dos componentes, passando pela seleção da matéria-prima utilizada para sua fabricação, pelos projetos arquitetônicos, estruturais e complementares, até a montagem e manutenção das edificações.

Os novos conceitos que norteiam a construção civil também geraram uma onda de pesquisas em torno do sistema de Coordenação Modular, além da revisão das normas que o regem, como a ABNT NBR 15873:2010, que entrou em vigor em outubro de 2010 e condensou cerca de 25 outras normas que tratavam do modelo. A partir dela, os processos de fabricação e de construção industrial passam a adotar medida única de 10 centímetros, eliminando a variação na fabricação de componentes.

É consenso no setor de que a padronização vai incentivar a construção civil a adotar a Coordenação Modular. Principalmente por que o governo federal, por causa do programa Minha Casa, Minha Vida, passou a estimular um marco regulatório dentro da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) para a construção civil. Neste marco, a Coordenação Modular é destaque, como revela Sérgio Scheer, professor do Departamento de Construção Civil da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Sérgio Scheer: Programa Minha Casa, Minha Vida fez ressurgir o sistema de Coordenação Modular na construção civil.

Segundo ele, o estímulo governamental fez surgir ações orquestradas em diversos níveis, reunindo poder público, universo acadêmico e setor produtivo, que resultara em uma sinergia interessante favorável à Coordenação Modular. “A maturidade do mercado levou à percepção de que estas tecnologias têm resultados palpáveis, desde que implantadas em condições adequadas. Isso leva à capacitação da mão de obra e à melhoria dos insumos usados na construção civil”, resume Scheer.

O professor da UFPR lembra que uma das virtudes da Coordenação Modular é permitir a conectividade entre diversos componentes de um sistema construtivo. “O transporte, o armazenamento e a redução de resíduos de diversos materiais típicos dos canteiros de obras ficam facilitados com o sistema, e a ideia de construção enxuta e de processos racionalizados podem ser bem aproveitados”, explica Scheer, ressaltando que componentes com medidas padronizadas tornam a cadeia produtiva mais eficiente.

Preconceito

Nos anos 1970 e 1980, a Coordenação Modular carregou a fama indevida de ter sido o sistema que estimulou o surgimento dos chamados “pombais” – construções habitacionais financiadas pelo Banco Nacional de Habitação, que seguiam uma única estética, sem levar em consideração questões como funcionalidade, racionalidade e sustentabilidade. Isso gerou um preconceito contra a Coordenação Modular, que o próprio governo federal trata, agora, de combater através de incentivos financeiros.

Recentemente, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) criou uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para contemplar a construção industrializada. No entender de Scheer, o estímulo pode levar as empresas a adotarem a norma de Coordenação Modular não apenas para o setor habitacional, mas para outros empreendimentos. “Um projeto modular racional pode ser aplicado em qualquer obra. Óbvio que não é a solução para tudo, mas desde que o projeto tenha qualidade ele pode se encaixar em qualquer tipo de construção”, avalia, sinalizando que a Coordenação Modular voltou com força, e desta vez para ficar.

Entrevistado
Sérgio Scheer

Currículo
Sérgio Scheer é doutor em Informática (Computação Gráfica) pela PUC-RJ, mestre em Engenharia de Estruturas pela UFRGS e Engenheiro Civil pela UFPR. É também professor associado I do Departamento de Construção Civil (DCC) do Setor de Tecnologia da UFPR, diretor do CESEC / UFPR (Centro de Estudos de Engenharia Civil Professor Inaldo Ayres Vieira), Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Métodos Numéricos em Engenharia da UFPR e Bolsista Produtividade do CNPq nível 2, além de membro do Working Commission 6, Information Technology (WC6) da IABSE (International Association for Bridge and Structures Engineering).
Contato: scheer@ufpr.br

Créditos da foto:
Divulgação/Joka Madruga
Elza Fiuza/ABr

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Mercado imobiliário vive círculo virtuoso

Presidente da Ademi-PR, Gustavo Selig, avalia que incentivo de agentes financeiros manterá setor tão aquecido em 2011 como nos anos anteriores

Por: Altair Santos

A redescoberta do mercado imobiliário pelos bancos privados começa a criar no Brasil um círculo virtuoso, avalia Gustavo Selig, presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR). Segundo o dirigente, o que mudou na linha de pensamento das instituições financeiras é o fato de que elas perceberam que o setor imobiliário não só movimenta vários setores da economia do país como permite fidelizar clientes por um longo período. “Nos últimos anos, esses agentes viram a grande locomotiva que é o mercado imobiliário. Além disso, o setor possibilita a fidelização do cliente na instituição por até 30 anos. Desde então, o mercado imobiliário tornou-se o foco dos bancos, o que já era norma em outros países”, diz Selig.

Gustavo Selig: "Agentes financeiros descobriram a grande locomotiva que é o mercado imobiliário."

Essa mudança no perfil do investidor não deverá mudar em 2011, avalia Gustavo Selig. Segundo o presidente da Ademi-PR, o mercado imobiliário experimentará neste ano mais um período de crescimento. Ele usa a capital paranaense como exemplo. “Em Curitiba, é esperada uma valorização dos imóveis entre 16 e 18% ao ano, em média”, cita. Selig avalia também que, a partir de agora, o desafio das incorporadoras é achar o ponto de equilíbrio entre a oferta e a demanda. “O Brasil constrói menos que a demanda. Entretanto, esta demanda é crescente. Todo o ano há uma nova necessidade de unidades e, se a demanda anual não é satisfeita, ela se soma à nova, o que faz com que a conta não feche. É preciso achar o ponto de equilíbrio para não haver excessos”, diz.

A avaliação do presidente da Ademi-PR coincide com recente pesquisa da Associação de Investidores Estrangeiros em Mercado Imobiliário (Afire), que mostra que o Brasil é o país emergente preferido dos investidores imobiliários. Segundo o estudo, 40% dos entrevistados confirmam o otimismo em investir no mercado nacional. A pesquisa revelou ainda que para quase 25% dos investidores pesquisados, o Brasil está entre os países que oferece as melhores possibilidades de valorização dos investimentos imobiliários em 2011. Números de Curitiba, citados por Selig, confirmam a tendência. Em 2010, a cidade bateu o recorde na liberação de alvarás para construção de imóveis residenciais horizontais e verticais. A capital chegou a aproximadamente 35 mil unidades.

De acordo com o presidente da entidade, Gustavo Selig, o número é três vezes maior que a quantidade de alvarás, para o mesmo tipo de construção, liberados de 2005 a 2007, que totalizou 11.400. Em 2009, foram liberados alvarás de construção para 25.614 unidades residenciais. “O aquecimento do mercado, fortemente impactado por uma maior oferta de crédito, não apenas para o cliente, mas também para a produção, e a mudança no perfil dos empreendimentos, que hoje têm mais unidades, principalmente os inseridos no Minha Casa, Minha Vida, favoreceram este crescimento”, explica Selig. Ainda segundo o dirigente, o programa habitacional do governo seguirá como o propulsor do mercado imobiliário em todo o país.

O impacto deve ser ainda maior depois que o houve a elevação do teto para financiamento de imóveis com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que passou de R$ 130 mil para R$ 150 mil na capital paranaense. “Havia a necessidade de aumentar este valor, pois, com o crescimento e a valorização do mercado imobiliário, o teto anterior estava dificultando os lançamentos de produtos voltados ao segmento econômico”, comenta Selig, que sugere o aumento da fatia de renda atendida pelo Minha Casa, Minha Vida para alavancar o programa no Paraná. Atualmente, a renda familiar máxima para a liberação de financiamentos com recursos do FGTS é de R$ 4,9 mil para municípios com mais de 250 mil habitantes. “Se isso ocorrer, o círculo virtuoso do setor se fecha”, finaliza Selig.

Entrevistado
Gustavo Selig, presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR)
Currículo

Engenheiro civil graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Gustavo Selig é o segundo presidente da Ademi-PR reeleito, em 30 anos de fundação da entidade. Mestre em Administração de Empresas e Negócios pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-PR), Selig é também diretor-presidente da Hestia Construções e Empreendimentos.
Contato: contato@memilia.com (assessoria de imprensa)

Crédito: Enéas Gomez/Ademi-PR

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Norma requalifica profissionais da área de concreto

Revisão da parte 1 da NBR 15146 altera procedimentos que envolvem a produção e o uso de concreto estrutural nas obras

Por: Altair Santos

As obras em concreto estrutural realizadas no Brasil são referência internacional. Conta o livro Concreto - História, Recordes e Realizações, de autoria do professor-doutor Augusto Carlos de Vasconcelos, que as construções e as normas que regem a engenharia e a arquitetura brasileiras servem de modelo, inclusive, para o American Concrete Institute. Uma das virtudes é que o país está constantemente aprimorando suas normas, como o que fez recentemente com a norma ABNT NBR 15146-1:2011 - Controle tecnológico de concreto — Qualificação de pessoal - Parte 1: Requisitos gerais.

Simão Priszkulnik: revisão da NBR 15146-1 vai reduzir custos e impacto ambiental das obras.

Previsto para entrar em vigor em 13 de abril de 2011, o reexame da NBR 15146 foi uma solicitação da comunidade técnica, abrangendo construtoras, projetistas, produtores de insumos para o concreto estrutural e empresas de controle tecnológico. A coordenação dos trabalhos coube ao professor da Universidade Mackenzie Simão Priszkulnik, que teve como relator o engenheiro Bruno Alves de Carvalho - secretariado pela engenheira  Roseni Cezimbra. “O objetivo é estimular a melhoria continuada dos profissionais envolvidos na produção e no controle da qualidade das obras em concreto”, explica Priszkulnik.

A instalação da comissão revisora da norma ocorreu no início de 2010, levando em conta textos-base elaborados pelo Núcleo de Certificação Profissional do Instituto Brasileiro do Concreto e do Setor de Qualificação de Mão de Obra da Petrobrás e das diretrizes do INMETRO. Além das reuniões mensais, o assunto foi discutido em eventos do IBRACON e pela comunidade técnica, através dos comentários emitidos na fase de consulta nacional pela ABNT. Num primeiro momento, foi aprovado o projeto relativo aos requisitos gerais para o controle tecnológico do concreto, chamado de "parte 1".

Finalizada a primeira etapa da revisão, que abrange o concreto estrutural, começam os reexames das partes que vão de 2 a 5 da NBR 15146, e que englobam pavimentos, pré-moldados, concreto compactado com rolo e concreto massa. “A parte 2, referente aos pavimentos, já está sendo estudada pela comissão. Depois, deverá ser criada uma parte específica para o concreto pré-fabricado, e assim por diante”, diz o professor Simão Priszkulnik.

O coordenador dos trabalhos que reexaminaram a NBR 15146-1 avalia que a revisão ajudará também a reduzir o impacto ambiental gerado pela indústria do concreto.  “Na medida em que ela concorre para a excelência das obras, evitando retrabalhos, desperdício de materiais e menores custos de manutenção, há contribuição importante à preservação do meio ambiente” completa Priszkulnik, para quem a norma também reduzirá os atrasos nos cronogramas das obras. “Com profissionais cada vez melhor preparados, todos os inconvenientes de uma obra tendem a diminuir”, afirma.

Veja como fica a qualificação dos profissionais com a revisão da NBR 15146-1:

Auxiliar
Profissional apto a realizar coleta, redução de amostras de campo (no âmbito das atribuições indicadas no Anexo A da norma) e ensaios básicos de um ou mais grupos de atividades, sem avaliação e emissão de relatórios.

Laboratorista I
Profissional apto a realizar ensaios de um ou mais grupos de atividades conforme Anexo A e efetuar cálculos sem avaliação e emissão de relatórios. Tem sua atuação principal em campo (obra).

Laboratorista II
Profissional apto a realizar ensaios de um ou mais grupos de atividades conforme Anexo A e efetuar cálculos sem avaliação e emissão de relatórios. Tem sua atuação principal em laboratório.

Tecnologista
Profissional apto a realizar ensaios, definir procedimentos executivos de inspeção e amostragem, discernir sobre os limites de aceitação de um ou mais grupos de atividades conforme Anexo A e efetuar cálculos com avaliação e emissão de relatórios.

Inspetor
Profissional apto a realizar todas as inspeções abrangidas na preparação do concreto, a saber: recebimento e armazenamento dos materiais componentes, dosagem, mistura, transporte, lançamento, adensamento, acabamento superficial, proteção, cura, verificação de formas, cimbramentos, armaduras e embutidos. Apto também a analisar e avaliar os resultados dos ensaios discriminados no Anexo A, nos limites de aceitação estabelecidos pelas respectivas normas técnicas.

Obs: os níveis I e II para Tecnologista e para Inspetor foram retirados, pois na prática não se observa esta variação entre os profissionais. Ela só é necessária para os laboratoristas, para os quais cabe diferenciar o profissional de campo e o de laboratório.

Os requisitos de escolaridade e de experiência profissional passaram a ser os seguintes:

* Os candidatos devem apresentar comprovação de conclusão das disciplinas “Resistência dos Materiais” e “Materiais de Construção”.

Entrevistado:
Simão Priszkulnik, engenheiro e professor da Universidade Mackenzie
Currículo

Simão Priszkulnik possui graduação em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1963) e mestrado em Engenharia de Materiais pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1977). Atualmente é da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Infra-Estrutura de Transportes.
Contato: prisz@mackenzie.br

Crédito Foto: Arquivo pessoal

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Itambé sela convênio com a UTFPR

Indústria abre suas portas para contribuir na formação de novos engenheiros e universidade ajuda na busca de inovações na área de cimento e concreto

Por: Altair Santos

O sucesso do convênio com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) levou a Cia. de Cimento Itambé a selar, no início de 2011, acordo semelhante com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Essa parceria permite que a indústria participe na formação dos alunos dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo, além do técnico em Edificações – vinculado ao ensino médio.  “Ele abrange todas as disciplinas relacionadas a materiais de construção, independentemente do período. Assim, o aluno, ao concluir o curso, terá um embasamento consolidado sobre a utilização do cimento e do concreto”, explica o engenheiro Jorge Aoki, gerente de assessoria técnica da Itambé.

Campus da UTFPR, em Curitiba: universidade é a segunda a firmar convênio com a Itambé.

O convênio permite que os estudantes façam visitas técnicas à fábrica e à jazida da indústria, além de possibilitar que o corpo técnico da Itambé preste assessoramento ao departamento de construção civil da UTFPR, através de palestras e coparticipação nas aulas de laboratório. O acordo também viabiliza o fornecimento de insumos para pesquisas dos programas de mestrado e iniciação científica. “Trata-se de uma via de mão dupla. A Itambé abre para os estudantes a possibilidade de conviver com o dia a dia de uma indústria, com o mercado industrial e com as demandas do consumidor, enquanto a universidade pode contribuir com a empresa no desenvolvimento de inovações”, avalia Cezar Augusto Romano, chefe do departamento da construção civil da UTFPR.

O convênio, no entender da universidade, também pode ajudar na identificação de talentos. “Isso estimula o surgimento de profissionais com alta capacitação”, diz Romano. Para a Itambé, além de ajudar na qualificação dos estudantes, o acordo tem um forte apelo institucional.  “Isso fortalece a marca da companhia junto aos futuros engenheiros”, diz Jorge Aoki, lembrando que o sucesso do convênio já faz a Itambé receber propostas até de universidades de fora do Paraná. “É a demonstração da importância deste tipo de parceria. No caso da UFPR, ela vai completar quatro anos. Com a UTFPR, queremos que seja duradoura também”, afirmou.

Cursos
No Sistema de Seleção Unificada (Sisu) realizado em 2010, o curso mais concorrido da UTFPR foi o de Arquitetura e Urbanismo, do Campus Curitiba, com 55,84 candidatos disputando uma vaga. Já com relação às notas de corte, a mais alta foi registrada no curso de Engenharia Civil, do Campus Curitiba: 758,58, seguida de Engenharia Mecânica (Campus Curitiba), com 747,7, e Arquitetura e Urbanismo (Campus Curitiba), com 745,32.

Fundada em 1909, a UTFPR nasceu como Escola de Aprendizes Artífices. Depois passou por várias transformações: Liceu Industrial do Paraná, em 1937; Escola Técnica de Curitiba, em 1942; Escola Técnica Federal do Paraná, em 1959; Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet), em 1978; e Universidade Tecnológica Federal do Paraná, em 2005. Com a transformação, a UTFPR se tornou a primeira e única universidade federal com vocação para a área de tecnologia do País.
Hoje, a Universidade Tecnológica está presente em 11 cidades do Paraná (Apucarana, Campo Mourão, Cornélio Procópio, Curitiba, Dois Vizinhos, Francisco Beltrão, Londrina, Medianeira, Pato Branco, Ponta Grossa e Toledo), ofertando 77 cursos de graduação, 22 cursos técnicos, 12 cursos de mestrado e dois de doutorado, além de mais de 60 especializações.

Entrevistados:
Jorge Aoki, gerente de Assessoria Técnica da Itambé
César Augusto Romano, chefe do departamento da construção civil da UTFPR

Currículo
Natural de Curitiba-PR, é graduado (1977) em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Licenciado (1990) em Formação de Professores de Disciplinas Especializadas pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, com mestrado (2000) e doutorado (2005) em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) desde 1979 (Associado-3). Diretor do Campus Medianeira da UTFPR (1992-1996) e Vice-Reitor da UTFPR (1996-2002), atualmente é Chefe do Departamento Acadêmico de Construção Civil do Campus Curitiba e Conselheiro do Conselho de Ensino, Pesquisa e Pós-Graduação (COEPP) e do Conselho Universitário (COUNI) da UTFPR. Tem experiência nas áreas de Construção Civil e Administração, atuando principalmente nos temas: estratégia, planejamento, gestão, qualidade e inovação.
Contato: caromano@utfpr.edu.br

Crédito: Divulgação/UTFPR

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Construção virtual vira realidade com o BIM

Tecnologia permite projetos em terceira dimensão e começa a ganhar adesão no Brasil, como revela o professor-doutor da USP, Eduardo Toledo Santos

Por: Altair Santos

Realizado em janeiro de 2008, em Los Angeles (EUA), o BIMStorm é considerado um marco da construção civil do século 21. Foi a partir do evento - batizado de o Woodstock da Engenharia -, que começou em todo o mundo a difusão da tecnologia BIM (Building Information Modeling ou Modelo de Informação da Construção), a qual permite a construção virtual de edifícios em terceira dimensão, antes que eles sejam erguidos no plano real.

BIM: construção virtual em terceira dimensão chegou para revolucionar a engenharia.

Entre as vantagens do recurso, está o fato de que ele permite detectar antecipadamente as incompatibilidades construtivas de um projeto. No Brasil, dá para dizer que a tecnologia está engatinhando. Poucas construtoras já aderiram ao BIM. No entanto, a tendência é de que esse cenário se modifique rapidamente. Principalmente a partir de agosto, quando ocorre em Salvador (BA) o 5.º Encontro de Tecnologia de Informação e Comunicação na Construção.

O evento trará pela primeira vez ao país alguns dos renomados especialistas internacionais em BIM. O professor-doutor do Departamento de Engenharia de Construção Civil (PCC), da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), Eduardo Toledo Santos, define o encontro em uma só palavra: “Imperdível”. Para ele, é a oportunidade para projetistas, arquitetos engenheiros brasileiros não “ficarem para trás”.

Segundo a Abrasip (Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais) um dos entraves para que o uso do BIM ganhe espaço no Brasil está relacionado à ausência de bibliotecas de componentes que aproximem o sistema virtual à realidade da obra e a falta de qualificação de profissionais. Mesmo assim, Eduardo Toledo Santos avalia que a adesão à tecnologia é irreversível. Confira na entrevista a seguir:

Professor-doutor Eduardo Toledo Santos: “Quem ainda não conhece a tecnologia, sugiro que tenha iniciativa para não ficar para trás.”

O BIM é uma versão nova do CAD ou veio para aposentar o CAD?
CAD significa Projeto Auxiliado por Computador (Computer Aided Design). Neste sentido, o BIM até auxilia mais o projeto do que o CAD, a que todos estavam acostumados até agora. A rigor, o BIM é baseado em um tipo especial de CAD (3D, parametrizado e baseado em objetos). Ele certamente vai aposentar o velho CAD 2D.

Além dos benefícios técnicos, quais serão os impactos que o BIM deve causar sobre os negócios de construtoras e incorporadoras?
A partir do momento em que as construtoras e incorporadoras podem simular virtualmente a construção com o BIM, os riscos do negócio diminuem sensivelmente. Os eventuais erros de projeto são detectados com muito mais antecedência, os orçamentos tornam-se mais confiáveis, pois se pode simular o desempenho da edificação e também planejar o cronograma da obra visualmente, com mais facilidade, menos equívocos e mais eficiência. Com os riscos diminuídos, dá para empreender edifícios mais complexos, tanto do ponto de vista de sistemas prediais quanto de estética, e com isso agregar valor. As incorporadoras também podem oferecer mais personalização nas unidades, pois o BIM agiliza o orçamento e a produção dos desenhos para execução. Tudo isso, em última instância, aumenta os lucros destes agentes.

A utilização do BIM muda o organograma da empresa, no tocante às áreas de projetos, planejamento, orçamentos e canteiro?
No Brasil, as empresas ainda estão se adaptando ao BIM, de forma que o impacto nos organogramas ainda é pequeno. No entanto, não há dúvida de que novos profissionais necessitarão ser incorporados aos quadros das empresas. Na área de projetos, especialmente nas incorporadoras e nos grandes escritórios, a figura do Gerente BIM será essencial. Esse profissional terá inúmeras atribuições, dentre as quais a principal é a supervisão do processo de construção do Modelo da Edificação. Um modelo BIM deve ser integrado e consistente e, idealmente, construído de forma colaborativa. Sem alguém que determine diretrizes para a geração dos modelos referentes a cada disciplina, incluindo nível de detalhes, formatos de arquivos, referências espaciais, bibliotecas de componentes, acesso aos modelos e etc., a integração das várias partes é comprometida. Nas áreas de planejamento e orçamento, possivelmente não serão necessários novos profissionais, mas certamente será requerida a atualização de conhecimentos daqueles que já desenvolvem essas atividades, para que passem a utilizar as novas ferramentas disponíveis. No canteiro, o uso ainda é incipiente, especialmente devido à forma de trabalho que temos no Brasil. Mas creio que um profissional denominado “Facilitador BIM” possa ser útil, operando ferramentas BIM para visualização e extração de informações do modelo, necessárias na etapa de execução da obra.

O BIM já é uma ferramenta usual nas construtoras ou ainda é uma novidade que entra lentamente na construção civil brasileira?
Pouquíssimas construtoras brasileiras já usam o BIM como rotina, mas várias construtoras, incorporadoras e escritórios de projeto estão caminhando rapidamente nesta direção. Como são evidentes os benefícios desta tecnologia para o aumento da eficiência em todas as etapas do empreendimento imobiliário, e estando o mercado extremamente aquecido, mais e mais empresas procuram o BIM como forma de fazer mais rápido com os mesmos recursos, driblando a escassez de mão de obra especializada e outros recursos técnicos em falta no mercado.

Qual a qualificação exigida para que se opere o BIM?
Depende do tipo de profissional. Se for um arquiteto ou projetista, além de saber operar uma ferramenta BIM para projeto, é preciso que tenha mais experiência em construção, pois, como já mencionado, mais que simplesmente fazer uma representação do edifício, com o BIM se constrói virtualmente, resultando na necessidade de projetar de forma menos abstrata do que com o desenho 2D. De forma geral, de todos os profissionais será exigido não só o conhecimento dos softwares de suas áreas, mas também dos conceitos por trás do BIM e a habilidade de trabalhar de forma mais colaborativa, e em equipe.

Projetos virtuais são mais ou menos confiáveis do que os projetos convencionais?
Tudo depende da qualidade da informação que é representada no projeto, seja ele virtual ou convencional. No entanto, um modelo BIM pressupõe informações coordenadas e consistentes, e as ferramentas BIM ajudam nesse sentido. Por exemplo, aplicativos para projeto BIM detectam interferências entre subsistemas e têm algumas regras que impedem que se criem situações incoerentes, como um componente “flutuando”, por exemplo. Com a geração automatizada de documentação, eles mantêm a consistência entre plantas, seções e detalhes. Assim, se bem utilizado, um projeto virtual ganha em confiabilidade.

O BIM serve para todos os projetos ou é mais adequado para construtoras especializadas em obras habitacionais?

O BIM serve para qualquer tipo de obra. É muito usado em edifícios residenciais e de escritórios, porém tem brilhado ainda mais quando empregado em obras complexas, como hospitais e shopping centers, onde as interferências entre instalações são críticas. No Brasil, a construtora mais avançada no uso do BIM não é voltada ao segmento habitacional, dedicando-se a obras comerciais. O BIM também serve para projetos de habitação popular porque, embora tecnicamente menos complexas, essas obras precisam ter o projeto muito otimizado, para que se possa ter ganhos de escala na execução repetitiva de centenas ou milhares de habitações com o mesmo projeto. Neles, há economia com conexões hidráulicas e com recortes de ladrilhos por unidade, o que pode fazer uma boa diferença no lucro do empreendedor, cuja margem é estreita.

Grandes obras também podem se beneficiar da modelagem da informação da construção?
Sem dúvida. Por exemplo, no ano passado a empresa brasileira Figueiredo Ferraz ganhou um prêmio internacional pela utilização de soluções BIM na execução de um grande projeto envolvendo sistemas de drenagem e esgoto, construção de pontes e passarelas de pedestres.

Qual conselho o senhor daria para engenheiros e projetistas que ainda não se familiarizam com o BIM?
Para aqueles que já perceberam os inúmeros benefícios deste novo conceito, a sugestão é que iniciem experiências com o BIM em suas empresas, adotando o BIM em projetos piloto ou mesmo em paralelo às ferramentas convencionais. Já para os que ainda não conhecem a tecnologia, sugiro que tenham iniciativa para não ficarem para trás. Devem tratar de obter vantagens competitivas se atualizando no assunto, através das várias publicações e eventos já disponíveis no Brasil. Um dos principais eventos será realizado em Salvador, no início de agosto deste ano. O encontro trará ao Brasil alguns dos mais renomados especialistas internacionais em BIM. Será imperdível.

Já existem exemplos de obras finalizadas e que foram bem-sucedidas usando o BIM em seus projetos?
No exterior há inúmeros casos que mostram que, apesar dos problemas geralmente enfrentados com as limitações de algumas ferramentas, como falta de interoperabilidade e inexperiência das equipes, os benefícios superam amplamente os entraves, com grandes vantagens em termos de custo total, prazo e qualidade dos empreendimentos. No Brasil, há relativamente poucas experiências, mas os relatos têm sido bastante positivos quando o BIM é empregado.

O BIM é, digamos, a porta de entrada para que a engenharia civil do futuro esteja acoplada ao 3D? No futuro, abrangendo o consumidor, a compra na planta será em 3D?
Costumo dizer que o BIM é a melhor oportunidade para a construção civil recuperar décadas de atraso em relação a outras indústrias no uso de Tecnologia da Informação. Isso porque, o BIM não só é 3D, mas também envolve tecnologias paramétricas e orientadas a objetos, que é o que de mais moderno se tem em termos de projeto auxiliado por computador. Da mesma forma que hoje em dia não existe automóvel ou avião que não seja projetado em 3D, também, num futuro próximo, as construções serão rotineiramente projetadas usando tais ferramentas. No tocante ao consumidor, sim a compra “na planta” será a compra em 3D, pois o modelo 3D é criado antes que o desenho da planta. Hoje, isso já é possível. Estamos desenvolvendo pesquisas para inclusive eliminar a maquete física no estande de vendas, trocada por um sistema interativo com projeção ou TV 3D.

Fique por dentro
TIC 2011 - V Encontro de Tecnologia de Informação e Comunicação na Construção
De 4 e 5 de agosto de 2011, em Salvador (BA)
Site: http://www.lcad.ufba.br/tic2011

Entrevistado:
Professor-doutor Eduardo Toledo Santos

Currículo

Eduardo Toledo Santos é professor no Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Engenheiro. Elétrico, Mestre e Doutor em Engenharia de Sistemas Eletrônicos. Atua na área de Tecnologia da Informação na Construção Civil e é orientador do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil da EP/USP. É o relator da Comissão Especial de Estudos sobre BIM da ABNT (CEE134) e coordenador geral da Rede TIC Brasil/FINEP, que congrega sete universidades para pesquisa em BIM e outras Tecnologias da Informação aplicadas à Habitação de Interesse Social.
Contato: eduardo.toledo@poli.usp.br
Site: http://toledo.pcc.usp.br

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330