Pneu inservível viabiliza concreto sustentável

Em 2010, material foi testado em ciclovia de parque em Uberlândia-MG. Três anos depois, ele apresenta resistência e durabilidade aceitáveis

Por: Altair Santos

O Parque Linear de Uberlândia-MG, inaugurado em 2010, foi o primeiro do Brasil a ter uma ciclovia construída com concreto sustentável. O material, desenvolvido na Universidade de Uberaba (UniUbe), tem em sua composição parte da areia substituída por borracha de pneu inservível. Nos testes realizados no departamento de engenharia civil da universidade foram usados 15,5 pneus triturados para cada metro cúbico de concreto, além da inclusão de aditivo químico plastificante. Isso garantiu resistência de 21,6 MPa à ciclovia. "Passados três anos de execução da obra, estamos testando sua durabilidade e se houve perda de resistência. Diríamos que estamos entrando na etapa conclusiva do projeto", explica Vanessa Rosa Pereira Fidelis, professora de materiais e tecnologia da construção civil na UniUbe.

Ciclovia no Parque Linear de Uberlândia: para cada m³ de concreto, 15,5 pneus inservíveis.

Antes de chegar ao número ideal de pneus para cada metro cúbico de concreto, foram testadas as substituições de 50%, 25% e 12,5% do agregado miúdo por borracha triturada. Para cada um dos percentuais alcançou-se as respectivas resistências: 4 MPa, 9 MPa e 16 MPa. A partir da análise desses traços, decidiu-se pela inclusão de aditivo químico plastificante, reduzindo-se a borracha para 9% (15,5 pneus/m3) e conseguindo-se resistência de até 21,6 MPa. "O concreto produzido tem aplicabilidade direcionada para pisos, por possuir menor resistência à compressão e proporcionar redução de impacto para quem utiliza a via. Mas verificou-se também que pode ser possível a utilização em painéis de vedação, por eles requererem menor resistência à compressão do concreto", reitera Vanessa Rosa Pereira Fidelis.

A partir da iniciativa de substituição de parte do agregado miúdo por borracha de pneus, a UniUbe desenvolveu outros projetos relacionados ao concreto, como a adição de resíduo industrial na produção de tijolos solo-cimento e a produção de concreto não-estrutural. Tratam-se de materiais ainda em teste, ao contrário do empregado na construção de ciclovias, que já tem até uma fórmula para a obtenção do concreto ideal. A composição envolve 240 kg de cimento CP V-ARI, 374 kg de areia fina, 554 kg de areia grossa, 1.015 kg de brita, 1,80 kg de borracha, 195 litros de água e 0,96 litro de aditivo. O próximo passo é conseguir baratear o custo desta produção, haja vista que a trituração da borracha excede o valor do agregado miúdo. "Parcerias com empresas de recapagem de pneus, que precisam descartar parte de seus resíduos, podem minimizar o preço", diz a professora da UniUbe.

Outra dificuldade - e aí não é exclusividade da Universidade de Uberaba - é conseguir com que a inovação acadêmica seja absorvida pelo mercado. "Entendemos que o processo ainda é lento em comparação com outras áreas. Entretanto, devido à escassez dos recursos naturais e ao aumento da produção de resíduos, a expectativa é de que o mercado acate mais rapidamente as inovações", avalia Vanessa Rosa Pereira Fidelis. "Espera-se que com a etapa de verificação de desempenho do material, que se dá três anos depois da fabricação da ciclovia, fique comprovada a eficiência. Com isso, empresas do setor e outras prefeituras podem se sentir estimuladas em buscar parcerias", conclui Carlos Henrique Barreiro, diretor do curso de graduação em engenharia civil da UniUbe.

Entrevistados
Carlos Henrique Barreiro, diretor do curso de graduação em engenharia civil da UniUbe, e Vanessa Rosa Pereira Fidelis, professora de materiais e tecnologia da construção civil na UniUbe
Currículos

- Carlos Henrique Barreiro é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal de São Carlos (1988), com mestrado em engenharia de transportes pela Universidade de São Paulo (1997)
- Atualmente é diretor do curso de graduação em engenharia civil da UniUbe (Universidade de Uberaba). Também dirige a modalidade Ensino a Distância (EAD) do curso de graduação em engenharia civil, da Universidade de Uberaba - Campus Uberlândia
- Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em trânsito e transportes - estradas e aeroportos, atuando principalmente nos seguintes temas: projeto pedagógico (modalidades presencial e a distância), drenagem superficial e gestão/projetos (gestão de riscos)
- Também é conselheiro do CREA-MG, na gestão 2012 a 2014
- Vanessa Rosa Pereira Fidelis é graduada em engenheira civil pela Universidade Federal de Uberlândia (1996), com mestrado em engenharia civil pela Universidade Federal de Uberlândia
- Atualmente é docente do curso de engenharia civil da Universidade de Uberaba (UniUbe)
- Também atua como consultora em sistemas de gestão da qualidade segundo às normas ISO 9000 e SiAC. Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em planejamento, controle de obras e gestão da qualidade
Contato: diretor.engenhariacivil@uniube.br / carlos.barreiro@uniube.br

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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

EPS amplia desempenho termoacústico do concreto

Por causa da NBR 15575 - norma de desempenho -, que exige novos parâmetros termoacústicos, cresce emprego do material em lajes de obras

Por: Altair Santos

Prevista para ser publicada ainda em março de 2013, a NBR 15575 - norma de desempenho -, tem entre seus novos parâmetros a competência termoacústica de paredes e lajes. No entender de especialistas, essa exigência pode consagrar alguns sistemas construtivos, entre eles o de lajes nervuradas com EPS (poliestireno expandido) popularmente conhecido como isopor. Para o projetista estrutural e professor da Univale-MG, Rodrigo Carvalho, o EPS é qualificado como o material mais barato e eficiente para a aplicação em lajes que devam cumprir desempenho termoacústico. "Sua fixação é fácil e se obtém o isolamento desejado com espessuras bem delgadas", assegura.

Rodrigo Rocha Carvalho, especialista em estruturas de concreto: uso de laje com EPS depende do projeto e do custo-benefício.

O especialista, no entanto, alerta que a opção pelo EPS como elemento componente de lajes nervuradas vai sempre depender das condições de cada projeto e, logicamente, do custo-benefício. "O uso da laje nervurada é indicado, estruturalmente, quando é preciso combinar cargas com vãos maiores. Nesta situação, a laje com EPS será a solução técnica e econômica mais indicada", completa o engenheiro civil. Ainda de acordo com Rodrigo Carvalho, é importante frisar que o EPS é usado apenas como material inerte. "Sua função é formar os vazios e as nervuras da laje nervurada. Ele não tem função estrutural", ressalta.

O uso de lajes nervuradas com blocos de EPS torna possível vencer vãos da ordem de 5 a 7 metros, com consumo inferior de material ao das lajes maciças. Atualmente, algumas construtoras que projetam prédios com plantas flexíveis têm optado pelas lajes nervuradas com EPS. As principais vantagens relacionadas são as seguintes:

  • Maior possibilidade de flexibilização de espaços internos.
  • Economia nas formas das lajes.
  • Redução da mão de obra com armaduras.
  • Melhor distribuição de esforços entre lajes e vigas.
Laje nervurada com EPS: tecnologia permite construir com vãos maiores e redução de pilares.

No caso de prédios residenciais, a aplicação desta tecnologia se dá principalmente na construção de edifícios com apartamentos que tenham áreas de até 70 m². Neste caso, a laje nervurada com EPS permite que eles sejam montados sobre uma única estrutura com 20 cm de espessura, facilitando a flexibilidade da planta, haja vista que a construção exige um número menor de vigas.

Além disso, revela Rodrigo Carvalho, é possível usar concreto com EPS também em construções pré-fabricadas e nos seguintes tipos de obras:

 

 

Regularização de lajes em geral

- Inclinação para escoamento

Painéis para fechamento

- Prédios, casas pré-fabricadas e galpões

Elementos pré-fabricados

- Lajotas e blocos vazados

- Placas para muros

- Elementos vazados

- Elementos decorativos para fachadas e jardins

Pavimentos

- Calçadas

- Regularização de áreas diversas

- Painéis para fechamento de galerias

A aplicabilidade do EPS não se restringe às lajes nervuradas. Com o material pode se produzir o concreto leve, que recebe pérolas pré-expandidas ou flocos de isopor reciclado no lugar de brita. A mistura proporciona um concreto de baixa densidade aparente, que varia de 700 a 1.600 kg/m³, enquanto a do concreto convencional, com brita, é da ordem de 2.400 kg/m³. O produto serve para a fabricação de lajotas, blocos vazados, pilares para muros, bancos para ambientes externos e quadras de esporte.

Entrevistado

Rodrigo Carvalho, projetista estrutural e professor da Univale-MG
Currículo
- Rodrigo Carvalho é graduado em engenharia pela Univale (Universidade Vale do Rio Doce) em 1994, com especialidade em engenharia de estruturas pela UFMG (1995)

- É professor do curso de engenharia civil na Univale, onde ministra as disciplinas: estruturas de concreto armado, patologia, reforço e recuperação das estruturas
- Atua também como projetista estrutural e é proprietário da Rodrigo Carvalho Engenharia de Estruturas.
Contato: rodrigorochacarvalho@yahoo.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Não se iluda, reforma também precisa de alvará

Construir na legalidade evita transtornos com a prefeitura e desvalorização do imóvel. Além disso, garante segurança a quem irá habitar a obra

Por: Altair Santos

Construir dentro da legalidade não se limita às grandes obras. Caso haja desejo do proprietário de ampliar a residência, erguendo mais um cômodo, um banheiro ou até uma edícula nos fundos do terreno, o primeiro passo é buscar a consultoria de um engenheiro civil, a fim de que ele avalie se o projeto permite a obtenção do alvará de construção. Por quê? Caso contrário, a obra será considerada ilegal e poderá sofrer algum tipo de sanção da prefeitura e ou do CREA. Além disso, a reforma sem alvará, mesmo com o intuito de valorizar o imóvel, pode ter um efeito contrário e acabar desvalorizando a residência. Quem explica didaticamente a importância de uma obra legal é o engenheiro civil Roger Teixeira, especialista em avaliações e perícias. Confira na entrevista a seguir:

Roger Teixeira defende campanha junto à população para combater obras ilegais.

Pequenas reformas, como construir mais um banheiro na casa ou mais um quarto, requer alvará de construção?
Sim. Qualquer alteração no projeto e na concepção original da edificação requer a aprovação e autorização perante a prefeitura (alvará de construção). Ela tem por objetivo regularizar as obras, saber o que está sendo construído e se há um profissional habilitado responsável. A prefeitura também necessita conhecer o que será construído, para que possa fiscalizar efetivamente, evitando problemas relacionados à autoconstrução, como a impermeabilização excessiva do solo (causa enchentes) e o descarte de esgoto em águas pluviais (causa poluição dos rios) que podem demonstrar ineficiência da administração e receber críticas da população, e que muitas vezes é ela mesmo que ajuda a criar o problema.

O que pode acarretar para o proprietário do imóvel se ele não fizer uma obra legalizada?
Ao realizar uma obra sem alvará o proprietário estará sujeito a ter sua obra embargada, ou seja, impedida de continuar até apresentar um engenheiro civil ou arquiteto. A dificuldade em legalizar a obra é que muitas vezes ela já estava em execução e desrespeitou parâmetros que a prefeitura exige, como a ocupação máxima do solo. Neste caso, há a necessidade de demolir parte do que foi feito para que se viabilize a regularização.

Cada município tem uma legislação com relação a pequenas reformas ou há um padrão para todo o país?
Não há uma lei federal que especifique como as prefeituras devem fiscalizar essa questão. Há algumas prefeituras, como a de Curitiba, que facilitam a obtenção de alvará para reformas simples (através do alvará de reforma simplificado) que é rápido de se obter. Porém, mesmo intervenções que não se exijam alvará podem ser fiscalizadas e notificadas pelo CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) ou CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) caso a fiscalização entenda que há necessidade de profissional habilitado para aquela intervenção. Sugiro que sempre seja consultado um engenheiro antes de qualquer alteração.

Em que casos uma intervenção num imóvel pode ser feito sem que se exija alvará? Tecnicamente qualquer alteração que modifique a concepção original deve ter autorização da prefeitura e acompanhamento técnico de profissional habilitado. Entende-se que reparos de menor magnitude ou influência, como repintura do imóvel ou substituição de um piso não necessitem de autorização perante a prefeitura, porém deve-se consultar um engenheiro ou arquiteto para assegurar que a alteração não afetará de alguma forma os parâmetros projetados, mesmo os estéticos, que entende-se ter direito autoral das especificações de projeto (mais comum aos arquitetos). Em qualquer caso, porém, deve-se tomar cuidado com os entulhos gerados, pois esta é uma reclamação pertinente de vizinhos que pode ser fiscalizado e multado pela prefeitura.

Se ocorre a construção ilegal para ampliar um imóvel, ele se valoriza ou desvaloriza?
Além do imóvel apresentar qualidade e solidez questionável, agrava-se, no mercado imobiliário, por não possuir condições de ser averbado no Registro de Imóveis, ou seja, a Matrícula (o “RG” do imóvel) constará diferente do construído. Desta forma, ao buscar a venda através de financiamento bancário, por exemplo, realiza-se vistoria pelo engenheiro de avaliações que irá desaconselhar o financiamento ao banco, pois o que consta no “RG” do imóvel é diferente do real, evidenciando que a construção foi realizada sem acompanhamento técnico e não é considerada uma boa garantia em caso de retomada, por exemplo. Muitas vezes as pessoas acreditam poder construir “por conta” e que depois conseguem “regularizar”. Isto não é verdade, pois na maioria das vezes a construção não obedeceu aos parâmetros e dimensões especificados pela prefeitura, tornando reprovável qualquer pedido de aprovação. Infelizmente é um dos maiores arrependimentos de quem construiu ilegalmente, pois descobre-se na hora de negociar um imóvel que ele não é passível de financiamento, tendo de desfazer a transação.

O índice de obras sem alvará ainda é grande nas cidades. Como se fiscaliza isso?
As equipes de fiscalização da Prefeitura, do CREA e, recentemente, do CAU ainda são insuficientes para a quantidade de imóveis, moradores, “puxadinhos”, “obras de fim de semana”, etc. Salienta-se, porém, que quando a prefeitura (através do telefone de denúncia) e o CREA (através do site www.creapr.org.br, aba “Denúncia”) recebem a denúncia de uma obra irregular é sempre enviado um fiscal ao local, sendo notificado quando necessário. No caso do CREA, é possível acompanhar anonimamente como está o andamento da fiscalização no imóvel denunciado.

Imagina-se que para as prefeituras a perda com recolhimento de impostos seja grande, por causa de obras sem alvará. Por outro lado, não deveria haver uma desburocratização para incentivar a legalização das reformas?
A prefeitura perde arrecadação com as taxas relacionados ao alvará e CVCO (“habite-se”). Porém, mesmo quando a obra é irregular ela não deixa de aumentar o IPTU, pois de tempos em tempos estima-se a área construída. A prefeitura de Curitiba, por exemplo, oferece um serviço de alvará simplificado para casas térreas de até 70 m², tornando o custo de legalização e engenharia muito abaixo do mercado. Não há motivo para construir ilegalmente. Não considero burocrático tirar uma licença, pois devem sim existir procedimentos, estudos, fiscalização, aplicação de normas técnicas e responsabilidade do profissional, a fim de melhorar as condições de uso e segurança das edificações. Normalmente, o que sentimos no escritório é a negativa em aguardar três meses para iniciar uma obra regularizada, pois a equipe de pedreiros e mestre de obras já está a postos no canteiro. É um vício brasileiro “tocar a obra o quanto antes”, gerando erros e correções durante a execução, estourando qualquer orçamento.

O CREA tem sido atuante, no sentido até de orientar sobre a necessidade de se construir legalmente, inclusive contratando engenheiros para projetar a reforma?
O CREA é um órgão atuante junto aos profissionais, porém acredito que há pouco contato com a população em geral, a fim de orientá-la a buscar os profissionais antes de serem notificados ou multados. Não é exatamente esta a atribuição do órgão, porém uma maior participação junto à população poderia aumentar a quantidade de obras legalizadas e gerar menos autuações. Recebemos ligações de pessoas que nem sabiam da necessidade de contratar um engenheiro para sua obra, por simplicidade ou desconhecimento. Apenas após notificados pelo CREA descobrem que sua obra era ilegal.

No ano passado, as obras de reforma foram as que mais puxaram as vendas de material de construção, incluindo o cimento. Diante da magnitude deste mercado, já não era hora de haver uma campanha para coibir a autoconstrução?
Sim. Quem compra 100 barras de aço está construindo algo de natureza estrutural e não se sabe com que acompanhamento técnico. As lojas de materiais de construção poderiam exigir o alvará ou ART para realizar a venda, semelhante ao que se exige do cliente em uma farmácia (a receita do médico) coibindo “grandiosas obras” ilegais. No entanto, é perceptível que esta ação seria contrária aos interesses dos lojistas, que têm grande parte do lucro na autoconstrução.

No caso de edifícios, quando o morador decide quebrar uma parede para ampliar um cômodo, ele também precisa de um alvará? Como funciona neste caso?
Sim. Além do alvará é necessário pedir autorização ao condomínio, através do síndico, pois trata-se de uma habitação coletiva. Em alguns casos pode-se retirar a parede sem danos à estrutura, porém a única pessoa que pode estudar cada caso e permitir é o engenheiro civil, que irá analisar o sistema estrutural (concreto armado, protendido, alvenaria autoportante, etc.) e verificar se a retirada do elemento não irá de alguma forma prejudicar o sistema estrutural. A sabedoria popular diz que viga e pilar não se tira (ou tiram). Em algumas situações, por técnicas construtivas ou até erro, os blocos cerâmicos (estes de 6 ou 8 furos) encontram-se solicitados, não sendo possível sua retirada. Sugere-se que a demolição de uma parede supostamente não estrutural (de blocos cerâmicos) tenha colocado abaixo o Edificio Liberdade (Rio de Janeiro), em 2012, pois de fato ela estava solicitada estruturalmente. Apesar de entender que o imóvel é de propriedade privada, deve-se tomar os devidos cuidados para que uma alteração em sua unidade não prejudique outros moradores.

Entrevistado
Roger Teixeira, engenheiro civil da Teixeira&Costa Engenheiros Associados

Currículo
- Roger Teixeira é engenheiro civil e perito associado ao Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (IBAPE/PR). Atua na área de inspeção predial, vistoria cautelar, diagnóstico e patologia das construções
Contato: roger@teixeiracosta.com / www.teixeiracosta.com
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Censo mostra por que faltam engenheiros no Brasil

IBGE revela que, apesar da demanda e da boa oferta salarial, há menos estudantes do ensino médio optando por cursos de engenharia

Por: Altair Santos

Resultado parcial do censo demográfico de 2010, divulgado no final de 2012 pelo IBGE, comprova que o despertar para a engenharia é um fenômeno recente entre os jovens. Até meados da década passada, o interesse pelas engenharias, incluindo a civil, havia caído 20% em relação aos números mostrados no censo de 2000. Isso explica por que faltam engenheiros atualmente no país.

Daniela Ribeiro, da Robert Half: cursos de engenharia precisam ser mais divulgados.

A formação hoje responde por 7,9% das pessoas matriculadas no nível superior. Há vinte anos, era 9,6%. Para educadores, o quadro só será revertido se o governo estimular a profissão já no ensino médio, principalmente tornando a matemática mais palatável. Atualmente, o déficit no Brasil é de 150 mil engenheiros. Com a demanda aquecida, em cinco anos esse déficit pode duplicar.

Para estancá-lo, seria preciso que pelo menos 15% das pessoas matriculadas nas universidades estivessem estudando engenharia. Mas, além disso, há um outro complicador. No caso específico da engenharia civil, muitos dos que se formam não se dirigem à área técnica e preferem ir para o mercado financeiro. "Esse é um dos principais fatores que causam essa sensação de escassez de mão de obra técnica", aponta Daniela Ribeiro, da consultoria Robert Half, especializada em recrutamento de engenheiros.

De acordo com a headhunter, o perfil analítico de um engenheiro, aliado a especializações como mestrado e doutorado, o torna muito valorizado para outros mercados que não seja, especificamente, a construção civil. O resultado é que construtoras e empresas ligadas ao setor de óleo e gás - as que mais recrutam engenheiros atualmente - buscam compensar esse déficit fora do país. "Profissionais portugueses, cujos diplomas são reconhecidos no Brasil, têm encontrado um mercado bastante promissor aqui", explica Daniela Ribeiro.

A especialista avalia que a profissão de engenharia deveria ser mais divulgada, principalmente no ensino médio. "Mostrar a grande quantidade de opções de trabalho para engenheiros é uma alternativa para aumentar o interesse pela profissão. Além disso, mesclar um pouco as disciplinas do curso com aulas mais dinâmicas e atualizadas também ajudaria a conter a evasão", analisa. Outro ponto destacado é a base matemática dos alunos que optam por engenharia. "Nem todas as escolas, sejam públicas ou privadas, despertam esse interesse nos estudantes, que não tendo uma boa base matemática acabam fugindo de cursos de engenharia", completa.

Estudantes de engenharia civil: os que se formam, são assediados pelo setor financeiro.

Salário inflacionado

Em 2012, o piso salarial do engenheiro civil fechou em R$ 5.573,00 por 6 horas de trabalho, segundo a lei 4.950-A. No entanto, boa parte das empresas que contratam estão pagando mais. "A escassez de engenheiros mais técnicos inflaciona os salários e as empresas têm tentando driblar esses altos salários oferecendo benefícios e outros fatores motivacionais, com a intenção de atrair e reter esses profissionais. Mas é bom que se frise que a maioria dos engenheiros entrevistados pela Robert Half, apesar de salário ser um fator fundamental, relatam que oportunidade de crescimento, bom ambiente de trabalho e autonomia no ambiente de trabalho são tão importantes quanto salário", diz Daniela Ribeiro.

Por conta destas oportunidades, e do aquecimento do mercado de construção em todo o país, os engenheiros estão descobrindo novos nichos profissionais, que não estejam necessariamente na região sudeste - a que ainda mais emprega. No sul, a região metropolitana de Curitiba, Joinville, as cidades no entorno de Porto Alegre e Caxias do Sul chegam a ter vagas excedentes. No nordeste, o polo petroquímico de Camaçari-BA e a região de Recife também clamam por engenheiros. A situação é igual na Zona Franca de Manaus. "Avaliamos que trata-se de uma profissão que se manterá aquecida por muito tempo no Brasil", declara a headhunter da Robert Half. As vagas estão aí, quem se habilita?

Entrevistada
Daniela Ribeiro, senior division manager das divisões de engenharia, marketing e vendas da Robert Half
Currículo

- Daniela Ribeiro é graduada em engenharia mecânica pela Escola de Engenharia Mauá
- Iniciou a carreira na Visteon Sistemas Automotivos, onde trabalhou durante 5 anos, inicialmente na área de cotações de novos negócios. Passou por compras e posteriormente atuou como engenheira de qualidade de fornecedores
- Durante 3 anos e meio atuou como Engenheira de Produtos na General Motors do Brasil, com foco em projetos de exportação e importação
- Em 2008, iniciou a carreira de headhunter atuando na área de engenharia da Robert Half
- Atualmente exerce o cargo de senior division manager das divisões de engenharia e marketing & vendas para São Paulo
Contato: daniela.ribeiro@roberthalf.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Brasil entra na era BIM para obra de infraestrutura

Dnit passará a exigir projetos em 2D para futuras licitações de rodovias. Se der certo, procedimento será estendido a outros empreendimentos públicos

Por: Altair Santos

Em 2007, quando o colapso de uma ponte em Minneapolis matou 13 pessoas, o governo dos Estados Unidos determinou um pente-fino em todas as obras de arte nas rodovias federais do país e descobriu que 150 mil estavam estruturalmente deficientes. A partir daquele relatório, a Sociedade Americana de Engenheiros Civis propôs, em 2009, que todos os projetos de estradas que viessem a ser construídas nos EUA fossem elaborados na plataforma BIM (Building Information Modeling).

Rodovia projetada na plataforma BIM: precisão e chance de corrigir erros antes de ir para o canteiro de obras.

A recomendação veio acompanhada das vantagens que o software agregaria à construção de rodovias. "Tudo pode ser melhor dimensionado. Do fluxo da água da chuva, e seu impacto na pista, até as elevações e declives do terreno e que tipo de exigências isso trará à estrada. Enfim, todas as operações ficam mais seguras com a visualização dos projetos através do BIM", sugeriu a ASCE (sigla em inglês para American Society of Civil Engineers). Resultado: há quase quatro anos nenhuma nova rodovia dos EUA é construída sem estar de acordo com a modelagem BIM.

Agora, é o Brasil que quer entrar nessa era. O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) pretende ainda este ano exigir em seus editais de licitação que os projetos sejam entregues numa plataforma bidimensional e, futuramente, tridimensional. A intenção era que isso ocorresse já nos leilões das rodovias federais 040 e 116, que estavam marcados para o final de janeiro de 2013. No entanto, foram adiados. As empresas interessadas pediram a prorrogação, a fim de se adaptar às novas exigências e obter linha de crédito através do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), com o objetivo de adequarem suas equipes ao BIM.

Com os projetos em BIM, tempo da obra pode ganhar economia de até 30%.

O próprio Dnit também carece de capacitação de seu corpo técnico para conseguir implementar o sistema. “Os projetos do Dnit ainda não são elaborados conforme a metodologia BIM, pois a equipe técnica responsável pela análise de projetos está na fase de capacitação. A implantação dessa metodologia seguirá etapas que permitam que o mercado se adapte. Como atualmente o Dnit recebe seus projetos em papel, inicialmente estamos concluindo um modelo de edital padronizando procedimentos para entrega eletrônica de projetos em 2D, independentemente da ferramenta informatizada que as empresas possuam. Em seguida, passaremos a prever no edital procedimentos para a entrega de projetos em 3D, sem obrigatoriedade, porém pontuando tecnicamente as propostas. Quando o mercado se ajustar à nova metodologia, passaremos a tornar obrigatória a entrega em 3D", explica André Kuhn, coordenador-geral de desenvolvimento e projetos do Dnit.

Ainda segundo Khun, a nova formatação permitirá ao Dnit acelerar processos licitatórios, além de obter uma melhor compreensão dos projetos. Estima-se que a economia de tempo, ao longo da trajetória da obra, seja de 30%. "A metodologia BIM, por tratar o projeto de forma integrada, permite verificar de forma mais eficiente as incompatibilidades das diversas disciplinas que compõem o projeto rodoviário. São de dez a doze disciplinas (geometria, terraplanagem, pavimentação, sinalização, obras de arte especiais e outros) sendo analisadas por, no mínimo, seis engenheiros especialistas em diversas áreas. Atualmente, a equipe de análise de projetos empenha grande esforço e tempo na verificação das quantidades de serviços, o que mudará para uma forma quase automática com esse tipo de tecnologia, permitindo assim que os engenheiros concentrem esforços na análise da concepção do projeto", destaca.

No programa BIM, é possível simular desde o pavimento ideal até por onde passarão as tubulações de saneamento, rede elétrica e gás na rodovia.

A expectativa é que, mesmo adiados, os leilões das BRs 040 e 116 sejam os primeiros a serem contemplados com projetos em BIM. O trecho da BR-040 a ser concedido vai de Brasília, no entroncamento com a BR-251, e se estende até Juiz de Fora-MG. A extensão total dessa rodovia no lote é de 936,8 quilômetros. Já o trecho da BR-116 vai da divisa entre Bahia e Minas Gerais até a divisa de Minas com o Rio de Janeiro. A extensão total é de 816,7 quilômetros. Se bem sucedida essa etapa, ela passará a ser estendida a outras concessões do Dnit. O governo também estuda levar a exigência da plataforma BIM para licitações de outras obras de infraestrutura, como hidrelétricas por exemplo. Atualmente, dentro da esfera federal, apenas a Petrobras já requisita projetos na plataforma BIM.

 

 

Entrevistado
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) via assessoria de imprensa
Contato: imprensa@dnit.gov.br
Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Indústria de alimentos engorda construção civil

Desde 2010, maiores fabricantes do país vêm projetando e construindo plantas, criando um nicho valorizado pelas empresas especializadas em construção industrial

Por: Altair Santos

Em 2012, a Pepsico - gigante mundial na fabricação de alimentos - destinou para o Brasil um aporte de US$ 100 milhões para a expansão de suas fábricas no país, que hoje são 19. Para enfrentar a concorrente, a Kraft Foods adotou a mesma estratégia. Investiu R$ 100 milhões em uma nova fábrica em Vitória de Santo Antão-PE e injetou recursos para expandir as unidades de Curitiba-PR e Bauru-SP. São exemplos, assim como os projetos da Unilever e da Procter & Gamble, de como a indústria de alimentos instalada em território nacional anda competitiva e atraindo cada vez mais o interesse da construção civil. Desde 2010, as plantas industriais para o mercado alimentício tornaram-se um dos nichos mais atrativos para as construtoras.

Construções industriais: fábricas de alimento devem concluir 105 plantas até 2015.

Dados mais recentes da ABIA (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação) revelam que até 2015 haverá 105 novas fábricas instaladas no país. Muitas já estão contratadas e alimentando o setor de obras industriais. No entanto, construí-las requer mais complexidade do que, por exemplo, erguer um supermercado. Atualmente, uma instalação varejista ou atacadista leva no máximo quatro meses para ser concluído. Já um complexo industrial para fabricar alimentos não fica pronto antes de um ano. "Tratam-se de construções mais sofisticadas, que precisam, por exemplo, de acabamento interno em aço inoxidável e que atendam as normas da vigilância sanitária relacionadas à higienização", explica o engenheiro civil Walter Bastos Cortes Filho, da MGM Construtora.

Para ganhar tempo, as empresas especializadas neste tipo de obra têm optado pela construção mista, que agrega pré-moldado e estrutura metálica. De acordo com Walter Bastos Cortes Filho, a escolha do sistema construtivo depende muito do local em que a fábrica será instalada. "Há regiões em que construir só com pré-fabricado não é viável, por causa do custo-benefício. Por isso, o projeto arquitetônico tem que ser muito bem pensado e desenvolvido entre a empresa que irá construir, o fornecedor das peças estruturais e o cliente", diz o engenheiro civil.

Outro ponto fundamental é definir todo o projeto antes de ir para o canteiro de obras. "Nesse tipo de construção não pode haver alterações no decorrer da obra", alerta o especialista, complementando que um dos atuais desafios da construção industrializada é a contratação de mão de obra especializada. "Como o mercado está aquecido, dificulta encontrar ociosidade neste quesito", completa.

Walter Bastos Cortes Filho: construções mistas, com pré-fabricados e estruturas metálicas, são as preferidas das construtoras especializadas.

Requisitos básicos para a construção de uma fábrica de alimentos

Local
Terreno deve estar livre de fontes de contaminação

Planta e construção do prédio
Projeto deve impedir a entrada e o alojamento de insetos, roedores e pragas, assim como contaminantes do meio, como fumaça e pó. Também precisa permitir que o fluxo de operações (chegada da matéria-prima, processo de produção e distribuição do produto final) não sofra contaminação cruzada, ou seja, as áreas de recepção e lavagem de matérias-primas in natura (animais ou vegetais) devem ser isoladas. Além disso, sanitários e vestiários não devem ter comunicação direta com as áreas do processamento.

Pisos
Material empregado deve ser resistente ao trânsito, impermeável, lavável e antiderrapante. É importante também que o nivelamento permita o escoamento da água para os ralos (do tipo sifão ou similar) impedindo a formação de poças.

Paredes
Devem ser revestidas com material impermeável e lavável, e de cores claras. Não devem conter frestas e os ângulos entre elas e o piso, e entre elas e o teto, devem ser abaulados e herméticos para facilitar a limpeza. Paredes e tetos devem ser construídos de modo a impedir acúmulo de poeira, minimizar a condensação e o desenvolvimento de mofo.

Ventilação
Deve impedir fenômenos de condensação e conter sistemas informatizados de controle de umidade. O ar insuflado ou comprimido para as áreas de processamento deve ser seco, filtrado e limpo.

Materiais mais empregados
Aço inoxidável, metal brando, cobre, bronze, alumínio, latão, titânio, concreto, ligas de cobre e de bronze.

Entrevistado
Walter Bastos Cortes Filho, diretor comercial na MGM Construtora
Currículo
Walter Bastos Cortes Filho é graduado em engenharia civil pela Unicamp (1991) e atua na MGM Construtora
Contatos: www.construtoramgm.com.br / comercial@construtoramgm.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Tecnologia do concreto corre contra o tempo

Prazo cada vez mais escasso para finalizar obras, principalmente às relacionadas à Copa do Mundo, serve de estímulo para que inovações sejam agregadas à construção civil

Por: Altair Santos

A Copa das Confederações - evento-teste que a Fifa realiza um ano antes da Copa do Mundo - acontece em junho de 2013 em seis cidades do país. Até lá, o planejamento da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) é que as reformas em boa parte dos aeroportos brasileiros estejam concluídas. Em alguns desses terminais, as obras vão além das áreas de embarque e desembarque e chegam às pistas. Tratam-se de intervenções críticas, que exigem das construtoras contratadas o emprego de alta tecnologia para cumprir um cronograma quase exíguo de tempo.

Mauro Bianco: aeroporto Afonso Pena exigiu concretagem especial na pista de pouso e decolagem.

Um exemplo desta corrida contra o relógio ocorreu no aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, onde a Bianco Tecnologia do Concreto atuou numa ação especial para revitalizar a principal pista do terminal. O serviço contratado previa o envelopamento da cabagem transversal e a fixação dos sinalizadores em toda a extensão da pista. No entanto, havia a imposição de se obter resistência suficiente para suportar em poucas horas a carga do rolamento dos aviões. Para se ter ideia, as concretagens eram feitas na madrugada e o tráfego aéreo liberado às 6 horas.

Segundo o engenheiro civil Mauro Bianco, a Infraero exigia resistência mínima à compressão de 15 MPa, que foi conseguida com emprego de cimento CP V-ARI, aditivação especial para baixar a relação a/c (água / cimento) e acelerar a pega. Todavia, após avaliações internas, a engenharia da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária optou pelo uso de cimento sulfoaluminoso, fabricado pela GCC, do México (não é fabricado no Brasil e não é um cimento Portland). "A escolha se deu pelo maior tempo de trabalhabilidade e maior ganho de resistência do concreto nas primeiras horas", explica o especialista, revelando que no aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis, será empregada a mesma tecnologia.

Mauro Bianco relata que o cimento sulfoaluminoso difere do Portland quanto ao produto da hidratação, que não é CSH (silicato de cálcio hidratado) nem CH (portlandita), mas etringita (C6 ASH32) que na ausência da cal não é expansiva e responsável pelo rápido endurecimento e desenvolvimento da resistência. "O cimento sulfoaluminoso não apresenta retração plástica, porque combina quimicamente praticamente com toda a água empregada no amassamento, dentro de parâmetros adequados de relação a/c (água-cimento)", revela, sobre a tecnologia empregada no aeroporto Afonso Pena.

Aeroporto Afonso Pena: pista recebia concreto de madrugada, mas precisava estar aberta para voos pela manhã.

Legado

O engenheiro civil Mauro Bianco avalia que, para a tecnologia do concreto, o principal legado trazido pelos grandes eventos que o Brasil irá sediar entre 2013 e 2016 é que eles ampliaram o leque de opções para projetos mais exigentes, agregando materiais e técnicas que até então eram inéditas ou limitadas no país. "Tem-se lançado mão da pré-fabricação, do concreto autoadensável e de soluções que permitiram apressar o desenvolvimento da resistência do concreto", cita, lembrando, porém, que o compartilhamento de inovações só é válido se forem seguidas as prescrições normativas. "Isso é imperioso para a durabilidade do concreto", finaliza.

Entrevistado
Mauro Bianco, sócio e diretor técnico da Bianco Tecnologia do Concreto
Currículo
Mauro Teixeira de Freitas Bianco é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Paraná (1975) com especialidade em tecnologia do concreto, química do cimento, tecnologia de aditivos, impermeabilização de estruturas, recuperação de estruturas, pavimentação rígida, tecnologia de revestimentos e patologias de revestimentos.
Contato: bianco@biancoconcreto.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Cresce combate à informalidade na construção civil

SindusCon do Paraná foi pioneiro na iniciativa, que hoje se propaga por outros estados. No entanto, ainda há muito trabalho pela frente

Por: Altair Santos

Com a participação de 20 instituições, entre elas Crea, Ministério do Trabalho, Ministério Público, sindicatos de trabalhadores e SindusCon, o Comitê de Incentivo à Formalização na Construção Civil já opera há quase 12 anos no Paraná. Pioneiro no país, ele tem estimulado o surgimento de práticas semelhantes em outros estados. O objetivo é comum: levar o cumprimento da legislação trabalhista aos canteiros de obras.

Euclésio Finatti: norte e nordeste do país são as regiões mais preocupantes.

Segundo o vice-presidente administrativo do SindusCon-PR, Euclésio Manoel Finatti, nenhum setor vinculado à construção civil está 100% formalizado. No entanto, é na área de reformas e de pequenas construções onde a informalidade encontra o ambiente propício para proliferar. A ponto de dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) revelar que de cada trabalhador formal no canteiro de obras, 1,7 atua sem carteira assinada.

Finatti avalia que, em alguns setores, esse número é até maior. Como superar esse desafio é o que ele debate na entrevista a seguir:

O SindusCon-PR é pioneiro na iniciativa de criar um comitê para ajudar a formalizar o trabalho nos canteiros de obras. Como está isso em outros estados?
O SindusCon-PR foi quem, no início de 2001, teve a iniciativa de desenvolver uma atitude proativa no sentido de buscar uma maior formalização na construção civil. De lá para cá, a gente tem intensificado várias formas de trabalho e muitas entidades entraram como parceiras. Hoje, estamos divulgando esse trabalho Brasil afora. O modelo tem sido seguido não exatamente com o escopo que o SindusCon-PR elaborou, mas tem servido de exemplo para melhorar a formalização nos canteiros de obras. Entre os estados que já aderiram, estão Espírito Santo, Ceará, Rio Grande Sul, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro.

Segundo dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de cada trabalhador formal no canteiro de obras, 1,7 atua na informalidade. Esse número pode ser considerado alarmante?
Não é que seja alarmante, mas não deveria existir. O número é muito grande quando comparado às outras profissões. O Brasil historicamente não desenvolveu atitudes à nível de governo, incentivando a formalização na construção civil. Nós passamos um período muito longo, onde pouco se preocupou com a formalização, principalmente na década de 1980. Por quê? Porque, sem mercado, os profissionais foram para a informalidade. Hoje, gradativamente, as empresas estão entendendo a necessidade de se formalizar. Além disso, o trabalhador atualmente já tem uma consciência maior de que ele perde muito se não estiver legalizado. Porém, ainda é alto o número da informalidade.

Das regiões brasileiras, qual enfrenta mais problemas com a informalidade no canteiro de obras?
No norte e nordeste do país, a informalidade ainda é muito alta. No sul, os números são mais favoráveis. Para se ter uma ideia, nas cidades do interior da região nordeste é praticamente tudo informal. Este 1,7 que o PNAD cita, é 1,7 porque engloba toda a cadeia produtiva. Mas praticamente é um para dois quando você pensa em canteiro de obra, ou seja, temos hoje perto de três milhões e cem mil trabalhadores com carteira assinada e talvez o dobro sem carteira assinada, e fazendo obras. Isso é ruim.

Então é fato que dentro da cadeia produtiva da construção civil, a informalidade concentra-se mais nos canteiros de obras mesmo?
Nas capitais, cerca de 80% da informalidade acontece nas obras formiguinhas. É o cidadão que aumenta um quarto da sua casa ou que tem um apartamento e resolve fazer uma reforma no banheiro. Nas cidades do interior, ela está relacionada com a construção de pequenas habitações, entre 30 e 40 metros quadrados. Essa economia informal se espalha de maneira bastante retilínea neste segmento da autoconstrução. Por outro, há cadastradas no país cerca de 150 mil construtoras que atuam na formalidade. Elas operam buscando financiamento para seus projetos e, por isso, precisam ter funcionários registrados, caso contrário os bancos recusam recursos para suas construções e elas nem conseguem averbar suas obras. Mas mesmo dentro desse setor formal, existe a sublocação, a qual o comitê de incentivo à formalização tem combatido com força.

Autoconstrução é ambiente propício para a informalidade e requer mais fiscalização

Com relação às pequenas fábricas que produzem pré-fabricados, há informalidade nesse setor?
informalidade em todos os setores. Não existem setores que sejam 100% formais. Tem setores que são próximos a 100% de formalidade. Existe uma menor informalidade ou uma quase 100% formalidade onde há condições de execução em canteiro fechado ou numa fábrica. O pré-moldado é um segmento muito importante, porque ele se obriga a trabalhar na fábrica e tem uma formalização muito maior do que o normal. O índice de formalização no pré-moldado é muito, mas muito maior do que em outras áreas.

Como age o comitê quando encontra a informalidade. Há uma ação apenas punitiva ou se realiza uma ação didática para conscientizar o contratante de que é mais vantajoso para ele seguir o que rezam as leis trabalhistas?
O comitê não tem poder de polícia. Somos um comitê de incentivo à formalização. O que nós fazemos são visitas diárias aos canteiros de obra, onde um técnico do SindusCon avalia todas as questões de segurança e saúde do trabalho. Um representante do sindicato dos trabalhadores também analisa toda a questão da formalização dos trabalhadores, ou seja, se ele está com a carteira assinada e tem todas as condições normais. Além disso, um representante do Crea verifica as questões da documentação do projeto. Encontrada alguma não conformidade, e dependendo do grau desta não conformidade, ela pode ser resolvida na hora ou é dada uma orientação para que seja solucionada. Agora, se encontramos um alto grau de informalidade, e se nenhuma atitude for tomada pelo engenheiro, pelo dono da obra ou pelo responsável técnico da obra, o comitê encaminha para essa obra a delegacia regional do trabalho, que, daí sim, tomará uma atitude punitiva.

Outros organismos atuam em parceria com o comitê. Quais organismos são esses?
Os principais são SindusCon, delegacia regional do trabalho, Ministério do Trabalho, Crea, sindicato dos trabalhadores e entidades que têm ligação direta com o setor, como federações das indústrias.

A reforma trabalhista, para desonerar o setor na hora da contratação, é a solução para combater a informalidade?
Ela é um componente importante para que possamos contratar em melhores condições, mas está longe de ser a solução. O problema é que o governo dita as normas positivas para os outros setores, como indústria automobilística, indústria de linha branca, mas para a construção civil isso não acontece. Nós somos a mola propulsora do país. Se a construção civil for bem, o país cresce. Pode olhar todos os índices econômicos. Verifique que quando a construção civil está em alta, ela puxa o PIB e o desenvolvimento do país. Então, voltando ao núcleo da pergunta, a atenção do governo à construção civil é mais importante que a reforma trabalhista.

Numa obra, qual é o peso do custo da mão de obra no total de gastos que ela engloba?
Há vários tipos de obras. Se você pegar pelos índices oficiais do CUB (Custo Unitário Básico) é meio a meio, ou seja, numa obra o custo do material é de 50% e o custo da mão de obra com encargos e tudo é de 50%. Agora, tem obras onde a mão de obra chega a 60% e em outra a 40%. Uma obra mais mecanizada tem um custo de mão de obra menor. Uma obra industrial tende a ter um custo de mão de obra menor, mas depende da produtividade do trabalhador, depende das condições de trabalho e de onde a obra está sendo feita. Uma obra onde tudo é linear, tudo plano e tem boa acessibilidade, tem um custo de produção menor e o custo do trabalhador fica menor. Uma obra que pode colocar mais equipamentos, dilui o custo da mão de obra. Esta é sempre uma procura do empresário, pois os custos de mão de obra aumentaram absurdamente nos anos recentes, superando a inflação.

Entrevistado
Euclésio Manoel Finatti, vice-presidente administrativo do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Paraná (SindusCon-PR)
Currículo

- Euclésio Manoel Finatti é graduado em engenharia civil pela PUC–PR e pós-graduado em engenharia de produção pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)
- Também é graduado em Ciências Econômicas pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná
- É diretor e responsável técnico há mais de 26 anos da Braengel - Construções e Empreendimentos Imobiliários Ltda
- Participa há 18 anos da diretoria do SindusCon-PR, do conselho deliberativo do IEP (Instituto de Engenharia do Paraná) e da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP)
- Representa a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) no grupo de trabalho PAC-
Trabalhadores da Construção Civil do ministério do Trabalho
Contatos: www.braengel.com.br  / euclesio@braengel.com.br / braengel@braengel.com.br
Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Itep aprimora expertise em construção habitacional

Instituto de Tecnologia de Pernambuco é um dos mais tradicionais do país no desenvolvimento de pesquisas voltadas ao desempenho termoacústico de residências

Por: Altair Santos

Fundado há 70 anos, desde 1975 o Itep (Instituto de Tecnologia de Pernambuco) tem se concentrado à pesquisa da construção habitacional. Dentro do tradicional centro de excelência funciona a Unidade de Tecnologia Habitacional (UTH) cuja expertise a credenciou a ser uma das ITAs (Instituição Técnica Avaliadora) do SiNAT (Sistema Nacional de Avaliação Técnica). Atualmente, o laboratório voltado às inovações na construção civil tem priorizado ensaios de desempenho estrutural, como recomenda a ABNT NBR 15575 - norma de desempenho para edifícios até cinco pavimentos, prevista para entrar em vigor em março de 2013. Neste aspecto, o Itep tem subsidiado o corpo técnico da Caixa Econômica Federal (CEF) no sentido de aprovar sistemas construtivos de vedações internas de prédios, que contemplem a qualidade termoacústica das edificações.

Carlos Welligton de Azevedo Pires Sobrinho: NBR 15575 baliza novos estudos do Itep.

Segundo o engenheiro civil Carlos Wellington de Azevedo Pires Sobrinho, que chefia a Unidade de Tecnologia Habitacional (UTH) do Itep, no momento estão em processo de avaliação no centro de pesquisa cinco sistemas construtivos, que passam por ensaios de desempenho de conforto acústico, segurança ao fogo e durabilidade. "Há pesquisas nas seguintes áreas: gesso, no apoio às empresas produtoras de blocos e placas para forro; cerâmica, para melhorar o processo de produção e incorporação de resíduos, e cimento, destacando-se o desenvolvimento de componentes à base de solo-cimento e artefatos de cimento. Também trabalhamos na avaliação e reforço de edificações em alvenaria resistente (alvenaria estrutural)", explica.

Para desenvolver pesquisas voltadas à construção civil, o Itep conta com dois laboratórios. Um de 640 m², capacitado com prensas automatizadas para 150 e 200 toneladas, kit para ensaios completos em cimento, gesso, agregados, argamassa e concretos, duas câmaras úmidas e estufas. Já na Unidade de Tecnologia Habitacional, que ocupa uma área de 420 m², há duas prensas com controle de deslocamentos (de 150 e 10 toneladas), kit para ensaios de estanqueidade de água, kit de ensaios para avaliação de desempenho sobre segurança estrutural e câmaras que medem a acústica, a resistência ao fogo e durabilidade. O centro de pesquisa também conta com laboratório de materiais, equipamentos e kit para avaliação de produtos cerâmicos.

No Itep, há três doutores, seis mestres, cinco especialistas e oito graduados, além de dez tecnólogos e oito laboratoristas dedicados exclusivamente às pesquisas voltadas para a construção civil. "Conseguimos manter essa estrutura, por que temos uma sinergia bastante intensa com a iniciativa privada, principalmente no desenvolvimento de produtos e sistemas construtivos inovadores", frisa Carlos Wellington de Azevedo Pires Sobrinho. Além disso, o instituto sedia atualmente a comissão de estudos para normalização do gesso na construção civil da ABNT. O Itep também trabalha em novos designs para tijolos de solo-cimento e artefatos de concreto, como telhas, vasos, pias e aduelas para saneamento. "Gostaríamos que houvesse mais centros tecnológicos como o nosso, mas infelizmente ainda são poucos no país", alerta o chefe da UTH do Itep.

Saiba mais sobre o Itep: clique aqui.

Entrevistado
Carlos Wellington de Azevedo Pires Sobrinho, que chefia a Unidade de Tecnologia Habitacional (UTH) do Itep.
Currículo

- Carlos Welligton de Azevedo Pires Sobrinho é graduado e com mestrado em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1985). Atualmente é professor assistente da Universidade de Pernambuco, coordenador de curso de pós-graduação da Escola Politécnica de Pernambuco e pesquisador nível superior do Instituto de Tecnologia de Pernambuco.
- Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em materiais e componentes de construção, atuando principalmente nos seguintes temas: habitação, processo construtivo, patologia das construções, avaliação de desempenho de sistemas construtivos.
- Ocupa o cargo de chefe da Unidade de Tecnologia Habitacional (UTH) do Itep.
Contato: carlos@itep.br / itep@itep.br
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Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Varejo de vizinhança cresce e indústria se adapta

Mudanças no perfil do consumidor valorizam pequenos estabelecimentos. Venda de material de construção está diretamente ligada a esse mercado

Por: Altair Santos

A pesquisa “Mercado de Vizinhança – Um desafio para a indústria", coordenada pela GfK Brasil, revela que de 2010 para cá os pequenos estabelecimentos registram anualmente crescimento médio de 5% nas vendas, contra 2% das grandes redes. Fazem parte deste grupo, as lojas de material de construção. Segundo a consultoria, que é especializada em estudos mercadológicos, o fortalecimento da classe C e o aumento de renda da classe D têm sido decisivos para essa mudança no perfil do consumidor em relação ao varejo.

Marco Aurélio Lima, da GfK: comércio de vizinhança é amigo do cliente.

A GfK avalia que esse público se identifica com o comércio de vizinhança, às vezes mais por questões de afetividade que de mercado. Trata-se do dono do mercadinho, ou da loja de material de construção, cuja família reside no bairro e mantém uma relação social e de proximidade com os clientes em potencial. Desta forma, a gestão do dia a dia que ele faz de seu mercado consumidor é muito mais precisa do que das grandes redes. "Normalmente, esse empreendedor não cresce exponencialmente, mas consegue manter um controle firme dos clientes de seu estabelecimento", avalia Marco Aurélio Lima, diretor da divisão de auditoria de varejo da GfK.

Outro fator favorável ao varejo de vizinhança no setor de material de construção está relacionado com a busca do cliente pela economia de tempo. "Hoje, o consumidor prefere comprar perto de sua casa ou do trabalho, para não gastar tempo em longos deslocamentos", completa Marco Aurélio Lima. Há ainda o aspecto de que a melhoria do poder aquisitivo das famílias impulsionou as pequenas reformas residenciais. "Se eu quero construir uma casa, até procuro um grande home center. Mas se quero erguer uma peça a mais na casa, ou pintar um cômodo, o varejo de vizinhança é mais conveniente", analisa o especialista.

Por conta desse fortalecimento dos pequenos estabelecimentos, a indústria procura se readaptar ao novo modelo. "Vejo a indústria num momento de conhecimento deste canal. No que se refere a bens de consumo de massa, são poucas as que conhecem com propriedade esse mercado. Por isso, há desafios a serem vencidos. O primeiro deles é a logística, principalmente para atender o varejo de vizinhança no interior do país. Além disso, o investimento em relacionamento é fundamental. O pequeno varejo não gosta de ser abandonado ao longo do tempo, o que requer uma estrutura de venda bem planejada. Outra prioridade é investir em pesquisa para entender melhor esse mercado", diz o diretor da GfK.

O especialista prevê ainda que esse novo modelo irá mexer também com o conceito de grandes redes. "As que quiserem sobreviver nesta guerra terão que praticar preços muito competitivos e oferecer um serviço diferenciado, seja na entrega, na especialidade do vendedor, no atendimento por telefone ou na venda online. Mas avalio que a tendência é ocorrer uma revisão neste formato de hiperlojas, com a criação de pontos menores e geograficamente melhor localizados", conclui.

Entrevistado
Marco Aurélio Lima, diretor da divisão de auditoria de varejo da GfK.
Currículo

- Marco Aurélio Lima é graduado em administração pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e possui cursos complementares, entre eles gestão de marketing no varejo (FGV PEC) e negociação e relacionamento comercial (Business School SP).
- Atua há 18 anos em empresas de pesquisa de mercado. Desde 1999 trabalha na GfK Indicator, onde ocupa atualmente o cargo de diretor da divisão de auditoria de varejo.
- No tema de responsabilidade social, é consultor familiar pelo Instituto Europeu de Estudos da Educação e diretor-executivo do Instituto Brasileiro da Família (associado à International Federation for Family Development – órgão consultivo da ONU).
Contato: contato@gfk.com
Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330