Cimento e concreto inspiram produtos de acabamento
Com o estímulo de uma nova corrente de arquitetos, materiais estão cada vez mais presentes em pisos, tintas e até drywall
Por: Altair Santos
O cimento e o concreto estão na moda. Não só "in natura", mas inspirando outros elementos comuns à construção civil, como tintas, pisos e drywall. Para o arquiteto Guilherme Torres, especialista em usar o cimento e o concreto em seus projetos, hoje há uma corrente bastante influenciada por esses materiais. "O conceito de se mostrar a arquitetura como ela é, aliado à neutralidade dos produtos, faz com que seja crescente a exploração do cimento e do concreto, seja na forma bruta ou usando componentes que os agreguem. Acho que por isso eles estão na moda", avalia.
No caso do drywall, por exemplo, placas cimentícias já competem com o gesso na fabricação do produto e se revelam mais resistentes. Uma das técnicas é usar o chamado CRFS (Cimento Reforçado com Fio Sintético) na fabricação deste tipo de parede. Trata-se de um material produzido com uma mistura homogênea de cimento Portland e agregados naturais reforçados com fios sintéticos.Uma das vantagens do produto é que ele pode ser usado em áreas úmidas e receber aplicação de argamassa e revestimentos cerâmicos.
Outro elemento que ganha espaço nas construções é o tecnocimento. O revestimento agrega cimentos especiais, pó de limestone (espécie de pó de pedra), pó de mármore e pó de quartzo e imita o cimento queimado. Uma de suas vantagens é que não possui juntas, pois não apresenta trincas de contração ou dilatação do material, quando aplicado sobre uma superfície sólida, sem trincas e bem aderida. Outra peculiaridade do produto é que pode ser aplicado em pisos, paredes e tetos, tanto interna quanto externamente. O produto tem espessura média de 2 mm - equivalente a de um cartão de crédito.
O cimento também é o elemento-base do Tyrolean, um acabamento intermediário entre a tinta e a argamassa. Segundo o arquiteto Guilherme Torres, a quantidade de materiais que se utilizam do cimento cresceu muito depois que foram encontradas soluções para a luminotécnica e o isolamento termoacústico do produto. "Hoje já há soluções construtivas e também agregados que dão segurança aos projetos que priorizam a utilização de pisos e paredes à base de cimento e de concreto", garante.
Entrevistado
Arquiteto Guilherme Torres
Currículo
- Arquiteto graduado pelo Centro de Estudos Superiores de Londrina (UNIFIL, 1998) e pós-graduado em MBA Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV, 1999)
- Possui um considerável número de premiações e já participou de eventos de arquitetura na Sérvia, Ucrânia, China, Estados Unidos, Grécia, Turquia, Espanha, Suíça, Itália, Alemanha, Hungria e Londres
- Divide-se hoje entre seus studios em São Paulo e em Londrina, com vários fronts de atuação, de projetos residenciais e comerciais a design de mobiliário
Contato: www.guilhermetorres.com/contato
Crédito: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Construir pontes começa pelo papel e pelo macarrão
Universidades promovem concursos para alunos de engenharia civil aprenderem a estruturar edificações de concreto ou pré-fabricados
Por: Altair Santos
Já é tradição em um bom número de escolas de engenharia promover competições em que o objetivo final é construir pontes com materiais como papel ou espaguete. Vence a equipe que projetar a estrutura que mais suportar peso. No Brasil, as universidades federais de Juiz de Fora e do Rio Grande do Sul estão entre as que realizam essa atividade há mais tempo. O país já conta com 15 cursos de engenharia civil que incentivam campeonatos deste tipo. O mais recente a aderir foi o da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Segundo o professor Marcelo Medeiros, do departamento de construção civil da UFPR, o envolvimento dos alunos nestas competições os ajudam a ter noções de como se projetam estruturas de concreto. "É possível traçar um paralelo com as estruturas confeccionadas em pré-moldado. Por exemplo, uma etapa do concurso é a apresentação do projeto estrutural, que exige que os alunos façam todos os cálculos de resistência do papel para aplicá-los na fabricação das pontes. Neste momento, os alunos precisam raciocinar onde estão os esforços de compressão e os de tração e aplicar teorias de dimensionamento. É exatamente o que se faz para o concreto armado", explica.
No concurso da UFPR, as pontes deveriam ser instaladas em um vão livre de pelo menos 100 centímetros e teriam que resistir à maior carga possível até a ruptura. Venceu o projeto que suportou 18 quilos. Foram usados apenas papel e cola na elaboração das estruturas. As equipes inscritas contaram com a orientação dos 12 alunos que formam o grupo PET (Programa de Educação Tutorial) do curso de engenharia civil da Universidade Federal do Paraná - organizador do campeonato -, e do qual o professor Marcelo Medeiros é o orientador. "O grupo PET foi criado para idealizar projetos que estimulem os alunos do curso de engenharia civil, até para diminuir a evasão escolar", diz Medeiros.
Os alunos que integram o PET são bolsistas. Ao ingressar no programa, eles ganham condições de realizar atividades extracurriculares para completar a formação acadêmica. A inspiração vem de conceitos criados nas universidades americanas, como os honours programs. Atualmente, no Brasil, o Programa de Educação Tutorial conta com 400 grupos em instituições de ensino superior públicas e privadas. São 4.274 alunos bolsistas e 400 tutores, um para cada grupo de pesquisa. A cada ano, o programa lança um edital com 30 novas vagas. O PET que funciona no curso de engenharia civil é um dos 17 em operação na UFPR.
Recorde mundial
Entre as universidades brasileiras que promovem concursos de pontes, a UFRGS detém o recorde mundial. O departamento de engenharia civil da escola de Porto Alegre realiza campeonatos desde 2004, só que utiliza o macarrão espaguete, cola e epoxi como materiais. Em novembro de 2011, o projeto da equipe formada pelas Carlise Schmitz, Bruna Zakharia e Tieli Silva Fraga resistiu 234 kg antes de romper. A marca superou o recorde mundial de 176 kg, que pertencia à Okanagan University College, nos Estados Unidos, também usando uma estrutura feita com macarrão.
Entrevistado
Marcelo Medeiros, professsor do Departamento de Construção Civil (DCC) da UFPR,
vice-coordenador do Programa de Pós-graduação em Construção civil (PPGCC) e tutor do Grupo PET-Civil (Programa de Educação Tutorial)
Currículo
- Graduado em engenharia civil pela Universidade de Pernambuco (1999)
- É mestre em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (2002) e doutor em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (2007)
- Atualmente é professor da Universidade Federal do Paraná onde tem ministrado aulas na graduação e pós-graduação strictu sensu
- É professor colaborador de cursos de pós-graduação Latu sensu da Universidade de Pernambuco e Universidade do Oeste de Santa Catarina
- É membro colaborador do Colaboración Interamericana en Materiales (CIAM) no México
- Atuou nos trabalhos de inspeção, diagnóstico e projeto de recuperação de obras de arquitetos renomados, como Oscar Niemeyer (Brasil), Villa Nova Artigas (Brasil) e Fresnedo Siri (Uruguai)
- Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em materiais de construção, patologia e terapia das estruturas de concreto, atuando principalmente nos seguintes temas: durabilidade, concreto armado, reparo, dosagem de concreto e argamassa, ataque por cloretos, corrosão de armaduras e vida útil
Contato: medeiros.ufpr@gmail.com / http://www.petcivil.blogspot.com
Veja vídeo da ponte que bateu o recorde mundial: Clique aqui
Créditos foto: Divulgação/UFPR/UFRGS
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Consumo de cimento atinge 64,5 milhões de toneladas
Previsões do SNIC indicam que até 2016 Brasil estará com capacidade instalada para produzir 110 milhões de toneladas por ano
Por: Altair Santos
A indústria de cimento no Brasil tende a fechar 2011 com um crescimento equivalente a 9% em relação a 2010, com o consumo atingindo a marca de 64,5 milhões de toneladas. Se confirmada a projeção do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) o setor terá gerado 5,4 milhões de toneladas a mais do que no ano passado. "Nossa previsão se baseia no consumo e nos sinais que as vendas internas estão dando", diz o presidente do SNIC, José Otávio Carneiro de Carvalho.
O otimismo do dirigente é projetado também para 2012. No ano que vem, o setor prevê o viés de crescimento a uma taxa que deverá variar entre 6% e 7%. São estimativas que reforçam a expectativa do SNIC de que até 2016 o Brasil terá superado a marca de 100 milhões de toneladas/ano na produção de cimento. "Com base nos projetos que estão sendo anunciados, nossa conta até ultrapassa esse número, pois já projetamos 110 milhões de toneladas até 2016", afirma José Otávio Carneiro de Carvalho.
O presidente do SNIC ressalta que, de 2005 para cá, a indústria cimenteira tem investindo fortemente em seu processo de produção, inaugurando novas fábricas e ampliando as já existentes, o que sustenta seu otimismo. "Nos últimos cinco, seis anos, nossa capacidade instalada ganhou um acréscimo de cinco milhões de toneladas/ano. Até 2016, serão mais 30 milhões de toneladas/ano, o que me deixa otimista para atingirmos a marca de 110 milhões de toneladas", assegura.
Por conta destas projeções, o SNIC descarta qualquer hipótese de o Brasil vir a precisar importar cimento para manter o ritmo de crescimento da construção civil. "O que aconteceu nos dois últimos anos foram importações residuais, absolutamente pontuais e localizadas para atender necessidades momentâneas, como a diferença entre demanda e capacidade de oferta ainda não concretizada. A partir de agora, não vejo nenhum risco de que isso possa acontecer", garante.
Segundo José Otávio Carneiro de Carvalho, o Brasil só não atinge patamares maiores de consumo de cimento por causa dos gargalos gerados pela infraestrutura, pela falta de capacitação de pessoal e pelos tributos. "Poderíamos crescer bem mais", avalia, citando que o setor da construção civil voltado para a área habitacional é o que mais impulsiona a venda de cimento hoje no país. "Esse segmento de obras habitacionais tem dado uma grande contribuição para o aumento de consumo", relata.
Por conta do crescimento do setor habitacional, o SNIC verifica que a região sul do país (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) começa a recuperar sua capacidade de consumir cimento, e que recentemente foi suplantada pelos estados do Nordeste. "O sul vem recuperando sua atividade neste ano", aponta o presidente do sindicato. A estimativa é que a região feche o ano com uma fatia de 15% no total de consumo do país contra 14,8% do ano passado.
Entrevistado
José Otávio Carneiro de Carvalho, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento
Currículo
- Graduado em engenharia de produção pela PUC-RJ (1965)
- Em 1969, concluiu pós-graduação em engenharia econômica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
- Entre 1975 e 1978, integrou a equipe de assessoria econômica do então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen
- Desde 1982 atua no setor de cimento, onde prestou consultoria em diversos projetos
- Em 2001, foi convidado para o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), onde assumiu a função de secretário executivo e depois se tornou vice-presidente executivo da entidade
- No início de 2011, assumiu o cargo de presidente do SNIC
Contato: secretaria@snic.org.br
Créditos foto: Divulgação/SNIC
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Empresas investem no "psicologicamente saudável"
Ter programas que buscam o bom ambiente de trabalho não é exclusividade das grandes corporações e independe do setor de atividade
Por: Altair Santos
Dar atenção à qualidade de vida de seus colaboradores é uma missão cada vez mais valorizada dentro das corporações, independentemente do setor de atividade econômica ou do tamanho da companhia. Quem age assim enquadra-se no perfil de Empresa Psicologicamente Saudável (EPS) - uma nomenclatura criada pela Associação Americana de Psicologia (APA), nos Estados Unidos, e que recentemente passou a ser adotada no Brasil. Não há uma certificação específica para definir EPS. Neste caso, o que vale, são as boas práticas capazes de gerar um ambiente positivo de trabalho, e que irão se refletir também na vida pessoal do trabalhador.
Alberto Ogata, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida, cita que há no país um bom número de empresas de pequeno e médio porte que já atingiu o nível de EPS apenas tomando medidas que privilegiam a saúde física e mental do trabalhador. "Há exemplos de empresas que conseguiram transformar o ambiente de trabalho somente melhorando a comunicação com os colaboradores. Isso influenciou na saúde emocional daqueles que sentiam a necessidade de receber informações diretas de suas lideranças", explica.
Segundo Ogata, o importante é a companhia estimular relacionamentos saudáveis dentro do ambiente de trabalho. A tese é reforçada por Alexandre Garrett, que junto com Takeshy Tachizawa é autor do livro Indicador de Desenvolvimento Humano Organizacional (IDHO) – Novas Dimensões da Cultura Corporativa. "Nas EPS, inovação, criatividade e renovação dos produtos acontecem naturalmente, independentemente de forças externas e do próprio mercado. Seus colaboradores estão prontos para dar o melhor de si, atendendo às necessidades das organizações", ressalta.
O livro de Garret e Tachizawa foi baseado em pesquisa realizada com 100 empresas brasileiras e levou em consideração os seguintes conceitos: sustentabilidade, transparência, governança corporativa e capital humano. Os resultados apurados detectaram que as EPS coincidem no menor índice de faltas ao trabalho, no menor índice de licenças, na alta produtividade e no baixo número de demissões voluntárias. "Se uma empresa começa a perceber que aumentou o número de faltas e a quantidade de atestados médicos, é sinal de que ela precisa intervir positivamente junto a seus colaboradores", reforça Alberto Ogata.
O presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida destaca ainda que, ao contrário do que ocorre em países europeus e nos Estados Unidos, no Brasil o ambiente de trabalho ainda é muito influenciado pelo perfil do chefe, do gestor, enfim, pela liderança da empresa. "Há muitas companhias em que o líder, o dono, o proprietário ou o presidente tem um estilo de liderança que favorece o clima positivo. Então, não é só aquela empresa que tem um RH treinado e que utiliza determinadas ferramentas que pode alcançar o nível de EPS. Há muitas pequenas empresas em que o líder tem uma ação positiva no sentido de manter seus subordinados atuantes e felizes", destaca.
Veja as práticas que definem uma Empresa Psicologicamente Saudável:
Envolvimento dos colaboradores
- São analisados o autogerenciado pela equipe, a participação na tomada de decisão e os foros de sugestões abertos aos empregados.
Equilíbrio de vida e trabalho
- Verifica se a empresa orienta seus colaboradores a administrarem assuntos financeiros e quanto de benefícios ela disponibiliza para as pessoas da família e os parceiros domésticos do trabalhador.
Crescimento e desenvolvimento dos colaboradores
- Analisa se a empresa oferece aconselhamento de carreiras, treinamentos e cursos, além de ofertar oportunidades para promoções e programas para formação de lideranças.
Saúde e segurança
- Leva em conta se a empresa oferece treinamento para um local de trabalho seguro, se há a implantação de um adequado seguro-saúde e se ela desenvolve programas contra tabagismo, álcool e drogas.
Reconhecimento do colaborador
- Considera as compensações monetárias dos colaboradores, os pacotes de benefícios, pagamentos de gratificações por desempenho e cerimônias de reconhecimento.
Ativo humano
- Avalia se a empresa preserva e valoriza seus talentos, os quais serão os gestores da organização no futuro.
Entrevistado
Alberto Ogata, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida
Currículo
- Graduado em medicina e mestre pela UNIFESP (Escola Paulista de Medicina)
- Atua também como diretor da sub-secretaria de Assistência Médico Social e Coordenador do Programa de Qualidade de Vida do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
- É autor do livro Guia prático de Qualidade de Vida
Contato: @ albertoogata (Twitter) / www.abqv.org.br / abqv@raf.com.br (assessoria de imprensa)
Créditos Foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Ponte Rio-Niterói promoveu travessia da engenharia brasileira rumo às inovações (Podcast)
Bruno Contarini, engenheiro responsável por uma das grandes obras já executadas no país, conta os desafios que enfrentou na construção do empreendimento de quase 40 anos
Por: Altair Santos
Entrevistado
Engenheiro civil Bruno Contarini
Currículo
- Engenheiro civil com especialização em arquitetura pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil (atual Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro) em 1956
- É professor de concreto protendido da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)
- Trabalhou em vários projetos ao lado do arquiteto Oscar Niemeyer, como o prédio do Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, e o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói-RJ
- Recentemente esteve à frente da construção do estádio João Havelange e da Cidade da Música, ambos no Rio de Janeiro
- É o diretor-presidente da Bruno Contarini Engenharia Ltda e atua também como consultor e palestrante
Contato: bceng@veloxmail.com.br
Clique no player abaixo e ouça agora um resumo da entrevista. Para ouvir a entrevista na íntegra clique aqui.
Durabilidade do concreto aparente depende da cura
Material foi bastante usado entre os anos 1960 e 1970 e começa a ser resgatado, tanto em ambientes internos quanto em fachadas
Por: Altair Santos
Na história recente da arquitetura, o concreto aparente tem vivido momentos de protagonista e de coadjuvante. No Brasil, quando o cimento passou a ser produzido nacionalmente, a partir dos anos 1920, o uso do material fez parte do movimento modernista. Passado quase meio século, voltou a viver um novo auge a partir do final da década de 1960 e início da de 1970, com Oscar Niemeyer liderando a corrente de arquitetos adeptos do concreto aparente, como Vilanova Artigas, Ruy Ohtake e Paulo Mendes da Rocha.
Agora, encerrada a primeira década do século 21, eis que fachadas e ambientes internos de casas e edifícios voltam a explorar o material. Essa revitalização está ligada às diversas possibilidades de aplicação do concreto aparente, já que ele se adapta a qualquer textura desejada: lisa, frisada, pintada ou rústica. "Ele aplica-se a todo tipo de ambiente", garante o arquiteto Waldeny Fiuza, alertando que a aplicabilidade do material requer mão de obra especializada. "Trabalhar com concreto aparente exige uma equipe experiente", diz.
Outro item que merece atenção é o custo da obra, que tende a aumentar com a opção pelo concreto aparente - principalmente se ele for a escolha para a fachada de uma edificação. "As fôrmas, as ferragens e a mão de obra elevam o custo. Mas não se pode comparar com a alvenaria, pois no caso das fachadas o que se procura é a plasticidade, a textura e a valorização do projeto. E esse papel o concreto aparente cumpre como poucos", destaca Waldeny Fiuza, que integra a Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura no Paraná (AsBEA-PR).
Um dos segredos para se obter bons resultados com o concreto aparente é promover uma boa cura do material. Essa etapa é importante e deve ser feita com critério para não haver fissuras, o que normalmente é causado pela evaporação prematura da água. "Após o endurecimento do concreto, ele continua a ganhar resistência e, caso não haja uma cura correta, pode perder até 30% de sua durabilidade", lembra o arquiteto. Neste processo, um dos métodos mais recomendados é molhar continuamente a superfície do material, logo após o endurecimento, durante os sete primeiros dias.
A escolha das fôrmas também é decisiva para o resultado final do concreto aparente. Em contato direto com o material, são elas que vão definir a aparência da parede. Além disso, exigem técnica em sua instalação, para não abrirem quando o concreto for despejado e não deixarem as paredes tortas. Se a opção for pela fôrma metálica, ela garantirá um acabamento mais uniforme e liso. Já com a fôrma de madeira, a flexibilidade de acabamento é maior, podendo-se optar por uma textura frisada.
Saiba mais sobre o uso do concreto aparente. Clique aqui
Entrevistado
Waldeny Fiuza, arquiteto e vice-presidente de administração e finanças da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura no Paraná (AsBEA-PR)
Currículo
- Vice-presidente de administração e finanças da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura no Paraná (AsBEA-PR) e sócio do escritório Dória Lopes Fiuza
- Com mais de 20 anos de experiência, trabalha no desenvolvimento de projetos de diversas áreas, como residenciais, comerciais, esportivas, hoteleiras, industriais e da saúde
Contato: asbea@asbea-pr.org.br / www.asbea-pr.org.br
Créditos Foto: Divulgação/AsBEA-PR
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Estádio do Corinthians usa tecnologia alemã para ser um dos mais modernos do mundo
Obra vai interagir com o meio ambiente, a fim de poupar energia e água. Além disso, projeto aposta no pré-moldado para ganhar tempo e evitar desperdício de materiais
Por: Altair Santos
A nova Arena Corinthians nasce regida por um novo modelo de engenharia e arquitetura. Segundo o arquiteto Aníbal Coutinho, que idealizou o projeto, o que vai nortear o estádio é a economia. "Buscamos um custo operacional baixo, a racionalidade da execução, a rentabilidade máxima e a economia de meios", define, assegurando que mesmo assim o estádio que irá abrigar a abertura da Copa do Mundo 2014 será um dos mais modernos do mundo, conceitualmente falando.
Obra que promete transformar o bairro de Itaquera, na zona leste da cidade de São Paulo, a Arena Corinthians teve um projeto que se adequou ao terreno. "O terreno tem 40 metros de desnível. Então, já havia uma declividade acentuada. Além disso, é um terreno estreito. Isso fez com que o estádio fosse planejado de uma maneira compacta, eliminando uma quantidade monumental de escadas. Do ponto de vista da acessibilidade, ele é muito bom. Todo o setor inferior da arquibancada é acessado sem escadas e na parte superior ficou muito minimizado o uso de escadas", explica Coutinho, da CDCA Arquitetos.
A concepção da Arena Corinthians contou ainda com a parceria do escritório alemão Werner Sobek, que fez os cálculos estruturais e projetou a tecnologia de sustentabilidade e racionalidade de energia que fará o estádio funcionar. O palco da abertura da Copa do Mundo terá reuso da água da chuva e um sistema de autogeração de energia via células fotovoltaicas aplicadas à fachada. A ventilação também será natural, beneficiando-se da arquitetura do estádio. "O projeto tem todos os protocolos de um projeto sustentável", diz Aníbal Coutinho.
Outra inovação do estádio está relacionado ao fato de que ele poderá encolher ou ser ampliado sem a necessidade de se mexer em sua estrutura. Durante a Copa, a Arena Corinthians receberá duas arquibancadas pré-fabricadas, que irão ampliar sua capacidade para 65 mil lugares. Após o mundial, esse equipamentos serão retirados e a capacidade cairá para 48 mil lugares. No entanto, quando quiser promover uma ampliação definitiva, o Corinthians poderá fazê-lo sem afetar a operacionalidade do estádio. "Ele nasce projetado para receber ampliações, ou seja, voltar a crescer para 65 mil lugares na hora em que o clube decidir", afirma o arquiteto que idealizou o estádio.
Fábrica de concreto
Orçada em R$ 820 milhões, e ocupando uma área de 197.095 m², a Arena Corinthians será construída com concreto pré-fabricado, sendo 80% pré-moldado e 20% moldado in-loco. "Peças como vigas, pilares, lajes e arquibancadas serão todas em pré-fabricado", conta Coutinho. A Construtora Odebrecht, responsável pela construção do estádio, instalou no canteiro de obras uma fábrica de estruturas pré-moldadas de concreto e já iniciou a produção das primeiras vigas jacaré.
Essas peças com formato denteado irão compor os apoios dos degraus das arquibancadas da futura arena. As primeiras vigas jacarés serão posicionadas sobre os blocos da arquibancada inferior do prédio Leste, onde será instalada parte dos assentos principais. São quatro diferentes dimensões de vigas jacaré, que podem variar de 80 centímetros a três metros de altura, e peso entre três e 50 toneladas. A fábrica de pré-moldados tem área de 7.500 m², onde trabalham 45 pessoas durante o primeiro turno e 15 operários no turno da noite, até às 23h20. Com capacidade para produzir cerca de 30 peças por mês, serão fabricadas, no total, mais de 350 vigas jacaré. A fábrica do canteiro produzirá em torno de 3.000 peças e terá no pico de obras aproximadamente 150 operários. . A estimativa é que o estádio consuma 17.500 m³ de concreto para atingir a capacidade de 48 mil lugares.
Entrevistado
Aníbal Coutinho, sócio da Coutinho, Diegues, Cordeiro Arquitetos Ltda. (CDCA Arquitetos), que projetou a Arena Corinthians
Currículo
- Arquiteto e urbanista graduado pela FAU/UFRJ, em 1978
- Leciona na FAU/UFRJ e já atuou como presidente da Asbea/RJ
- Tem uma série de projetos importantes assinados nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, em parceria com seus sócios da CDCA Arquitetos
Contato: acoutinho@cdca.com.br
Confira o vídeo de como ficará o estádio: http://youtu.be/M9sYm-dTRs4
Crédito: Divulgação/Odebrecht
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Veículos aéreos não tripulados prometem revolucionar mercado de geotecnologia
Mais versáteis, e com custo operacional até três vezes mais barato, os VANTs ajudam a agregar tecnologia 3D aos projetos de engenharia e contribuem para prevenir catástrofes naturais
Por: Altair Santos
A usina hidrelétrica de Jirau, em construção em Rondônia, é a primeira grande obra de infraestrutura do Brasil monitorada por veículos aéreos não tripulados (VANTs). Mensalmente, um equipamento sobrevoa a área da construção para verificar se o cronograma de trabalho está em dia e também para ajudar na montagem de relatórios ambientais sobre a megaobra. "O sistema monitora o desempenho das empresas que foram contratadas ", detalha Giovani Amianti, sócio da Xmobots, uma das cinco empresas brasileiras que já fabricam esse tipo de aeronave.
Essa não é a única aplicação dos VANTs no setor da construção civil. Os veículos são eficientes também para coletar imagens geológicas, fornecendo a topógrafos e engenheiros cartográficos dados mais precisos sobre áreas em estudo para receber rodovias, por exemplo. Os VANTs são capazes de realizar um mapeamento até 100% mais eficiente, se comparados a outros equipamentos.
No caso dos satélites, o detalhamento máximo chega a 50 centímetros. Já as aeronaves não tripuladas conseguem fornecer dados com até 25 centímetros de detalhamento. Por isso, a entrada desses veículos no mercado de geotecnologia é considerada revolucionária.
Além de permitir mapeamentos com um custo operacional até três vezes mais barato do que o de uma aeronave tripulada, o VANT aceita equipamentos que permitem realizar escaneamento em 3D. Esse recurso tecnológico tem levado pequenos e médios municípios a promoverem atualizações cartográficas e a reverem suas políticas urbanas. Por enquanto, por causa da regulamentação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), os VANTs não têm autorização para sobrevoar o espaço aéreo sobre grandes cidades.
Surgidos no final dos anos 1990, para uso militar, os VANTs têm se tornado cada vez mais presentes na área civil. Nos Estados Unidos, o investimento anual nestes equipamentos já ultrapassa os US$ 300 milhões, excluindo a área militar. O Brasil já conta com cinco empresas que produzem veículos aéreos não tripulados. Recentemente, os aparelhos tornaram-se objeto de pesquisa nas universidades. A UnB (Universidade de Brasília), por exemplo, trabalha em projetos para o desenvolvimento destes equipamentos em seu Laboratório de Automação e Robótica (Lara). USP (Universidade de São Paulo) e UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) também atuam nesta área.
Uma das finalidades dos veículos desenvolvidos nas universidades é servir para a prevenção de catástrofes naturais. O Sistema Nacional de Prevenção e Alerta, que está em fase de elaboração no Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) prevê o uso de VANTs. O projeto propõe a reunião de dados para que deslizamentos de terra e inundações tragam menos prejuízos para as populações em risco.
Os VANTs usados no Brasil têm, em média, de 1 metro a 2 metros de comprimento. Boa parte deles é operada a partir de uma base remota - um notebook equipado com softwares específicos, por exemplo - ou através de teleoperados. Nesse caso, a administração do voo é feita em tempo real, por meio de computadores, joysticks, celulares ou tablets.
Entrevistado
Giovani Amianti, sócio da Xmobots
Currículo
- Possui graduação em engenharia mecatrônica pela Universidade de São Paulo (2005) e mestrado pelo Programa de Pós Graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo (2008)
- Atualmente é Sócio-Diretor de Sistemas Aviônicos da empresa XMobots Sistemas Robóticos, que encontra-se incubada no CIETEC. Tem experiência na área de sistemas aéreos não tripulados com ênfase em homologação de plataformas e sistemas aviônicos, atuando principalmente nos seguintes temas: Projeto Conceitual de VANTs, Projeto de Estabilidade e Desempenho de Plataformas VANT, Sistemas Aviônicos de VANTs, Homologação de plataformas VANTs e de Sistemas Aviônicos de VANTs, Hardware e Software Embarcados de Tempo Real Criticos
Contato:www.xmobots.com
Créditos Foto: Divulgação/XMobots
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Investimento em P&D faz empresas crescerem, em média, 20%
Levantamento promovido pela UFMG, em parceria com o IPEA, pesquisou 23.892 corporações, das quais 1.247 realizam atividades contínuas de pesquisa e desenvolvimento no Brasil
Por: Altair Santos
O Brasil começa a se defrontar com alguns dilemas típicos de países emergentes. O principal deles é conseguir se inserir na economia do conhecimento. Neste contexto, as atividades de P&D (pesquisa e desenvolvimento) são essenciais. Segundo relatório do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) o país só irá atingir bons níveis de P&D quando envolver um processo amplo de capacitação das empresas e qualificação dos recursos humanos. Isso passa pela presença permanente de cientistas e engenheiros em laboratórios internos de pesquisa dentro das corporações e pela vinculação a redes de conhecimento, como as que já existem entre alguns setores da iniciativa privada e universidades.
No Brasil, esse investimento em P&D ainda está concentrado nas empresas de grande porte. Para diagnosticar como as companhias do país se comportam em relação à pesquisa e desenvolvimento, a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), em conjunto com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), promoveu a pesquisa “Metodologia de Avaliação dos Resultados de Conjuntos de Projetos Apoiados por Fundos de Ciência, Tecnologia e Inovação”. Uma das conclusões, é que atualmente as corporações brasileiras se dividem em quatro níveis dentro da economia do conhecimento, que são:
Empresas Líderes
-Estão consolidadas em P&D
-Exportam inovação
-Tem alto faturamento
Empresas Seguidoras
-Tem alta produtividade
-Exportam
-Estão ligadas à transformação industrial
Empresas Emergentes
-Não são exportadoras
-Possuem iniciativas em P&D
-Já desenvolvem produtos inovadores
Empresas Frágeis
-Não são exportadoras
-Não investem em P&D
-Tem baixo faturamento em relação à produtividade
Divulgada em abril de 2011, a pesquisa analisou dados de 23.892 empresas, entre os anos de 1998 e 2008. Das empresas acompanhadas, 1.247 realizaram atividades contínuas de P&D durante o período estudado. Dessas, 741 possuem laboratórios de P&D, que contam com ao menos um profissional com mestrado ou doutorado para dirigi-los. O levantamento também apontou que as empresas que investiram em conhecimento cresceram pelo menos 21% a mais do que as que não investiram. O setor da construção civil, que na pesquisa foi incluída junto com a indústria extrativista, de metalurgia básica e de materiais elétricos, tem 295 empresas que investem em P&D. Estas companhias representam 36% do faturamento das firmas líderes industriais brasileiras.
As regiões Sul e Sudeste concentram a maior parte da atividade de P&D nas empresas. Os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina são os principais em termos de frequência de corporações que realizam pesquisa e desenvolvimento. As regiões Norte e Centro-Oeste apresentam as menores frequências de atividade de P&D entre as grandes companhias, sendo que na região Norte praticamente toda a atividade de P&D encontra-se no estado do Amazonas e na região Centro-Oeste a atividade de P&D concentra-se em Goiás.
Segundo Mauro Borges Lemos, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) que atuou na coordenação da pesquisa, o Plano Brasil Maior, lançado em 2011 pelo governo federal, pretende ampliar esses números. "Nosso esforço é para buscar maior inserção em áreas tecnológicas emergentes, o que envolve movimentos de diversificação de empresas domésticas e criação de novas empresas para explorar oportunidades tecnológicas latentes. Para isso, trabalhamos na articulação entre políticas de ciência e tecnologia e políticas industriais", diz.
O Plano Brasil Maior está alinhado com as propostas da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. As metas definidas têm como objetivo o fortalecimento das capacidades tecnológicas existentes nas empresas e instituições, a formação e a qualificação em recursos humanos e de produção mais limpa. "A inovação é o caminho para o país se tornar mais competitivo e isso só será possível se conseguirmos integrar as competências e esforços das universidades, instituições de pesquisa, empresas e governo. Estamos trabalhando para fazer da inovação tecnológica um caminho para um país mais próspero e inclusivo", completa Mauro Borges Lemos.
Entrevistado
Mauro Borges Lemos, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
Currículo
- Doutor em Economia pela Universidade de Londres, com pós-doutorado na Universidade de Illinois e na Universidade de Paris
- É professor titular do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
- Atuou como pesquisador, consultor técnico e ad hoc em entidades como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)
Contato: abdi@abdi.com.br / rachel.mortari@abdi.com.br (assessoria de imprensa)
Créditos foto: Divulgação / ABDI
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
Cristo Redentor, 80 anos: mais que um monumento, uma obra da engenharia
Estátua, que é uma das sete maravilhas do mundo moderno, foi inaugurada em 1931. Construção usou recursos inovadores para a tecnologia disponível na época
Por: Altair Santos
Se fosse construída em 2011, a estátua do Cristo Redentor, erguida no topo do morro do Corcovado, no Rio de Janeiro, encontraria mais dificuldades para superar os trâmites burocráticos do que os desafios da engenharia. "Provavelmente, para obter uma licença ambiental demoraria mais", estima o engenheiro Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro.
Com os recursos tecnológicos disponíveis hoje, Bogossian estima que em um ano o monumento de 38 metros de altura estaria pronto. Mas imagine o que foi construir aquela obra há mais de 80 anos? Concebida pelo engenheiro e arquiteto Heitor da Silva Costa, ela tornou-se quase um milagre diante dos recursos disponíveis na época. Porém, para vencer os obstáculos, a construção do Cristo Redentor apostou em uma série de inovações para aquele início de século 20.
Para construir a estátua, usou-se o concreto armado, que nos anos 1920 era uma novidade no Brasil. O Cristo Redentor também foi uma das primeiras obras a usar cimento produzido no país. A ideia do projeto nasceu em 1921, para que no ano seguinte o monumento pudesse marcar o centenário da independência do Brasil. As comemorações passaram e o plano só começou a ser colocado em prática em 1923.
O então cardeal do Rio de Janeiro, dom Sebastião Leme, comandou uma campanha de arrecadação de recursos em 1923. Convertendo para a moeda atual, o Cristo Redentor custou R$ 6 milhões. O dinheiro bancou o projeto do vencedor do concurso público promovido para escolher o modelo da estátua: o engenheiro e arquiteto Heitor da Silva Costa.
De 1923 a 1926, quando efetivamente começou a obra, Silva Costa se revezou entre o Rio de Janeiro e Paris. Na capital francesa, no ateliê do escultor Paul Landowski, após concluir os cálculos de resistência e a planta do monumento, ele deu forma definitiva à obra. Foi construída uma maquete de 4 metros de altura.
Mesmo sem recursos do túnel de vento, algo que não existia na época, a escultura feita por Landowski permitiu a Silva Costa perceber que a estátua precisava ser construída com uma pequena inclinação de 5 graus para frente, próximo da cabeça, para resistir melhor à velocidade do vento no topo do Corcovado, que não raramente pode atingir 100km/h. Com o mesmo propósito, os braços foram projetados com leves inclinações e sendo um mais comprido que o outro em 60 centímetros - imperceptível a olho nu. "Intuitivamente ou não, as técnicas empregadas foram perfeitas", avalia Francis Bogossian.
Como um edifício
O Cristo Redentor, ao contrário do que se possa imaginar, não é um maciço de concreto armado. Por dentro da estátua, que em 2011 deve ultrapassar a marca de um milhão de visitantes ao ano, há uma construção semelhante à de um edifício de 10 andares. Só que em vez de uma fachada com paredes e janelas, ele recebeu a moldura do monumento idealizado por Heitor da Silva Costa.
As fundações deste prédio estão encravadas a 4 metros de profundidade na rocha do platô localizado no topo do morro do Corcovado, a 710 metros de altura. O gnaisse (tipo de rocha) precisou de dinamite para ser perfurado e os vergalhões foram chumbados a mão para dar sustentação à obra. A partir deles saem quatro pilares centrais que sustentam a edificação, que conta ainda com 12 lajes sobrepostas, como se fossem andares.
Heitor Levy, o engenheiro que comandou a construção, liderou uma equipe de quase mil pessoas entre engenheiros, arquitetos e operários. O canteiro de obras foi instalado no topo do Corcovado e os materiais chegavam no local através de um trem que percorre o morro até hoje. A água era bombeada de um riacho localizado a 300 metros abaixo da obra. O trabalho de construção teve duração de cinco anos, de 1926 a 1931, com a inauguração ocorrendo em 12 de outubro. Neste período, nenhum acidente de trabalho foi registrado enquanto o Cristo Redentor foi erguido.
Construído há 80 anos, o monumento nunca precisou de reparos estruturais e recebeu até hoje apenas obras de preservação. Um dos segredos de tamanha resistência está em seu revestimento, que é todo em pedra-sabão. O material é impermeável e altamente resistente aos desgastes causados pelos efeitos climáticos. "É uma obra perfeita, pois uniu engenharia, arquitetura, design e escultura num só empreendimento. Não é à toa que é considerada uma das sete maravilhas do mundo moderno", conclui o presidente do Clube de Engenharia.
Entrevistado
Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, através de consulta ao acervo da instituição e entrevista com o presidente Francis Bogossian
Currículo
- Francis Bogossian é engenheiro civil formado pela Escola Nacional de Engenharia da ex-Universidade do Brasil, atual UFRJ. Há mais de 40 anos atua como empresário, professor e líder de classe
- Lecionou como professor titular de Mecânica dos Solos e Fundações, por mais de 15 anos na Escola de Engenharia da UFRJ e na UVA. Participou das diretorias e dos conselhos da ABENGE, ABMS, SECONCI-Rio e CBIC, Crea-RJ, A3P e ABENC/RJ
- Atualmente é presidente do Clube de Engenharia e da Aeerj (Associação dos Engenheiros do Estado do Rio de Janeiro)
- Participa dos conselhos da Geomecânica S.A., FIRJAN, ACRJ, ABMS
- É membro da Academia Nacional de Engenharia, da Academia Brasileira de Educação e da Academia Panamericana de Ingenieria
Contato: presidencia@clubedeengenharia.org.br
Créditos Foto: Divulgação/Clube de Engenharia