Construção civil é um dos setores mais afetados pela burocracia

Excesso de encargos atrapalha desde a contratação de mão de obra até a participação de empresas em obras de infraestrutura e programas como PAC e Minha Casa, Minha Vida

Por: Altair Santos

Excessivas regulações e a burocracia estão entre os principais fatores que têm limitado a capacidade de expansão de negócios das empresas brasileiras em 2011. De acordo com o International Business Report (IBR), realizado pela consultoria britânica Grant Thornton, 50% das corporações do Brasil, independentemente do campo de atuação, se sentem vítimas desses inibidores de desenvolvimento. Em segundo lugar na lista de restrições está a falta de mão de obra qualificada, o que aflige 49% entre as corporações consultadas.

João Geraldo Piquet Carneiro, do Instituto Helio Beltrão: participar de obras públicas gera um processo excessivamente burocratizado

O International Business Report da Grant Thornton (IBR) é uma pesquisa realizada há 19 anos, que tem como objetivo fornecer informações sobre as opiniões e expectativas de mais de 11 mil empresas das 39 economias mais relevantes no mundo. Em cada país, são entrevistados CEOs, diretores, presidentes e outros executivos seniores. No Brasil, a preocupação da burocracia só não é maior do que na Grécia (57%) e na Polônia (52%). “O Brasil ainda é um dos países com maior número de trâmites e para crescer precisa mitigar esse excesso de processos”, resume Javier Martinez, responsável pelo IBR na América Latina.

Há coincidências entre os dados apresentados pelo International Business Report e o Relatório Global de Competitividade 2011-2012, recentemente divulgado pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC). Neste documento, o Brasil ocupa o 53.º lugar em um ranking que engloba 142 países. Em relação à edição 2009-2010, a economia brasileira subiu cinco posições, mas a burocracia, a falta de mão de obra especializada e os problemas de infraestrutura, também citados no relatório, ainda impedem o país de alcançar uma boa posição entre os países mais competitivos do mundo.

Construção civil

Um setor diretamente atingido pela burocratização é a construção civil. Segundo o presidente do Instituto Helio Beltrão, João Geraldo Piquet Carneiro, isso ocorre principalmente quando envolve obras públicas. “Quem contrata com o setor público, e aí falando de obras públicas especificamente, padece muito, porque o processo licitatório é excessivamente burocratizado e tem uma parte documental muito pesada. É uma burocracia pautada pelo princípio da desconfiança, que quando o Estado se relaciona com o particular acha que o particular vai ser desonesto”, diz o dirigente.

Javier Martinez, responsável pelo IBR na América Latina: burocracia afeta expansão dos negócios de pelo menos 50% das empresas brasileiras

De acordo com João Geraldo Piquet Carneiro, esses excessos geram distorções como a legislação temporária recentemente criada para tentar desburocratizar as obras que envolvem Copa do Mundo e Olimpíadas 2016 – o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC). O problema é que a lei de exceção já foi questionada pela Procuradoria Geral da República, sob a alegação de que é inconstitucional. Outra anomalia levantada pelo presidente do Instituto Helio Beltrão é que no Brasil a internet não ajudou a desburocratizar o país, pelo contrário. “Nos transformamos num país modernamente burocratizado. A presença virtual do Estado aumentou as exigências”, diz.

Um exemplo é o que ocorre no comércio exterior brasileiro, que padece enormemente de burocracias várias. “Os produtos que entram e saem do Brasil às vezes passam por oito organismos fiscalizadores, o que dificulta as negociações”, avalia o presidente do Instituto Hélio Beltrão. “Com os avanços tecnológicos e o mundo cada vez mais digital e ágil é preciso diminuir o tempo investido nas regulações e aplicá-lo mais no desenvolvimento dos negócios. Além disso, a burocracia é um grande entrave para o investimento estrangeiro no Brasil.”, completa Javier Martinez, da IBR América Latina.

Medidas que poderiam ajudar a desburocratizar o Brasil
Separar atos comerciais de controles fiscais, eliminando os chamados interesses cruzados, que exigem que se comprove o pagamento de impostos para a União, o Estado e o Município.
Modificar a maneira de como o governo se relaciona com a empresa e com o cidadão, e passar a agir com base no princípio da confiança.
Acabar com o reconhecimento de firma. Por que pedir firma reconhecida de uma pessoa que assina um contrato diante de alguém, quando se vê assinar?

Dez melhores países no Relatório Global de Competitividade 2011-2012
1º) Suíça
2º) Cingapura
3º) Suécia
4º) Finlândia
5º) Estados Unidos
6º) Alemanha
7º) Noruega
8º) Dinamarca
9º) Japão
10º) Reino Unido
Entre o BRICS
26º) China
50º) África do Sul
53º) Brasil
56º) Índia
66º) Rússia

Entrevistados
- Javier Martinez, responsável pelo International Business Report (IBR) na América Latina
- João Geraldo Piquet Carneiro, presidente do Instituto Helio Beltrão

Currículos

- João Geraldo Piquet Carneiro é bacharel em Direito (1963), pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
- Tem mestrado pela New York University (1965)
- Foi consultor Jurídico do Programa Nacional de Desburocratização (1979-1982)
- Ocupou o cargo de Presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, encarregada da implementação do Código de Conduta da Alta Administração Federal (1999-2004)
- É presidente do Instituto Helio Beltrão – entidade sem fins lucrativos voltada para a reforma da Administração Pública
- Atua principalmente em Direito Administrativo, Direito Antitruste e contencioso. Possui larga experiência em atuação junto aos órgãos administrativos, incluindo agências reguladoras e órgãos do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, bem como tribunais de contas
- É coordenador Regional de Antitruste do escritório Veirano Advogados
- Javier Martinez é diretor de marketing e Comunicação da Grant Thornton, e responsável pela divulgação do relatório International Business Report (IBR) na América Latina
- A Grant Thornton International Ltd é uma das principais organizações mundiais de contabilidade e consultoria com propriedade e administração independentes. Suas firmas prestam serviços de auditoria, tributos e assessoria especializada a empresas privadas e entidades de interesse público.
Contatos: piquet.carneiro@veirano.com.br / grantthornton@br.gt.com

Créditos Fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Artefatos de cimento ajudam a revitalizar trens regionais

Dormentes de concreto e estações construídas em pré-moldado integram projetos de ferrovias que vão revitalizar o transporte público entre cidades de médio porte

Por: Altair Santos

O Brasil tem atualmente uma malha ferroviária de 28.831 quilômetros, mas apenas 10.930 são explorados. Parte dos trechos desativados liga cidades de porte médio ou grandes metrópoles a municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes. São regiões que sofrem com os gargalos do transporte público, o que levou o governo federal a promover um estudo de viabilidade para reativar 14 linhas de trens regionais, capazes de atender 70 milhões de passageiros por ano.

Afonso Carneiro Filho, diretor do departamento de relações institucionais do Ministério dos Transportes: “Dá para utilizar uma série de artefatos advindos do cimento, de acordo com o projeto da ferrovia”

Os projetos encontram-se no ministério dos Transportes e a região sul deverá ser a primeira contemplada. “Esses estudos estão em fase final de execução e foram desenvolvidos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com o apoio da empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb). No momento, estamos aguardando as respostas aos comentários e às observações que fizemos, para que o plano tenha prosseguimento”, explica Afonso Carneiro Filho, diretor do departamento de relações institucionais do Ministério dos Transportes.

Os trechos com as melhores viabilidades para dar início ao projeto são Caxias do Sul-Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, e Londrina-Maringá, no Paraná, por contarem com a contrapartida dos governos estaduais e municipais. O custo para a implantação destas linhas e das outras 12 em estudo está estimado em R$ 5 bilhões. Haverá um misto de construção de ferrovias novas com o reaproveitamento de antigas. Neste caso, a tecnologia do concreto pré-moldado será relevante para a reativação dessas ferrovias.

Segundo Afonso Carneiro Filho, não se pode imaginar atualmente uma ferrovia sem a parceria com o concreto. “Os artefatos de cimento estão presentes desde o dormente até a montagem de novas estações. Hoje, todas as estações de trem, VLT (veículo leve sobre trilhos) e de metrô são em pré-fabricado”, explica, completando que a tecnologia do concreto também é condizente com as características dos trens que serão utilizados nas ferrovias regionais. “São trens novos, tipo metrô, que não têm locomotiva, mas vagões autopropulsados e que desenvolvem velocidade média de 80 km/h.”

As ferrovias regionais em estudo têm entre 60 quilômetros e 200 quilômetros de um ponto a outro. Além da Caxias-Bento Gonçalves e Londrina-Maringá, os outros 12 trechos são:
Pelotas-Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Itajaí-Rio do Sul, em Santa Catarina
São Paulo-Itapetininga, em São Paulo
Campinas-Araraquara, em São Paulo
Santa Cruz-Itaguaí- Mangaratiba, no Rio de Janeiro
Macaé-Campos, no Rio de Janeiro
Belo Horizonte-Conselheiro Lafayette - Ouro Preto, em Minas Gerais
Bocaiúva- Montes Claros- Janaúba, em Minas Gerais
Conceição da Feira-Salvador-Alagoinha, na Bahia
São Cristovão-Aracajú-Laranjeiras, em Sergipe
Recife-Caruaru, em Pernambuco
Teresina (Piauí)-Codó (Maranhão)

Parceria
No caso dos trechos Caxias-Bento Gonçalves e Londrina-Maringá, as novas linhas tendem a ser construídas em parceria entre a Trensurb e a Estrada de Ferro Paraná Oeste (Ferroeste) - única operadora de ferrovia pública para o transporte de carga do país. As duas empresas já constituíram um grupo técnico, englobando também as universidades estaduais de Londrina e Maringá, para a formulação de uma matriz origem-destino. A intenção, no caso do trem regional ligando o norte e o noroeste do Paraná, é que a distância tenha 125 quilômetros e percorra 13 municípios da região.

Link relacionado
http://www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/ferrovias-no-brasil-e-hora-de-concretizar-essa-ideia/

Estruturas em pré-moldado estão cada vez mais frequentes nas obras ferroviárias que o Brasil vem construindo
Trecho que o trem regional Londrina-Maringá deve percorrer no interior do Paraná

Entrevistado
Afonso Carneiro Filho, diretor do departamento de relações institucionais do ministério dos Transportes
Currículo

- Graduado em engenharia elétrica pela Universidade Católica de Petrópolis (1978)
- Na recente reforma administrativa ocorrida no ministério dos Transportes, assumiu a direção do departamento de relações institucionais da secretaria de política nacional de transportes, ficando responsável pelas articulações setoriais e intermodais do setor
Contato: afonso.carneiro@transportes.gov.br

Créditos Fotos: J.Freitas/Ministério dos Transportes/ Divulgação/Trensurb-RS/ Google Earth

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Ciclo de vida das edificações ganha impulso no Brasil

País agora é que começa a criar uma base de dados sobre o desempenho de componentes, a fim de que ambientes construídos causem menos impacto ambiental

Por: Altair Santos

Planejar o ciclo de vida de uma edificação era uma preocupação que, até bem pouco tempo, não se priorizava ao projetar um empreendimento. Trata-se de uma avaliação relativamente recente. Ganhou corpo a partir da definição da Agenda 21, que apesar de ter sido lançada na Eco-92 veio consolidar-se apenas em 2002, na Cúpula de Johannesburgo, quando foi assinada por 179 países. A partir do documento, se impôs um novo paradigma à sociedade industrial. Neste cenário, questões como sustentabilidade e impacto ambiental passaram a ter influência relevante na cadeia produtiva da construção civil.

Cássia Maria Lie Ugaya: a Análise do Ciclo de Vida é um instrumento para alcançar a sustentabilidade

No Brasil, ainda inexiste uma base de dados abrangente e capaz de caracterizar o desempenho típico de componentes do ambiente construído, seja na etapa de projeto, construção ou uso e operação. Mas o cenário está mudando. “Há um trabalho intenso para se recuperar o tempo perdido. Já existem diversas iniciativas no país, procurando desenvolver informações para que possam ser feitas avaliações do ciclo de vida”, explica Cássia Maria Lie Ugaya, que é membro do Conselho Internacional do Ciclo de Vida, consultora da ONU (Organização das Nações Unidas) e diretora da Associação Brasileira do Ciclo de Vida.

Na Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) o local onde será erguida uma obra tem peso relevante, em função do terreno, das condições climáticas a que estará exposta e do impacto que irá causar no entorno. Via de regra, o empreendimento deve ser projetado para ter longo tempo de uso - mais de 50 anos -, mas, ao término de sua vida útil, permitir que boa parte de seu material seja reciclado ou reutilizado. Por isso, o projeto, o bom emprego dos materiais e a manutenção da edificação também são relevantes para uma boa ACV. “Até o transporte dos materiais pode influenciar no ciclo de vida”, explica Cássia Maria Lie Ugaya.

Os inventários de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) das edificações seguem as normas ISO 14000 (14040, 14041, 14042 e 14043). Também há, atualmente, softwares que ajudam a definir com mais precisão o ciclo de vida de um empreendimento. Como o Bees 1.0 (Building for Environmental and Economic Sustainability). Ele permite implantar uma metodologia sistemática para selecionar produtos de construção que apresentem boa relação entre performance ambiental e econômica. Nem sempre, porém, a aplicação de tecnologia é garantia de que uma construção irá causar mais ou menos impacto ambiental.

Um exemplo é um estudo comparativo entre os materiais empregados na construção do estádio Allianz Arena, em Munique (Alemanha), e o João Havelange, no Rio de Janeiro, que foram erguidos na mesma época. A megaobra para a Copa de 2006 foi inovadora, ao apostar em uma cobertura à base de polímeros (tetrafluoretileno), enquanto o estádio brasileiro, construído para o Pan de 2007, investiu na construção convencional, com consumo de 80 mil m³ de concreto. Levando em consideração o ambiente das construções, o estudo concluiu que a edificação erguida na Alemanha é mais danosa para o meio ambiente em termos de emissão de CO2.

Numa Avaliação do Ciclo de Vida, se leva em consideração três tipos de análise:

Inventário
Nesta etapa, são coletados os dados a cerca das entradas e saídas de cada um dos processos, como de materiais, consumo de energia, emissões de poluentes no ar, na água e no solo e geração de resíduos.

Avaliação social

Tem como objetivo identificar os pontos positivos e negativos ao longo do ciclo de vida do produto, no que se refere às questões da mão de obra envolvida no empreendimento e na contribuição, negativa ou positiva, que ele trará para a comunidade local, à sociedade civil e aos trabalhadores.

Avaliação do impacto
Nesta etapa ocorre a conversão dos dados de consumo de materiais, de energia e das emissões em categorias de impacto, levando-se em conta as mudanças climáticas, a sedificação, a entropização, a toxicidade humana e a perda de biodiversidade.

Segundo a especialista Cássia Maria Lie Ugaya, a Avaliação do Ciclo de Vida serve para qualquer produto. De embalagem a automóvel; de alimentos à construção civil. “Ela é uma técnica que pode ser utilizada para qualquer coisa, para qualquer produto, inclusive serviços”, diz. A diretora da Associação Brasileira do Ciclo de Vida ressalta ainda que a ONU, através do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) tem sido parceira para disseminar a importância deste tipo de avaliação em vários países, inclusive o Brasil. “Eles estão trabalhando bastante, tanto em capacitação quanto em desenvolvimento de workshop, para que as empresas comecem a inserir isso cada vez mais no seu dia a dia.
O objetivo é aplicar a ACV no tripé da sustentabilidade: o ambiental, o social e o econômico”, resume.

Allianz Arena, na Alemanha: cobertura à base de polímeros compromete ACV do estádio

Entrevistada
Cássia Maria Lie Ugaya, membro do Conselho Internacional do Ciclo de Vida, da Iniciativa do Ciclo de Vida do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e Diretora da Associação Brasileira do Ciclo de Vida
Currículo

- Doutora em Engenharia Mecânica (2001), mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos (1996) e graduada em Engenharia Mecânica (1991) pela Universidade Estadual de Campinas
- Atualmente é professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
- Desde o doutorado realiza pesquisa em Avaliação do Ciclo de Vida, mais especificamente em: análise de inventário do ciclo de vida, avaliação social do ciclo de vida, avaliação do impacto do ciclo de vida e projeto para o ciclo de vida.
- É membro do Conselho Internacional do Ciclo de Vida, da Iniciativa do Ciclo de Vida do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e da SETAC, membro do Conselho Internacional e Conselho Editorial do ecoinvent, co-chair da Rede Latino Americana de Ciclo de Vida e Diretora da Associação Brasileira do Ciclo de Vida.
Contato: cassiaugaya@utfpr.edu.br

Créditos Fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Engenharia de materiais ganha espaço na cadeia produtiva da construção civil

Profissional atua na pesquisa de matérias primas, que resultem no desenvolvimento de produtos com maior valor agregado, tecnologia e sustentabilidade

Por: Altair Santos

Pesquisas para o desenvolvimento de cimentos especiais, estudos de viabilidade técnica para a aplicação de aditivos em concreto e testes de materiais para revestimentos cerâmicos são algumas das possibilidades dentro da cadeia produtiva da construção civil que têm sido abertas aos profissionais da engenharia de materiais. O especialista na área tem sido cada vez mais requisitado pelo setor. A ponto de atualmente a situação de quem deixa os cursos de graduação é de quase pleno emprego.

Adilson Luis Chinelatto, coordenador do curso de Engenharia de Materiais da UEPG: área cimentícia é um dos setores onde o engenheiro de materiais tem condições de atuar.

A busca de produtos que causem menor impacto ambiental também se reflete no mercado de trabalho do engenheiro de materiais. “Hoje a engenharia de materiais é interligada com práticas sustentáveis e voltadas a soluções para o meio ambiente. No nosso curso, a grade curricular foi alterada para acrescentar disciplinas que ensinem os alunos a pensar em produtos menos agressivos ao ambiente”, explica Adílson Luiz Chinelatto, coordenador do curso de engenharia de materiais da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

A universidade no interior do Paraná tem seu curso de graduação de engenharia de materiais, assim como o de pós-graduação, entre os reconhecidos e recomendados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Fundado nos anos 1990, trata-se do terceiro mais antigo do país em funcionamento, perdendo apenas para o da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), fundado nos anos 1970, e da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), fundado nos anos 1980.

A engenharia de materiais atua em três grandes áreas: pesquisa, desenvolvimento e formação. Até a metade da década passada, boa parte dos cursos de graduação (a Capes recomenda 27 deles) se concentrava em formar profissionais especialistas em transformar materiais cerâmicos, metálicos e poliméricos (plásticos). Com o crescimento de oportunidades na área da construção civil, as universidades estão revendo seus conceitos. “Há uma demanda forte no setor para a descoberta de componentes para os materiais já existentes”, explica Adílson Luiz Chinelatto.

A maioria dos cursos de engenharia de materiais existentes hoje no Brasil nasceu como apêndice dos cursos de engenharia civil das universidades. Na UEPG não foi diferente. “Quando o curso foi criado havia um debate forte no Paraná de que a indústria de transformação de matérias primas era estratégica para o estado. Em função disso, os professores do departamento de engenharia civil da universidade decidiram implantar o curso de engenharia de materiais e, com isso, contaram com a ajuda de professores que já haviam implantado no curso na UFSCar”, revela o coordenador.

Na Europa e nos Estados Unidos, os engenheiros de materiais estão muito ligados às inovações. Equipamentos como trens magnéticos (Maglev - Magnetic levitation transport) e monitores de LCD estão entre produtos que só foram possíveis ser desenvolvidos graças à participação destes profissionais em seus projetos. “O que permite isso é que o curso tem uma forte formação científica voltada para a pesquisa de novas tecnologias”, avalia o professor da UEPG.

Tanto na universidade paranaense quanto nas outras 26 indicadas pela Capes, o curso tem duração de cinco anos. Nos quatro primeiros semestres, as disciplinas são as que compõem a formação básica de todas as engenharias. A especialização começa a partir do terceiro ano e pode ser empregada nas seguintes áreas:

Mineralogia
Tratamento de Minérios
Termodinâmica dos Sólidos
Resistência de Materiais
Cálculo
Física
Química
Ciência dos Materiais Cerâmicos
Siderurgia

Curso de engenharia de materiais da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa): entre os mais antigos do país e reconhecido nacionalmente.


Entrevistado
Adilson Luis Chinelatto, coordenador do curso de Engenharia de Materiais da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa)
Currículo

- Possui graduação em Física (bacharelado) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1989) e em Física (licenciatura) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1989)
- Tem mestrado em Ciência e Engenharia dos Materiais pela Universidade Federal de São Carlos (1992) e doutorado em Ciência e Engenharia dos Materiais pela Universidade Federal de São Carlos (2002)
- Atualmente é professor adjunto e coordenador do curso de Engenharia de Materiais na Universidade Estadual de Ponta Grossa.
- Tem experiência na área de Engenharia de Materiais e Metalúrgica, com ênfase em Cerâmicos, atuando principalmente nos seguintes temas: microestrutura, propriedades mecânicas, zircônia, terras raras e porcelanas triaxiais.
- É bolsista de produtividade da Fundação Araucária
Contato: adilson@uepg.br / ascom@uepg.br

Créditos Fotos: Divulgação/UEPG

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Mau uso do tempo traz prejuízo às empresas e aos funcionários

Especialista em gestão de tempo, Christian Barbosa ensina que o ideal é viver intensamente o trabalho, em vez de se “matar de trabalhar”

Por: Altair Santos

A expressão “estou me matando de trabalhar” já virou bordão no mundo corporativo. Ela sintetiza um problema que tem reduzido a produtividade das empresas e, ao mesmo tempo, afetado a qualidade de vida dos funcionários. Trata-se da má gestão de tempo, como ensina Christian Barbosa, especialista em administração de tempo e produtividade. “Hoje, a gestão de tempo é essencial para as empresas que querem ter bons resultados e querem ter funcionários comprometidos. Só que as pessoas precisam aprender a viver intensamente o trabalho, em vez de se matar de trabalhar”, diz.

Christian Barbosa: boa gestão de tempo começa pela dieta de reuniões.

O que Christian Barbosa quer dizer é que durante a jornada de trabalho muitas horas são desperdiçadas sem gerar resultados. Isso ocasiona perda de energia, tanto do funcionário quanto da empresa. “As pessoas vão ter de trabalhar mais, para compensar as horas desperdiçadas, vão perder qualidade de vida, e a empresa vai perder dinheiro”, resume o especialista, afirmando que corporações e colaboradores precisam desenvolver métodos conjuntos de gestão de tempo. “É preciso saber planejar e priorizar as urgências”, completa.

Na avaliação de Christian Barbosa, dois componentes hoje tomam muito tempo dos funcionários e, consequentemente, das empresas. São as reuniões e os e-mails. “É preciso fazer uma dieta de reuniões. Elas não devem acontecer por qualquer motivo. Quanto aos e-mails, eles consomem muito tempo e acabam impedindo a produtividade. Empresas que ensinaram seus colaboradores a eliminar as reuniões sem objetivo e a controlar melhor os e-mails fizeram bem aos próprios funcionários. As pessoas descobriram que têm tempo, mas que estavam fazendo uso errado dele”, afirma.

Outro aspecto que também resulta em desperdício de tempo são as multitarefas. “Uma pessoa que é multitarefada chega a perder de 10% a 30% a mais do seu tempo”, cita Christian Barbosa, que criou um software para substituir a antiga agenda. “Os colaboradores vão lá e colocam suas reuniões, seus projetos, e o software tem uma inteligência artificial para dizer o que dá para fazer e o que não dá para fazer, com base no próprio dia a dia das pessoas. Ele faz tanto o gerenciamento pessoal quanto o de equipes”, explica.

Consultor de empresas da construção civil, Barbosa avalia que o fato de algumas delas não estarem conseguindo cumprir os cronogramas de obras - principalmente as envolvidas com construções habitacionais - não está relacionado à gestão do tempo, mas à falta de mão de obra. “O problema é que está faltando gente para dar conta de tantas obras. Não envolve tanto gestão de tempo”, avalia, alertando, porém, que as corporações precisam tomar cuidado ao adotar métodos de gestão de tempo para não criar uma organização padrão para todos. “As pessoas funcionam diferente umas das outras e é preciso respeitar isso”, conclui.

- Impactos positivos da gestão do tempo
- Diminui o volume de horas extras
- Gera comprometimento
- Reduz custos com treinamento
- Aumenta a produtividade
- Impactos negativos do mau uso do tempo
- Queda na qualidade de vida dos profissionais
- Estresse
- Problemas de imagem com o cliente
- Retrabalho

Saiba mais
Pesquisa publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, na edição de 30 de agosto de 2011, mostrou que 33% dos profissionais brasileiros admitem gastar duas horas da jornada diária de trabalho sem fazer nada de efetivo e 52% admitiram deixar as atividades necessárias para a última hora. Os números são bem maiores, se comparados a Reino Unido, Estados Unidos e Austrália. Nestes países, a média dos profissionais que não fazem gestão de tempo é de 20%.

Leia a reportagem
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/966952-entenda-por-que-voce-deixa-tudo-para-a-ultima-hora.shtml

Entrevistado
Christian Barbosa, especialista em administração de tempo e produtividade
Currículo

- Cientista da computação
- Abriu sua primeira empresa aos 15 anos e foi um dos profissionais mais jovens do mundo a receber o certificado da Microsoft.
- É fundador da Triad Consulting, empresa multinacional especializada em programas e consultoria na área de produtividade, colaboração e administração do tempo.
- Dá treinamento e palestras
- É facilitador do programa de empreendedores do Sebrae/ONU-Empretec e autor de quatro livros sobre o tema:
- A Tríade do Tempo
- Você, Dona do Seu Tempo
- Estou em Reunião
- Mais Tempo & Mais Dinheiro, em parceria com Gustavo Cerbasi
Contato: @christiantriad (Twitter) / imprensa@christianbarbosa.com.br / palestras@christianbarbosa.com.br

Crédito: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Nova fase do MCMV será mais rigorosa com a acessibilidade

Construtoras que aderirem ao programa terão que, obrigatoriamente, seguir normas governamentais, sob risco de não conseguir liberação de financiamento

Por: Altair Santos

O programa Minha Casa, Minha Vida 2 passou a vigorar desde 5 de agosto de 2011. Desta vez, a regulamentação prioriza as faixas de interesse social, entre elas portadores de deficiência física. Neste item, a nova fase do projeto habitacional tornou-se mais rigorosa. Além de estender o manual de acessibilidade para os pavimentos superiores das edificações, ele também obriga que os projetos a serem apresentados na Caixa Econômica Federal contemplem a norma técnica NBR 9050:2004 - Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, sob risco de não conseguirem liberação de financiamento.

Gueber Roberto Laux, diretor de obras da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) : Minha Casa, Minha Vida 2 leva normas de acessibilidade aos 2º. 3º e 4º andares

Por lei federal (Programa Nacional de Habitação Urbana) 3% das unidades térreas de um condomínio devem ser construídas com adaptações para receber moradores com deficiência física. São vãos de portas medindo 80 centímetros de largura, banheiros que permitem um giro de 360 graus para cadeirantes e rampas com inclinação de 5 a 8 graus. O problema que ocorreu no Minha Casa, Minha Vida 1 é que boa parte das prefeituras estavam concedendo o habite-se sem que a exigência das adequações fossem cumpridas. “Estava acontecendo mais ou menos o que acontece com as garagens. Alguns prédios têm, outros não têm, e o comprador adquire de acordo com suas necessidades”, diz o diretor de obras da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), Gueber Roberto Laux.

Agora, com o Minha Casa, Minha Vida 2, a Caixa Econômica Federal passa a impor o manual de acessibilidade como exigência para liberar financiamentos às construtoras. “O recurso federal, que normalmente é o FGTS, só poderá ser utilizado se atender a esta legislação. Isso será visto na própria Caixa. Quando o empresário for contratar e iniciar a produção, ele terá de ter cumprido o aspecto legal na apresentação do projeto”, explica Gueber Roberto Laux.

O diretor da Companhia de Habitação Popular de Curitiba avalia que com as novas regras o custo de uma obra padrão Cohab deva ficar até 5% mais cara. Isso porque, as adaptações antes exigidas apenas para o andar térreo foram estendidas para os pavimentos superiores. Segundo, terceiro e quarto andares também terão de ter vãos de portas com 80 centímetros e banheiros com larguras apropriadas aos cadeirantes, além de adaptações nas portas corta-fogo e nas rotas de fuga.

A Companhia de Habitação Popular de Curitiba já refez o projeto. Os apartamentos menores, que antes tinham 37 metros quadrados, passaram a ter 39. Além disso, as áreas comuns também sofreram adaptações, como banheiros, salão de festa e rampas de acesso. A Cohab da capital paranaense também criou um manual de procedimentos a ser seguido pelos construtores. O documento foi requisitado pelo ministério das Cidades para servir de modelo a outras prefeituras e companhias habitacionais. Além disso, Curitiba, no caso das habitações de interesse social, oferece isenção de pagamento de impostos municipais, como ITBI e ISS aos construtores, que podem acrescentar pavimentos aos projetos (chegando a quatro pisos) sem necessidade de pagar solo criado.

Em 2010, 45 famílias que estavam na fila da Cohab de Curitiba foram contempladas com habitações adaptadas. Segundo Gueber Roberto Laux, as ocorrências são maiores em caso de reassentamento e desfavelização. Neste caso, o cadastramento ocorre no local e a Cohab já detecta quem tem necessidades especiais. Dentro deste programa, no ano passado Curitiba entregou 151 moradias para famílias com portadores de deficiência. “Quando a Cohab faz uma demanda identificada ela já deixa uma unidade adaptada para a pessoa que é portadora de deficiência”, revela o diretor de obras da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab).

Em Curitiba, a Cohab tem manual de procedimentos de acessibilidade que deve ser seguido pelas construtoras


Desde 2004

No Brasil, a acessibilidade tornou-se direito depois do decreto federal 5.296, de 2004, que trouxe referências mais seguras para a implantação de diretrizes e a eliminação de barreiras arquitetônicas em concordância com a norma técnica NBR 9050, da ABNT.

Veja o que diz a norma


Acesse também o manual de Acessibilidade da Caixa Econômica Federal

Entrevistado
Gueber Roberto Laux, diretor de obras da Companhia de Habitação Popular de Curitiba
Currículo

- Engenheiro de operações, funcionário de carreira da Caixa Econômica Federal, onde se especializou em habitação
- Foi durante 15 anos gerente de habitação da instituição e, recentemente, gerente regional de construção civil
- Atualmente ocupa o cargo de diretor de obras da Companhia de Habitação Popular de Curitiba
Contato: glaux@cohab.curitiba.pr.gov.br

Créditos Fotos: Divulgação/Cohab-CT

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Industrialização permeou debates no Concrete Show

Megaevento sobre tecnologias envolvendo concreto ocorreu no começo de setembro de 2011, em São Paulo, e focou sistemas que deem competitividade e qualidade ao setor 

Por: Altair Santos

Em sua 5ª edição, o Concrete Show apresentou números relevantes. A feira expandiu 342% em relação ao primeiro evento, realizado em 2007, e atraiu 500 expositores, além de um público estimado em mais de 28 mil visitantes. Durante três dias (de 31 de agosto a 2 de setembro de 2011) o maior encontro latino-americano da cadeia produtiva do concreto gerou negócios que ultrapassaram R$ 750 milhões. Paralelo ao Concrete Show também ocorreu o Concrete Congress, cujos debates convergiram para a necessidade de a construção civil brasileira industrializar-se. 

Hugo Rodrigues, gerente nacional de comunicação da ABCP

 Tendo a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e a Associação Brasileira de Empresas de Serviços de Concretagem (ABESC) como âncoras, o Concrete Congress teve 17 seminários e 150 palestras proferidas - todas elas permeadas pela industrialização da construção civil. “A industrialização embasou todos os debates, assim como a competitividade e a qualidade de materiais aplicados nos sistemas industrializados”, resumiu Hugo Rodrigues, gerente nacional de comunicação da ABCP. 

A opinião coincide com a do presidente da ABESC, Arcindo Vaquero y Mayor. “A construção civil não tem outra alternativa senão buscar a racionalização e a industrialização. Não tem como fazer com que a construção civil seja uma ação artesanal. Se a gente está buscando eficiência, produtividade e desempenho, não será com artesanato que será feito. Será feito com a industrialização do setor e a otimização dos recursos”, disse o dirigente. 

Com o seminário Habitação Econômica, a ABCP focou a industrialização na área residencial. No núcleo dos debates esteve o programa Minha Casa, Minha Vida. Segundo Hugo Rodrigues, foi a oportunidade de mostrar que a tecnologia a base de cimento, combinada com a industrialização, pode ajudar o programa avançar. “A grande maioria dos sistemas a base de cimento utilizam alvenaria estrutural com blocos de concreto, placas cimentícias, paredes monolíticas de concreto ou paredes de concreto. A ideia do seminário foi mostrar que estes sistemas são racionais e industrializáveis e, por isso, mais ágeis”, comentou. 

Arcindo Vaquero y Mayor, presidente da ABESC

Já a ABESC procurou difundir as construções baseadas em paredes de concreto. “O país tem uma necessidade enorme de atender o déficit habitacional e esse modelo de construção é econômica, rápida e eficaz, além de oferecer bom desempenho termoacústico. No Concrete Show promovemos um seminário só sobre paredes de concreto, voltado para construtoras de médio porte”, explicou Arcindo Vaquero y Mayor. A ABESC também coordenou um estande sobre pavimentos rígidos em concretos drenantes e o uso de concreto em calçadas. 

 

Entrevistados
Hugo Rodrigues, gerente nacional de comunicação da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)
Arcindo Vaquero y Mayor, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Serviços de Concretagem (ABESC)
Currículos
 

Hugo da Costa Rodrigues Filho é graduado em engenharia civil, com mestrado em Materiais de Construção, pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) (1977 e 1993)
- Concluiu MBA em Comunicação e Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) (2002)
- Atualmente integra comissões de institutos, como o de Comunicação e Produção de Cimento da Federação Interamericana del Cemento (FICEM). Também fez parte da coordenação executiva dos 4º, 5º, 6º e 7º seminários da Indústria da Construção e do Construbusiness da Comissão da Indústria da Construção da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (DECONCIC/FIESP)
- Gerencia a área de Comunicação da ABCP 

Arcindo Vaquero y Mayor é engenheiro civil formado na Universidade Mackenzie, em 1976
- Possui cursos de aperfeiçoamento nos Estados Unidos e na Suíça
- Consultor na área de tecnologia do concreto dosado em central e meio ambiente, desenvolvendo trabalhos para a ABESC (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem) e a FIPH (Federación Ibero Americana de Hormigón Premezclado); Leão Engenharia
- Responsável por mais de 15 milhões de m³ de concretos aplicados
Contatos: hugo.rodrigues@abcp.org.br / arcindo@abesc.org.br 

Crédito Fotos: Divulgação/Concrete Show/ABCP/ABESC 

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Brasil terá 1º parque tecnológico para pesquisas da construção civil

Projeto vai custar R$ 25 milhões e conta com o apoio da CBIC, SindusCon-DF, Ademi, governo do Distrito Federal e a britânica Building Research Establishment

Por: Altair Santos

Foi no 83º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), ocorrido em agosto de 2011, que a construção civil brasileira recebeu uma boa notícia: a de que será erguido em Brasília o primeiro parque tecnológico voltado exclusivamente para pesquisas no setor. Batizado de Parque de Inovação e Sustentabilidade do Ambiente Construído (Pisac), o novo centro de desenvolvimento nasce de uma parceria entre o setor produtivo (representado pela CBIC, SindusCon-DF e Ademi-DF), o governo do Distrito Federal, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a empresa inglesa Building Research Establishment (BRE) que tem 94 anos de experiência em desenvolvimento de pesquisa e inovação na área da construção.

O parque tecnológico vai abranger uma área de 20 mil m², dentro do campus da UnB (Universidade de Brasília) na cidade satélite do Gama, e as obras começam em 2012. O investimento inicial será de R$ 25 milhões. A ideia é que as pesquisas desenvolvidas no Pisac orientem a indústria para construções com materiais pouco poluentes, custo reduzido de água e energia e com geração de menos carbono na atmosfera. O projeto, que estará atrelado ao Laboratório do Ambiente Construído, Inclusão e Sustentabilidade (Lacis) da UnB, prevê também a necessidade de identificar fragilidades e gargalos na cadeia produtiva, além de prospectar novos métodos de engenharia e tecnologia para a construção civil.

Peter Bonfield, presidente da Building Research Establishment: em agosto de 2011, ele visitou a área do PqT da Construção Civil

O Pisac terá como modelo o parque tecnológico que a Building Research Establishment (BRE) mantém em Londres, na Inglaterra. Lá existe uma pequena vila, com dez casas, onde são feitas simulações de tecnologias de adaptação para os efeitos das mudanças climáticas, a fim de testar a resistência dos mais variados materiais. Também há experiências com diferentes modelos construtivos que contemplem os conceitos de sustentabilidade e inovação. No dia da assinatura do acordo, em 10 de agosto de 2011, o presidente da BRE, Peter Bonfield, esteve em Brasília para visitar a área em que será o Parque Tecnológico (PqT) voltado exclusivamente para a construção civil.

O Brasil atualmente tem 25 parques tecnológicos em operação, 17 em fase de implantação e 32 no papel, segundo a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec). Por regiões do país, a Sudeste abriga 64% dos PqTs, enquanto Nordeste e Sul têm respectivamente, 32% e 13%. No Centro-Oeste, o primeiro a ser implantado será o Pisac, enquanto no Norte está em fase final de conclusão o Parque de Ciência e Tecnologia de Guamá, que vai ocupar uma área de 72 hectares dentro da Universidade Federal do Pará (UFPA) em Belém. Os estudos deste PqT vão se concentrar em TI, energia, tecnologia do alumínio e biotecnologia.

No Brasil, o mais antigo parque tecnológico é o da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB) em Campina Grande. Fundado em 1984, sua especialidade é Ciência, Tecnologia e Informação (CT&I). Atualmente, estima-se que hoje os PqTs em operação no país abriguem quase 550 empresas incubadas, gerando faturamento médio de R$ 1,687 bilhão,  R$ 116 milhões em exportação e R$ 119 milhões de geração de impostos para os cofres públicos, além de 26.233 postos de trabalho. Mesmo assim, o Brasil comparece com nem 1% dos parques tecnológicos existentes no mundo, que hoje ultrapassam a marca de 1.400.

Francilene Garcia, vice-presidente da Anprotec: “Percebe-se ainda uma forte dependência de recursos públicos, com poucos investimentos privados”

Há muito a ser fazer no Brasil, diz Anprotec
A vice-presidente da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores), Francilene Garcia, avalia que o Brasil ainda tem muito a avançar na construção de parques tecnológicos. Segundo ela, há ainda muita dependência de recursos públicos. No entanto, reconhece que houve evolução a partir da década passada, principalmente com a entrada da iniciativa privada. É o que avalia na entrevista a seguir. Confira:

A maioria dos parques tecnológicos em operação no Brasil se concentra em que tipo de pesquisa?
Há uma grande sinergia deles nas áreas de tecnologia da informação, energia, eletroeletrônica, biotecnologia, mídia e audiovisual, tecnologias limpas, petróleo e derivados, nanotecnologia e químico farmacêutica.

Boa parte dos parques tecnológicos no Brasil tem vínculos com universidades públicas. Por que isso ocorre?

Praticamente todos eles possuem vínculos com universidades públicas ou privadas.  A capacidade instalada de pesquisa e desenvolvimento nas universidades brasileiras é o maior atrativo para esta parceria, facilitando o acesso dos empreendimentos inovadores ao conhecimento gerado e aos ambientes, como laboratórios e equipamentos de alta complexidade. Outro fator bastante significativo é o acesso facilitado aos profissionais altamente qualificados egressos dos cursos de graduação e pós-graduação, o que é um diferencial para startups de pesquisas.

Falta ao Brasil ter o governo como um indutor maior de pesquisa e inovação?
Essa trajetória tem sido construída pelos governos, progressivamente desde a década passada, mas ainda há muito a construir. Alguns dos avanços já foram conquistados, como o marco legal com regulamentações que incentivam a inovação e a captação de recursos provenientes dos instrumentos de fomento do Sistema de CT&I (Ciência, Tecnologia e Informação) operacionalizados por agentes como FINEP, BNDES/FUNTEC e programas de investimento em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) vinculados a legislações específicas, tais como Lei de Informática, Lei do Petróleo e Lei de P&D em Energia.

Em relação à iniciativa privada, ela participa de programas de pesquisa em um volume considerável?
Tratando-se de projetos e implantações de parques tecnológicos, percebe-se ainda uma forte dependência de recursos públicos, com poucos investimentos privados. Em alguns casos de parques tecnológicos em operação, progressivamente começamos a ver a chegada dos investimentos privados, com destaque para as áreas imobiliárias e financeiras. É importante destacar os incentivos atuais para que empresas de médio e grande porte (em termos de faturamento) passem a investir mais em P&D. Estamos ainda iniciando tal trajetória no Brasil. Neste sentido, estamos avançando no sentido de se definir uma política nacional de apoio a parques tecnológicos, estabelecendo claramente o papel dos vários atores: governo federal, governos estaduais, governos municipais, universidades e setores industriais e financeiros.

Há muitas empresas multinacionais vindo ao Brasil para fomentar a pesquisa. Isso tende a tornar sustentável a pesquisa e a inovação no Brasil?
O Brasil tem atraído em especial centros de P&D de importantes empresas multinacionais, a exemplo do Centro de P&D da GE (General Electric) que irá se instalar na Ilha do Fundão, no parque tecnológico do Rio de Janeiro. A implantação física de tais centros mobiliza outros investimentos em CT&I, acelerando o crescimento e a inserção internacional de empresas instaladas nesses ambientes, estimulando um incremento do investimento privado. Seguindo por este caminho, certamente teremos como alavancar empreendimentos inovadores mais sustentáveis.

Na América do Sul, o Brasil já é líder em volume de parques tecnológicos e pesquisas?

Sim, o movimento brasileiro de empreendedorismo inovador está bem posicionado globalmente. A Anprotec é uma das fundadoras da World Alliance for Innovation (WAINOVA). Uma importante fonte de pesquisa sobre a realidade mundial e na América do Sul é o recém lançado Atlas Mundial da Inovação (http://www.wainova.org).

A Anprotec realiza em outubro o 21º seminário nacional de parques tecnológicos e incubadoras de empresas. Qual será o foco dos debates que acontecerão no encontro?

Sob o tema “Nova Competitividade dos Territórios”, o 21º Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas e o XIX Workshop Anprotec abrem um espaço de reflexão onde se avalia o papel de parques e incubadoras na construção de um caminho pautado pela sinergia dos mecanismos de inovação e a conjugação de estratégias para uma sociedade mais criativa. Realizado pela Anprotec em parceria com o Sebrae, contará com a organização local do Parque Científico e Tecnológico da PUC-RS (Tecnopuc) e da Rede Gaúcha de Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos (Reginp). Reconhecido como um dos principais eventos do setor, o Seminário reúne os líderes e especialistas do movimento de inovação e empreendedorismo. Por meio de minicursos, palestras e debates sobre como tornar as ações em âmbito local mais integradas em um contexto regional e, ao mesmo tempo, mais competitivas, os participantes têm a oportunidade de trocar experiências e contribuir para o desenvolvimento nacional em bases sustentáveis. Outros detalhes podem ser encontrados no site do seminário: http://www.seminarionacional.com.br

Lançamento do Parque de Inovação e Sustentabilidade do Ambiente Construído (Pisac) ocorreu durante o 83º Enic, em agosto

Entrevistada
Francilene Procópio Garcia, vice-presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)
Currículo

- Graduada em Ciência da Computação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
- Tem mestrado em Informática e doutorado em Engenharia Elétrica
- Preside a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB), em Campina Grande (PB)
- É professora da Universidade Federal de Campina Grande desde 1989
- Integra o Conselho estadual de Ciência e Tecnologia da Paraíba
- Tem mais de 20 artigos técnico publicados e já visitou parques tecnológicos nos seguintes países: Argentina, Austrália, Bélgica, China, Cingapura, Coréia do Sul, EUA, França, Hong Kong, Reino Unido, Japão, Malásia, e Taiwan
Contato: francilenegarcia@gmail.com

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Falta de engenheiros pode comprometer crescimento

Alerta parte da Abenge (Associação Brasileira de Ensino de Engenharia) que demonstra preocupação com a alta evasão de estudantes nas universidades

Por: Altair Santos

Pela quantidade de vagas de que oferece nas universidades públicas e privadas, o Brasil poderia formar pelo menos 90 mil engenheiros por ano. No entanto, a média anual do país tem sido de 40 mil. Isso o deixa em penúltimo lugar, se comparado com os demais países do chamado BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Sem termo de comparação com os chineses, que são quase 1,5 bilhão e formam 650 mil profissionais de engenharia por ano, o Brasil, que tem uma população de 193 milhões, está bem atrás da Índia (220 mil engenheiros formados por ano) e da Rússia (190 mil).

Professor Vanderli Fava de Oliveira, diretor da Abenge: “Qualquer setor que queira crescer depende, antes de tudo, da engenharia civil.”

O problema brasileiro se concentra no baixo interesse dos estudantes de ensino médio pelos cursos de engenharia, principalmente os oferecidos pelas universidades privadas, e no elevado nível de evasão dos cursos de graduação. Por isso, ao longo de 2011 a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) tem realizado reuniões, através do Grupo de Trabalho (GT) das Engenharias, para analisar a situação da formação de engenheiros no Brasil e propor medidas que tornem os cursos mais atrativos.

Na visão do diretor da Abenge (Associação Brasileira de Ensino de Engenharia), Vanderli Fava de Oliveira, que integra o GT-Engenharias, essa falta de engenheiros, principalmente na área engenharia civil, pode comprometer o crescimento do país. É o que ele analisa na entrevista a seguir. Confira:

Recentemente, o Grupo de Trabalho (GT) das Engenharias, ligado ao Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) constatou alta evasão dos cursos de engenharia. Como a Abenge vê isso, e mais: está sendo feito algo para reverter esse quadro?
De fato, a evasão é bastante alta. Participei do núcleo de pesquisa que forneceu estes dados para o grupo de trabalho da Capes, que é apoiado pela Abenge. Verificamos que a evasão nos cursos de engenharia (abrangendo todas as especialidades) está em torno de 54%. Essa é uma média dos últimos dez anos e só recentemente essa evasão começou a decrescer. Evidentemente, que nas universidades públicas a evasão é um pouco menor, cerca de 41%. Nas escolas privadas passa de 60%. É um número muito alto, dadas as necessidades atuais de engenheiros.

Há motivos que expliquem essa evasão?
Vemos isso com muita preocupação, pois o Brasil carece de gente para trabalhar em tecnologia e, ao mesmo tempo, convive com alunos que um dia quiseram fazer engenharia, chegaram a passar no vestibular, mas logo nos dois primeiros anos abandonaram o curso. Por isso, a Abenge tem participado de atividades e tem reivindicado, junto ao MEC, que sejam desenvolvidos programas para despertar vocações e para reter o aluno nas universidades, quer dizer, criar condições e melhorar os projetos pedagógicos dos cursos de engenharia para que o aluno não os abandone. Uma das razões do abandono é a dificuldade que o estudante tem de levar o curso na parte de matemática e física, principalmente. Ele não é bem preparado no ensino médio para o grau de exigência dos primeiros anos do curso de engenharia. Mas isso pode ser resolvido facilmente com novas metodologias, utilizando melhor os meios de ensino e aprendizagem disponíveis. Enfim, com melhorias de processamento de ensino e aprendizagem dá para reduzir bastante esta evasão assustadora.

Especificamente sobre engenharia civil, constata-se também evasão grande dos cursos pelo país afora?
A civil, até pouco tempo, era uma das que mais tinha índice de evasão. Aliás, além da evasão nós temos outro problema: a retenção. A média é maior que seis anos e meio. Em muitas escolas, o aluno leva até sete anos para se formar, ou seja, ele fica retido além da expectativa do curso, que é de ser concluído em cinco anos.

Outro dado preocupante apurado pelo GT das Engenharias é que boa parte das vagas oferecidas em vestibular não são preenchidas. A que se deve isso?

Nas públicas, 94% das vagas são ocupadas. Nas privadas, não. O que ocorre é que as privadas abrem em média 140 vagas por curso. Nós não temos nenhum documento oficial que diga isso, mas percebemos que as privadas abrem muitas vagas no início, porque já sabem do índice de evasão. Então, fazem isso com a expectativa de aumentar o número de concluintes, pois se abrissem um pequeno número de vagas correriam o risco de formar menos alunos ainda. Por isso, abrem em média 140 vagas. São muitas vagas e aí, muitas vezes, não encontram alunos suficientes para preenchê-las. Houve um crescimento bem grande de cursos de engenharia, hoje estamos com cerca de 2.500 cursos funcionando em todo o país.

Há algum trabalho da Abenge ou de outro organismo para disseminar o interesse pelos cursos de engenharia?
O nosso trabalho é em conjunto com outros organismos como, por exemplo, este caso da Capes. Tem ainda o projeto Nova Engenharia, que é patrocinado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) e pelo sistema CONFEA/CREA. Enfim, são ações, mas que precisam de um apoio oficial do governo, no sentido de fomentá-las. Senão, elas não têm grande alcance. É essencial para a questão do desenvolvimento. O país cresce, mas a base da economia são as commodities. O Brasil não tem tecnologia de ponta. Nosso único produto competitivo a nível internacional são os aviões da Embraer. Em questão de automóveis e eletroeletrônicos, ficamos para trás. O país vai bater num ponto em que não vai conseguir se desenvolver mais, pois não apostou em tecnologia, não apostou em desenvolvimento tecnológico. E o ator principal do desenvolvimento tecnológico é o engenheiro.

Não seria o caso de rever a grade curricular, para tornar os cursos mais atraentes, mais práticos e menos teóricos?
Mais do que isso, é rever os projetos pedagógicos do curso. O problema central hoje está no processamento das atividades, quer dizer, nós encontramos muitas aulas sendo dadas hoje iguais às que eram ensinadas no começo do século passado, onde o professor ficava na frente falando para uma porção de alunos sentados nas carteiras. Isso está superado. Isso não forma. Outra questão é a atividade prática ou atividade contextualizada, onde o aluno deve aprender em situações o mais próximo possível do real. Hoje, o que as empresas querem? As empresas não estão muito interessadas no que o aluno sabe, mas no que ele sabe fazer com o que aprendeu na escola. Isso só se desenvolve através de atividades de contextualização do conhecimento que ele vai adquirindo, ou seja, o aluno ao estudar um conceito tem de ver como este conceito é aplicado na prática, como é que ele acontece dentro de uma empresa ou numa situação real ou num problema real de engenharia.

De qualquer forma, por causa da oferta de trabalho, parece ter crescido o volume de alunos que procuram os cursos de engenharia, correto?
Nas universidades públicas, sim. Quanto às privadas, elas ainda têm dificuldade em fazer o aluno entender que tem muitas de boa qualidade também. Então o estudante fica pensando que só as públicas têm qualidade, mas tem muitas privadas com cursos excelentes.

Dos países do chamado BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) o Brasil forma menos engenheiros que China, Rússia e Índia. O que precisaria ser feito?

Primeiro fomentar vocações. Quer dizer, despertar vocações no ensino fundamental ou médio, mostrando que matemática e física não são bichos de sete cabeças. Segundo, investir pesadamente na mudança dos projetos pedagógicos dos cursos para que eles possam melhorar a forma como o conhecimento de engenharia é disponibilizado por aluno.

O crescimento sustentável da construção civil brasileira depende da formação de mais engenheiros. Esse paradoxo pode atrapalhar o setor?
Pode sim. Qualquer setor que queira crescer depende, antes de tudo, da engenharia civil. O engenheiro civil é aquele que monta a infraestrutura, é aquele que vai criar as condições para que um empreendimento aconteça. É ele que vai criar as condições infraestruturais para que o produto seja distribuído e gerado, seja através de estradas, aeroportos, portos e usinas. Tudo isso passa pela engenharia civil. Se tivesse que escolher por onde começar a melhoria, deveríamos começar pela engenharia civil.
Em função da falta de engenheiros, o Brasil não corre o risco de ver essas vagas ociosas serem absorvidas por estrangeiros?
É um fenômeno que está batendo nas nossas portas. O Brasil hoje tem convênio com países do Mercosul. Trata-se de um intercâmbio entre muitas universidades brasileiras, que podem receber alunos de fora para que venham cursar disciplinas aqui. Estamos a caminho da dupla diplomação. Nós já temos muitos engenheiros chilenos, uruguaios e argentinos trabalhando no Brasil. Não é de todo ruim. Por quê? Se o Brasil não consegue formar o suficiente, vai trazer de fora. Por exemplo, os Estados Unidos precisam de 100 mil engenheiros por ano. Trinta mil ele importa e setenta mil ele forma. Mas o bom seria que, para a demanda interna, o Brasil formasse seus próprios engenheiros, o que hoje não acontece.

Entrevistado
Vanderli Fava de Oliveira, diretor de comunicação da Abenge (Associação Brasileira de Ensino de Engenharia)
Currículo

- Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em 1979
- Tem Mestrado (1993) e Doutorado (2000) em Engenharia de Produção pela Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - COPPE/UFRJ
- Pós-Doutorado (2009) pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
- Atualmente é Professor Associado III da UFJF, Secretário de Avaliação Institucional da UFJF e Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Formação e Exercício Profissional da Faculdade de Engenharia da UFJF (NUPENGE)
- Membro designado (portaria 747/2009-MEC) da Comissão Técnica de Acompanhamento e Avaliação (CTAA) do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira (INEP), Avaliador de Cursos do Sistema ARCU-SUR (Sistema de Credenciamento Regional de Cursos de Graduação em Engenharia dos Estados Partes do MERCOSUL e Estados Associados)
- Membro da Comissão do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes - ENADE 2005, 2008 e 2011 - INEP/MEC
- Membro da Equipe Técnica do Programa Regional de Educación para el Desarrollo de Capacidades en Innovación Tecnológica y Emprendedorismo en Carreras de Ingeniería (PRECITYE) - Argentina, Brasil, Chile e Uruguai - financiado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)
- Diretor da Associação Brasileira de Ensino de Engenharia (ABENGE)
- Membro do Grupo de Trabalho de Graduação da Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO)
- Membro da Comissão de Especialistas em Engenharia de Produção do CONFEA/MEC
- Coordenador das Sessões Dirigidas do ENEGEP (Encontro Nacional de Engenharia de Produção) e do COBENGE (Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia) desde 2007
- Membro do Comitê Científico dos periódicos: Revista de Educação em Engenharia (0101-5001) - Produto & Produção (1516-3660) - Graf & Tec (1413-6481), - Revista Educação Gráfica - Revista GEPROS (1809-614X) - Revista Eletrônica Produção & Engenharia
Contato: vanderli@acessa.com / vanderli.fava@ufjf.edu.br

Crédito Foto: Divulgação/Abenge

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330

Principal norma de treinamento ainda encontra resistência das empresas

A NBR ISO 10015 completa dez anos e foi criada para qualificar a gestão com base no investimento em pessoas. Quem a adotou, hoje comemora com produtividade e eficiência

Por: Altair Santos

Se a década que passou pertenceu à China, o país deve muito à ISO 10015:2001. A norma que define diretrizes para treinamento tornou-se fundamental para que a indústria chinesa se tornasse competitiva e agregasse qualidade aos seus produtos. Hoje, quase todas as grandes companhias da maior nação do mundo já adotam a ISO 10015, que foi lançada há dez anos, mas no Brasil ainda encontra resistência das empresas.

Benedito Milioni: preceitos da norma ISO 10015 precisam ser entendidos como investimento.

A norma nasceu como um desdobramento da família NBR ISO 9000, que enfatiza a importância da gerência de recursos humanos e a necessidade de treinamento adequado. Com a ISO 10015:2001, os instrumentos para gerir os processos de T&D (Treinamento e Desenvolvimento) ficaram mais detalhados. “Ela permite a alavancagem do desempenho por via da supressão dos gaps (lacunas) de competências, ou seja, reduz ou anula a diferença entre o que o cargo contempla e exige, em termos de padrões de desempenho, e a efetiva performance de quem o ocupa”, explica o diretor-técnico da ABTD (Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento), Benedito Milioni.

Como não tem obrigatoriedade de certificação e nem é exigido no Brasil como diferencial competitivo em contratos ou concorrências, a ISO 10015:2001 teve pouca adesão no país. Estima-se que mais de 50% das companhias nacionais ainda desconheçam a norma, apesar de seus 10 anos. “Ela foi pouco ou nada absorvida pelas nossas empresas”, lamenta Milioni, avaliando que quem aderiu à norma hoje faz grande diferença no mercado. “São corporações em sintonia com a modernidade na área de gestão de pessoas e que assumem um papel estratégico da maior importância dentro do país, no qual a educação é a única saída para seus problemas atuais e futuros”, completa.

Milioni ressalta ainda que empresas com colaboradores mal treinados arriscam-se a cair num círculo vicioso cruel, que é: baixa produtividade e rentabilidade, resultando em empregados mal remunerados, com baixo desempenho e que geram mais perdas e mais despesas. “Essas empresas precisam entender a diferença entre custo, despesa e investimento, bem como as perspectivas da relação custo/benefício, de valor agregado e de retorno dos investimentos na esfera da educação empresarial. Só assim entenderão que o melhor investimento a ser feito é no talento humano”, enfatiza o diretor-técnico da ABTD.

Ideal para a construção civil
Diante do atual momento da construção civil brasileira, que sente a carência de mão de obra qualificada, Benedito Milioni avalia que o setor deveria investir na 10015:2001 para obter ganhos de produção e reduzir acidentes de trabalho e a alta rotatividade nos canteiros de obras. “A NBR 10015:2001 é uma poderosa ferramenta para o restabelecimento da cientificidade nos processos industriais”, afirma, destacando que a norma não pode, no entanto, ser aplicada com amadorismo, empirismo ou apenas para se atingir a meta de homens/hora/treinamento ou para satisfazer as exigências da auditoria de qualidade. “Isso gera uma combinação perversa: dinheiro jogado fora, insatisfação dos que passam pelas ações de treinamento e perda de credibilidade dos gestores e técnicos da área de Treinamento e Desenvolvimento”, alerta.

Fundamentos básicos da ISO 10015:
Definir necessidades de treinamento
Projetar e planejar treinamento
Executar treinamento
Avaliar resultados do treinamento

Objetivos da ISO 10015:

Aumentar a produtividade, as vendas, o lucro e o retorno do investimento
Reduzir custos, desperdícios, acidentes e rotatividade do pessoal
Melhorar continuamente a gestão da qualidade

Estágios da aplicação da ISO 10015

Entrevistado
Benedito Milioni, diretor-técnico da ABTD (Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento)
Currículo

- Tem 38 anos de carreira, em cargos executivos de Recursos Humanos e Vendas e Marketing
- É professor universitário nas cadeiras de Teoria Geral da Administração, Gestão Estratégica e Recursos Humanos. Atualmente, é professor especialista em cursos MBA.
- Palestrante e expositor em eventos nacionais e internacionais. Professor convidado de diversas entidades públicas e privadas de países íbero e latino-americanos.
- Articulista em jornais e revistas.
- Diretor Técnico da ABTD-Nacional (Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento)
Coordenador científico e geral do CBTD (Congresso Brasileiro de Treinamento e Desenvolvimento) em 2001, 2002 e 2003
Contato: miriam@milioni.com.br (assessoria de imprensa)

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330