MCMV precisa ser mais ágil para atingir a classe média

Principal programa habitacional do país perde competitividade ao avançar lentamente suas curvas de limite de renda e de valor de imóveis

Por: Altair Santos

Dia 4 de outubro de 2012, o governo federal anunciou mudanças no programa Minha Casa, Minha Vida que, de certa forma, frustraram o mercado imobiliário. Havia a expectativa de que os subsídios para a aquisição da casa própria, que são o diferencial do MCMV, fossem estendidos para famílias com renda superior a R$ 5 mil - atingindo o estrato social definido como classe B. No entanto, através do Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ocorreram apenas reajustes pontuais no programa, mantendo-o limitado a quem tem renda até oito salários mínimos.

Flávio Prando, do Secovi-SP: programa não produz o mesmo efeito que produzia em abril de 2009.

Para Flávio Prando, vice-presidente de habitação econômica do Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo) ampliar a curva de subsídios é um ajuste pelo qual o Minha Casa, Minha Vida teria de passar. "Precisaria haver uma alteração de limites, seja de renda e de valor dos imóveis, ampliando a curva de subsídios. Essa curva subiu muito pouco e, portanto, ela já não produz o mesmo efeito que produzia em abril de 2009, quando foi lançado o programa", analisa. "Com essas medidas, o MCMV se tornaria um programa de Estado e deixaria de ser um programa de governo", completa.

Ao contrário da análise do especialista, o Conselho Curador do FGTS optou por mudanças tímidas. O valor dos subsídios a fundo perdido para as famílias com renda mensal até R$ 1,6 mil - a faixa mais baixa do programa - foi reajustado de R$ 23 mil para R$ 25 mil. Houve pequenas correções também nas três faixas posteriores contempladas no MCMV. A segunda, que ia de R$ 1.600,01 a R$ 2,325 mil, passa para R$ 2,455; a terceira, de ganhos até R$ 3,1 mil, sobe para R$ 3,275 mil; e o teto da quarta faixa continua em R$ 5 mil. As taxas de juros ao ano permanecem as mesmas, de 5% a 6%, com ligeira redução na faixa mais alta, que cai de 8,16% para 7,16%.
Também houve mudanças nas cinco classificações de municípios e regiões metropolitanas por número de habitantes. O teto de R$ 170 mil, válido para o Distrito Federal e municípios das regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, foi corrigido para R$ 190 mil. Os municípios com mais de um milhão de habitantes, que tinham teto de financiamento de R$ 150 mil, passam agora para R$ 170 mil. Já os de 250 mil pessoas em diante, de R$ 30 mil para R$ 145 mil. Nos com população acima de 50 mil habitantes, o teto passa de R$ 100 mil para 115 mil. Nos demais municípios, o valor máximo aumenta de R$ 80 mil para R$ 90 mil."São medidas que para o mercado das construtoras não tem nenhum significado", avalia Flávio Prando.

Com os reajustes recentemente anunciados pelo governo federal, o investimento no MCMV vai aumentar em R$ 1,4 bilhão até o final de 2013. Para o mercado, as medidas no máximo irão contemplar a nova classe C, que segundo estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, hoje engloba 104 milhões de brasileiros e tem renda familiar em torno de R$ 4,6 mil por mês. No entender da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC) a decisão de não expandir os subsídios do Minha Casa, Minha Vida talvez esteja relacionado ao fato de que as metas estabelecidas para o programa já tenham sido atingidas, ou seja, a marca de dois milhões de unidades já contratadas e de um milhão de unidades entregues.

Confira a resolução 702 do Conselho Curador do FGTS : clique aqui

Entrevistado
Flávio Prando, vice-presidente de habitação econômica do Secovi-SP
Currículo

- Graduado em engenharia de produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1975-1979)
- Desde 1979 é sócio-diretor da Nova Investimentos Imobiliários Ltda., empresa inicialmente voltada para a incorporação e construção de imóveis residenciais e comerciais, tendo a partir de 1986, agregado a atividade de comercialização de imóveis
- Desde 2006 é presidente da Gol Soluções Imobiliárias Ltda., empresa pioneira em atuação segmentada, e focada na comercialização imobiliária de lançamentos residenciais para a classe média e popular
- Atualmente é vice-presidente de habitação econômica do Secovi-SP
Contato: aspress@secovi.com.br

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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

CB-02 concentra esforços em inovação e normatização

Na gestão de Paulo Eduardo Fonseca de Campos, Comitê Brasileiro de Construção Civil prioriza sistemas industrializados e incentiva a difusão da NBR 15575

Por: Altair Santos

O CB-02 (Comitê Brasileiro de Construção Civil) como define seu novo superintendente, o engenheiro civil Paulo Eduardo Fonseca de Campos, é fruto das transformações do setor ao qual ele está vinculado. Por isso, suas metas devem acompanhar as demandas da indústria da construção civil. Atualmente, elas estão ligadas à geração de normas técnicas e ao incentivo às inovações tecnológicas.

Paulo Eduardo Fonseca de Campos: CB-02 é fruto da maturidade da indústria da construção civil.

Para o CB-02, a norma de desempenho (NBR 15575) passou a ser prioritária, assim como o incentivo à construção industrializada. Para o comitê, as técnicas inovadoras precisam prevalecer sobre os sistemas convencionais, caso o país queira cumprir metas tanto no plano habitacional quanto no de infraestrutura. É o que Paulo Eduardo Fonseca de Campos, que também é professor da USP (Universidade de São Paulo) revela na entrevista a seguir:

O senhor está há mais de seis meses à frente do CB-02. Nesse período, quais iniciativas o comitê já tomou para buscar cumprir as metas estabelecidas pela sua gestão, que vai até 2015?
A minha gestão está centrada nos seguintes pontos: a modificação do escopo do Comitê Brasileiro de Construção Civil, que passou a se dedicar exclusivamente a normas de projeto e execução. Com isso, estamos atuando sobre questões que são verdadeiramente prioritárias, como a inovação tecnológica. O foco agora está sobre áreas como construção pré-fabricada e construção industrializada. Por isso, reativamos a comissão de estudos de projeto e execução de concreto pré-moldado, além de estarmos concentrados na revisão da NBR 6118 - Projeto de estruturas de concreto – Procedimento, que está em andamento e tem foco na questão do concreto de alto desempenho.

As normas que regem a construção civil têm passado por um período intenso, seja de revisão ou de surgimento de novas, como a norma de desempenho (NBR 15575). O CB-02 espera que essa proatividade na busca da qualidade se intensifique ainda mais?
Na questão específica da qualidade eu posso falar que a NBR 15575 é prioritária para nós. A norma de desempenho de edificações traz um aporte absolutamente fundamental para este momento, pois ela vai representar um divisor de águas em termos daquilo que nós vamos buscar doravante, não só como atuação do CB-02, mas para o próprio mercado e os atores que atuam na indústria da construção civil. Ela traz para nós um conceito que já é vigente na Europa, que é o da normativa exigencial. Por isso, o CB-02, a partir do início do próximo ano, estará empenhado em desenvolver a difusão desta norma em todo o território nacional. Teremos telecentros para replicar o conhecimento sobre a norma de maneira presencial e também através de teleconferências por todo o país.

Parece ser interesse do CB-02 também colocar em discussão uma norma sobre reformas de edifícios?
Essa é uma questão circunstancial, sobre a qual o Comitê Brasileiro de Construção Civil tem que dar resposta. Por quê? Porque tivemos um desastre que ocorreu no Rio de Janeiro, em janeiro de 2012, e que promoveu uma movimentação muito grande por parte dos poderes legislativos, seja a nível municipal, estadual ou federal, no sentido da elaboração de leis vinculadas a reformas e inspeções periódicas. O problema é que essas leis nem sempre tem sido elaboradas dentro do melhor critério técnico, pois elas têm ficado restritas às assessorias parlamentares que orienta a elaboração de projetos de lei. O que queremos, com a criação de uma norma a curto prazo, é antecipar e inverter esse processo, ou seja, a norma técnica deve servir de subsídio para os projetos de lei.  O objetivo é ter uma norma que passe a governar as intervenções feitas em edifícios, e que seja uma resposta da construção civil à sociedade frente a estes fatos lamentáveis que ocorreram no Rio de Janeiro.

Hoje há um debate intenso sobre a industrialização de sistemas construtivos. Como o CB-02 vê isso?
Isso vem de encontro à inovação. A industrialização voltou com força, por que efetivamente nós temos hoje um programa real e não mais um programa potencial. Há demanda gerada pelos megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, cujas obras têm que ser tocadas rapidamente e dentro de um padrão de qualidade, de custo e de prazo, que faz com que a alternativa da construção industrializada seja quase mandatária. Fora isso, temos um programa habitacional de três milhões de unidades e não é possível enxergar um desafio desta magnitude pensando em sistemas convencionais.

O governo tem o PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat) e o SINAT (Sistema Nacional de Avaliações Técnicas) que validam produtos e sistemas inovadores na construção civil. O CB-02 espera ter uma coparticipação maior junto a esses organismos?
O CB-02, por força da portaria interministerial que criou CTECH (Conselho de Tecnologia para Habitação) que assessora a secretaria nacional de habitação, tem assento no CTECH, assim como tem assento na CNCA (Comissão Nacional de Sistemas de Avaliação de Conformidade) e na Comissão Nacional de Sistemas de Material de Construção. Em todas as comissões nacionais o CB-02 tem assento, com o objetivo de levar as posições do setor para o próprio governo, a Caixa Econômica Federal, o Inmetro, que está vinculado ao Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio, e também a organizações empresariais como a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). Então, o CB-02 participa de todas discussões, inclusive as que ocorrem dentro do PBQP-H.

O senhor atua também no ambiente acadêmico. É intenção colocar o CB-02 para servir como um intermediador entre o que se pesquisa nas universidades e o mercado?
O fato de eu, como professor docente e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) ter sido eleito pelo setor da construção civil, pelas entidades e pelos associados que estão ligados à ABNT, é uma sinalização neste sentido. O objetivo é que o meio acadêmico volte de fato a ter uma participação expressiva dentro da elaboração de normas técnicas, principalmente.

A construção civil brasileira hoje tem qualidade equiparada às melhores construções civis do mundo?
A gente caminha para isso. Hoje o gap, a diferença que existia no passado para que uma inovação fosse incorporada na nossa indústria, diminuiu muito. Atualmente, há acesso quase simultâneo aos centros mais avançados. Nós estamos numa fase de estruturação. Em função de um programa mais consistente na área de habitação, finalmente alcançamos um desenvolvimento sustentável no setor de construção industrializada. Mas é claro que ainda estamos correndo atrás do prejuízo, no sentido de desenvolver e incorporar inovações e entender que nem sempre as inovações que servem para o hemisfério norte podem ser transplantada para cá sem adaptações.

O senhor diria que o Brasil tem que evoluir mais no setor de construção habitacional, haja vista que na parte de infraestrutura o país detém um know-how interessante?
Eu não tenho dúvida. Aquilo que a gente hoje trata como sistema inovador, como sistema a base de painéis de concreto, por exemplo, foi uma solução desenvolvida no pós-guerra e que já foi introduzido no Brasil em 1975. Como é possível um sistema que já tem no Brasil há quase 40 anos ser considerado inovador? Falta um estímulo maior ao desenvolvimento de produtos voltados para a construção industrializada habitacional. Por isso temos que, na universidade, preparar estes profissionais.

Entrevistado
Paulo Eduardo Fonseca de Campos, superintendente do CB-02 (Comitê Brasileiro de Construção Civil)
Currículo

- Arquiteto urbanista graduado pela PUC de Campinas (1981)
- Mestre em Engenharia Civil pela EPUSP (1989)
- Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela FAUUSP (2002)
- Professor doutor da FAUUSP e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da mesma instituição, onde coordena o Grupo de Pesquisa DIGI-FAB - Tecnologias digitais de fabricação aplicadas à produção do Design e Arquitetura Contemporâneos, o qual se dedica à pesquisa sobre Projeto de Produto, com destaque para temas vinculados à arquitetura e indústria e ao design
- Coordena atualmente o Curso de Design da FAUUSP
- É coordenador internacional do Projeto de Pesquisa "MicroCAD" do Programa Ibero-americano de Cooperação CYTED e membro correspondente do Grupo de Trabalho sobre Pré-fabricação da FIB-Fédération Internationale du Béton. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em sistemas construtivos pré-fabricados, atuando principalmente nos seguintes temas: pré-fabricados, habitação, concreto de alto desempenho, urbanização e saneamento
- Desde março de 2012 assumiu a superintendência do CB-02
Contato: pfonseca@usp.br

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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Construção civil descobre o alpinismo industrial

Obras que exigem trabalho em altitudes acima de 40 metros podem economizar tempo e dinheiro trocando os andaimes pelos escaladores

Por: Altair Santos

Segundo a NR 18, norma que trata da segurança de andaimes e plataformas de trabalho, a altura máxima para o uso de equipamentos fachadeiros não deve exceder 40 metros. O recomendável é que obras que requeiram instalações ou inspeções acima dessa altitude utilizem alternativas como o alpinismo industrial. No Brasil, a técnica de trabalho com uso de cordas tem conseguido expandir o mercado, ganhando espaço entre grandes obras, como usinas eólicas, hidrelétricas, prédios com altura acima de 50 metros e estádios de futebol.

Alessandro Carvalho: engenheiros civis também têm se especializado em alpinismo industrial.

Além de superar obstáculos que tornam-se mais difíceis para os andaimes, o alpinismo industrial tem a vantagem de ter um custo menor. No caso dos andaimes fachadeiros - os mais utilizados na construção civil -, o preço médio é de R$ 18,00 por instalação e desmontagem do metro quadrado e a diária, dependendo da região do país, pode variar de R$ 180,00 a R$ 350,00. Há ainda o valor do frete, que também varia de região para região e pode chegar a R$ 30,00 por peça.

No caso do alpinismo industrial, o pacote fechado (montagem do equipamento e custo do profissional) tem custo médio de R$ 150 por dia. "Para a obra, a diferença de custo é enorme. Além disso, tem toda a vantagem da logística”, explica o instrutor Alessandro Carvalho, da empresa Acesso Vertical, que ministra cursos para quem quer atuar neste setor. Para formar alpinistas, as empresas que atuam no setor precisam ter a certificação IRATA (sigla em inglês de Associação Comercial de Alpinismo Industrial. O trabalho industrial de acesso por corda foi desenvolvido nos últimos 20 anos pelo IRATA Internacional, única associação ligada ao trabalho em altura no mundo.

Com a industrialização da construção civil, e o uso crescente de estruturas pré-fabricadas, o alpinismo industrial passa a ser requisitado tanto para empreendimentos habitacionais quanto para obras de infraestrutura, como pontes e viadutos. "Há um mercado crescente também na área de inspeções e instalação de fachadas. Tanto é que engenheiros civis têm procurado o curso", diz o especialista, lembrando que as obras voltadas para a Copa do Mundo de 2014 abriram mais um espaço: a instalação de coberturas nos estádios.

Alpinistas industriais em atuação no Mineirão: domínio das técnicas e segurança máxima são requisitos básicos.

Atualmente, 20 profissionais atuam no Mineirão, em Belo Horizonte/MG, com a incumbência de  montar a membrana autolimpante sobre a estrutura metálica construída a partir da marquise de concreto armado do estádio. O material, feito de dióxido de titânio, permite passagem de luz natural e oferece resistência contra intempéries. Cada membrana tem 2,2 metros de largura por 6 metros de comprimento. No total, são 13 mil m² de material, com peso totalizando 17 mil quilos. Os alpinistas industriais manejam o material a partir das passarelas laterais montadas na cobertura metálica.

O grupo trabalha a uma altura de 40 metros. Entre os equipamentos de segurança estão capacete, cinto de segurança, cordas, talabartes, trava-quedas, freios, descensores, conjunto de ascensores (peitoral e punho) e mosquetões. O conjunto completo de segurança chega a pesar 12 quilos. No caso do Mineirão, todos os profissionais têm a qualificação máxima da IRATA, que vai de 1 a 3. Significa que possuem mais de mil horas de treinamento. "O escalador industrial não precisa ser um herói na corda, mas precisa dominar as técnicas e entender os conceitos de segurança", alerta Alessandro Carvalho.

Veja vídeo de alpinistas industriais atuando no Mineirão: clique aqui

Entrevistado
Alessandro Carvalho, treinador e instrutor de alpinismo industrial
Currículo

Graduado em educação física, tem certificação IRATA para ser instrutor e diversos cursos técnicos
Contato: carvalhon3@hotmail.com

Créditos fotos: Divulgação / Sylvio Coutinho/Agência Minas

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Brasil avança no combate à patologia das construções

Associação criada há sete anos tem papel relevante no aperfeiçoamento das obras, mas alerta que existe espaço para mais conquistas

Por: Altair Santos

No início de 2014, em Foz do Iguaçu/PR, a ALCONPAT Brasil realiza o 1° Congresso Brasileiro de Patologia. O evento será uma espécie de consagração da associação criada em 2005, e que nasceu para mapear as manifestações patológicas que ocorrem na construção civil nacional. Com 150 engenheiros civis filiados, o organismo tem como premissas os estudos que levem ao controle de qualidade das obras e ao avanço tecnológico de sistemas construtivos. "O papel mais importante que a ALCONPAT Brasil desempenha é disseminar conhecimentos na área de patologia das construções e ajudar a gerar construções melhores", explica Bernardo Fonseca Tutikian, que preside a associação.

Bernardo Fonseca Tutikian: NBR 15575, NBR 5674 e NBR 14037 são fundamentais para as conquistas obtidas.

Ligada à ALCONPAT Internacional, que está presente em 18 países, a Associação Brasileira de Patologia das Construções avalia que em sete anos as construções nacionais melhoraram sensívelmente, mas ainda há espaço para agregar mais qualidade. "Os usuários estão mais exigentes, a sociedade mais atenta, as empresas mais preocupadas em construir melhor e os profissionais mais interessados em realizar trabalhos com mais qualidade. Tudo isso aprimorou as construções, mas ainda há um grande espaço para crescer", avalia Tutikian, para quem as ações do país em revisar e criar novas normas que agreguem qualidade às obras têm contribuído para os avanços na construção civil nacional.

O presidente da ALCONPAT Brasil cita que a NBR 15575 (Norma de Desempenho) a NBR 5674 (Norma de Manutenção) e a NBR 14037 (Norma do Manual de Uso, Operação e Manutenção) são fundamentais para as conquistas já obtidas. "Estas três normas prescrevem que a edificação deve ser projetada e construída pensando em um desempenho razoável para o usuário, que deve realizar as manutenções previstas e contratar um profissional para elaborar e implantar um sistema de manutenção no prédio. Desta forma, os imóveis apresentarão menos problemas, os custos de operação serão menores e a vida útil do bem aumenta, o que será benéfico para toda a sociedade", cita.

Outra conquista citada pela ALCONPAT Brasil é que hoje a engenharia sabe quais são as manifestações patológicas mais comuns em cada região do país. Em cidades litorâneas, destaca-se a corrosão das barras de aço dentro do concreto armado. Em regiões secas e quentes, como o Centro-Oeste, observa-se uma grande incidência de fissuras por retração dos materiais cimentícios. Em cidades mais populosas e industriais, como São Paulo/SP, a carbonatação é o problema mais sério. "Ou seja, as características locais, bem como a cultura de manutenção das edificações, são determinantes para o surgimento de manifestações patológicas. Mas tudo depende da qualidade do projeto, da construção, do uso e da manutenção. Edificações que realizarem melhor essas etapas terão incidência menor de patologia", descreve Bernardo Fonseca Tutikian.

Quanto aos sistemas construtivos, a ALCONPAT Brasil detecta que há mais investimentos em industrialização de processos, seja para compensar a escassez de mão de obra, seja para reduzir desperdícios de materiais ou para ganhar tempo nas construções. "É a única forma de atender a demanda do mercado. Porém, trabalhar com pré-fabricados exige projetistas qualificados e especializados nesta área. O projeto é peça-chave para o sucesso do sistema. Mas com a demanda de bons profissionais nesta área, percebe-se que as indústrias de pré-fabricados ganharão cada vez mais mercado e estarão cada vez mais presentes nas obras", estima o presidente da AlCONPAT Brasil.

Entrevistado
Bernardo Fonseca Tutikian, presidente da Associação Brasileira de Patologia das Construções (ALCONPAT Brasil)
Currículo

- Graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2002, com mestrado e doutorado em engenharia, ambos os títulos obtidos na UFRGS, em 2004 e 2007, respectivamente
- Possui especialização em materiais de construção, especificamente em dosagem de concretos autoadensáveis (CAA), sendo autor do livro Concreto Autoadensável, publicado pela PINI em 2008
- Atualmente é coordenador do curso de engenharia civil da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e professor de tecnologias construtivas, materiais de construção e patologia. Também coordena o curso de especialização em construção civil na Unisinos
- Coordena cursos de extensão, realiza serviços de consultoria técnica e ministra cursos relacionados com os temas desempenho, durabilidade, patologia, dosagem de concretos e análise de ciclo de vida de materiais e componentes
- Preside a Associação Brasileira de Patologia das Construções (ALCONPAT Brasil)
Contatos: bftutikian@unisinos.brbtutikian@terra.com.br / http://alconpat.org.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Pacote logístico abre portas para salto tecnológico

Concessões de rodovias e ferrovias são oportunidade para engenharia nacional qualificar mão de obra e inovar através de novos materiais e sistemas construtivos

Por: Altair Santos

Lançado em agosto de 2012, o Programa de Investimentos em Logística é uma nova tentativa do governo federal de dar qualidade às malhas rodoviárias e ferroviárias do país. Desta vez, 7,5 mil quilômetros de estradas e 10 mil quilômetros de linhas de ferro serão concedidas à iniciativa privada para que consigam agregar inovação e tecnologia. O investimento total está estimado em R$ 133 bilhões, com previsão de R$ 79,5 bilhões nos próximos cinco anos.

Júlio Timerman, da ABECE: oportunidade única de inovar em obras de infraestrutura.

Serão 9 trechos de rodovias e 12 de ferrovias. No caso das estradas, 5,7 mil quilômetros terão de ser duplicados. No entender de organismos como ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) ABCIC (Associação Brasileira da Construção industrializada do Concreto) e ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) é a melhor oportunidade dada ao Brasil para que consiga uma infraestrutura rodoviária e ferroviária compatível com o que há de melhor nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo.

Para o engenheiro civil Júlio Timerman - coordenador do comitê técnico de pontes e grandes estruturas da ABECE - trata-se de uma oportunidade para a engenharia nacional também evoluir nos quesitos construção de estradas e ferrovias. "A engenharia nacional deve estar preparada para fazer frente a esta demanda, qualificando a mão de obra e estudando alternativas de materiais e soluções construtivas a serem aplicadas neste processo", avalia.

A aposta é que os sistemas pré-fabricados e pré-moldados in loco, principalmente para pontes e viadutos, assim como o pavimento em concreto ganhem espaço significativo dentro do Programa de Investimentos em Logística. "Certamente, será uma chance única de se aplicar novas tecnologias e inovações para viabilizar as obras previstas, sejam em função dos prazos exíguos assim como na destinação racional dos recursos disponíveis", cita Timerman.

No caso das rodovias, o especialista indica que o estado de São Paulo tem estradas construídas com alta tecnologia que podem servir de modelo ao projeto federal. A implantação do Rodoanel, a pista descendente da Imigrantes, além de outras concessões rodoviárias no estado, são exemplos de procedimentos construtivos avançados", diz, entendendo que o grande desafio para a engenharia nacional esteja nas ferrovias. "O Brasil tem uma matriz de transporte eminentemente rodoviária. Por isso, os investimentos e os projetos ferroviários serão muito mais desafiadores. Os sistemas de trens de alta velocidade deverão ser considerados como alternativas interessantes para este processo", completa.

Veja o que prevê o Programa de Investimentos em Logística: clique aqui.

Confira os trechos rodoviários e ferroviários que serão entregues à iniciativa privada:

Entrevistado
Ministérios dos Transportes (via assessoria de imprensa) e Júlio Timernan, coordenador do comitê técnico de pontes e grandes estruturas da ABECE
Currículo
- Júlio Timerman é engenheiro civil graduado pela EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo)
- Ocupa o cargo de delegado regional da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) em São Paulo e membro do conselho deliberativo.
- É coordenador do Comitê Técnico de Pontes e Grandes Estruturas constituído pela ABECE em 2009 para propor ações para melhoria da qualidade e competitividade dos projetos e serviços ligados à construção de pontes e grandes estruturas.
- Também é vice-presidente do IABSE (International Association for Bridge and Structural Engineering) e do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto).
- Consultor na área de Projetos de Reabilitação e Recuperação de Estruturas para diversas concessionárias de rodovias, com intervenções em mais de 100 mil metros quadrados de tabuleiros.
- Diretor da Engeti Consultoria e Engenharia.
Contato: abece@abece.com.br
Créditos foto: Divulgação/ABECE

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Revisão da NBR 6118 abrange concretos de alta resistência

Segundo a engenheira Suely Bueno, que coordena a comissão da ABNT responsável pela norma, reavaliação abre espaço para novas tecnologias em torno do material

Por: Altair Santos

Em processo de revisão, a norma NBR 6118 Projeto de estruturas de concreto - Procedimento vai permitir que concretos de alta resistência, de 50 MPa a 90 MPa, sejam usados com maior segurança nas obras dentro do país. A expectativa é que ela também propicie avanços tecnológicos ao material, segundo avalia a engenheira civil Suely Bacchereti Bueno, que coordena a comissão da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) responsável pela revisão da NBR 6118. Na entrevista a seguir, ela detalha o que vai mudar em relação à edição de 2003 e quando a norma deverá entrar em vigor:

Suely Bacchereti Bueno: NBR 6118 vai permitir que novas classes de concreto cheguem ao mercado com segurança.

A edição 2003 da NBR 6118 fixava a resistência entre 20 MPa e 50 MPa como condição básica exigível para projetos de estruturas de concreto. Com a revisão em curso, serão abrangidos concretos de alta resistência?
A principal mudança na NBR 6118 é a introdução das classes de concreto com resistência acima de 50 MPa. Agora chegaremos até 90 MPa. Já estávamos utilizando em algumas obras concretos com resistências maiores que 50 MPa, seguindo as recomendações das normas internacionais, e com ótimos resultados. Acreditamos que chegou a hora de introduzir estas novas classes de concreto e assim ampliar a sua utilização.

Projetos de concreto para edificações e pontes serão os mais impactados pela norma revisada?
Não existem grandes impactos nesta revisão proposta. Diferentemente da revisão de 2003, quando nossa norma passou por uma grande reformulação, estamos fazendo apenas ajustes baseados no conhecimento que foi agregado ao longo destes anos. O conceito de revisão das normas é que está mudando. A ideia é que elas estejam em processo contínuo de evolução e que sejam publicadas revisões num intervalo máximo de cinco anos.

Após a etapa da conclusão da revisão, quando ela irá para consulta pública e por quanto tempo deverá ficar nesse estágio?
Ainda não definimos qual será o tempo que vamos indicar à ABNT para consulta pública. Acredito que o prazo não deva ser longo, pois as mudanças não foram grandes e toda a comunidade técnica tem acesso aos textos propostos de forma que nada será uma grande novidade.

A expectativa é que na consulta pública haja muitas mudanças ou a tendência é ela ser aprovada quase que com o texto original?
Nós gostaríamos que todos estivessem participando e tomando conhecimento do que está sendo proposto ao longo do processo. Estamos sempre fazendo ampla divulgação das reuniões e abertos para sugestões através do Livelink da ABNT. Qualquer pessoa pode se cadastrar no sistema, ter conhecimento ao texto que é atualizado a cada reunião da comissão e enviar sugestões utilizando o formulário que está disponível no site. Todas as sugestões serão analisadas pela comissão e receberão um retorno nosso quanto à sua aprovação, rejeição ou se esta sugestão será arquivada para a próxima revisão. Com este processo de trabalho, acredito que se as pessoas se manifestarem, dentro dos prazos, não teremos tantas questões durante o período de consulta pública. Com esta perspectiva de um processo de revisão constante tudo fica mais confortável.

Já há uma data de quando a norma passará a entrar em vigor?
Nossa norma foi aprovada pela ISO (International Organization for Standardization) em 2007, passando a ser uma norma reconhecida internacionalmente. Como signatários da ISO, temos o compromisso de atualizar ou confirmar nossos documentos a cada cinco anos. Desta forma, nosso objetivo é o fechamento do texto em 2012 e a entrega para a ABNT, estourando um pouquinho nosso prazo, mas já com um resultado para a próxima reunião da ISO que deve acontecer em junho de 2013.

Quantos especialistas estão envolvidos na revisão da norma?
Esta proposta de revisão começou com uma coleta de sugestões que foi lançada pela ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural). Recebemos inúmeras sugestões de todo o país. Foi então desenvolvido um trabalho de avaliação destas sugestões dentro do CT-301 do IBRACON em parceria com a ABECE. Tivemos a colaboração, não só dos membros do Comitê, mas também de inúmeros profissionais e pesquisadores que nos enviaram trabalhos, sugestões e que também avaliaram as propostas. Hoje temos um grupo de aproximadamente 20 especialistas que está participando mais ativamente das reuniões. Mas como eu disse antes, todos podem participar nesta revisão e nas próximas. Basta abrir mão de algumas horas, que na maioria dos casos, é tirada do nosso lazer.

Por que a NBR 6118/2003 é também chamada de norma-mãe (ou NB-01)?
Uma norma é chamada de norma-mãe quando ela define diretrizes e conceitos que serão utilizados por várias outras normas. Por exemplo, as normas de estruturas pré-moldadas, paredes de concreto, lajes alveolares não vão definir como se dimensiona uma seção de concreto armado ou protendido, pois isto está definido na NBR 6118. É que vai fornecer diretrizes específicas para os elementos que estão em foco nas outras normas. Quanto à numeração NB-1, acredito que seja porque foi a primeira norma a receber uma numeração pela ABNT. Esta história da criação da ABNT pode ser conferida num documento disponível na internet com o título de ABNT 65 anos. Ele traz todo o relato das primeiras reuniões que formaram a ABNT e a oficialização da NB-1, em 28 de setembro de 1940.

A revisão da NBR 6118/2003 abre espaço para avanços na tecnologia do concreto?
Sem sombra de dúvida. As resistências características do concreto vão crescer com certeza, incluindo um melhor detalhamento dos tipos de agregados relacionados com o Módulo de Deformação do Concreto, a influência das diversas características climáticas neste nosso país continental e uma melhor definição dos graus de agressividade, tudo isso com os devidos mapeamentos. Enfim, toda a evolução das pesquisas que estão sendo realizadas no Brasil e no mundo aplicadas ao dimensionamento das peças serão agregadas com a revisão da norma. Temos um enorme campo de desenvolvimento.

Entrevistada
Suely Bacchereti Bueno, coordenadora da comissão da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) responsável pela revisão da NBR 6118
Currículo
- Suely Bacchereti Bueno é graduada em engenharia civil pela EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo). Iniciou seu desenvolvimento na área de estrutura, em 1973 , na empresa Roberto Rossi Zuccolo Engenharia Civil e Estrutural Ltda., atuando na área de edificações e obras de arte
- Em 1980, passou a integrar o quadro de engenheiros do Escritório Técnico Julio Kassoy e Mário Franco Engenheiros Civis Ltda. onde, a partir de 1986, passa a integrar esta sociedade, desenvolvendo inúmeros projetos de edifícios Altos e obras especiais
- É vice-presidente de relacionamento da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e coordenadora da CE 02:124.15 – Comissão de Estudo de Estruturas de Concreto – Projeto e Execução, constituída pela ABNT para revisar a NBR 6118 Projeto de estruturas de concreto – Procedimento
Contato: abece@abece.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Nova regra da poupança alavanca crédito imobiliário

Relação PIB/financiamento habitacional subiu de 1,72% em 2008 para 5,62% em 2012, segundo estudos revelados pela Abecip

Por: Altair Santos

Quando houve alteração no cálculo da poupança, o mercado ficou receoso de que o volume de depósitos despencasse e comprometesse o financiamento habitacional. Passados alguns meses, ocorre exatamente o contrário. A captação da poupança tem aumentado mês a mês. Em setembro de 2012, os depósitos superaram os saques em R$ 5,951 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC). Os recursos levaram a um recorde histórico. No acumulado dos 12 meses, a captação foi de R$ 33,186 bilhões. Isso permitiu que outra marca fosse superada: a liberação de 8,25 bilhões para a aquisição e construção de imóveis em um só mês.

José Pereira Gonçalves, da Nova Sec: setor imobiliário no Brasil está muito longe de correr o risco de formar uma bolha.

Por causa dessa injeção de dinheiro nos meses recentes, atualmente há a disponibilidade de R$ 80,2 bilhões para financiamentos imobiliários através do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). A generosidade de recursos possibilitou que, desde que houve mudança nas regras da caderneta de poupança, os financiamentos de imóveis no país crescessem 31%, de acordo com acompanhamento da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança). "Só este ano foram contratados R$ 51,7 bilhões, superando ligeiramente o nível de contratações do mesmo período de 2011, que foi de R$ 51,5 bilhões", destaca o economista José Pereira Gonçalves, ex-superintendente da Abecip.

O especialista aponta que, em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) o crédito imobiliário no Brasil vem apresentando crescimento sustentável desde 2008. "Há quatro anos, essa relação era de apenas 1,72% do PIB. No começo do segundo semestre de 2012, chegou a 5,62%, ou seja, em menos de cinco anos a participação do crédito imobiliário no PIB foi multiplicada por 3,26. Nesse período, 1,8 milhão de famílias tiveram condições de adquirir moradia própria. Apesar desse extraordinário desempenho, as expectativas continuam muito positivas, indicando que será possível atingir 10% do PIB por volta de 2015", estima José Pereira Gonçalves.

O bom momento do setor se revela também nas baixas taxas de inadimplência. Dados verificados pela Abecip mostram que o número de mutuários com mais de três prestações em atraso situa-se abaixo de 2%. Se considerados apenas os financiamentos concedidos após 1997, quando passou a ser utilizada a alienação fiduciária como mecanismo de garantia, esse percentual é inferior a 1,5%. "A inadimplência não é um aspecto preocupante. Isso, no entanto, não quer dizer que as instituições financeiras poderão afrouxar as regras de concessão de crédito. O crédito continuará sendo concedido observando-se o máximo de rigor possível. Esse aspecto, inclusive, aliado à estabilidade econômica, é um dos responsáveis pelos baixos níveis de inadimplência. Vale ainda destacar que baixa inadimplência representa maior volume de recursos que pode ser reemprestado", destaca o economista, convicto de que o sistema de financiamento imobiliário no Brasil só ganhou com as novas regras da caderneta de poupança.

Para conferir o recente boletim imobiliário da Abecip, clique aqui.

Entrevistado
José Pereira Gonçalves, economista e ex-superintendente da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança)
Currículo
- Economista graduado pela Universidade Federal Fluminense, com especialização na Fundação Getúlio Vargas
- Já atuou como superintendente na Abecip e chefe de departamento na Larcky - Sociedade de Crédito Imobiliário
- Atualmente é diretor-presidente na Nova Sec (Nova Securitização S/A)
Contato: pereira@novasec.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Processos sucessórios requerem planejamento

Pequenas e médias empresas estão mais suscetíveis a procedimentos mal conduzidos, e que podem resultar até na falência da Companhia

Por: Altair Santos

sucessão nas empresas é um fenômeno que requer paciência. Normalmente, quando o dono do negócio decide transferir o comando, o processo, se feito criteriosamente, pode durar até uma década. Sobretudo se a Companhia em questão for familiar. Por isso, planejamento é a palavra-chave. Caso contrário, a sucessão pode causar disputas judiciais e até comprometer a vida da empresa. "Em geral, processos planejados são mais tranquilos. Os mais complicados são quando a sucessão ocorre por morte", alerta a consultora Cláudia Tondo, autora dos livros Desenvolvendo a Empresa Familiar e a Família Empresária e Protocolos Familiares e Acordos de Acionistas: ferramentas para a continuidade da Empresa Familiar.

Cláudia Tondo: empresas sem sucessor têm a fusão como alternativa.

A especialista destaca que os processos sucessórios exigem mais cuidados quando as corporações são familiares e com perfil de pequena e média empresa. "Normalmente, nas empresas familiares há questões emocionais muito fortes envolvidas. No caso das pequenas e médias empresas, além deste ingrediente, pode ocorrer o caso de não haver sucessores diretos. Neste caso, o recomendável é que a companhia busque a fusão ou a venda, caso contrário ela pode vir a morrer ou não ter um processo sucessório adequado", ressalta, destacando que promover esse modelo de governança é sempre mais complicado para a primeira sucessão. "Por isso, independentemente do setor de atuação da empresa, o importante é que as famílias estejam atentas e preparadas para cuidar deste assunto", completa.

Empresas que cuidam dos processos sucessórios com antecedência e transparência conseguem ganhos de produtividade e lucratividade. É o que ficou claro em um dos estudos mais completos já realizados sobre o tema. No Canadá, as professoras Stéphanie Pontet, Carsten Wrosch, Marylene Gagne, todas ligadas às áreas de administração, negócios e recursos humanos, pesquisaram 100 empresas familiares canadenses e chegaram à conclusão que quanto mais desmistificada e planejada for a sucessão menos a empresa irá sentir o período transitório. Para isso, diz a pesquisa canadense, o processo precisa envolver mais pessoas que apenas o sucessor e o sucedido.

A participação dos stakeholders (demais gerentes, parentes, empregados, fornecedores e clientes) é importante, principalmente, para balizar o processo sucessório e impedir que a empresa passe por situações de dupla liderança e potenciais conflitos durante a troca de sucessores. O grau de aceitação dos stakeholders também é fundamental para confirmar se o procedimento está adequado às exigências da empresa. "A sucessão em uma empresa familiar raramente é um evento isolado. Pelo contrário, é um processo que se desenrola por muitos anos. Começa, normalmente, com o planejamento e estabelecimento de regras, avança com o fomento e desenvolvimento de potenciais sucessores, continua com a escolha do sucessor e é finalizada com a transição completa de poder e saída do sucedido", finaliza o estudo canadense.

Entrevistada
Cláudia Tondo, consultora especializada em processos sucessórios em empresas familiares
Currículo
- Possui graduação em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1989), mestrado em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1993) e doutorado em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1999) com doutorado sanduiche na HEC-Montreal (1998-1999)
- Atua como consultora em empresas familiares e em famílias empresárias desde 1993
- É associada ao Family Firm Institute (FFI) e Family Business Network (FBN) e ao Membro do conselho de consultores do FBN - Brasil
- Está vinculada ao Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e é membro do conselho de consultores do FBN - Brasil
- Associada e professora do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)
- Organizadora e autora dos livros Desenvolvendo a Empresa Familiar e Família Empresária e Protocolos Familiares e Acordos de Acionistas: ferramentas para a continuidade da Empresa Familiar (2009)
- Sócia da Tondo Consultoria
Contato: claudia.tondo@tondoconsultoria.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Qualidade da engenharia nacional preocupa governo

Para o especialista Joel Weisz, país falhou ao não desenvolver políticas públicas que fomentassem a formação e a qualificação de engenheiros

Por: Altair Santos

Com base em informações do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de que, apesar da alta demanda, o Brasil produz atualmente apenas 38% da força de trabalho com diploma de nível superior em engenharia de que precisa, o Governo Federal decidiu agir. Recentemente colocou  a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) para analisar a crise ligada, principalmente, à capacitação no setor da construção civil. Criou-se um grupo de trabalho vinculado a 52 representantes do segmento, com o objetivo de que, até 2020, o país possa ter superado os gargalos nesta que é uma das áreas mais estratégicas para seu crescimento sustentável.

Joel Weisz: se não houver produção de engenheiros, Custo Brasil só vai aumentar.

O primeiro passo do grupo de trabalho foi promover um workshop para identificar os entraves a serem enfrentados e propor políticas públicas para o crescimento da engenharia nacional. Nesta primeira etapa concluiu-se que são sete os problemas mais relevantes:

1) A inexistência de demanda interna consistente e continuada de serviços de engenharia de projeto no país;

2) Fragilidade da estrutura de capital das empresas nacionais para contratação de projetos de porte;

3) Necessidade de aprimorar mecanismos de financiamento;

4) Carência de recursos humanos qualificados;

5) Baixa atratividade do emprego em engenharia de projetos;

6) Inadequação do marco legal e ordenamento jurídico;

7) Custo Brasil.

Para ajudar a superar esses entraves, desde 2006 a Finep mantém o Programa de Promoção e Valorização das Engenharias (Promove). A ideia é possibilitar que faculdades de engenharia, setor empresarial e escolas do nível médio e técnico interajam, combinando atividades de divulgação das áreas de engenharia e proporcionando aprimoramento contínuo de professores de ciências exatas e naturais do ensino médio (matemática e física). A partir do grupo de trabalho, a tendência é que essas iniciativas se aprofundem, com a Finep liderando esse movimento. "Esse deve ser um debate de toda a sociedade brasileira, pois refere-se ao Custo Brasil e afeta a todos", conclama o mestre em engenharia Joel Weisz.

Autor dos livros “Mecanismos de Apoio à Inovação Tecnológica” e “Projetos de Inovação Tecnológica”, Weisz entende que o Brasil enfrenta hoje um problema de carência de engenheiros mais por falta de planejamento do que investimento. "Pessoalmente, acredito que seja um problema de planejamento de longo prazo, ou melhor, de constância e continuidade nas políticas públicas. O estudante que decide estudar engenharia ingressará no mercado em cinco ou seis anos e espera permanecer por alguns decênios atuando. Porém, a inconstância nas políticas públicas e as frequentes mudanças nas regras que se observam no país não são o melhor estímulo para a formação de engenheiros", avalia.

Por isso, Weisz defende que o Brasil tenha um banco de projetos de engenharia, para que eles possam maturar e, quando colocados em prática, permitam gastar com eficiência os recursos públicos. "Esse é o caminho, mas o obstáculo para tal é essencialmente político", diz o especialista, completando que o país precisa também focar em profissões técnicas. "Educação de qualidade, aliada a uma proporção razoável de estudantes que sejam atraídos para profissões técnicas, será sempre um bom investimento. Sobretudo num país que tem tanto a construir pela frente", completa.

Entrevistado
Joel Weisz, ex-chefe de setor da Finep, ex-professor da FGV e autor de livros sobre inovação tecnológica
Currículo
- Joel Weisz é engenheiro eletricista pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e, mestre em engenharia de produção pela New York University
- Atuou em diferentes indústrias e empresas de engenharia, implantou e chefiou o departamento de engenharia industrial na Eletromar-Westinghouse, além de ter sido coordenador de planejamento e estudos econômicos na Esso Química
- Foi também superintendente financeiro da Rio Doce Engenharia e Planejamento, professor na FGV em análise de investimentos e em gestão da tecnologia e chefe várias áreas na Finep
- É autor dos livros “Mecanismos de Apoio à Inovação Tecnológica” e “Projetos de Inovação Tecnológica” e atualmente dirige a Cognética, Consultoria de Empreendimentos Ltda. com ampla carteira de projetos
Contato: jweisz@globo.com

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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Empresa analítica é sinônimo de líder de mercado

Há cinco estágios a serem superados pelas companhias que queiram adotar esse conceito de gestão em seus departamentos

Por: Altair Santos

A concepção de empresas analíticas está entre as novidades corporativas que começam a ser implantadas no Brasil. Mais do que um conceito, o método se sustenta em cinco etapas que precisam ser superadas pelas companhias para que elas atinjam esse grau de desenvolvimento. Segundo a professora Maria Angélica Lencione Pedreti, da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e das Faculdades Oswaldo Cruz, em São Paulo, as corporações líderes são as mais sintonizadas com esse modelo de gestão. "Não diria que as líderes de mercado têm mais perfil para serem líderes analíticas, mas o oposto: uma líder analítica constrói um sistema de decisões que a aproxima do sucesso de forma sustentável, por que ela analisa para competir melhor", resume.

Maria Angélica Lencione Pedreti, da FGV: escolas de administração já se preocupam em formar líderes analíticos.

Baseando-se em estudos dos pesquisadores norte-americanos Thomas H. Davenport e Jeanne G. Harris, que lançaram o livro "Competing on Analytics: The New Science of Winning", Maria Angélica Lencione Pedreti resume quais são as cinco etapas que levam as corporações a alcançar o perfil de empresa analítica. "O primeiro estágio é quando a empresa decide buscar no passado uma explicação para seus negócios, com o intuito de melhorar suas operações. No segundo, passam a ser usadas métricas para que ela faça da interpretação do passado um retorno ao investimento. No terceiro estágio, a empresa se preocupa em entender o presente e faz análises para prever o futuro. No quarto, ela passa a inovar. No quinto, encontram-se as que construíram vantagens competitivas sustentáveis", explica.

A professora da FGV destaca que, em tese, qualquer corporação pode superar os cinco estágios para se tornar uma empresa analítica, desde que ultrapasse obstáculos tecnológicos, comportamentais e gerenciais. Para isso, é necessário que ela tenha um líder analítico, cuja virtude é orientar suas decisões pelas informações corretas e saber fazer elas chegarem aos vários sistemas da companhia. Isso serve também para empresas familiares, ressalta. "Desde que a alta administração tome decisões fundamentadas em análises e não apenas em sentimentos não objetivos, as empresas familiares podem ser líderes analíticas. Para isso, elas precisam percorrer, é claro, os estágios deste processo de desenvolvimento", completa.

O conceito de empresa analítica ainda é muito recente no Brasil. "Avalio que a evolução é uma consequência. As empresas que entraram no processo anos atrás já avançaram e alcançaram estágios superiores. Seu exemplo de sucesso tende a motivar novas investidas", analisa Maria Angélica Lencione Pedreti, para quem as escolas de administração têm sido importantes por já desenvolverem disciplinas para formar líderes analíticos. "Os cursos passaram a contemplar mais horas para análises, estatística e econometria, que são habilidades essenciais aos líderes analíticos. Mas o conhecimento sobre o mercado em que se atua e a experiência também são essenciais", afirma.

No dia a dia, uma empresa analítica se manifesta na postura dos colaboradores. Funcionários que analisam cada informação antes de tomar decisões, e que a relacionam com outras informações, posicionando a companhia à frente do mercado e antecipando-se ao cliente, são os que têm o perfil para atuar nesse modelo de corporação. Segundo a especialista da FGV, organismos governamentais, por serem altamente regulados e compartilharem poucas informações, têm mais dificuldades para alcançar o grau de empresa analítica. Por outro lado, ela cita a Disney como um modelo mundial. "A Disney mantém os chamados olhos e ouvidos, que são funcionários que observam os convidados o dia todo e se antecipam às suas necessidades. Esta competência permite que ela tenha acesso a diversos mercados, o que a torna ainda mais sustentável", elogia.

Entrevistada
Maria Angélica Lencione Pedreti, da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e das Faculdades Oswaldo Cruz
Currículo
- Maria Angélica Cristino Lencione Pedreti é graduada em administração de empresas pela Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (1995) e mestre em administração de empresas pela Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (1999)
- Atualmente é professora da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, administradora na Camil Alimentos S/A e professora das Faculdades Oswaldo Cruz
- Tem experiência na área de administração, com ênfase em administração financeira, atuando principalmente nos seguintes temas: custo de capital, custos, investimento, financiamento e capital de giro
Contato: maria.lencione@fgv.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330