Mato Grosso desperta para o pavimento de concreto

Tecnologia reveste trechos das rodovias BR-163 e BR-364, importantes corredores que escoam a safra de grãos do Centro-Oeste

Por: Altair Santos

Para o escoamento da safra de grãos do Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins) rumo aos portos de Santos e Paranaguá, duas rodovias são estratégicas: as BRs 163 e 364. Esses corredores, no entanto, sempre foram apontados como pontos frágeis da malha rodoviária federal, já que o tráfego intenso e pesado se mostrava incompatível com o pavimento asfáltico que recobria as pistas. Foi a partir de 2011 que o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) decidiu aproveitar o projeto de duplicação das estradas para contemplar o pavimento de concreto em trechos críticos dessas rodovias.

Trechos de duplicação das BRs 163 e 364 recebem pavimento de concreto no Mato Grosso.

Com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foram pavimentados inicialmente 20 quilômetros duplicados na Serra de São Vicente, localizada entre Cuiabá e Rondonópolis. Agora, a mesma tecnologia é empregada na recuperação do trecho de 9 quilômetros que corta a Serra dos Nobres. Para Fernando Crosara, gerente da regional da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) para o Centro-Oeste, trata-se de uma vitória da associação. "Desde 2000, a ABCP tem feito um trabalho de convencimento das autoridades do Mato Grosso sobre as vantagens da utilização do pavimento de concreto em rodovias de tráfego extremamente pesado, como é o caso das BRs 163 e 364. Hoje, somos referência no Estado para as decisões sobre pavimentação", afirma.

Além dos trechos já em obra, o pavimento de concreto deverá também viabilizar os contornos da capital Cuiabá. Esses projetos ainda estão em estudo de viabilidade, mas a ABCP, como fez nos corredores já concluídos e em construção, apresentou três alternativas: uma pista totalmente nova em concreto, a recuperação da pista antiga feita em whitetopping (concreto sobre asfalto) ou uma base de Concreto Compactado Com Rolo (CCR) que dê suporte ao pavimento asfáltico. Segundo levantamento realizado pela associação, Mato Grosso tem capacidade de receber pelo menos 400 quilômetros de pavimento de concreto em suas rodovias.

Concretagem conta com túnel de vento, para permitir que trabalho avance em períodos de chuva.

Um dos empecilhos para a pavimentação em concreto na região Centro-Oeste do país era o chamado período das chuvas. No entanto, uma tecnologia testada durante as obras em um dos trechos da BR-163 acabou com esse problema. O processo de pavimentação foi realizado dentro de um túnel de vento com um quilômetro de extensão. "Essa inovação foi muito bem sucedida, pois permitiu a execução do pavimento de concreto em pleno regime de chuvas da região, fato inédito nesse tipo de obra. O sucesso foi tanto que o Dnit promoveu uma palestra da empresa executora para seus superintendentes, com o objetivo de divulgar a tecnologia e discutir seus custos", disse Fernando Crosara.

A eficiência do pavimento de concreto em rodovias de tráfego intenso parece estar convencendo o Dnit. Atualmente, há mais de cem projetos em fase de estudo de viabilidade. Desde que aprovados, eles poderão vir a substituir corredores de asfalto pelos de concreto em boa parte do país. "Atualmente, discutir a sustentabilidade de um sistema construtivo passou a ser essencial nas tomadas de decisão e na escolha de projetos de engenharia. O pavimento de concreto, pela sua durabilidade, utilização de materiais inertes e reduzida manutenção, sai na frente quando abordado esse item, sem contar que a própria fabricação do principal insumo, que é o cimento, hoje conta com adições e coprocessamento que ajudam a destruir resíduos de outras indústrias. Com certeza, esse fator pesará cada vez mais nas escolhas, tão logo sejam melhor conhecidos os parâmetros de comparação de todos os sistemas", avalia o gerente da regional da ABCP para o Centro-Oeste.

Veja vídeo sobre as obras em pavimento de concreto no Mato Grosso

Fernando Crosara: pavimento de concreto atualmente é referência no Mato Grosso.

Entrevistado
Fernando Crosara, gerente da regional da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) para o Centro-Oeste
Currículo
- Fernando César Crosara é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
- Tem MBA em gerência de projetos e 35 anos de atuação no mercado da construção civil
- Atua há 10 anos na Associação Brasileira de Cimento Portlando (ABCP) como gerente da regional Centro-Oeste
Contato: fernando.crosara@abcp.org.br
Créditos fotos: Gioconda Bretas / Ascom MPOG / ABCP

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Concorrência predatória se combate com estratégia

Escassez de mão de obra leva empresas a assediarem profissionais de outras Companhias. O antídoto está em novos métodos de recrutamento

Por: Altair Santos

Apesar de todos os esforços - inclusive governamentais - para qualificar os trabalhadores, a escassez de mão de obra ainda é um dos principais entraves para as corporações brasileiras. A mais recente pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre o tema, revela que, para 49% das grandes empresas, este é hoje o principal gargalo. Entre estabelecimentos de pequeno e médio portes, o percentual é ainda maior: 56,5% e 57% revelam, respectivamente, dificuldades em encontrar mão de obra qualificada.

Felipe Magrim: competição predatória se combate com investimento em produtividade e qualificação.

O cenário tem levado à concorrência predatória pelos melhores profissionais. Em alguns casos, umas assediando trabalhadores das outras, usando o salário como principal argumento. Entre os setores mais atingidos por essa escassez está a construção civil. Há empresas contratando o serviço de headhunters para buscar, principalmente, engenheiros. Mas o problema não se limita a trabalhadores de nível superior. É cada vez mais raro também encontrar pessoal de nível médio bem treinado e à disposição no mercado.

Entre os organismos dedicados a combater a escassez de mão de obra no país está a Amcham-Brasil (Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos). Segundo Felipe Magrim, gerente de relações governamentais da Amcham-Brasil, há mecanismos que podem prevenir a competição predatória e estimular as empresas a prospectar talentos e manter os bons profissionais em seus quadros. "Apesar da carência por mão de obra qualificada, a Amcham-Brasil procura estimular a competitividade saúdavel", diz. Saiba mais na entrevista a seguir:

Escassez de mão de obra, principalmente nos setores com alta demanda tecnológica, é um dos maiores entraves para as empresas brasileiras?
A leitura que se faz é que as empresas precisam de um gerenciamento mais eficiente da mão de obra, principalmente no setor de infraestrutura. Nos próximos anos, certamente continuará havendo uma demanda crescente por profissionais qualificados e os empresários brasileiros estão começando a se preocupar com isso. No segundo semestre de 2012, a Amcham-Brasil realizou o Business RoundUp e a principal tendência apontada como solução para os possíveis entraves causados pela escassez da mão de obra foi o investimento em produtividade e qualificação.

Nesse ambiente de escassez de mão de obra qualificada, principalmente na construção civil, a concorrência predatória é um risco?
Podemos identificar um foco de investimento muito grande na construção civil, combinada com carência por mão de obra qualificada. A Amcham-Brasil orienta os empresários a procurar estimular a competitividade e a ficar atento aos incentivos públicos e oportunidades para o setor. De acordo com o Sinduscon-SP, foram contratados cerca de 3,4 milhões de funcionários no ano passado e o nível de desemprego chegou a 2% no setor. Os dados indicam que houve uma saturação da mão de obra e, por isso, é necessário aumentar a produtividade e ficar preparado para lidar com a concorrência.

Quando uma empresa utiliza da concorrência predatória para atrair profissionais, ela não corre o risco de gerar inflação salarial no setor em que atua?
Os empresários estão preocupados em evitar a inflação salarial e um consequente descontrole no orçamento da empresa para os funcionários. Por isso, apesar da forte concorrência, o plano de negócios deve estar focado em equilibrar de maneira adequada os salários oferecidos tanto aos gestores quanto aos novos talentos. Em relação ao setor da construção civil, tivemos a informação do Sinduscon-SP de que a legislação trabalhista pode não ser completamente favorável aos incentivos à competitividade.

A concorrência predatória por mão de obra pode conturbar o ambiente de trabalho dentro da empresa que a pratica e desencadear um alto turnover?
Essa é uma tendência apontada constantemente. Para evitar a rotatividade constante de funcionários, e aproveitar melhor os talentos, as empresas estão modificando a estrutura de gestão de pessoas, dando um tratamento mais personalizado. Além disso, é preciso preservar um contato mais próximo com a chamada “geração y”, caracterizada por jovens que procuram uma ascensão rápida na carreira e preferem um ambiente dinâmico com relacionamento flexível e envolvimento maior com as plataformas digitais.

Qual é a forma saudável de se competir por mão de obra qualificada?
Para identificar a mão de obra qualificada é importante investir em programas de recrutamento que possam absorver os profissionais capacitados não somente no quesito técnico, mas também na relação interpessoal. De acordo com especialistas que são consultados durante comitês realizados pela Amcham-Brasil, além da excelência na área em que trabalha é necessário que o profissional tenha um bom relacionamento com a equipe e consiga se desenvolver no ambiente corporativo. Outro elemento importante é reconhecer os funcionários que mais se destacam. A valorização dos talentos evita que eles busquem novas oportunidades de trabalho e levem o aprendizado e a experiência deles para empresas concorrentes.

A contratação de headhunters, por parte das empresas, ajuda a combater a concorrência predatória por mão de obra?
Além da contratação de headhunters, é importante que a empresa tenha ferramentas que possam dar suporte a esses profissionais, que podem ter uma visão mais direcionada para a busca por novos talentos. Durante os nossos comitês, consultores e headhunters são convidados para falar com os empresários sobre a necessidade de deixar mais claro aos candidatos todos os benefícios e as exigências para ocupar as vagas oferecidas pela empresa. Para combater a concorrência, os especialistas apontam que é necessário, principalmente, alinhar as expectativas da empresa aos do funcionário. Atualmente, as Companhias são orientadas a buscar uma comunicação mais transparente, que incentive cada profissional a ter um desempenho que seja compatível com a política de cada departamento.

No caso do profissional que é o alvo da concorrência predatória entre empresas, como ele deve se comportar?
As empresas estão sendo estimuladas a estabelecer um ambiente de trabalho que possa reconhecer e permitir o crescimento do profissional dentro da empresa. Dessa forma, ele percebe que continuar dentro da Companhia pode ser uma escolha favorável a longo prazo, pois será possível crescer e adquirir novas experiências. Por isso, a governança corporativa deve estar focada no aproveitamento e nos interesses de cada talento. Segundo a opinião dos consultores que palestram em eventos e comitês da Amcham, existem muitos mecanismos para permitir um maior desenvolvimento do profissional, que vão desde as remunerações variáveis (bônus, metas e premiações) a um tratamento personalizado e individual do trabalho. Portanto, a forma como o profissional se comporta ao receber uma proposta da concorrência deve ser uma preocupação da empresa, que deve evitar a evasão da sua mão de obra produtiva.

A concorrência predatória por mão de obra inibe a descoberta de novos talentos?
A procura por talentos, que tenham maior qualificação e experiência, torna-se ainda mais importante e crucial para a empresa quando existe uma forte competitividade no setor em que atua. Apesar da concorrência na disputa por esses profissionais, a política da empresa deve ter como prioridade programas de recrutamento bem elaborados, possibilitar a experiência como trainee e prestar atenção nas práticas que estão sendo difundidas no mercado. Durante comitês de gestão de pessoas, que a Amcham-Brasil organiza mensalmente, pudemos ouvir de consultores a importância de selecionar os talentos e, mais tarde, oferecer cursos e treinamentos periódicos. A qualificação continuada do funcionário dentro da empresa é a principal justificativa para a criação de universidades corporativas e avaliações do desempenho no ambiente de trabalho. Alternativas como essas colaboram para que os talentos de hoje se tornem líderes com um olhar mais aguçado para descobrir profissionais capacitados e que se enquadrem no perfil da empresa.

Entrevistado
Felipe Magrim, gerente de relações governamentais da Amcham-Brasil (Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos)
Currículo
- Felipe Magrim é graduado em relações internacionais pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado) e em Ciências Sociais pela PUC-SP. Tem especialização em políticas públicas pela Escola de Governo de São Paulo
- Ocupa o cargo de gerente de relações governamentais da Amcham-Brasil desde abril de 2012
- O departamento atua em áreas como tributação e questões regulamentares, além de identificar problemas enfrentados pelo setor privado nas propostas de regulação de mercado e no desenvolvimento de políticas públicas
Contato: felipe.magrim@amchambrasil.com.br
Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Minha Casa, Minha Vida precisa virar política de Estado

Setor da construção civil aguarda que PEC da Habitação seja votada no Congresso, para alavancar novos investimentos

Por: Altair Santos

Liderados pelo SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo) vários segmentos ligados à cadeia produtiva do setor estão convictos de que chegou a hora de o Brasil ter uma política de Estado para a habitação, em vez de apenas programas governamentais. O sucesso do Minha Casa, Minha Vida, que em março de 2013 completou quatro anos com 1,5 milhão de moradias construídas e 2,5 milhões de unidades contratadas, é que leva à mobilização pela aprovação da PEC (Projeto de Emenda Constitucional) da Habitação, que desde 2008 tramita no Congresso Nacional.

Sérgio Watanabe, presidente do SindusCon-SP: MCMV precisa ser um programa perene, independentemente de governo.

Para o presidente do SindusCon-SP, Sérgio Watanabe, tornou-se inadiável o Brasil ter uma política de habitação, até por que em países vizinhos, onde isso ocorreu, houve praticamente a erradicação do déficit habitacional. "Em 1996, mandamos uma missão ao Chile para ver o projeto que praticamente liquidou o déficit por lá. Em 2007, fomos ao México, que adotou plano semelhante e hoje constrói praticamente um milhão de casas por ano. Com base nos dados colhidos, e em parceria com a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) montamos duas propostas que resultaram na PEC: o Moradia para Todos e o Moradia Digna. Mas o projeto ainda segue parado na Câmara, apesar de já ter passado por todas as comissões", diz o dirigente.

Por isso, para reforçar a mobilização do setor, no dia 29 de abril de 2013, na sede do SindusCon-SP, foi realizado o workshop "Minha Casa, Minha Vida e Parcerias: Gargalos e Propostas". O evento reuniu players da construção civil, além de gestores da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e representantes do ministério das Cidades. "O objetivo é que o governo tome a iniciativa de perenizar o Minha Casa, Minha Vida, agilizando a votação da PEC no Congresso. Só assim o déficit habitacional no Brasil, que hoje está na casa de 5,2 milhões de moradias, conseguirá ser zerado", afirma Watanabe.

Ainda de acordo com o presidente do SindusCon-SP, para atender a demanda, o setor da construção civil precisa ter um projeto de longo prazo que garanta recursos e o ajude a se preparar para processos industriais de construção em massa. "Não podemos mais imaginar que a cada troca de governo os programas habitacionais sejam revistos. O país precisa de uma política que vincule receitas da União, dos estados e dos municípios", defende Sérgio Watanabe, que lançou um slogan para a mobilização: sua casa, nossa causa. A PEC da Habitação propõe reservar 2% do orçamento da União e 1% dos orçamentos de estados e municípios para fundos nacional, estaduais e municipais de habitação de interesse social.

CBIC apoia

Encontro no SindusCon-SP reuniu os principais players da construção civil nacional.

No mesmo evento, o presidente da CBIC, Paulo Safady Simão, deu total apoio ao movimento e lembrou que por falta de uma política de Estado o Brasil passou cerca de 20 anos no "vazio" em termos de construção habitacional. "Desde o fim do BNH (Banco Nacional de Habitação) até o surgimento do Minha Casa, Minha Vida, nossa luta foi insana. Muitas vezes ficamos sem respostas, mas em 2008, por pressão da sociedade, que pedia moradias, e por causa da crise econômica mundial, o governo federal, enfim, se rendeu ao Minha Casa, Minha Vida. Esse programa trouxe conquistas enormes para o país. Transformou vários segmentos da sociedade e permitiu que hoje a construção civil comemore 3,5 milhões de vagas formais nos canteiros de obras. Mas ainda há um déficit acentuado e, por isso, é importante que a PEC seja aprovada. Com ela, poderemos construir mais, e melhor", concluiu.

Entrevistados
Sérgio Watanabe, presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Construção de São Paulo) e Paulo Safady Simão, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção)
Currículos
- Sérgio Watanabe é graduado em engenharia civil e cumpre seu segundo mandato como presidente do SindusCon-SP, cuja gestão vai até 2014. Também é vice-presidente da CBIC e diretor da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)
- Paulo Safady Simão é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1971
- Especializou-se em Administração de Empresas na Fundação João Pinheiro, em conjunto com a Graduate School of Business da Columbia University de New York
- Foi presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (SindusCon-MG) no período de 1986 a 1992
- Vice-presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG) de 1989 a 1995
- Preside a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) desde 2003
- Também integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES)
- É vice-presidente da Federação Interamericana da Indústria da Construção (FIIC) e da Confederação das Associações Internacionais de Empreiteiras de Construção (CICA)
- Ocupa o cargo de diretor-presidente da Wady Simão-Construções e Incorporações LTDA
Créditos fotos: Divulgação / SindusCon-SP

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Gasto com construção ocupa 4º lugar no ranking de consumo

Gastos com material, reforma e compra de imóveis novos ficam atrás apenas de manutenção do lar, alimentação e transporte

Por: Altair Santos

Os gastos com construção civil sobem no ranking de consumo do brasileiro. De acordo com pesquisa da consultoria IPC Maps, a projeção é que o setor venda R$ 143,7 bilhões em 2013 - a base de dados é o número de transações fechadas no primeiro trimestre do ano. Neste levantamento são levados em conta apenas os negócios que ocorrem no varejo, ou seja, que envolvem diretamente o consumidor. O volume de recursos, que engloba a compra de material de construção, reforma e aquisição de imóveis novos, é 7,33% superior ao de 2012, quando o setor vendeu R$ 133,9 bilhões no varejo.

Marcos Antonio Pazzini: tendência é de crescimento da construção civil em 2013.

Por conta deste crescimento, o gasto com construção civil já aparece em 4º lugar no ranking de consumo do país. Está atrás dos recursos canalizados para o pagamento de taxas com a manutenção do lar (água, luz, telefone, aluguel, condomínio, prestação da casa própria e respectivos impostos) na ordem de R$ 717 bilhões; alimentação, R$ 440 bilhões, e transporte (veículo próprio ou público) R$ 209 bilhões. "Pelo desempenho do setor, as perspectivas de crescimento para os próximos anos são muito boas. Não dá para afirmar se esse tipo de consumo irá crescer no ranking, mas ele tende a ocupar sempre um posto entre os cinco primeiros lugares", avalia Marcos Antonio Pazzini, coordenador do estudo IPC Maps.

O estudo detectou um dado curioso: que o comércio especializado não cresce na mesma proporção da demanda por consumo de material de construção. "Segundo nossos números sobre a quantidade de empresas por ramo de atividade, de 2012 para 2013 a quantidade de empresas do comércio varejista de construção civil cresceu 6,6%. Em 2012, havia no país 425.242 empresas do comércio varejista de construção civil e em 2013 este número aumentou para 453.248 empresas. Portanto o crescimento do comércio varejista foi inferior ao crescimento do potencial de consumo do segmento de construção, que ficou em 7,33%", cita Pazzini.

Entre as classes sociais, a A1 é a que registra o maior valor de gasto por domicílio com a construção civil: R$ 43.353,00/ano. Quanto às regiões do país, a norte foi a que apresentou crescimento nominal mais intenso entre 2012 e 2013: 10,1%. No ano passado, a região movimentou R$ 6,9 bilhões e em 2013 deverá movimentar R$ 7,6 bilhões. Em segundo lugar, aparece a região Sudeste, com crescimento nominal de 8,2%, ou seja, mercado de R$ 63,4 bilhões em 2012 e R$ 68,6 bilhões em 2013.

Também foram mapeadas as 50 cidades brasileiras que mais consomem no país. Em 2013, elas tendem a responder por 43,33% do consumo nacional - incluindo aí a construção civil. Mais da metade destes consumidores está nos sete maiores mercados, que são, respectivamente, São Paulo (9,24%), Rio de Janeiro (5,26%), Brasília (2,25%), Belo Horizonte (2,02%), Salvador (1,49%), Curitiba (1,43%) e Porto Alegre (1,27%).

Confira a lista completa dos 50 maiores mercados consumidores do Brasil

Veja quadro do potencial de consumo por setores

Entrevistado
Marcos Antonio Pazzini, coordenador do estudo IPC Maps
Currículo
- Marcos Antônio Pazzini, é graduado em engenharia civil, com curso de especialização em marketing
- É sócio-diretor da IPC Marketing Editora Ltda., empresa que está há 35 anos no mercado brasileiro
- Coordena o estudo IPC Maps desde 1994, que traz dados demográficos e potencial de consumo de cada um dos municípios brasileiros
- Em 1996 liderou o desenvolvimento do software de gerenciamento e geoprocessamento do estudo IPC Maps
- Atua na área de pesquisa de mercado e informações mercadológicas há mais de 20 anos
- Anteriormente trabalhou em empresas de franquia e empresas de comunicação
- Ministra regularmente palestras sobre o potencial de consumo brasileiro
Contato: www.ipcbr.com/12/index.php/fale-conosco
Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Vai construir uma piscina? Faça com especialistas

Seja de concreto, alvenaria, fibra ou vinil, obra precisa de estudos geológicos, obedecer normas e ser construída por mão de obra qualificada

Por: Altair Santos

Construir piscinas requer cuidados especiais. Desde a escolha do terreno, passando pela mão de obra qualificada e a seleção dos materiais, trata-se de uma obra em que os detalhes fazem a diferença. O zelo na construção deve ser maior ainda se a piscina for construída em um prédio. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes e Construtores de Piscinas e Produtos Afins (Anapp) piscinas de concreto apresentam vantagens em relação às de alvenaria ou fibra de vidro e vinil. No entanto, cada situação exige que se avalie o tipo de piscina que melhor se adapte ao local.

Piscina em construção: característica do solo influencia no formato e no tamanho da obra.

É o que explica Roberto dos Reis, dono da construtora Nado Livre, filiada à Anapp, que atua no setor há 29 anos e é homologada para construir piscinas olímpicas. "Uma piscina de concreto tem longa durabilidade e baixa manutenção. Mas construí-la, assim como a de outros materiais, depende da sedimentação do terreno. O mercado, atualmente, constrói 30% em concreto armado ou alvenaria, 40% de fibra de vidro e 30% vinil. O recomendável é que piscinas acima de 80 metros quadrados sejam construídas em concreto armado, de preferência o concreto maciço com 40 MPa, projetado a 7 kg/cm². É a mesma tecnologia usada em túneis de metrô", ensina.

Quanto ao terreno, o especialista alerta que ele precisa ter uma sedimentação mínima. Construir piscinas de fibra em regiões litorâneas ou aonde há lençol freático não é recomendado, já que o material não suporta grandes pressões negativas (do solo para a piscina) nem positivas (da água dentro da piscina). Se ela não tiver sustentação, ocorrem trincas, rachaduras e pode até quebrar. A fibra é somente uma casca", ressalta Roberto dos Reis, lembrando que o ideal é se fazer um estudo de solo antes de construir.

Piscina com mais de 80m² devem ser construídas, de preferência, com concreto projetado.

Assim como as piscinas de fibra e vinil, as de alvenaria têm limitações. "Se a área tiver até 80 metros quadrados pode se fazer de alvenaria, com blocos estruturais (de concreto). Acima desta metragem, tem que fazer com concreto armado, usando cortina de aço para aguentar o peso", destaca o construtor. Ele recomenda ainda que toda a construção de piscina tenha a responsabilidade técnica de um engenheiro civil e siga as normas da ABNT relacionadas a sistemas de hidráulica. "O conselho que eu posso dar para o consumidor final é contratar empresas registradas no CREA e com, no mínimo, dez anos de experiência", afirma.

Esta recomendação vale, principalmente, se a construção for em prédio, cujo projeto original não contemple piscina. "Primeiro, é preciso se atentar à profundidade da piscina e se a estrutura do prédio suporta tal peso e volume, principalmente se ela estiver sobre uma laje. Quanto mais alto o prédio, maior a responsabilidade de se construir uma piscina na cobertura, por exemplo. É preciso considerar o efeito pêndulo e as trincas que isso pode causar. Outro ponto vulnerável é a impermeabilização", orienta Roberto dos Reis.

Entrevistado
Roberto dos Reis, proprietário da construtora Nado Livre, especializada em piscinas
Currículo
Roberto dos Reis é graduado em administração de empresas e tem sua empresa filiada à Anapp (Associação Nacional dos Fabricantes e Construtores de Piscinas e Produtos Afins) com homologação para construir piscinas olímpicas
Contato: www.anapp.org.brwww.nadolivrepiscinas.com.br nadolivre@terra.com.br
Créditos fotos: Divulgação / Nado Livre

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Maracanã: estádio sessentão agora é só fachada

Recuperar a estrutura do concreto construída no final dos anos 1940, sem comprometer a arquitetura do patrimônio histórico, foi o maior desafio da obra

Por: Altair Santos

Construído entre 1948 e 1950, o Maracanã foi tombado em 2000 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Este título passou a exigir que qualquer intervenção no estádio preservasse sua arquitetura - sobretudo a fachada - e tornou-se também o grande desafio para que o retrofit da edificação cumprisse as exigência da Fifa para a Copa do Mundo de 2014.

Maracanã: pronto para ser o principal palco da Copa do Mundo de 2014.

As soluções buscadas pela engenharia, no entanto, renderam até prêmio à reforma do Maracanã. O projeto ganhou o “Mipim AR Future Project Awards”. Promovida pela revista de arquitetura inglesa “The Architectural Review”, a premiação indica todos os anos as melhores obras em categorias como arranha-céus, sustentabilidade, edifícios comerciais e desenho urbano. O júri elegeu o estádio, fazendo a seguinte citação: “Trata-se de um engenhoso reuso de estrutura, que permitiu a inclusão de uma espetacular cobertura que adapta o ícone da década de 1950 para o perfeito uso durante a próxima Copa do Mundo”.

Conservar e, principalmente, recuperar a estrutura do Maracanã exigiu que a cobertura de concreto fosse retirada e substituída por um sistema de lonas tensionadas. Isso aliviou a carga sobre o estádio e permitiu também um combate mais eficaz da corrosão progressiva que atingia o concreto. Outra solução foi substituir partes da arquibancada de concreto por estruturas metálicas adaptadas para receber peças pré-moldadas. Além disso, o sistema de amortecimento usando contraforte, que circunda o entorno do gramado do Maracanã, foi outra inovação que serviu para tornar mais leve a carga sobre a estrutura antiga de concreto.

Toda a alvenaria antiga recebeu impermeabilização de poliuréia. O tratamento vai proteger o concreto de reações álcali-agregado (RAA). Da mesma forma, as duas mil peças pré-moldadas fabricadas para as arquibancadas também foram imunizadas contra o risco de corrosão. Todo esse processo, que aliou novas tecnologias à estrutura antiga do Maracanã, permitiu a economia de concreto. Se na construção de 1950 foram empregados 80.000 mil m³ do material, na reforma atual o volume consumido foi de 31.000 m³.

Para o Green Building Council Brasil, o retrofit do Maracanã foi a obra mais sustentável entre as envolvidas com a Copa do Mundo. Tanto que o estádio obteve o certificado LEED (Leardership in Energy and Environmental Design). Também foi o empreendimento que mais absorveu mão de obra. Ao todo, 6.500 trabalhadores atuaram em três turnos para entregar a edificação dentro do prazo. Ao custo de R$ 1,049 bilhão, o Maracanã será inaugurado oficialmente dia 2 de junho, na partida entre as seleções do Brasil e da Inglaterra.

Entrevistados
Empresa de Obras Públicas do Estado (Emop) e Secretaria de obras do estado do Rio de Janeiro. (via assessoria de imprensa)
Contato: imprensa@obras.rj.gov.br
Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Adesão às engenharias cresce, mas evasão segue alta

Cursos ofertados pelas universidades recebem quatro vezes mais estudantes. Porém, de cada 100, só 44 se formam

Por: Altair Santos

Dados do ministério da Educação, a partir do censo de 2010, demonstram que os cursos de engenharia concentram o segundo maior volume de estudantes nas universidades brasileiras - perdem apenas para os de administração. De acordo com o levantamento, dos que optam pelas engenharias, 24% cursam civil, 18,6% produção, 11,5% mecânica e 11,3% elétrica. No total, 227,8 mil estão matriculados atualmente nas graduações de engenharia.

Roberto Leal Lobo e Silva Filho, ex-reitor da USP e presidente do Instituto Lobo: engenharia civil é o símbolo das engenharias.

Apesar do aumento da demanda, o MEC ainda se preocupa com a alta evasão dos cursos, principalmente nos primeiros dois anos. As aulas excessivamente teóricas e a exigência de conhecimento aprofundado de matemática e física são apontados como os responsáveis pela fuga, que em alguns cursos ultrapassa os 60%. Para Roberto Leal Lobo e Silva Filho, ex-reitor da USP (Universidade de São Paulo) e presidente do Instituto Lobo, esse é um gargalo que as escolas de engenharia precisam solucionar. "O engenheiro moderno deve ser orientado a saber o que precisa ser feito, mais do que como fazer", afirma, abordando este e outros temas na entrevista a seguir. Confira:

Recentemente, o jornal Folha de S. Paulo publicou reportagem mostrando que os cursos de engenharia são o segundo mais procurados, perdendo apenas para os de administração. Quais os pontos positivos dessa alta demanda?
O número de ingressantes nos cursos de engenharia tem crescido vertiginosamente nos últimos anos, cerca de quatro vezes mais que a taxa de crescimento dos ingressantes em geral. No último ano documentado, 2011, os ingressantes aumentaram 27% em relação aos do ano anterior. A maior parte deste crescimento se verificou no setor privado (34%). Até 2005, a demanda esteve quase estagnada, iniciando em 2006 um período de grande recuperação. Para o Brasil, que tinha uma baixa proporção de engenheiros formados em relação ao total de formados (5%) diferentemente dos países da OECD - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (13%) e da Coreia (23%) esse crescimento é benéfico, porque vai formar mais profissionais necessários para atuar em projetos de crescimento industrial e da infraestrutura. Acredito que esse crescimento foi uma resposta a duas sinalizações: a recuperação do crescimento do PIB até 2008 e a sinalização de investimentos estatais e privados pelo PAC e a realização de grandes eventos internacionais no Brasil, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Por outro lado, nem todos que entram nos cursos de engenharia concluem a graduação. A evasão ainda é alta. Como reverter isso?

A evasão é um dos componentes que ameaça o crescimento sustentável da engenharia no país. Crescimento, esse, que está ameaçado pelos seguintes fatores:

1) Desaceleração da economia (crescimento pequeno do PIB).
2) Altas taxas de evasão dos ingressantes (na engenharia, para cada 100 ingressantes se formam aproximadamente 44). Como a evasão se dá principalmente no setor privado, o crescimento do número de ingressantes neste setor provavelmente representará um aumento da evasão global.
3) O número de estudantes que conclui o ensino médio é quase igual ao de novos ingressantes no ensino superior. Isso quer dizer que o crescimento dos ingressantes nas engenharias está se dando à custa da redução de ingressantes em outras áreas.

Para combater a evasão, há várias medidas possíveis que dependem de diferentes agentes. Para as instituições de ensino superior é possível procurar selecionar melhor os estudantes, criar programas de recuperação de conteúdos - principalmente para os alunos dos primeiros anos -, criar programa de orientação vocacional, trazer algumas práticas profissionais já para o início do curso para não deixar o aluno se desmotivar com a carreira. Para o governo, a criação de bolsas de estudo e ampliação dos programas de financiamento ao estudante, como o FIES e o PROUNI, também seria válido. Já para as entidades profissionais, como Confea e Creas, cabe flexibilizar as atribuições profissionais, incentivando a aglutinação de especialidades para formar o engenheiro com uma visão mais geral e com formação pessoal mais ampla. Isso inclui competências não específicas da engenharia, como planejamento, liderança, trabalho em equipe e línguas.

Quando esses estudantes concluírem os cursos e chegarem ao mercado de trabalho, haverá emprego para todos, haja vista que o país não vem crescendo nas taxas que deveria?

Confio na empregabilidade do grande número de engenheiros que eventualmente venha a se formar nos próximos anos. Por dois motivos:

1) Há uma forte carência de engenheiros atualmente no Brasil (estima-se em cerca de 150 mil) e estudos sugerem que se o Brasil mantiver uma taxa de crescimento entre 3 e 5% serão necessários mais de 60 mil formados por ano para suprir as novas demandas. Em 2011, formaram-se 44 mil engenheiros.
2) A formação dos engenheiros em matemática, modelagem e métodos científicos de abordagem de problemas, prepara-os para várias funções no mercado que não de engenharia propriamente dita. Se houver, eventualmente, uma redução na demanda específica de engenheiros muitas outras ocupações poderão estar disponíveis: funções de gerenciamento, bancos, mercado financeiro, etc. Atualmente, somente 1/3 dos engenheiros formados atua na área. Este número não é diferente nos Estados Unidos.

Poderia haver um volume ainda maior de engenheiros no país se o ensino de matemática e física nos ensinos fundamental e médio fosse desmistificado?

Certamente, um dos problemas da educação brasileira que prejudica muito a formação de profissionais nas áreas de ciências exatas é a má formação em matemática e ciências no nosso ensino básico. As colocações brasileiras nos exames internacionais do ensino básico, realizados pela OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), através do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), estão entre as 10 piores entre os países participantes.

Das engenharias, a engenharia civil é a que tem a maior demanda. O status do curso tem influência nisso ou é por que a construção civil realmente sinaliza que tem espaço para absorver novos profissionais?

A engenharia civil é o símbolo das engenharias e um termômetro de seu prestigio e da sua demanda. As previsões feitas pelo Ipea ( Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) colocam a construção civil como uma das três maiores demandas na área das engenharias.

Surpreende o volume de estudantes que cursam engenharia da produção, superando mecânica e elétrica. Quais as virtudes desse curso para atrair um bom número de alunos?

Verifica-se também uma demanda alta pela engenharia de produção, que é uma área mais multidisciplinar e atende aos estudantes que procuram uma engenharia menos dura e especializada, com maior ênfase em processos e em gestão. Ela acaba absorvendo estudantes que se dividiriam entre outras áreas da engenharia.

Faltam nas universidades uma gama maior de cursos de engenharia?

A excessiva especialização dos cursos de engenharia é outro problema que o setor enfrenta. Havia no Confea 258 especialidades de engenharia, o que indica uma pulverização perigosa. Mesmo porque, a alta especialização no nível de graduação em uma época de acelerado progresso tecnológico tende a fazer com que o estudante se forme em áreas que já se tornaram obsoletas, ao invés de prepará-los para uma rápida adaptação aos novos conceitos e tecnologias por meio de uma formação mais abrangente e menos focada. É o técnico e o tecnólogo que, pela própria formação vocacional, deveriam ter uma visão mais focada em áreas mais restritas e uma formação que os colocasse imediatamente no mercado de trabalho. Não é papel da graduação universitária a de preparar profissionais para se inserirem imediatamente em uma empresa específica. O que se espera deste profissional é uma visão mais ampla. O engenheiro moderno deve saber o que precisa ser feito, mais do que como fazer, segundo os estudos internacionais apontam.

Num comparativo, as universidades públicas ainda têm os melhores cursos de engenharia ou as instituições privadas já equilibraram essa disputa?

De modo geral, as instituições públicas têm apresentado um melhor resultado nas avaliações de seus estudantes do que as instituições privadas. Isso se dá pela maior seleção dos estudantes. As relações candidatos/vagas são muito maiores nas instituições de ensino superior público, por que têm maior prestígio, mais professores titulados e em dedicação exclusiva e, ainda mais, são gratuitas. A qualidade dos estudantes tem influência direta na qualidade dos formandos. Além disso, a maioria dos cursos de engenharia do setor público são diurnos ou em horário integral, absorvendo alunos recém-saídos do ensino médio, o que não ocorre no setor privado, com cursos noturnos, estudantes que trabalham e estudam e trazem menor bagagem cultural.

Como está o nível dos professores que lecionam engenharia nos cursos espalhados pelo país?

O maior problema do corpo docente que atua nos cursos de engenharia no Brasil é a dificuldade de encontrar professores com formação acadêmica avançada - doutorados, de preferência -, que aliem esta formação a uma experiência relevante no mercado de trabalho, como existe nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. No Brasil, o docente tem boa formação acadêmica, mas pouca experiência profissional ou muita experiência profissional e pouca formação pós-graduada. Isto se deve ao fato de que há uma geração atrás havia pouca pós-graduação instalada no Brasil e a pós-graduação se concentrava nas áreas das ciências básicas. Outro problema é o fato de que as empresas brasileiras não dão o valor devido à formação pós-graduada. Em parte, pela quantidade muito limitada de programas de inovação competitivos internacionalmente, o que faz com que estes profissionais se abriguem nas universidades e não tenham experiência profissional no setor produtivo (para cada 50 doutores trabalhando em nossas universidades há somente 1 nas empresas).

Entrevistado
- Roberto Leal Lobo e Silva Filho, engenheiro e doutor em física, ex-reitor da USP, presidente do Instituto Lobo e diretor do ISITEC (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia)
Currículo
- Roberto Leal Lobo e Silva Filho é graduado em engenharia elétrica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1961), com mestrado em Física pela Purdue University (1967) e doutorado em Física pela Purdue University (1967)
- Atualmente é membro do conselho deliberativo do núcleo de pesquisas sobre ensino superior (USP), sócio-diretor do Lobo & Associados Consultoria e Participação S/C Ltda., professor-visitante do Instituto de Estudos Avançados (USP) e presidente do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia
Contato: www.loboeassociados.com.brrllobo@loboeassociados.com.br
Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Maquete decide venda de imóvel na planta

Miniaturas das edificações desempenham contundente estratégia de marketing sensorial e têm forte influência no momento da compra

Por: Altair Santos

O novo mercado imobiliário, onde boa parte dos negócios é fechada com os imóveis ainda na planta, ganhou um componente decisivo nas vendas: as maquetes. As miniaturas das edificações passaram a desempenhar contundente estratégia de marketing sensorial, pois o detalhamento de suas construções consegue transmitir a informação exata dos empreendimentos. Esse realismo transfere credibilidade e segurança ao comprador, segundo explica Fábio Fogassa, diretor-geral da Adhemir Fogassa Maquetes. "Ela mostra a realidade antes de existir e ajuda o investidor a se imaginar dentro do local depois de pronto. Enfim, mostra o sonho fisicamente e não apenas por imagens", diz.

Vila olímpica do Rio de Janeiro: maquete influenciou na decisão do COI em escolher a cidade para sediar Olimpíadas de 2016.

Construídas com tecnologia, as maquetes contam com máquinas de corte a laser, integradas a resinas, cores e materiais de acabamento, que permitem que elas cheguem o mais próximo possível da realidade. São elementos que possibilitam, em escala reduzida, reproduzir acessórios com aparência de vidro, mármore, pedra, cimento, azulejo ou madeira, o que ajuda a simular qualquer tipo de ambiente em áreas internas e externas. "Com a tecnologia disponível hoje, uma maquete consegue ser 100% fiel à edificação que será construída", afirma Fogassa, lembrando ainda que a qualificação da mão de obra também tem sido decisiva nesta evolução.

Um maquetista - nome do profissional que fabrica maquetes - leva cerca de cinco anos para aprender todas as técnicas. Atualmente há estudantes de arquitetura e designer investindo nesta qualificação, mas a maioria que atua no país não passou por cursos ou universidades. "São práticos com vocação artística, que aprenderam a profissão fazendo", revela Fábio Fogassa, atribuindo à computação um peso relevante na construção das maquetes produzidas atualmente. "Antes da participação das novas ferramentas, a empresa produzia 25 maquetes em um mês, contando com o trabalho de 140 funcionários. Hoje, com os equipamentos avançados, são 170 maquetistas em ação, produzindo três vezes mais para atender a demanda do mercado, que não para de crescer", observa.

Maquetes são cada vez mais detalhadas e passam credibilidade ao comprador.

O custo médio de uma maquete depende da demanda de trabalho. Há casos em que pode custar tanto quanto um apartamento, chegando a R$ 3 milhões. Na média, elas têm o valor de R$ 10 mil a R$ 30 mil, dependendo da região do país em que são fabricadas. "Uma maquete custa para o nosso cliente uma porcentagem insignificante do valor dos imóveis que ela vai ajudar a vender", ressalta Fogassa. Um exemplo clássico é a maquete da vila olímpica do Rio de Janeiro, feita para a candidatura da cidade às Olimpíadas de 2016. A miniatura, que custou R$ 230 mil, foi decisiva para que o COI (Comitê Olímpico Internacional) definisse a sede.

Esta e outras maquetes produzidas pela Adhemir Fogassa Maquetes são mantidas como obras de arte pelos clientes. Na maioria das vezes, porém, os materiais são reciclados, permitindo abatimento no custo e produção mais rápida de outras miniaturas. Há fabricantes de maquete que também estão investindo em materiais reciclados, como garrafas pet e embalagens tetra pak, para fabricar seus produtos.

Fábio Fogassa: maquete consegue ser 100% fiel à edificação que será construída.

Entrevistado
Fábio Fogassa, diretor-geral da Fogassa Maquetes
Currículo
Fábio Fogassa herdou a técnica de construção de maquetes do pai, Adhemir Fogassa. Atua no setor desde os oito anos de idade e recentemente sucedeu o pai na administração da empresa
Contato: maquetes.com.br/contato
Créditos fotos: Divulgação/Adhemir Fogassa Maquetes

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Lei das domésticas leva mulher à construção civil

PEC recentemente aprovada estimula trabalhadoras a buscarem cursos de qualificação para atuar em canteiros de obras

Por: Altair Santos

Promulgada em 3 de abril de 2013, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que ficou conhecida como "Lei das Domésticas" passou a estimular ainda mais o fluxo de mulheres em direção à construção civil. A mudança na relação entre quem contrata e quem atua no trabalho doméstico deixou direitos em suspenso, causando o deslocamento de trabalhadoras desta categoria profissional para o canteiro de obras. Para isso, elas precisam de qualificação, o que ampliou também a demanda por cursos. Só no Projeto Mão na Massa, um dos mais conhecidos do país em formação de mão de obra feminina para a construção civil, as turmas de 60 vagas têm sido procuradas por até 280 mulheres. "A cada nova turma que abrimos, a procura é intensa", revela a engenheira civil Deise Gravina.

Projeto Mão na Massa: cursos com 60 vagas têm procura de até 280 mulheres.

Antes mesmo de a "Lei das Domésticas" passar a vigorar, o interesse das mulheres por qualificação na construção civil já era intenso. Entre os motivos, estão as garantias trabalhistas e os salários atrativos. "O aumento de salário é um deles, assim como o registro em carteira e o reconhecimento de uma profissão. Acompanhamos casos de evidente elevação de autoestima, principalmente entre as ex-domésticas, já que o trabalho doméstico, ainda que equivocadamente, é visto como um trabalho de menor valor", explica Deise Gravina, afirmando que atualmente a qualificação mais procurada no Projeto Mão na Massa, cuja sede fica no Rio de Janeiro, é o de carpinteira de fôrmas. Os cursos da ONG também formam pedreiras, pintoras e eletricistas.

Pioneiro no Brasil em qualificar mulheres para a construção civil, o Projeto Mão na Massa começou em 2008. Hoje, a mão de obra feminina em canteiro de obras já é uma realidade em todo o país. "Percebemos que nestes cinco anos conseguimos quebrar o paradigma de que obra não é lugar para mulheres. E isso não tem mais volta. Elas entraram no canteiro e, bem qualificadas, irão permanecer", analisa Deise Gravina, citando que alguns empregadores já preferem a mão de obra feminina à masculina. "Na carpintaria, na gestão de segurança de obras, assim como na fase de acabamento, as mulheres já são mais competitivas do que os homens", completa a engenheira civil.

O número de mulheres que atua na construção civil aumentou 65% em cinco anos, segundo dados do ministério do Trabalho e Emprego. Estima-se que atualmente elas ocupem cerca de 400 mil vagas formais. Isso equivale a 11,59% do total de mão de obra empregada no setor. Segundo dados publicados em abril de 2013 pela pesquisa do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), há 3,450 milhões de trabalhadores atuando na construção civil.

Entrevistada
Deise Gravina, coordenadora do Projeto Mão na Massa
Currículo
Deise Gravina, 56 anos, é graduada em engenheira civil e idealizadora do projeto Mão na Massa
Contato: contato@projetomaonamassa.org.brcoordenacao@projetomaonamassa.org.br
Créditos foto: Ana Branco/Mão na Massa

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

ABCP estuda levar cursos para a plataforma e-learning (Podcast)

Cerca de 500 mil profissionais já passaram pelas aulas presenciais da Associação, que agora quer propagar conhecimento através do ensino à distância

Hugo Rodrigues: só em 2012, passaram seis mil profissionais pelos cursos da ABCP.
Por: Altair Santos

Entrevistado
Hugo da Costa Rodrigues Filho, gerente de comunicação da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)
Currículo
- Hugo Rodrigues é graduado em engenharia civil (1977) com mestrado em materiais de construção pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) (1993)
- Concluiu MBA em Comunicação e Marketing pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) (2003)
- Atualmente é diretor do DECONCIC-FIESP (Departamento da Indústria da Construção da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e diretor de Publicações e Divulgação Técnica do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto)
- Foi diretor-suplente do Conselho de Institutos da FICEM (Federação Interamericana del Cemento) no período 2011-2012
- Integra a coordenação executiva dos Congressos Brasileiros da Construção, Construbusiness do DECONCIC/FIESP desde sua 4ª edição, em 1994, cuja 10.ª e última edição ocorreu em 2012
- Atua na ABCP desde 1976, dedicando-se na última década à área de comunicação.
Contato: hugo.rodrigues@abcp.org.br
Créditos foto: Divulgação

Clique no player abaixo e ouça a entrevista na íntegra

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330