Nova poupança pode baratear financiamento imobiliário

Especialista avalia que mudança nas regras da aplicação, acompanhada da queda de juros, estimulará bancos privados a competir com a Caixa

Por:Altair Santos

O governo decidiu mexer nas regras da caderneta de poupança, sob a alegação de que o investimento engessaria a queda de juros. A aplicação é a principal fonte de recursos na área de habitação, pois 65% do saldo das captações têm que ser obrigatoriamente direcionado para o setor. Por isso, temia-se que o novo modelo de remuneração gerasse mais saques que depósitos e desestimulasse o investidor, reduzindo os recursos para o financiamento habitacional.

Fábio Gallo, professor de finanças da PUC-SP: "Financiamento imobiliário tende a se tornar um produto atraente para os bancos".

Mas não é isso que se percebe. Nos primeiros 30 dias em que as novas regras da poupança estiveram em vigor, a captação se manteve em alta. A diferença entre depósitos e retiradas foi positiva em quase R$ 2 bilhões. Além disso, é praticamente unanimidade entre especialistas a opinião de que as mudanças deverão baratear os financiamentos imobiliários.

Compartilha desta ideia o professor de finanças da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Fábio Gallo. "A tendência é que as mudanças nas regras de remuneração da caderneta de poupança tornem o financiamento imobiliário mais barato e também estimulem os bancos privados a quererem competir neste setor. Com a determinação clara do governo de abaixar as taxas de juros, fatalmente isso irá forçar todo o mercado a acompanhar. Quem não quiser acompanhar, estará fora do mercado", avalia.

Fábio Gallo contesta também a tese de que as mudanças na regra da poupança podem levar a um colapso nos recursos que financiam o crédito imobiliário. "Por enquanto não tem nenhum indicador, mas potencialmente até pode acontecer isso. Porém, o governo tem instrumentos para incentivar este tipo de mercado e eu não acredito muito nesta hipótese. Acredito sim que o mercado vai se sofisticar. Podem surgir iniciativas de securitização do financiamento imobiliário, como os covered bonds (títulos de captação de recursos) mas tudo vai depender da demanda", afirma.
 
O especialista descarta ainda a possibilidade de, com os juros baixos, as construtoras e as incorporadoras entrarem no mercado de financiamento de imóveis, competindo com os bancos. "As construtoras e as incorporadoras têm os seus orçamentos e os seus financiamentos para erguerem prédios e casas. Não creio que elas queiram mudar o perfil. O modelo de financiamento imobiliário no Brasil funciona através dos bancos e tende a continuar assim", garante.

O professor de finanças da PUC-SP considera ainda que a nova poupança não vai prejudicar o programa Minha Casa, Minha Vida. "Esse programa tem dinheiro estatal e ação efetiva de bancos estatais, como a Caixa Econômica Federal. Ele tem regras bem definidas e a tendência é que a redução das taxas de juros estimule a demanda", conclui.

Entenda a mudança

Cada vez que a taxa básica de juros, a Selic, chegar a 8,5% ou menos, o saldo da caderneta de poupança terá rendimento anual inferior aos 6,17%+TR praticados até 3 de maio de 2012. A mudança vale apenas para novos depósitos. O poupador passará a receber rendimento de 70% da Selic (quando ela ficar abaixo de 8,5%), mais TR (Taxa Referencial). "As mudanças das regras da caderneta de poupança foram necessárias para o mercado. Não dava para mantê-la como fixada em lei (6,17% ao ano + variação da TR). Da forma como estava, o governo teria problemas até para se autofinanciar", explica Fábio Gallo.

Entrevistado
Fábio Gallo Garcia, professor de finanças da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
Currículo
- Graduado em Engenharia Agrimensura pela Faculdade de Engenharia Agrimensura de Pirassununga (1979), graduado em Administração de Empresas pela Fundação Octávio Bastos (1981), mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas-SP (1985) e doutor em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas-SP (2002).
- É professor da Fundação Getúlio Vargas e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
- Atualmente é sócio-diretor da LGM Consultoria e Representações Ltda., sócio-diretor da Sinalização e Arte Comunicação Visual Ltda.
- Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Administração Financeira, atuando principalmente nos seguintes temas: Assimetria Informacional, Finanças Internacionais, Investimentos e Finanças Comportamentais.
Contato: fgallo@pucsp.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

São Paulo cria PPP para habitação de interesse social

Parceria Público-Privada é inédita no país e tem o objetivo de construir 10 mil moradias no centro da capital paulista
Por: Altair Santos

O estado de São Paulo tomou uma iniciativa inédita no país que, se bem sucedida, pode proporcionar a construção de moradias de interesse social em maior quantidade e em menor tempo. O que materializa o projeto são as parcerias-público-privadas (PPPs) que serão testadas pelo governo paulista no setor habitacional. A ideia foi lançada em abril de 2012 e as empresas interessadas em participar do projeto devem se manifestar até agosto de 2012. A expectativa é que os empreendimentos comecem a ser construídos em 2013.

Assinatura do contrato ocorreu em abril de 2012 e obras devem começar em 2013.

As empresas interessadas deverão apresentar projetos para 10 mil unidades habitacionais no centro da capital paulista. A região foi escolhida para dar início às PPPs por ter um grande número de imóveis subutilizados e ociosidade na infraestrutura urbana. Os empreendimentos serão destinados às famílias com renda bruta mensal de até 10 salários mínimos, sendo que 90% das unidades atenderão famílias com renda de até cinco salários mínimos, formadas por beneficiários com vínculo empregatício em empresas do centro paulistano.

As linhas de crédito poderão ser promovidas pelos próprios parceiros privados, por investidores ou instituições do mercado financeiro. "Serão priorizados projetos que incluam, além da oferta de moradias, soluções criativas de melhoria da mobilidade da população, acesso a equipamentos públicos, aperfeiçoamento da infraestrutura local e a oferta e ampliação do comércio e serviços. "A iniciativa privada poderá explorar áreas comerciais e prestar serviços como a regularização de áreas ou a gestão condominial", explica o secretário de habitação de São Paulo, Silvio Torres.

O projeto pretende transformar áreas degradadas do centro da cidade de São Paulo, atingindo bairros como Brás, Bela Vista, Belém, Bom Retiro, Cambuci, Liberdade, Mooca, Pari e Santa Cecília. “Esse não é apenas um projeto de moradias de interesse social e, sim, um projeto de revitalização do centro expandido de São Paulo”, acrescenta Silvio Torres. Das 10 mil unidades previstas no primeiro edital, 2.500 unidades serão destinadas a famílias que ganham até três salários mínimos.

Legado

Para atrair as construtoras, o sistema de PPP proposto pelo governo de São Paulo oferecerá potencial construtivo às empresas que aderirem ao projeto. Significa que para cada metro quadrado investido no programa haverá a contrapartida em áreas construídas em outras regiões da cidade. Além disso, existirão subsídios para a captação de recursos, a fim de viabilizar as obras, e os parceiros privados também poderão explorar comercialmente a região.

A fórmula, se der certo, poderá ser testada no programa Minha Casa, Minha Vida. Primeiro, dentro de São Paulo; depois, em todo o país. Já há iniciativas, junto à Caixa Econômica Federal e ao Banco do Brasil, para financiar PPPs no interior paulista. A expectativa é que a modalidade possibilite construir mais 40 mil moradias no estado.

Entrevistado
Secretaria de Habitação do Estado de São Paulo
Contato:
imprensa@cdhu.sp.gov.br

Créditos foto: Divulgação/Governo SP

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Competição entre arranha-céus favorece engenharia

Grandes edificações que surgem em países árabes estão para a construção civil mundial como a Fórmula 1 para o setor automobilístico

 

Por: Altair Santos

Em novembro de 2011, no Kwait, foi inaugurado o Al Hamra Firdous Tower. Com 411 metros de altura, o empreendimento recoloca o país árabe na rota das megaconstruções. Por causa da guerra do Golfo, nos anos 1990, o Kwait havia paralisado investimentos em obras marcantes da engenharia. Para se reinserir na competição por arranha-céus, não foram poupados recursos em alta tecnologia. A ponto de o Al Hamra ser uma edificação singular. Trata-se do primeiro edifício a utilizar conceitos aerodinâmicos para reduzir o impacto das tempestades de areia, que no Kwait chegam a ter ventos que atingem 80 km/h.

Marcos Monteiro, da Escola de Engenharia Mauá: grandes empreendimentos consolidam tecnologias.

Além de uma estrutura em espiral, a megaconstrução tem duas faces distintas. O lado Norte, voltado para o Golfo Pérsico, recebeu uma fachada toda em vidro. Já o lado Sul, de frente para o deserto, foi totalmente construído em concreto autoadensável e revestido com 16 mil painéis de pedra sabão nas paredes retas e mosaicos do mesmo material nas áreas curvas. A tecnologia não é nova. Foi empreendida pela primeira vez na construção do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. A pedra sabão é considerado um excelente material para absorver a radiação solar, além de suportar altas variações de temperatura e constantes mudanças climáticas.

O Al Hamra Tower consumiu duas mil toneladas de pedra sabão e 500 mil quilos de cimento. Seu projeto ficou a cargo do escritório de arquitetura e engenheria Skidmore, Owings & Merrill (SOM) dos Estados Unidos, enquanto a Ajial Real Estate financiou a obra, que custou R$ 3,6 bilhões. Segundo Marcos Monteiro, professor de estruturas em concreto da Escola de Engenharia Mauá, empreendimentos deste porte estão para a construção civil como a Fórmula 1 para a indústria automobilística. "Essa competição por prédios cada vez mais altos e com arquiteturas ousadas implica na busca de novas tecnologias e materiais, que acabam, mais cedo ou mais tarde, incorporados ao dia a dia da engenharia", define.

Ainda de acordo com o professor da Escola de Engenharia Mauá, a comunidade técnica acompanha a disputa por arranha-céus como quem assiste a um campeonato. "Ela está sempre atenta, principalmente à concepção que conduza à harmonia entre a arquitetura e os elementos estruturais", explica, afirmando que hoje, no planeta, os escritórios Skidmore, Owings & Merril, Holvorson & Partners e Thornton-Tomasetti são os que hoje detêm as melhores tecnologias.

Al Hamra Firdous Tower: construído com alta tecnologia, ele recolocou o Kwait na corrida dos arranha-céus.

No entanto, Marcos Monteiro ressalta que a engenharia estrutural brasileira possui conhecimento suficiente para entrar nesta corrida. "O conhecimento técnico para a concepção de edifícios altos está sedimentado. Nossa norma de projeto de estruturas de concreto armado (NBR 6118) é uma norma ISO, podendo ser utilizada internacionalmente. Além disso, somos reconhecidos como uma ótima escola de estruturas, graças aos profissionais da área e trabalhos editados. Um exemplo é o dimensionamento de edifícios altos com o coeficiente z, dos professores Augusto Carlos Vasconcelos e Mário Franco", ressalta, destacando ainda que a não construção dessas megaestruturas no país está relacionada à realidade econômica e não à capacitação técnica da engenharia nacional.

Saiba mais sobre o Al Hamra Firdous Tower: Clique aqui
Leia mais: Clique aqui

 

Entrevistado
Marcos Monteiro, professor de estruturas em concreto da Escola de Engenharia Mauá, vinculada ao Instituto Mauá de Tecnologia
Currículo

- Engenheiro civil graduado pela Universidade Mackenzie (1988), obtendo prêmios concedidos pelo Instituto de Engenharia e Fundação Maria Luíza e Oscar Americano
- Tem MBA pela Escola de Administração Mauá (1999) e especialização em Docência do Ensino Superior pela USCS (2011)
- É professor do curso de pós-graduação em estruturas de concreto armado da FESP/ABECE/TQS e professor de estruturas de concreto armado da Escola de Engenharia Mauá.
- Sócio diretor da Planear Engenharia a partir de 2000
- Foi presidente da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) no Biênio 2008-2010
Contatos: marcos.monteiro@maua.br / planear@uol.com.br /contato@planear.com.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Brasil precisa triplicar recursos em infraestrutura

Debatedores no M&T Expo 2012 foram unânimes: investimentos em grandes obras deveriam saltar de 2,5% do PIB para, pelo menos, 6%
Por: Altair Santos

Na 8ª Feira Internacional de Equipamentos para Construção (M&T Expo 2012) a infraestrutura do Brasil esteve no centro dos debates. O evento, que ocorreu de 29 de maio a 2 de junho, reuniu quase 500 expositores de 25 países, atraiu 48 mil visitantes e, simultaneamente, promoveu o Sobretema Congresso. Em sete palestras, uma conferência e um workshop técnico foram discutidos os principais assuntos dentro das áreas de construção, infraestrutura e mineração.

No Sobratema Congresso, a deficiência em infraestrutura polarizou os debates.

Entre as conclusões, prevaleceu a que o país precisa quebrar o paradigma de investir pouco em infraestrutura. “Os investimentos nesta área correspondem a 2,5% do PIB no Brasil, diante dos 6% a 8% desejáveis”, analisa José Vitor Mamede, conselheiro da Associação Brasileira de Logística (Abralog) citando que na mais recente edição do ranking mundial de infraestrutura o Brasil ocupa o 62º lugar. "No ranking de qualidade, a posição é pior ainda. O país amarga o posto 84. Isso é reflexo do baixo investimento em obras estruturantes, que afeta os custos logísticos e a capacidade competitiva”, ressalta.

Outro gargalo abordado na M&T Expo 2012 foi a escassez de mão de obra qualificada. Segundo o presidente da Associação dos Locadores de Equipamentos para Construção Civil (Alec) Marco Aurélio da Cunha, esse é um empecilho com o qual o Brasil terá de conviver por mais alguns anos. “O problema de décadas não se resolve com cursos de uma semana, 15 dias, 90 dias, nem cursos supletivos”, acrescenta, alertando que o investimento em processos industrializados é a saída para compensar a carência de profissionais. Por isso, a palestra da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto) foi uma das mais assistidas.

Pré-moldados e pavimento rígido

Nela, os dirigentes da ABCIC - os engenheiros Roberto Bauer, João Vendramini e Iria Doniak -, mostraram as possibilidades, conveniências e vantagens econômicas e de prazo, além de eficiência estrutural, energética e de desempenho, relacionadas à utilização de elementos pré-moldados e pré-fabricados nas obras. "Hoje o concreto industrializado está presente em todos os segmentos da vida nacional, desde casas populares até os estádios, passando ainda por shopping centers, instalações fabris, estaleiros e mais uma infinidade de outras construções", disse Vendramini, concordando com os números apresentados pelo consultor da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção) Brian Nicholson, de que o Brasil deverá ter um crescimento de 50% até 2016.

Quem também esteve na M&T Expo 2012 foi a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). No evento, se discutiu o futuro da pavimentação das rodovias brasileiras. Segundo Ronaldo Vizzoni, gerente nacional de Infraestrutura da ABCP, o país não terá como escapar do pavimento rígido. "As rodovias do futuro serão todas de concreto, pois é um tipo de pavimento mais adequado para vias de tráfego intenso e, sobretudo, aquelas com trânsito de veículos pesados. Além de resistentes, têm maior durabilidade e pouca manutenção”, disse, acrescentando que, com as novas tecnologias de construção à disposição no Brasil, o tempo de execução e a qualidade do piso em concreto são semelhantes ao do pavimento asfáltico. “Em termos de custo, o concreto também é competitivo, sobretudo para rodovias que exigem tráfego pesado", concluiu.

Entrevistado
Assessoria de Imprensa M&T Expo 2012 - Mecânica de Comunicação Ltda.
Equipe de atendimento:
Sylvia Mie
sylvia@meccanica.com.br
Lázaro Evair de Souzalazaro@meccanica.com.br
Contato: http://www.mtexpo.com.br; meccanica@meccanica.com.br

Créditos foto: Divulgação/ M&T Expo 2012

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Brasil produz engenharia de alta qualidade (Podcast)

Para Silvio Meira, apesar de o país carecer de supercomputadores, profissionais da área estão sintonizados com tecnologias que regem o setor

Por: Altair Santos
Silvio Meira: "Inovação se mede a partir do impacto que ela causa no mercado”.

Entrevistado
Silvio Meira, blogueiro, colunista da rádio CBN e professo-titular de engenharia de software no Departamento de Informática da UFPE (Universidade Federal de Pernambucano)
Currículo
- Silvio Lemos Meira é paraibano de Taperoá, onde nasceu em 2/2/1955, e pernambucano de coração. Fez graduação em eletrônica no ITA (1977), mestrado em computação na UFPE (1981) e doutorado em computação na University of Kent at Canterbury (1985).
- É professor-titular de engenharia de software do Centro de Informática da UFPE (como professor de graduação e pós-graduação).
- Como cientista-chefe do C.E.S.A.R (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife) é responsável por descobrir perguntas (ao invés de arranjar respostas) e inovação em geral.
- Também é presidente do conselho de administração do Porto Digital e sócio-diretor da IKEWAI (rede de investimentos e investidores).
Contato: silvio@meira.comhttp://smeira.blog.terra.com.br

Clique no player abaixo e ouça agora um resumo da entrevista. Para ouvir a entrevista na íntegra clique aqui.

Créditos: Divulgação


Juros baixos estimulam a hipoteca imobiliária

Para a Abracefi, empréstimo com garantia do imóvel obtém taxas mais baixas dos bancos e riscos se assemelham aos de outras modalidades

Por: Altair Santos

Popularmente conhecido como hipoteca, o empréstimo com garantia do imóvel é uma modalidade que tem oferecido taxas de juros mais atraentes e estimulado a troca de casas e apartamentos por essa via - exceto os vinculados ao programa Minha Casa, Minha Vida. Os micro e pequenos empresários também têm recorrido a ela para incrementar seus negócios. Além disso, há casos de quem tem hipotecado a casa própria para viabilizar o aprimoramento profissional no exterior. Mas qual o risco que medidas como essa trazem? Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Corretores de Empréstimo e Financiamento Imobiliário (Abracefi) Marcelo Prata, desde que feito com responsabilidade, esse tipo de captação é vantajoso e, com a tendência de juros baixos, pode se popularizar no Brasil. É o que pode ser conferido na entrevista a seguir: 

Marcelo Prata, presidente da Abracefi: "Acesso ao crédito exige responsabilidade”.

A modalidade de empréstimo com garantia do imóvel, também conhecida como hipoteca, tem atraído quem busca captar dinheiro com taxas mais baixas de juros. Quais as vantagens deste tipo de negócio?
Oferecer ao tomador a possibilidade de acessar uma linha de crédito com taxas de juros mais baixas do que outras linhas, como o crédito pessoal, capital de giro e, em alguns casos, crédito consignado. O fato do imóvel ser a garantia do crédito mitiga o risco dos bancos que conseguem reduzir seu spread (diferença entre os juros cobrados pelos bancos nos empréstimos a pessoas físicas e jurídicas e as taxas pagas pelos bancos aos investidores que colocam seu dinheiro em aplicações do banco nesse tipo de operação). Além disso, há o fato de se poder aumentar o ticket do empréstimo, isto é, o valor que o cliente vai conseguir levantar com o banco.

Se o empréstimo com garantia do imóvel disseminar, como aconteceu com o empréstimo consignado, não se corre o risco de se entrar num processo de bolha como ocorreu nos EUA?
É preciso entender, inicialmente, o que vem a ser bolha no mercado imobiliário. Em linhas gerais, uma bolha existe quando configura-se um mercado altamente especulativo, ou seja, quando o preço usa como referência apenas a crença dos investidores de que o valor de venda será ainda maior amanhã. Quando o aumento do custo dos imóveis acontece sem que seja acompanhado pelo aumento de demanda ou escassez da oferta, ou ainda, por algum outro motivo plausível, é sinal de que algo está errado. Ainda assim, é fato que, identificar uma bolha, em qualquer que seja a economia, não é uma tarefa simples. Seja como for, o mercado financeiro e bancário brasileiro são muito bem estruturados. Apesar do imóvel ser dado em garantia de uma operação de crédito, a capacidade de pagamento do cliente é um dos principais critérios para que uma aprovação de crédito aconteça ou não. Pode parecer um excesso de zelo e, ao contrário do que muitos pensam, o banco não tem interesse na retomada do imóvel. Fazendo uma analogia com o mundo circense, podemos dizer que um imóvel está para o banco como uma rede de segurança está para o trapezista. Nenhum dos dois pretendem utilizá-los, mas, caso algo dê errado, ela estará lá para proteger. Vale reforçar também que o problema no mercado imobiliário americano não foi única e exclusivamente causado pela bolha imobiliária, mas sim por uma flexibilização exacerbada dos critérios para análise de crédito, onde clientes com amplo histórico de inadimplência conseguiam tomar altas quantias para compra da casa própria: os chamados subprime (créditos de risco).

Por falar em EUA, o modelo adotado aqui no Brasil para empréstimo com garantia do imóvel é semelhante ao que foi praticado lá ou tem diferenças?
Lá, o mercado é basicamente dividido em dois segmentos: as primeiras aquisições e os refinanciamentos. Diferentemente do que acontece no Brasil, nos Estados Unidos a possibilidade de migrar um financiamento de um banco para outro, ou mesmo de um imóvel para outro, é muito mais simples. Embora no Brasil a operação seja exclusivamente utilizada para se levantar capital, tendo um imóvel como garantia, à medida em que o mercado se modernizar deveremos nos aproximar do modelo americano, no sentido de termos melhores ferramentas de funding (recursos que os bancos captam para poder emprestar) além de permitir aos clientes utilizar esse imóvel, ainda financiado, como forma de tomar crédito mais barato. Além disso há o LTV (Loan To Value) termo financeiro que representa em porcentagem o quanto um empréstimo corresponde ao valor da garantia do imóvel. Enquanto no Brasil o LTV médio nas operações de refinanciamento é de 50%, nos EUA podia chegar a 120%. Fica fácil entender porque quando a bolha estourou, grande parte dos imóveis não conseguia cobrir o valor da dívida.

Comparando com outras captações, quanto às taxas de juros, o empréstimo com garantia do imóvel é mais atraente?
Como é uma linha de crédito com uma garantia real (imóvel) o risco do banco diminui significativamente. Nesse caso, utilizar essa linha de crédito pode significar conseguir uma taxa menor e um valor de crédito maior. Não há uma regra geral. O melhor caminho é sempre comparar e pesquisar antes de contratar. Desde 2008 as instituições financeiras são obrigadas a apresentar o CET (Custo Efetivo Total) das operações de empréstimo, que nada mais é do que todos os custos envolvidos, como taxa de juros, seguros e tarifas bancárias. Esse valor é expresso em percentagem e fica fácil saber, efetivamente, qual linha de crédito ou banco é melhor.

Desde quando os bancos passaram a "estimular" o empréstimo com garantia do imóvel?
Desde 2008 o produto já existe no mercado brasileiro. Alguns bancos estão testando o produto ainda de maneira tímida. Acredito que esse mercado deva ultrapassar o de financiamento para habitação na próxima década, pois, uma vez que as pessoas já tiverem seus imóveis para moradia, poderão trocar por novos imóveis, ou então, utilizar essa linha de crédito para viagens, escola dos filhos e outros investimentos com taxas menores.

Em que condições legais o imóvel precisa estar para que possa ser hipotecado?
Embora o termo hipoteca tenha ficado popularmente conhecido, a figura jurídica que rege os contratos nesse tipo de empréstimo é a alienação fiduciária. É similar ao que acontece no mercado de veículos, onde o bem fica em nome do banco até que o cliente termine de quitar o empréstimo. A primeira exigência é que o tomador do crédito seja o proprietário do imóvel. Os bancos há muito tempo realizam esse tipo de operação, aceitando imóveis urbanos e rurais, no entanto, esse produto só estava disponível para clientes com grande movimentação bancária. Os atuais produtos, que chamamos de "prateleira”, ou seja, que estão disponíveis para a pessoa física em todo o Brasil, exigem que o imóvel esteja regularizado, isto é, tenha escritura pública registrada em cartório. A maioria dos bancos também exige que a construção sobre o terreno esteja averbada em cartório, com todo o recolhimento de impostos em dia. No entanto, já existem bancos que aceitam o terreno como garantia do empréstimo, independentemente da construção.

Em média, qual o limite dos empréstimos feitos através da hipoteca de imóveis?
Do ponto de vista do valor do imóvel, a média nacional é de 50% do valor, podendo, em alguns casos, chegar até 70%. Ainda assim, será analisada a capacidade de pagamento do tomador. Os bancos querem estar certos de que ele terá condições de pagar as parcelas mensalmente, afinal de contas, é daí que vem a remuneração dos bancos.

Os microempresários têm sido os que mais procuram essa modalidade de empréstimo?
O perfil do tomador do crédito varia de banco para banco. Micros e pequenos empresários dividem a preferência pelo produto com pessoas físicas que necessitam consolidar suas dívidas. É comum o caso de pessoas que tomaram várias linhas de crédito, com taxas mais altas e em prazos variados, desejarem trocar essas dívidas por uma única, com uma taxa menor e com maior prazo para pagar.

Feita a hipoteca do imóvel, a partir de que momento ele pode perder o imóvel?
No caso de deixar de pagar o empréstimo, assim como acontece em qualquer contrato de um bem de alto valor, seja um carro, moto ou uma máquina, o prazo que cada banco tolera de inadimplência também varia. Mas nossa experiência mostra que o prazo máximo de inadimplência que um banco tolera, antes de iniciar o processo de retomada do imóvel, é de 90 dias. Portanto, quem adquire essa linha de crédito tem que ser rápido em procurar o banco caso perceba que terá problemas para pagar a parcela do mês seguinte. Vale lembrar que, no caso da retomada do imóvel, este irá a leilão. Caso o valor de arremate seja superior ao valor da dívida, incluindo as despesas com o processo, a diferença é devolvida ao cliente. Ou seja, ele só perde aquilo que deixou de pagar, somado às despesas do processo. Afinal, é preciso lembrar que ele recebeu o valor do banco e já o deve ter utilizado para outra finalidade.

Qual a avaliação que a Abracefi faz deste tipo de empréstimo?
Acreditamos que o futuro dos juros baixos no Brasil passa pela expansão dessa linha de crédito. Por outro lado, defendemos que esse mercado cresça de maneira sustentável. Foi exatamente o que nos levou a criar a Abracefi como forma de treinar os profissionais que venham a atuar nesse segmento e a penalizar aqueles que atuem de forma inidônea. Ter acesso a crédito exige que o brasileiro aprenda a lidar de maneira responsável com ele e isso passa por educação financeira e transparência dos bancos. Infelizmente, existe uma cultura ainda enraizada em muitas pessoas de que se não der para pagar a dívida ela “caduca” em 5 anos e isso faz pensar que tomar um crédito sem garantia seja melhor. No entanto, que sentido faz pagar 5%, 10%, 15% ao mês de juros quando se pode conseguir um crédito a 1,5% ao mês. Não faz mais sentido aprender a se planejar financeiramente para pagar menos juros do que ficar inadimplente e perder o nome na praça? Com responsabilidade dos bancos, do tomador do crédito e dos profissionais que atuam nesse segmento, não vemos riscos para a economia ou para o mercado. Pelo contrário, ele é o sinal de que estamos entrando em uma fase de maturidade do Brasil em relação ao crédito.

Entrevistado
Marcelo Prata, presidente da Associação Brasileira dos Corretores de Empréstimo e Financiamento Imobiliário (Abracefi)
Currículo

- Presidente da Abracefi (Associação Brasileira dos Corretores de Empréstimo e Financiamento Imobiliário) e fundador do Canal do Crédito (primeiro site de comparação de produtos financeiros do Brasil)
- Membro do Conselho Consultivo do Clube da Reforma
- Atua há dez anos no mercado de crédito imobiliário com experiência nas áreas de formalização de operações e atendimento ao consumidor
- Possui formação como técnico em transações imobiliárias e é graduado em gestão em processos gerenciais pela FGV (Fundação Getúlio Vargas)
Contato: marcelo.prata@abracefi.org.br / secretaria@abracefi.org.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

MCMV comprova potencial dos painéis portantes

Entre 2010 e 2011, no auge de contratações do programa habitacional, sistema construtivo chegou a  produzir até 42 unidades por dia

Por: Altair Santos

Entre 2010 e 2011, a tecnologia de painéis portantes ganhou impulso significativo com o programa Minha Casa, Minha Vida. Nesses dois anos, no auge da produção, chegaram a ser construídos até 42 apartamentos por dia, em todo o país, utilizando o sistema que, como o nome diz, permite viabilizar obras através de estruturas de concreto armado. O que o tornou atraente foram a redução de tempo e de mão de obra para construir empreendimentos. "Se bem planejado e executado, se a arquitetura for adequada, se a empresa estiver comprometida, e tiver o sistema em seu DNA, com certeza a tecnologia reduz custo, tempo e mão de obra", avalia o engenheiro Augusto Guimarães Pedreira de Freitas, impulsionador da tecnologia em construções com painéis portantes.

Augusto Guimarães Pedreira de Freitas: "Pode-se fazer com um concreto convencional com abatimento alto, mas o recomendável é usar concreto autoadensável”.

No Brasil desde 1978, o sistema foi importado da Alemanha, onde no pós-guerra ajudou a reconstruir o país europeu. O modelo também está popularizado na Rússia, Espanha, Cuba, França, Índia, Colômbia e Venezuela. Na construção civil brasileira, no entanto, não é considerado uma tecnologia convencional. Por isso, quem se propõe a empreendê-la necessita da Datec/Sinat. Atualmente, no país, apenas duas construtoras têm aprovação para utilizá-la. "A questão toda é a via sacra a ser cumprida no ritual de aprovação pelo Datec/Sinat: apresentação de material, contratação, ensaios, análise, inspeções. Tudo é muito demorado, mesmo sabendo-se o resultado que vai dar. Afinal, é tudo parede de concreto", revela Augusto Guimarães Pedreira de Freitas.

O sistema exige alto investimento inicial em fôrmas, equipamentos de produção e montagem, além de treinamento. Por ser totalmente pré-moldada, a construção com painéis portantes requer também estudo de viabilidade antes de ser contratada. "Investigamos a forma de construir e o comprometimento com a qualidade. A tecnologia não pode ter falhas que seriam aceitas numa estrutura convencional, pois isso exigirá reforços caros e gerará patologias que podem vir a comprometer a aceitação por parte do usuário final. É um sistema com restrição de uso. Por isso, não oferecemos para qualquer cliente. Então, não se deve buscar o sistema de painel portante como algo mágico. Porém, se bem aplicado ele traz resultados significativos", destaca o especialista.

A construção com painéis portantes pode ser feita com concreto convencional com abatimento alto, mas é recomendável o concreto autoadensável. Eles também podem ser produzidos fora do canteiro de obras ou "in loco". "Se temos várias obras num raio de até 50 quilômetros, e possibilidade de compensação de impostos para não existir bitributação, compensa uma central de produção. Se temos um empreendimento grande, com mais de 1.000 unidades, é recomendável viabilizar uma usina no canteiro", diz Pedreira de Freitas, afirmando que, em média, cada painel tem 4 metros de largura. “Isso não quer dizer que não possamos produzir painéis maiores, sejam em formas horizontais (podendo ser em pista) ou através de baterias maiores e mais reforçadas", completa o engenheiro, ressaltando que o modelo permite erguer edifícios com até 10 pavimentos.

Por ser totalmente pré-moldada, a construção com painéis portantes requer estudo de viabilidade antes de ser contratada.

Entrevistado
Augusto Guimarães Pedreira de Freitas, sócio e diretor-administrativo da Pedreira de Freitas - empresa especializado em construções com painéis portantes
Currículo
- Graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1988), onde recebeu da ABCP o prêmio Ary Frederico Torres, conferido ao melhor aluno da cadeira de estrutura de concreto e construções
- Tem especialização em vários cursos de extensão na área de projeto estrutural de concreto armado e protendido, alvenaria estrutural e garantia de qualidade
- Participou de diversos simpósios e palestras nas áreas de cálculo estrutural, pré-fabricados, sistemas construtivos e racionalização de execução de estruturas. Atualmente atua como sócio e diretor-administrativo da Pedreira de Freitas
Contato: fernanda@pedreira.eng.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Engenheiros empreendedores: desafio às universidades

Escolas de engenharia investem em empresas incubadoras, mas ainda faltam disciplinas que ensinem os alunos a montar seus negócios

Por: Altair Santos

As escolas de engenharia civil em todo o país começam a despertar para a necessidade de não apenas formar engenheiros, mas capacitar os futuros profissionais a serem empreendedores. É certo que muitas delas já procuram impregnar esse espírito em seus alunos, seja através de incubadoras de empresas ou escritórios-pilotos, mas ao mesmo tempo fazem a "mea culpa" por haver poucas disciplinas voltadas ao empreendedorismo. "Hoje, o que se faz, é uma compensação. Ou seja, a gente tenta conscientizar o aluno disciplina a disciplina. O mesmo procedimento é feito com a conscientização da sustentabilidade", explica Marcelo Henrique Farias de Medeiros, do Departamento de Construção Civil da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Estudantes de engenharia precisam estar atentos às necessidade do mercado para empreender.

Na opinião de Roberto Domingo Rios - chefe substituto do Departamento de Engenharia Civil da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) -, o próprio perfil dos estudantes que estão ingressando nos cursos tem forçado as escolas a se adaptarem a essa característica empreendedora dos futuros engenheiros. "Eles já chegam querendo resolver problemas. Há uma atividade maior na busca pela prática, o que não deixa de ser uma característica do próprio mercado", avalia. Ainda de acordo com Roberto Domingo Rios, há casos em que os próprios alunos se organizam para planejar e empreender. "Não tendo disciplinas que os levem a serem empreendedores, eles mesmos buscam aprender fora da universidade, geralmente recorrendo ao Sebrae", completa.

O perfil do engenheiro-empreendedor se revela já no primeiro contato com o curso. "Aquele que gosta de trabalhar em grupo, que de uma ideia já pensa num produto e que está sintonizado com o mercado é o que a gente detecta como empreendedor. Um caso foi um aluno que montou uma empresa de espaçadores para armadura feitos de cimento. Ele detectou a oportunidade, não viu produto similar no mercado e achou um nicho, criando um produto diferenciado", comenta Marcelo Henrique Farias de Medeiros, lembrando que a UFPR possui um escritório-piloto que procura pesquisar os nichos onde os alunos podem empreender. "Além disso, temos um laboratório de inovação, onde fazemos um link com o mercado da construção civil", revela.

Tanto o professor da UFPR, quanto o da UFRGS, citam que atualmente um bom número de estudantes de engenharia civil, ao concluir o curso, tem procurado fazer pós-graduação em economia ou administração. "Isso ocorre por dois motivos: a busca pelo próprio negócio ou a adaptação para entrar na área financeira, que também absorve engenheiros civis", analisa Roberto Domingo Rios. "O empreendedor tem que ser um administrador também. Não adianta só dominar a parte técnica. É preciso saber elaborar pesquisas de mercado, estudos de viabilidade. Por isso, é necessário estender o conhecimento para outras áreas", alerta Marcelo Henrique Farias de Medeiros.

Entrevistados
- Marcelo Henrique Farias de Medeiros, professor do departamento de construção civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
- Roberto Domingo Rios, chefe substituto do departamento de engenharia civil da Universidade federal do rio Grande do sul (UFRGS)

Currículos

- Marcelo Henrique Farias de Medeiros é graduado em engenharia civil pela Universidade de Pernambuco (1999), Mestre em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (2002) e Doutor em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (2007)
- Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Paraná, onde tem ministrado aulas na graduação e pós-graduação strictu sensu
- É professor colaborador de cursos de pós-graduação latu sensu da Universidade de Pernambuco e Universidade do Oeste de Santa Catarina.
- Atuou nos trabalhos de inspeção, diagnóstico e projeto de recuperação de obras de arquitetos renomados, como Oscar Niemeyer (Brasil), Villa Nova Ar tigas (Brasil) e Fresnedo Siri (Uruguai)
- Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em materiais de construção, patologia e terapia das estruturas de concreto, atuando principalmente nos seguintes temas: durabilidade, concreto armado, reparo, dosagem de concreto e argamassa, ataque por cloretos, corrosão de armaduras e vida útil
- Roberto Domingo Rios é graduado em engenharia civil pela Universidade Nacional do Nordeste (1989), Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1995) e Doutor em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2002)
- Atualmente é professor Associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Concreto Armado e Dinâmica, atuando principalmente nos seguintes temas: concreto armado, concreto, dinâmica, puncionamento e ação dinâmica
- Desde março de 2008 é tutor do Programa de Educação Tutorial (PET) Civil da UFRGS
- Desde maio de 2009 é chefe substituto do Departamento de Engenharia Civil
Contato:  medeiros.ufpr@gmail.comrrios@cpgec.ufrgs.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

De 40 mil pontes em rodovias, só 7% recebem manutenção

Apenas trechos privatizados conservam suas obras de arte. Situação mais crítica ocorre em estradas sob a jurisdição do Dnit

Por: Altair Santos

Auditoria realizada em abril de 2012 pelo Tribunal de Contas da União (TCU) revela que o Sistema de Gerenciamento de Obras de Artes Especiais (SGO) não sofre atualização desde 2004. O SGO é responsável por verificar as estruturas de pontes e viadutos nas rodovias sob a jurisdição do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Assim, o levantamento do TCU concluiu que pelo menos 3.351 construções, das 4.469 aos cuidados do Dnit, encontram-se em situação que variam de "condições precárias" a "mau estado de conservação". 

Júlio Timerman, ex-presidente da ABECE: falta de manutenção foi abordada no V Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas

Conforme o levantamento realizado pelo TCU, as obras estão distribuídas por uma malha superior a 50 mil quilômetros de rodovias federais e estima-se que representem, conjuntamente, um patrimônio de R$ 13 bilhões. No entanto, segundo a Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (ABECE) os números podem estar subestimados. Na avaliação da ABECE, o país conta atualmente com 1.800.000 quilômetros de rodovias, dos quais 200 mil são pavimentados e que contam com 40 mil pontes e viadutos espalhados pelo território nacional, entre estradas sob jurisdição federal e estadual.

Por isso, o ex-presidente e integrante do conselho deliberativo da ABECE, Júlio Timerman, tem uma análise diferente da feita pelo TCU. "A manutenção rotineira em obras de arte tem se restringido aos trechos de rodovias concedidos à iniciativa privada, que representa cerca de 7% da malha rodoviária. Por isso, os problemas em pontes e viadutos devem ser avaliados e priorizados, para então se fazer uma gestão da manutenção em função da criticidade das anomalias levantadas", avalia. Ainda segundo Timerman, a cultura de intervenções superficiais é que resultam em relatórios preocupantes como o do TCU.

Atentas à falta de manutenção das obras de arte especiais, a ABECE e a ABPE (Associação Brasileira de Pontes e Estruturas) dedicaram relevante atenção a esse problema no V Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas, onde foram debatidos sistemas construtivos, projetos, concepções estruturais e também manutenção em pontes e viadutos. "Infelizmente, as autoridades e entidades que administram as rodovias federais e estaduais estiveram pouco presentes para debater esse importante problema. Mesmo assim, o congresso serviu como um fórum adequado para se discutir e procurar soluções para as estradas não concedidas", disse Timerman.

Ponte na BR-101, entre a divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul: exemplo de obra de arte que carece de manutenção periódica no Brasil

O V Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas ressaltou que devem ser feitas inspeções rotineiras anuais e inspeções mais aprofundadas a cada cinco anos nas obras de arte especiais. Estes prazos podem variar em função do quadro de anomalias existentes nas pontes e viadutos. "Todas as concepções estruturais sofrem as consequências da falta de manutenção das pontes e viadutos. Mas é sabido também que uma ponte projetada e executada segundo as normas nacionais vigentes apresentará uma longa durabilidade", evidencia o ex-presidente da ABECE.

Timerman destaca ainda que uma obra bem projetada e executada, com uma manutenção periódica de pequeno custo, apresenta vida útil ilimitada. "Temos obras brasileiras com 70 anos de vida em perfeito estado de conservação. O maravilhoso livro “Pontes Brasileiras”, do Prof. Augusto Carlos de Vasconcelos, ilustra alguns belos exemplos", relata, finalizando que a manutenção correta faria o país economizar bilhões de reais. "Uma pequena anomalia hoje pode se transformar em um problema de grande complexidade, levando à interdição de uma rodovia. Isso custa muito dinheiro", completa.

Entrevistado
Júlio Timerman, ex-presidente (gestão 2002-2004) e integrante do conselho deliberativo da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural)
Currículo
- Graduado em engenharia civil pela EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo)
- É delegado regional da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) em São Paulo/SP e membro do conselho deliberativo
- É coordenador do Comitê Técnico de Pontes e Grandes Estruturas constituído pela ABECE em 2009 para propor ações para melhoria da qualidade e competitividade dos projetos e serviços ligados à construção de pontes e grandes estruturas
- Também é vice-presidente do IABSE (International Association for Bridge and Structural Engineering) e do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto)
-  Atua como consultor na área de projetos de reabilitação e recuperação de estruturas para diversas concessionárias de rodovias, com intervenções em mais de 100 mil metros quadrados de tabuleiros
- Ocupa o cargo de diretor da Engeti Consultoria e Engenharia
Contato: abece@abece.com.br

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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Viabilidade econômica: não construa sem ela

Atualmente, 70% dos grandes empreendimentos imobiliários do Brasil se submetem a esse tipo de estudo antes de iniciar as obras

Por: Altair Santos

De lançamentos residenciais a projetos comerciais e industriais, como shopping centers, hotéis e empreendimentos multiuso, nenhum deles é construído atualmente sem que sejam feitos estudos de viabilidade econômica, mercadológica e financeira do produto. "Até escolas e hospitais são submetidos a avaliações. Até porque, é comum um projeto mudar o seu perfil se o estudo de viabilidade concluir que em determinada área não cabe o empreendimento proposto, mas sim outro tipo de negócio", explica Caio Sérgio Calfat Jacob, especialista em Real Estate Consulting.

Caio Calfat: uma avaliação de viabilidade pode mudar do projeto à característica do empreendimento.

Estima-se que 70% dos grandes empreendimentos imobiliários lançados no Brasil recentemente tenham sido submetidos a estudos de viabilidade. "Começa com a análise mercadológica, porque é a conclusão desse estudo que vai definir os produtos que serão colocados no projeto, influenciando em sua concepção", diz Sérgio Calfat, segundo o qual faz dez anos que o setor imobiliário do país passou a realizar análises de viabilidade com mais ênfase. Diria que a metodologia não é recente, e sim o hábito de aplicá-la é que é recente", completa.

Realizar estudos de viabilidade econômica, mercadológica e financeira requer os seguintes profissionais: pesquisadores, entrevistadores, analistas de mercado e analistas de estudos econômico-financeiros. Não é raro, porém, envolver especialistas da área de psicologia, quando as análises exigem avaliações qualitativas e quantitativas com formadores de opinião. Em média, e dependendo da complexidade, um estudo leva dois meses para ser concluído. "É irrelevante o custo diante do risco de um empreendimento dar errado", afirma o especialista em Real Estate Consulting.

Caio Sérgio Calfat Jacob revela ainda como os estudos interagem entre si, começando pela análise mercadológica. "Esse estudo parte do terreno, se ele existir, e se ele não existir buscará identificar quais as melhores áreas para o modelo de empreendimento proposto. O estudo qualifica oferta e demanda, identificando os consumidores de determinada região, sejam eles compradores de casas, hóspedes de hotel, locatários de escritório ou de conjunto industriais. Trata-se de um estudo que precisa projetar para os próximos 20 ou 30 anos o ambiente onde ele será construído", explica.

Já o estudo de viabilidade econômico-financeira se faz em cima de números. "Monta-se um fluxo de caixa operacional e financeiro e se analisa todo o desempenho econômico do empreendimento, desde o primeiro gasto até o final da obra. Depois, projeta-se a vida útil do empreendimento a longo prazo. O final deste estudo financeiro pode apontar para prejuízo ou lucro, e se a taxa de retorno será atraente ou não. Enfim, a avaliação é feita sobre o mercado, e qual é o produto adequado a esse mercado", finaliza Calfat.

Entrevistado
Caio Sérgio Calfat Jacob, especialista em Real Estate Consulting
Currículo

- Graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da USP e diretor-geral da Caio Calfat Real Estate Consulting - empresa de consultoria imobiliária que atua em planejamento e desenvolvimento de empreendimentos imobiliários desde outubro de 1996
- É vice-presidente de assuntos turístico-imobiliários do Secovi-SP (Sindicato da Habitação de São Paulo) para o mandato 2012-2014
- É fundador, ex-presidente e membro do conselho deliberativo vitalício da LARES (Latin American Real Estate Society)
- É professor de análise de projetos de hotéis e resorts, do MBA Real Estate promovido pela FUPAM-USP, na FAU-USP
- É professor de planejamento de empreendimentos hoteleiros, do curso de especialização em gerenciamento de empreendimentos na construção civil, na FAU-Mackenzie, de São Paulo
Contato:  caio@caiocalfat.com / www.caiocalfat.com / www.lares.org.br

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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330