No Paraná, governar é recuperar estradas

Em 2013, estado planeja investir R$ 2,5 bilhões em 10 mil quilômetros de rodovias, o que engloba a construção de 399 novas pontes

Por: Altair Santos

Com recursos próprios, ou através das concessionárias de rodovias pedagiadas, o governo do Paraná planeja investir 2,5 bilhões em estradas em 2013. Os projetos englobam desde a recuperação de 10 mil quilômetros até a duplicação de outros 400, passando pela implantação de novos trechos numa extensão de 200 quilômetros. Trata-se de um pacote que está contemplado no Programa de Modernização da Infraestrutura (Proinfra) lançado no final de 2012.

Maior volume de concreto nas estradas do Paraná é empregado na construção de pontes.

Outros investimentos rodoviários dentro do Paraná, mas que ainda não saíram do papel, estão vinculados ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e dependem de recursos federais na ordem de R$ 3 bilhões. Os projetos incluem a implantação do Trem Pé Vermelho, para interligar Paiçandu a Ibiporã, entre norte e noroeste do estado, além da criação de um anel de integração, unindo as BRs 153, 163, 487 e 272 a rodovias estaduais. No mesmo pacote estaria incluída a construção do trecho paranaense da BR-101, que ligaria Garuva, em Santa Catarina, a Guaraqueçaba, no litoral norte do estado.

Segundo a secretaria de infraestrutura e logística do Paraná, nenhuma das rodovias que passarão por obras têm projetos contemplando o pavimento rígido. No entanto, não quer dizer que não haverá investimento forte em concreto. Até porque, faz parte do Proinfra construir 399 pontes em todo o estado, seja para substituir algumas de madeira que ainda existem no interior, seja para trocar estruturas já comprometidas ou para atender a demanda crescente de veículos em determinadas regiões.

Haverá também grande investimento em construções pré-fabricadas, para reformar e construir escolas no estado, erguer 76 novas delegacias e viabilizar os hospitais de Telêmaco Borba e Foz do Iguaçu, além do Jardim Botânico de Londrina e da ampliação de cinco campis da Universidade Estadual do Centro Oeste. São obras que juntas somam quase R$ 350 milhões. No Proinfra também foram incluídos R$ 950 milhões para o retrofit de 2.500 prédios públicos espalhados pelo Paraná.

Ainda está programado o investimento de R$ 34 milhões na recuperação de 32 aeroportos regionais, que incluem desde recuperação, ampliação e construção de novas pistas até a melhoria da infraestrutura para receber passageiros e cargas. Estão incluídos neste pacote os terminais de Pato Branco, Toledo, Umuarama, Siqueira Campos, Campo Mourão, Paranavaí, Palotina, Paranaguá, Guarapuava, Palmas, Goioerê e Sertanópolis.

A estimativa do governo do Paraná é que, para a construção civil, esse volume de obras gere dois mil postos de trabalho diretamente e 40 mil indiretamente.

Entrevistado
Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística do Paraná (via assessoria de imprensa)
Contato: http://www.infraestrutura.pr.gov.br
Créditos foto: Jorge Woll/SEIL/DER

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

CEPED tem forte vínculo com a construção sustentável

Foi no centro de pesquisa baiano que, em 1974, surgiram os primeiros estudos no Brasil do uso do tijolo solo cimento em larga escala na construção civil.

Por: Altair Santos

O primeiro centro de pesquisa do país a desenvolver projetos voltados para a construção sustentável foi o CEPED (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento) localizado em Camaçari, na região metropolitana de Salvador-BA. Vinculado à Universidade Estadual da Bahia (UNEB) foi lá que germinou o THABA - plano voltado para a construção de habitações de baixo custo, com base na produção de tijolos solo cimento. Em 1974, quando os pesquisadores Francisco Ferreira e Célia Neves escreveram a primeira cartilha de como produzir os artefatos misturando terra, cimento, cal e água, o objetivo era minimizar o déficit habitacional. Hoje, há uma indústria consolidada de tijolo solo cimento, que engloba não apenas a produção de peças, mas de equipamentos para o setor.

Roberto Jorge de Câmara Cardoso: especialidade do centro de pesquisa está focada nos produtos cimentícios.

Atualmente, o CEPED segue envolvido com projetos voltados para o desenvolvimento de produtos da construção civil que agridam menos o meio ambiente. "Estamos trabalhando na pesquisa de componentes à base de cimento reforçado com fibras vegetais e, em parceria com o Lactec, pesquisamos a manufatura de cruzetas a partir de materiais compósitos, para postes de sustentação de rede elétrica", explica Roberto Jorge de Câmara Cardoso, pesquisador-sênior do CEPED, lembrando que a especialidade do centro de pesquisa, no que se refere a trabalhos vinculados à construção civil, está focada nos produtos cimentícios. "Temos também uma demanda grande para realizar ensaios físicos do concreto em seus estados fresco e endurecido", completa.

Boa parte dos projetos desenvolvidos no CEPED são financiados por empresas e instituições governamentais. O centro de pesquisa também é requisitado para atuar na formulação de normas técnicas e recentemente passou a abrigar uma incubadora de empresas – a INCUBATEC -, que desenvolve programas de apoio a empreendimentos de base tecnológica, disponibilizando estrutura física e a infraestrutura de seus diversos setores. "Somos um centro de pesquisa multidisciplinar e as empresas incubadas concentram atividades nas seguintes áreas do conhecimento: química, petroquímica, mineração e metalurgia, materiais de construção civil, cerâmicos, poliméricos, meio ambiente e tecnologia de alimentos", diz Roberto Jorge de Câmara Cardoso.

Uma das virtudes do CEPED foi estimular o mercado de tijolo solo cimento, hoje bem consolidado no Brasil.

Outra função do CEPED é aperfeiçoar a mão de obra a ser absorvida pelo complexo petroquímico de Camaçari. Além disso, os trabalhos desenvolvidos no centro de pesquisa, e voltados ao meio ambiente, resultaram na criação de duas importantes instituições do setor na Bahia: o Centro de Recursos Ambientais (CRA) e a Central de Tratamento de Efluentes Líquidos (CETREL). Quanto ao programa THABA (Tecnologias Alternativas para Habitação de Baixo Custo) ele ajudou a desenvolver planos habitacionais nos seguintes municípios baianos: Rafael Jambeiro, Cícero Dantas, Formosa do Rio Preto, Teofilândia, Seabra, Morro do Chapéu, Coronel João Sá, Uauá, Palmas de Monte Alto, Iramaia, Camamu, Encruzilhada e Ibirapuã. Também levou a Caixa Econômica Federal, desde 2009, a aprovar o uso de tijolos solo cimento nos sistemas construtivos por ela reconhecidos e financiados.

Entrevistado
Roberto Jorge de Câmara Cardoso, pesquisador-sênior do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CEPED)
Currículo
- Roberto Jorge de Câmara Cardoso é graduado em engenharia química pela Universidade Federal do Ceará (1969). Tem mestrado em ciência dos materiais pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica -ITA (1973), pós-doutorado no IRC in materials for high performance applications - The University of Birmingham, Inglaterra (1994) e Ph.D (área de solidificação de metais) -The University of Sheffield (1984)
- É professor titular de materiais de construção do departamento de ciência e tecnologia dos materiais (DCTM) da UFBA. Desde 1997 também é professor permanente do mestrado em engenharia ambiental urbana (MEAU) da UFBA
- Desempenha a função de pesquisador-sênior no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CEPED) em Camaçari, na Bahia
Contato: roberto.rjc@gmail.com
Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Mentoring acelera desenvolvimento de pessoas (Podcast)

No Brasil, ferramenta é pouco usada pelas empresas, sendo que algumas delas a confundem com coaching, como revela o consultor Paulo Erlich

Por: Altair Santos

 

Paulo Erlich: mentorado deve entender o investimento da empresa nele como uma promoção.

Entrevistado
Paulo
Erlich, consultor em mentoria organizacional e em gestão da qualidade de vida no trabalho
Currículo

- Paulo Erlich é mestre em gestão empresarial, com pesquisa em mentoria
- Possui as seguintes certificações: coaching pessoal e executivo (Integrated Coaching Institute, SP, credenciado pela International Coach Federation); coaching e mentoring (Instituto Holos, SC); coaching por valores (Gestion MDS Management, Canadá); competências em Wellness Coaching (Real Balance, EUA); promoção de saúde e qualidade de vida (American University, EUA); gestão por valores e qualidade de vida (Gestion MDS Management, Canadá)
- É o primeiro brasileiro certificado como master coach trainer em coaching por valores (Gestion MDS Management, Canadá, Prof. Simon Dolan)
- Também é membro convidado do Instituto Internacional de Promoção da Saúde, da American University (EUA) eassociado da International Coach Federation, da International Mentoring Association e da ABQV (Associação Brasileira de Qualidade de Vida)
- Conselheiro da ABRH-PE (Associação Brasileira de Recursos Humanos) – seccional Pernambuco. Membro do comitê organizador do prêmio Melhores Empresas para Trabalhar em Pernambuco (Great Place to Work)
- Foi empresário e diretor de empresas durante 25 anos, atuando, entre outras, nas áreas de educação, comunicação, marketing e saúde
Créditos foto: Divulgação

Clique no player abaixo e ouça agora um resumo da entrevista. Para ouvir a entrevista na íntegra clique aqui.


Construção civil cresce quatro vezes mais que o PIB

Setor avançou 4% em 2012, segundo dados do SindusCon-SP. As melhores taxas estão ligadas à geração de emprego formal, com desempenho de 5,8%

Por: Altair Santos

Enquanto a projeção é que o PIB brasileiro em 2012 fechará na casa do 1%, a construção civil encerra o ano com um crescimento de 4%. Apesar de ter avançado num ritmo menor do que o de 2011, que foi de 4,8%, o setor comemora a geração de empregos. A taxa teve uma melhora de 5,8% em relação ao ano passado, o que significa que há atualmente 3,415 milhões de trabalhadores atuando formalmente nas obras espalhadas pelo país.

Construção civil previa crescer 5% em 2012, mas gargalos contiveram desempenho em 4%.

Segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) - o único que coleta dados nacionais do setor -, o desempenho de 2012 poderia ser melhor se não tivesse ocorrido a redução de investimentos por parte das empresas e do setor público, que mais uma vez negligenciou as obras de infraestrutura. Além disso, houve um baixo ritmo de contratações de moradias para a faixa 1 do Programa Minha Casa, Minha Vida.

De acordo com o vice-presidente de economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, o balanço de 2012 não pode ser considerado negativo, apesar de que as previsões eram de que o setor cresceria 5%. “A construção civil não teve o desempenho que esperávamos no começo do ano, mas a economia brasileira não teve o desempenho que todos esperavam. O número de 4% para o fechamento do ano não é um número ruim, apesar de também não ser tão bom. Este foi um ano de bastante trabalho e ajuste”, disse.

Para 2013, o SindusCon-SP avalia que a construção civil deve crescer entre 3,5% e 4%. “O Brasil precisa muito mais do que isso, precisa de infraestrutura, moradia, indústria e tudo o que a construção civil tem a oferecer. Se tivéssemos uma facilidade melhor para trabalhar seria muito bom, mas estamos inseridos na economia brasileira, que é de baixa produtividade”, avalia Zaidan.

Para reverter esse quadro, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) propôs recentemente ao governo federal a adoção de medidas que estão no programa Compete Brasil. Trata-se de um plano para impulsionar a construção civil nos próximos dez anos e que sugere a superação de gargalos da cadeia produtiva, através de mudanças na área de planejamento e gestão, segurança jurídica, fonte de recursos, mão de obra, tributação e eficiência produtiva. De acordo com o Compete Brasil, a construção civil representa 8% do Produto Interno Bruto (PIB) e é o quarto setor que mais emprega no país.

Estima-se que a cada R$ 1 milhão gerados pela construção, 70 pessoas são empregadas. Como ainda existem obras contratadas de 2009 e 2010, e que devem entrar em ritmo acelerado em 2013, assim como os projetos dos megaeventos Copa do Mundo e Olimpíadas, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) avalia que o setor deverá gerar ainda mais postos de trabalho no ano que vem. “Como a expectativa é de crescimento maior para 2013, acreditamos que a construção deva aumentar o número de trabalhadores em 20% no próximo ano”, destaca o vice-presidente da CBIC, José Carlos Martins.

Entrevistado
Eduardo Zaidan, vice-presidente de economia do SindusCon-SP (via assessoria de imprensa)
Currículo
- Eduardo Zaidan é graduado em engenharia civil pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Tem pós-graduação em administração de empresas pela EASP FGV-SP e MBA executivo em construção civil pela Escola de Economia da FGV-SP
- Possui mais de 30 anos de experiência no mercado imobiliário e da construção e é diretor de economia do SindusCon-SP
Contato: sindusconsp@sindusconsp.com.br
Créditos foto: Marcelo Camargo/ABr

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

NBR 15575 amplia interesse pela luminotécnica

Norma que entrará em vigor em 2013 exige que tanto edifícios habitacionais quanto corporativos tenham desempenho lumínico

Por: Altair Santos

Dentro do conceito de projetos sustentáveis, a luminosidade passou a ter um valor inestimável. Hoje, é recomendável às construções que aproveitem todo o potencial da luz natural e que saibam usar a iluminação artificial com eficiência energética e conforto visual. No Brasil, a tendência é que essa recomendação transforme-se em obrigatoriedade a partir da entrada em vigor da NBR 15575, cuja exigibilidade deverá valer a partir do primeiro semestre de 2013.

Luis Lancelle: boa iluminação é aquela que faz o indivíduo enxergar os detalhes dos objetos.

Segundo a norma, os edifícios deverão ter desempenho lumínico, o que, para o engenheiro Luís Lancelle - professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em luminotécnica -, irá ampliar o interesse pela boa iluminação, principalmente sob o ponto de vista do usuário. Para ele, a partir da NBR 15575, conceitos de luminosidade não se limitarão à arquitetura e à decoração de ambientes, mas passarão a ser incorporados pela engenharia civil. É o que ele comenta na entrevista a seguir:

A importância dada à luminotécnica nos projetos arquitetônicos é um fenômeno novo?
Não é um fenômeno novo, mas cada dia mais abrangente. A luminotécnica começou no final do século 19, ou seja, na revolução industrial. Naquela época, ela orientava para iluminar as linhas de produção de tal maneira que se obtivesse melhor performance dos operários. Com o decorrer do tempo, tornou-se mais abrangente, até chegar à luminotécnica como a entendemos, e que nasceu como um subproduto da Segunda Guerra Mundial, onde se passou a valorizar o conceito de conforto ambiental a partir do conforto visual. Assim desenvolveu-se a luminotécnica, que é propiciar um ambiente devidamente iluminado, para que ele seja confortável por aquele que irá usufruí-lo.

Com a filosofia dos prédios verdes é que a luminotécnica ganhou mercado?
Sim, pois a partir deste momento é que foi possível compreender que a luminotécnica não é jamais o uso exclusivo da luz artificial. Luminotécnica decorre de preceitos de sustentabilidade, que estão fundamentados no uso concomitante de luz artificial com luz natural. Logicamente, a filosofia dos prédios verdes ajudou a fundamentar isso.

Um projeto que contempla bem a luminotécnica traz quais tipos de vantagem?
Em todas as áreas em que pode ser aplicada, a vantagem maior é a de criar um ambiente confortável para o individuo. Consequentemente, ela afeta outras áreas. Comprovadamente, em setores comerciais a boa iluminação incentiva as vendas. Em indústrias, favorece a produção, ou seja, a eficácia em todas as atividades que precisam de iluminação melhora quando a iluminação correta é aplicada.

A luminotécnica hoje tem sido empregada mais em ambientes corporativos ou em construções habitacionais?
Em todas as áreas. Por isso, destaco aqui uma frase de Oscar Niemeyer: “Uma boa iluminação levanta uma arquitetura medíocre, porém uma má iluminação acaba com o melhor projeto”. Ou seja, um projeto arquitetônico bem feito pode ser denegrido pelo mau uso da iluminação. No entanto, um projeto que não é extraordinário pode ser valorizado com uma boa iluminação.

Os prédios habitacionais que têm sido construídos demonstram preocupação com a luminotécnica?
Cada vez mais crescente. Até porque, a luminotécnica aplicada aos ambientes residenciais deixou de ser uma questão de poder aquisitivo. Hoje, todos que compram um imóvel, seja casa ou apartamento, têm essa preocupação. Tive o caso de um casal que me procurou para que eu deixasse o apartamento deles com uma iluminação semelhante à que aparecia em uma novela. Fiz um projeto com baixo custo e o resultado gerou uma boa iluminação.

A NBR 15575, para edifícios residenciais até cinco pavimentos, tende a contemplar a luminotécnica nestas construções?
Sem dúvida, a chamada norma de desempenho era o que faltava para a luminotécnica se consolidar. Ela exige desempenho lumínico das construções e, mais importante, ela dá poder ao usuário de decidir se o ambiente está bem ou mal iluminado. Isso significa que o consumidor deve ser consultado e a opinião dele deve ser a referência no espaço construído.

O que mais interfere na iluminação de ambientes?
A própria iluminação. Vou explicar: durante um longo tempo, a luminotécnica foi fundamentada na tese de que o objeto deveria ser bem iluminado. Hoje, o que interessa é como o ser humano vê este objeto. Quer dizer, o indivíduo necessita que sejam fornecidas informações precisas sobre o que ele está enxergando. Dentro deste conceito, o iluminamento de um ambiente deve ser preciso. Por isso, o que mais interfere na iluminação de um ambiente é um projeto malfeito, que exceda os níveis de iluminamento necessário e fira o observador através do fenômeno de ofuscamento.

Como as novas tecnologias têm sido aplicadas na luminotécnica?
No caso da iluminação artificial, todas as pontes que permitiram utilizar equipamentos que gerem performance lumínica com equipamentos ecoeficientes. Já em termos de iluminação natural, tudo aquilo que permite usar corretamente a parte lumínica da luz natural, mas sem gerar carga térmica. Para utilizar corretamente a luz do sol, temos que ter determinados tipos de elementos e formas de atuar para desprover ela da carga térmica que provocaria injetar mais energia no ambiente e comprometer seu condicionamento hidrotérmico. As novas tecnologias têm favorecido as fontes mais eficientes de luz artificial e o uso da luz natural com menor carga térmica.

Comparativamente a outros países, a luminotécnica no Brasil está bem difundida ou ainda seu foco de atuação é limitado?
Sobretudo nos países europeus há uma conscientização grande sobre sustentabilidade. Lá, eles vêm desenvolvendo projetos em que o impacto ambiental é cada vez menor. O Brasil vem perseguindo esse modelo. Hoje há várias pesquisas no ambiente acadêmico sobre esse tema. O desafio, agora, é fazer isso chegar ao usuário e fazer ele saber que pode dispor desses recursos para conviver em um ambiente melhor iluminado, seja em seu ambiente de trabalho ou na moradia.

Entrevistado
Luis Lancelle, especialista em luminotécnica e professor da USP
Currículo
- Luis Lancelle é engenheiro civil graduado pela Universidade de Buenos Aires (UBA) e ela USP (Universidade de São Paulo)
- Tem mestrado em engenharia de sistemas (UBA)
- É docente, coordenador pedagógico e orientador de cursos de pós-graduação nas áreas de engenharia e arquitetura.
- Ocupa o cargo de coordenador da área de software de iluminação da Divisão 3 do CIE-Brasil (Comission Internacionale de l´Eclairage)
- Também é consultor, designer de iluminação e especialista em software de iluminação
Contato: luis@lancelle.com.ar

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Smartphones e tablets transformam canteiros de obras

Aparelhos formam o novo "kit do engenheiro". Através de aplicativos, é possível gerenciar a obra e até saber o tipo de cimento certo para cada aplicação

Por: Altair Santos

A gestão de obras conta com um novo "kit" para os engenheiros civis. São os smartphones e os tablets, que com o auxílio de aplicativos tornaram o trabalho no canteiro uma ação em tempo real com as sedes das construtoras. "Quando se pode trocar informações on-line com todos os níveis da organização, fica fácil aplicar correções e prever desempenhos futuros, além de reprogramar atividades no canteiro de obras para evitar custos extras e atender o cronograma planejado", afirma Adriana Bombassaro Alexandre, diretora de produtos da Teclógica, uma das primeiras empresas brasileiras a lançar soluções móveis para o mercado de construção civil.

Adriana Bombassaro Alexandre, da Teclógica: setor habitacional está mais ligado aos avanços tecnológicos.

O Brasil ainda não atingiu o nível já alcançado por Estados Unidos, China, Japão, Coreia do Sul e os principais países europeus, onde as inovações de TI (Tecnologia da Informação) para os canteiros de obras praticamente tornaram-se uma obsessão das construtoras para que elas consigam maior produtividade por menor custo. No entanto, os avanços têm sido significativos, principalmente entre as empresas que atuam no setor habitacional. "Houve um crescimento significativo da TI nos canteiros de obras, sobretudo após a instalação do programa Minha Casa, Minha Vida. Mas percebe-se também que as obras de infraestrutura estão cada vez mais conectadas com essas soluções, uma vez que a mobilidade que elas oferecem facilita, e muito, o trabalho das equipes", resume Adriana Bombassaro Alexandre.

A especialista, no entanto, faz uma ressalva, lembrando que boa parte das construtoras ainda utiliza smartphones e tablets, mas para uso de aplicativos que não são específicos para a gestão de canteiros de obras. Segundo ela, as empresas têm um conceito equivocado de que esses dispositivos sejam caros e, por isso, se ressentem de usar a tecnologia. "Quando elas levam em conta o ROI (Retorno sobre Investimento) gerado com a utilização dessas novas tecnologias, percebem que a alavancagem dos métodos construtivos torna-se muito mais lucrativo", explica.

Outro ponto destacado por Adriana Bombassaro Alexandre é que os aplicativos voltados para os canteiros de obras primam pela interatividade. Com isso, segundo ela, smartphones e tablets não se tornam apenas "kits do engenheiro", mas de outros envolvidos nos canteiros de obras, como mestres de obras, encarregados e operários. "Como todo mundo hoje sabe manusear um celular, não precisa de nenhuma qualificação específica para operá-los. Claro que há dispositivos mais sofisticados, como os que atuam com arquivos CAD, que requerem mais conhecimento. Mas há aplicativos para vários setores das obras, uns mais simples e outros mais sofisticados", revela.

No Brasil, alguns aplicativos, como o Mobuss Construção Civil, estão entre os mais usados nos canteiros de obras.

No caso do Mobuss Construção Civil, desenvolvido pela Teclógica, é possível fazer análises parciais entre o executado e o planejado durante o dia nas obras, ou mesmo nos escritórios das empresas, garantindo um maior gerenciamento de custos e riscos. O sistema permite controle de produtividade e dos materiais utilizados no empreendimento. Também gerencia equipamentos e perdas (quebras de equipamentos, chuva, ociosidade, etc) faz análise dos processos de recursos humanos (horas trabalhadas, folgas e faltas) e gerencia a área de segurança, sempre fornecendo subsídios para redução de custos e controle da sustentabilidade ambiental. “Para o desenvolvimento da solução, nossa equipe dedicou meses no entendimento do negócio construção civil e visitou obras em todo o país. Também contamos com a parceria de duas construtoras que conduziram os testes-piloto”, diz a diretora de produtos da empresa.

Combate aos custos

A racionalização do uso de materiais, componentes em obras e produtividade dos recursos tem sido motivo de estudos e pesquisas, além de permanente discussão do setor de construção civil. Um dos estudos mais recentes na área foi realizado pela Escola Politécnica da USP e pelo SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo). Ele envolveu 16 universidades brasileiras e 100 canteiros de obras. A conclusão foi que o desperdício chega a índices relevantes de até 28%.

Além do desperdício, a indústria da construção civil ainda tem que encarar os custos das obras, que estão em crescimento contínuo. Segundo cálculos do SindusCon-SP e da FGV (Fundação Getulio Vargas) que juntos analisam o CUB (Custo Unitário Básico) da construção civil do Estado de São Paulo, por mês, em média, o preço dos materiais de construção se elevam 0,14% e a mão de obra aumenta 0,06%. "Esses dados apontam para uma tendência das empresas brasileiras buscarem cada vez mais recursos tecnológicos para um maior controle e gerenciamento dos canteiros de obras", finaliza Adriana Bombassaro Alexandre. 

Cimento Itambé - Agora em embalagem digital

Hoje, esse tipo de dispositivo ajuda também na escolha do melhor cimento para cada tipo de necessidade. A Cimento Itambé acaba de disponibilizar um novo serviço gratuitamente.

Com o aplicativo para Android e iOS (iPhone e iPad), é possível verificar o desempenho de cada tipo de cimento, com base nos ensaios feitos pela Itambé em comparação com as normas da ABNT. A Itambé produz cinco tipos de cimento:  CP II-F-32, CP II-Z-32, CP IV-32, CP V-ARI e CP V-ARI RS. O dispositivo ainda apresenta as especificações e a melhor aplicabilidade de cada produto.

O aplicativo está disponível na App Store para iPhone e iPad e também no Google Play para os smartphones com sistema Android.

Baixe o aplicativo e saiba como usar em sua obra: App Store ou Google Play.

Entrevistada
Adriana Bombassaro Alexandre, diretora de produtos da Teclógica
Currículo

- Graduada em ciência da computação pela Universidade Regional de Blumenau (FURB)
- Trabalha na Teclógica, empresa localizada em Blumenau-SC, que há 18 anos atua em gestão dos processos de TI (Tecnologia da Informação)
- Liderou a equipe que atuou no desenvolvimento do Mobuss Construção Civil, aplicativo voltado para a gestão de canteiros de obras
Contato:
marketing@teclogica.com.br www.teclogica.com.br
Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Centenária, engenharia civil da UFPR mira o futuro

Ao completar um século, curso calcula ter graduado mais de 20 mil engenheiros e ajudado a construir as principais obras da América do Sul

Por: Altair Santos

Fundada em 19 de dezembro de 1912, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) comemora um século. Trata-se da primeira escola de ensino superior do país a adotar o conceito de universalização para cursos de graduação. Antes, havia apenas faculdades, como as de medicina e de engenharia. Com a UFPR, o mesmo espaço acadêmico passou a ser dividido pelos cursos de ciências jurídicas e sociais (direito), medicina e cirurgia, comércio, odontologia, farmácia, bioquímica e engenharias. "O curso era de engenharias, por que quando a universidade foi fundada aprendia-se um pouco de cada especialidade, de civil a elétrica, passando por mecânica, química, etc", explica Marcos Antônio Marino, um dos mais experientes professores da graduação de engenharia civil da universidade.

Marcos Antonio Marino, professor-doutor da UFPR: tradição é o maior valor do curso de engenharia civil.

Em seus primórdios, a UFPR chamava-se Universidade do Paraná. Viabilizada pelos paranaenses ilustres Victor Ferreira do Amaral e Nilo Cairo da Silva, em 1915 ela já tinha seu prédio próprio, erguido na praça atualmente conhecida como Santos Andrade, no centro de Curitiba. Até 1951, quando foi federalizada, o edifício histórico abrigou todos os cursos da escola. Depois, a universidade começou a expandir. Em 1961, surge o centro politécnico, que passa a abrigar as graduações de engenharia. Isso, segundo Marcos Antônio Marino, reforçou a vocação da engenharia civil de formar "grandes cabeças" para o Paraná. "Tivemos governadores e ministros saídos de nosso curso. Até hoje ele continua fornecendo massa cinzenta para o desenvolvimento do estado", diz.

A engenharia civil da UFPR também ajudou a formar personalidades em toda a América do Sul, como relata Marino: "Até 1970 havia cursos de engenharia civil em Curitiba e em Porto Alegre. O de Florianópolis (UFSC) estava começando. No resto do continente, tinha cursos em Montevidéu, Buenos Aires e Santiago. Eram poucas escolas. Paraguai e Bolívia, por exemplo, não tinham cursos de engenharia. Desta forma, muita gente da América do Sul vinha estudar em Curitiba", relembra, que num cálculo aproximado estima que em 100 anos a engenharia civil da UFPR ajudou a formar pelo menos 20 mil engenheiros. "Temos tradição, um curso consagrado, sacramentado, e que faz o menino que chega aqui ver o espelho do passado", ressalta Marcos Antônio Marino.

A fase mais difícil da engenharia civil da UFPR foi vivida nos anos 1980 e 1990. A crise que abateu a construção civil atingiu também o aprimoramento do curso. Houve pouco investimento na modernização de laboratórios, mas nos cinco anos recentes os recursos voltaram a ser liberados. O novo interesse dos jovens pela engenharia civil também revitaliza a graduação. "Em 2006, a disputa do vestibular da engenharia civil era de 4,4 candidatos para uma vaga. Em 2012, chegou a 13 por vaga", recorda Marino, definindo como será o engenheiro civil que a UFPR está preocupada em formar no futuro: "O papel da nova engenharia civil é preservar o meio ambiente. A Universidade Federal do Paraná, assim como sempre esteve, está preparada para esse desafio", finaliza.

Prédio histórico da UFPR, em Curitiba: o primeiro a abrigar o centenário curso de engenharia civil.

Confira a linha do tempo da UFPR: clique aqui

Entrevistado
Marcos Antônio Marino, professor titular do curso de engenharia civil da UFPR
Currículo
- Marcos Antônio Marino é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Paraná (1969)
- Tem mestrado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (1978) e doutorado em civil engeneering pela University of New Mexico (1981)
- Atualmente é professor titular da Universidade Federal do Paraná. Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em estruturas, atuando principalmente nos seguintes temas: reinforced concrete, colunms e biaxial bending
Contatoengcivil@ufpr.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

ABCP capacita fabricantes de blocos de concreto

Até 2013, Associação Brasileira de Cimento Portland espera ter qualificado profissionais de 50% das empresas do setor espalhadas pelo país

Por: Altair Santos

Dados mais recentes da Bloco Brasil (Associação Brasileira dos Fabricantes de Blocos de Concreto) mostram que o setor conta atualmente com 1.300 fabricantes em todo o país. Destes, no entanto, apenas 150 possuem o selo de qualidade da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland). Para conseguir atingir mais produtores, há seis anos surgiu o Programa de Desenvolvimento Empresarial (PDE) promovido em parceria entre a ABCP e o Sebrae. O objetivo é levar capacitação da mão de obra e melhor gestão às empresas. "O programa é voltado a micros, pequenos e médios fabricantes de blocos de concreto, para melhorar a qualidade do produto, aumentando a produtividade e a competitividade", explica Eduardo D’Ávila, coordenador do PDE e gerente regional da ABCP no Rio de Janeiro.

Blocos de concreto: bem construídos, eles tornam fábricas mais competitivas.

Com a consolidação do programa, a meta agora é estendê-lo a todos os fabricantes do país. Para 2013, já há um plano ambicioso: atingir 50% das empresas. No entender da ABCP, a necessidade de capacitação aumentou com o crescimento da indústria da construção civil de 2008 para cá, quando as pequenas e médias empresas ampliaram suas oportunidades e passaram a atender a uma demanda maior. “Nesse cenário, a capacitação profissional passa a ser um diferencial, já que é preciso ter uma boa gestão de custos e garantir a qualidade que o mercado exige”, afirma Eduardo D’Ávila, explicando que o PDE permite realizar análises do processo de produção, identificar deficiências e elaborar soluções para o desenvolvimento das empresas, de acordo com a região em que estão instaladas.

A ABCP relata que, em alguns casos, fábricas que aderiram ao Programa de Desenvolvimento Empresarial praticamente dobraram a produtividade. Graças a esse avanço, em 2012, segundo dados da Bloco Brasil, o país se aproximou da produção mensal de 60 milhões de artefatos. Esse número, no entanto, leva em consideração apenas as empresas credenciadas e que contam com o selo de qualidade da ABCP. Para ampliar o espectro, os esforços concentram-se em atrair os fabricantes que não estão vinculados às associações. Atualmente, esse trabalho tem sido feito com mais relevância na região nordeste. Na Bahia, por exemplo, onde o PDE age desde 2010, a produtividade cresceu 60%, com investimento em novos equipamentos, qualificação da mão de obra e redução de perdas no processo de fabricação.

Além de levar conhecimento às várias regiões do país, a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) também promove cursos em seus laboratórios, em São Paulo. Os mais recentes ocorreram em novembro de 2012 e tiveram o objetivo de capacitar empresários que estão entrando no mercado da construção civil para produzir blocos de concreto. A orientação abrange escolha do local para instalação da indústria, cenário nacional de cada setor e investimentos necessários, além de fornecer ferramentas para que o processo de fabricação de blocos de concreto seja feito com material de qualidade e controle nos custos de produção. “Estamos no caminho certo. Nosso trabalho tem levado a um aumento da capacidade de produção no conjunto das empresas e a uma maior diversificação de produtos”, finaliza Eduardo D’Ávila.

Entrevistado
Eduardo D’Ávila, coordenador do PDE e gerente regional da ABCP no Rio de Janeiro (via assessoria de imprensa da ABCP)
Currículo
Eduardo D’Ávila é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (1992) e com pós-graduação em estruturas pela Ulbra, em Canoas-RS, em 1995
Ajudou a fundar a Blocosul - associação de fabricantes de blocos do Sul do país - e comandou o escritório da ABCP até 2002, quando assumiu a gerência regional da ABCP no Rio de Janeiro
Contato: eduardo.davila@abcp.org.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Da régua de cálculo ao BIM, o que mudou na engenharia?

Uma das maiores autoridades em engenharia do Brasil, Mario Franco criou um museu particular onde é possível viajar ao longo de 60 anos na história das estruturas. Mesclando equipamentos primordiais, como a régua de cálculo, com seu vasto conhecimento, Franco, atualmente com 83 anos, traça uma linha do tempo que mostra ferramentas, metodologias e a evolução dos projetos que nortearam principalmente as construções de edifícios no país - desde a década de 1950 até os dias atuais.

Mário Franco: decano da engenharia civil brasileira.

Nos anos 1950, fazendo da régua de cálculo uma companheira inseparável, os projetistas se baseavam no Método de Cross para criar vigas contínuas e pórticos indeslocáveis e deslocáveis, e que se resolviam apenas com as quatro operações fundamentais. Foi assim que surgiram verdadeiras obras de arte, como o teatro Castro Alves, em Salvador, e o edifício Itália, em São Paulo, o qual foi concebido com pilares de 12 centímetros de espessura e tornou-se o primeiro do país a contar com degraus balanceados nas escadas.

Ao final dos anos 1960 surgiram as primeiras máquinas eletrônicas, que trouxeram incorporadas teclas que permitiam calcular a raiz quadrada. Ao preço de um carro popular da época, esses equipamentos foram os precursores dos computadores e começaram a decretar a aposentadoria da régua de cálculo. Um símbolo daquela época foi a Olivetti Programma 101, que possibilitou evoluções significativas nos projetos de lajes. "Surgiram os primeiros programas matriciais, sem contar que nessa época éramos muitos bons de matemática", recorda Franco.

Toda essa "tecnologia" permitiu a criação de construções mais esbeltas. Em São Paulo, o escritório de Mario Franco - o JKMF - projetou um prédio-garagem de 90 metros de altura e 9 metros de largura. Também rendeu ao engenheiro estrutural um prêmio internacional, com a criação do edifício Peugeot, que seria construído em Buenos Aires, na Argentina, e se propunha a ser o maior do mundo em concreto armado. Infelizmente, o projeto não saiu do papel, mas abriu portas para novos avanços.

Com o surgimento de calculadoras eletrônicas, como a Contex, veio a oportunidade de projetar vigas contínuas e de se pensar na protensão de edifícios. Já entre o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, usando programas de análises matriciais que permitiam cálculos de meio elástico contínuo, surgiu a primeira construção industrial em pré-fabricado no Brasil. Foi a fábrica da Gessy Lever, em Indaiatuba-SP. "Ficou tão bom o projeto que os ingleses levaram a ideia para construir outras fábricas pelo mundo afora", recorda Mario Franco.

A grande "evolução", porém, ocorreu na década de 1980, quando a calculadora HP 9845, da Hewllet Packard, possibilitou projetar as primeiras vigas em Concreto de Alto Desempenho (CAD) e se pensar na estabilidade global dos edifícios usando o método P-Delta. O símbolo desta fase é o edifício do Citibank, com 93 metros de altura e 20 andares, considerado até hoje um dos marcos arquitetônicos da Avenida Paulista, em São Paulo. "Para projetar aquele edifício, também precisamos contar com a intuição", releva Mario Franco.

Com a chegada dos anos 1990 vieram os PCs, os quais mergulharam a engenharia estrutural no que os especialistas chamam de "época gloriosa". Pelo motivo de que os computadores permitiram a automatização dos projetos, acoplados a ensaios aerodinâmicos e análises de vibração. Conforme as máquinas foram evoluindo, vieram projetos de prédios mais complexos. "As ferramentas possibilitaram criar edifícios inteligentes, com integração interdisciplinar e focados na busca da qualidade total. Hoje, vivemos a era do BIM (Building Information Modeling) e da valorização da robustez. E o que é robustez? É a capacidade que uma estrutura tem de resistir ao imprevisível. É para isso que toda essa evolução nos trouxe", finaliza Mario Franco.

Entrevistado
Mário Franco, engenheiro especializado em cálculos estruturais
Currículo
- Nascido em Livorno, Itália, em 1929, Mario Franco é graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da USP, em 1951, e tem doutorado pela mesma escola, em 1967
- Foi professor da FAU/USP entre 1971 e 1998
- É considerado uma das maiores autoridades em engenharia estrutural do país
- Desde 1952 comanda o escritório da KPMF, junto com seu sócio Julio Kassoy
Contato: jkmf@jkmf.com.br / http://www.jkmf.com.br

Créditos foto: Divulgação/ABECE

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

2013 será o ano da produtividade no Brasil

Economistas Evaldo Alves, da FGV, e Renato Garcia, da Fundação Vanzolini, apontam desafios a serem superados para que país retome crescimento sustentável

Por: Altair Santos

A aposta do país, feita no período de 2008 a 2012, de crescer à base do endividamento da classe média, é uma fórmula esgotada, segundo avaliam especialistas. A solução, a partir de 2013, será concentrar esforços para aumentar a produtividade e a competitividade da indústria nacional. É desta tese que compartilham Evaldo Alves, da Fundação Getúlio Vargas, e Renato de Castro Garcia, da Fundação Vanzolini. "A economia brasileira está encolhendo por conta desta baixa produtividade. Portanto, a questão da produtividade vai ser colocada naturalmente no centro das preocupações. Ela é a única ferramenta para a expansão sustentável do crescimento", avalia Evaldo Alves.

Renato Garcia: empresas precisam melhorar seus produtos e seus processos produtivos.

Para o professor Renato de Castro Garcia, para que o estímulo à produtividade encontre um ambiente favorável no Brasil será preciso que as empresas aproveitem as medidas governamentais para aumentar a eficiência. "O governo tem buscado incentivos através da desoneração da folha de pagamento, da redução de juros e do barateamento do custo da energia. São medidas que poderão trazer resultados significativos, desde que o setor industrial, principalmente, retome o nível de investimento. Por outro lado, não se pode ignorar que as decisões de consumo estão comprometidas pelo elevado endividamento das famílias", destaca.

Evaldo Alves reforça que é preciso saber dividir o protagonismo do setor privado e do setor público. Para ele, o governo precisa dar mais estímulo às Parcerias Público Privada (PPPs) para alavancar a infraestrutura do país nos setores de energia, comunicação e transporte. Já as empresas precisam melhorar a eficiência produtiva, gerando produtos com mais qualidade e preços mais competitivos. "A produtividade deve ser um desafio permanente, mas precisa ser acompanhada por iniciativas do governo, cuja função é melhorar a plataforma produtiva em termos de infraestrutura, energia, comunicação e transporte", ressalta o economista da Fundação Getúlio Vargas.

Evaldo Alves: produtividade dentro da empresa é um desafio permanente.

Especificamente para a construção civil, os economistas avaliam que o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) continuará como o principal propulsor para a produtividade do setor. Segundo eles, por uma razão simples: o MCMV tem recursos permanentes para sua implementação, oriundos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e da poupança. Bem diferente das previsões feitas pelos especialistas para os programas PAC e Brasil Maior. "É preciso melhorar a capacidade gerencial do governo para que esses programas decolem. Existem recursos, mas falta planejamento", diz Evaldo Alves. "Também preciso destacar que esses programas (PAC e Brasil Maior) são medidas paliativas que pouco influenciam na produtividade das empresas", completa Renato de Castro Garcia.

Na opinião dos especialistas, mais do que criar programas o governo deveria ser menos intervencionista para incentivar a produtividade. "Todo intervencionismo provoca uma retração dos investidores, que ficam com receio de serem obstaculizados e verem prejudicado a taxa de lucro, que é a base de todo o sistema econômico do mercado", avaliam. Ainda de acordo com os economistas, quanto mais amigável a plataforma econômica mais ela abrirá caminho para a produtividade. "A empresas buscam marcos regulatórios transparentes. Normalmente, num ambiente assim, a produtividade prolifera", explica Evaldo Alves.

Entrevistados
Professores de economia Evaldo Alves, da FGV, e Renato de Castro Garcia, da Fundação Vanzolini
Currículos
- Evaldo Alves tem graduação em administração - com habilitação em administração pública, pela Fundação Getulio Vargas (1972) - e mestrado em economia pela FGV (1982), além de doutorado pela Universidade de São Paulo (2002)
- Atualmente é diretor da FGV Projetos-SP e professor extracarreira da Fundação Getulio Vargas-SP. Tem experiência na área de economia, economia internacional, administração e educação
- Renato de Castro Garcia é graduado em economia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1991), mestre (1996) e doutor (2001) em economia pela Universidade Estadual de Campinas
- Atualmente é professor do departamento de engenharia de produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em regime de dedicação exclusiva (MS3; RDIDP)
- Seus trabalhos de pesquisa estão inseridos na área de economia, com ênfase em economia industrial e da tecnologia, atuando principalmente em temas como sistemas locais de produção e aglomerações de empresas, interações universidade-empresa, indústria brasileira, política industrial, estratégias empresariais e metodologia de análise regional
Contatos: imprensa@vanzolini.org.br / http://prof.evaldoalves.com/Prof._Evaldo_Alves/Entrevistas_.html / @profevaldoalves (twitter)

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330