Na construção civil não cabe mais o "tocador de obra"

Constantes atrasos em obras, sejam elas habitacionais ou de infraestrutura, são reflexo da falta de um gerente de projetos à frente do empreendimento

Por: Altair Santos

Além do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do Minha Casa, Minha Vida, o governo federal anunciou recentemente mais um pacote logístico, voltado a modernizar rodovias, ferroviárias, portos e aeroportos. A oportunidade será mais um desafio às construtoras brasileiras, afirma o coordenador da área de construção e montagem do Instituto de Educação Tecnológica (IETEC), Ítalo Azeredo Coutinho. Para ele, nem que seja a fórceps, as empresas terão de aprender a fazer gestão de projetos para cumprir os compromissos assumidos.

Ítalo Azeredo Coutinho, coordenador do IETEC: "Infelizmente, Brasil tem pouca formação voltada ao gerenciamento de projetos”.

Azeredo assegura que não dá mais para confiar o planejamento a "tocadores de obra". A análise, que o especialista faz na entrevista a seguir, é praticamente a mesma realizada no 15º Seminário Nacional de Gestão de Projetos, que ocorreu em Belo Horizonte/MG. No encontro, os debatedores discutiram o andamento dos principais empreendimentos em execução no país. Foram avaliadas questões como controle eficaz de custos, receitas, produção, prevenção de falhas e atrasos, com a conclusão de que os próximos quatro anos serão decisivos para o Brasil ter uma gestão de projetos eficiente na construção civil. Confira:

Faltam processos eficientes para o gerenciamento dos projetos?
Os processos existem, e são conhecidos. Além disso, os resultados com eles obtidos são visíveis para os empresários que desenvolvem a cultura do planejamento e do controle em suas empresas. O que acontece é que muitas construtoras simplesmente não acreditam nas suas vantagens desses processos e preferem usar o antigo e ultrapassado "tocador de obra" em detrimento de um bom gerente à frente de uma equipe de projetos de construção.

E que processos são esses?
São processos simples, como planejar, executar, controlar e agir nos desvios, além de boas práticas técnicas e de segurança, que fazem a diferença no dia a dia das obras e conseguem trazer resultados de produtividade e rentabilidade nos empreendimentos.

O planejamento da obra, antes de colocá-la em pé, é o segredo para, independentemente do empreendimento, ele consiga ser efetuado dentro do prazo?
Entender o processo de construção, e traduzir as estratégias advindas de boas práticas, configurando essas informações para o planejamento e programação das atividades, é com certeza o melhor caminho para o sucesso em termos de prazos, custos e qualidade. Saber o passo a passo otimiza os recursos a serem utilizados no empreendimento e assegura o prazo e as margens de retorno financeiro.

O Brasil dispõe de um bom número de profissionais capacitados para realizar gestão de projetos?
Infelizmente, não. Não temos encontrado no país a formação de equipes de gerenciamento de projetos. Temos visto muitas iniciativas para formar o gestor, para que ele conheça as técnicas de planejar e controlar, mas isso não engloba quem fica no dia a dia da obra, que são o supervisor, o oficial, o mestre de obras, o almoxarife, o técnico de planejamento e medição e o técnico de segurança. Esses profissionais precisam conhecer, tanto quanto o gerente, de projetos, de planejamento e de controle, para, quando necessário, saber intervir e corrigir os desvios. Planejar é fundamental, mas ter uma equipe apta para isso é tão importante quanto ter um excelente gerente de projetos.

Qual o peso que a falta de profissionais, o chamado gargalo na mão de obra da construção civil, tem nessa conjuntura toda?
Estamos passando por uma grande revolução. As empresas têm buscado certificação de qualidade, pois para executar os procedimentos a qualificação da mão de obra é fundamental. Hoje, não é raro vermos cursos de eletricidade predial, tubulação, fôrma e armação sendo dados dentro do próprio canteiro de obras, ou seja, o gargalo existe, mas muitas vezes não é culpa da empresa. Em algumas ocasiões, os profissionais do setor não estão comprometidos com o desenvolvimento, mas com a sazonalidade. Entendo que o Estado poderia ajudar a corrigir essa deformação, com normas mais rígidas para sacar o FGTS e o seguro-desemprego, que é o que esses "funcionários pula-pula" buscam, sem se importar com a capacitação.

Diante do que o senhor explicitou, a avaliação é que as empresas que atuam no mercado da construção civil não esperavam o crescimento muito rápido do setor e, por isso, não se prepararam adequadamente para esse momento?
O empresariado brasileiro em geral é muito cético quanto a se manter preparado para oportunidades. O nosso passado recente de hiperinflação ainda causa temor, além da instabilidade política e altas cargas tributárias. Tudo isso, somado ao fato de que tradicionalmente somos ótimos executores e péssimos planejadores, faz com que as empresas fiquem num eterno estado de hibernação, prometendo crescer quando surgir a próxima oportunidade. Quando estas surgem, as ações são voltadas para saldar dívidas ocasionadas pelo tempo parado. Assim, se não mudarmos nossa filosofia, nunca estaremos preparados e vamos perder competitividade e capacidade de atender as demandas que têm surgido.

Como o senhor vê programas como o PAC, dá para dizer que está faltando gestão de projetos?
O que falta é um planejamento central da carteira de projetos estabelecidos para atender às metas do PAC. A partir desse ponto, estabeleceremos procedimentos profissionais de planejamento e controle, através do Tribunal de Contas, para fiscalizar os recursos públicos. Além do mais, falta a contratação de empresas de engenharia consultiva (projetos de engenharia) e construtiva para avaliar tecnicamente os projetos e dar um parecer profissional e alinhado com as melhores práticas do mercado. Depois de tudo isso feito, poderemos avaliar se falta gestão de projetos ou boa gestão dos recursos públicos. Outro fato importante é identificar onde a iniciativa privada poderia participar, dando maior fluidez nas obras programadas para as duas versões do PAC.

O setor imobiliário também tem sofrido atraso na entrega de obras. Os problemas que afligem PAC são os mesmos do setor habitacional ou eles são diferentes?
Os problemas são praticamente os mesmos. Podemos listá-los, inclusive: falta de planejamento adequado voltado para o plano do negócio; falta de acompanhamento sério e por meio de auditorias independentes com relatórios mensais dos avanços; e, por fim, a seleção de projetos prioritários (tanto para a União quanto para as empresas construtoras), pois eles definirão onde existe maior chance de sucesso (social ou financeiro) dos recursos empregados.

Entrevistado
Ítalo de Azeredo Coutinho, especialista em gestão de projetos e professor do Instituto de Educação Tecnológica (IETEC)
Currículo
- Ítalo de Azeredo Coutinho é graduado em engenharia industrial mecânica pelo Cefet-MG (2002), com pós-graduação em gestão de projetos pelo IETEC (2002) e mestrado em administração de empresas, com ênfase em gestão de projetos (2009)
- Atualmente é professor e coordenador de cursos de pós-graduação nas áreas de custos e orçamento, gestão de projetos em construção e montagem e engenharia de planejamento do Instituto de Educação Tecnológica (IETEC), em Belo Horizonte
- Também é coordenador de projeto e engenheiro de projeto na OUTOTEC Tecnologia do Brasil
Contato: italo_azeredo@yahoo.comwww.ieteconline.com.brjornalismo@ietec.com.br

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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Concrete Show 2012 movimentou R$ 880 milhões

Evento para o mercado latino americano de concreto e artefatos de cimento recebeu quase 30 mil visitantes, entre 29 e 31 de agosto em São Paulo

Por: Altair Santos

Na 6º edição do Concrete Show South America, que ocorreu de 29 a 31 de agosto de 2012 em São Paulo, o volume de negócios gerados no evento foi 10% superior ao de 2011. Alcançou-se a marca de R$ 880 milhões, e a expectativa é de que em 2013 ela supere R$ 1 bilhão. "O Concrete Show cresceu 500% desde a sua primeira edição, há seis anos. Consolidou-se como um catalisador de negócios e fortaleceu ainda mais o segmento. É o segundo maior evento do mundo e o maior da América Latina em tecnologia para a construção civil e infraestrutura", avalia Cláudia Godoy, diretora-geral da UBM Sienna, organizadora do evento.

Concrete Show South America: atraindo os principais players da construção civil do continente.

Em três dias, o Concrete Show expôs produtos de 550 empresas nacionais e internacionais, além de uma programação paralela com 150 palestras simultâneas sobre tecnologias e avanços para o segmento. O evento recebeu quase 30 mil visitantes e atendeu ao público no quesito inovação tecnológica. Houve vários equipamentos mostrados pela primeira vez no Brasil, entre eles a pavimentadora automática de paver, apresentada pela CSM Fôrmas e Sistemas Construtivos. A máquina permite cobrir 600 m² por dia, utilizando pouca demanda de mão de obra. “Encontrei muita tecnologia moderna, principalmente em relação às grandes máquinas”, disse o empresário Eurípedes Pereira.

Representantes de organismos ligados à construção civil saíram do Concrete Show 2012 otimistas com a possibilidade de o setor atingir o crescimento sustentável. "O número de investimentos estrangeiros no país cresceu muito nos últimos cinco anos e a construção civil está absorvendo boa parte desses negócios. Isso não vem só fomentando o desenvolvimento, mas também atraindo tecnologia e inovação. O retrato disto se viu na recente edição do Concrete Show, que mostrou crescimento em relação aos eventos de anos anteriores", disse Sergio Watanabe, presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo).

Pavimentadora automática de paver: entre as inovações mostradas pela primeira vez no Concrete Show.

Watanabe também destacou, que, mesmo que a projeção de crescimento no setor tenha sido revista em 2012, caindo de 5% para 4%, ainda assim apresenta um índice superior ao previsto para o PIB do país, que é de aproximadamente 2%. Arcinco Vaquero y Mayor, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (Abesc) compartilha da posição. "Nosso setor ainda não atingiu o seu ápice. Ainda há muito que crescer", afirmou, apoiado por José Carlos de Oliveira Lima, vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e presidente do Concic (Conselho Superior da Indústria da Construção) que reivindicou medidas de incentivo do governo. “Precisamos de ações como a prorrogação do IPI para os materiais de construção e a desoneração da folha de pagamento”, frisou.

A visão otimista se sustenta em fatores como o PAC da Infraestrutura e as obras para a Copa do Mundo e Olimpíadas. Isso se soma aos sinais de que o governo federal vai intensificar os incentivos para o desenvolvimento dos setores que compõem a cadeia. Além disso, os investimentos governamentais na construção de casas populares também impactam o setor. Segundo relatou a diretora do departamento de produção habitacional do ministério das Cidades, Maria do Carmo Avesani, só o programa Minha Casa Minha Vida 2 irá injetar R$ 62 bilhões de investimentos. “A boa notícia para o segmento é que já contratamos empresas para a construção de 849.226 moradias, ou seja, 42,5% da meta prevista, que é de dois milhões”, explicou, consolidando o otimismo do setor.

Para saber mais sobre o 6º Concrete Show South America: clique aqui.

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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Nova classe C exerce pressão por mais moradias

Até 2022, Brasil vai precisar construir pelo menos 20 milhões de habitações para suprir demanda da população que ascende socialmente

Por: Altair Santos

Segundo dados preliminares da Fundação João Pinheiro, que desenvolve trabalho encomendado pelo ministério das Cidades para recalcular o déficit habitacional brasileiro, há um novo fenômeno ocorrendo no país. Apesar de a pressão demográfica ter diminuído, cresce a demanda por novas moradias. Isso se deve ao surgimento da nova classe C, que, em função da ascensão social, está trocando a coabitação familiar pela compra de imóveis próprios. "Famílias recém formadas, e que moravam com parentes próximos, estão, em função do aumento da renda, buscando a casa própria", relata Rafael Tello, coordenador técnico do Centro de Desenvolvimento da Sustentabilidade na Construção, ligado à Fundação Dom Cabral.

Rafael Tello, da Fundação Dom Cabral: só com industrialização a construção civil atenderá o mercado.

Tello esteve entre os palestrantes do Concrete Congress - evento paralelo ao Concrete Show, que aconteceu de 29 a 31 de agosto em São Paulo. De acordo com dados apresentados pelo especialista, até 2022, para dar conta dessa demanda gerada pela nova classe C, o Brasil vai precisar construir 22 milhões de moradias. Isso deverá impor mudanças ao setor da construção civil. "Conceitos como industrialização habitacional, desempenho, sustentabilidade e preço competitivo terão de ser observados pelas empresas, o que deverá influenciar na forma como elas fazem a gestão de suas obras", avalia o professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral.

Para atingir a meta de suprir a demanda por habitações, a construção civil nacional tem entre os principais desafios a capacitação da mão de obra. "Hoje vivemos quase um analfabetismo profissional. O setor precisa aumentar em 3% ao ano a produtividade do trabalho. De que forma as empresas podem atingir esse objetivo? Adotando gestão, plano de carreiras e competitividade salarial para atrair trabalhadores de outros setores e gerar qualificação suficiente para que a industrialização encontre um ambiente favorável na construção habitacional", analisa Rafael Tello.

Outra ação necessária é a busca por inovação. Atualmente, o SINAT (Sistema Nacional de Avaliação Técnica) financia até 500 unidades que utilizem sistemas inovadores da construção. Já a Caixa Econômica Federal decidiu desburocratizar a liberação de recursos para obras que utilizam paredes de concreto e painéis pré-moldados. "Há um ambiente melhor para inovar, mas ainda existem barreiras para a industrialização. Dificuldades para realizar ensaios em laboratórios e materiais fabricados em desacordo com as normas estão entre elas. Os códigos de obras dos municípios também são empecilhos. Não há padronização, o que impede a produção em escala. É preciso superar isso para que na próxima década alcancemos a sustentabilidade do território urbano, reduzindo o déficit habitacional", finaliza Rafael Tello.

Entrevistado
Rafael Tello, coordenador técnico do Centro de Desenvolvimento da Sustentabilidade na Construção, da Fundação Dom Cabral
Currículo
- Rafael Tello é graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Tem pós-graduação em negócios internacionais pela Fundação Dom Cabral e MBA em gestão da sustentabilidade pela Leuphana Universitaet (Alemanha)
- Professor e pesquisador, atua como coordenador técnico do Centro de Desenvolvimento da Sustentabilidade na Construção, parte do Núcleo Petrobras de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral
- Foi coordenador técnico do SGC (Programa Sustentabilidade para Gestores na Construção) da Fundação Dom Cabral, realizado em 2009
- Foi pesquisador assistente no Núcleo de Inovação e Competitividade da Fundação Dom Cabral
Contato: rafaeltello@fdc.org.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Sustentabilidade é compromisso da indústria de cimento

Referência mundial, setor no Brasil baseia-se em três pilares para reduzir impacto ambiental: tecnologia industrial, coprocessamento de resíduos e pesquisa de novos aditivos

Por: Altair Santos

O Brasil é atualmente o 4º maior consumidor de cimento e o 6° que mais fabrica o insumo no mundo. Com produção atual de 78 milhões de toneladas por ano, o país projeta atingir 111 milhões de toneladas até 2016. O consumo per capita de 311 quilos ainda está abaixo da média mundial, que é de 428 quilos por habitante, mas o setor nacional destaca-se pelo compromisso com a sustentabilidade. É o que destacou o geólogo Yushiro Kihara, gerente de tecnologia da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) em palestra no Concrete Congress - evento paralelo ao 6º Concrete Show, ocorrido de 29 a 31 de agosto em São Paulo. "O setor tem consciência de sua importância e faz um balanço ambiental que é referência mundial", cita.

Geólogo Yushiro Kihara, da ABCP: produção de cimento aumentou, emissão de CO₂ caiu.

Yushiro Kihara avalia que a característica singular da indústria cimenteira do Brasil contribui para destacar a responsabilidade ambiental do setor. "O país tem 15 grupos industriais, diferentemente do que ocorre em outras nações, onde duas ou três companhias, em média, dominam o setor. Essa competitividade converge para uma indústria moderna, que investe em filtros de alta eficiência, queimadores ecológicos com baixo consumo de energia, coprocessamento de resíduos perigosos, combustíveis alternativos, adições ao cimento e recuperação de áreas degradadas. Isso faz da indústria cimenteira brasileira a mais adequada às regulamentações ambientais internacionais impostas ao setor, que de 1990 a 2010 saltaram de 19 para 635, ressalta o geólogo.

Em sua palestra, o gerente de tecnologia da ABCP relatou que a indústria de cimento no Brasil se sustenta sobre três pilares: tecnologia dos equipamentos, coprocessamento de resíduos e adições para a fabricação do cimento, como cinzas volantes, escórias de alto forno, pozolanas naturais e pozolanas artificiais. "Por causa desses pilares, em 2010 o setor deixou de emitir 18 milhões de toneladas de CO₂. De 1995 a 2005, a emissão de gases foi inversamente proporcional ao aumento de produção. No mesmo período, a indústria de cimento cresceu 52% e a emissão de CO₂diminuiu 38%. É o que fez a Agência Internacional de Energia declarar as cimenteiras do Brasil com referência mundial em emissão de CO₂por tonelada de cimento", disse Yushiro Kihara.

Ambientalmente comprometida, a indústria cimenteira tem também prestado um serviço de saúde pública ao país com o coprocessamento de resíduos. "Em 2011 foi coprocessado um milhão de toneladas de resíduos. Entre os componentes usados, houve o consumo de 45 milhões de pneus. Muito provavelmente seriam materiais que estariam servindo de criadouros de dengue", cita Yushiro Kihara, para quem o Brasil tem pela frente os seguintes desafios para conseguir manter o setor de cimento comprometido com a sustentabilidade:
1°) Suprir a demanda nacional por cimento;
2°) Aumentar a queima de combustíveis alternativos;
3°) Buscar novas fontes de adição ao cimento;
4°) Estimular o aumento do clínquer coprocessado;
5°) Estar aberta às inovações tecnológicas.

Entrevistado
Yushiro Kihara, gerente de tecnologia da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)
Currículo
- Yushiro Kihara é graduado em geologia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP (1969). Tem mestrado em mineralogia pelo Instituto de Geociências da USP (1973) e doutorado em mineralogia e petrologia pelo Instituto de Geociências da USP (1982)
- Atualmente é professor doutor do Instituto de Geociências. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em ciência dos materiais, atuando principalmente nos seguintes temas: mineralogia aplicada, material de construção, fabricação de cimento portland, durabilidade do concreto à reação álcali-agregado, meio ambiente e coprocessamento de resíduos.
Contato: yushiro.kihara@abcp.org.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Norma de desempenho vira protagonista no Concrete Show

Boa parte dos seminários realizados na edição 2012 do evento tratou da NBR 15575. Consultora Maria Angélica Covelo Silva explica por que ela é tão importante

Por: Altair Santos

Entre as 150 palestras que aconteceram no Concrete Congress - seminário que ocorreu paralelamente ao 6º Concrete Show South America, realizado de 29 a 31 de agosto de 2012 em São Paulo -, 60% delas abordaram, ou pelo menos citaram, a NBR 15575. Em consulta técnica até o dia 13 de setembro, a norma de desempenho é vista como crucial para que a construção habitacional no Brasil atinja patamares já praticados há 30 anos na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. Por isso, a conferência da consultora Maria Angélica Covelo Silva, que participou da elaboração e atua nas revisões da NBR 15575, foi considerada uma das mais relevantes sobre o tema.

Maria Angélica Covelo Silva: sem norma de desempenho, sistemas construtivos não evoluem.

A engenheira civil procurou desmistificar a norma, considerada polêmica por alguns setores da construção civil, mas ressaltou que a sua implantação - apesar das resistências - é um caminho sem volta. "A NBR 15575 vai definir uma linha divisória para o mercado, dizendo: abaixo disso não se pode construir. A princípio, ela abrange construções habitacionais de qualquer natureza, e não apenas para edifícios de cinco pavimentos. Mas com o know-how que a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) adquiriu, em breve pretende-se desenvolver normas de desempenho para todos os tipos de obras", disse Maria Angélica Covelo Silva.

Para a consultora, a falta de uma norma de desempenho tem impedido a construção habitacional brasileira de evoluir. "Estamos atrasados em mais de uma década em relação a outros países, seja na evolução de sistemas construtivos, de projetos, de materiais, enfim, de toda uma cultura na engenharia habitacional. Agora, temos que recuperar o tempo perdido", afirmou, lembrando que normas de desempenho não são novidade em outras áreas industriais. "O setor de transformação já tem um longo histórico. Basicamente, todos os produtos fabricados em linha de produção têm normas de desempenho", complementou.

Norma mãe

Maria Angélica Covelo Silva fez um histórico de como a norma de desempenho para edifícios evoluiu na Europa. Começou com a criação do Conselho Internacional de Pesquisa e Inovação na Construção (CIB, do francês Conseil International du Bâtiment) e avançou com a ISO 6241 - exigências humanas em relação às estruturas -, publicada em 1984. "Ela definiu parâmetros para os desempenhos acústico, térmico e de estruturas para os edifícios e pode ser considerada a norma mãe da NBR 15575. Isso mostra o quão atrasados estamos", afirmou, lembrando que no Brasil, ainda no tempo do Banco Nacional de Habitação (BNH) foi encomendado ao IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológica) um estudo para a criação de uma norma de desempenho para edifícios, mas cujos estudos não evoluíram.

Somente depois do caso ocorrido em 1991, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, onde três mil unidades tiveram que ser implodidas por que foram construídas com paredes de gesso, é que começou a se debater a criação de uma norma de desempenho para os empreendimentos habitacionais no Brasil. "Não houve avanço, mas a partir da década passada, com a consolidação do Código do Consumidor, compradores de imóveis passaram a exercer seus direitos junto aos organismos de defesa e isso acelerou os estudos para a criação de uma norma de desempenho. Em 2010, ela entrou em vigor, mas foi adiada sua exigibilidade. Em seguida, entrou em fase de revisão. Um dos pontos polêmicos alegados pelos construtores foi revisto, que era o que confundia vida útil com prazo de garantia. Na revisão, tratou-se de diferenciar bem isso", explica a consultora.

A expectativa é que a partir de 12 de março de 2013 a NBR 15575 entre efetivamente em vigor. "Na prática, vai significar que a partir de 13 de março de 2013, quando um projeto for protocolado em qualquer prefeitura do país, o consumidor terá direito de exigir que a norma seja cumprida", alerta Maria Angélica Covelo Silva, lembrando que a norma de desempenho não faz distinção quanto aos sistemas construtivos, mas define quais objetivos devem ser atingidos para a correta habitabilidade de quem compra o imóvel. "A norma vai mexer até com os catálogos de venda dos imóveis, valorizando o desempenho do empreendimento", cita.

Na Europa, a norma de desempenho é a propaganda do imóvel, revela a consultora. Ainda segundo a especialista, nos países europeus nenhuma construtora obtém financiamento para uma obra se não apresentar um projeto adequado com a norma de desempenho e que tenha um seguro que garanta que a norma será aplicada. "Se houver qualquer manifestação patológica, o usuário aciona a seguradora que concedeu o seguro-desempenho, e não a construtora. Isso regula o mercado na Europa e espero viver o bastante para ver isso aqui no Brasil", completou.

Entrevistada
Maria Angélica Covelo Silva, consultora e integrante do comitê que elaborou o NBR 15575
Currículo
- Maria Angelica Covelo Silva é engenheira civil graduada pela Universidade Estadual de Londrina
- Mestre em engenharia pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutora em engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)
- Iniciou a carreira em empresa construtora e, posteriormente, dedicou-se à carreira de professora e pesquisadora na Universidade Federal de Santa Catarina e no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
- Em 1990 foi sócia fundadora da empresa de consultoria CTE (Centro de Tecnologia de Edificações) e em 1998 criou a NGI (Núcleo de Gestão e Inovação) Consultoria e Desenvolvimento
- É coautora dos livros “Sistema de gestão da qualidade para empresas construtoras” e “Gestão da qualidade no processo de projeto de edificações”
- Participou da elaboração e revisão da NBR 15575
Contato: ngi@ngiconsultoria.com.br
Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB2330

ABCP abraça o lema "governar é construir estradas" (Podcast)

No 6º Concrete Show, Associação mostrou conquistas obtidas no setor rodoviário a favor do pavimento de concreto, como revela o gerente de comunicação Hugo Rodrigues

Por: Altair Santos
Hugo Rodrigues: universidades privadas demonstram mais interesse em ensinar tecnologia do pavimento de concreto.

Entrevistado
Hugo Rodrigues, gerente de comunicação da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)
Currículo
- Hugo da Costa Rodrigues Filho é graduado em engenharia civil, com mestrado em Materiais de Construção, pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) (1977 e 1993)
- Concluiu MBA em Comunicação e Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) (2002)
- Atualmente integra comissões de institutos, como o de Comunicação e Produção de Cimento da Federação Interamericana del Cemento (FICEM). Também fez parte da coordenação executiva dos  seminários da indústria da construção e do Construbusiness, da Comissão da Indústria da Construção da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (DECONCIC/FIESP)
- Gerencia a área de Comunicação da ABCP
Contato: hugo.rodrigues@abcp.org.br

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Comunidade da Construção agrega boas práticas ao mercado (Podcast)

Principal missão do movimento nacional de engenheiros é fazer construtoras compartilharem conhecimento, revela a coordenadora Glécia Vieira

Por: Altair Santos
Glécia Vieira: Comunidade da Construção já atua em quatro regiões do país e planeja expandir sua atuação para todos os estados.

Entrevistada
Glécia Vieira, coordenadora nacional da Comunidade da Construção
Currículo
- Glécia Vieira é graduada em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Maria (RS), com especialização em Marketing (ESPM) e pós-graduação em Inteligência de Mercado pela Fundação Instituto de Administração
 - Atuou no núcleo de especialistas em pavimentação da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) desenvolvendo projetos de pavimentação rígida em rodovias, vias urbanas e comerciais
- Atualmente coordena a área de edificações da ABCP, desenvolvendo projetos em parceria com construtoras e fornecedores, com o objetivo de melhorar a competitividade e o desempenho dos sistemas à base de cimento.
Contato: glecia.vieira@abcp.org.br

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Pavimento em concreto atrai investimento internacional

Fabricantes de equipamentos iniciam ações para mostrar como a tecnologia pode baratear a construção de estradas de alta eficiência

Por: Altair Santos

O 6º Concrete Show South America, realizado de 29 a 31 de agosto de 2012 em São Paulo, apontou para um consenso: o Brasil está se tornando um dos mercados mais atraentes para o desenvolvimento do pavimento rígido. Foi por isso que gigantes internacionais do setor expuseram no evento toda a tecnologia disponível hoje para se construir estradas de alta eficiência. Entre os expositores, esteve a GOMACO - líder mundial na fabricação de pavimentadoras de concreto -, que foi representada pelo CEO (Chief Executive Officer) para os países latinos, Steven Bowman. O especialista foi o protagonista de uma das palestras mais concorridas do congresso, que tratou da tecnologia aplicada na pavimentação de concreto.

Steven Bowman, CEO da GOMACO para os países latinos: "Com tecnologia, custo do quilômetro cai absurdamente."

Bowman continuará no Brasil nos próximos meses, para mostrar aos agentes públicos e às associações envolvidas com o concreto o quanto um país pode ganhar com a adoção do pavimento rígido em suas estradas e também em corredores de transporte público. "Meu objetivo aqui no país é mostrar que uma boa pavimentação gera economia e salva vidas. Sabemos das deficiências estruturais do Brasil e queremos mostrar como isso pode ser sanado, como foi em outros países", comentou o CEO da GOMACO, ressaltando que sua missão não é abrir uma frente de oposição à indústria do asfalto, mas sinalizar que cada situação exige um tipo de pavimento.

Segundo ele, boa parte das rodovias brasileiras, principalmente as federais, onde os caminhões evoluíram tecnologicamente e já conseguem trafegar até com dez rodados, hoje precisariam estar migrando para o pavimento rígido. "Eu, como economista, não gosto de ver asfalto onde deveria haver concreto e nem de ver concreto onde deveria ter asfalto. Creio que o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) pensa o mesmo", disse Steven Bowman, elogiando a decisão do governo brasileiro em colocar um especialista em pavimentação à frente do Dnit, referindo-se ao diretor-geral Jorge Ernesto Pinto Fraxe, que é general e, como engenheiro civil, dirigiu a divisão de obras do Exército - a qual atua na pavimentação em concreto da BR-101 Nordeste.

Pavimentadora de concreto: tecnologia derruba mito de que pavimento rígido é mais caro e demora mais para ficar pronto.

Steven Bowman afirmou que atualmente a tecnologia embarcada nas pavimentadoras derruba o mito de que as estradas em concreto são mais caras e mais demoradas para serem construídas. "No Chile estamos com uma obra em que a nossa mais alta tecnologia está sendo empregada. Lá, com as equipes divididas em três turnos, está sendo possível pavimentar 4,5 quilômetros por dia a um custo em que a terceira equipe está praticamente operando de graça para a empreiteira. Conforme a obra avança, o preço se dilui. Diria que num trecho de cem quilômetros, os primeiros cinquenta quilômetros construídos pagam os outros cinquenta. Óbvio que tudo isso parte de bons projetos, acompanhados de tecnologia de ponta. É o que queremos mostrar ao Brasil", afirmou o CEO da GOMACO.

Vantagens atribuídas ao pavimento em concreto em estradas:
- Caminhões economizam até 11% de combustível a cada 1.000 quilômetros rodados.
- Vida útil dos pneus aumenta em 20%.
- Melhora visibilidade e reduz risco de acidentes.
- Durabilidade de até 50 anos sem reparos.

Entrevistado
Steven W. Bowman, CEO da GOMACO para os países latinos do Caribe, da América Central e da América do Sul
Currículo

- Nascido nos Estados Unidos, Steven W. Bowman é graduado em economia e tem 35 de experiência em equipamentos para pavimentação, atuando regiões como América, Europa e Oriente Médio
Contato: gomaco@supernet.com.bo
Créditos fotos: Divulgação/Cimento Itambé/GOMACO

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Déficit de mão de obra afeta indústria de artefatos

Setor comemora crescimento, mas carece de cursos profissionalizantes para acompanhar avanço tecnológico dos equipamentos

Por: Altair Santos

Para os gestores de indústrias de artefatos de cimento, o atual calcanhar de aquiles do setor está no limitado número de cursos de formação para qualificar profissionais que possam atuar tanto no chão da fábrica quanto na parte de gestão. Esse foi o foco da palestra que o empresário Dorival Fantinato concedeu no 6º Concrete Show South America, que ocorreu de 29 a 31 de agosto de 2012 em São Paulo. Desde 1972 atuando na área de equipamentos e pré-moldados, Fantinato hoje dá consultoria e desenvolve trabalhos técnicos para empresas que produzem blocos e pavers de cimento. Segundo ele, o aquecimento do setor destoa do nível de profissionalização. "Nacionalmente, a boa qualificação ainda não foi atingida e, ao meu ver, falta muito para atingirmos a excelência", revela.

Dorival Fantinato: “Existe um déficit muito grande na área de educação profissional”.

Como o setor de artefatos de cimento é bem normatizado, o produto final que chega ao consumidor é acompanhado, na maioria das vezes, de um ótimo controle de qualidade. Até porque, nos anos recentes, as indústrias que lideram o setor agregaram muita tecnologia em suas linhas de montagem. "Hoje, dentro das nossas condições tecnológicas, não deixamos nada a desejar com relação aos equipamentos importados. Pois além da constante inovação, também estamos fazendo parcerias com empresas internacionais, objetivando sempre a melhoria da qualidade dos nossos produtos", afirma Fantinato, revelando que os maquinários estão cada vez mais sofisticados e, por isso, carecem de operadores também mais qualificados. "Controle touch screen e acesso remoto via internet já são realidade entre os equipamentos", completa.

Dorival Fantinato entende que programas como Minha Casa, Minha Vida e PAC da Mobilidade aqueceram o setor. Atualmente, de acordo com os dados mais recentes do IBGE, há no Brasil 12,5 mil estabelecimentos dedicados à fabricação de artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, gesso e estuque. No entanto, o consultor avalia que ainda faltam tributos diferenciados para que o crescimento sustentável se consolide. Além disso, observa, a crise internacional tem gerado dificuldades aos empresários para a compra de novos equipamentos. "Os financiamentos bancários estão exigindo maiores garantias, atrapalhando um maior número de vendas", analisa. Por isso, finaliza, eventos como o Concrete Show são importantes. "Eles possibilitam conhecer novos produtos e acompanhar as inovações", conclui.

Entrevistado
Dorival Fantinato, consultor e palestrante voltado à gestão de fábricas de blocos e pisos intertravados à base de cimento
Currículo
- Dorival Fantinato atua na área de equipamentos e pré-moldados desde 1972
- É o fundador da Tprex, que opera desde 1992 e é voltada para a fabricação de equipamentos para fábricas de artefatos de cimento
- Desenvolve diversos trabalhos técnicos voltados à gestão de indústrias do setor de blocos e pisos intertravados
Contato: tprex@tprex.com.br

Créditos foto: Divulgação/Tprex

Jornalista Responsável: Altair Santos - MTB 2330

Aliado do cimento, metacaulim expande mercado no Brasil

Material pozolânico, usado para melhorar as propriedades do concreto, já é utilizado por 75% das marcas vendidas no país

Por: Altair Santos

A sustentabilidade do concreto esteve entre os assuntos debatidos no Concrete Show South America, que aconteceu em São Paulo de 29 a 31 de agosto de 2012. A vida útil do material, assim como as alternativas para que ele requeira o menor número de manutenções periódicas, levaram o engenheiro civil Guilherme Gallo a palestrar no evento sobre a adição do metacaulim ao cimento Portland. Através de ensaios em laboratórios, já está comprovado que o produto evita o surgimento de patologias no concreto e também reduz sensivelmente o risco de corrosão de armaduras. Por isso, desde 2008, o mercado de metacaulim tem crescido, em média, 20% ao ano.

Guilherme Gallo: "Novas normas reforçam potencial do metacaulim."

A industrialização do produto no Brasil é um fenômeno recente e data do início deste século. No país, ainda há poucas empresas dedicadas à extração e à fabricação, mas o mercado nacional já se posiciona entre os cinco maiores do mundo para o metacaulim. Estima-se que 75% das Companhias relacionadas à produção de cimento e concreto no Brasil utilizem o material pozolânico. "A grande virtude do metacaulim está na sua relação custo-benefício. Em média, a quantidade utilizada é de três a dez vezes menor quando comparada às pozolanas comuns, o que o torna altamente competitivo", revela Guilherme Gallo, que na entrevista a seguir detalha a evolução do mercado de metacaulim e as especificidades do material. Confira:

A NBR 15894, que criou parâmetros específicos para o uso do metacaulim com cimento Portland em concreto, argamassa e pasta, causou que tipo de impacto positivo na utilização desse produto na cadeia de cimento e concreto?
A normatização do metacaulim pela NBR 15894 (metacaulim para uso com cimento Portland em concreto, argamassa e pasta – partes 1, 2 e 3) tem como finalidade principal aumentar a garantia de qualidade do produto, para que o consumidor final obtenha os benefícios almejados na obra ou nas diversas aplicações onde se usa concreto, argamassa ou pasta de cimento. Além disso, com norma própria, o metacaulim passa a ter maior alcance, tanto a nível nacional como em diversos outros países. É importante ressaltar que, desde quando foi introduzido no Brasil em 2002, o metacaulim vinha seguindo as especificações da NBR 12653 (materiais pozolânicos), porém, excedendo positivamente todas as propriedades físicas e químicas, por isso houve a necessidade de se elaborar norma própria para o produto.

A NBR 15895 também deve influenciar no mercado de metacaulim?
A NBR 15895 (determinação da atividade pozolânica pelo método chapelle modificado) foi elaborado com o intuito de criar uma nova ferramenta para medição do desempenho de pozolanas, dentre elas o metacaulim. Toda norma de desempenho é sempre bem vinda para que se possa aferir a qualidade do produto que se compra, e por este motivo eu acredito que a NBR 15895 soma muito no sentido de mostrar ao mercado o potencial que o metacaulim pode trazer à aplicação.

Com relação a outros materiais pozolânicos, quais as principais virtudes do metacaulim?
O metacaulim é um dos poucos materiais pozolânicos de fato produzidos para esta finalidade, enquanto que a maioria, tais como a escória de alto forno, a cinza volante e a sílica ativa são resíduos industriais gerados sem o objetivo principal de atender às especificações técnicas de mercado, ou mais ainda, a sua demanda de mercado. A exemplo disso, atualmente há uma falta generalizada de pozolanas de alta qualidade no mercado brasileiro, dado o aquecimento do setor da construção. Outra grande virtude do metacaulim está na sua relação custo-benefício. Em média, a quantidade de metacaulim utilizada na formulação (traço) é de três a dez vezes menor quando comparada às pozolanas comuns (cinza volante ou escória de alto forno) o que o torna altamente competitivo e possibilita a entrega em longas distâncias. Outro exemplo, é que atualmente levamos o produto para qualquer parte do Brasil, e exportamos para países tão distantes quanto Turquia, Angola e a comunidade europeia.

O uso do metacaulim já está bem difundido na indústria cimenteira e de concreto do Brasil?
Após mais de dez anos de atuação no Brasil pela nossa empresa, que foi pioneira na produção e comercialização do metacaulim na América Latina, eu diria que conseguimos alcançar mais de 75% de todas as empresas relacionadas à produção de cimento e concreto no Brasil. Entretanto, há ainda muito a ser feito para divulgar o produto, e mostrar todo o seu potencial no sentido de aumentar a durabilidade e as resistências mecânicas de concretos e argamassas, tornar toda a cadeia da construção muito mais sustentável e reduzir o custo de longo prazo, dada a diminuição das manutenções e aumento da vida útil das estruturas construídas com o uso do metacaulim.

O metacaulim pode (e deve) ser utilizado em qualquer tipo de obra ou aplicação que utiliza o cimento Portland, devido à longa lista de benefícios que ele proporciona. Atualmente, temos atuação tanto em obras de infraestrutura como barragens, portos e ferrovias, passando pelas edificações convencionais e incluindo aplicações mais comuns em argamassas de revestimento, mesmo aquelas produzidas em obra. Quanto ao cimento conter ou não metacaulim, é uma questão meramente referencial, já que o usuário sempre poderá adicionar o metacaulim mesmo quando ele não está presente no cimento fornecido pelo fabricante. Conforme já dito anteriormente, ter metacaulim na composição do concreto, argamassa ou pasta final, seja por adição separada ou com ele já agregado na fabricação do cimento, faz toda a diferença.

Mina de caulim em Santa Catarina: Brasil tem matéria prima abundante para produzir material pozolânico.

Em outros países, ele é um produto mais usado do que no Brasil?
Desde a década de 1980, a França e os Estados Unidos têm vasta experiência com o uso do metacaulim em obras e indústrias de produtos à base de cimento, como o concreto pré-moldado, argamassa e graute. Diria que o Brasil está entre os cinco países que mais consomem metacaulim no mundo.

Em que tipo de obras é recomendado usar a adição do metacaulim no concreto e qual a diferença do cimento que usa o produto e o que não usa o produto? O metacaulim também é usado em indústrias de refratários, tintas, papel, borrachas e produtos químicos. Nesses setores, ele é mais utilizado ou o grande cliente do produto é a indústria de cimento e concreto?
Atualmente, o metacaulim é mais utilizado na construção civil como adição para concreto, argamassa ou pasta de cimento Portland, porém, outras aplicações vêm demandando cada vez mais o produto.

Como se dá o processo de extração e fabricação do metacaulim?
O metacaulim é produzido a partir do caulim, mineral especial existente em algumas regiões do Brasil. Para que haja plena compreensão desta questão, o caulim está para o metacaulim assim como o calcário e a argila estão para o cimento Portland, ou seja, não se pode confundir o produto final com a matéria prima, já que possuem propriedades bem diferentes. Conforme foi comentado anteriormente, vale ressaltar que o metacaulim é uma das poucas pozolanas que provém de processo de produção específico para este fim, não sendo um resíduo industrial como outras pozolanas.

O Brasil tem reservas de matéria prima para produzir metacaulim ou precisa importar?
Nossa empresa, a Metacaulim do Brasil, tem estrutura e capacidade produtiva para atender a toda a demanda nacional pelo produto, bastando nos readequarmos com base no tamanho do mercado. Temos crescido em média 20% ao ano nos últimos quatro anos, por meio de ampliação do processo de produção com a aquisição de equipamentos apropriados e, portanto, nunca houve ou haverá a necessidade de importar o produto, salvo no caso de demandas específicas que exijam algum critério especial ou limitação da propriedade do produto. Neste caso, a importação pode ser necessária temporariamente, até que tenhamos condições de nos readequarmos para atender às exigências da aplicação.

Sobre o ponto de vista da sustentabilidade, quais as vantagens de se usar a adição de metacaulim no concreto?
O metacaulim reduz as manutenções periódicas e aumenta a vida útil do concreto. Como a grande maioria das obras são construídas com o uso do concreto, este passa a ser a essência da estrutura e seu principal suporte. Com isso, é possível concluir que, no longo prazo, o uso do metacaulim reduz o custo total de manutenção ou reconstrução em proporção inversa ao prazo de vida-útil. Para exemplificar esta questão, é possível comprovar por meio de ensaios acelerados em laboratório que o uso do metacaulim evita o surgimento de patologias no concreto durante a sua vida, tais como a corrosão de armaduras, as expansões ou deteriorações causadas pela reatividade álcali-agregado, pelo ataque por sulfatos ou outros agentes agressivos. A correta manipulação destes resultados mostra que a vida útil do concreto pode ser facilmente dobrada e, com isso, o custo total da obra passa a ser reduzido pela metade (inversamente proporcional ao prazo de vida útil). Em outras palavras, o proprietário de uma barragem, de um porto ou de uma ferrovia terá, no longo prazo, duas obras pelo preço de uma – é simples assim – e a natureza agradece, pois o consumo de recursos naturais também passa a ser reduzido pela metade no longo prazo, visando manter a obra de pé e em serviço.

Entrevistado
Guilherme Gallo, palestrante do 6º South America Concrete Show e diretor de qualidade e comércio da Metacaulim do Brasil Indústria e Comércio Ltda
Curriculo
- Guilherme Gallo é engenheiro civil graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
- Mestre em engenharia de materiais pela UFMG
- Diretor de qualidade e comércio da Metacaulim do Brasil Indústria e Comércio Ltda
Contato: gallo@metacaulim.com.br
Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330