Engenharia pode passar por mudanças no Brasil
Censo e projeto de lei que cria a Ordem dos Engenheiros Civis geram expectativa nos profissionais do setor
Por: Altair Santos
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) propôs ao Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea) fazer um censo para saber onde estão os engenheiros brasileiros. O MDIC já iniciou a montagem do questionário e existe a expectativa de que o levantamento comece em junho deste ano.

Os engenheiros serão chamados pelos conselhos regionais (CREAs) a responder as seguintes informações: instituição em que se graduou, ano de formatura, tempo de experiência em exercício na área e disponibilidade para voltar a atuar como engenheiro – se estiver trabalhando em outro setor.
O censo, informa o MDIC, vai permitir mapear os profissionais da engenharia, e detectar quem atualmente está exercendo a profissão, quem está no mercado financeiro ou atuando em consultoria, e até quem não esteja mais na área de engenharia. A intenção é que os resultados da pesquisa saiam ainda neste ano.
A partir do censo, o MDIC pretende criar um banco de informações que permitirá às empresas saber onde buscar engenheiros para as grandes obras de infraestrutura e do pré-sal previstas para os próximos anos. Além disso, a pesquisa piloto deverá ser estendida a todas as profissões regulamentadas para auxiliar as empresas e os trabalhadores a ocupar vagas abertas no mercado de trabalho.
Paralelamente ao censo que será realizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, os engenheiros convivem com propostas de novas mudanças profissionais. Uma delas pode vir do projeto de lei que tramita no Senado e propõe a criação da Ordem Brasileira de Engenheiros Civis (OBENC). Ele prevê que a ordem, estruturada de forma federativa, tenha por finalidade organizar, regulamentar e fiscalizar o exercício da Engenharia Civil.
Sobre a criação da OBENC, o presidente do CREA-PR, Álvaro José Cabrini Júnior, tem uma posição bem clara. Ele teme que a criação de vários organismos em torno da profissão de engenharia ajude a desregulamentar a profissão. É o que ele deixa claro na entrevista a seguir. Confira:
Há um projeto tramitando no Congresso Nacional que propõe a criação da Ordem Brasileira de Engenheiros Civis (OBENC), de autoria do senador César Borges, da Bahia. Qual a opinião do CREA-PR sobre isso?
É um movimento político da engenharia civil que pretende se separar do conselho, como saiu agora o Conselho de Arquitetura e Urbanismo. Ele aconteceu em função de algumas insatisfações de agrupamentos da engenharia civil, que perderam alguns espaços, algumas atribuições. Este movimento cresceu mais por conta da dificuldade que o Confea teve em ouvir esses agrupamentos. Isto aí poderia ter sido resolvido com tranquilidade, e ainda pode. São questões e anseios deste grupo da engenharia civil que podem ser absorvidos pelo Confea, o que leva a crer que o projeto não vai prosperar.
O senhor acredita, então, que não há alguma chance deste projeto prosperar no Congresso e vir a se tornar lei?
Olha, no Congresso tudo é possível. O problema é que normalmente um projeto como este tem que nascer do Executivo, não do Legislativo. Da forma como ele foi proposto, se for aprovado está morto. É um projeto que cria uma autarquia pública e que necessariamente mexe com orçamento, com questões financeiras. Pelo regimento, e constitucionalmente, tem que nascer do Executivo. O conselho de arquitetura, quando nasceu por autoria do Senado, foi vetado. Ele só passou agora porque foi de autoria da Casa Civil. O projeto da OBENC tem um vício de origem. Se ele não nasceu do executivo, está fora.
E se, por acaso, ele vier a se torne lei, o que mudaria na profissão de engenheiro?
O perigo que eu vejo é não termos a profissão regulamentada. Há o risco de, por exemplo, uma pessoa que não se preparou adequadamente, não estudou engenharia, passar a responder como engenheiro, são os pseudoprofissionais. Hoje, com a escassez de profissionais, nós estamos enfrentando um problema grave, que são pessoas abrindo firmas e fazendo fundações sem serem engenheiros. Isso pode criar um grande problema para a sociedade. Então, ter uma Ordem de Engenharia não é o problema. O problema é não ter a profissão devidamente regulamentada. O problema é este projeto de lei ter algum dispositivo incluso em algum artigo, que tire completamente o privilégio do exercício profissional. Então, é a vitória de Pirro: você ganha, mas não leva. Agora, quanto a criar a OBENC, ela não vai ficar em oposição ao CREA. Ela vai, na verdade, atuar paralelamente, por que o CREA deixará de atuar na engenharia civil e passará a OBENC atuar. O que importa não é o que o CREA pensa, o que importa é que a sociedade esteja protegida. A minha preocupação é desregulamentar a profissão. Então, se criar a OBENC, se criar o Conselho de Agronomia, se criar o Conselho de Engenharia Mecânica, o Conselho de Engenharia Elétrica, está tudo bem, não tem problema nenhum. O problema é não existir um conselho.
Mas a criação de uma ordem dos engenheiros não viria confrontar com o sistema Confea/CREA?
Se eles criarem a ordem, eles serão regidos pela ordem e não pelo CREA. O CREA vai ficar com a engenharia mecânica, agronômica, elétrica, etc. Mas o problema não é este. O que tem de pano de fundo é que existe um interesse velado por trás de muitos movimentos. Até, às vezes, por interesse do governo federal em desregulamentar as profissões. Então, por exemplo, um conselho profissional cria algumas barreiras para o exercício profissional de estrangeiros aqui no Brasil e contrária àqueles que querem combater a falta de engenheiros com a importação de profissionais. Esse grupo, hoje, enfrenta resistência por parte dos conselhos e dos sindicatos. Só que, a partir da hora em que se cria um conselho novo, um regramento novo, tende-se a mexer no princípio da regulamentação profissional, que é o privilégio do exercício profissional. Nenhum engenheiro pode exercer a engenharia se ele não tiver devidamente cadastrado e credenciado no seu conselho de classe. Parece-me que existe esta forte tendência no Brasil em acabar com esses marcos regulatórios.
Como o senhor citou, recentemente também foi sancionado o Conselho dos Arquitetos e Urbanistas. Essa criação, e as propostas para surgirem novos conselhos, é bom ou ruim para o setor da construção civil?
Eu penso que isso vai onerar a construção civil. Até definir qual atividade vai estar ligada à arquitetura e qual vai estar ligada à engenharia haverá demandas que poderão se estender ao judiciário e demorar muito tempo para serem resolvidas. Acredito que da forma que está proposto, isso pode sim criar algum encargo a mais para o setor da construção civil.
Entrevistados
Álvaro José Cabrini Junior, presidente do CREA-PR
Assessoria de imprensa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)
Currículo
- Engenheiro agrônomo, graduado pela Universidade Federal do Paraná em 1984.
- Possui especialização em Planejamento e Desenvolvimento Agrícola pela Universidade Estadual de Maringá em 1987 e curso de MBA Executivo pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) em 1998.
- Foi presidente da Associação Maringaense de Engenheiros Agrônomos, de 1988 a 1990
- Diretor da Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil, de 1990 a 1994
- Exerce a presidência do CREA-PR desde 2006
Contatos: imprensa@mdic.gov.br / comunicacao@crea-pr.org.br
Crédito: Leandro Taques/CREA-PR
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
COPA 2014: Arena da Amazônia ajuda a transformar Manaus
Estádio agrega obras de mobilidade urbana para a capital amazonense e aposta no pré-moldado para cumprir o cronograma de construção
Por: Altair Santos
Sessenta mil metros cúbicos de concreto é quanto o projeto da Arena da Amazônia estima que será usado na construção do estádio escolhido para representar a região norte do Brasil na Copa do Mundo de 2014. Segundo a Unidade Gestora do Projeto da Copa (UGP Copa), organismo vinculado ao governo amazonense, boa parte deste material será utilizado na forma de pré-moldado. “Para se ter uma ideia, somente a arquibancada do estádio demandará a fabricação de 2,5 mil peças de pré-moldado, com degraus de altura variável entre 30 e 37 cm”, revela o arquiteto e urbanista Miguel Capobiango Neto, coordenador da UGP Copa.

A Arena da Amazônia terá uma área construída de 170 mil metros quadrados e as obras encontram-se atualmente na fase de terraplenagem e fundações. O estádio teve a concepção arquitetônica feita pelo escritório alemão GMP (Von Gerkan, Marg und Partner) e sua capacidade será de 44.310 lugares. O custo estimado da obra é de R$ 499.508.704,17, cujos recursos serão bancados através de linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com contrapartida do governo do Amazonas.
O idealizador do projeto, o engenheiro-arquiteto Ralf Amann, recomendou que, além do pré-moldado, o piso intertravado em blocos de concreto predomine no entorno e na esplanada de acesso do estádio. Por questões de sustentabilidade, parte do concreto usado na obra virá de material reciclado. A Andrade Gutierrez, empreiteira que ganhou a licitação para erguer a Arena da Amazônia, inclusive já instalou uma usina no canteiro de obras para reaproveitar o concreto do antigo Vivaldão, que foi totalmente demolido.

A Arena da Amazônia pretende, com a reciclagem de resíduos e o reuso das águas pluviais, obter a certificação pelo LEED (selo que designa as construções sustentáveis, de acordo com os critérios de racionalização de recursos de energia e de água). O estádio ainda terá luminárias de baixa tensão abastecidas por energia solar em sua área externa, o que também demonstra a preocupação do projeto em seguir diretrizes de não-agressão ao meio ambiente.
Infraestrutura

Além do palco para sediar os jogos da Copa, Manaus receberá, por conta do mundial, obras de infraestrutura. Estão programadas as construções de um centro de convenções, um hospital e um monotrilho de 14 quilômetros, que ligará o estádio ao centro da capital de Manaus. Essa obra também vai demandar o uso intenso de concreto pré-moldado e está incluída no PAC da Copa, com custo estimado de R$ 850 milhões.
A expectativa é de que tanto o estádio quanto o novo sistema de transporte da cidade fiquem prontos até o 2.º semestre de 2013. Ao contrário da Arena da Amazônia, que está com o cronograma em andamento adequado, segundo Miguel Capobiango Neto, o monotrilho ainda encontra-se em fase de licitação. De acordo com a UGP Copa, o empreendimento passa por estudos de viabilidade econômico-financeira, mas é uma das prioridades de Manaus para 2014, principalmente pela transformação que irá causar na mobilidade urbana da cidade.
Entrevistado
Miguel Capobiango Neto, coordenador da Unidade Gestora do Projeto da Copa (UGP Copa)
Currículo
- Miguel Capobiango Neto é arquiteto e urbanista
- Foi subsecretário da Secretaria de Governo do Amazonas (Segov)
- Atualmente é coordenador da Unidade Gestora do Projeto da Copa (UGP Copa)
Contato: grupocopa@ugpcopa.am.gov.br
Créditos: UGP Copa
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
CBIC mantém posição otimista sobre crescimento em 2011
Presidente Paulo Safady Simão vê construção civil como protagonista nos avanços que o Brasil irá experimentar nos próximos anos
Por: Altair Santos
Mesmo com os ajustes anunciados pelo governo no programa Minha Casa, Minha Vida, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC), Paulo Safady Simão, avalia que a construção civil confirmará as projeções para 2011, que colocam o setor como o que mais crescerá no país neste ano. A estimativa é de um avanço de 6,6%.

Paulo Safady Simão considera que a indústria da construção civil está investindo para confirmar a projeção e crê que o setor será protagonista no plano do Brasil de crescer de forma sustentável. Para contribuir, a CBIC apresentou ao governo o programa Sanear é Viver, que propõe investimento maciço para zerar o déficit em saneamento básico do país.
É sobre esse projeto, e o cenário da construção civil em 2011, que Paulo Safady Simão fala na entrevista a seguir. Confira:
Recentemente, a CBIC estimou que o PIB da construção civil pode crescer 6% em 2011 acima do projetado para o país. De onde vem esse otimismo?
Inicialmente, vale à pena esclarecer que a CBIC trabalha com as projeções oficiais de crescimento que são divulgadas no país. Assim, o Banco Central divulgou, em seu último Relatório de Inflação, que espera crescimento de 4,5% para a economia nacional em 2011, enquanto, para a construção civil a estimativa é de 6,6%. Acreditamos que esse número realmente é possível e isso se deve a fatores como a continuidade da expansão do crédito imobiliário, a segunda fase do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), às obras de infraestrutura (especialmente as de saneamento), aos investimentos necessários para a Copa do Mundo em 2014 e também para as Olimpíadas em 2016. Esses fatores, somados ao crescimento do mercado de trabalho formal e da renda da população, certamente contribuirão para a expansão das atividades do setor da construção. De toda forma, é bom ressaltar que estas são as primeiras estimativas para 2011 e elas podem ser alteradas de acordo com novos acontecimentos na área econômica.
Mesmo com os recentes cortes no programa Minha Casa, Minha Vida essa projeção se sustenta?
Conforme explicado anteriormente, estas são as primeiras estimativas para o ano e elas estão mantidas até agora. Somente podem ser modificadas (para mais ou para menos) de acordo com alteração no percurso da economia. Particularmente, em relação aos cortes no Programa Minha Casa, Minha Vida, o Ministério do Planejamento e das Cidades já esclareceram, através da publicação de nota conjunta, que os recursos destinados ao programa são suficientes para garantir o desembolso necessário para o andamento, neste ano, das obras já contratadas e o início da sua 2.ª etapa. Ainda é bom ressaltar que a meta de construção de 2 milhões de unidades habitacionais até 2014 está mantida, e isso é muito importante. Além disso, existe a perspectiva de iniciar o PMCMV 2 no mês de abril, quando é esperado que a Medida Provisória n.º 514, que cria a segunda etapa do programa, seja votada pelo Congresso. Por fim, é bom salientar que a nota divulgada pelos ministérios destaca que o orçamento global, para o PMCMV em 2011, era de R$ 36,7 bilhões. Com o ajuste anunciado, ele foi alterado para R$ 31,6 bilhões. Entretanto, neste valor ainda devem ser somados R$ 9,5 bilhões de restos a pagar, o que totaliza R$ 41,1 bilhões. Assim, o valor reduzido será compensado pelos restos a pagar e isso fará com que a liberação de recursos em 2011 inclusive seja maior do que no ano passado.
Em relação aos gargalos que precisam ser superados para um crescimento sustentável da construção civil no Brasil quais são os mais prementes a serem enfrentados?
A construção civil vislumbra um horizonte positivo para as suas atividades. Mas é claro que existem desafios a serem superados: encontrar novas fontes para o financiamento imobiliário no país, superar a falta de mão de obra qualificada, a forte competição do mercado, os juros altos, o elevado custo da mão de obra (leia-se altíssimos encargos sociais), a baixa taxa de investimento no país, a burocracia no licenciamento de empreendimentos e a infraestrutura precária são alguns deles.
O investimento em saneamento básico, através do programa Sanear é Viver, pode ser um dos propulsores do setor nos próximos anos?
O objetivo do programa “Sanear é Viver” é propor ao governo e à sociedade ações que melhorem o desempenho do saneamento do país e elevem o tema ao status de prioridade da agenda política. Para isso, ele vai abordar quatro diferentes aspectos do tema: captação, tratamento e distribuição da água, coleta e tratamento de esgotos, drenagem urbana e coleta e destinação de resíduos sólidos. É um projeto amplo para se repensar esta questão no país. Não é um projeto simplista que pensa para dentro do setor, ou seja, promover o seu desenvolvimento. Ele é amplo, holístico, pensa na qualidade de vida da população e é isso que contribuiu para o desenvolvimento do país. É uma contribuição do setor para que o Brasil consiga sedimentar seu crescimento sustentável. E não há como garantir esse crescimento enquanto milhares de brasileiros ainda não possuem sequer esgoto coletado e um número surpreendente de mortes é observado em função de infecções gastrintestinais, por exemplo. Algo inaceitável para um país que, segundo estimativas, já é a sétima maior economia mundial. Melhoria do saneamento significa menos doenças e isso se traduz em economia de recursos que podem ser investidos na melhoria dos serviços de saúde para a população. Investimento em saneamento indica mais saúde, mais qualidade de vida para a população e também melhoria para o solo. Saneamento é programa de saúde pública, é programa de desenvolvimento nacional e não setorial. É a união de esforços que certamente levará o país a encontrar o caminho mais adequado para resolver esta questão essencial para a qualidade de vida da população.
No ano passado, o setor da construção civil atingiu a marca de 2,6 milhões de empregados com carteira assinada. Neste ano a previsão segue a mesma tendência?
Em 2010, a construção nacional cresceu 11,6%, a maior alta em mais de duas décadas. Para se ter uma ideia, a última vez que o setor cresceu acima de dois dígitos foi em 1986 (17,84%). E claro, o maior dinamismo de atividades refletiu diretamente no mercado de trabalho. Para 2011, conforme já destacamos anteriormente, a perspectiva é que o crescimento continue. Assim, a tendência é de que esse número de trabalhadores com carteira assinada continue crescendo para suprir o desenvolvimento das atividades do setor.
E quanto à escassez e qualificação da mão de obra, qual o prognóstico que a CBIC faz?
Em relação à dificuldade em qualificação/capacitação da mão de obra, sempre é bom ressaltar que é reflexo da estagnação e do tímido crescimento observado no segmento por cerca de duas décadas. Além disso, deve-se ressaltar que este desafio adquire uma magnitude ainda maior diante da recente industrialização do processo construtivo. Mas merecem destaque os investimentos do setor em programas de capacitação. As empresas têm ampliado seus processos de qualificação até mesmo dentro dos canteiros de obras. O setor tem buscado intensificar a qualificação dos trabalhadores nos cursos do Senai, nos canteiros de obras e em parcerias com universidades, e assim tem procurado avançar em suas atividades.
A indústria da construção civil trabalhou em 2010 com uma capacidade instalada de 87%. Isso não preocupa? A margem não deveria ser maior para não ocorrer risco de demanda maior do que a oferta?
Inicialmente, é bom esclarecermos as informações para que se possa compreender melhor o que elas representam, bem como os seus impactos. A Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) realiza, mensalmente, pesquisa onde informa o nível atual de utilização da capacidade instalada das indústrias de materiais de construção. Em 2010, por oito meses, este número foi de 87%, finalizando dezembro com 86%. Portanto, os números sinalizam estabilidade neste indicador e não incremento. Além disso, a mesma pesquisa realizada pela Abramat também revela que, em dezembro de 2010, 72% das indústrias de materiais de construção pretendiam investir nos próximos 12 meses, enquanto, em dezembro de 2009, esse número era de 67%. Portanto, os números a princípio garantem que os investimentos estão atendendo o crescimento da demanda no setor e a perspectiva é de que eles continuem atendendo.
Questões como inflação e necessidade de ajuste fiscal podem influenciar nos números de 2011?
A estabilidade macroeconômica é essencial para o crescimento do país. Nesse contexto, a inflação sob controle (dentro da meta) sem dúvida exerce papel fundamental. Foi esse controle que ajudou, nos últimos anos, especialmente após o Plano Real, o Brasil a sedimentar seu crescimento. Sabemos que os aumentos dos preços no país atualmente podem ser justificados por fatores externos (commodities agrícolas apresentam elevação, problemas climáticos em importantes produtores e exportadores mundiais e aumento de renda (consumo) dos países em desenvolvimento) e também por fatores internos (pressão de preços administrados, preços alimentos in natura, preços dos serviços e também pelo aquecimento da economia). Entretanto, no que depende dos fatores internos, e que está ao alcance do país resolver, acreditamos que podemos equacionar particularmente se o governo racionalizar seus gastos, ou seja, passar a aumentar seus investimentos, passar a gastar com mais eficácia. A partir deste comportamento, a política de juros poderá ser revista e o investimento poderá ser reforçado. Em relação a ajustes fiscais, o governo já ressaltou, por várias vezes, que os investimentos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e no PMCMV serão mantidos. Isso também é um fator estimulante para o setor, que precisa continuar se desenvolvendo. Afinal, o país ainda precisa de uma infraestrutura adequada para que possa sustentar o seu crescimento. E, nesse aspecto, a construção civil exerce papel de protagonista.
Entrevistado
Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
Currículo
- Engenheiro civil formado no ano de 1971, pela Escola de Engenharia da UFMG.
- Especializou-se em Administração de Empresas na Fundação João Pinheiro, em conjunto com a Graduate School of Business da Columbia University de New York.
- Foi presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais-Sinduscon/MG, no período de 1986 a 1992
- Vice-presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais-FIEMG, de 1989 a 1995
- Membro do Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (CCFGTS), de 1989 a 1993
- Presidente da Empresa Mineira de Turismo (Turminas), de 1995 a 1998
- Membro do Conselho Fiscal da Sociedade Mineira dos Engenheiros (SME), de 2002 a 2005
- Atualmente, além de presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), gestões 2003/2005, 2005/2008 e 2008/2011, é, também, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da Presidência da República desde 2003, sendo reeleito anualmente
- Vice-presidente da Federação Interamericana da Indústria da Construção (FIIC), gestão 2003/2011
- Vice-presidente da Confederação das Associações Internacionais de Empreiteiras de Construção (CICA), gestão 2010/2012, e diretor presidente da Wady Simão-Construções e Incorporações LTDA.
Contato: jornalista@cbic.org.br / www.cbic.org.br
Crédito: Divulgação/CBIC
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Finep estimula pesquisas voltadas à NBR 15575
Quatro trabalhos foram selecionados para fomentar estudos sobre infraestrutura laboratorial na área de construção civil
Por: Altair Santos
A Norma Técnica de Desempenho para edificações habitacionais de até cinco pavimentos (ABNT NBR 15575) estabelece critérios e métodos de avaliação para os principais sistemas que compõem um edifício: estrutura, pisos internos, vedações externas e internas, coberturas e instalações hidrossanitárias. Sua aprovação estimulou a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) a lançar uma chamada pública em 2010 para selecionar propostas voltadas ao fomento da infraestrutura laboratorial na área de construção civil.

As instituições selecionadas cumprem uma das exigências da chamada pública: dispor de infraestrutura de laboratórios de ensaio, de avaliação e de controle tecnológico de produtos da construção civil (materiais componentes, elementos ou sistemas construtivos). Havia R$ 15 milhões disponibilizados pela Finep para as pesquisas, mas apenas R$ 7,91 milhões serão liberados. “Não houve demanda qualificada suficiente para o comprometimento total dos recursos. O principal motivo apontado pelos especialistas que participaram do processo de avaliação das propostas é de que não está amplamente disseminada no país a cultura da avaliação de desempenho segundo as diretrizes do SINAT (Sistema Nacional de Avaliações Técnicas)”, disse Carlos Eduardo Sartor, chefe do departamento de tecnologias sociais da Finep.
Assim, o IPT-SP poderá gastar até R$ 2,76 milhões, enquanto a Unisinos e a Itep podem utilizar o limite máximo de R$ 2,43 milhões e R$ 1,38 milhão, respectivamente. O valor a ser repassado para o Centro Cerâmico será de R$ 1,34 milhão. Sartor alerta que a Finep pretende estimular a busca de inovações não só para sistemas construtivos, mas também para componentes e materiais, como cimento e concreto. “O foco é de ampliação do escopo de ensaios para avaliação técnica de produtos e processos inovadores na área da construção civil, não havendo restrição quanto aos materiais, componentes e sistemas construtivos inovadores que poderão ser objeto de avaliação pelas instituições apoiadas”, explica.
Desde o lançamento do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, a Finep tem priorizado pesquisas no setor da construção civil, principalmente aquelas voltadas para o segmento da habitação de interesse social. “Estas ações objetivam apoiar empresas brasileiras no desenvolvimento de produtos, processos e serviços inovadores, em áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento do país”, diz o chefe do departamento de tecnologias sociais da Financiadora de Estudos e Projetos – organismo ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Sartor avalia que não apenas o poder púbico, mas a iniciativa privada deveria investir mais em pesquisas no setor. “A construção civil hoje é relevante no contexto das políticas públicas voltadas ao desenvolvimento do país. Por isso, investimentos privados também seriam bem vindos”, disse.
A NBR 15575, cujos parâmetros devem ser aplicados a partir de março de 2012 – a ABNT colocou em consulta pública a extensão do prazo de exigibilidade da norma - se divide em seis partes:
ABNT NBR 15575-1 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos - Desempenho - Parte 1: Requisitos gerais
ABNT NBR 15575-2 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos - Desempenho - Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais
ABNT NBR 15575-3 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos - Desempenho - Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos internos
ABNT NBR 15575-4 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos - Desempenho - Parte 4: Sistemas de vedações verticais externas e internas
ABNT NBR 15575-5 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos - Desempenho - Parte 5: Requisitos para sistemas de coberturas
ABNT NBR 15575-6 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos - Desempenho - Parte 6: Sistemas hidrossanitários
Entrevistado
Carlos Eduardo Sartor, chefe do departamento de tecnologias sociais, da Área de Tecnologia para o Desenvolvimento Social da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)
Currículo
- Arquiteto e Urbanista
- Mestre em Planejamento Urbano e Regional
- Chefe do Departamento de Tecnologias Sociais, da Área de Tecnologia para o Desenvolvimento Social da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)
Contato: imprensa@finep.gov.br (assessoria de imprensa)
Crédito: Divulgação/Finep
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Nova Cândido de Abreu será a rua das inovações
Para ser modelo de sustentabilidade em Curitiba, revitalização da Avenida terá calçamento flex e pistas em pavimento rígido
Por: Altair Santos
Entre as obras de mobilidade urbana previstas para ocorrer em Curitiba, por causa da Copa do Mundo de 2014, a revitalização da Avenida Cândido de Abreu será a que mais trará inovações para a cidade. A partir dela, a prefeitura pretende criar um eixo de calçadões na capital paranaense, que ligará o Centro Cívico à Rua XV de Novembro.

O empreendimento terá duas etapas. A primeira começa em agosto e transformará o trecho que vai da Praça Dezenove de Dezembro até a sede da Prefeitura de Curitiba. As obras irão atingir uma extensão de 870 metros de comprimento por 18 metros de largura, e têm como prazo de conclusão dezembro de 2011. Na segunda fase, que começa em 2013, a revitalização se estenderá até a Praça Tiradentes, fechando o eixo de calçadões.
O responsável pelo projeto é o arquiteto Reginaldo Reinert, do IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba). Segundo ele, por causa da geologia do terreno e da durabilidade, os materiais usados na revitalização da Cândido de Abreu serão de concreto, paver e granito. “Haverá pavimento rígido (concreto) nas cinco faixas, no sentido do Palácio Iguaçu até a Praça Tiradentes, e calçamento com pista tátil para facilitar a acessibilidade de pessoas com deficiência visual”, explica.
Entre as inovações que a obra irá agregar à cidade, estão as seguintes: 1) será a primeira Via com cabeamento de iluminação subterrâneo (sem fios aparentes); 2) será a primeira Rua da cidade com WiFi (internet gratuita); 3) o calçadão será flex, ou seja, permitirá que o mobiliário urbano colocado sobre ele seja alterado conforme o uso proposto em cada trecho, e 4) terá uso múltiplo: pedestres, transporte coletivo e automóveis.

Ao custo de R$ 18 milhões, a primeira etapa da revitalização da Cândido de Abreu vai transformar a Avenida em um grande espaço de convivência a céu aberto, alternando mobilidade urbana com pontos de encontro, como cafés e bares. Para o arquiteto Reginaldo Reinert, a obra se equipara ao que foi feito na década de 1970 em Curitiba, quando houve o fechamento da Rua XV de Novembro. “Será um novo ponto de integração da cidade”, diz.
Sobre a convivência entre veículos e pedestres, o arquiteto avalia que a obra será concebida para harmonizar essa relação. “Ao longo do boulevard, os cruzamentos terão pistas elevadas, melhorando a segurança e facilitando a mobilidade de pedestres. Nestes pontos, obrigatoriamente, os veículos deverão reduzir a velocidade para passar pelo cruzamento”, avalia.
A obra terá também preocupação com a sustentabilidade, reduzindo o impacto das poluições do ar, visual e sonora. Por isso, a opção pelo calçamento em paver e o uso de concreto nas pistas, que usará a tecnologia Whitetopping - utiliza o pavimento flexível já existente como base, sem necessidade de sua remoção.

O pavimento em concreto, comprovadamente, vai agregar as seguintes vantagens à revitalização da Cândido de Abreu:
1) A cor clara do material favorece a visibilidade, provocando economia energética de até 60% em iluminação, em comparação com o asfalto;
2) Pela aderência, o espaço de frenagem é reduzido em 40%, gerando economia com custo de pneus do transporte coletivo;
3) A economia com combustível pode chegar a 17%, o que reduz também a emissão de gases poluentes;
4) Provoca menor variação de temperatura ao ambiente, minimizando o uso de ar condicionado nos edifícios no entorno;
5) Impede a percolação (água da chuva infiltrada no solo) protegendo lençóis freáticos e mananciais.

Entrevistado
Arquiteto Reginaldo Reinert, do IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba)
Currículo
- Formado em Arquitetura e Planejamento Urbano - Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC)
- Responsável pelo setor de Planos e Estruturação Urbana do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC)
- Especialista em planos de desenvolvimento urbano e de transportes e projetos com mais de 20 anos de experiência na concepção e implementação de soluções técnicas para as cidades e regiões metropolitanas
- Ampla experiência na elaboração de planos governamentais para a mobilidade metropolitana grande e sistema de transporte, incluindo técnicas, institucionais, o trabalho legal de análise e concepção
- Desenvolvimento para o Governo de Angola de um extenso sistema de transporte urbano para a área metropolitana de Luanda e um amplo Plano de Desenvolvimento Urbano para a criação de uma área nova da cidade para a expansão de Luanda
- Professor da PUC-PR na cadeira de Projeto Arquitetônico
Contato: reinert@rla01.pucpr.br
Crédito Foto: arquivo pessoal
Ilustrações: Fabiano Borba/Ippuc
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Construção civil brasileira rompe fronteiras
Grandes empreiteiras impulsionam obras de infraestrutura na América Latina e se prepararam para ganhar mercado na China e na Rússia
Por: Altair Santos
O esforço do Brasil em se tornar um líder regional fez com que na década passada algumas das grandes empresas do país rompessem as fronteiras para ganhar mercado no exterior. O ponto de partida foi a expansão de seus negócios pela América Latina. Hoje, 53% dos principais grupos nacionais atuam no continente. Entre eles, os gigantes da construção civil.

Atualmente, as principais empreiteiras brasileiras estão consolidadas internacionalmente. Segundo a mais recente edição do ranking das transnacionais brasileiras, elaborado pela Fundação Dom Cabral, e que engloba 400 empresas, Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade & Gutierrez despontam entre as 30 empresas que encabeçam a lista.
Essas e outras construtoras são apontadas como fundamentais para fazer avançar a infraestrutura latino-americana. Elas estão presentes em construções de rodovias, portos e hidrelétricas. Os investimentos passam da casa dos bilhões de dólares. No Peru, por exemplo, a Odebrecht planeja injetar US$ 10 bilhões até 2015.
São ações que contam com o incentivo do governo brasileiro. Recentemente foram criados diversos programas para estimular a internacionalização das empresas brasileiras. Um deles é o FINEM (Financiamento a Empreendimentos), do BNDES, que dá suporte às aquisições, expansão e modernização de empreendimentos no exterior.

Além disso, o Itamaraty facilita a internacionalização das empresas brasileiras, por meio de suas relações diplomáticas com outros países, através da qual negocia a diminuição de barreiras alfandegárias e acordos para estabelecimento de subsidiárias brasileiras no exterior. Outra questão que estimula a expansão é o fato de a moeda brasileira – o real – ter se tornado forte internacionalmente.
Mas pesa aí também a qualidade da engenharia brasileira, como avalia o diretor-executivo da consultoria Andrade & Canellas, Sílvio Areco. “A participação de empreiteiras brasileiras em obras no exterior é o reconhecimento do desenvolvimento da nossa engenharia”, diz, citando que o Brasil é referência em construção de hidrelétricas, por exemplo. “A competência neste campo é destacadamente qualificada entre as melhores do mundo”, completa.
Isso permite que as empreiteiras transnacionais expandam seus projetos. China e Rússia são as novas fronteiras. “Países como esses, bem como a Índia, reúnem boas condições de crescimento econômico e necessidades históricas de melhorias na infraestrutura. Mas é claro que, para chegar nesses mercados, é preciso investigar suas necessidades e apresentar tudo o que podemos oferecer”, analisa Sílvio Areco.
Pela edição de 2010 do ranking da Fundação Dom Cabral, além de expandir seus negócios na América Latina, 17% das transnacionais brasileiras estão presentes na Europa, 15% na Ásia, 9% na América do Norte, 5% na África e 1% na Oceania (veja gráfico). Essa estatística inclui as empresas que atuam em todos os setores da economia, e não apenas as empreiteiras, que se fazem mais representativas na Ásia e na África – boa parte delas atuando em consórcios internacionais que tocam obras de infraestrutura em alguns países destes continentes.
Localização das transnacionais brasileiras:
Entrevistado
Sílvio Areco, diretor-executivo da consultoria Andrade & Canellas
Currículo
- Faz parte do Conselho de Administração da Andrade & Canellas desde outubro de 2008
- Formado em energia elétrica e mecânica pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá, realizou diversos cursos de especialização no Brasil e no exterior, incluindo o Curso Especial de Administração para Desenvolvimento de Executivos do Setor Elétrico Brasileiro da Fundação Getúlio Vargas.
- Desde 1999 é diretor da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage), desde 2000 atua como conselheiro do Operador Nacional do Sistema (ONS). Também é conselheiro da Associação dos Produtores Independentes de Energia (Apine) e faz parte da diretoria do Sindicato da Indústria da Energia no Estado de São Paulo (Siesp)
Contato: clara@sp4com.com.br (assessoria de imprensa)
Créditos Fotos:
Divulgação
Lalo de Almeida/ Odebrecht
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Arquitetos ganham conselho próprio
Lei que cria o CAU, e desvincula os profissionais do sistema Confea/CREA, foi sancionada no final do ano passado
Por: Altair Santos

Um dos últimos atos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi sancionar a lei que cria o Conselho de Arquitetura e Urbanismo e desvincula a categoria do sistema Confea/Crea. Este ano ocorrerá a transição, para permitir a estruturação do CAU. Um dos que está à frente desta transição é o arquiteto e urbanista José Antônio Lanchotti, presidente da ABEA (Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo). Na entrevista a seguir ele explica como vai funcionar o CAU e quais serão os benefícios que o novo conselho trará para a construção civil brasileira. Confira:
Qual influência a criação do CAU trará para os profissionais de arquitetura e no que irá refletir no complexo Confea/CREA?
A importância para os arquitetos e urbanistas, de possuírem um conselho próprio, está na possibilidade de defendermos a sociedade dentro de uma área de extrema importância, que é a qualidade de produção do espaço. É importante frisar que este conselho não é um conselho de defesa dos profissionais. Ele é uma autarquia federal e a função principal é a defesa da sociedade dos maus profissionais. Como nós temos hoje um sistema multiprofissional, como é o Confea/CREA, ele congrega muitos profissionais, muitos mais do que apenas os engenheiros civis, os agrônomos e os arquitetos. Por isso, há uma grande dificuldade de fazer a devida fiscalização nos moldes que a sociedade necessita. Então, este conselho próprio vem cuidar dos assuntos ligados à Arquitetura e Urbanismo voltado à sociedade. Aí insere toda a discussão de produção dos espaços construídos, dos espaços urbanos, da produção da cidade e o que estes profissionais que estão exercendo a profissão realmente fazem com a devida qualidade. Este é um grande ganho, não só dos profissionais, que vão ver o engrandecimento de sua área profissional, mas da sociedade, que vai ter aí um conselho que vai fiscalizar o exercício da profissão.
Haverá reflexo no mercado de trabalho para arquitetos e engenheiros?
O reflexo sempre acontece, por que vai ter a obrigatoriedade de profissionais em áreas específicas. Tem a realização do projeto de arquitetura feito por um arquiteto e urbanista e, em alguns casos, a execução ficará a cargo dos engenheiros civis, pois vai envolver cálculos mais complexos. Em alguns momentos, no caso de edificações de pequeno porte, teremos aí a possibilidade dos dois personagens atuarem em uma mesma situação, mas na maioria dos casos não. Hoje, quando se faz uma construção, por exemplo, não se vê o pintor fazendo a instalação elétrica ou colocando o telhado. Para cada tipo de atividade numa edificação há um profissional desempenhando a sua função. Nas áreas projetual e construtiva também. Vamos ter um profissional responsável pelo projeto, garantindo a qualidade do projeto para o usuário, e vamos ter um outro profissional responsável pela sua execução, barateamento e a qualidade da construção. Então quem ganha com isso? A sociedade.
Há quanto tempo os arquitetos reivindicavam a criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo?
Há mais de 50 anos pleiteávamos esta separação. Hoje há mais de 80 mil profissionais em todo o Brasil, o que fez com que os arquitetos merecessem um conselho próprio.
Quais foram as etapas superadas para se chegar ao CAU?
Bom, a primeira etapa foi a produção desta legislação, que partiu da Casa Civil. Nós tínhamos um texto inicial, que havia sido produzido pelo Senado e tramitou em 2007. Mas quando ele chegou na Presidência da República, foi vetado por um problema de vício de origem. Por ser uma criação de uma autarquia federal ela não poderia acontecer com origem no Congresso Nacional, mas apenas no Executivo. Então, o presidente Lula, quando vetou, foi com o compromisso de fazer uma nova redação, e assim foi feito. A Casa Civil produziu este texto em parceria com as entidades nacionais de Arquitetura e Urbanismo – ABAE (Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo), AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura), IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), Abap (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas) e a FNA (Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas). Este documento passou por seis ministérios, que fizeram as suas contribuições e depois houve uma grande discussão com o próprio Confea. Aí foi para os deputados. Na Câmara, nós tivemos seis comissões discutindo e contribuindo com o projeto até ele ser votado em novembro. No Senado, a tramitação foi mais rápida. Em apenas 15 dias foi votado e em uma semana foi sancionado pelo Presidente da República. O trabalho maior se deu em 2009, quando nós estávamos discutindo o texto junto com os ministérios e com a própria Casa Civil.
Como será a fase de estruturação do CAU?
A legislação que foi aprovada, assinada dia 30 de dezembro e publicada no dia 31 de dezembro de 2010, por enquanto tem dois artigos valendo. São os que constituem a comissão que vai criar o regimento interno e preparar a primeira eleição do conselho nacional. Após a construção do processo eleitoral e do regimento interno é que nós estaremos estruturando todo o resto. Temos até dia 31 de dezembro para fazermos a nossa eleição. Então há, neste momento, 27 câmaras de arquitetura dos CREAs, no Brasil todo, discutindo o regimento e as cinco entidades nacionais (ABAE, AsBEA, IAB, Abap e FNA) agindo como parceiras na discussão deste documento. Toda a estruturação de funcionamento está sendo trabalhada e estamos usando como referência diversos conselhos profissionais para ver aquilo que funciona em cada um deles. O objetivo é fugir de situações que não são bem vindas e de vícios que a gente conhece da estrutura do atual sistema Confea/CREA. Estamos tentando enxugar, para termos um conselho mais simples, do que a estrutura grande que o Confea tem hoje. A preocupação maior é garantir a fiscalização do exercício profissional. Tenho certeza que conseguiremos fazer isso com uma estrutura bem menor do que a que o Confea tem hoje.
Quais devem ser as metas da primeira gestão?
A própria estruturação é uma delas. Estamos num processo de efervescência projetual. O Brasil nunca cresceu tanto como está crescendo nestes anos e este crescimento se dá muito pela construção civil. Então, quando se abre uma licitação pública, por exemplo, há a exigência da comprovação de trabalhos anteriores e estes trabalhos eram feitos via sistema Confea/CREA. Agora, os profissionais estão nesta expectativa: como é que eu faço? Pode ou não pode? Essas dúvidas todas vão ter de ser sanadas. Além disso, tem a construção da estrutura no Brasil todo, com sedes, contratação de funcionários, regimentos internos de cada um dos Estados. Resumindo, vamos começar uma vida nova.
Em termos de ensino da Arquitetura e Urbanismo, o CAU pretende influenciar numa reforma curricular, por exemplo?
Não só o CAU. A conjuntura internacional é que esta direcionando para isso. Neste mês de março estarei em uma reunião na UNESCO sobre as discussões de ensino de arquitetura e urbanismo. É uma pré-discussão do congresso que vai acontecer em Tóquio, em setembro. E essas discussões, obviamente, trarão para a construção do nosso CAU. O Ministério da Educação já está prevendo as alterações das diretrizes curriculares por conta de uma resolução que já vinha acontecendo dentro do Confea, e que agora ganha força com a instalação do CAU. Como as atribuições hoje estão colocadas em lei, e não mais em resolução, obviamente a diretriz curricular vai ter que ter aí as suas adequações. Então, nós teremos sim um grande trabalho da ABEA junto ao Ministério da Educação e junto às organizações internacionais, como a UIA (União Internacional de Arquitetos), que já foi presidida pelo paranaense Jaime Lerner há seis anos. Nós temos que garantir essa visão globalizada da arquitetura e do urbanismo e, consequentemente, do ensino, que vai fazer com que os novos profissionais atuem no mercado nacional e até internacional.
No dia a dia dos arquitetos, o que muda com o CAU?
No dia a dia não muda nada. Os profissionais continuarão trabalhando, tendo as suas atribuições profissionais, se mantendo informado com o seu conselho profissional e também prestando informações ao conselho nacional, além de seguir com suas obrigações, como recolher tributos e cadastrar suas obras. A alteração que vai ter será na fiscalização, pois teremos uma fiscalização muito mais atuante para garantir que atividades que estão destinadas aos arquitetos e urbanistas sejam feitas por arquitetos e urbanistas.
Passam a existir antagonismos entre arquitetos e engenheiros?
Eu não vejo desta maneira. Há sim alguns colegas da engenharia civil que veem isso com uma grande preocupação. Há um grande medo de se estar perdendo mercado. Isto não é real. O mercado nunca esteve tão bom para todos. Nós entendemos que não somos antagônicos, e sim parceiros da construção da cidade, das edificações e da construção do país. É apenas uma reação imediata que está acontecendo, que é a dúvida do desconhecido. Ninguém tem certeza de como funcionará o sistema e há um grande medo por parte de alguns profissionais. Mas quando estivermos com toda a documentação estabelecida, e em funcionamento, este medo vai acabar.
Hoje, como está o mercado de trabalho para os arquitetos? Muito se fala do aquecimento do mercado para engenheiros, mas pouco se fala dos arquitetos.
Quanto se fala que há um aquecimento da engenharia civil, na verdade é um aquecimento da construção civil. E este crescimento é fruto de vários profissionais: engenheiros civis, engenheiros eletricistas, agrônomos e arquitetos. Há um número grande de profissionais ligados a área tecnológica e em atuação na construção civil. Só que o mercado reconhece, por uma questão histórica, que somente o engenheiro civil é que está vendo o mercado aquecido. Não. São vários profissionais desta área tecnológica que veem o mercado aquecido. Por que que só fala no engenheiro civil? Por uma questão histórica. Tem muita gente que acha que somente o civil que faz este tipo de atividade, e não o é. Na hora em que tivermos esta separação ficará muito mais fácil divulgarmos.
Para a cadeia produtiva da construção civil, o que muda com o surgimento do CAU?
Eu entendo que muda a qualidade. Temos aí um grande avanço da qualidade da produção destes espaços e a sociedade é quem vai acabar ganhando com isso. Há uma grande preocupação de que isso trará o encarecimento da obra, o que também não é verdade. É apenas uma separação da atribuição profissional. Isso não é encarecimento da obra. Então, para a cadeia produtiva nós temos a garantia de uma melhor qualidade dos projetos que estarão sendo construídos no Brasil.
Onde será a sede do CAU?
A nacional, em Brasília. Daí cada capital deverá ter a sua sede.
Entrevistado
José Antônio Lanchotti, presidente da ABEA (Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo)
Currículo
- Arquiteto e urbanista graduado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutor em acessibilidade pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP)
- Presidente da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (Abea)
- Conselheiro federal do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea/CREA)
- Membro do Conselho Nacional das Cidades, coordenador das oficinas de acessibilidade da Abea-MCidades e do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Moura Lacerda
- Conselheiro do Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (CONADE)
Contato: lanchotti@gmail.com
Crédito: Arquivo pessoal
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Energia eólica impulsiona a construção civil
Usinas que geram energia a partir dos ventos tornam-se relevantes consumidoras de concreto e despertam o interesse do setor
Por: Altair Santos
O Brasil, segundo a International Energy Agency (IEA), é o país que mais produz eletricidade a partir de fontes de energia limpa e renovável, como hidrelétricas, usinas de biomassa e eólicas. Do total da eletricidade fornecida no país, 85,9% provém deste tipo de matriz energética. É mais do que a soma do que geram os outros países do BRIC (Brasil, Rússia, índia e China) e os Estados Unidos, que juntos produzem 65,8% de energia limpa.

Dentro da matriz de eletricidade do Brasil, a energia eólica ocupa 0,8%. O país tem instalado 926 megawatts em 51 parques eólicos em operação, que vão desde o Piauí até o Rio Grande do Sul. O investimento neste tipo de fonte de energia está crescendo, ainda que lentamente. Em 2009, os ventos produziam 606 megawatts. Porém, leilões promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), entre 2009 e 2010, comercializaram mais 3,8 mil megawatts, com previsão de entrega até 2013.
Segundo o estudo Sustentabilidade Ambiental no Brasil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o país está atrasado na geração de energia eólica em relação a outras nações. “Até um tempo atrás, esse tipo de energia estava fora de pauta. Hoje é objeto de corrida internacional, e o Brasil está ainda bastante atrasado”, avalia o pesquisador Albino Alvarez, do Ipea. Para comparar, a Alemanha dispõe atualmente de 25.777 megawatts instalados. Os EUA, 35.159; a Espanha, 19.149; a China, 25.805, e a Índia, 10.926, segundo o Conselho Global de Energia Eólica (GWEC).
Só que o setor de energia eólica está ganhando um parceiro importante para disseminá-lo país afora. São as construtoras brasileiras. Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (AbEEólica), as novas tecnologias de construção das torres – não mais em aço, mas em concreto - é que tem atraído o interesse da construção civil. Além disso, há outras aplicações no setor eólico ligadas à área da engenharia civil. Como as fundações para cada torre eólica.
Solo fértil para o concreto
Em fevereiro de 2011, a Eletrobras Eletrosul concluiu a décima base dos aerogeradores que formarão o parque 3 do Complexo Eólico Cerro Chato, em Sant’Ana do Livramento (RS). A fase é considerada um marco para as obras do empreendimento, que terá 90 megawatts de potência instalada e está dividido em três usinas. Iniciadas há 45 dias, as fundações já consumiram 5 mil m³ de concreto e 500 toneladas de aço - o suficiente para construir dez edifícios de 12 andares -, e mais cinco bases estão em construção.

Segundo Pedro Perrelli, diretor-executivo da ABEEólica, as bases que sustentam as usinas eólicas requerem, de fato, muito concreto. “Em alguns lugares, o terreno é arenoso e isso exige diferentes tecnologias. Para se ter uma ideia, da base ao centro do rotor são mais de 100 metros de altura. Cada hélice do rotor tem cumprimento acima de 40 metros. Imagine o efeito alavanca que isso gera. Por isso, a fundação precisa estar muito bem concretada”, explica.
Perrelli lembra que o mercado para o setor eólico no Brasil tem muito a crescer. Segundo ele, o primeiro passo é atualizar o atlas eólico do país. O mais recente, que mapeou as correntes de ar, saiu em 2001. “Ele está desatualizado tecnicamente, mas as duas regiões que mostram o maior potencial de geração elétrica por eólica são Sul e Nordeste. Mas é bom lembrar que só há cinco anos ela passou a ser explorada industrialmente no Brasil. Portanto, há muito por fazer no setor eólico”, diz.
Uma das iniciativas da ABEEólica, junto ao Ministério de Ciência e Tecnologia e do Ministério de Minas e Energia, é que seja criado no Brasil um centro de pesquisa para que o país possa dominar toda a cadeia produtiva de energia eólica. A meta também é criar usinas adaptadas aos vários tipos de ventos que predominam nas regiões brasileiras. “A intenção é que este centro gere uma situação equivalente ao que a gente tem hoje com o carro flex. Você tem um vento no Brasil que tem características diferentes. Ele é um no Nordeste e outro no extremo sul. Por isso, requer pesquisa e investimento para que se possa usar todo o potencial de geração de energia dos ventos”, afirma Perrelli.
Entrevistado
Pedro Perrelli, diretor-executivo da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica)
Currículo
- MSc Production Management & Manufacturing Technology – 1978 – Univ. of Strathclyde - Glasgow - Scotland – UK
- Diploma in Production Engineering – 1976 - University of Strathclyde - Glasgow - Scotland – UK
- Graduado em Engenharia de Segurança – 1975- Escola de Engenharia Industrial - S. J. dos Campos/SP
- Graduado Engenheiro Mecânico – 1972 - Escola de Engenharia de Taubaté - Taubaté/SP
Contato: pedro@abeeolica.org.br
Crédito Fotos: Jornal Já/Cléber Dioni



