Novo ecossistema do consumo muda CRM

Conceitos trazidos pela internet exigem que gestão de relacionamento com o cliente antecipe tendências, capte demandas e seja proativa no atendimento

Por: Altair Santos

Apesar de o setor de venda das empresas ser o mais reativo à utilização de CRM (do inglês, Customer Relationship Management) a tendência é que a ferramenta se afirme cada vez mais como um suporte para promover a gestão de relacionamento com o cliente do que como um "apoio" para se vender mais e melhor. A análise é do professor de vendas e marketing da Business School São Paulo, Enio Klein, para quem um bom número de companhias confunde CRM com "automação de vendas".  "CRM deve ser entendido como uma ferramenta que permite a operacionalização de estratégias de relacionamento com o cliente. Se as estratégias forem boas, ela dará resultados satisfatórios; se forem ruins, levarão a fracassos retumbantes", resume.

Enio Klein: “Algumas companhias misturaram as estações e passaram a tratar o CRM como ferramenta que suporta o negócio".

Bem consolidado em áreas como telefonia, financeira e de seguros, o CRM hoje já ocupa um espaço importante na construção civil, principalmente entre as grandes incorporadoras. Neste caso, a ferramenta tem sido usada para antecipar tendências, captar demandas e tornar mais proativo o atendimento durante o lançamento de imóveis e também no pós-venda. Aí reside a nova função do CRM, que é ajudar na forma de relacionamento com o chamado consumidor 2.0 - aquele que, através das redes sociais, elevou o nível de exigência sobre os produtos. "Houve uma mudança no ecossistema das relações de consumo, provocada por tudo que veio na esteira da internet, e esse novo ambiente social potencializa uma série de ações do CRM", destaca Klein.

Estas ações, enfatiza o especialista, estão baseadas fundamentalmente no comportamento do consumidor. "Nada é tão rico em expor comportamentos do que as redes sociais. Monitorá-las, significa enriquecer, e muito, o conteúdo dos bancos de dados de marketing das empresas. Além disso, uma referência a uma determinada organização se dissemina em segundos, o que permite que, através do monitoramento, ações possam ser tomadas de forma muito mais rápida e abrangente do que através das centrais de atendimento. Dessa forma, eu diria que, sim, a tecnologia e as ferramentas para CRM vêm evoluindo no sentido de acompanhar estas mudanças. Só que é preciso que a empresa não fique apenas na retórica com o cliente", complementa o professor da Business School São Paulo.

A confusão que se faz, principalmente no Brasil, sobre o uso do CRM como ferramenta de venda ou de relacionamento com o cliente nasceu com a entrada do sistema no país. Ele se deu a partir da segunda metade da década de 1990, mas não por completo. "As empresas não foram adquirindo o sistema inteiro, mas sim por módulos: automação de vendas, automação de marketing e database (hoje conhecido como CRM analítico) e serviços ao cliente (pós-venda e atendimento). Assim, algumas companhias misturaram as estações e passaram a tratar o CRM como ferramenta que suporta o negócio. Quando isso acontece, ela se descaracteriza e se torna um monstro que nem atende às demandas específicas e nem se transforma no que a empresa gostaria que fosse", alerta Enio Klein.

Entrevistado
Enio Klein, professor em vendas e marketing da Business School São Paulo
Currículo
- Graduado em Engenheira Elétrica pela PUC-RJ, com especialização em sistemas, gestão estratégica do relacionamento com clientes e tecnologia da informação
- Com mais de 25 anos de experiência nos segmentos de telecomunicações, tecnologia, serviços profissionais e manufatura, hoje atua como professor convidado da Faculdade de Administração e Economia da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e titular da Business School São Paulo (BSP) em programas de MBA abertos e corporativos nas áreas de marketing e vendas
- É também gerente geral nas operações de vendas da empresa canadense SalesWays Inc., no Brasil
Contato: flavia.ghiurghi@salesways.com.br (assessoria de imprensa)

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Brasil é "Top Five" em construções sustentáveis

Queda no custo de "prédios verdes" faz país ficar atrás apenas de Estados Unidos, China e Emirados Árabes Unidos
Por: Altair Santos

Apesar de o conceito de construção sustentável ter chegado ao Brasil em 2004, apenas a partir de 2007 é que as edificações denominadas de "prédios verdes" efetivamente começaram a ser viabilizadas no país. Passados cinco anos, esse mercado encontra-se plenamente aquecido dentro do setor imobiliário. A ponto de o Brasil ocupar atualmente a 4ª posição no ranking mundial de construções sustentáveis, de acordo com o Green Building Council (GBC).

Marcos Casado, da GBC Brasil: 43% dos empreendimentos certificados são edifícios comerciais.

Segundo o gerente técnico do GBC Brasil, Marcos Casado, o país tem hoje 53 empreendimentos já certificados e outros 473 em processo de certificação. A lista leva em consideração apenas os empreendimentos certificados com o selo LEED™ (Leadership in Energy and Environmental Design). Se forem contabilizadas outras certificações, como o Aqua, já chegam a 91 os "prédios verdes" em operação no Brasil. Quase metade (43%) destas edificações são construções voltadas para empreendimentos comerciais.

Em número de certificações, o Brasil posiciona-se atrás de Estados Unidos, com um total de 40.262 construções sustentáveis; China, com 869, e Emirados Árabes Unidos, com 767. Marcos Casado explica por que os EUA estão tão à frente dos demais países.

"Eles começaram o movimento de construções sustentáveis 15 anos antes. Mas há cinco anos, os processos de certificação no Brasil quase equivalem aos dos Estados Unidos. Acreditamos que, após a conferência Rio+20 e os eventos Copa do Mundo e Olimpíadas, o país irá avançar ainda mais no ranking", prevê.

Outra perspectiva de que os "prédios verdes" proliferem no país está relacionado à queda no custo da construção deste tipo de edificação. "Quando iniciamos a operação do GBC no Brasil, o custo de uma obra certificada era 30% maior que de uma obra convencional. Hoje, o mesmo empreendimento já pode ser construído com um custo adicional de 1% a 7%. Esse investimento inicial maior é facilmente recuperado com a redução dos custos operacionais durante toda a vida útil do prédio", destaca Marcos Casado.

Percebe-se também que os fornecedores de material de construção estão mais atentos a colocar no mercado produtos com maior comprometimento ambiental. Isso também ajudou a baratear as construções sustentáveis. "Hoje, os grandes fabricantes trouxeram para nosso mercado produtos que eram vendidos na Europa e nos Estados Unidos. O mesmo acontece com outros setores da cadeia produtiva da construção civil, como cimento, vidro e iluminação. Todos estão buscando desenvolver produtos e tecnologias de menor impacto", ressalta o gerente técnico da GBC Brasil.

Outro fator determinante é a proliferação de construtoras envolvidas com o conceito de "prédio verde". Atualmente, quase todas as empresas que buscam financiamento na Caixa Econômica Federal precisam apresentar projetos que contemplem o menor consumo de energia, o aproveitamento de águas pluviais e conceitos termoacústicos. O próprio banco dispõe de uma certificação para a construção sustentável: o selo Azul. Além disso, o GBC Brasil oferece treinamento às construtoras que aderirem ao conceito de "prédio verde". "Investir em sustentabilidade, além de reduzir os impactos ambientais, garante retorno financeiro e melhora a imagem das empresas engajadas. Por isso, cresce a adesão", finaliza Marcos Casado.

Entrevistado
Marcos Casado, gerente técnico do Green Building Council Brasil
Currículo
- Graduado em engenharia civil pelo Universidade Mogi das Cruzes (UMC) com especialização em administração e gestão ambiental
- Atualmente  é gerente técnico do Green Building Council Brasil, onde dissemina o conceito da construção sustentável e da certificação LEED em todo o país
- Também coordena cursos de pós-graduação do GBCB e é professor do curso de MBA  em construção sustentável do Green Building Council Brasil
Contato: mcasado@gbcbrasil.org.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

ONU deverá criar metas mundiais para a construção civil

Na Rio+20, organismos como CBIC, CBCS e CEBDS propuseram a criação de um grupo de trabalho para estimular a sustentabilidade no setor

Por: Altair Santos

Durante a Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável) representantes da construção civil elaboraram o documento "Metas de Desenvolvimento Sustentável para a Indústria da Construção". Trata-se de uma série de propostas que foi entregue à ONU (Organização das Nações Unidas) para a criação de um grupo de trabalho que possa discutir o futuro do setor dentro dos conceitos de economia verde.

Conferência mundial sobre desenvolvimento sustentável vê construção civil como um dos pilares para mudar paradigmas ambientais.

Assinado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), pelo Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), pela Federação Interamericana de la Indústria de la Construcción (FIIC), pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e pela Confederation of International Contractor’s Association (CICA), o documento pede que a ONU lidere um movimento global que priorize a construção sustentável.

Segundo o presidente da CBIC, Paulo Safady Simão, o objetivo é que, com a liderança da ONU, sejam estabelecidas metas e parâmetros para que a cadeia produtiva da construção civil possa se integrar definitivamente à era da sustentabilidade. “Observamos muitos projetos não caminharem por falta de entrosamento. Por isso, estamos aqui, CBIC, CBCS, CICA, FIIC e CEBDS, juntos, pedindo pela formação de um grupo de trabalho internacional para definir as metas do desenvolvimento sustentável em todo o mundo”, afirmou Simão, durante a Rio+20.

Um dos trechos do documento entregue à ONU deixa clara a opção do setor pela construção sustentável. "Em primeiro lugar, é necessário reconhecer que a construção sustentável contribui para a consolidação da formalidade no setor, gerando melhores empregos, reduzindo os riscos para as empresas e fortalecendo o bem-estar da sociedade. A aplicação efetiva dos conceitos da sustentabilidade durante a fase de planejamento e construção das edificações e dos espaços urbanos garante a qualidade dos produtos, reduzindo os custos de ciclo de vida e oferecendo ao setor financeiro oportunidades para investir, com transparência e risco mínimo", diz.

Além da apresentação de um planejamento estratégico para a construção civil nas próximos décadas, o setor também promoveu na Rio+20 o evento "Construção Sustentável – o desafio de pensar o futuro das cidades". Entre os debatedores estiveram, além do presidente da CBIC, Paulo Safady Simão, Marcelo Takaoka, presidente do CBCS; Marina Grossi, presidente do CEBDS; Edson Yabiku, arquiteto da Foster + Partners, e Dan Hoornweg, especialista do Banco Mundial em cidades sustentáveis.

Na conferência, Takaoka citou que a construção civil é a principal ferramenta de que o planeta dispõe para dar qualidade de vida às pessoas, seja através da construção de habitações, do saneamento básico ou da oferta de infraestruturas como estradas, pontes e metrôs. “A construção civil é responsável por mais de 2/3 do PIB mundial. O setor está diretamente ligado à melhoria de vida das pessoas. Se bem empregada, a construção civil pode gerar uma economia mundial de US$ 1,6 trilhão, com a redução da pobreza e da proliferação de doenças", destacou o presidente do CBCS.

Entrevistados
Assessorias de imprensa da CBIC, da CBCS e da Rio+20

Contato:  rio20.imprensa@itamaraty.gov.br / comunica@cbic.org.br comunicacao@cbcs.org.br

Créditos foto: Divulgação/Rio+20

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Novo World Trade Center prioriza o concreto

Projeto daquele que voltou a ser o maior arranha-céu dos Estados Unidos usa material como seguro contra um novo "11 de setembro"

Por: Altair Santos

O atentado de 11 de setembro de 2001 mexeu com paradigmas em todos os setores dos Estados Unidos. Na engenharia, promoveu mudanças em conceitos construtivos. O país, que antes priorizava as estruturas metálicas para erguer arranha-céus, hoje dá preferência ao concreto para construir seus grandes edifícios. É o que ocorre com o novo World Trade Center - um complexo de quatro prédios que ocupará a área em que estavam as torres gêmeas, em Nova York. Todas as edificações, com a maior delas medindo 541 metros de altura, ganharam estruturas anticolapso.

Roberto Chust Carvalho, da UFSCar: arranha-céus, hoje, não dispensam armaduras de pós-colapso.

Segundo o professor Roberto Chust Carvalho, especialista em estruturas da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) desde o 11 de setembro de 2001 os projetos de arranha-céus, mesmo aqueles contemplados com estruturas metálicas, passaram a ganhar armaduras de concreto para proteger as vigas, a fim de que, em caso de incêndio, não ocorra desmoronamento. "O que causou a queda do WTC foram as altas temperaturas a que ficaram expostas as soldas das estruturas de aço. Nesta nova construção, com certeza há proteção com concreto, pois agora eles levam em consideração o risco de colapso", cita.

Ainda de acordo com Roberto Chust Carvalho, a prioridade dada ao concreto se deve à resistência térmica do material. Por isso, nos projetos dos arranha-céus que foram construídos depois de 2001, estruturas à base de cimento foram privilegiadas, até para baratear os seguros dos empreendimentos. "As seguradoras passaram a se negar a segurar edificações com estruturas metálicas. O concreto, em caso de incêndio, não derrete. Por isso, o material tornou-se o preferido para grandes edificações. No Brasil, por exemplo, as construções industriais, que davam preferência às estruturas metálicas, hoje são dominadas pelos pré-moldados", lembra.

No caso do complexo do novo WTC, que está em construção desde 2006 e deve ser inaugurado em 2013, todos os edifícios contam com um núcleo de concreto armado. O mesmo material foi usado nas fundações dos prédios. As estruturas metálicas, nestes empreendimentos, foram usadas apenas nos perímetros das edificações. Sob a responsabilidade da construtora Skidmore, Owings & Merrill, todo o complexo irá consumir 31 mil m³ de concreto até a conclusão das obras. Há ainda o emprego de aço fornecido pela empresa brasileira Gerdau, que assinou contrato no valor de US$ 7,35 milhões.

WTC: ainda em construção, prédio terá 541 m de altura e armadura de concreto.

No final de maio de 2012, a torre One World Trade Center, ainda em construção, atingiu 381 metros de altura. Com isso, ultrapassou o Empire State Building e assumiu o posto de edifício mais alto dos Estados Unidos. Quando pronto, o mais imponente prédio do complexo WTC terá 104 andares voltados para escritórios de alto padrão. Acima da área comercial, haverá um terraço em que o ponto mais alto ficará a 417 metros de altura - a mesma das torres gêmeas.  Uma antena com mais de 100 metros será instalada sobre a edificação, completando 1.776 pés (541,3 m) de altura. O número é simbólico e representa o ano da independência dos Estados Unidos.

Roberto Chust Carvalho destaca que construções como o WTC, apesar de terem seus projetos mantidos em sigilo, sempre ajudam a agregar inovações à construção civil. "São obras que geram conhecimentos de ponta e que, mais cedo ou mais tarde, acabam incorporados por todo o universo construtivo", finaliza o professor da UFSCar.

Veja time-lapse da construção do novo World Trade Center: Clique aqui

Entrevistado
Roberto Chust Carvalho, professor especializado em estruturas pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Currículo
- Graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1973). Tem mestrado em engenharia de estruturas pela Universidade de São Paulo (1985) e doutorado em Engenharia de Estruturas pela Universidade de São Paulo (1994)
- Atualmente é professor associado da Universidade Federal de São Carlos
- Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em estruturas de concreto, atuando principalmente nos seguintes temas: concreto armado e protendido, estruturas pré-moldadas, projeto e análise de estruturas e pontes lajes alveolares protendidas
- É autor de dois livros cálculo e detalhamento de estruturas usuais de concreto armado (volumes 1 e 2)
- Trabalha fortemente no ensino do concreto armado e protendido desenvolvendo junto com seu grupo de pesquisas ferramentas para o uso nas disciplinas de concreto armado, como pode ser visto em www.deciv.ufscar.br/calco.
Contato: chust@ufscar.br

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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Construção civil se abre à logística reversa

Setor ainda tem iniciativas incipientes no trato de resíduos, mas há bons exemplos em outras áreas industriais a serem seguidos

Por: Altair Santos

A lei 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, entrou em vigor a partir de decreto publicado em 2010. Por enquanto, apenas seis setores têm obrigação de cumpri-la. São os de óleos lubrificantes, agrotóxicos, pneus, pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes e de produtos eletrônicos. Até 2014, outros setores, entre eles o da construção civil, terão de passar a obedecer a legislação. Por enquanto, eles encontram-se no estágio de acordo setorial, que envolve a negociação entre empresas e governo, no sentido de equacionar a logística reversa de seus produtos.

Paulo Roberto Leite: "Entulho dos canteiros de obras é o que mais carece de logística reversa".

Nos próximos dois anos, a expectativa é que a lei seja implementada gradativamente. Segundo o presidente do Conselho de Logística Reversa do Brasil (CLRB) Paulo Roberto Leite, não haveria como o país impor a legislação assim que ela foi criada. "É preciso compreender a complexidade que é fazer funcionar a Política Nacional de Resíduos Sólidos em um país com uma área superior a oito mil quilômetros quadrados e regiões muitas vezes inacessíveis. Antes, é preciso organizar pontos de recepção, os meios de transporte mais adequados, as armazenagens dos produtos, o reaproveitamento, enfim, toda a cadeia de logística reversa precisa ser equacionada", explica.

No que tange à questão da construção civil, Paulo Roberto Leite lembra que até 2014 os entulhos de obras não poderão mais se misturar aos resíduos domiciliares - comumente chamados de lixões no Brasil -, e terão de ter depósitos específicos. Por isso, ele cita que há outros setores que podem servir de exemplo para que a construção civil se adapte à Política Nacional de Resíduos Sólidos. "Há áreas que, por motivos legais, estão trabalhando muito bem. É o caso, por exemplo, de retorno de embalagens vazias de agrotóxicos. Desde 2000, as indústrias usam essa gestão como benchmarking nacional e internacional. Hoje, a cadeia produtiva do agrotóxico retorna 95% das embalagens e tem mais de 500 postos de coleta no país", afirma.

A indústria de pneus é outro setor que pode servir de modelo à construção civil. "É outra área que já atingiu um nível ótimo de gestão de resíduos", comenta o presidente do CLRB. Para Leite, atualmente um dos principais problemas da destinação dos entulhos de obras está relacionado às empresas que os recolhem e que, nem sempre, são credenciadas ambientalmente. "As não credenciadas não dão conta corretamente do entulho que retiram dos canteiros de obras e acabam jogando isso em terrenos baldios. O setor vai ter de corrigir isso", avalia.

Paulo Roberto Leite entende que se a construção civil souber implantar a sua política de logística reversa poderá obter ganhos econômicos, principalmente com o reuso de matérias-primas. Só para se ter uma ideia, segundo dados do CLRB e da Associação Brasileira de Logística (Aslog), a logística reversa movimenta atualmente no país cerca de US$ 20 bilhões por ano. Esse valor poderia crescer se o volume de empresas preocupadas com o reuso de materiais fosse maior. Hoje, apenas 5% das companhias instaladas no Brasil têm essa preocupação. Além disso, somente 10% dos produtos vendidos retornam para serem total ou parcialmente reutilizados.

Saiba mais

A logística reversa sempre existiu nas empresas, só que limitada a duas áreas: a dos produtos que retornam sem serem consumidos seja por pequenos defeitos ou por terem se tornado obsoletos no mercado, o que convencionou-se chamar de logística reversa de pós-venda, e a dos que foram consumidos, que cumpriram sua vida útil, mas deixaram resíduos utilizáveis. Nesta categoria, há dois tipos de produtos: os, cujos resíduos, têm valor agregado e econômico importantes, por isso o mercado os faz voltar sem muita dificuldade, como metais, peças de motores e equipamentos de medicina, e os que não retornam, pois seus resíduos não têm valor agregado suficiente e não conseguem remunerar a cadeia de retorno. É o caso típico de plásticos, embalagens Tetra Pak e entulhos de obras. Reverter esse quadro será o desafio da cadeia produtiva da construção civil.

Entrevistado
Paulo Roberto Leite, presidente do Conselho de Logística Reversa do Brasil
Currículo
- Engenheiro industrial, com pós-graduação na FGV-SP e mestrado em administração de empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
- É professor e pesquisador na Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde idealizou e coordenou o curso de pós-graduação em logística empresarial
- Professor convidado em diversas universidades: COPPEAD, UFRJ, USP, FGV e FIA-USP
- Autor do Livro “Logística Reversa – Meio Ambiente e Competitividade”
- Idealizador e presidente do CLRB (Conselho de Logística Reversa do Brasil)
- Consultor empresarial na área Logística Reversa
Contato: clrb@clrb.com.br / www.clrb.com.br leitepr@mackenzie.com.br / meusite.mackenzie.com.br/leitepr/

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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Orçamentista requer técnica e conhecimento das leis

Especialista Maçahico Tisaka alerta que um mau orçamento de obras pode levar à perda da licitação ou ao desperdício de dinheiro na execução

Por: Altair Santos

Elaborar corretamente um orçamento de obras, fundamentado na legislação vigente, cálculo BDI (Benefícios e Despesas Indiretas) e conceitos novos sobre a formação dos preços de construção, exige profissionais cada vez mais especializados. No entanto, o mercado atualmente se ressente de orçamentistas com know-how, apesar das facilidades tecnológicas criadas através dos softwares. Para o experiente engenheiro civil Maçahico Tisaka, as constantes mudanças nas leis têm interferido na qualidade dos orçamentos, principalmente aos relacionados às obras públicas. É o que ele esclarece na entrevista a seguir. Confira:

Maçahico Tisaka: lei nº 8666/93 influenciou na qualidade dos orçamentistas.

Quando se elabora o orçamento de uma obra, normalmente qual é o percentual permitido para uma margem de erro aceitável?
Se o projeto básico for de boa qualidade, feito por uma empresa ou um profissional experiente, a margem de erro tende a ser pequena. Sob o ponto de vista técnico, a resolução nº 361/91 do CONFEA admite uma imprecisão de mais ou menos 15% na determinação do custo da obra, se o projeto básico for desenvolvido de forma adequada com todos os serviços a executar, como mão de obra, materiais e equipamentos, definindo corretamente as quantidades e custos dos fornecimentos. Já a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2012) no seu art. 125, alínea III, § 6º, admite um erro de 10% no valor do contrato.

Qual o risco que um empreendimento corre quando o orçamento é mal elaborado?
O orçamento mal elaborado pode decorrer de dois fatores principais. O primeiro é devido às deficiências do projeto básico, que pode estar mal feito, incompleto ou incoerente, o que vai impossibilitar o orçamentista de obter os dados, especificações e os quantitativos corretos para compor a planilha de custos. O segundo fator é a falta de preparo do próprio orçamentista. Quando o orçamento é elaborado em cima de um projeto deficiente ou com um orçamentista inexperiente, podem ocorrer dois tipos de riscos: não ganhar a licitação e, se ganhar, perder dinheiro na execução.

Qual especialização é exigida do profissional responsável por elaborar orçamentos?
Qualquer trabalho de engenharia, seja para elaborar projetos, orçamentos ou qualquer outro trabalho técnico no ramo da engenharia, sobretudo em construção civil, é necessário que o profissional tenha a devida atribuição profissional de acordo com a lei nº 5.194/44, que rege o exercício profissional de engenheiros, arquitetos ou agrônomos. Para elaborar um orçamento de qualidade não basta somente a especialização. É necessário ter experiência e vivência na elaboração de orçamentos desde os mais simples até aos mais complexos.

Hoje há um bom número de especialistas em orçamento no mercado ou, como em outras áreas da construção civil, há carência de mão de obra?
Antes do advento da lei nº 8.666/93 (sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras e outros serviços, no âmbito dos poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios) para atender a demanda da época em obras de construção civil, pode-se dizer que havia um bom número de especialistas em orçamento, e todos bem qualificados. No instante em que a lei nº 8.666/93 estabeleceu a obrigatoriedade de incluir nas licitações públicas os tais “orçamentos estimativos”, as empresas licitantes deixaram de ter bons orçamentistas, passando a prevalecer o critério de descontos em cima desses orçamentos já feitos. Mais recentemente, em função do reaquecimento da economia e o desenvolvimento do setor imobiliário, passou a faltar no mercado bons orçamentistas. Hoje temos aqueles que apenas sabem manusear os softwares de orçamento disponíveis no mercado.

Dominar cálculos de BDI (Benefícios e Despesas Indiretas) é o caminho para se elaborar um bom orçamento de obras?
No passado foi, pois saber os segredos da elaboração de um BDI era estratégico para as empresas ganharem obras com pouco risco de perder dinheiro na execução. O domínio do cálculo do BDI passa pelo treinamento e amplo conhecimento da realidade no momento da elaboração atrelado às leis existentes. Em geral, os orçamentistas, com razão, pois não foram preparados para isso, têm pouco conhecimento da legislação, podendo cometer erros graves ou até provocar impugnações de seus concorrentes diretos em algumas licitações. Aliás, não só os orçamentistas, como também os organismos do governo e os legisladores de plantão, vivem cometendo irregularidades e ilegalidades na condução dos processos licitatórios.

Para o consumidor final, o cálculo do orçamento pode influenciar no preço do imóvel que ele vai comprar?
Sim. Em geral, os empreendedores imobiliários trabalham no limite do seu orçamento para poder vender e enfrentar a concorrência. Mas no caso do preço de venda, não é somente o orçamento da obra que é levado em conta. Dependendo da localização do imóvel, e da infraestrutura dos serviços locais, o custo dos terrenos também passou a ter uma importância muito grande no preço de venda.

Em termos de legislação, o que deve ser respeitado na elaboração de um orçamento?
Atualmente, os orçamentistas devem entender não só de técnica e metodologia de elaboração de orçamentos como também têm que fundamentar todas as etapas de execução na legislação vigente. Não são poucas as leis que precisam ser levadas em consideração. Além disso, no Brasil, as leis estão em constante mudança, tanto na edição de leis novas como nas revisões das já existentes. Em função disso, os conceitos também mudam. Alguns itens de gastos que antigamente eram consideradas despesas indiretas passaram a ser custos diretos devido a essas mudanças. Muitos órgãos ainda elaboram os seus orçamentos estimativos baseados em leis que já estão complemente superadas.

O orçamento para um empreendimento predial ou industrial difere muito do orçamento para obras de infraestrutura?
Sob o ponto de vista técnico ou metodológico, pouco muda. Entretanto, cada segmento da construção civil tem características próprias e níveis de complexidade bem diferentes entre um e outro.

Nas obras públicas se vê muito a necessidade de aditivos orçamentários. O que deveria ser feito para que isso fosse evitado?
Na grande maioria das obras públicas, em geral, há a necessidade de aditivos contratuais tanto de preços quanto de prorrogações de prazos. Isso pode decorrer de projetos básicos mal feitos, incompletos ou deficientes, o que leva à necessidade de alterar esses projetos tanto no que se refere às especificações quanto nos seus quantitativos. Além disso, a obra pode sofrer situações de fatos inevitáveis e imprevisíveis, tais como embargos judiciais ou ambientais, greves gerais, tempestades ou inundações imprevistas, que podem onerar a contratada. Por isso, há a possibilidade de pleitear o reequilíbrio econômico-financeiro do contrato previsto nos artigos 57 e 65 da lei nº 8.666/93 (que tratam de créditos orcamentários).

Ferramentas como softwares, hoje permitem que o departamento de orçamento tenha mais controle sobre os gastos no canteiro de obras?
Atualmente, com o desenvolvimento da informática, as empresas podem contar com uma série de softwares que facilitam a vida dos seus funcionários e responsáveis, permitindo um controle melhor de todas as suas atividades. Entretanto, é preciso saber escolher aquele que melhor atenda as suas necessidades, sem onerar a administração e não tumultuar a rotina já estabelecida.

Entenda a lei nº 8.666/93: Clique aqui

Entrevistado
Engenheiro civil Maçahico Tisaka, especialista em laudos, perícias, pareceres técnicos sobre engenharia econômica e de custos, sobretudo em processos de arbitragem e soluções de reequilíbrio econômico-financeiro de contratos de construção civil, privada e pública
Currículo

- Engenheiro civil formado pela Escola Politécnica as USP em 1964, tem vários cursos de pós-graduação e especialização em planejamento urbano e transportes, administração, engenharia econômica e de custos e engenharia de segurança
- Diretor da empresa Engecon Assessoria e Consultoria
- Trabalhou em grandes empresas de construção e infraestrutura onde executou e supervisionou obras de médio e grande porte, como empreendimentos habitacionais, comerciais e industriais, obras rodoviárias, ferroviárias e metroviárias, obras portuárias, barragens, hidrelétricas, etc
- Além de inúmeros artigos em revistas técnicas, é autor dos livros “Critérios para Fixação de Preços de Serviços de Engenharia”, “Orçamento na Construção Civil – Consultoria, Projeto e Construção”, “Como Evitar Prejuízos em Obras de Construção Civil” da Editora PINI – “Norma Técnica nº 001 para Elaboração de Orçamento na Construção Civil” do Instituto de Engenharia
- É também professor de diversos cursos de especialização e de pós-graduação em engenharia econômica e de custos atendendo várias universidades e organizações de ensino continuado
Contato: mtisaka@hotmail.com

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

De ferrovia a estádio, Bahia não para de crescer

Estado que mais consome cimento na região Nordeste do país faz da construção civil um setor de intensa geração de empregos

Por: Altair Santos

Em 2011, a Bahia consumiu 3,56 milhões de toneladas de cimento. Na região Nordeste, o estado é o que mais utiliza o insumo e a expectativa é que em 2012 não seja diferente. As estimativas governamentais calculam consumo de 4 milhões de toneladas para este ano. O que alimenta essa projeção são as megaobras em construção no território baiano. Boa parte tem como foco a Copa do Mundo de 2014. Para o evento de daqui a dois anos estão em andamento a construção da Arena Fonte Nova, a reforma do aeroporto internacional de Salvador e as obras do PAC da Mobilidade na capital baiana.

Arena Fonte Nova: obra é atualmente a que mais emprega na Bahia.

Também é considerada relevante a revitalização do Porto de Salvador e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol). Essa obra é a que envolve o maior volume de recursos. Serão R$ 7,43 bilhões, dos quais R$ 6 bilhões destinados ao trecho que percorrerá a Bahia. Incluída entre as obras do PAC, a Fiol terá 1.527 quilômetros e ligará as cidades de Ilhéus, Caetité e Barreiras, na Bahia, a Figueirópolis, em Tocantins. "Hoje estão em obras os trechos do lote 1 ao lote 4, de oito a serem construídos, e empregam 1.664 trabalhadores", afirma Camila Peres, assessora da Casa Civil do governo da Bahia.

O segundo empreendimento que mais irá absorver recursos na Bahia é a revitalização do Porto de Salvador. O projeto, batizado de Porto Sul, tem um investimento previsto de R$ 3,5 bilhões. Ainda em processo de licenciamento ambiental, a obra deve gerar 2.030 empregos diretos quando estiver com o canteiro instalado. Porém, nenhuma construção, no momento, tem gerado tantos empregos na Bahia quanto a Arena Fonte Nova. Desde maio de 2012, trabalham no local 3.300 operários. O estádio já está com 60% de sua estrutura concluída e a projeção é que, quando pronto, terá consumido 45 mil m3 de concreto pré-moldado.

Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol): obra mais cara da Bahia, orçada em R$ 7,43 bilhões.

A velocidade da Arena Fonte Nova contrasta com a do metrô de Salvador. Principal obra de mobilidade para a Copa do Mundo, o empreendimento tem apenas 6 quilômetros da linha 1 concluídos.  A expectativa do governo da Bahia e da prefeitura de Salvador é definir ainda neste ano o edital para a convocação de uma parceria público-privada para pelo menos conseguir concluir a linha 1 até o início do mundial. A construção arrasta-se por quase uma década e deveria ter 41 quilômetros. Baixou para 20 quilômetros, e depois para 12. Porém, mais de R$ 1 bilhão depois, apenas 6 quilômetros estão prontos.

Entrevistado
Assessoria de imprensa da Casa Civil do governo da Bahia, da Secretaria Estadual da Copa (Secopa) e da Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra)
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Custo da mão de obra pressiona construção civil

Falta de trabalhadores faz com que reajustes salariais ocorram bem acima da inflação. Para economista da FGV, cenário não muda a médio prazo
Por: Altair Santos

Há pelo menos quatro anos a demanda por mão de obra na construção civil tem exercido peso cada vez maior no custo dos empreendimentos. Hoje, descontado o desembolso para a aquisição do terreno, mais de 50% do preço de um imóvel está relacionado ao gasto com trabalhadores do setor. "O peso da mão de obra nos custos da construção civil têm crescido substancialmente. Nos últimos doze meses (de maio de 2011 a maio de 2012) a força de trabalho obteve reajuste superior a 10%. Isso impacta em todo o setor", explica Ana Maria Castelo, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas.

Ana Maria Castelo: "O peso da mão de obra nos custos da construção civil tem crescido substancialmente”.

Na avaliação da especialista, que se dedica a analisar a conjuntura da construção civil no Brasil, os gargalos causados pela carência de trabalhadores não irão se resolver a médio prazo. "A situação hoje é clara: falta mão de obra. E a falta de mão de obra encarece a mão de obra que existe. Então, a saída é massificar a qualificação dos trabalhadores e investir em industrialização. Mas isso demanda tempo. Observa-se a preocupação do setor em investir em processos produtivos, mas isso também exige mão de obra mais qualificada", afirma Ana Maria Castelo.

A carência de trabalhadores para a construção civil não se reflete apenas nos preços dos imóveis, mas se propaga por toda a cadeia produtiva do setor. A ponto de ela hoje ter um peso maior na medição do Índice de Confiança da Construção, da FGV. "Nas sondagens, esse item é citado pelos empresários como um empecilho na melhoria dos negócios", diz a economista do Ibre. A maior reclamação do setor refere-se aos recorrentes atrasos nos cronogramas das obras, causados, algumas vezes, pela pressão das reivindicações e pelas consequentes greves. "Isso está diretamente ligado aos problemas com a mão de obra”, completa Ana Maria Castelo.

Na análise da especialista, não se pode culpar o setor da construção civil por não ter investido em qualificação da mão de obra quando a demanda era menor. "É difícil exigir investimento em qualificação, ou até mesmo em novos processos tecnológicos, num contexto em que não há crescimento. O cenário era outro e o impulso que a construção civil ganhou de 2008 para cá foi muito rápido. Agora, o que se percebe, é o esforço das empresas em investir para recuperar o terreno perdido. Mas isso não ocorre no ritmo necessário, pois para formar mão de obra exige tempo", avalia.

Diante desse dilema, e do cenário de aquecimento contínuo da construção civil, Ana Maria Castelo considera que os setores representativos da mão de obra no setor continuarão a exercer pressão por mais reajustes. "Na medida em que o setor estiver aquecido, exigindo mais trabalhadores, o mercado certamente sofrerá mais demandas salariais. Nos últimos quatro anos temos visto o salário subir acima da inflação, e a tendência é que isto se mantenha", destaca a economista, lembrando que trata-se de um cenário nacional. "Todas as regiões do país têm acusado aumento substancial nos salários dos trabalhadores da construção", conclui.

Entrevistada
Ana Maria Castel, economista-coordenadora de projetos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) vinculado à Fundação Getúlio Vargas
Currículo
- Graduada em economia,  ocupa o cargo de coordenadora de projetos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre)
- Especialista na área de construção civil, é responsável pelo INCC-M (Índice Nacional de Custo da Construção para o Mercado) e pela Sondagem da Construção, além de coeditora da revista Conjuntura da Construção
Contato: ana.castelo@fgv.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Rio+20 impulsiona a construção sustentável

Conferência das Nações Unidas será importante para setor romper definitivamente com paradigmas que o afastam da "economia verde"

Por: Altair Santos

A Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável que acontece de 13 a 22 de junho no Rio de Janeiro/RJ, promete quebrar paradigmas da construção civil. O setor estará em peso no evento, principalmente para participar do fórum específico sobre construção sustentável, que reunirá alguns dos principais debatedores internacionais. Entre eles, o presidente do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) e coordenador do SBCI (Iniciativa de Construção Sustentável do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - Pnuma) Marcelo Takaoka, e o especialista em urbanismo sustentável no Banco Mundial, Daniel Hoornweg.

Georgia Grace: Rio+20 vai estimular os processos industriais na construção civil.

Antecipando parte do que será discutido na conferência, a assessora técnica da CBIC, Geórgia Grace,  avalia que a Rio+20 será também uma grande oportunidade para a construção civil brasileira mostrar os avanços obtidos a partir do programa Minha Casa, Minha Vida e de consolidar práticas da economia verde, como a entrada definitiva dos processos industriais nos canteiros de obras. Confira a entrevista:

Quais conquistas alcançadas pela construção civil brasileira poderão ser mostradas na Rio+20?
Uma das conquistas é a formalidade. Antes do programa Minha Casa, Minha Vida, 94% das habitações de baixa renda eram feitas por autogestão, totalmente na informalidade, gerando desperdício de materiais e mais resíduos. A primeira fase do MCMV já demonstrou um salto nesse resultado, com um milhão de unidades contratadas dentro da formalidade. Muitas delas também estão sendo feitas com processos mais industrializados, que otimizam a utilização de recursos naturais na construção e minimizam a geração de resíduos. Outra conquista foi o aumento expressivo de certificações ambientais para as edificações. Iniciativa como a da Caixa Econômica Federal, que tem o Selo Casa Azul, é um exemplo. Há também a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e o selo Acqua (Alta Qualidade Ambiental), já bem propagadas no país.

Isso revela uma mobilização do setor voltada para construções mais sustentáveis?
Sim, há uma mobilização setorial e governamental em torno desse tema. O plano de ação de produção e construção sustentável do Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, lançado no ano passado, é composto por seis eixos principais e um deles é o de construção sustentável. Dentro desse plano, a CBIC tem como metas: difundir um guia de compra sustentável para as construtoras e, junto com o Senai, propor conteúdos programáticos dentro da formação de profissionais da construção, em torno da redução de desperdício e da captação para coleta seletiva nos canteiros. No que se refere à mobilização institucional, o Programa Construção Sustentável (PCS) da CBIC reuniu autores principais do debate nacional, como professores, empresários, representantes do Brasil no Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e parlamentares, que discutiram e fizeram propostas dentro dos temas clássicos da sustentabilidade: água, resíduos, materiais, energia, mudanças climáticas, desenvolvimento humano e desenvolvimento urbano.

Quais os desafios que, a partir da Rio+20, irão se impor à construção civil brasileira?
A indústria da construção impacta muito ambientalmente, por ser intensivo em utilização de recursos naturais e de mão de obra. A Rio+20 consolidará um modelo de construção sustentável, compatível com o conceito de economia verde, baseada no pilar social do desenvolvimento sustentável. Isso implica redução dos impactos ambientais, com a diminuição em emissão de gás carbônico. A conferência reforçará a necessidade de se ter um comprometimento maior para esse novo paradigma de desenvolvimento. Esses desafios já estão contemplados pelo setor da construção dentro das ações do Programa Construção Sustentável (PCS) da CBIC e de programas de certificação como os da Caixa Econômica Federal, que já contempla os principais conceitos da economia verde.

De toda a cadeia produtiva que envolve a construção civil brasileira, quais setores estão mais avançados na questão de sustentabilidade e meio ambiente?
Se pensarmos na cadeia produtiva, que inclui projetistas, indústrias de materiais de construção, construtoras e os consumidores, todos estão avançando igualmente na questão da sustentabilidade e do meio ambiente.  Os projetistas, por exemplo, estão cientes de que precisam projetar para uma sociedade cada vez mais exigente e consciente em termos de sustentabilidade. Diferentemente do que ocorria há 10 anos, hoje há vários cursos de pós-graduação e especialização para projetistas e engenheiros na área de sustentabilidade. A indústria de materiais também tem ofertado muitos sistemas, produtos e materiais com consumo menor de recursos naturais, seja em eficiência energética-térmica ou consumo racional de água. Alguns produtos que são apresentados nas feiras de sustentabilidade da construção internacional precisam ser tropicalizados para o Brasil, mas a indústria está em pleno desenvolvimento. No que se refere aos construtores, há toda uma mudança de modelo de negócios e de marketing voltado para as novas exigências dos clientes.

E quais setores precisam avançar mais?
Estamos falando de um novo paradigma. Passos importantes já foram dados, mas há muito o que avançar. Os segmentos têm que avançar juntos. Um demanda o outro em cascata. O ritmo disso quem vai dar é o consumidor, que está em contato direto com as construtoras, que é quem contrata os projetistas e compra os materiais. Quanto mais exigentes forem os consumidores, mais isso será passado para o início da cadeia.

A partir da Rio+20 existe a perspectiva de que finalmente a industrialização do canteiro de obras seja definitivamente abraçada pela construção civil?
Sim. Esse é um caminho que o setor vê como uma das principais soluções para conseguir a sustentabilidade em termos ambientais e para responder às demanda do mercado. Não dá mais para fazer inovação sem atender ao critério de sustentabilidade. Neste caso, a industrialização é um caminho para alcançar esses objetivos.

Outro ponto que deve despertar o interesse do setor é o saneamento básico. Nesse aspecto, a CBIC incentiva um programa de estímulo a esse setor, correto?
Corretíssimo. A CBIC tem um projeto importante na área de saneamento básico. O Sanear é Viver é um dos nossos projetos estratégicos. Ele já foi levado ao governo e está em discussão. Está baseado na inovação, em termos de gestão das concessionárias e inovação de plano de saneamento regional. Propõe a figura de parceria pública-privada nessas concessões, levando a expertise da iniciativa privada para a melhoria da gestão. É um projeto que está em plena discussão e que a CBIC defende como item prioritário da agenda política brasileira, a começar pelo poder executivo federal com desdobramento para os demais níveis.

A partir da Rio+20 foi estabelecida uma parceria entre a CBIC e o CEBDS (Conselho Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). Como ela irá funcionar?
O Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável tem um comitê para discussão de construção sustentável. Daí surgiu a grande oportunidade da CBIC apresentar a contribuição do setor junto ao CEBDS, dentro de todo o leque que ele trabalha em termos empresariais e industriais.

No âmbito do Programa Construção Sustentável o que já foi alcançado?
Como mencionado anteriormente, o que foi alcançado é o que temos de movimento em termos de certificação, de novos materiais, de capacitação de projetistas, de selo de um grande financiador como é a Caixa Econômica Federal e de programas consistentes. Há uma rede de inteligência institucional, seja ela da iniciativa privada ou do governo federal, voltada para resultados à sociedade em termos de construção sustentável.

Comparativamente com outros países, a construção civil brasileira encontra-se em que patamar em termos de alinhamento com a chamada "economia verde"?
No que se refere à economia verde, esse conceito lançado pelo Pnuma em 2010 ainda é muito novo. Já no que se refere à sustentabilidade, temos um caminho a percorrer, que muitos países já percorreram. A Inglaterra, por exemplo, iniciou esse processo há 20 anos, visando ser o país de maior destaque em sustentabilidade na construção. Eles contam com o Building Research Establishment (BRE) que ajuda os clientes a criar edifícios, comunidades e empresas melhores, mais seguros e sustentáveis por meio do uso de soluções inovadoras. Então, temos um benchmark maravilhoso para tomar como referência, que são os exemplos já praticados na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos. O Brasil ainda precisa avançar e é bom que tenhamos essas referências e que elas possam inspirar o nosso governo a também incentivar a experiência nacional.

Símbolo da Rio+20: conferência incentiva certificações ambientais para edificações.

Entrevistada
Georgia Grace Bernardes, assessora técnica da Câmara Brasileira da Indústria da Construção
Currículo
Graduada em engenharia civil pela Universidade Federal de Uberlândia.
Tem especialidade (MBA) em gestão ambiental e é consultora da CBIC desde janeiro de 2010.
Contato: assessoria.tecnica@cbic.org.br / www.cbic.org.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Falta de planejamento compromete legado da Copa

A dois anos de sediar o mundial de futebol, Brasil tenta recuperar tempo desperdiçado e ainda corre o risco de não concluir obras

Por: Altair Santos

Indicado pela Fifa desde 2007 para sediar a Copa do Mundo de 2014, o Brasil perdeu cinco anos para viabilizar as obras. A falta de planejamento criou gargalos que agora, há dois anos do evento, ameaçam comprometer boa parte dos projetos que deveriam beneficiar as 12 cidades-sede escolhidas para receber as partidas do mundial de futebol. "Os empreendimentos no país são sempre decididos às pressas, sem o necessário período de maturação, essencial para decidir entre alternativas, conceituar e em seguida projetar. O resultado disso é que não há como precisar se as construções ficarão prontas", revela o presidente do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), José Roberto Bernasconi.

José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco-SP: país perde a chance de promover renovação urbana nas 12 cidades-sede.

Segundo o Sinaenco, dos 57 projetos de mobilidade previstos para serem construídos nas capitais por onde a Copa vai passar, exatamente 50% estão com os cronogramas atrasados e ameaçados de não ficar prontos até o início do mundial, em 12 de junho de 2014. "Acreditamos que o Brasil terá 12 estádios prontos para a Copa. Alguns, provavelmente na véspera da abertura do campeonato mundial de futebol. Mas as demais obras de infraestrutura, que do ponto de vista da população são as mais importantes, já que constituem o legado de longo prazo ao país, ainda patinam em sua maior parte. Portanto, alguns dos legados prometidos para a população ficarão aquém do esperado, principalmente na área de mobilidade urbana e nos aeroportos", avalia José Roberto Bernasconi.

Em relação às obras pendentes, já há um conformismo até mesmo da Fifa. Em sua mais recente visita ao Brasil, no dia 30 de maio de 2012, o secretário-geral Jérôme Valcke admitiu: “Alguns projetos poderão ser entregues depois da Copa”. Para ele, o que o país precisa priorizar para viabilizar a Copa do Mundo são os estádios, os aeroportos e os acessos destes com os estádios. "O que precisamos são de facilidades para se deslocar do aeroporto para as cidades e das cidades para os estádios", concluiu. Para o presidente do Sinaenco, apesar de as obras dos estádios e dos aeroportos estarem dentro do cronograma, não haverá como o país não improvisar. "Provavelmente assistiremos a soluções paliativas para o trânsito, como decretar feriados em dias de jogos ou férias escolares", prevê.

Das construções que andam a contento, destacam-se os estádios. Os empreendimentos que irão sediar os jogos da Copa das Confederações, que começa em 15 de junho de 2012, estão dentro do cronograma. O Mineirão, em Belo Horizonte, está com 56% das obras concluídas. Em Brasília, o estádio Nacional atingiu 58% da execução. O mais adiantado é o Castelão, em Fortaleza, com 70,11% das construções já viabilizadas. Mais lento está o empreendimento de Pernambuco - a Arena Recife -, com 40% das obras concluídas. No Rio de Janeiro, o Maracanã chega a 56% e em Salvador, a Arena Fonte Nova tem execução de 50%. "Com exceção dos estádios, o país infelizmente não poderá explorar ao máximo os benefícios do megaevento”, finaliza José Roberto Bernasconi.
Confira a situação das 12 cidades-sede da Copa do Mundo 2014

Belo Horizonte
Estádio: Mineirão, com 56% das obras executadas.
Obra de mobilidade mais adiantada: BRT Cristiano Machado (corredor de ônibus com pista em concreto)
Obras de mobilidade mais atrasada: Corredor Pedro II/Carlos Luz (sistema de BRT que liga o centro de Belo Horizonte ao estádio Mineirão)

Brasília
Estádio: Nacional, com 58% das obras executadas.
Obra de mobilidade mais adiantada: ampliação do terminal de passageiros do aeroporto Juscelino Kubitschek.
Obra de mobilidade mais atrasada: VLT Aeroporto-Asa Sul.

Cuiabá
Estádio: Arena Pantanal, com 45% das obras executadas.
Obra de mobilidade mais adiantada: reforma e modernização do terminal de passageiros, adequação do sistema viário e estacionamento do aeroporto Marechal Rondon.
Obra de mobilidade mais atrasada: VLT Cuiabá-Várzea Grande.

Curitiba
Estádio: Arena da Baixada, com 35% das obras executadas.
Obra de mobilidade mais adiantada: corredor Marechal Floriano (uma das principais ligações entre o aeroporto Afonso Pena e o centro de Curitiba)
Obra de mobilidade mais atrasada: Boulevard Avenida Cândido de Abreu.

Fortaleza
Estádio: Castelão, com 70,11% das obras executadas.
Obra de mobilidade mais adiantada: BRT Avenida Dedé Brasil (corredor de ônibus com pista em concreto).
Obra de mobilidade mais atrasada: extensão da linha sul do metrô de Fortaleza.

Manaus
Estádio: Arena da Amazônia, com 39% das obras executadas.
Obra de mobilidade mais adiantada: reforma e ampliação do terminal de passageiros do aeroporto Brigadeiro Eduardo Gomes.
Obra de mobilidade mais atrasada: monotrilho Norte-Centro.

Natal
Estádio: Arena das Dunas, com 23,03% das obras executadas.
Obra de mobilidade mais adiantada: construção do terminal de passageiros do aeroporto São Gonçalo do Amarante.
Obra de mobilidade mais atrasada: construção do viaduto da Urbana.

Porto Alegre
Estádio: Beira-Rio, com 38% das obras executadas.
Obra de mobilidade mais adiantada: Corredor Avenida Beira-Rio-Padre Cacique (duplicação das avenidas).
Obra de mobilidade mais atrasada: BRT Avenida João Pessoa (corredor de ônibus).

Recife
Estádio: Arena Recife, com 40% das obras executadas.
Obra de mobilidade mais adiantada: BRT ramal Cidade da Copa (principal via de acesso ao município de São Lourenço da Mata, na Grande Recife, onde está em construção o estádio).
Obra de mobilidade mais atrasada: terminal Integrado Cosme e Damião (estação que interliga o metrô aos três BRTs que serão construídos na cidade).

Rio de Janeiro
Estádio: Maracanã, com 56% das obras executadas.
Obra de mobilidade mais adiantada: BRT Transcarioca (corredor de ônibus com 39 km de extensão, em pavimento de concreto, ligando o aeroporto do galeão com a Barra da Tijuca).
Obra de mobilidade mais atrasada: VLT na área central da cidade.

Salvador
Estádio: Arena Fonte Nova, com 50% das obras executadas.
Obra de mobilidade mais adiantada: reforma e adequação do terminal de passageiros do aeroporto Luís Eduardo Magalhães.
Obra de mobilidade mais atrasada: metrô de Salvador.

São Paulo
Estádio: Arena Corinthians, com 35% das obras executadas.
Obra de mobilidade mais adiantada: ampliação e revitalização do aeroporto de Guarulhos.
Obra de mobilidade mais atrasada: monotrilho para ligar o aeroporto de Congonhas ao bairro do Morumbi.

Entrevistado
José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva) de São Paulo/SP
Currículo

- Graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e advogado pela Faculdade de Direito pela Universidade Paulista de São Paulo
- Foi professor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, no Departamento de Estruturas e Fundações (1970 a 1975) das Disciplinas Construções de Concreto e, posteriormente, Pontes e Grandes Estruturas
Contato: sinaenco@sinaenco.com.br
Créditos foto: Divulgação/Sinaenco

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330