Brasil concluiu 11,5 mil grandes obras em 2011

Para 2012, já há 8,5 mil projetos contratados, entre empreendimentos residenciais, comerciais, industriais e de infraestrutura

Por: Altair Santos

Pesquisa da ITC (Inteligência Empresarial da Construção) aponta que em 2011 o Brasil chegou a 11.559 grandes obras concluídas. Envolvendo quase 125 milhões de m², as construções geraram um investimento de R$ 421,5 bilhões. O levantamento contabiliza apenas obras com mais de 1.000 m² de área construída e que tenham custo superior a R$ 1 milhão.

Viviane Guirao, diretora de marketing da UTC: sem a construção civil, o Brasil não cresce.

Para 2012, a pesquisa da ITC detectou  que há 5.000 empreendimentos em fase de projeto e estudo de viabilidade e 3.500 em andamento, já com canteiros de obras instalados. Segundo Viviane Guirao, diretora de marketing da consultoria, a coleta de dados é feita através de contato direto com incorporadores, bancos, construtoras, escritórios de arquitetura e investidores. "A cada ano conseguimos abranger um volume maior de informações e aprimorar a pesquisa", revela Guirao.

Em seu relatório, a ITC divide as obras nos seguintes grupos: comercial, residencial, industrial e infraestrutura. "São segmentos bem diferentes, que têm características próprias e não se limitam a edifícios residenciais ou edifícios corporativos. A ITC divulga também obras de shoppings, de hotéis, de indústrias, saneamento básico, hidrelétricas, termoelétricas, enfim, todo o mercado nacional é avaliado", diz a diretoria de marketing da empresa, para quem as projeções apontam um crescimento sustentável da construção civil no Brasil até 2016.

Viviane Guirao comenta que desde 2007 o avanço do setor tem sido relevante dentro da economia do país.  Em 2010, foram  11.174 grandes obras concluídas; em 2009, 7.487. "A tendência é que até 2016 esse volume de investimento cresça gradativamente, impulsionando toda a cadeia da construção civil. Para construir uma grande obra, é preciso que a indústria esteja produzindo todos os materiais. Então, se o segmento de novos empreendimentos cresce, a indústria também cresce", avalia.

Ainda de acordo com a pesquisa da ITC, fica evidente que o programa Minha Casa, Minha Vida influenciou positivamente na cadeia produtiva da construção civil. O levantamento detecta que das mais de 11,5 mil grandes obras construídas em 2011, 6.500 foram voltadas para a construção de edifícios residenciais e condomínios. "É uma tendência que predomina desde 2007, puxando também as obras viárias e de saneamento básico nas cidades",  aponta Viviane Guirao.

Para 2012 o segmento residencial seguirá forte, mas o setor de edifícios comerciais, incluindo hotéis e shopping centers, deverá ganhar um grande impulso, projeta a ITC. A consultoria também avalia que a construção civil sofre uma descentralização. Regiões como o Nordeste do país, assim como cidades-pólos do interior brasileiro, estão conseguindo atrair, proporcionalmente, tanto investimento quanto as grandes metrópoles. " As construtoras de São Paulo e do Rio de Janeiro abriram seu leque para outras regiões, principalmente o Nordeste, onde a facilidade de crédito atrai os investimentos", cita a diretora de marketing da ITC, dizendo que o resultado da pesquisa leva à seguinte conclusão:  sem a construção civil, o Brasil não cresce.

Confira o relatório da ITC: ITC_relatorio

Entrevistada
Viviane Guirao, diretora de marketing e pesquisa de mercado da ITC (Inteligência Empresarial da Construção)
Currículo

- Graduada em engenharia civil pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado) em São Paulo
- Pós-Graduada em Negócios Imobiliários pela FAAP
- Ocupa o cargo de diretora de marketing e pesquisa de mercado da ITC- Informações da Construção
Contato: viviane@itc.etc.br / marketing@itc.etc.br  / http://www.itc.etc.br/default.asp

Créditos foto: Divulgação / ITC

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Varejo da construção civil avança no interior do PR

Com o incentivo do Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Materiais de Construção, setor atua em 345 municípios do estado

Por: Altair Santos

No Paraná, o programa Minha Casa, Minha Vida tem cumprido outra função, além de fornecer habitação para as famílias do estado. Seu estímulo faz com que o comércio varejista da construção civil se propague pelo interior. Segundo dados do Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Materiais de Construção (Simaco) em 2012 deverá ser alcançada a marca de oito mil pontos de venda em 345 cidades das 355 que há em território paranaense.

Sigismundo Mazurek, presidente do Simaco: "O cimento é igual farinha para o pão. Se não tiver farinha, não sai pão”.

De acordo com o presidente do Simaco, Sigismundo Mazurek, os municípios do interior que mais se destacaram na venda de material de construção em 2011 foram, pela ordem, Londrina, Maringá, Campo Mourão, Cascavel, Guarapuava e Ponta Grossa - contabilizando também as respectivas regiões metropolitanas destas cidades. "De um modo geral, todas as empresas tiveram um desempenho bastante favorável de crescimento no ano passado. Através do Minha Casa, Minha Vida, a Caixa Econômica Federal estendeu financiamento farto para essas regiões e isso estimulou as vendas", diz.

Outra conquista relevante, segundo o Simaco, foi a redução do ICMS para material de construção, baixando de 18% para 12%. No Paraná, há outros benefícios embutidos nessa diminuição do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços. "Nosso sindicato conseguiu também que os governos estadual e municipais reduzissem suas participações no ICMS. Então, aqui no Paraná, o incentivo fiscal é maior que em outros estados ", afirma.

Entre os produtos que o consumidor mais busca no comércio varejista da construção civil ainda se destacam os insumos básicos do setor, como cal, areia, tijolos, porcelanato, tintas e, sobretudo, cimento.  "Sem cimento não tem construção. O cimento é igual farinha para o pão. Se não tiver farinha, não sai pão",  comenta Sigismundo Mazurek, que ressalta também o papel do chamado comércio formiguinha - venda picada para pequenas reformas - no fluxo do setor. "Essa participação do consumidor no dia a dia segue com bastante representatividade no volume de negócios", completa.

Por conta das vendas acentuadas, o Simaco tem desenvolvido trabalho intenso, em parceria com o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) para qualificar não só a mão de obra que atua no comércio varejista da construção civil como a que pretende preencher as vagas ofertadas. "Conseguimos viabilizar cursos gratuitos. Essa é uma bandeira nossa: a de preparar e especializar cada vez melhor quem atende diretamente o consumidor", conclui Mazurek. Os cursos do Senac para o setor formaram em 2011 quase 600 profissionais.

Entrevistado
Sigismundo Mazurek, presidente do Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Materiais de Construção (Simaco)

Currículo
- Sigismundo Mazurek atua desde 1978 no setor varejista da construção civil.
- É o fundador da empresa Rei das Fechaduras
- Eleito em 2010, Sigismundo Mazurek cumpre seu segundo mandato à frente do Simaco. O primeiro foi entre 1997 e 2004.
- Ocupa o cargo de diretor da Associação dos Comerciantes de Material de Construção do Paraná (Acomac-PR)
- Desempenha também a função de conselheiro do Sesc-PR e de diretor secretário da Fecomércio-PR.

Contato: sigimazu@hotmail.com

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Favelas carecem de política habitacional específica

Brasil tem 11 milhões de pessoas vivendo em aglomerados subnormais e solução do problema vai além do Minha Casa, Minha Vida

Por: Altair Santos

O Brasil tem 11,4 milhões de pessoas vivendo em favelas, distribuídas em 323 municípios do país. Os dados fazem parte de uma pesquisa sobre aglomerados subnormais divulgada no final de 2011 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se de um problema que, na opinião do professor Natal Destro, diretor e fundador da Universidade Corporativa Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção) pode resultar em oportunidades, desde que o poder público não engesse sua política habitacional.

Natal Destro: "Não é um modelo único de política habitacional que vai acabar com as favelas".

Para o especialista, só o programa Minha Casa, Minha Vida não vai resolver o problema das favelas no Brasil. Natal Destro defende que haja um projeto específico para transformar essas áreas, ancorado por um forte subsídio governamental. "Quem tem renda de zero a três salários mínimos precisa ser subsidiado integralmente, pois lá na frente esse subsídio vai se transformar em lucro para o governo. Uma favela com casas regularizadas, ruas, luz elétrica e saneamento básico se converte em IPTU, contas de luz e de água", explica.

Outra tese apoiada pelo professor  é que o investimento maciço na transformação das favelas resultaria em geração de empregos e em mais crescimento para o setor da construção civil. "Com o envolvimento de cooperativas, associações de bairros, associações de classe e de interesse social poderia haver a qualificação dos moradores das favelas para eles mesmos gerirem as obras. É preciso perseguir todas as formas para extinguir as favelas, e não só um modelo de programa habitacional", diz.

Natal Destro se apega a uma teoria econômica, a curva de Laffer, para defender que o subsídio às habitações de interesse social resulta em crescimento para o país. "Em economia se estuda a curva de Laffer. De cada real investido na construção civil, ele se multiplica catorze vezes. Nenhuma cadeia produtiva é tão lucrativa no Brasil. A segunda maior é a automobilística, que multiplica cerca de oito vezes cada real investido. Então, para eliminar a linha da pobreza, o país tem de investir em construção civil", avalia.

Obstáculos

O governo federal planeja acabar com o déficit habitacional brasileiro até 2023. Para o professor da universidade Anamaco, isso é possível desde que sejam combatidas três frentes: a corrupção, o desperdício na construção civil e o risco de o Minha Casa, Minha Vida se elitizar. "O Brasil já cometeu esse erro com o BNH (Banco Nacional de Habitação) que terminou como uma instituição que financiava apenas os ricos. Além disso, é preciso seguir combatendo o desperdício na construção civil. Há 15 anos, as perdas em uma obra chegavam a 40%. Hoje, está em 15%. É necessário investir em tecnologias de construção para diminuir cada vez mais o desperdício. Por fim, a corrupção, que desvia anualmente quase R$  80 bilhões - dinheiro que seria suficiente para zerar o déficit habitacional em um ano", alerta.

Apesar dos gargalos a serem superados, Natal Destro lembra que os programas do Brasil para combater a pobreza hoje inspiram outros países. "Nosso modelo é copiado na América Latina, na África, na Ásia e, inclusive, na Europa. Não é perfeito, mas é bom. Porém, dá para aperfeiçoar e fiscalizar com mais eficiência. Com isso, as chances de chegarmos em 2023 com um déficit habitacional zero ou perto de zero são grandes. E a construção civil é a alavanca para isso", finaliza. 

Favela no Brasil: transformação beneficiaria 11,4 milhões e manteria crescimento da construção civil.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entrevistado
Natal Destro, presidente da ACOMAC-SP (Associação dos Comerciantes de Material de Construção de São Paulo)
Currículo
Natal Destro é graduado em administração de empresas, com pós-graduação em comércio exterior e recursos humanos
É palestrante, professor de gestão comercial e de vendas e diretor e fundador da Universidade Corporativa Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção)
Também atua como consultor das entidades como ABRAPE (Associação Brasileira de Produtores de Eventos),  ADIMACO (Associação Nacional dos Distribuidores e Instaladores de Material da Construção a Seco) e ABRADICON (Associação Brasileira dos Atacadistas e Distribuidores de Material de Construção)
Contato:presidente@acomacsp.com.br

Créditos foto: Divulgação/Agência Brasil

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Construção civil desperta para a inovação

Centros de pesquisa abrem espaço para empresas do setor que queiram desenvolver novos materiais, softwares e sistemas construtivos 

Por: Altair Santos

A inovação chegou para ficar na construção civil. Incentivado por centros de pesquisa coligados com universidades, o setor ganha instrumentos para testar novos materiais e sistemas construtivos. Entre os incubadores de projetos, o Cietec é um dos que há mais tempo está em atividade. Criado em 1998, o Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia funciona em São Paulo, com o apoio do governo estadual, do Sebrae, da USP (Universidade de São Paulo), do IPEN ( Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) e do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Desde 2007, o organismo criou um núcleo para fomentar empresas da construção civil voltadas à inovação. 

Sérgio Risola, do Cietec: criando condições para que a construção civil inove.

Catorze empreendimentos ligados à cadeia produtiva do setor foram selecionados pelo Cietec para que se viabilizem comercialmente. Até chegar ao estágio de poder ser testado no mercado, o projeto passa por processos de pré-incubação, incubação e pós-incubação. Nestas etapas, são oferecidas infraestrutura física para a instalação e operação das empresas, além de serviços de apoio para atendimento de suas demandas nas áreas de gestão tecnológica, empresarial e mercadológica. O Cietec dispõe, atualmente, de infraestrutura física e operacional para apoiar cerca de 120 empresas de base tecnológica. “Nosso objetivo é dar condições para que as empresas se desenvolvam em um ambiente inovador e tenham maior chance de sucesso”, afirma Sérgio Risola, diretor do Cietec. 

Dos projetos ligados à construção civil, e que estiveram encubadas no centro de inovação, um dos mais bem sucedidos é o da KMA2. A empresa criou uma proposta baseada em Tecnologia da Informação, que permite o autogerenciamento da obra. "Na solução Arquitecasa desenvolvemos um modelo one-stop shop (tudo em um só lugar) onde o usuário encontra informação e serviços para planejar a construção de sua casa e passar com mais tranquilidade pelo período de projeto e obra", explica o arquiteto Marcelo Brigido, que liderou o desenvolvimento do programa. 

Marcelo Brigido: empresa incubada no Cietec criou gestão de obras via online.

A ideia do Arquitecasa se viabiliza economicamente com o crescimento no volume de micropagamentos realizados por consumidores que usam o simulador de custo e por profissionais da construção, reforma e decoração residencial, que criam suas páginas para apresentar seus trabalhos. “Entendi que havia uma oportunidade para oferecer algo para ajudar a diminuir o risco de problemas no curso da obra. O programa é um simulador em que o usuário entende como as características mais básicas da casa que ele imagina construir se refletem no custo final”, revela Marcelo Brigido.

Em média, o período de incubação de uma empresa em um centro de pesquisa dura três anos. Entre outros projetos que prosperaram no Cietec está o que desenvolveu chapas plásticas de alto desempenho, a fim de que o material concorra com as formas de madeira e de metal para receber o concreto, que atualmente são mais comuns na construção civil. Há também o que propõe o uso racional da água no canteiro de obras e um ainda mais inovador , que passou a estudar os efeitos de abalos sísmicos em grandes obras do país. Apesar de o Brasil ser quase imune a terremotos intensos, recentemente algumas localidades passaram a ser alvo de tremores. Atenta, a Berrocal Vasconcelos desenvolveu equipamentos que medem o impacto dos abalos nas estruturas de concreto de hidrelétricas. 

  

Home principal do Arquitecasa: construtor tem assessoramento pela internet.

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entrevistado
Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) e Marcelo Brigido, da KMA2
Currículo
- Marcelo Brigido é arquiteto graduado e pós-graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, onde lecionou até 1996.
- Profissional experiente no desenvolvimento de projetos de arquitetura residencial, desenvolveu conhecimentos de marketing durante sua atuação junto ao mercado imobiliário até 2008, quando decidiu empreender e criar a KMA2.
Contato: m.brigido@arquitecasa.com.br / www.arquitecasa.com.br / cietec@cietec.org.br / www.cietec.org.br 

Créditos foto: Divulgação / Cietec 

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Capital privado é importante para a infraestrutura

Especialista defende que, para tirar obras do imobilismo, governo precisa ser mais regulador e fiscalizador e menos investidor

Por: Altair Santos

Para a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib) não há mais como o Brasil  recuar na questão do investimento em grandes obras. Em seu último boletim de análise de 2011, a entidade avaliou que o setor tem condições de ser a plataforma para a expansão do crescimento em 2012. No entanto, a Abdib ressalta que o poder público precisa potencializar a participação do capital privado na infraestrutura brasileira.

Adriano Pires: "O ditado, infraestrutura é dever do Estado, já não está valendo mais nos dias atuais”.

A linha de pensamento coincide com a de Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). "É preciso atrair mais recursos privados, mas para isso é necessário dar mais segurança regulatória e jurídica para os investidores. Infraestrutura requer investimentos de longo prazo e o Brasil não pode deixar passar essa oportunidade. Principalmente  quando estamos diante de eventos internacionais como Copa do Mundo e Olimpíadas", diz.

Em 2011, o investimento total em infraestrutura somou  R$ 184 bilhões, entre recursos públicos e privados. Até 2016, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) projeta injetar mais R$  922 bilhões no setor. O problema, detecta Adriano Pires, é que quase metade deste valor (R$ 424 bilhões) irá para o segmento de petróleo e de gás, quando saneamento básico, estradas, portos e aeroportos também precisam receber igual volume de recursos. "O BNDES não é suficiente para resolver o problema. O governo precisa ter mecanismos para atrair investimentos que não sejam públicos", avalia.

Segundo o diretor do CBIE a iniciativa privada está muito interessada em investir em obras de infraestrutura no país, mas o governo precisa sinalizar. "Infraestrutura no Brasil dá retorno suficiente para que o setor privado faça os investimentos. O que deveria acontecer é que o Estado deveria estar mais preocupado em ser regulador e fiscalizador e menos preocupado em ser investidor. Na medida que isso ocorrer, o setor privado vai ter segurança jurídica e econômica para investir", analisa.

Hoje, continua Adriano Pires, o problema do Brasil não é falta de dinheiro. "Todo mundo quer colocar dinheiro no país. Apesar da crise internacional, ainda há uma grande liquidez lá fora. Os capitais europeus e americanos estão procurando mercado para colocar dinheiro. Este dinheiro só não está vindo em maior quantidade para o Brasil em função do risco regulatório.  O governo tem de entender que aquele ditado que prevaleceu nos anos 1950, de que infraestrutura é dever do Estado, já não está valendo mais nos dias atuais", completa.

Construção civil

O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura cita que a cadeia produtiva da construção civil deveria ajudar a influenciar o governo a rever sua política para tirar do imobilismo as obras de infraestrutura. "A construção civil vem crescendo muito em função do programa Minha Casa, Minha Vida. Se a infraestrutura avançar no mesmo ritmo do setor habitacional, o crescimento pode ser mais sustentável", prevê, relacionando os setores mais carentes de investimento: "As estradas, os aeroportos e os portos brasileiros estão entre os piores do mundo. Tem que começar por aí".

Entrevistado
Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

Currículo
- Adriano Pires é graduado em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 1980. Tem mestrado em planejamento energético pela COPPE/UFRJ (1983) e doutorado em economia industrial pela Universidade Paris XIII (1987).
- É sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), uma empresa de consultoria nas áreas de petróleo, gás natural, energia elétrica e fontes alternativas de energia. - Atua há mais de 30 anos na área de energia. Sua última experiência no governo foi na Agência Nacional de Petróleo (ANP) como assessor do diretor-geral.
- Na UFRJ, exerceu a função de professor, pesquisador e consultor junto a empresas e entidades internacionais. Desenvolveu atividades de pesquisa e ensino nas áreas de economia da regulação; economia da infraestrutura; aspectos legais e institucionais da concessão dos serviços públicos e tarifas públicas.  
Contato: adriano@cbie.com.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Construção civil ganha fórum para grandes temas

Objetivo do Instituto Brasileiro de Direito da Construção (IBDiC) é fomentar ideias que permitam aumentar a produtividade do setor

Por: Altair Santos

Criado em setembro de 2011, com o aval de toda a cadeia produtiva do setor, o Instituto Brasileiro de Direito da Construção (IBDiC) surge para debater temas que priorizem a produtividade na construção civil. "O IBDiC é, antes de tudo, um fórum permanente dos diversos segmentos que compõem o universo da construção", explica Fernando Marcondes, presidente do Instituto, afirmando que os dois primeiros grupos de estudo do novo organismo estão debruçados sobre assuntos que têm gerado discussões acaloradas: a norma de desempenho NBR 1557 e a falta de qualificação de mão de obra. "Pretendemos promover um encontro aberto para discutir esses temas", diz.

Fernando Marcondes, presidente do IBDiC: "Brasil precisa dar mais atenção ao direito da construção".

Segundo Marcondes, é urgente para a construção civil debater a questão da mão de obra. "É uma preocupação do setor, sob pena de enfrentarmos sérios problemas de qualidade em um futuro próximo", diz. Outro ponto a ser atacado, segundo o presidente do IBDiC, é a carga tributária. "Esse é também um sério problema. Se o Estado quer mesmo incentivar o setor, como alardeia, a maior contribuição que pode dar é reduzir o peso dos impostos. Não basta um incentivo temporário, apenas para aquecer o mercado por um tempo. É preciso reconhecer que a construção é um setor estratégico para o desenvolvimento do país e, a partir disto, oferecer uma tributação decente, que não torne proibitivos os investimentos", completa.

Outro ponto que permeia o IBDiC é o ambiente jurídico que envolve o setor. "Há uma falta de padrões, de referências, e mesmo de material doutrinário específico sob construção. Enquanto em outros países o direito da construção é tratado como uma matéria específica, no Brasil temos pouquíssimas obras dedicadas exclusivamente ao tema. Vivemos de referências estrangeiras, nem sempre adequadas à nossa realidade. É hora de mudar isso. Precisamos também promover uma maior integração e um diálogo mais permanente entre os players desse mercado", avalia Fernando Marcondes.

O presidente do IBDiC lembra que há em outros países organismos semelhantes ao Instituto. Na Grã-Bretanha, a Society of Construction Law; nos Estados Unidos, a Dispute Resolution Board, na Suíça, a Federation International des Ingenieurs Consulteurs (FIDIC). No Brasil, o IBDiC funciona em sintonia com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), com o Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo) e com o Instituto de Engenharia, também na capital paulista. Essa ramificação faz com que o IBDiC já conte com a adesão de quase duas centenas de profissionais dos setores jurídico, de engenharia e de negócios da construção e empreendimentos imobiliários.

Todos os integrantes do IBDiC têm liberdade para propor a discussão de temas. Fundado há quatro meses, com sede em São Paulo, o instituto já conta com dez grupos de estudos em plena atividade.

Também foi formado um comitê, cuja função é criar um material de orientação para a elaboração e interpretação de contratos de construção. Esse grupo conta com mais de quarenta profissionais. "Já entrevistamos grandes contratantes, grandes e médias construtoras, e pretendemos ouvir ainda investidores, incorporadores e bancos financiadores. Para março estamos preparando um seminário na PUC-RJ para envolver o universo acadêmico. O objetivo é conseguir, em algum momento, que o direito da construção encontre espaço como matéria eletiva na grade curricular", finaliza Fernando Marcondes.

Entrevistado
Fernando Marcondes, presidente do Instituto Brasileiro de Direito da Construção (IBDiC)
Currículo

- Fernando Marcondes é graduado em direito, com pós-graduação em direito civil e mestrado na mesma área pela PUC-RJ
- É vice-diretor para assuntos de Dispute Resolution Board no Brasil
- É membro da Society of Construction Law
- É membro da Dispute Review Board Foundation

Contato: fm@baptista.com.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Curitiba inova na fiscalização do mercado imobiliário

Peças publicitárias de imóveis terão de trazer informações sobre os responsáveis pela obra, desde o engenheiro até o paisagista

Por: Altair Santos

Até março de 2012, a prefeitura de Curitiba irá sancionar lei que reforça o poder de fiscalização do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-PR) e do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-PR). A partir da nova legislação, os organismos poderão exigir que peças publicitárias de lançamentos imobiliários informem o nome dos autores dos projetos de arquitetura (arquitetônico, interiores, paisagismo e projeto urbano) e do engenheiro responsável pela obra. A medida inovadora, por ser a primeira vez que é adotada em um município do país, surgiu da iniciativa do próprio Crea-PR e da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura do Paraná (Asbea-PR).

Crea-PR e CAU-PR serão os responsáveis por fiscalizar a publicidade feita por construtoras.

A construtora que não cumprir o estabelecido no projeto de lei poderá sofrer penalidades que vão desde uma simples notificação (tendo cinco dias para sua regularização) seguida de multa de R$ 1 mil e nova notificação (com prazo de 24 horas para regularização) até a apreensão do material. Mas segundo o engenheiro civil Fabiano Braga Cortês, que é o autor do projeto de lei e membro da comissão de urbanismo da Câmara Municipal de Curitiba, o objetivo principal da legislação não é punir as empresas, mas valorizar os profissionais. "Na placa da obra constam os nomes dos profissionais de arquitetura e de engenharia. Já no material publicitário, não. A intenção é propiciar o reconhecimento de quem trabalhou e também dar mais instrumentos à fiscalização, já que alguma vezes o profissional que assina não está regularizado perante ao Crea ou ao CAU", diz.

A medida vai ao encontro de uma das propostas do novo presidente do Crea-PR, Joel Krüger, que defende mecanismos que possam aprimorar a capacidade de fiscalização do conselho. "Inovar e especializar a fiscalização, além de qualificá-la, é uma das minhas metas. A legislação proposta coincide com nossos objetivos", disse Krüger. A expectativa é que a lei, assim que passe a vigorar em Curitiba e demonstre resultados, desperte outros municípios do Paraná a copiá-la. "Como veio o pedido de duas entidades fortes, e que atuam no estado inteiro, a gente espera que em breve isso se propague pelo Paraná através de uma lei estadual", completa Braga Cortês.

Tanto Crea-PR quanto o CAU-PR avaliam que a nova lei trará, além da valorização dos profissionais, mais garantias para as obras e mais segurança para o consumidor do imóvel. "Vai gerar um círculo virtuoso na construção civil de Curitiba. A obra bem feita vai valorizar o profissional, que vai passar a chamar a atenção do comprador. No futuro, pode-se criar uma grife. O material publicitário do empreendimento assinado por determinado engenheiro e por determinado arquiteto poderá gerar maior procura", avalia Fabiano Braga Cortês.

Entrevistado
CREA-PR e vereador Fabiano Braga Cortês (via assessorias de imprensa)
Contato:
comunicacao@crea-pr.org.br / comunicacao@felipebragacortes.com.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Galpões infláveis otimizam cronograma de obras

Tendas envolvem grandes construções, protegem o canteiro de adversidades climáticas e ajudam a reduzir o custo dos empreendimentos

Por: Altair Santos

A construção civil brasileira encontrou uma solução criativa para enfrentar fenômenos climáticos, principalmente o chamado "período das chuvas" em algumas regiões do país. Adaptando uma ideia já testada na agricultura, as empreiteiras têm conseguido dar continuidade às obras, faça chuva, faça sol, usando galpões infláveis. Normalmente utilizados para a estocagem de grãos, esses equipamentos ganharam dimensões maiores e passaram a abrigar desde construções habitacionais para o programa Minha Casa, Minha Vida, até trechos de rodovias, gasodutos e ampliações em refinarias de petróleo.

Cobertura insuflada usada em Barreiros-PE: casas para vítimas de enchente entregues em tempo recorde.

No Brasil, a maior cobertura insuflada foi usada em obras de expansão da refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas-RS. Foi utilizado um equipamento com 20 mil m² de área total e 42 metros de altura. Como o empreendimento teve seu pico durante o inverno, o galpão inflável foi utilizado para proteger o canteiro de obras do frio e da chuva. A construção foi comandada pela UTC Engenharia. Já em Barreiros, no interior pernambucano,  a estrutura insuflada foi usada como proteção contra o "período das chuvas" em um empreendimento que demandou erguer casas populares para as vítimas de enchentes.

Foram utilizados dois galpões móveis, cada um com área de 3 mil m² e 18 metros de altura. As tendas permitiram que 40 casas fossem construídas simultaneamente, de um total de 2.450 habitações. Uma terceira cobertura insuflada foi usada para obras de infraestrutura do conjunto habitacional, como rede de esgoto, abastecimento d’água e pavimentação. "Nessa região em que trabalhamos, o período das chuvas dura até quatro meses. Então o uso da cobertura gerou um reflexo muito grande economicamente. Evitou ter de desmobilizar o canteiro de obras e de pedir aditivos de prazo",  revela o engenheiro civil Valdemir Henz, coordenador de obras da Egesa Engenharia.

O método de construção das casas em Barreiros foi à base de formas pré-moldadas, preenchidas com concreto, cuja secagem do material precisava de pelo menos cinco dias de estiagem. "A cura do concreto ocorreu normalmente, como se a obra tivesse sido feita a céu aberto", conta Henz, revelando os cuidados essenciais quando se usa galpão inflável: "A ventilação precisa ser monitorada constantemente, principalmente quando são usadas  máquinas com gás carbônico. É preciso ter saídas para o ar saturado e geradores que bombeiem o ar puro para dentro do galpão. Outro cuidado é a logística. Se ele for bem montado, não há perigo algum. "

No caso das obras em Barreiros, o custo do aluguel de cada galpão foi de R$ 920 mil. O equipamento requer componentes importados, mas já é fabricado no Brasil. Para a instalação, é importante que o fabricante tenha certificados de agências governamentais de tecnologia e de controle ambiental. O mesmo tipo de tenda inflável foi utilizado também para proteger a construção de uma das lajes da usina nuclear Angra 3, no Rio de Janeiro, assim como na construção de um gasoduto na Bolívia e na rodovia transoceânica, no trecho que corta a Cordilheira dos Andes - neste caso, para evitar o acúmulo de neve nas áreas que irão receber pavimentação em concreto.

Entrevistado
Valdemir Henz, coordenador de obras da Egesa Engenharia, e UTC Engenharia (via assessoria de imprensa)
Contato:
henz@egesa.com.br / utc@utc.com.br

Vídeos

Veja montagem dos galpões infláveis. Clique aqui e aqui

Créditos foto: Divulgação/Cehab-PE

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Tecnologia reduz tempo de construção de usinas

Atualmente, hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte são as obras de infraestrutura que mais consomem concreto no Brasil

Por: Altair Santos

Desde a usina de Hoover, erguida na década de 1930 no rio Colorado, nos Estados Unidos, os métodos para se construir UHEs (hidrelétricas de grande porte) se mantêm praticamente inalterados. Evoluíram os equipamentos, a tecnologia e os materiais, mas o conceito não mudou. Entre as inovações agregadas, a principal surgiu nos anos 1970, com o concreto compactado com rolo (CCR).  Recentemente, o concreto refrigerado também passou a ser utilizado na construção de barragens.

Antônio Fernando Krempel, diretor presidente da Intertechne: "Equipamentos usados nas obras de hidrelétricas evoluíram muito desde Itaipu”.

No Brasil, a primeira UHE a usar concreto compactado com rolo foi Itaipu. A maior hidrelétrica do país consumiu 12,6 milhões de m³ do material. Atualmente as usinas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, que estão em construção na bacia do Amazonas, utilizam o concreto refrigerado. A diferença para o CCR é que esse material diminui o risco de fissuras e absorve menos cimento. Por isso, juntas, as três hidrelétricas em obras irão envolver um consumo de 9,8 milhões de m³ de concreto - pouco mais de 2/3 do que foi gasto em Itaipu.

Segundo o engenheiro civil Antônio Fernando Krempel, diretor presidente da Intertechne - empresa especializada em empreendimentos hidrelétricos - além do tipo de concreto usado na obra, o projeto também influencia no consumo de cimento. "Para cada projeto há uma solução específica compatível com as características do local, de topografia, de fundação, das características do material da fundação e das características do rio. Em função disso, existem barragens de solo, barragens de enrocamento, barragens de concreto, barragens de concreto rolado, enfim, diversas soluções. Cada uma vai demandar um volume de concreto", explica.

Krempel lembra que o cimento pozolânico é hoje o mais aplicado em obras de hidrelétricas, segundo ele por apresentar menos problemas de reatividade aos agregados. O engenheiro destaca ainda os softwares usados para projetar as UHEs e os equipamentos disponíveis. "A tecnologia embarcada é muito mais sofisticada do que há 30, 40 anos, quando Itaipu foi construída. Tudo isso resulta em obras com tempo de conclusão mais rápido. Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, há 30 anos, seriam construídas em oito anos. Hoje, ficarão prontas em três, no máximo quatro anos", avalia.

O especialista ressalta que a engenharia brasileira dispõe de recursos próprios para construir suas  hidrelétricas. Além disso, ele lembra que atualmente o país conta com profundo conhecimento de geotecnologia para detectar o solo ideal para o erguimento de usinas.  "A grande maioria das hidrelétricas é assentada em rocha. Então, hoje, a geologia e a topografia é que determinam que tipo de barragem será construída", diz Antônio Fernando Krempel, lembrando que muitas delas nem necessitam de acentuadas quedas d'água para gerar energia. "Belo Monte é um exemplo", completa.

Santo Antônio

Santo Antônio, também no rio Madeira: consumo estimado de 3,2 milhões de m³ de concreto.

A expectativa é que a usina de Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia, comece a operar ainda no primeiro semestre de 2012. O canteiro de obras da hidrelétrica atualmente envolve 13 mil trabalhadores.  Quando totalmente concluída, em 2015, sua potência instalada será de 3.150 megawatts. A construção está a cargo da Odebrecht e o volume de concreto estimado é de 3,2 milhões de m³. Uma curiosidade é que a usina terá as maiores turbinas do tipo bulbo do mundo.

 

 

 

 

 

 Jirau

Hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira: previsão de entrar em funcionamento em 2012.

Também em construção no rio Madeira, em Rondônia, a hidrelétrica de Jirau, quando pronta, terá consumido 2,8 milhões de m³ de concreto. No pico, a obra que está a cargo da Camargo Corrêa, terá 22 mil trabalhadores em seu canteiro de obras. A expectativa é que a UHE comece a produzir energia a partir do terceiro trimestre de 2012. Quando totalmente  concluída, entre 2013 e 2014, terá potência instalada de 3.750 megawatts.

 

 

 

 

 

 Belo Monte

Belo Monte: imprescindível para o desenvolvimento do Brasil neste século.

A hidrelétrica em construção no rio Xingu, no Pará, terá suas obras aceleradas em 2012, mas deve ser concluída em 2019. A cargo do consórcio Norte Energia, a usina irá consumir 3,8 milhões de m³ de concreto e, quando pronto, terá potência instalada de 4.571 megawatts. Hoje, o canteiro de obras tem 4 mil trabalhadores, mas no pico irá gerar 18.800 empregos.

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Entrevistado
Antônio Fernando Krempel, diretor presidente da Intertechne - empresa especialista em projetos de hidrelétricas
Currículo

- Antônio Fernando Krempel é engenheiro civil pela Universidade Federal de Uberlândia (1978).
- Tem MBA - Gestão de Empresas, ISAD/Un. do Texas - Austin; MBA - Marketing, ISAE/ FGV e é mestre em gestão de projetos, ISAE/ FGV e Universidade de Lille.
- Engenheiro da Intertechne Consultores S.A. desde maio de 2003. Teve participação abrangente em vários assuntos ligados ao planejamento, projeto e construção de empreendimentos hidrelétricos e de infraestrutura, tanto no Brasil como na América Latina e na África. Desde março de 2009 exerce o cargo de diretor presidente da empresa.
Contato: fkrempel@intertechne.com.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Tecnologia faz pontes estaiadas proliferarem no Brasil

Avanço dos cálculos estruturais, através de softwares, permitiu que modelo construtivo se tornasse o ideal para vãos acima de 120 metros 

Por: Altair Santos

A arquitetura de pontes no Brasil tem dado preferência para o modelo estaiado. Em São Paulo, a Octavio Frias de Oliveira inspirou outras capitais. Curitiba, por exemplo, terá sua primeira ponte estaiada, cortando a Avenida das Torres. Em Manaus, atravessando o rio Negro, foi inaugurada recentemente a segunda maior ponte estaiada do mundo sobre água doce. Seria um modismo? Para o engenheiro civil Catão Francisco Ribeiro, considerado o "pai da ponte estaiada" no país, trata-se de um avanço tecnológico. "Os programas de cálculos estruturais evoluíram muito, o que permitiu aos projetos de pontes estaiadas saírem da teoria para a prática, que é o que a gente chama hoje de o estado da arte", diz.

Catão Francisco Ribeiro, considerado o "pai da ponte estaiada" no Brasil: "Não é modismo, é avanço tecnológico” .

A recomendação técnica é que a opção por projetos de pontes estaiadas prevaleça quando existirem vãos acima de 120 metros. No entanto, ensina Catão Francisco Ribeiro, há situações - principalmente em áreas urbanas - em que a ponte estaiada pode ser a melhor opção mesmo com vãos menores.  "Ela permite trabalhar com tabuleiros finos. Então, às vezes, há pouco espaço entre o lugar onde vai passar o veículo em cima e o lugar onde vai passar o veículo embaixo. Isso obriga a lançar mão de estruturas mais esbeltas", explica, completando que a questão estética também influencia. "Por vezes, o município busca uma referência arquitetônica. Neste caso, é o apelo estético que decide."

A dimensão dos vãos a serem vencidos pelas pontes estaiadas também influencia no custo da obra. "Quanto maior o vão, maior o custo", resume Catão Francisco Ribeiro, ressaltando, porém, que questões ambientais também têm peso na escolha de projetos de pontes estaiadas. "Se o projeto for para uma ponte sobre um rio, e o meio ambiente não permite que se mude a condição de fluição das águas, então você é compelido a fazer um pilar numa margem e um pilar na outra. Isso faz com que o vão aumente e consequentemente o custo da obra aumente. Se for possível colocar pilares dentro da água, para fazer vãos menores, a obra fica mais barata."

Autor de 20 projetos de pontes estaiadas, Catão Francisco Ribeiro trabalha atualmente numa obra em Piracicaba, no interior de São Paulo, em que a encomenda é que o viaduto, além de estaiado, sirva também de mirante para a cidade. "Muitos dos meus projetos se transformaram em elementos turísticos dentro das cidades. Em Teresina, no Piauí, única capital nordestina sem praias, a ponte estaiada tem um mirante panorâmico em que é possível enxergar o mar. Orgulha-me também ter projetado a ponte sobre o rio Negro, em Manaus. É uma obra já considerada tão relevante quanto a ponte Rio-Niterói. Esse  é o verdadeiro estado da arte", elogia.

Outra obra relevante da qual o engenheiro civil participou foi a construção do viaduto Octavio Frias de Oliveira, em São Paulo.  O projeto ganhou prêmios internacionais por seus cálculos aprimorados. "Ela tem um tabuleiro curvo com um raio muito fechado. Tem um cruzamento de estais e um arco em X. É uma obra de engenharia muito antes de ser uma obra de arquitetura. O objetivo principal, que era transpor o rio Pinheiros da melhor maneira possível, foi cumprido milimetricamente", afirma. Catão destaca ainda que hoje só é possível construir pontes estaiadas no Brasil graças a três centros tecnológicos que permitem testes de ensaio em túnel de vento: o do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) em São Jose dos Campos-SP, o do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) em São Paulo, e o da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) em Porto Alegre. "Temos tecnologia 100% nacional para construir nossas pontes estaiadas", afirma.

Saiba mais

Pontes estaiadas são compatíveis com estruturas pré-moldadas. A que transpõe o rio Negro contou com segmentos de sete metros, que pesavam 250 toneladas e foram moldados in loco. Esse tipo de obra também não requer concretos especiais, apesar de consumir uma quantidade maior de aço em sua estrutura.

Ponte estaiada no Pará, sobre o rio Guamá: construção está presente em todas as regiões do país.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entrevistado
Catão Francisco Ribeiro, engenheiro civil e diretor executivo da Enescil Engenharia de Projetos
Currículo

- Graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1975)
- Tem pós-graduação em Pontes pela POLI (1978-1979)
- Cursou a faculdade de Economia e Administração da USP (1983-1984)
- Possui cursos de programação no ITA (1970) e de elementos finitos para aplicação em stress e stardine, na Control Data Systems, nos Estados Unidos
- É diretor executivo da Enescil Engenharia de Projetos, fundada em 1970. Responsável técnico por mais de 1.600 projetos estruturais de obras de arte especiais
Contato: eng.projetos@enescil.com.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330