Megaeventos ajudam engenharia a recuperar tempo perdido

Para professor da USP, Fernando Rebouças Stucchi, Copa do Mundo e Olimpíadas incorporam inovações, principalmente para a industrialização em concreto

Por: Altair Santos

Os megaeventos programados para ocorrer no Brasil em 2014 (Copa do Mundo) e em 2016 (Jogos Olímpicos) servirão para dar novo impulso à engenharia brasileira, principalmente no incremento de novas tecnologias aos canteiros de obras e aos processos de industrialização do concreto. A opinião é do professor titular da Poli-USP (Universidade de São Paulo), Fernando Rebouças Stucchi, que no 6º Concrete Show South America, realizado de 29 a 31 de agosto de 2012, em São Paulo, participou do seminário da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto).

Fernando Rebouças Stucchi: "Ficamos 30 anos investindo pouco em tecnologia.”

Stucchi palestrou sobre o tema "Arena multiuso para a Copa 2014 no Brasil e a importância da industrialização em concreto para a engenharia estrutural". Para ele, a construção de novos estádios no país está permitindo que sejam abertas janelas para a inovação, retirando a engenharia brasileira de uma inércia de três décadas. "Há trinta anos, o Brasil detinha mais conceitos inovadores e estava mais próximo da engenharia praticada nos Estados Unidos e na Europa do que agora. A crise causada pela hiperinflação (anos 1980 e 1990) fez com que o país não investisse nada em construção e ocorresse um atraso", lamenta.

O professor da USP cita que as construtoras deixaram de adquirir equipamentos de ponta, causando déficit tecnológico na engenharia nacional. "Hoje faltam guindastes pesados, Shield para fazer túnel de metrô, hidrofresa para escavação de parede diafragma, enfim, vários equipamentos. Da mesma forma, o Brasil deixou de trabalhar com concretos mais evoluídos, como os de alta resistência e os que contêm fibras, que só agora começam a ser utilizados em obras nacionais. Então, diria que a Copa não vai fazer milagres, mas está permitindo abrir janelas para a engenharia brasileira", assegurou Fernando Rebouças Stucchi.

Seminário da ABCIC, no 6º Concrete Show South America: um dos mais concorridos.

A tecnologia do pré-moldado é a que tende a se beneficiar mais das obras para receber o mundial da Fifa, em 2014. Há inovações sendo agregadas às construções dos estádios que provavelmente irão se disseminar para outros tipos de empreendimentos. As arenas de Cuiabá, do Grêmio de Porto Alegre, de Recife, de Salvador e de São Paulo agregaram muitas inovações. Mas a que está na frente, segundo Stucchi, é a de São Paulo. "Há técnicas maravilhosas de acabamento. Uma delas é uma empena enorme no setor leste do estádio. O pessoal simplesmente deu uma lixada nas juntas e parece que está estucada. Além disso, a obra tem balanços pré-moldados de seis metros que foram fixados com parafuso e uma grande quantidade de peças pesadas que nunca foram usadas antes em obras como esta", afirma o especialista.

No entanto, ao mesmo tempo que serve de alavanca para a inovação, a Copa do Mundo também expõe a carência da área do pré-moldado em algumas regiões do país. "Em Recife, as peças estão sendo moldadas in loco. Por quê? A única fábrica capaz de atender projetos desta envergadura no Nordeste já estava comprometida com a arena Salvador e Recife, então, não usufruiu do pré-moldado. Isso mostra que o Brasil ainda não tem a quantidade de fábricas de pré-moldados que deveria ter", ressalta Fernando Rebouças Stucchi, destacando ainda que outro empecilho está na formação de profissionais. "Para formar bons engenheiros que saibam construir com pré-moldado é preciso, no mínimo, uns dez anos. Já para formar técnico de nível médio, talvez uns cinco anos. Precisamos recuperar esse terreno perdido", finaliza.

Entrevistado
Fernando Rebouças Stucchi, professor titular da Poli-USP e sócio-diretor da Egt Engenharia
Currículo

- Fernando Rebouças Stucchi é graduado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica pela Universidade de São Paulo (1975)
- Tem especialização em estruturas de concreto pela Centre de Hautes Etudes de La Construction (1979) e mestrado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (1982), além de doutorado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (1991)
- Atualmente é professor titular da Universidade de São Paulo, professor associado da Universidade de São Paulo, presidente de comissão da Associação Brasileira de Normas Técnicas
- Também é membro do Comitê Técnico CT-301 do Instituto Brasileiro do Concreto, Sócio do ACI e Membro Votante do Comitê 318 da American Concrete Institute e membro votante da Fédération Internationale du Béton
- Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em estruturas, atuando principalmente nos seguintes temas: estruturas de concreto, pontes, projeto de estruturas
- Ocupa ainda o cargo de sócio-diretor da Egt Engenharia Ltda
Contato:
egt@egtengenharia.com.br / fernando.stucchi@poli.usp.br
Créditos fotos: Divulgação/Cimento Itambé

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Máquinas para construção injetam R$ 3,6 bi no Brasil

Novas marcas anunciam investimentos e concorrência faz com que as já instaladas no país ampliem seus parques industriais

Por: Altair Santos

Até 2016, 13 fabricantes de equipamentos pesados para a construção civil estarão inaugurando unidades no Brasil. Boa parte deles são chineses, como Sany, Shantui, Zoomlion, XCMG, Liugong e Sinotruck, mas há também as sul-coreanas Hyundai e Doosan e as norte-americanas John Deere, LBX Excavator e Manitrowoc Cranes, além das europeias - a suíça Ammann e a francesa Bomag. Acrescente-se a esse número, as empresas que já operam no país e que, diante da concorrência, também estão expandindo suas fábricas, como são os casos da Caterpillar e da Volvo.

Só o PAC Equipamentos vai comprar R$ 1,28 bilhão de retroescavadeiras e motoniveladoras.

Somados, os investimentos dessas companhias em parques industriais chegam à impressionante marca de R$ 1,1 bilhão. Algumas já estão com suas unidades quase prontas e a expectativa é que comecem a operar ainda em 2012. Os planos delas, e das que ainda estão se instalando, é entrar no mercado da construção civil brasileira, principalmente vendendo equipamentos para as obras de infraestrutura e de habitação. A projeção é que o setor consuma R$ 2,5 bilhões em máquinas até 2016, o que, somado aos investimentos das empresas, dará uma injeção na ordem de R$ 3,6 bilhões na economia nacional.

As multinacionais que chegam ao Brasil produzem desde guindastes até tratores de esteiras, passando por retroescavadeiras, pás carregadeiras, rolos compactadores, bombas de concreto, caminhões betoneira, perfuratrizes, empilhadeiras e motoniveladoras, entre outros equipamentos. "A vinda dessas transnacionais vai representar a entrada de tecnologia de ponta para a construção civil brasileira", avalia o presidente da ALEC (Associação Brasileira de Locadoras de Bens Móveis) Marco Aurélio da Cunha.

Boa parte dessa tecnologia incorporada às máquinas será comprada pelo próprio governo federal, que recentemente lançou o PAC Equipamentos. Serão investidos R$ 1,28 bilhão para a compra de 3.591 retroescavadeiras, 1.330 motoniveladoras e 50 perfuratrizes que serão repassadas às prefeituras que se inscreverem no programa e cumprirem as obrigações de investir em obras de mobilidade e de habitação.

Marco Aurélio da Cunha, presidente da ALEC: máquinas com alta tecnologia vão exigir mão de obra mais qualificada.

Para o presidente da ALEC, trata-se de um grande impulso dado ao mercado de máquinas pesadas no país, mas cujo investimento pode esbarrar na escassez de mão de obra qualificada para operar esses equipamentos. "Ao mesmo tempo em que se investe em máquinas, é preciso investir em capacitação. A ALEC tem um programa junto aos fabricantes, para que esta mão de obra seja treinada, e no futuro pretendemos ter um centro de formação", diz Marco Aurélio da Cunha, avaliando que o novo momento no setor de máquinas para construção irá também aquecer o mercado de locação de equipamentos. "Durante uma obra, vários equipamentos são utilizados. Por isso, as construtoras preferem alugá-los. É o que nos faz crer que quem tiver uma frota bem equipada e moderna terá mais mercado", conclui.

Entrevistado
Marco Aurélio da Cunha, presidente da ALEC (Associação Brasileira de Locadoras de Bens Móveis)
Currículo
- Marco Aurélio da Cunha é graduado em administração de empresas e é empresário há 23 anos

Contato: imprensa@alec.org.br / www.alec.org.br
Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Inteligência de Mercado traduz o que o cliente quer

Na construção civil, departamento de IM monitora desde a escolha do terreno até a satisfação do comprador após um ano da aquisição do imóvel

Por: Altair Santos

Apesar de ainda ter um longo caminho a percorrer, a Inteligência de Mercado (IM) vem conseguindo seduzir a construção civil. Para incorporadoras e construtoras, a ferramenta serve como um tradutor dos anseios do consumidor. A metodologia permite que a companhia defina desde a escolha do terreno até as estratégias de lançamento e venda, passando pelo pós-atendimento. Na Cyrela Brazil Realty, por exemplo, a IM mede a satisfação dos clientes desde o momento da compra até 12 meses após a entrega da obra. O intuito é retroalimentar todas as áreas envolvidas, para corrigir rotas e melhorar projetos futuros.

Henrique Gasperoni, do Ibramerc: instituto desenvolve programas para difundir a Inteligência de Mercado no Brasil.

Segundo o diretor de marketing do Ibramerc (Instituto Brasileiro de Inteligência de Mercado) Henrique Gasperoni, no recente Fórum Nacional de Inteligência de Mercado, ocorrido em junho de 2012, a construção civil foi um dos setores que mais participou dos seminários. "Houve até uma sala setorial exclusiva para os profissionais da área", comenta Gasperoni, lembrando que no fórum foi difundido amplamente o ciclo de inteligência, que consiste em identificar oportunidades, coletar informações estratégicas, efetuar a análise da situação, propor melhorias e monitorar a implementação. "Se as empresas do setor fizerem uso deste ciclo, muitas oportunidades serão encontradas e desenvolvidas na construção civil", avalia.

No Brasil, os processos de Inteligência de Mercado ainda buscam a maturidade existente em países como Estados Unidos e Alemanha, e até mesmo China e Índia, que entre os integrantes dos BRICS são os mais familiarizados com a IM. "Muitas empresas brasileiras já percebem a vantagem em utilizar os conceitos de Inteligência de Mercado, entretanto ainda temos um longo caminho a percorrer. Por isso, o Ibramerc está desenvolvendo uma série de programas educacionais com o objetivo de difundir o IM no país", explica Henrique Gasperoni, citando que os setores da indústria nacional que primeiro despertaram para esse modelo de gestão foram o farmacêutico, o automobilístico e o de bens de consumo.

O Ibramerc orienta que empresas interessadas em implantar a estratégia de Inteligência de Mercado devem, primeiro, oferecer capacitação e independência para os executivos obterem dados e proporem estratégias de melhorias no setor onde a área de IM irá atuar. Engenheiros, de acordo com Henrique Gasperoni, têm perfil para desenvolver processos dentro das companhias. "Eles possuem visão estratégica e estão entre os que mais buscam capacitação no Ibramerc", afirma. Por ano, o instituto forma cerca de 500 profissionais habilitados a atuar em Inteligência de Mercado. "Mesmo assim, as empresas estão com dificuldades para contratar", completa Gasperoni.

No caso da construção civil, a aplicação da Inteligência de Mercado se dá em forma de pesquisas, análise de desempenho, acompanhamento do mercado, estudo de cases e tendências. "É fundamental conhecer todo o processo. Desta forma, o ganho pode ser ainda maior", completa o diretor de marketing do Ibramerc.

Entrevistado
Henrique Gasperoni, diretor de marketing do Ibramerc (Instituto Brasileiro de Inteligência de Mercado)
Currículo
- Henrique Gasperoni é graduado em análise de sistemas pela Universidade Ibirapuera (2002)
- Constituiu a Federação Brasileira de Desenvolvimento Corporativo (Febracorp) junto a outros diretores e profissionais da área, em 2002
- Atualmente, assume a função de diretor de Projetos e Operações de todos os institutos fundados pela federação
- Profissional envolvido constantemente com projetos ligados a área de supply chain, ebusiness, inteligência de mercado, fiscal e tributário

Contato: henrique.gasperoni@ibramerc.org.br
/ www.ibramerc.org.br
Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Em nova consulta pública, NBR 15575 busca consenso

Norma de desempenho para edificações residenciais, prevista para vigorar a partir de 13 de março de 2013, enfrenta mais uma rodada de debates

Por: Altair Santos

A norma de desempenho NBR 15575, para edificações residenciais até cinco pavimentos, foi publicada em 2008 e deveria ter entrado em vigor em 2010. No entanto, sem que houvesse consenso entre os agentes da construção civil, foi adiada para março de 2012 e, mais uma vez, prorrogada para 13 de março de 2013. No momento, a norma encontra-se em consulta pública até o dia 13 de setembro, mas há a expectativa de que seja exposta a pelo menos mais uma consulta - provavelmente em dezembro de 2012.

Com a NBR 15575, empresas e consumidores terão regras claras para construir e verificar qualidade da obra.

Segundo o assessor técnico do SindusCon-PR (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná) Ivanor Fantin Júnior, a NBR 15575 é considerada uma das mais relevantes da história recente da construção civil brasileira. "É talvez a mais importante em 30 anos para a construção civil. Hoje, a questão do desempenho é o que baliza o mercado. O cliente está muito mais exigente e o setor tem que procurar, dentro de parâmetros, fazer o mínimo que exige a norma. Só que não podemos ter uma norma que venha a travar o setor", avalia.

Para o engenheiro civil, que foi contratado pelo SindusCon-PR para prestar orientações de ordem técnica e acompanhar as revisões de normas que interfiram direta ou indiretamente nas atividades do setor, a mais recente revisão da NBR 15575 já começa a formar consenso entre os agentes da construção civil. "A princípio, a revisão seria apenas de alguns itens mais polêmicos, mas no final foram revisados desde a parte conceitual até a parte de ensaios. Todos os textos foram revistos ponto a ponto e acho que o consenso já foi formado", disse.

A NBR 15575 estabelece requisitos mínimos de desempenho, de vida útil e de garantia para os sistemas que compõem os edifícios. Entre eles, estrutura, pisos internos, fachadas e paredes internas, coberturas e sistemas hidrossanitários. Ela aborda critérios que passaram a ser cada vez mais valorizados pelos consumidores, que são, basicamente, os desempenhos acústico, térmico e lumínico das edificações. Por isso, seis textos da norma foram a consulta pública até 13 de setembro. São eles: requisitos gerais (NBR 15575-1); sistemas estruturais (NBR 15575-2); sistemas de pisos (NBR 15575-3); sistemas de vedações verticais internas e externas (NBR 15575-4); sistemas de coberturas (NBR 15575-5) e sistemas hidrossanitários (NBR 15575-6).

Para Ivanor Fantin Júnior, os textos em revisão levam alguns personagens da cadeia produtiva da construção civil a ter um certo receio. Porém, ele avalia que as plenárias tendem a criar uma norma-mãe que balizará e dará tranquilidade para o setor poder trabalhar. "A partir dela, se o cliente quiser algo superior vai ter de pagar um custo a mais por isso. Mas o importante é que quando a NBR 15575 estiver plenamente em vigor ela terá regras claras para a construção, tanto para as empresas quanto para os consumidores", completa.

Região Sul

No Brasil, as empresas que atuam nos estados da região sul são consideradas as que já adotam processos construtivos muito próximos dos preceitos da NBR 15575.  Segundo o SindusCon-PR, por exemplo, 95% das construtoras que operam no setor habitacional paranaense já atendem a norma. A expectativa é que haja um tempo maior de adaptação para as empresas que utilizam sistemas industriais, como os pré-fabricados.  "Os fabricantes vão ter de testar os seus produtos para dizer qual é o desempenho e qual é a vida útil e dar uma certificação dizendo que o produto tem tanto tempo de prazo de validade, desde que seja feita a manutenção devida", explica o assessor técnico do SindusCon-PR.

Para acessar os textos em consulta pública da norma NBR 15575: clique aqui

Entrevistado
Ivanor Fantin Júnior, engenheiro civil e assessor técnico do SindusCon-PR (Sindicato da indústria da Construção Civil do Paraná)
Currículo

- Ivanor Fantin Júnior é graduado em engenharia civil pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR)
- Atualmente atua como assessor técnico do SindusCon-PR, acompanhando as revisão das normas NBR-15575 (edifícios habitacionais de até cinco pavimentos) NBR-14037 (manual de Uso, operação e manutenção) e NBR-5674 (manutenção de edificações).
Contato:
engenharia@sindusconpr.com.br
Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Indústria de blocos de concreto mantém otimismo

Segundo dados da BlocoBrasil, investimentos em gestão e qualidade fizeram setor de artefatos de cimento crescer exponencialmente em cinco anos

Por: Altair Santos

Metade dos fabricantes de blocos de concreto avalia que neste segundo semestre de 2012 há espaço para crescer entre 10% e 20% a mais do que foi registrado nos primeiros seis meses do ano. Já os outros 50% acreditam que o volume de negócios no máximo se manterá igual ao do primeiro semestre nesta reta final do ano. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Blocos de Concreto (BlocoBrasil), Marcelo Kaiuca, os otimistas são os que, desde 2007, vêm fazendo a lição de casa e investindo em gestão e controle de qualidade. "Para se ter ideia, em cinco anos o número de associados da BlocoBrasil cresceu cerca de 200%. São fabricantes que, a partir dos requisitos para obter o selo de qualidade da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) atingiram um nível de maturidade empresarial que nunca existiu no setor", afirmou.

Marcelo Kaiuca, presidente da BlocoBrasil: selo de qualidade da ABCP ajuda a gerar otimismo no setor.

Em função do aprimoramento da gestão, as companhias otimistas, ressalta Marcelo Kaiuca, agregaram os seguintes requisitos aos seus negócios: fornecimento para obras em diversos setores, atuação em regiões com concorrência menos acirrada, maior produtividade com menor preço, agressividade nas vendas e tradição no mercado. "Um fator importante é a região em que a empresa atua. Atualmente, as regiões sudeste e sul são as que possuem o maior número de empresas, enquanto as regiões nordeste, norte e centro-oeste exibem taxas de crescimento acima da média nacional e contam, relativamente, com poucos fabricantes de blocos de concreto, comparado ao potencial de demanda dessas regiões. Assim, quem foi buscar contratos nessas áreas vê perspectivas melhores de crescimento", avalia.

O recente lançamento do PAC da Mobilidade para médias cidades, com investimento de R$ 7 bilhões, e que irá atender 75 municípios com população entre 250 mil e 700 mil habitantes, também estimula as projeções positivas do setor. "Medidas e programas governamentais representam grande oportunidade para as empresas que fabricam pisos intertravados de concreto e aquelas que souberem aproveitar melhor essa chance terão grande probabilidade de expandir seus negócios", diz o presidente da BlocoBrasil, enumerando que, além do pavimento intertravado, há boas oportunidades para o setor em obras de infraestrutura - especialmente na área de logística (expansão de terminais de portos, aeroportos e centros de distribuição) - e nas áreas habitacionais.

Neste caso, ele destaca a expansão da alvenaria estrutural, que tem como matéria-prima os blocos de concreto. "Hoje, a alvenaria estrutural com blocos de concreto tem ganhado a adesão de inúmeras construtoras e incorporadoras, que vêm percebendo as vantagens do sistema para obter ganhos técnico-econômicos. Há também o fato de que, cada vez mais, arquitetos e projetistas estruturais aumentam seus conhecimentos a respeito desse sistema construtivo e das possibilidades - de design, de projeto e de produtividade - que ele oferece, concorrendo para sua utilização em edificações para todas as faixas de renda, desde as destinadas aos mercados populares até os de alto padrão. Atualmente, os escritórios de arquitetura mais renomados do Brasil já utilizam a alvenaria estrutural com blocos de concreto em projetos de alto padrão, em diversos estados do país", resume.

Entrevistado
Marcelo Kaiuca, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Blocos de Concreto (BlocoBrasil)

Currículo
- Empresário do setor e sócio da Multibloco Indústria e Comércio de Artefatos de Concreto, no Rio de Janeiro
- Preside a BlocoBrasil, na gestão 2011-2013
Contato: blocobrasil@blocobrasil.com.br
Créditos foto: Divulgação / BlocoBrasil

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Setor imobiliário do Brasil tem novo status internacional

Em oito anos, país sai da condição de pouco transparente para a de transparente, segundo pesquisa que mede o mercado global
Por: Altair Santos

Entre 97 mercados imobiliários de todo o mundo, o brasileiro foi o que teve o salto mais relevante na edição 2012 do Global Real Estate Transparency Index (Índice de Transparência do Mercado Imobiliário Global). Num ranking que contempla cinco faixas, o país saiu  da condição de semitransparente para a de transparente, igualando-se a nações como Hungria e Portugal e destacando-se na América Latina, ao lado do México.

Márcia Castro, da Jones Lang LaSalle: para atingir o nível de altamente transparente, Brasil precisa criar um Código de Obras padrão.

O índice, desenvolvido desde 1999 pela Jones Lang LaSalle - consultoria de investimentos e serviços imobiliários dos Estados Unidos -, é divulgado de dois em dois anos e classifica os mercados entre altamente transparente, transparente, semitransparente, pouco transparente e opaco. Até 2004, o Brasil figurava na categoria dos mercados pouco transparentes. A partir de 2006, galgou à condição de semitransparente, onde permaneceu até a recente edição do ranking.

Segundo Márcia Castro, diretora do departamento de vendas e investimentos da Jones Lang LaSalle no Brasil, o desempenho dos mercados imobiliários das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro foram propulsores para que houvesse esse avanço do país. "As duas cidades tornaram-se os primeiros mercados latino-americanos a figurar na categoria transparente, por sua crescente importância como destinos de investimento e ambientes de negócios", destaca.

O índice aponta ainda que o aumento crescente da atenção e do interesse dos investidores sobre o Brasil certamente contribuirá para que o país continue avançando em relação à transparência no mercado imobiliário. “Este significante progresso coincide com a entrada de um enorme volume de capital nos últimos anos, desde a crise financeira global, e também com os níveis recordes de investimentos no mercado imobiliário comercial do país", avalia Márcia Castro.

Ainda de acordo com a diretora da Jones Lang LaSalle, o Brasil registrou melhorias em todas as cinco subcategorias do índice de transparência: a) medição do desempenho; b) dados do mercado; c) governança das empresas e fundos de capital aberto; d) ambiente jurídico e regulatório; e) processos de transação. No entanto, o país ainda precisa atingir outras metas para se equiparar aos mercados imobiliários de Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Holanda, Nova Zelândia, Canadá, França, Finlândia, Suécia e Suíça, considerados altamente transparentes.

Essas metas, segundo o que determina o Índice de Transparência do Mercado Imobiliário Global, são:
- A padronização de um código de obras e legislação em todo o país.
- Registros de imóveis com informações precisas e completas, como já ocorre nos mercados de São Paulo, Rio de Janeiro e na região sul do Brasil.
- Avaliação de ativos com maior frequência, como é nos mercados mais transparentes, ou seja, trimestral e semestralmente.
- Mais informações sobre investimentos e dívidas imobiliárias, que são abundantes para empresas públicas, mas muito pouco transparentes para as empresas privadas.
- Informações de transações abertas ao mercado.
- Mais indicadores sobre a performance do mercado.

A edição 2012 do Índice de Transparência do Mercado Imobiliário Global também abrangeu a sustentabilidade ambiental nas decisões imobiliárias. Diversos elementos que tornam mais transparentes os aspectos sustentáveis foram levados em consideração. Entre eles:
- Requisitos de eficiência energética para novas construções e renovações.
- Sistemas de benchmarking de desempenho energético.
- Relatórios de emissão de CO₂.
- Sistemas de classificação de edifícios verdes.
- “Cláusulas verdes” em contratos de locação.
- Índice de desempenho financeiro de imóveis verdes.

Para Márcia Castro, todos os parâmetros envolvidos no índice constituem uma ferramenta de gerenciamento de risco ao oferecerem informações comparativas de múltiplas regiões e localidades, facilitando a elaboração de estratégias de investimento e sinalizando os diferentes ambientes operacionais imobiliários de todo o mundo. "De maneira geral, os investidores estrangeiros buscam países de economias estáveis e regras transparentes de mercado, principalmente no que diz respeito a processos públicos, para instalarem ou ampliarem suas operações. Por isso, a existência de um índice mensurador, como o da Jones Lang LaSalle, é um importante instrumento de entendimento do mercado local, juntamente com a estratégia traçada pelo investidor", finaliza.

Confira a íntegra do Índice de Transparência do Mercado Imobiliário Global: clique aqui

Entrevistada
Marcia Castro, diretora do departamento de vendas e investimentos da Jones Lang LaSalle no Brasil
Currículo

- Márcia Castro atua no gerenciamento de venda de portfólio e de imóveis industriais e comerciais, e no desenvolvimento de trabalhos de consultoria para a compra e venda de ativos
- Advogada, possui mais de 10 anos de experiência no mercado imobiliário, incluindo incorporações, análises imobiliárias para diversos tipos de imóveis, como industriais, comerciais, residenciais e terrenos para incorporação
- Também esteve envolvida em trabalhos que variam de imóveis singulares a grandes carteiras de imóveis para clientes como Autonomy, Mitsui, Philips, Sonae, Citibank, Eletropaulo, entre outros
Contato:  www.twitter.com/jllbrasil  / http://www.joneslanglasalle.com.br/

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Novo trecho do Rodoanel usa tecnologia sustentável

Cantitraveller, equipamento que crava estacas de forma aérea, é utilizado para construir ponte de 8,8 quilômetros sem danificar as várzeas dos rios Tietê e Guaió

Por: Altair Santos

Pela primeira vez no Brasil, o cantitraveller - equipamento normalmente utilizado para cravar estacas em áreas marítimas, para a construção de portos - está em uso para reduzir o impacto ambiental de uma obra rodoviária sobre várzeas de rios. No trecho leste do rodoanel de São Paulo, o maquinário ajuda a construir um elevado com 8,8 quilômetros de extensão.  Também chamado de encontro leve estruturado, o empreendimento irá se juntar a um outro trecho de 3,2 quilômetros de viaduto - este sobre terreno seco - para formar a segunda maior ponte do país, inferior apenas à Rio-Niterói, que mede 13.290 metros.

José Alberto Bethonico, diretor de engenharia do consórcio SPMAR: Encontro Leve Estruturado usará 183 mil m³ de concreto.

Com o cantitraveller, que tem a tecnologia de se deslocar sobre as próprias estacas que ele crava, será evitado o deslocamento de 4,5 milhões de m³ de terra das várzeas dos rios Tietê e Guaió. A operação também eliminará processos como dragagem, escavações ou aterros para a execução dos blocos de fundação. Além da preservação ambiental, o equipamento também dará velocidade à obra. O cronograma prevê que os 8,8 quilômetros de viaduto estejam concluídos no prazo de 22 meses. A cargo do consórcio SPMar, a obra está orçada em R$ 380 milhões, enquanto em todo o trecho leste do rodoanel serão investidos R$ 2,8 bilhões.

O material pré-moldado que o cantitraveller usa para a construção do viaduto é fabricado no canteiro de obras instalado em Suzano. Para 8.640 vigas e 2.880 estacas, serão utilizadas 22 mil toneladas de aço e 183 mil m³ de concreto. "O sistema cantitraveller não determina o consumo de concreto. O projeto executivo é que define se a utilização de materiais será maior ou menor. No caso específico do trecho leste do rodoanel, a economia de concreto será gerada pela padronização da solução e pelas dimensões adotadas, com vãos de 12 metros de extensão", explica José Alberto Bethonico, diretor de engenharia do consórcio SPMar, formado pelas empresas Contern Construções e Comércio Ltda e Cibe Investimentos e Participações S.A.

As obras do trecho leste do rodoanel começaram em 17 de agosto de 2011. Com 43,8 quilômetros de extensão, a construção se divide em quatro frentes de trabalho:

Trevo do km 86
Ligará o trecho sul do rodoanel ao trecho leste e à avenida Papa João XXIII, em Ribeirão Pires. A construção do viaduto já está pronta. Neste momento, a concessionária trabalha nos aterros e lajes de aproximação, na drenagem de bueiros, canaletas e galerias e no muro de contenção do km 87.

Túnel Santa Luzia
Obra ligará Ribeirão Pires e Mauá e já foram escavados cerca de 600 m nos dois emboques do túnel, cerca de 50% do programado. A previsão de término é para outubro de 2013. Toda a brita retirada nesta obra será reutilizada na construção dos pavimentos asfálticos e de concreto.

Encontro Leve Estruturado
É trecho que usa o cantitraveller, entre Suzano e Itaquaquecetuba, passando por Poá. Já foram produzidas as primeiras 567 estacas. Destas, 388 já foram cravadas nas duas seções que servirão como base para a construção do restante do viaduto.

Canteiro de obras
A fábrica de vigas em Suzano produziu até o momento 567 estacas, 62 vigas travessas e 387 vigas longarinas para o encontro leve estruturado. A previsão é que a produção das vigas esteja finalizada em novembro de 2013, para que seja concluída a obra até dezembro do mesmo ano.

Veja como funciona o cantitraveller:

Entrevistado
José Alberto Bethonico, diretor de engenharia do consórcio SPMar e ARTESP (Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo)
Currículo
- José Alberto Bethonico é diretor de engenharia da SPMar e diretor operacional da Contern Construções e Comércio Ltda
- Tem formação acadêmica em engenharia civil na na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal de Minas Gerais e Centro Universitário Newton Paiva
Contato:  jose.bethonico@spmar.com.br / www.artesp.sp.gov.br

Créditos foto: José Luís da Conceição/Divulgação

Jornalista responsável:Altair Santos - MTB 2330

Museu Oscar Niemeyer desafiou engenharia paranaense

Obra foi eleita uma das 20 mais bonitas do mundo e contou com a participação da construtora CESBE e do concreto da Concrebras

Eleito um dos 20 museus mais bonitos do mundo - sob o ponto de vista arquitetônico -, o Oscar Niemeyer, em Curitiba, também conhecido como "Museu do Olho", foi uma das construções mais desafiadoras para a engenharia paranaense. Inaugurado em 22 de novembro de 2002, e prestes a completar 10 anos, a obra esteve sob a responsabilidade da construtora CESBE S.A e consumiu 5.226 m³ de concreto fornecido pela Concrebras. "A construção do museu apresentou dois grandes desafios: o técnico, por se tratar de um projeto assinado por Oscar Niemeyer, e o de prazo de construção, que ficou limitado a seis meses, quando o normal seria de doze a quinze meses", recorda o engenheiro civil que gerenciou a obra, Marco Antônio Stavis.

Museu do Olho: construído em seis meses, consumiu 5.226 m³ de concreto.

Segundo Stavis, o Museu Oscar Niemeyer (MON) apresenta tudo o que há de mais sofisticado em arquitetura e construção civil. "Por isso, nos cercamos de técnicos e fornecedores tradicionais da CESBE, que nos emprestaram sua experiência e qualidade", define. Todo o processo da obra foi auditado pelo experiente engenheiro civil e ex-professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Odenir Müller - conhecido consultor de estruturas protendidas. "Além disso, os demais engenheiros envolvidos tinham grande experiência e se engajaram totalmente no projeto. O resultado final teve fundamental contribuição dos profissionais José Carlos de Castro, Roniel Somavilla e Antônio Hilário de Sá Freire, também da CESBE", completa Marco Antônio Stavis.

As estruturas do MON foram moldadas “in loco”, com exceção das pré-lajes do teto, que vieram pré-fabricadas para funcionar como fôrmas inferiores. Foram utilizados concretos de várias classes de resistência, variando entre 25,0 a 40,0 MPa. Como o projeto especificava a relação água/cimento máxima de 0,50, optou-se pela utilização do cimento tipo CP IV-32 (Cimento Portland pozolânico) de baixo calor de hidratação, associado aos aditivos polifuncional e superfluidificante de terceira geração. "O controle tecnológico do concreto apresentou resultados excelentes de corpos de prova, que atingiram a marca de 50,9 MPa. Os resultados obtidos comprovaram a excelente qualidade dos materiais utilizados, principalmente do cimento Itambé CP V-ARI RS, que resultaram numa estrutura que terá uma vida útil superior a 300 anos", avalia o engenheiro responsável pela obra.

Viabilizar projetos de Oscar Niemeyer já faz parte da tradição da CESBE S.A. Na década de 1960, a construtora foi responsável pela obra do prédio das Secretarias de Estado do Paraná (edifício Castello Branco) - também desenhado pelo famoso arquiteto de 104 anos. Na época, a construção obteve o recorde de vão em concreto protendido. Quanto ao "Museu do Olho", Marco Antônio Stavis relata que, no período da construção, a obra foi visitada intensamente por profissionais de engenharia e de arquitetura, assim como estudantes. "Foi necessário estabelecermos um sistema de visitas guiadas, aos sábados, tal a quantidade de pessoas que queriam ver a construção", recorda o engenheiro, que em 2002 foi premiado com o troféu Paraná de Engenharia do IEP (Instituto de Engenharia do Paraná) na modalidade construção, pela sua atuação no MON.

Confira mais detalhes técnicos da construção do MON: clique aqui

Entrevistado
Marco Antonio Stavis, engenheiro civil da CESBE S.A que gerenciou a obra do Museu Oscar Niemeyer
Currículo

- Marco Antonio Stavis é engenheiro civil graduado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) 1975
- Tem 41 anos de profissão (computados 5 anos de estágio ) atuando como orçamentista, engenheiro de campo, engenheiro residente de obras, coordenador de obras, gerente de contratos e diretor
- Atuou em construções como a usina hidrelétrica de Foz do Areia, diversas obras de saneamento e industriais e obras civis, como a Rua da Cidadania do Carmo, Memorial de Curitiba e Museu Oscar Niemeyer
Contato: stavis@cesbe.com.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Londres 2012 não subiu ao pódio da sustentabilidade

Arquiteto da Unesp analisa equívocos cometidos pelos ingleses na promoção dos jogos olímpicos e aponta cuidados que o Rio deve tomar para 2016

Por: Altair Santos

Sob o ponto de vista arquitetônico, os jogos olímpicos de Londres não subiram ao pódio. Ficaram, no máximo, em quinto lugar, segundo avalia o arquiteto e urbanista Paulo Roberto Masseran, professor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp, campus de Bauru-SP). Para ele, algumas obras construídas para o evento, e que se propunham ser multifuncionais - por isso sustentáveis após o fim das Olimpíadas - não conseguirão ser reaproveitadas. "Não previu-se o alto custo de desmonte de megaestruturas, como o estádio olímpico. Aqui desabou o discurso da sustentabilidade, pois uma edificação sustentável é uma estrutura que deve ter seu uso potencializado ao máximo", analisa.

Estádio Olímpico de Londres: construção só pensou nas modalidades de atletismo e não em outros esportes.

Ao ser projetado para receber 80 mil espectadores, o estádio olímpico de Londres foi construído para ter dois anéis - o inferior com 25 mil lugares e o superior com 55 mil, que seria desmontado após o evento. O problema, cita Paulo Roberto Masseran, é que por ter sido concebido exclusivamente para provas de atletismo, e tendo o menor diâmetro bastante alargado em relação à pista de corrida, a fim de ampliar sua capacidade e o campo de visão dos espectadores, o anel superior praticamente inviabilizou-se para ser utilizado em outras estruturas, como uma arena de futebol. "A distância entre as arquibancadas e o gramado se tornou excessiva. O grande porte da construção do anel superior implicou em peças metálicas e de concreto demasiadamente grandes para o seu desmonte ou reaproveitamento", explica.

O professor da Unesp cita que o melhor exemplo de estádio sustentável no mundo está em Paris. Trata-se do Stade de France, construído para a Copa do Mundo de 1998. "Com um sistema de arquibancadas retráteis, ele é plenamente utilizado para eventos esportivos e culturais, desde competições de atletismo, futebol e rúgbi, como para provas de motocross e shows. Na arquitetura de megaedifícios, o sustentável é a sua utilização polivalente, e não seu desmonte. Assim, é possível afirmar que houve um erro conceitual na elaboração do projeto do parque olímpico de Londres. O mesmo problema acontece nas grandes arquibancadas construídas no conjunto aquático, da arquiteta Zaha Hadid, e na arena de basquetebol, todas em estrutura metálica e concreto pré-moldado. Desmontá-las sairá mais caro que montá-las", afirma.

Rio 2016

Projeção do parque olímpico do Rio de Janeiro: desafio é fazer com que obras sejam assessoradas por um bom planejamento urbano.

Transportando sua análise para o Rio de Janeiro, Paulo Roberto Masseran avalia que o projeto olímpico para 2016 comete dois equívocos: o Maracanã e o estádio olímpico. "O Maracanã estará apto somente para abrigar jogos de futebol, além das cerimônias de abertura e encerramento. Essa característica pode trazer complicações simbólicas ao evento, pois a modalidade principal dos jogos olímpicos, que é o atletismo, ocorrerá no estádio olímpico, que foi construído para os jogos Pan-americanos de 2007 e é um edifício mal projetado e mal construído, o qual necessitará de uma grande reforma para sediar, satisfatoriamente, a modalidade-símbolo das olimpíadas. Infelizmente, a arquitetura das praças olímpicas cariocas, como tem se mostrado até o momento, são de uma pobreza evidente, e não acrescentam nada para a arquitetura e a engenharia no Brasil", critica.

Estádios à parte, o parque olímpico do Rio de Janeiro está entregue ao mesmo escritório de arquitetura que projetou Londres 2012: o Aecom. Outra gigante inglesa do setor, a Arup, está encarregada de construir o complexo de 34 torres que vai compor a vila olímpica. A ideia é que, após os jogos, os edifícios - todos com certificação "verde" - abram espaço para um novo bairro na zona oeste da capital fluminense.  No entanto, Masseran destaca que o sucesso do projeto olímpico do Rio vai depender menos de grifes arquitetônicas e mais do planejamento urbano da cidade para receber os jogos. "Transportes de massa e projetos que permitam a fluidez do tráfego de veículos serão requisitos primordiais para o projeto olímpico do Rio", completa.

Entrevistado
Paulo Roberto Masseran, professor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp
Currículo

- Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp, com pós-doutorado pela Universidade de Coimbra
- Também é mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo
- Tem doutorado em história pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis (FCLAs-UNESP)
- Atualmente é professor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Unesp e membro-fundador do Centro Internacional para a Conservação do Patrimônio, CICOP-Brasil
- Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Planejamento e Projetos da Edificação, atuando principalmente nos seguintes temas: planejamento urbano, projeto de arquitetura e urbanismo, história da arquitetura e do urbanismo, cenografia e teatro
Contato: masseran@faac.unesp.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Setor de pré-fabricados solidifica crescimento

Dados da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC) mostram que, desde 2007, empresas têm obtido desempenho médio anual de 15%

Por: Altair Santos

Sistemas construtivos que utilizam pré-fabricados de concreto para a execução de estruturas encontraram um ambiente de crescimento sustentável no Brasil. Desde 2007, segundo dados da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto) o setor tem se expandido, em média, 15% ao ano - índice que tende a se confirmar em 2012. "Hoje, não somente as obras industriais, os centros de distribuição e logística e os shopping centers usam os pré-fabricados. O sistema se expandiu para construções habitacionais, estádios de futebol, edifícios escolares, pontes e viadutos. Todos buscam vivenciar os principais benefícios da industrialização, que são prazo e qualidade", avalia a presidente-executiva da ABCIC, Iria Lícia Oliva Doniak.

Iria Lícia Oliva Doniak, da ABCIC: no Brasil, 50 empresas produzem 80% dos pré-fabricados.

A expectativa é que nos próximos dois anos o volume de empresas que produzem e montam estruturas pré-fabricadas cresça no país. Hoje, de acordo com dados da ABCIC, 50 companhias são responsáveis por 80% das peças negociadas no Brasil. "São números que referem-se aos nossos associados, não incluindo aí empresas que produzem elementos pré-fabricados como postes, lajes treliçadas e vigotas", destaca Iria Doniak, que lembra que as primeiras indústrias voltadas à pré-fabricação se instalaram no país nos anos 1950. "Temos muitas empresas tradicionais e também um bom número de profissionais com vasto conhecimento. Diria que o Brasil tem um parque fabril compatível com as tecnologias aplicadas na indústria internacional, que engloba normas técnicas, qualificação profissional, certificação das plantas produtoras e visão empresarial."

Apesar dos avanços, o setor avalia que ainda há desafios a serem superados. Entre eles, a busca de uma igualdade na carga tributária com os sistemas convencionais. "Pelo fato de as estruturas serem produzidas industrialmente, temos incidência de ICMS sobre nossos produtos, fato que não ocorre nos países europeus e nos Estados Unidos. Um outro desafio é cultural. Afinal, muitos organismos de governo, em todas as esferas, têm dificuldades em formatar processos de licitação que considerem a construção industrializada. A referência deles, historicamente, está embasada há anos em sistemas convencionais", ressalta a presidente-executiva da ABCIC.

Prédio em 23 dias

No entanto, de acordo com o anuário 2011 da ABCIC, o setor de pré-fabricados tem espaço para crescer, literalmente, para "cima".  Os edifícios com mais de cinco andares tendem a ser o novo nicho deste tipo de sistema construtivo. "No mundo todo há prédios adotando construções híbridas, combinando a construção convencional com pré-fabricados. Na Espanha e na Bélgica já existem edifícios com 250 metros de altura. Entendemos que na medida em que a mão de obra fica mais escassa, e os canteiros de obras mais mecanizados, novas oportunidades despontam a favor da industrialização", afirma Iria Doniak.

A dirigente da ABCIC analisa ainda que o Brasil tem uma regulamentação que já permite a entrada de pré-fabricados na construção de edifícios. "Temos o Sistema Nacional de Avaliações Técnicas (SINAT), a ITA (Instituição Técnica de Avaliação) e o DATEC (Documento de Avaliação Técnica) que passaram a referendar o setor. Tanto é que a Precon Engenharia, de Belo Horizonte, já possui um sistema de construção homologado e que foi o primeiro a receber o Selo Casa Azul de Construção Sustentável, da Caixa Econômica Federal. Com ele, é possível fazer a montagem de um prédio de quatro andares, com estrutura, vedação, revestimentos, esquadrias e instalações elétricas, em 23 dias. Além disso, é um modelo de construção que gera, sob o ponto de vista da sustentabilidade, pelo menos seis mil toneladas a menos de resíduos. Isso mostra que, efetivamente, a industrialização está cada vez mais presente no dia a dia da construção civil brasileira", completa Iria Doniak.

Entrevistada
Iria Lícia Oliva Doniak, presidente-executiva da ABCIC
Currículo

- Graduada em engenheira civil pela PUC-PR (1988)
- Está no setor de concreto desde 1986, com foco principal na construção pré-fabricada, e atualmente é membro do Comitê de Revisão da NBR 9062 (Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré-Moldado) e da Comissão de Estudos da NBR 14861 - Lajes alveolares pré-fabricadas de concreto
- É a presidente-executiva da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto) e representante da ABCIC junto à fib (fédération internationale du béton) e junto ao conselho do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto)
Contato: iria@abcic.org.br

Créditos foto: Divulgação/ABCIC

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330