Alvenaria estrutural lidera industrialização de obras
Especialista avalia que sistema construtivo já predomina em empreendimentos habitacionais com mais de 100 unidades construídas
Por: Altair Santos
Se há ponto positivo no fato de o Brasil enfrentar escassez de mão de obra na construção civil, ele se evidencia na determinação do setor em compensar esse gargalo com investimentos em novas tecnologias e em sistemas construtivos que dependam menos da manufatura. Dentro do processo de industrializar o canteiro de obras, o engenheiro civil e professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Guilherme Aris Parsekian avalia que a alvenaria estrutural é o que tem obtido resultados mais significativos, principalmente quando empregado em construções habitacionais de larga escala.
Para ele, a alvenaria estrutural tem permitido a algumas construtoras brasileiras implementar dentro dos canteiros de obras sistemas muito semelhantes às linhas de montagem da indústria automobilística. "Em obras com mais de 100 unidades habitacionais isso já ocorre, mas o ideal seria que a construção civil chegasse ao nível em que nada fosse produzido no canteiro de obras, ou seja, o fabricante forneceria componentes que se encaixariam perfeitamente em qualquer unidade. Isso ainda não acontece, mas vai acontecer a partir do momento em que sistemas de coordenação modular estiverem implementados na construção civil", diz Parsekian.
O professor da UFSCar, no entanto, constata que a evolução da alvenaria estrutural como sistema construtivo racional, econômico, seguro e bem acabado está condenando a alvenaria convencional a empreendimentos de pequeno porte. "Se a quantidade de unidades for muito grande, como a gente tem vários casos atualmente, o sistema tijolo a tijolo não é mais economicamente viável. Por isso, a alvenaria estrutural tem sido cada vez mais aceita como processo estritamente industrializado. E como ela está muito bem organizada, tem estimulado a busca de novos sistemas. Por exemplo, paredes de concreto, quando existe uma quantidade grande de obras, é outro sistema que está com boa aceitação", explica.
Como industrializar
Parsekian alerta que construtoras que se utilizam da alvenaria convencional e querem migrar para novas tecnologias, a fim de sistematizar o canteiro de obras, devem procurar os profissionais especializados e organismos de disseminação de conhecimento tecnológico. "A própria ABCP (Associação Brasileiro de Cimento Portland) tem uma série de publicações sobre vários sistemas construtivos e disponibiliza essa informação", afirma, completando que o custo maior é o de se implantar a tecnologia. "Implementar custa mais, mas desde que o processo seja bem feito e bem treinado esse custo se dilui com o tempo. Já a implementação incorreta vai gerar falhas e, consequentemente, aumentar o custo do processo."
Segundo o especialista, se o Brasil tivesse uma norma de coordenação modular que fosse obrigatória, e não apenas recomendável, é possível que a industrialização nos canteiros de obras já estivesse disseminada. "Tem alguns entraves que a gente pode colocar, como, por exemplo, a questão da coordenação modular. No Brasil, ela não é obrigatória, mas só uma recomendação, e mesmo assim os agentes financeiros liberam recursos para obras sem coordenação modular efetiva. Esse é um entrave, como é a questão tributária sobre a industrialização do setor e a qualificação da mão de obra", ressalta.
Vale lembrar que o Brasil tem uma norma de coordenação modular decimétrica (módulo de 10 cm) aprovada desde 1950: a NB-25R. Entre os anos 1970 e 1980, o Banco Nacional da Habitação (BNH) promoveu a implementação dessa importante ferramenta para a racionalização da construção civil. A própria Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) tem quase 30 normas sobre coordenação modular, mas ela é ainda pouco utilizada pelo meio técnico. Guilherme Parsekian , no entanto, avalia que as novas gerações de engenheiros civis e arquitetos têm uma proposta de industrialização mais arraigada e que, no futuro, isso será inerente à profissão. "Na universidade eles já chegam com o propósito de dominar tecnologias, o que estimula as mudanças", finaliza.
Entrevistado
Guilherme Aris Parsekian, coordenador do curso de graduação em engenharia civil da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Currículo
- Engenheiro civil pela UFSCar, mestre em estruturas (distinção) pela EESC-USP e doutor em construção civil pela EP-USP, com pós-doutorado pela University of Calgary
- Desde 1994 trabalha com alvenaria estrutural, tendo participado de vários projetos e pesquisas
- É membro de comitês de norma de alvenaria estrutural da ABNT e norte-americana, revisor de revistas especializadas e autor de vários artigos e livros técnicos
- Atualmente é coordenador do curso de engenharia civil da UFSCar, onde também é professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Construção Civil, além de desenvolver consultorias em projeto de edifícios, avaliação experimental do desempenho estrutural e pesquisas aplicadas na área
Contato: parsekian@ufscar.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
PAC vira desafio para governo e setor privado
Prioridade entre as políticas públicas, Programa de Aceleração do Crescimento precisa superar gargalos para cumprir seu papel: dar competitividade ao país
Por: Altair Santos
O governo federal decidiu monitorar "in loco" 20 megaempreendimentos que foram lançados na primeira versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e que, cinco anos depois, ainda avançam lentamente. Entre as obras atrasadas, estão a transposição do rio São Francisco, a usina hidrelétrica de Belo Monte, a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), a ampliação do porto de Santos, a duplicação da BR-101 em Santa Catarina e entre Rio Grande do Norte e Alagoas, a expansão de capacidade da hidrovia do Tietê, a ferrovia Nova Transnordestina, o Arco Rodoviário do Rio e a pavimentação da BR-163.
Os empreendimentos somam R$ 166 bilhões. Se estivessem concluídos, estariam cumprindo o principal papel do PAC: dar competitividade ao Brasil. Por isso, Valter Frigieri, gerente de planejamento e mercado da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) avalia que o atraso nas obras do programa tornou-se um desafio não só para o governo, mas para o setor privado. "O PAC contempla um volume muito grande de iniciativas, em áreas distintas. Temos alguns resultados muito bons, outros médios e alguns muito ruins. A realização dessas obras impõe que governo e iniciativa privada avaliem os gargalos e criem condições para superá-los. Esse é o desafio, ou seja, os dois setores agirem em conjunto", diz.
Frigieri ressalta ainda que o Brasil, hoje, está mais preparado para viabilizar o PAC do que há cinco anos. "O país, por conta do desafio da estabilidade econômica, ficou muito tempo com o tema construção fora da agenda. Então veio o crescimento econômico e ele permitiu que as questões relacionadas à infraestrutura reacendessem. No entanto, devemos reconhecer que, sob diversos aspectos, não estávamos preparados para esse salto. Conflitos ambientais, inexistência de uma carteira prévia de projetos, ausência de profissionais e novos procedimentos para a liberação de recursos são variáveis que, em maior ou menor grau, afetaram todos os projetos do PAC", avalia.
Dos planos englobados no PAC, Valter Frigieri destaca que o Minha Casa, Minha Vida (MCMV) é o mais bem sucedido. "É um programa exemplar, pois entrega resultados concretos e é capaz de avançar, incorporando qualidade, inovação e sustentabilidade", elogia. Segundo ele, o que o Programa de Aceleração do Crescimento precisa é encontrar um ritmo semelhante ao do MCMV. "O PAC responde a uma demanda da sociedade e também a uma reivindicação dos setores produtivos, principalmente das empresas do setor da construção civil. O que ele precisa é encontrar o caminho exemplar trilhado pelo setor habitacional. Ali foi desenvolvido um novo marco regulatório, que gerou confiança nas empresas e nos consumidores sobre as regras do jogo. É disso que o PAC precisa", completa.
Entrevistado
Valter Frigieri, gerente de planejamento e mercado da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)
Currículo
- Graduado em engenharia de produção e mestre em engenharia pela Escola Politécnica da USP, com especialização em Gestão da Engenharia e da Tecnologia
- Professor de Estratégia da Fundação Vanzolini
- Participou da equipe de consultoria que desenvolveu os processos de mudança na Método Engenharia
- Cocriador da Comunidade da Construção
- Atualmente é gerente nacional de mercado da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e foi um dos idealizadores do Clube da Reforma
Contato: valter.frigieri@abcp.org.br
Crédito: Divulgação/ABCP
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
ABNT cria padrão para lojas de material de construção
A pedido da Anamaco, lojistas poderão dispor de um programa de certificação para qualificar o atendimento e melhorar a produtividade
Por: Altair Santos
Na 20ª Feicon Batimat, que aconteceu no final de março de 2012, em São Paulo/SP, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e a Associação Nacional de Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) promoveram o pré-lançamento do programa de certificação para lojistas. Em parceria, os dois organismos estão desenvolvendo um plano para melhorar a qualidade do serviço e a produtividade dos vendedores, principalmente para o comércio de pequeno e médio porte. O programa terá como base a ABNT NBR 15842:2010 - Qualidade e serviço para pequeno comércio, requisitos gerais -, e será voltado para as mais de 135 mil lojas de materiais de construção do país que se enquadram nesse perfil.
Segundo Antônio Carlos Barros de Oliveira, gerente-geral de certificação da ABNT, o próximo passo do programa será selecionar um grupo de lojas nas cinco regiões do Brasil para que o programa seja testado. "A previsão é que agora em abril possamos implementar o projeto piloto, selecionando algumas lojas, a fim de que elas sejam submetidas ao processo de certificação. Essa etapa também vai permitir fazer ajustes e eventuais correções no programa antes de colocá-lo efetivamente em prática", diz. Para elaborar o novo plano de qualificação, técnicos da ABNT e um grupo de lojistas selecionado pela Anamaco estão desde novembro de 2011 trabalhando em conjunto.
O objetivo do programa é criar um padrão de atendimento, como já existe em outros setores do comércio. Outra preocupação é não impor a normatização, mas fazer com que ela seja aceita gradualmente pelos lojistas. "O programa tem uma particularidade interessante, que é o seu grau evolutivo. Ele foi classificado em níveis bronze, prata e ouro. Em função do atendimento aos requisitos do programa, o lojista poderá iniciar num determinado nível - bronze, por exemplo - até atingir o ouro. Isso permite que os métodos da normatização evoluam gradativamente", explica o gerente-geral de certificação da ABNT, Antônio Carlos Barros de Oliveira.
O dirigente da ABNT relaciona as vantagens que o programa trará para o comércio de material de construção:
1) Melhorar a imagem da loja perante os clientes;
2) Aprimorar a eficiência da prestação de serviço;
3) Implantar planejamento e controle na rotina de trabalho;
4) Reduzir perdas e melhorar a gestão.
"Para o consumidor, isso vai se traduzir em bom atendimento seja ele telefônico ou presencial. O princípio básico do programa é melhorar a imagem do lojista junto ao cliente, através de um atendimento padronizado. E é lógico que, adotando as práticas corretas, o comércio também passará a ter ganhos de produtividade", conclui.
Entrevistado
Antônio Carlos Barros de Oliveira, gerente-geral de certificação da ABNT
Currículo
Graduado em Engenharia Mecânica e possui MBA Executivo pelo instituto de pós-graduação em pesquisa e administração da UFRJ
Conta com mais de 30 anos de experiência nas áreas da qualidade e gestão de negócios
Atualmente, exerce o cargo de gerente geral de certificação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
Contato: antoniocarlos@abnt.org.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Conferência inédita no Brasil destaca industrialização
Florianópolis sediou recentemente o ICCX (International Concrete Conference & Exhibition). Evento é referência em inovação e tecnologia
Por: Altair Santos
Pela primeira vez, o Brasil sediou um dos mais respeitados eventos mundiais sobre concreto e industrialização da construção civil. No final de março de 2012, Florianópolis - Santa Catarina, recebeu a ICCX – International Concrete Conference & Exhibition (Conferência e Exposição Internacional de Concreto). O encontro, que em anos anteriores aconteceu na Rússia, África do Sul, Itália, Austrália e Alemanha, reuniu 200 expositores e mais de 600 visitantes, não só do país, mas da América do Sul. A busca por inovações e a disseminação de tecnologias foram as razões que mais atraíram público à conferência.
Um dos seminários mais concorridos foi o do especialista Michael Khrapko. O engenheiro civil da Nova Zelândia é referência mundial em concreto autoadensável (CAA). Ele promoveu um curso técnico sobre como obter qualidade usando diferentes cimentos, agregados e aditivos. Khrapko orientou na correção de mudanças dos ingredientes. O especialista destacou que um dos segredos é controlar a hidratação do cimento Portland e o calor que é liberado como parte da reação química. "Para estruturas que exigem espessura de concreto acima de 500 mm, temperaturas diferentes no preparo do material podem ser uma preocupação, pois elas tendem a causar fissuras", destacou.
Além de palestras sobre aspectos técnicos do concreto, a conferência tratou também das tecnologias envolvendo pré-fabricados. Entre os convidados, o engenheiro belga Arnold van Acker, ex-presidente da comissão para pré-fabricados da FIB (Federação Internacional do Concreto) apresentou a nova versão do manual produzido em 2011 para o setor. Ele também ministrou curso para tratar dos avanços nos projetos de pré-moldados. Engenheiros, arquitetos, designers, estudantes, acadêmicos e fabricantes de pré-moldado estavam entre os que participaram do seminário.
Arnold van Acker disse ter se surpreendido com o desenvolvimento da indústria de pré-fabricados no Brasil. "Usa-se muita tecnologia de ponta já no país e, é claro, há um potencial grande para esse mercado aqui", destacou. O especialista belga também fez uma avaliação do futuro da construção civil nacional. "Acredito que o Brasil está fortemente migrando para a industrialização da construção, por todas as vantagens que ela apresenta e para conseguir vencer todos os desafios que o país tem pela frente. Não só em razão dos eventos esportivos que já estão tão próximos, mas principalmente em razão de uma infraestrutura que ainda deixa muito a desejar", avaliou.
Outra palestra importante foi a concedida por Jaime Fernández Gómez, presidente da INTEMAC (Instituto Técnico de Materiais e Construções) - organização espanhola de controle de qualidade do concreto pré-moldado. Ele apresentou conceitos que ajudam a combater erros de produção. O curso foi voltado a produtores de pré-moldado e também a profissionais associados à indústria da construção.
Contato: latinamerica@cpi-worldwide.com / d.luck@cpi-worldwide.com (assessoria de imprensa)
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Construtor ganha manual com orientações jurídicas
Livro é um guia sobre como agentes da construção civil devem atuar no campo das leis e de que forma buscar assessoria, caso necessitem
Por: Altair Santos
Tornou-se primordial para as empresas de construção civil ter departamentos jurídicos bem estruturados e atentos às questões envolvendo direito empresarial, direito tributário, direito trabalhista, direito do consumidor e regras urbanísticas. Ao mesmo tempo, no campo da literatura jurídica, há poucas obras dedicadas exclusivamente a orientar o construtor sobre quais são seus direitos e deveres. Para preencher essa lacuna, foi recentemente lançado o Manual Jurídico da Construção Civil (Editora Íthala, 359 páginas) de Alfredo de Assis Gonçalves Neto, renomado jurista no campo do direito empresarial, e Leonardo Sperb de Paola, nome de peso na área do direito tributário.
Na obra, os autores buscam mostrar a estrutura jurídica a ser adotada pelo construtor para desenvolver sua atividade. Isso vai desde os contratos que costuma celebrar, até as disposições que regulam a incorporação e as licitações e os encargos tributários e trabalhistas que decorrem da atividade. “O público-alvo é, de um lado, o advogado que se vincula à atividade da construção civil. De outro lado, procurou-se fazer um texto acessível para possibilitar uma orientação para o engenheiro, para o empresário construtor, o incorporador de imóvel, o empresário construtor de estradas, e assim por diante", explica Alfredo de Assis Gonçalves Neto.
O manual é dividido em 15 capítulos, com especialistas abordando temas específicos:
1. Estruturas empresariais - Alfredo de Assis Gonçalves Neto;
2. Contrato de empreitada - Guilherme Kloss Neto;
3. A construção por administração - Winicius Rubele Valenza;
4. Negócios imobiliários - Winicius Rubele Valenza;
5. Incorporação imobiliária - Nelson Couto de Rezende Junior;
6. Direitos dos adquirentes das unidades imobiliárias - Paulo Sergio Nied;
7. Responsabilidade civil do empreiteiro, do construtor e do incorporador - Lais Lopes Martins do Amaral;
8. Modalidade de captação de recursos para a construção civil - Graças Anunciação;
9. Questões tributárias na construção civil - Leonardo Sperb de Paola;
10. Questões tributárias nos negócios imobiliários - Guilherme Broto Follador;
11. Licitações - Cintia Luiza Tondin e Raquel Cristina das Neves Gapski;
12. Questões trabalhistas na construção civil - Isabella Bittencourt Mäder Gonçalves e Tais D'Amico Bonet;
13. Regulação urbanística da construção civil - Ricardo Hildebrand Seyboth;
14. Regulação Ambiental da construção civil - Larissa Berri;
15. Mediação e arbitragem - Cintia Luiza Tondin e Diego Franzoni;
Alfredo de Assis Gonçalves Neto lembra que, por força do incremento de negócios relacionados a construção civil, passou a existir uma intensidade maior de atividades jurídicas em torno do setor. "Questões como celebrações de contrato, casos novos na área trabalhista e dúvidas tributárias estão entre as que mais passaram a despertar o interesse dos construtores", destaca um dos autores do Manual Jurídico da Construção Civil, lembrando que muitas vezes os entraves jurídicos e a burocracia demoram mais para ser resolvidos do que a própria obra. "A obra é feita de uma maneira controlada e o construtor é o dono do seu tempo. Mas as questões jurídicas não têm tempo para terminar, pois, neste caso, o dono do tempo são os organismos de apreciação das questões jurídicas", completa.
Além de fornecer instruções jurídicas ao setor da construção civil, o livro também fomenta o debate sobre a necessidade ou não de as escolas de engenharia terem disciplinas voltadas ao direito em seus currículos. Para Alfredo de Assis Gonçalves Neto, talvez não seja o caso de o engenheiro ser submetido a uma formação jurídica, mas sim ser orientado a saber buscar a assessoria correta. "Fui durante muito tempo diretor da faculdade de direito da Universidade Federal do Paraná e, na época, discutia-se muito da necessidade de o engenheiro ter uma formação jurídica em seu currículo. No entanto, hoje sabe-se que o que esse profissional precisa ter é uma orientação jurídica junto a quem atua na área jurídica", avalia.
Entrevistado
Alfredo de Assis Gonçalves Neto, um dos autores do livro Manual Jurídico da Construção Civil
Currículo
- Advogado formado pela Faculdade de Direito da UFPR, sócio fundador de Assis Gonçalves, Kloss Neto e Advogados Associados, registrada na OAB-PR em 1982
- Foi professor titular da faculdade de direito da UFPR, por concurso de provas, títulos e defesa da tese “Peculiaridades do Aval como Obrigação Cambiária de Garantia”, onde lecionou as disciplinas de Direito Comercial do Curso de Graduação, Mestrado e Doutorado em direito no período de 1970 a 2008
- Dirigiu a faculdade de direito da Universidade Federal do Paraná entre 1989 e 1992
- Atuou como presidente do Instituto dos Advogados do Paraná no biênio 1985 e1986 e como presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Paraná, no triênio 1995, 1996 e 1997
- É membro associado da UIA (Union Internationale des Avocats)
- Preside a Academia Paranaense de Letras Jurídicas, com mandato até 2013
Contato: assis@agkn.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Revisão da ABNT 8953 estimula tecnologia do concreto
Norma aprimora a concretagem e incentiva a boa construção, demonstrando ao consumidor que há concretos específicos para cada finalidade
Por: Altair Santos
Está em vigor, desde 2011, a versão corrigida da ABNT NBR 8953:2009 Errata 1:2011 - Concreto para fins estruturais - Classificação pela massa específica, por grupos de resistência e consistência. Sob o ponto de vista técnico, a norma estimula o uso de concretos que agilizem a descarga e sua aplicação, além de facilitar o bombeamento. Ela também ajuda a combater as deficiências de adensamento do material e a decorrente perda de resistência e desempenho da estrutura.
Mas há um componente ainda mais importante agregado à revisão da ABNT NBR 8953:2009. Segundo o mestre em estruturas e concreto, Carlos Campos, a norma serve de estímulo ao desenvolvimento tecnológico do concreto. "Ela aprimora conceitos de concretos leves e densos, permite uma abordagem mais específica de concretos mais fluidos, com abatimentos elevados ou elevadíssimos, como no caso dos concretos autoadensáveis. Tais conceitos induzem o consumidor, e também o construtor, a considerar que há concretos específicos para cada finalidade. Trata-se de um grande estímulo à tecnologia do concreto", resume.
O especialista destaca ainda que a revisão da ABNT NBR 8953:2009 acrescenta informações de padronização, sem tolher a criatividade de projetistas e construtores, que poderão especificar concretos convenientes a cada caso ou condição de concretagem. "As empresas de serviços de concretagem passarão a oferecer um produto normalizado. Esclarece os clientes, que, em alguns casos, supunham estar a concreteira empurrando um produto que ele, consumidor, pensava não precisar. Para muitos consumidores, o pedido de um concreto bombeável com fck 30,0 MPa serviria para executar tudo na obra, desde os pilares e lajes do subsolo ao pavimento mais alto. Com a correção da norma, oficializa-se que não é assim", completa.
Sobre os três critérios que norteiam a norma (massa específica, grupo de resistência e trabalhabilidade) Carlos Campos afirma que eles reforçam o bem construir. "Um grande número de manifestações patológicas nas obras advém do uso inadequado de um material. O concreto é particularmente muito suscetível ao mau uso. O que a norma permite é um diálogo mais claro entre projetista e construtor, por oferecer uma lista de opções normalizadas. Um exemplo: para se construir um bunker de instalação de uma câmara de tratamento radiológico, pode-se dialogar com o projetista da estrutura quanto ao uso de uma parede muito espessa ou o uso de um concreto denso, de massa específica alta, elaborado com agregados pesados como barita ou hematita. A normalização é muito saudável para quem produz ou consome. É imprescindível ao bem construir", afirma.
Ainda de acordo com Carlos Campos, a revisão da ABNT NBR 8953:2009, Versão Corrigida 1:2011, praticamente abole o uso de concretos exóticos, como o de fck 13,5 MPa ou o de fck 18 MPa - muito usados na década de 1990. "A norma insiste que, além das classes de resistência, a massa específica e a consistência também são importantes para classificar um concreto. Historicamente, fomos condicionados a acompanhar uma concretagem apenas com a verificação do resultado de resistência à compressão. Apresentou resistência à compressão igual ou superior ao fck, está bom e aceito o concreto. Não se dava maior importância ao abatimento, ao consumo de cimento e à relação água-cimento. Com a norma revisada, fica claro que existem concretos adequados a cada caso. E o mais importante: normalizados", ressalta.
Pontos de destaque da ABNT NBR 8953:2009, Versão Corrigida 1:2011
1) Classifica os concretos em normais, leves ou pesado/denso, em função de sua massa específica, classificação que não ocorria em nenhuma outra norma.
2) Classifica os concretos em 3 grupos, sendo os grupos I e II concretos estruturais e um grupo de concretos não estruturais que seriam os fck 10 MPa e o 15 MPa. Os concretos do grupo I começam com o fck 20 MPa e vão até o fck 50 MPa. Os concretos do Grupo II são considerados de alto desempenho e começam com fck 55 MPa e atingem até fck 100 MPa.
3) Classifica os concretos pela sua trabalhabilidade, sendo criadas 5 classes:
- S10: concretos com consistência seca, que vão desde o abatimento 10 mm até 45 mm
- S50: concretos pouco trabalháveis, que vão desde o abatimento 50 mm até 95 mm
- S100: concretos de aplicação normal, que vão desde o abatimento 100 mm até 155 mm
- S160: concretos plásticos aplicados por bombeamento, que vão desde o abatimento 160 mm até 215 mm
- S220: os concretos fluídos
Fonte: ABNT
Entrevistado
Carlos Campos, diretor da empresa Carlos Campos: laboratórios, obras e consultorias
Currículo
- Geólogo pela Universidade de Brasília (1968)
- Diretor da empresa Carlos Campos: laboratórios, obras e consultorias (desde 1973)
- Mestre em engenharia civil, estruturas, concreto e construção civil, pela Universidade Federal de Goiás (2000)
- Diretor Técnico do IBRACON, de 2007 a 2011
– Professor de pós-graduação na UNIP (Universidade Paulista) no curso de patologias e terapias nas edificações
Contato: cc@carloscampos.com.br
Créditos foto: Divulgação / Carlos Campos
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Raro, trabalhador da construção custa mais caro
Setor não para de gerar vagas, mas tem dificuldades para contratar. Motivos: mão de obra encareceu e não consegue se renovar
Por: Altair Santos
O setor de construção civil gerou 222 mil postos de trabalho no país em 2011. O segmento fechou o ano passado tendo 2,7 milhões com carteira assinada - número 7,5% maior que o registrado no fim de 2010, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Outro dado importante refere-se aos ganhos em produtividade dos trabalhadores. Desde 2008, a hora-salário de um operário vem aumentando, em média, 1,38% ao ano. Comparativamente, no mesmo período a hora-salário do setor de serviços cresceu 0,38%. É o que revela a pesquisa "Trabalho, Educação e Juventude na Construção Civil", da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O estudo mostra ainda que o custo com a mão de obra, principalmente a que atua diretamente no canteiro de obras, tem encarecido significativamente. Há um motivo primordial para isso: a dificuldade em atrair os jovens para a construção civil. Apesar do impulso salarial no setor, trabalhadores entre 18 e 29 anos têm buscado mercados que ainda pagam mais. Nessa faixa etária, até 2009, havia 36,5% de trabalhadores na construção civil. Atualmente, o percentual caiu para 29,2%. "Os jovens brasileiros têm optado por começar a trabalhar mais tarde e escolhido ocupações menos braçais e mais qualificadas que as oferecidas tradicionalmente no setor da construção", explica o economista Marcelo Neri, coordenador do Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da FGV, e que coordenou o estudo.
Diante deste cenário, Neri avalia que a construção civil corre o risco de sofrer um apagão da mão de obra. A tese vem de encontro aos dados trazidos pelo mais recente relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI) denominado "Sondagem da Indústria da Construção". No documento, divulgado em 2011, 68,1% dos grandes empresários do setor reclamam da dificuldade de encontrar trabalhadores capacitados. O levantamento revela também que 40,4% dos contratantes apontam o alto custo da mão de obra como um dos seus três maiores problemas da construção civil atualmente.
Para reverter esse quadro, o estudo "Trabalho, Educação e Juventude na Construção Civil" sugere que a construção civil reveja seus padrões produtivos. Primeiro, investindo em novas tecnologias; segundo, apostando cada vez mais na qualificação dos trabalhadores do setor. Neste quesito, apesar de todos os esforços, a construção civil ainda ocupa as últimas colocações no ranking de trabalhadores com cursos profissionalizantes. Na indústria automobilística, por exemplo, 45,71% dos contratados passaram pelos bancos escolares para aprender algum tipo de especialização. Na construção civil, esse percentual é de 17,80% - à frente apenas do setor agrícola.
Alta rotatividade
A pesquisa da FGV mostra que, entre os que buscam alguma qualificação, boa parte participa de cursos básicos de curta duração. Apenas 3,5% se matriculam no ensino médio técnico e 0,11% cursam graduação tecnológica. Isso remete a outro problema da construção civil: a alta rotatividade no canteiro de obras. De acordo com a pesquisa "Trabalho, Educação e Juventude na Construção Civil", de 100 trabalhadores ocupados no setor 8 saem depois de um mês de contrato. É uma taxa quase 30% maior que a registrada em outras áreas da economia, onde a fuga de mão de obra após um mês é de 5,3 para cada 100 contratados.
Trata-se de uma rotatividade que, segundo o relatório "Sondagem da Indústria da Construção", desestimula 56% das construtoras a investir em capacitação. Para se evitar um círculo vicioso que alimente a tese de apagão na mão de obra da construção civil, o trabalho da FGV conclui que o quadro só será revertido com o combate à terceirização, a oferta de planos de carreira nos canteiros de obras e o investimento maciço em qualificação.
Veja a pesquisa completa da FGV: Clique aqui
Entrevistado
Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas
Contato: cps@fgv.br
Créditos foto: Divulgação / FGV / Agência Fiep
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Gestão da produção empresta eficiência e qualidade às obras
Incorporar práticas de governança corporativa aos empreendimentos é um caminho sem volta, admitem construtores atentos à competitividade
Por: Altair Santos
No VI Encontro de Diretores e Gestores da Construção - evento promovido anualmente pelo Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) -, os empresários do setor fizeram uma "mea culpa": a de que a construção civil não estava preparada para o tamanho do crescimento registrado entre 2008 e 2011 no Brasil. Isso gerou gargalos que há dois anos têm sido fortemente combatidos, principalmente pelas empresas que buscam o crescimento sustentável e a sobrevivência em um mercado que tornou-se altamente competitivo. "Construtoras e incorporadoras passaram a enfrentar problemas graves de planejamento e gestão da produção. Investir nestes dois pontos é um caminho sem volta", define Roberto de Souza, diretor-presidente do CTE.
O especialista relaciona uma espécie de 10 mandamentos que as empresas do setor da construção que quiserem se manter sólidas no mercado precisarão seguir daqui para frente. Confira:
1) "Uma tendência que parece se confirmar é a de os lançamentos acontecerão de forma mais cadenciada. A “tudo que se lança, vende rápido” não deverá se repetir. A concepção do produto imobiliário, a pesquisa de mercado e a diferenciação dos empreendimentos provavelmente merecerão maior atenção por parte de incorporadores e arquitetos".
2) "Os conceitos e as práticas da sustentabilidade na construção, que hoje já ocupam espaço nos empreendimentos comerciais, deverão também movimentar os empreendimentos residenciais".
3) "A melhoria da qualidade dos projetos, integrados com o orçamento e o planejamento das obras, deve prosperar, aliada à paulatina inserção das ferramentas do BIM (Building Information Modeling)”.
4) "Os prazos, custos e qualidade de obras inevitavelmente ocuparão um espaço à parte de dentro das incorporadoras e construtoras, pois foram essas falhas de orçamento e gestão das obras que acarretaram em perdas de rentabilidade às empresas".
5) "O foco principal deve estar na gestão da produção, que trará eficiência operacional, produtividade e qualidade às obras".
6) "A introdução das práticas de governança corporativa nas obras também é importante, pois a empresa poderá implantar, de forma sistemática e contínua, mecanismos independentes de auditoria. Isso permitirá comparar resultados, identificar desvios e orientar a tomada de ações corretivas e preventivas, de forma a atender os objetivos de prazos, custos e qualidade".
7) "O exercício do planejamento estratégico, com base na metodologia do BPM ( Business Processes Management) devem também pautar o caminho futuro das empresas da cadeia produtiva da construção. As ferramentas de Project Management devem ter seu uso ampliado para a melhoria da gestão".
8 ) "Toda a construção deverá estar alicerçada por uma política de TI (Tecnologia da Informação) que propicie a geração de relatórios gerenciais confiáveis e on-line, para monitoramento dos negócios e rápida tomada de decisão".
9) "Um aspecto de fundamental importância, e a ser muito trabalhado pelas empresas, é o de gestão de pessoas e de seu capital intelectual. Esse é o desafio para que elas mantenham seu DNA e perpetuem seus negócios".
10) "Ainda pouco praticada pelas empresas, a gestão da inovação também é fundamental para que elas se mantenham competitivas. O foco principal está na tecnologia e na industrialização para, paulatinamente, conduzir os canteiros de obras a uma linha de montagem".
Roberto de Souza faz questão de frisar que as medidas relacionadas não são uma opinião pessoal, mas um consenso do que foi debatido no VI Encontro de Diretores e Gestores da Construção. O dirigente do CTE destaca ainda que não se trata de traçar um cenário de pessimismo, mas de evolução continuada do setor. "Tivemos bons avanços. Atualmente, há um número significativo de empresas certificadas ISO 9000 e PBQP-H. Além disso, muitos equipamentos entraram em nossos canteiros de obras, melhorando a logística de transporte interno de materiais. Outro aspecto é que a área de sustentabilidade vem ganhando espaço significativo. Tudo isso caracteriza um caminho sem volta no setor da construção", diz.
Atualmente, compara Roberto de Souza, a construção civil brasileira está em um patamar intermediário em relação aos Estados Unidos, Europa e Japão. "Já estivemos em patamares inferiores, mas nos últimos 15 anos tivemos muitas evoluções. Mas creio que as empresas da construção, para aumentar sua produtividade e sua competitividade, precisam evoluir muito em três grandes campos: inovação de produtos e desenvolvimento de sistemas construtivos industrializados; aperfeiçoamento de metodologias de planejamento e gestão da produção, e qualificação profissional em todos os níveis da produção", finaliza.
Confira os que foi debatido no VI Encontro de Diretores e Gestores da Construção: Clique aqui
Entrevistado
Roberto de Souza, do diretor-presidente do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE)
Currículo
- Roberto de Souza é engenheiro civil, mestre e doutor em engenharia pela Escola Politécnica da USP.
- Atualmente é o diretor-presidente do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), empresa associada ao Instituto Ethos, USGBC, GBC Brasil e CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável).
- No ano passado, ganhou o Prêmio Green Building Brasil 2011 como empresa sustentável de serviços.
Contato: roberto@cte.com.br / http://www.cte.com.br/
Créditos foto: Divulgação / CTE
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
PlanHab se propõe a combater moradias precárias
Estratégia é urbanizar terrenos, fornecer cesta de material de construção e dar assistência técnica às famílias, através de arquitetos e engenheiros
Por: Altair Santos
Lançado em 2008, o Plano Nacional de Habitação (PlanHab) surgiu com a função de fundamentar os programas Minha Casa, Minha Vida e PAC Urbanização de Favelas. O foco de suas diretrizes está na habitação de interesse social. No entanto, ao longo desses quatro anos, o PlanHab viu o Minha Casa, Minha Vida se sobrepor a ele. Os holofotes da indústria da construção civil e do mercado imobiliário voltaram-se para o MCMV, que transformou-se na porta de entrada para que a nova classe C obtivesse a casa própria. Isso obrigou a uma espécie de correção de rota do PlanHab. A partir do Comunicado 118, publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) no final de 2011, o Plano Nacional de Habitação terá como meta o combate às moradias precárias.
Uma das metas do PlanHab é descentralizar os investimentos, repassando aos municípios recursos do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social. Com isso, o plano ganha um tripé baseado na urbanização de favelas - no caso das grandes cidades -, no fornecimento de uma cesta básica de materiais de construção e no serviço de assistência técnica a ser prestado por arquitetos e engenheiros para famílias que quiserem construir ou reformar suas casas. "A prioridade seria as moradias rústicas, improvisadas, que abrigam às vezes mais de uma família e não têm infraestrutura de água, esgoto e rede elétrica. Então, o poder público entraria com a urbanização da área e a família receberia, na totalidade ou em parte, uma cesta de material de construção, além de assistência técnica para ela mesma erguer a nova moradia", explica Cleandro Krause, do Ipea.
Outra solução pensada pelo PlanHab seria investir em construções em grande escala, através de tecnologias como o pré-fabricado, por exemplo. Companhias de habitação como as de São Paulo e de Pernambuco recentemente colheram bons resultados com esse tipo de modelo ao recuperar áreas destruídas por enchentes. "Isso é possível, desde que sejam tecnologias certificadas. Além disso, é importante que as famílias que forem morar nestas casas possam se apropriar daquela tecnologia. Por quê? Porque é muito comum que, ao longo do ciclo de vida de uma casa, ela precise ser ampliada. Imagine uma família precisar fazer uma ampliação e não conseguir, pois a adaptação vai comprometer a segurança estrutural da casa?", ressalta o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea.
Outro debate em torno do PlanHab está na possibilidade de ele poder se adaptar às diferenças regionais do país. O objetivo é que o plano não siga um modelo único de construção nem de projeto. "Nem sempre uma casa de dois dormitórios vai ser suficiente para uma família grande. É importante não confundir especificações mínimas com modelo único. O projeto tem que ser sempre adequado a situações regionais. Agora, existem alguns contextos no Brasil. Na região norte, por exemplo, falta desenvolver alguns modelos mais específicos para as ocupações ribeirinhas. A habitação rural também não deveria ser igual a uma habitação urbana", avalia Cleandro Krause, para quem, com alguns ajustes, o PlanHab pode cumprir a meta de ajudar a zerar o déficit habitacional brasileiro até 2023.
Confira a íntegra do Plano Nacional de Habitação: Clique aqui
Veja o Comunicado 118 do Ipea: Texto e Vídeo
Entrevistado
Cleandro Krause, técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur), do Ipea
Currículo
- Arquiteto graduado pela UFRGS (Universidade federal do Rio Grande do Sul) e mestre em planejamento urbano e regional (UFRGS)
- Ocupa o cargo de técnico de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur), do Ipea
Contato: cleandro.krause@ipea.gov.br / ascom@ipea.gov.br
Crédito: Divulgação/Ipea/ Ministério das Cidades
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Saída para os portos brasileiros seria a privatização
Burocracia, profundidade dos calados, áreas para armazenagem e acesso terrestre estão entre os problemas que tiram competitividade dos terminais
Por: Altair Santos
O governo federal iniciou em fevereiro de 2012 o processo de privatização de aeroportos, começando pelos terminais de Guarulhos, Campinas e Brasília. As empresas vencedoras assumiram o compromisso de realizar investimento de aproximadamente R$ 16 bilhões em obras, para melhorar a qualidade dos serviços aéreos. Dado esse passo, o que se questiona agora é se o mesmo procedimento não deveria ocorrer com os portos brasileiros. Basta lembrar que no ranking portuário mundial, que engloba 142 países, o Brasil ocupa a 130ª posição.
Com base nas deficiências portuárias do país, o COPPEAD/UFRJ (Instituto de pós-graduação e pesquisa em administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro) mapeou os gargalos do setor e também os entraves que dificultam a privatização dos portos. O estudo foi realizado pelo Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS) do COPPEAD. Segundo Paulo Fleury, diretor do ILOS, há pelo menos cinco problemas agudos: profundidade dos calados, área de armazenagem, burocracia, questões legais e falta de investimento.
Mesmo assim, o especialista vê como remota a possibilidade de o sistema portuário brasileiro vir a ser privatizado. "Há questões de segurança nacional envolvidas. Por isso, a privatização chega no máximo aos terminais de carga", explica. Assim, completa Paulo Fleury, como o governo é o proprietário do porto, ele se vê obrigado a investir em várias áreas, mas não tem recursos. "Não há dúvidas de que a iniciativa privada traria competitividade aos portos brasileiros", completa.
Para o diretor do ILOS, os portos de Santos (SP), Paranaguá (PR) e Rio Grande (RS) são os que mais carecem de investimentos. "Santos, pela relevância que ele tem na economia e pela falta de capacidade; Rio Grande, por ser um porto que faz a ligação entre o Brasil e Cone Sul, e Paranaguá, que é um porto vital para a gestão do agronegócio", diz. No entanto, apesar das carências, os terminais portuários receberam entre 2007 e 2011, através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) apenas R$ 5,7 bilhões de recursos para obras, quando o ideal seria o triplo destes investimentos.
No estudo do COPPEAD/UFRJ, as indústrias usuárias de portos apontam os acessos terrestres (rodovias e ferrovias) como os principais problemas dos terminais. "Em geral, porto é um negócio que deveria ser atendido por ferrovias. Mas para isso tem que ter todo um sistema de logística integrado, com prioridade aos contêineres. Só que a experiência do Brasil com contêineres é muito baixa e os terminais não estão adequados a isso. Assim, continua-se a usar caminhões e os problemas persistem", destaca Paulo Fleury.
Carência de 265 obras
Segundo recente estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) denominado "Gargalos e Demandas de Infraestrutura Portuária e os Investimentos do PAC", os principais portos brasileiros necessitam atualmente de 265 obras para melhorar a operacionalidade e a competitividade. Destas, 133 são empreendimentos relacionados à construção, ampliação e recuperação de terminais. Outras 45 referem-se às melhorias no acesso terrestre. Tratam-se de investimentos diretamente relacionados com o setor da construção civil e que carecem de recursos na casa dos R$ 38 bilhões. O problema é que, através do PAC, foram investidos até agora somente R$ 8 bilhões entre 2007 e 2011. Cerca de 60% da demanda por obras concentram-se nos portos de Santos (SP), Paranaguá (PR), Vitória (ES), Itaqui (MA), Pécem (CE), Suape (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Rio Grande (RS).
Veja a íntegra do estudo do Ipea: Clique aqui
Confira o trabalho do ILOS: Clique aqui
Entrevistado
Paulo Fleury, diretor do ILOS (Instituto de Logística e Supply Chain) e professor de estratégia de operações do COPPEAD/UFRJ
Currículo
- Graduado em engenharia mecânica pela UFRJ
- Possui os títulos de M.Sc. em engenharia de produção pela COPPE/UFRJ e de Ph.D. em administração industrial pela Loughborough University of Technology (Inglaterra)
- Foi diretor e superintendente-geral da Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro (ADRio)
- É membro do Council of Logistics Management e da European Operations Management Association
- Possui cerca de 100 trabalhos publicados em periódicos e livros nacionais e internacionais, e tem mais de 25 anos de experiência de ensino e consultoria nas áreas de Estratégia de Operações e Logística Empresarial
Contato: ilos@ilos.com.br
Créditos foto: Divulgação / Fabio Scremin/ AEN