Desafio do setor eólico é gerar mão de obra
Esforços são para que oferta de profissionais acompanhe o crescimento que esse modelo de geração de energia experimenta no Brasil
Por: Altair Santos
A energia eólica tende a se transformar no "pré-sal" das região Sul e Nordeste. Alguns estados, como a Bahia, saíram na frente e estão consolidando um pólo de construção de equipamentos aerogeradores. Isso tem demandado profissionais de engenharia e, como em outros setores, há falta de mão de obra.
Atentas, as universidades começam a se voltar para o setor eólico, lançando cursos de graduação em energias renováveis. Atenta ao mercado, a Associação Brasileira de Energia Eólica (AbeEólica) também estimula o treinamento de profissionais. Segundo a presidente-executiva Elbia Melo, os esforços são para que haja oferta de mão de obra suficiente para manter o crescimento do setor. Confira a entrevista:
Qual o potencial estimado do Brasil para produzir energia eólica?
O potencial de 2011 é 300 gigawats. Agora, este resultado é de um estudo que foi feito nos últimos anos, considerando a tecnologia atual e partindo dos dados do primeiro atlas eólico brasileiro - feito no início da década passada. Neste período, o nosso potencial estimado foi de 146 gigawats. Só que de lá para cá, com o ganho tecnológico, a melhora de tecnologia e o avanço na exploração dos ventos - naquela época a gente trabalhava com torre de 50 metros de altura e agora estamos com torres de 100 metros - o potencial eólico praticamente duplicou.
Está se consolidando na região Nordeste um pólo de construção de equipamentos aerogeradores. O Brasil tem mão de obra para atender a essa demanda da indústria eólica?
A mão de obra está crescendo junto com a necessidade da indústria. Inclusive, é uma das nossas preocupações buscar justamente instituições que treinem a mão de obra. Já firmamos parceria com o Sesi e o Senai, mas trata-se de um setor intensivo em tecnologia, e que exige mão de obra especializada. As regiões Nordeste e Sul são as que mais têm recebido investimento e as que mais demandam profissionais. Principalmente a Nordeste, por causa da implantação de indústrias de equipamentos para geração eólica.
Em 2011, a Universidade Federal do Ceará (UFC) lançou um curso de graduação em Engenharia de Energias Renováveis. Outras universidades deveriam seguir esse caminho?
Deveriam, e estão seguindo. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) por exemplo, tem o primeiro curso de mestrado em energia eólica. O Ceará já criou o seu e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) também está seguindo o mesmo caminho. Trata-se de uma indústria muito nova, no que se refere à cadeia produtiva, à cadeia de equipamentos, à necessidade de inovação, de pesquisa e de desenvolvimento. Essas instituições estão cada vez mais buscando oferecer cursos para capacitar as pessoas e atender as necessidades do mercado. Veja, no Brasil, os primeiros leilões foram em 2009 e os investimentos começaram a acontecer a partir de 2010. Você precisa de três anos para construir um parque eólico e colocar em operação. Então, a demanda está surgindo agora, assim como a oferta. Inclusive, aqui na AbeEólica temos um trabalho chamado Rede de Pesquisa. O objetivo é justamente aglutinar num locus de informação toda a demanda por mão de obra, demanda por inovação, por pesquisa e desenvolvimento. A ideia é ter um cadastro, para que a oferta encontre a demanda de maneira mais otimizada.
Hoje, o Brasil está precisando importar mão de obra ou já existe qualificação suficiente para o setor de energia eólica?
As fábricas que têm aqui utilizam 95% de mão de obra brasileira, o que, sem dúvida nenhuma, tem gerado muito emprego no país.
Ao que parece, a energia eólica no Brasil tem sido entregue para a iniciativa privada ou as estatais também têm se dedicado ao setor?
Não há preferência de capital, pois os setores são regulados, têm regras e isso faz com que os investimentos sejam privados ou públicos. No caso da energia eólica, temos muitas empresas privadas brasileiras, genuinamente brasileiras, e temos também empresas estrangeiras investindo no setor, assim como estatais como CEMIG, Furnas e Eletronorte.
As estatais que começam a entrar no ramo da energia eólica têm readaptado seus profissionais ou têm buscado no mercado especialistas em energia eólica?
Elas estão fazendo um mix. Em muitas situações, elas treinam o seu pessoal. Isso quando têm mão de obra disponível. Caso contrário, elas contratam lá fora. Como não havia o hábito de construir parques eólicos, mas essas empresas têm expertise em construir linhas de transmissão, e a lógica da construção de uma torre eólica é um pouco parecida com uma torre de transmissão, elas têm aproveitado bastante esses profissionais.
A maior parte dos especialistas em energias renováveis encontrados atualmente em empresas privadas estão saindo do universo acadêmico?
Tem uma parte, mas é um percentual pequeno. A gente tem que entender melhor o que é sair do ambiente acadêmico. Um aspecto é uma pessoa que termina a graduação e vai, naturalmente, ao mercado de trabalho. Isso não é buscar profissionais no mundo acadêmico. Outro é aquele profissional que é professor, que é pesquisador da universidade e que é contratado pelas empresas. Mas neste caso, os números de contratações não têm sido muito relevantes.
Esse gargalo na mão de obra pode prejudicar o desenvolvimento da energia eólica no Brasil?
Não chamo de gargalo, mas de desafio. Como é uma indústria que está crescendo com muita rapidez, não estávamos preparados para tanta velocidade e, então, está se buscando rapidamente ofertar mão de obra. Estamos conseguindo, a ponto de não chegar numa situação de dizer: olha, não vai dar para fazer obra porque não tem mão de obra especializada. Não chegou nesta situação, e possivelmente não vai chegar. Há um empenho grande para treinar e formar mão de obra.
Para o profissional de engenharia que quer se especializar em energia eólica, quais são as alternativas?
Geralmente, eles têm uma graduação básica de engenharia elétrica, de engenharia civil ou eletrônica. Daí, buscam um mestrado numa área mais especializada. Tem muitos profissionais que não são necessariamente engenheiros, mas economistas, administradores, e que buscam profissionalização nesta área. Até porque, a indústria exige várias formações. Desde uma qualificação para o chão da fábrica até para produzir equipamentos. Também tem muita demanda nas áreas de investimento.
Entrevistada
Elbia Melo, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (AbeEólica)
Currículo
- Elbia Melo é doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003), mestre em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina (1999), e bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Uberlândia (1997)
- É presidente Executiva da AbeEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) desde setembro de 2011
- Foi membro da diretoria da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) de junho de 2006 a abril de 2011
- Foi conselheira da Eletrosul (2005-2006), economista-Chefe do ministério de Minas e Energia (2003-2006), coordenadora de política institucional do ministério da Fazenda (2002-2003), assessora na Eletrobras (2001), Assessora na Aneel (2001-2001), professora da Universidade Federal de Santa Catarina (1998-2000)
- Tem experiência na área de economia, com ênfase em economia industrial. É especialista em regulação e mercados de energia elétrica, tendo atuado nessa área desde 1998
Contato: comunicacao@abeeolica.org.br / elbia.melo@ abeeolica.org.br / @elbiamelo
Créditos foto: Divulgação/AbeEólica
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Congresso impulsiona estruturas subterrâneas
Engenharia brasileira já realizou grandes obras, mas recentemente há pouco investimento no setor de túneis. Evento faz alerta para essa situação
Por: Altair Santos
Entre 20 e 22 de março, acontece em São Paulo o 3º Congresso Brasileiro de Túneis e Estruturas Subterrâneas. O evento é considerado uma espécie de divisor de águas para o setor. Na década passada, houve pouco investimento nesta área, apesar de a engenharia brasileira ter obras relevantes e reconhecidas internacionalmente. Por isso, o objetivo do encontro é promover intercâmbio e debater 11 temas considerados fundamentais para impulsionar novos projetos e construções.
Para Tarcisio Barreto Celestino, presidente do Comitê Brasileiro de Túneis e um dos organizadores do encontro, nesta área a engenharia brasileira não está mais entre as melhores do mundo. "Já fomos melhores do que somos hoje. Em algumas áreas há o que melhorar, inclusive às obras relacionadas a túneis convencionais", diz o especialista, afirmando que atualmente não há nenhuma construção de vulto no país. "Nós já fizemos a usina hidrelétrica subterrânea de Serra da Mesa, que é uma obra inquestionável. Também tem a caverna da usina Paulo Afonso IV, feita há mais de 30 anos e viabilizada por um projeto nacional, mas atualmente não há nenhuma que impressione", completa.
Além de novas tecnologias, o tema estocagem subterrânea será um dos principais do congresso. "É inconcebível que o Brasil até hoje não tenha nada de estocagem subterrânea, apesar de ter tecnologia. Nos países nórdicos, todo o petróleo deles é estocado em subterrâneo, porque é mais barato e mais seguro. Por isso, teremos uma mesa redonda sobre o assunto", revela Tarcisio Barreto Celestino.
Outro assunto a ser destacado no 3º Congresso Brasileiro de Túneis e Estruturas Subterrâneas serão os túneis imersos. "Finalmente o Estado de São Paulo contratou um projeto para construir o túnel Santos-Guarujá. Vai ser o primeiro no Brasil, quando na realidade essa é uma técnica que existe há mais de 100 anos. Argentina e Cuba já têm obras de túneis imersos, mas só agora vamos construir uma aqui no Brasil", comenta o presidente do Comitê Brasileiro de Túneis. O túnel Santos-Guarujá deve ficar pronto em 2016 e vai custar R$ 1,3 bilhão.
Trabalhos de 14 países serão analisados no evento, com destaque para aqueles considerados donos das melhores tecnologias em construção de túneis, como Noruega, Suécia, Finlândia, Áustria e Suíça. Segundo Tarcisio Barreto Celestino, será a oportunidade para que o universo acadêmico possa ajudar a impulsionar esse setor da engenharia. Atualmente, apenas quatro universidades dedicam cursos de pós-graduação e doutorado em obras subterrâneas: a USP, em São Carlos, a UnB, a UFRJ e a PUC-RJ. "Profissionais nós temos, mas faltam obras", avalia o especialista.
Ainda de acordo com Tarcisio Barreto Celestino, o estímulo a esse tipo de construção é bom também para o setor de cimento e concreto. "O básico de uma estrutura de suporte, de um túnel, de uma obra subterrânea, é o concreto e o aço. A cada quilômetro de túnel, são consumidos 10.000 m³ de concreto, em média. Ou seja, são obras que estimulam a cadeia produtiva da construção civil", finaliza.
Serviço
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Entrevistado
Tarcisio Barreto Celestino, presidente do Comitê Brasileiro de Túneis
Currículo
- Graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1972)
- Tem mestrado em Engenharia Civil - University of California, Berkeley (1978) e doutorado em Engenharia Civil - University of California, Berkeley (1981)
- Atualmente é professor doutor da Universidade de São Paulo e gerente de engenharia civil da Themag Engenharia
- É presidente do Comitê Brasileiro de Túneis, Coordenador do Grupo de Trabalho de Concreto Projetado da International Tunnelling Association e consultor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
- Foi professor convidado do Programa de Mestrado em Obras Subterrâneas do IHE, em Delft, na Holanda
- Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Mecânicas das Rochas, atuando principalmente nos seguintes temas: túneis, mecânica das rochas, concreto projetado, barragens e aplicações de métodos numéricos.
Contato: tbcelest@usp.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável Altair Santos - MTB 2330
Manutenção é o que dá vida ao "prédio verde"
Não basta construir uma edificação dentro dos padrões de sustentabilidade. É preciso engajamento do condomínio para que o conceito sobreviva
Por: Altair Santos
De acordo com o Green Building Council Brasil, o país ocupa atualmente o quarto lugar no ranking de prédios verdes com certificados LEED ™ (Leadership in Energy and Environmental Design). O conceito tem se destacado nos processos decisórios de players importantes da construção civil, principalmente quando envolve empreendimentos comerciais. No entanto, os padrões de sustentabilidade não se encerram nas etapas de projeto e construção do edifício. A certificação só se renova a cada cinco anos se a manutenção e a operação perseguirem as normas ao longo da vida útil do prédio.
Segundo João Alves Pacheco, diretor de engenharia e sustentabilidade da Cushman & Wakefield - empresa especializada em gestão de serviços e operação de edifícios verdes -, é fundamental assegurar que as premissas adotadas no projeto sejam mantidas para que os benefícios previstos se concretizem. "É imprescindível o engajamento e deve ocorrer uma campanha constante para que todos os ocupantes do condomínio entendam e se envolvam com as questões de sustentabilidade implantadas", explica. " É importante focar no desempenho contínuo dos sistemas que consomem recursos e também no conforto ambiental", complementa Tatiana Tostes, coordenadora de sustentabilidade da Cushman & Wakefield.
A certificação que trata da manutenção e da operação de prédios verdes é a LEED™ EB O&M (Existing Buildings: Operation & Maintenance) que possui validade e deve ser renovada a cada cinco anos. Ela ocorre após a etapa de construção, quando o prédio já está ocupado e operando. O selo é uma garantia de gestão consistente do empreendimento, embasada em políticas e processos de manutenção de equipamentos, que englobam consumo de energia e de água, destinação dos resíduos e serviços como os de limpeza e o paisagismo. O objetivo é maximizar a eficiência operacional e minimizar os impactos ambientais. "Por isso, é recomendável que os gestores do edifício recebam capacitação adequada", diz João Alves Pacheco.
A Green Building Council Brasil destaca que, apesar de receber investimento maior que o de um edifício comum - entre 2% e 7% do valor da obra -, os "prédios verdes" permitem uma redução do consumo de energia de até 30% e queda no consumo de água entre 30% e 50%. "Algum custo adicional que ocorra em função da inclusão de equipamentos ou sistemas deve ser coberto pelo melhor desempenho do edifício. Sua boa performance, através do monitoramento dos seus gastos, deve resultar em economia financeira, além de reduzir a agressão ao meio ambiente. Contudo, essa nossa afirmação considera que serão contratados serviços de gestão e operação de facilities de boa qualidade", ressalta Tatiana Tostes.
Confira os requisitos do LEED™ EB O&M
Terreno sustentável
- Substituição de produtos de limpeza convencionais por produtos com certificação Green Seal, que agridem muito menos o meio ambiente.
- Substituição de produtos utilizados para controle de pestes por outros menos tóxicos e com baixo impacto ambiental.
- Substituição de cortadores de grama movidos a combustão por equipamentos movidos a energia elétrica, o que reduz a emissão de poluente e o ruído durante a operação.
- Mais de 30% de todo o volume de chuvas é mantido no empreendimento, devido à infiltração da água em áreas verdes e ao sistema de captação e retenção de água pluvial.
- O paisagismo recebe espécies catalogadas e as plantas existentes são adequadas ao habitat natural da região.
- Localização do empreendimento estimula o uso de transporte coletivo.
Uso racional de água
- As caixas acopladas dos vasos sanitários são reguladas para eliminar vazamentos e garantir um consumo de 6 litros por acionamento.
- Os restritores de vazão existentes nas torneiras dos lavatórios foram aferidos, garantindo um consumo médio máximo de 0,5 litro por acionamento.
- Redução de, pelo menos, 35% no consumo de água.
- 100% da água utilizada para irrigação é proveniente de água de chuva.
Uso racional de energia
- Alteração de horário de funcionamento de determinadas áreas de estacionamento, permitindo a redução no consumo de energia com iluminação.
- Substituição de lâmpadas fluorescentes por instalações de LEDs.
- Instalação de um banco de capacitores, reduzindo a zero o custo de energia capacitiva e reativa.
- Alterações no sistema de automação para permitir que chillers de menor capacidade, antes utilizados apenas para circuitos 24 horas, assumam automaticamente a demanda de refrigeração dos escritórios durante o horário de ponta, reduzindo o consumo de energia. Os chillers são equipamentos responsáveis por refrigerar a água utilizada para condicionamento dos prédios.
- Reestruturação da iluminação do hall dos elevadores dos andares, permitindo que apenas parte da iluminação, a necessária para eficiência, fique acessa durante o período noturno.
Materiais e recursos
- Plano de gestão de resíduos sólidos do empreendimento inclui coleta de pilhas e baterias, cartuchos e toners de impressoras e bitucas de cigarros, sendo todos esses resíduos encaminhados para reciclagem.
- As lâmpadas fluorescentes são armazenadas em local específico e tratadas por empresa especializada.
Qualidade do ambiente interno
- Instalação, próximo às catracas (em caso de edifícios comerciais) de capachos com 3 metros de comprimento, capazes de reter mais de 80% dos contaminantes que seriam carreados para outros pavimentos pelas solas dos sapatos dos ocupantes.
- Medição rigorosa dos sistemas de fornecimento de ar, garantindo que o volume mínimo de ar necessário para manter a qualidade do ambiente interno seja fornecido aos ocupantes.
- Delimitação de área para fumantes, com permissão apenas à área do "fumódromo", distante de qualquer entrada ou tomada de ar das edificações para evitar a contaminação das áreas internas.
Entrevistados
João Alves Pacheco e Tatiana Tostes, da Cushman & Wakefield
Currículos
- João Alves Pacheco é graduado em Tecnologia Mecânica pela FATEC-SP e mestre em Administração de Empresas pela PUC-SP. Também é profissional acreditado (LEED™-AP) pelo USGBC (Conselho Americano de Prédios Verdes).
- Possui grande experiência em gerenciamento de facilities, tendo trabalhado como gestor nas áreas de engenharia e manutenção predial. Na Cushman & Wakefield há 14 anos, João Alves Pacheco é atualmente o diretor responsável pelas áreas de suprimentos, qualidade, planejamento, engenharia de manutenção e consultoria de certificação de edifícios verdes.
- Tatiana Tostes é coordenadora de Sustentabilidade da Cushman & Wakefield, com formação acadêmica em administração na Universidade Presbiteriana Mackenzie, na Universidade de São Paulo (USP) e na Fundação Getúlio Vargas
Contatos: joao.pacheco@sa.cushwake.com / tatiana.tostes@sa.cushwake.com / http://www.cushwake.com
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Brasil concorre com os EUA em consumo de cimento
Crescimento médio de 7% ao ano, país compete pela 3ª colocação no ranking mundial de consumo de cimento, que é liderado por China e Índia
Por: Altair Santos
O Brasil fechou 2011 com a venda acumulada de 63,545 milhões de toneladas de cimento, contabilizando mercado interno e exportações. Em janeiro de 2012 esse volume rompeu a barreira de 64 milhões. A meta do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) é que o ano termine ultrapassando a marca de 68 milhões. Se a projeção se confirmar, o país pode chegar a uma situação de quase empate técnico com os Estados Unidos, que desde 2006 vêm registrando queda no consumo de cimento.
A crise no hemisfério Norte fez com que a venda do produto caísse praticamente 50% em cinco anos. Em 2006, o mercado interno dos Estados Unidos consumiu 127,4 milhões de toneladas. No ano passado, esse volume foi de 67,3 milhões, ou seja, queda de 47,17%. Desde que se mantenha a tendência, é possível que o Brasil, que vê o setor crescer à média de 7% ao ano, ultrapasse os EUA ao final de 2012, mas o SNIC não crê nesta hipótese. "Os sinais nos Estados Unidos são de que eles voltarão ao volume de 70 milhões de toneladas este ano", avalia o presidente do sindicato, José Otavio Carneiro de Carvalho.
No ranking de consumidores de cimento, o Brasil ocupa a 4ª colocação. China e Índia lideram com larga vantagem. Os chineses consomem por ano quase dois bilhões de toneladas do produto, enquanto os indianos estão na faixa de 220 milhões de toneladas. O que tem surpreendido é o crescimento do Irã, que já é o 5° maior produtor mundial de cimento (60,8 milhões de toneladas em 2010) e o 6° maior consumidor (51 milhões de toneladas).
O Irã, no entanto, não deve ameaçar a posição do Brasil no ranking. Principalmente porque a indústria nacional ganhará o incremento de sete novas fábricas de cimento em 2012. "O Brasil possui 80 fábricas. Foram anunciadas pelas empresas a inauguração de cerca de sete novas fábricas neste ano", confirma José Otavio Carneiro de Carvalho, colocando a indústria do cimento entre os quatro setores da economia brasileira que mais apresentam crescimento sustentável. "Colocaria em pé de igualdade com o comércio, a indústria extrativa mineral e a própria construção civil", completa.
Por região, o balanço do SNIC mostra que entre janeiro e dezembro de 2011, o Norte do país teve um crescimento de 9,9% no volume de vendas, comparativamente a 2010. Foi a maior taxa, seguida do Centro-Oeste, com 9,6%. O Sul cresceu 7,4% contra 7% do Sudeste e 6,3% do Nordeste. Segundo o presidente José Otavio Carneiro de Carvalho, a tendência é que o setor de construção habitacional continue como o maior consumidor de cimento do país em 2012. "Principalmente, porque cresceu o volume de blocos de concreto nas construções e também de estruturas pré-moldadas", afirma.
Entrevistado
José Otávio Carneiro de Carvalho, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento
Currículo
- Graduado em engenharia de produção pela PUC-RJ (1965)
- Em 1969, concluiu pós-graduação em engenharia econômica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
- Entre 1975 e 1978, integrou a equipe de assessoria econômica do então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen
- Desde 1982 atua no setor de cimento, onde prestou consultoria em diversos projetos
- Em 2001, foi convidado para o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), onde assumiu a função de secretário executivo e depois se tornou vice-presidente executivo da entidade
- No início de 2011, assumiu o cargo de presidente do SNIC
Contato: secretaria@snic.org.br / snic@snic.org.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Shopping center alicerça construção civil em 2012
Setor planeja inaugurar 43 novos empreendimentos e estimativa é que movimente pelo menos 500 mil m³ de concreto pré-moldado
Por: Altair Santos
A indústria de shopping centers promete ser um dos alicerces para manter a construção civil em alta em 2012. Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) este ano será inaugurado praticamente o dobro de empreendimentos de 2011. De 22, saltará para 43. As novas construções somam 1,5 milhão de m² de ABL (Área Bruta Locável).
Seguindo a tendência do mercado de conquistar o interior do Brasil, 29 dos shoppings em obras localizam-se em municípios com população até 500 mil habitantes. "O interior é o novo eldorado para a indústria de shopping. Isso começou em 2010, intensificou-se em 2011 e seguirá assim em 2012. Nós, por exemplo, estamos trabalhando em vários shoppings de cidades pequenas", revela Rubens Kochen, da Kochen Associados, especialista em consultoria e planejamento de shopping centers.
De acordo com estimativa preliminar da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (Abcic) as obras destes novos 43 shopping centers previstos para 2012 devem movimentar um volume de concreto pré-moldado na ordem de 500 mil m³. "Diria que os shopping centers representam sempre um grande potencial para a construção civil, a arquitetura e o planejamento. São empreendimentos de alto investimento e curto prazo de execução (em média, dois anos) que trazem resultados rápidos para as empresas, ao contrário das grandes obras públicas que levam anos para dar retorno", avalia Rubens Kochen.
O consultor estima que a indústria de shopping center no Brasil poderia estar até mais aquecida se houvesse mais oferta de terrenos. Nos grandes centros urbanos, o cenário já é de saturação. Por isso, a migração para o interior. "A dificuldade maior não está na obra nem no projeto. O problema mesmo é encontrar terrenos situados em locais de fácil acesso e cuja zona de influência tenha um poder aquisitivo adequado para construir um shopping center", cita Rubens Kochen.
Atualmente, o país conta com 430 empreendimentos em operação e 10 milhões de m² em ABL. O setor de shopping centers emprega 775 mil pessoas e comporta 80.192 lojas. Para este ano, a Abrasce prevê alta de 12% nas vendas e geração de mais 115 mil novos empregos. "Boa parte destes novos shopping centers em construção são para atender as classes C e D, que passaram a consumir mais e que têm buscado conforto e segurança nas compras", finaliza Rubens Kochen.
Perfil do consumidor de shopping center no Brasil
- As classes sociais predominantes nos shopping centers continuam sendo as A e B, que representam 56% do total de visitantes.
- Em 2011, no entanto, as classes C e D tiveram uma participação maior entre o total de visitantes dos shoppings. Juntas, somaram 44% do total.
- Sábado é o dia com melhor desempenho no faturamento semanal dos shoppings, que representa 24%, seguido de sexta-feira, com 16%. Quase metade do faturamento semanal concentra-se nesses dois dias.
- 93% dos shopping centers abrem aos domingos. Este dia é considerado o terceiro com melhor desempenho no faturamento semanal, com 13%, mesmo índice obtido nas quartas e quintas.
- Em todo o país, o tráfego mensal de pessoas atinge a marca de 376 milhões.
Entrevistados
Rubens Kochen, da Kochen Associados, especialista em consultoria e planejamento de shopping centers e Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce)
Currículo
- Graduado em administração de empresas e sócio diretor da Kochen Associados, especializada em consultoria de varejo e shopping centers desde 1966.
Contato: rubens@kochen.com.br / abrasce@abrasce.com.br / http://www.portaldoshopping.com.br/index.asp
Crédito foto: Divulgação
Jornalista responsável Altair Santos - MTB 2330
Redes sociais alteram negócios na construção civil
Facebook, Twitter e Linkedln estão entre as ferramentas mais utilizadas pelas empresas e pelos profissionais do setor, mudando conceitos e impondo tendências
Por: Altair Santos
Segundo dados do Ibope Nielsen, o Brasil fechou 2011 com 33 milhões de usuários do Facebook, 14,5 milhões do Twitter e 4 milhões do Linkedln. Boa parte dos que se conectam frequentemente a estas redes sociais é de profissionais que as utilizam para expandir a carreira. Da mesma forma, as companhias também usam essas ferramentas para buscar profissionais qualificados, prospectar negócios e aprimorar pesquisas. Na cadeia produtiva da construção civil não é diferente, seja qual for o segmento em que a empresa ou o profissional estiver vinculado.
As construtoras estão entre as que melhor têm utilizado as redes sociais. Além de divulgar seus lançamentos, elas utilizam a interação que Facebook e Twitter propiciam para realizar pesquisas de mercado e direcionar seus produtos. Uma tendência do mercado, que é priorizar consumidores interessados em apartamentos com um ou dois quartos, fortaleceu-se depois que foram colhidas informações pelas redes sociais. "Se essas ferramentas constroem e destroem relacionamentos, por que não iriam influenciar também nos projetos das construtoras?", lembra Leandro Kenski, CEO da Media Factory - especializada em marketing digital.
Outra mudança que as redes sociais trouxeram para o mercado imobiliário foi na relação cliente-vendedor. Um case conhecido no Brasil é o da Marques Construtora, de São Paulo. Desde 2009 a empresa é pioneira no país em colocar o cronograma da obra no Facebook. Diariamente os clientes podem acessar a ferramenta para verificar fotos que comprovam a evolução do empreendimento. "Hoje você consegue alcançar consumidores mais rapidamente e muitas vezes com uma estratégia bem traçada e a um custo baixo. Então, é fundamental que a empresa esteja presente no relacionamento com seus clientes", reforça Leandro Kenski.
Para o especialista, o mercado imobiliário, junto com o setor de turismo e de comércio eletrônico, está entre os segmentos que melhor utiliza as redes sociais. Boa parte das construtoras e das imobiliárias, por exemplo, já usam Facebook e Twitter como ferramentas de SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor). "Isso as ajuda a resolver os problemas com mais rapidez. Até porque, se não solucionar, os problemas tendem a se agravar, por causa da rápida repercussão. Se a empresa não faz nada, ela fica à deriva, digamos assim. Então, é ideal que a empresa seja alertada via redes sociais, mas também reaja rapidamente", destaca o consultor em marketing digital.
Profissionais
Não são apenas as empresas ligadas à construção civil que se beneficiam das redes sociais. Os profissionais que atuam no setor também. Engenheiros e arquitetos, por exemplo, hoje utilizam Twitter, Facebook e Linkedln para prospectar oportunidades de trabalho e trocar informações sobre projetos e tecnologias. Cada ferramenta desempenha uma função neste universo. "O Linkedln é mais eficiente para formar um networking (rede de relacionamento profissional). Já o Facebook serve para divulgar projetos, teses, uso de novas tecnologias, enfim, troca de conhecimento. Quanto ao Twitter, diria que é útil para uma comunicação rápida, se bem que os profissionais hoje usam as três ferramentas simultaneamente", finaliza Leandro Kenski.
Entrevistado
Leandro Kenski, CEO da Media Factory
Currículo
- CEO da Media Factory, agência de marketing de performance
- Com mais de 12 anos de experiência em internet, o executivo é o fundador do site iVox e especialista em marketing digital
Contato: @leandrokenski / http://www.mediafactory.com.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
NBR 15575 vai precisar de constantes revisões
Por: Altair Santos
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) abriu no dia 20 de dezembro de 2011 uma nova consulta pública para seis emendas de projetos da NBR 15575/2008 - Norma de Desempenho. São elas: gerais (NBR 15575-1); sistemas estruturais (NBR 15575-2); sistemas de pisos internos (NBR 15575-3); sistemas de vedações verticais internas e externas (NBR 15575-4); sistemas de coberturas (NBR 15575-5) e sistemas hidrossanitários (NBR 15575-6). Com isso, o prazo de exigibilidade das normas foi adiado de março de 2012 para março de 2013.
No entender da professora-doutora do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) Mércia Maria Bottura de Barros, o adiamento não significa que a norma não esteja sendo praticada. Para ela, as construtoras preocupadas com a qualidade de seus produtos já trabalham dentro das exigibilidades da NBR 15575. É o que ela explica na entrevista a seguir:
Por que a Norma de Desempenho – NBR 15575/2008 - tem encontrado tanta resistência?
Não é tanta resistência assim. Na verdade, o mercado não estava preparado para passar de normas prescritivas para norma de desempenho. Então, é preciso um certo tempo de adaptação para isso. Acredito que o mercado tenha sido bastante receptivo, principalmente da parte das boas empresas. A norma de desempenho serviu para balizar as empresas, o que antes não era possível. Uma entrega um produto de excelente qualidade, outra não entrega e o cliente não consegue perceber isso. Acredito que a receptividade tenha sido boa, principalmente das empresas que estão querendo trabalhar seriamente pelo cliente. Não vejo tanta rejeição assim.
A ABNT abriu no dia 20 de dezembro de 2011 nova consulta pública nacional para seis emendas de projetos da NBR 15575. Que emendas são essas?
O que acontece é o seguinte: no ano passado, uma vez que a norma tinha sido colocada em vigência, mas não exigia obrigatoriedade, o meio técnico percebeu que havia algumas dúvidas em relação a alguns ensaios que estavam prescritos. Não se sabia se aqueles requisitos poderiam ser cumpridos da maneira que a norma estava colocando. Basicamente foram questões de desempenho acústico, principalmente. A parte de escorregamento de piso e uma ou outra coisa que era menos problemática, menos complicada. Isso, ao longo de 2011, veio sendo resolvido. Mas as reuniões acabam sendo muito demoradas, pois há muitos debates e se caminha muito lentamente. Então, estas revisões todas, que eram para ter sido finalizadas no ano passado, acabaram adiadas. Por isso, teve uma extensão do prazo para que a norma entre em vigência. Diria que a demora se deve porque é um processo muito democrático.
A CBIC tem recomendado aos profissionais do setor da construção que a votação seja "a favor sem restrições" das emendas. Isso é bom ou ruim?
Praticamente já houve o consenso de tudo aquilo que está lá, ou seja, a aceitação por parte da indústria é muito boa, porque significa que ela está acatando aquilo que está sendo discutido na comissão.
Sob o ponto de vista do consumidor, o que significa esse extenso debate em torno da NBR 15575? Ele mais perde ou mais ganha com isso?
Eu acho que a tendência sempre é do consumidor ganhar, na medida em que a gente tenha um mercado balizado por desempenho e não por norma prescritiva. O mercado mesmo vai poder se inteirar do que é exigido e vai poder ter isso como respaldo no dia em que ele fizer uma aquisição ou surgir algum problema. Então, a tendência daqui para frente é que o consumidor sempre ganhe.
Corre-se o risco de a norma entrar em vigor, mas apenas pró-forma. Ou seja, ela passa a existir, mas não muda nada no cenário da construção?
Não acredito, porque existem empresas que estão apostando bastante na qualidade, no desempenho e elas vão trabalhar por isso. Elas vão se diferenciar no mercado e todas aquelas empresas que quiserem sobreviver vão precisar também aceitar isso. Apesar das normas brasileiras, a maioria delas, não terem força de lei, quando cai no Poder Judiciário ele sempre tem a norma como parâmetro. Então, uma vez que a norma existe, se a empresa trabalhar fora da norma ela está fadada a ter muitos problemas lá na frente. Vai ser importante o meio técnico assumir a norma e lapidá-la. Aliás, ela é uma norma dinâmica e vai estar sempre sendo lapidada. Mas acredito muito que o mercado vai assumir a norma de desempenho sim.
Caso ela tivesse entrado em vigor com seu texto original, o que já teria mudado na construção civil?
Se ela tivesse entrado em vigor com seu texto original, o que teria mudado é o que está mudando. Já há várias empresas atentas as questões de segurança, as questões de manutenção, as questões acústicas e térmicas, enfim, já estão trabalhando dentro da norma e usando materiais de qualidade e sensíveis as diferenças climáticas do país. Mas estamos engatinhando no processo. É importante salientar que a norma foi muito balizada pelas boas construções do passado. Então, pelo menos estamos retomando uma condição de acústica e uma condição de segurança bastante próximas daquilo que o tradicional nos oferecia. Hoje, com as empresas cada vez mais querendo racionalizar, e diminuir custo, se não houver um parâmetro de desempenho esta diminuição de custo pode levar a problemas bastante sérios, comprometendo a durabilidade e a vida útil de componentes. Não é possível colocar uma esquadria e daqui a um ano ela apresentar corrosão e deformação. Então isso vai mudar. Até porque, a norma vai também reforçar a lei de defesa do consumidor.
Qual o temor das construtoras em relação à norma?
Isso sempre tem. É próprio do ser humano ter sempre medo do novo. Eu estou numa situação, eu estou estabelecido, porque vou mexer com aquilo que já está funcionando? Então vem a novidade, eu tenho que me mexer, eu tenho que pensar diferente, eu me preocupo. Mas passado este primeiro impacto, acho que todas as construtoras estão percebendo que elas vão ter muito a ganhar, pois vão poder competir no mercado com um parâmetro muito bem definido. Às vezes, elas competem com empresas completamente desestruturadas e, como o cliente não tem parâmetros, tanto faz. Acredito que a construção civil formal só vai ganhar com este processo.
A norma tem alguma influencia direta no programa Minha Casa, Minha Vida?
Todo o programa Minha Casa, Minha Vida, mesmo com a norma não estando em vigor, tem pautado os projetos para atender a NBR 15575. Então, o impacto daqui para frente será muito pequeno, pois a maior parte das empresas que está trabalhando com este programa já está levando em conta as condições mínimas estabelecidas pela norma de desempenho. Eu, particularmente, oriento um grupo de trabalho que analisa projetos do programa Minha Casa, Minha Vida. À luz da norma de desempenho, percebe-se que o impacto é pontual, porque a maioria dos elementos, dos componentes já atende aquilo que a norma está pedindo. Ela especifica condições mínimas para as pessoas viverem em comunidade, que é o caso dos edifícios de múltiplos pavimentos e dos conjuntos habitacionais, que precisam respeitar questões térmicas, acústicas e de segurança. Porque o restante, em termos de sistemas prediais, a gente tem normas bastante rígidas que já estavam super bem atendidas. Agora, a norma tem outro papel importante: ela está proporcionando a entrada de sistemas diferentes dos tradicionais. Por exemplo, o programa SINAT (Sistema Nacional de Avaliação Técnica) se apoia nas diretrizes da norma de desempenho para poder avaliar os novos sistemas. Isso permite a entrada das paredes maciças de concreto, das paredes pré-moldadas, o que agiliza as construções. Tudo porque, os novos sistemas se submetem à norma de desempenho.
O novo grupo de trabalho nomeado para coordenar a norma tem no comando um representante das construtoras. O que isso significa?
Trata-se de um engajamento forte das construtoras, porque no fim são elas que respondem pelo produto. Então, o fato de ter alguém da construção na coordenação é bastante importante. Mostra que eles estão preocupados e estão engajados. Mas eles não fazem a norma sozinho, pois nas comissões têm o pessoal de indústria de material, de indústria de componentes, tem todo o pessoal da engenharia consultiva, tem os neutros de institutos de pesquisa, universidades, enfim, todos participam. O fato do processo ser liderado pelas empresas construtoras, de ter o coordenador que é ligado a uma empresa construtora, é benéfico. Deste ponto de vista, por trazer o engajamento das construtoras, ele não prejudica absolutamente em nada. O trabalho é feito pela comunidade técnica, não pelas construtoras.
Com os debates para minimizar a norma, o Brasil perde uma grande oportunidade de dar um salto de qualidade nas construções habitacionais?
Diria que a norma está adequada ao que o país pode suportar neste momento. Mas ela abre o caminho para que se possa galgar degraus. Talvez não tão altos, mas constantemente. Não adianta colocar num patamar que ninguém consiga alcançar. É preciso colocar patamares intermediários, mas com uma estrada que cresça sempre. A ideia seria não parar nestas exigências, mas daqui a dois anos, três anos, ocorrer uma revisão. Conforme o mercado for assimilando, o processo galga um novo patamar. É o ideal? Pode ser que não, mas é o melhor para este momento do país.
Na cadeia produtiva da construção civil, quais setores são mais atingidos diretamente pela NBR 15575?
São as indústrias de materiais e componentes, principalmente as indústrias de componentes, e fundamentalmente as construtoras. Desempenho não é algo que se mede no material ou no componente. Não existe desempenho de janela, não existe desempenho de material polimérico, não existe desempenho de argamassa. Existe desempenho de vedo vertical, existe desempenho de vedo horizontal. Então, quando eu falo que a janela participa, ela participa enquanto elemento da vedação vertical. Mas ela sozinha não resolve. Ela está integrada numa vedação, que pode ser de painel, que pode ser de gesso acartonado, pode ser de alvenaria de bloco, mas a avaliação não é do material. É do subsistema ao qual esse material estará integrado. Por isso, as construtoras estão no centro do debate, porque são elas que precisam fazer com que o elemento funcione bem dentro do edifício.
Entrevistada
Mércia Maria Bottura de Barros, professora-doutora do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Currículo
- Graduada em Engenharia Civil pela Universidade Federal de São Carlos (1985), mestrado (1991) e doutorado (1996) em Engenharia de Construção Civil e Urbana, pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
- Atualmente é professora- doutora do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
- Tem experiência na área de Engenharia de Construção Civil. Participa do Grupo de Ensino e Pesquisa em Tecnologia e Gestão da Produção de Edifícios
- Os trabalhos realizados são focados nas linhas "Inovação e racionalização nos processos construtivos e Gestão da produção na construção civil, voltados aos temas: projetos de modernização produtiva (códigos de práticas e capacitação e certificação profissional), racionalização e Inovações em vedações verticais e horizontais e revestimentos
- Atua também na área de reabilitação de edifícios com foco para as tecnologias e custos. É pesquisadora da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE)
- É assessora ad hoc da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)
Contato: mercia.barros@poli.usp.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Série grandes obras: Amazonas investe R$ 3 bilhões
Por: Altair Santos
O Amazonas prioriza atualmente cinco grandes obras que vão influenciar diretamente na infraestrutura do Estado. São elas, a Arena da Amazônia - uma das subsedes da Copa do Mundo de 2014 -, o Monotrilho de Manaus, o centro de convenções do Amazonas, a duplicação da AM-070 e intervenções viárias no município de Manaus. Para essas obras, algumas em parceria com o governo federal, serão investidos R$ 3 bilhões nos próximos dois anos.
Dos empreendimentos, estão em construção a Arena da Amazônia e o centro de convenções. A próxima a sair do papel será a duplicação da AM-070, que faz a ligação entre a capital e os municípios de Iranduba, Novo Airão e Manacapuru - todos eles integrantes da Região Metropolitana de Manaus. Essa obra tornou-se urgente, pois faz parte do complexo viário que tem como protagonista a ponte sobre o Rio Negro, inaugurada em 2011.
De acordo com o projeto executivo da duplicação da AM-070, está prevista a construção de duas pistas com 7,10 m de largura e acostamento e drenagem de 2,30 m para cada lado. A pista terá largura total de 18,80 m, além de contemplar a duplicação das pontes sobre o Rio Miriti e Rio Ariaú. O custo previsto para a realização desta obra será da ordem R$ 236 milhões e vai abranger 78 quilômetros.
Outro empreendimento prestes a começar é o que vai instalar um corredor de transporte coletivo na Avenida das Torres de Manaus. A pista onde vão circular os ônibus terá extensão de 11,2 quilômetros e a Secretaria de Estado de Infraestrutura (SEINFRA) tenta viabilizar junto à Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) para que o corredor seja construído em concreto. Esse projeto, assim como o do Monotrilho, receberá recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O Monotrilho é a obra mais cara do atual governo do Amazonas. Vai custar R$ 1,3 bilhão e será um metrô de superfície sustentado por vigas de pré-moldado numa extensão de 20 quilômetros e com capacidade para transportar 170 mil pessoas por dia. A assinatura do contrato ocorreu dia 10 de fevereiro de 2012 e a construção ficará a cargo do Consórcio Monotrilho Manaus, composto pelas empresas CR Almeida S.A., Engenharia de Obras Mendes Júnior Trading e Engenharia S.A, além da Scomi Engineering BHD, responsável pelo fornecimento da tecnologia e dos veículos que irão compor o Monotrilho.
Segundo a secretária da SEINFRA, Waldívia Alencar, a assinatura do contrato permitirá o início da elaboração do projeto executivo. "A partir de agora, o consórcio vencedor da licitação inicia o projeto executivo e o delineamento da área onde será realizada a obra para implantação do Monotrilho", afirmou. O empreendimento tende a consumir mais concreto pré-moldado do que a Arena da Amazônia. O estádio vai demandar a fabricação de 2,5 mil peças e tem consumo estimado de 26,2 mil m³ de concreto.
Ainda de acordo com Waldívia Alencar, essas novas obras também irão impulsionar a construção civil do Amazonas. "Elas trarão desenvolvimento socioeconômico e tecnológico ao setor. Obras como a da Arena da Amazônia e a do Monotrilho representam a absorção de tecnologias até então inexistentes em nosso mercado, principalmente no que diz respeito ao Monotrilho", conclui.
Entrevistado
Secretaria de Estado de Infraestrutura (SEINFRA) do Amazonas
Contato: gabinete@seinf.am.gov.br / comunicacao@seinf.am.gov.br
Créditos foto: Divulgação /Roberto Carlos/SEINFRA
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Brasil precisa urgentemente de engenheiros ferroviários
Modal volta a receber investimentos, mas país carece de mão de obra especializada. Por isso, universidades se voltam para a especialização
Por: Altair Santos
O Brasil tem a intenção de até 2025, fazer com que o modal ferroviário responda por 35% de sua matriz de transporte. Hoje, essa parcela é de 25%. Para isso, investe em projetos que englobam mais de 21 mil quilômetros de ferrovias, como o TAV (Trem de Alta Velocidade) que ligará São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, além da expansão da ferrovia Norte-Sul, a construção da nova Transnordestina e a ampliação de linhas do metrô em várias capitais. Só que existe um gargalo que pode prejudicar esse plano: a falta de mão de obra especializada em ferrovias.
Há uma profunda carência de profissionais com esse perfil na engenharia nacional. De cada 8 mil engenheiros civis que se formam anualmente no Brasil, apenas 5% migram para a área de transportes. Destes, nem metade se especializa em construção de ferrovias. Foi o que detectou o encontro promovido no final de 2011 pela CNT (Confederação Nacional dos Transportes). Segundo o professor Fernando Marques de Almeida Nogueira - um dos palestrantes do evento - a saída está na formação de engenheiros ferroviários. "A solução efetiva para esse problema crônico é a criação de cursos de graduação em engenharia ferroviária", diz.
Mestre da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fernando Marques acredita que ainda em 2012 a UFJF irá criar o primeiro curso de graduação em engenharia ferroviária do Brasil. "O projeto está pronto, mas faltam professores. Tão logo o governo federal libere novas vagas para a UFJF, o curso de graduação em engenharia ferroviária será lançado", afirma. Atualmente, existem no país alguns cursos de nível técnico e algumas especializações (pós-graduação lato sensu) na área de ferrovia. Fora isso, não há nenhum outro investimento na capacitação de pessoal para o setor ferroviário.
Fernando Marques de Almeida Nogueira, que atua na área de pesquisa do setor ferroviário, alerta que o Brasil precisa rapidamente despertar para o setor, como vem fazendo a China. Nos últimos 10 anos, os chineses construíram uma malha de TAV maior que toda a malha existente na Europa. Até mesmo os Estados Unidos, no pós-crise, redescobriram o TAV. “É uma tendência mundial, mas é preciso ter tecnologia. Seria um atraso para o Brasil postergar esse projeto, assim como retardar o investimento em mão de obra qualificada", avalia o especialista.
O professor da UFJF destaca que o Brasil tem um avançado sistema de transporte ferroviário de cargas e que precisa evoluir no setor de passageiros, ao mesmo tempo em que necessita substituir tecnologia importada por tecnologia nacional. "Infelizmente, as tecnologias empregadas nas empresas são em grande parte ainda importadas. Precisamos de engenheiros que desenvolvam uma tecnologia nacional. Na minha opinião, os países com melhores tecnologias ferroviárias são os Estados Unidos, França, Alemanha, China e Japão", finaliza.
Leia mais sobre o sistema ferroviário brasileiro: Matérias 01, 02 e 03.
Veja os novos projetos de ferrovias de carga (clique na imagem para ampliar):
Fonte: DNIT
Entrevistado
Fernando Marques de Almeida Nogueira, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e especialista em transporte ferroviário
Currículo
- Graduado em engenharia cartográfica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995)
- Possui mestrado em engenharia elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (1998) e doutorado em engenharia elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (2007)
- Atualmente, é professor adjunto da Universidade Federal de Juiz de Fora. Tem experiência na área de engenharia de produção, com ênfase em otimização e simulação, atuando principalmente nos seguintes temas: pesquisa operacional (otimização, simulação e scheduling) processamento de imagem, processamento de sinais e transporte ferroviário
Contato: fernando.nogueira@ufjf.edu.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Empresas investem na formação de novas lideranças
Geração Y começa a ocupar cargos relevantes nas corporações, mas não sem antes passar por intenso treinamento e a orientação de um coaching
Por: Altair Lopes
Entre as décadas de 1970 e 1990, independentemente do tipo de negócio da empresa, um funcionário precisava de um tempo de maturação de até vinte anos para galgar a um cargo de liderança. Hoje, esse período de capacitação caiu para cinco anos, em média. Com o mercado mais agressivo, e os bons gestores sendo disputados ferozmente pelas companhias, restou as corporações investir maciçamente na qualificação e apostar nos talentos da geração Y para ocupar os cargos relevantes.
Normalmente, explica a consultora de desenvolvimento pessoal e profissional, Márcia O. Lopes, o sucesso desse modelo que acelera a formação de lideranças depende muito de quem vai preparar o candidato a gestor. "O segredo está em quem vai ser o coaching ou o mentoring. Cada profissional tem que ser desenvolvido como se fosse único. Neste caso, não se pode pegar cinco pessoas, treiná-las e escolher uma para liderar. É preciso sensibilidade para entender o que motiva cada um deles, o que desafia cada um deles e o que pode ser delegado para cada um deles", diz.
Programas de liderança e incentivo à formação são soluções que as empresas têm buscado para produzir novos gestores mais rapidamente. Mas de acordo com Márcia O. Lopes, o feedback que o orientador passa no dia a dia é o que mais pesa na formação de boas lideranças. Não é à toa que algumas companhias têm investido em academias de gestores. "Existem determinadas informações técnicas ou informações organizacionais que devem ser passadas por profissionais da própria empresa. Não adianta o candidato a líder tentar buscar aquele conhecimento fora. Por isso, essas universidades corporativas ou academias de gestores funcionam bem. Basicamente, o conceito é: os mais experientes passam conhecimento aos mais novos", afirma.
Neste caso, o departamento de recursos humanos da empresa desempenha papel importante. É ele quem vai organizar essa transmissão de conhecimento para a formação de novas lideranças ou será ele quem vai trazer uma consultoria para montar um projeto de treinamento de futuros gestores. Segundo Márcia O. Lopes, o setor da construção civil é um dos que mais tem colocado em prática essa metodologia. "Como há escassez de engenheiros, os recém-formados são contratados pelas empresas e passam por programas de aceleração de lideranças para assumir cargos de gestores em obras", comenta.
Porém, independentemente de como ocorrerá a formação do novo líder, a corporação precisa identificar quem tem perfil para comandar e dar-lhes condições para atingir o objetivo. "É a questão da liderança natural. O que é comum na empresa, quando surge o seguinte comentário: fulano tem potencial para líder. Mas isso não significa que esta pessoa está pronta. Quer dizer apenas que ela vai ter uma facilidade um pouco maior do que as outras. Mas se o ambiente não favorecer, provavelmente ela não chegará lá", alerta Márcia O. Lopes.
Prós e contras da liderança jovem
Vantagens: menos vícios e mais criatividade
Desvantagens: falta de maturidade e impulsividade
Dica
O ideal para uma empresa é deixar 30% das vagas de liderança abertas para o mercado, a fim de que haja novas contratações e possa ocorrer a oxigenação da companhia. "É importante trazer pessoas de fora para cargos de liderança. Isso acrescenta novas ideias e ocorre troca de experiências", avisa a consultora de desenvolvimento pessoal e profissional.
Entrevistada
Márcia O. Lopes, consultora de desenvolvimento pessoal e profissional
Currículo
- Graduada em psicologia pela PUCCAMP
- Tem especialização em psicodrama e psicoterapia cognitivo comportamental e MBA Executive International em Gestão Empresarial pela FGV
- Possui curso na International Strategic Business Leadership Paths to the Future for Brazilian Managers, pela Ohio University
- Tem Certificado Internacional de Coaching pela Profilor. Certificado em Coaching Executivo e Coaching Senior pelo Instituto de Coaching Integrado (ICI)
- É consultora de desenvolvimento pessoal e profissional, fundadora e principal executiva da VIVERH (Assessoria Técnica em Psicologia Organizacional). Especialista em Coaching de Executivos, liderança e planejamento de carreira
Contato: marcia@viverh.com.br
Créditos foto: Divulgação