Engenhão é exemplo de como não se deve construir estádio
Inaugurado há seis anos, complexo esportivo encontra-se interditado, apresentando tanto problemas de projeto quanto de execução das obras
Por: Altair Santos
Desde 26 de março de 2013, o estádio olímpico João Havelange - popularmente conhecido como Engenhão - está sob interdição decretada pela prefeitura do Rio de Janeiro. O complexo esportivo foi fechado depois que estudos realizados pela empresa alemã SBP (Schlaich, Bergermann und Partner) concluíram que a estrutura da cobertura do estádio extrapolava os níveis de segurança recomendados pelas normas técnicas, principalmente a NBR 6123 - Forças devidas ao vento em edificações.
No relatório da SBP, a resistência ao vento da estrutura metálica que sustenta a cobertura do Engenhão caiu de 115 km/h, como previa o projeto original, para 63 km/h. Esse deslocamento de 54% surpreendeu até o consórcio que assumiu a construção do estádio em sua reta final. A princípio, a obra estava sob o comando das construtoras Delta, Racional e Recoma. Depois deste grupo admitir que não tinha capacidade técnica para instalar a cobertura, a prefeitura do Rio de Janeiro assinou contrato emergencial com a Odebrecht e a OAS, formando o consórcio Engenhão, que também será responsável por recuperar a cobertura do estádio, o qual irá precisar de reforço estrutural.
O projeto da cobertura do Engenhão foi assinado pelo engenheiro civil Flávio D'Alambert, da empresa Alpha. Na época da interdição, o profissional admitiu que o cronograma apertado exigiu mudanças nos processos construtivos, mas negou, em nota oficial, que o prazo curto tenha afetado a qualidade da obra. "O projeto previa a construção total da estrutura em forma de anel, com quatro grandes arcos, e ela seria escorada até o final da obra. Depois seriam retiradas essas escoras e ela entraria em trabalho uniformemente. Essa era a ideia inicial. Mas, infelizmente, devido ao prazo que se tornou muito curto, teve que se desenvolver uma série de outros estudos para adaptar esse modelo, ou seja, para se atingir o prazo de entrega da obra a retirada das escoras foi feita por trechos, mudando as concepções iniciais", justificou.
Os reparos no estádio, que custou R$ 380 milhões e foi inaugurado há seis anos, só devem ficar prontos em novembro de 2014. Até lá, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) espera ter concluído as investigações para determinar responsabilidades e possíveis falhas no exercício profissional em relação à obra do estádio olímpico João Havelange. O organismo formou uma comissão integrada por especialistas e já está de posse das Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs) para avaliá-las. “No que diz respeito aos profissionais com registro no Crea-RJ, vamos apurar responsabilidades. Quanto aos que são de outros estados, isso implicará em ações de outros conselhos regionais”, diz o presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro.
Quem também acompanha as investigações sobre o que ocorreu no Engenhão é a comissão do legado da Copa do Mundo e Olimpíadas no Rio de Janeiro, criada no Congresso Nacional e presidida pelo deputado Alessandro Molon (PT-RJ). "Nossa preocupação é que o mau exemplo dado pelo Engenhão não se repita em outros estádios. É um absurdo que uma obra com seis anos de vida, e que custou quatro vezes mais aos cofres públicos, tenha que ser interditada", afirma o parlamentar, que integra a comissão do Crea-RJ e revela outros problemas já detectados no estádio carioca. "As falhas não estão só na cobertura. Verificamos erros nos projetos de abastecimento de energia e de água do estádio, além de infiltrações que estão causando a queda de placas da fachada da obra", revela. O Engenhão precisa estar 100% recuperado até os jogos olímpicos de 2016, quando receberá as provas de atletismo.
Entrevistados
Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) (via assessoria de imprensa)
Deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ) presidente da Comissão do Legado da Copa do Mundo e Olimpíadas no Rio de Janeiro
Currículo
- Alessandro Molon é graduado em direito e mestre em história pela Universidade Federal Fluminense. É professor em direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
- Eleito com mandato até dezembro de 2014, é deputado federal e membro titular da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, além de relator do Marco Civil da Internet e da Reforma do Código Penal, que tramita na Câmara.
- Preside a Comissão do Legado da Copa do Mundo e Olimpíadas no Rio de Janeiro.
Contatos: atendimento@crea-rj.org.br / dep.alessandromolon@camara.leg.br
Crédito: Crea-RJ / Wilson Dias / Abr / Divulgação
Jornalista responsável: Altair santos - MTB 2330
Congresso decifra preferência por ponte estaiada
Evento promovido pela ABECE e pela ABPE destaca que "arte de projetar" leva a um número significativo de obras que adotam modelo de estrutura
Por: Altair Santos
As pontes estaiadas se destacaram no VI Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas, que aconteceu dias 27 e 28 de junho de 2013, em São Paulo. O evento, que é promovido anualmente pela ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e pela ABPE (Associação Brasileira de Pontes e Estruturas) reuniu conferencistas consagrados da engenharia nacional. Entre eles, Carlos Henrique Siqueira, João Luís Casagrande, Roberto Alves, Rui Oyamada, Fernando Rebouças Stucchi, Bruno Contarini, Catão Francisco Ribeiro e Ubirajara Ferreira da Silva, que em sua palestra destacou que a "arte de projetar" é que tem levado a um número significativo de construções de pontes estaiadas.
Segundo o vice-presidente da ABPE, as pontes estaiadas esbanjam técnica e visual e remetem a sociedade às obras clássicas do passado da engenharia, como as estruturas pênseis e em arco. Por isso, prevalecem hoje no modelo de construção de pontes e viadutos. Além disso, ele ressalta que a evolução das ferramentas de cálculo e o maior conhecimento da ciência dos materiais contribui para os projetos das pontes estaiadas. "O único risco é que elas sejam projetadas de forma indiscriminada. Quando é recomendável construir uma ponte estaiada? Para superar grandes rios, grandes depressões, áreas de navegação ou transposições de extensos vãos", explica.
Ubirajara Ferreira da Silva revela que atualmente há dois projetos de pontes estaiadas que se destacam no Brasil. "Um tem 460 metros de vão e será construído em Santos, mas depende de questões jurídicas para ser liberada a construção. Tem também o projeto em Laguna, Santa Catarina, com o vão de 200 metros", relata, observando que pontes estaiadas, apesar de permitirem estilos arquitetônicos maravilhosos, são estruturas caras que precisam de tecnologia e de projetos feitos por engenheiros experientes. "Na minha conferência no congresso, destaquei que uma ponte precisa contemplar quatro componentes: concepção estrutural adequada, realidade econômica, técnica construtiva e beleza", diz, cujo título da palestra foi "Considerações técnicas em projetos e em execução de pontes em concreto".
O engenheiro explica que é possível superar vãos extensos com projetos convencionais e mais econômicos do que os de pontes estaiadas. "Eu estou fazendo um projeto de uma ponte sobre o Rio Madeira, no Amazonas, que tem 1.100 metros de comprimento, com vão central de 170 metros e 8,6 metros de altura. É uma estrutura que não é estaiada, mas é mais econômica", afirma Ubirajara Ferreira da Silva, alertando, porém, que é preciso não se ater apenas ao aspecto econômico para construir pontes e viadutos. Ele cita como exemplo as estruturas em pré-moldado. "Em Porto Alegre, tem um viaduto do qual eu sou crítico, pois ele foi construído todo em viga pré-moldada, em curva horizontal e em curva vertical, que é um verdadeiro absurdo", avalia.
Pré-moldados e especialistas
Ubirajara Ferreira da Silva faz ressalvas também à utilização de vigas protendidas pré-moldadas em tabuleiros de pontes. "Eu projeto este tipo de ponte. Mas acontece que estão fazendo de uma forma que prejudica não só a economia como prejudica também a estética. Os engenheiros projetistas têm a obrigação de estudar soluções para uma ponte, antes de lançá-las. Por isso, elas são chamadas de estruturas especiais", opina, completando que o custo do canteiro de obras e dos equipamentos para içar os pré-moldados ainda não é competitivo. "A utilização de vigas pré-moldadas exige aparelhos de apoio e canteiros de obras bastante sofisticados. Para se ter uma ideia, cada lançamento de uma viga, desde o canteiro de pré-fabricação até o posicionamento no tabuleiro, custa cerca de 30 mil reais. Isso onera muito a obra."
O vice-presidente da ABPE alertou que a engenharia brasileira, que já bateu recordes em várias obras de pontes e viadutos, atualmente está precisando recorrer a tecnologias estrangeiras para se assessorar. "Os grandes engenheiros que tínhamos no passado, hoje contam-se nos dedos. O que nós temos são engenheiros muito teóricos e com pouca ou nenhuma experiência na área de pontes e edificações. Esse é um problema sério nas escolas de engenharia. Outra questão são as normas técnicas, que atualmente têm passado por revisões importantes por causa dos documentos internacionais. Há 30 anos o Brasil vivia uma realidade e hoje vive outra no setor de construção de pontes", concluiu.
Leia conteúdo da conferência de Ubirajara Ferreira da Silva
Entrevistado
Ubirajara Ferreira da Silva, vice-presidente da ABPE (Associação Brasileira de Pontes e Estruturas)
Currículo
- Ubirajara Ferreira da Silva é engenheiro civil graduado pela PUC-RJ, em 1960
- Tem diversos cursos de especialização em pontes de concreto, inclusive em Paris-França, na ASTEF, em 1965, e reciclagem, em 1975, na L´ATIME
- É membro da diretoria da ABPE (Associação Brasileira de Pontes e Estruturas) e ocupa atualmente o cargo de vice-presidente
- Trabalhou no DNER por cerca de 30 anos, na seção de obras de arte
- Projetou cerca de 600 pontes em concreto, sendo 16 executadas pela técnica de balanços sucessivos. As mais recentes foram sobre o rio Machado (RO) e rio Ariquindá (PE) em 2012
- É diretor-técnico da UFS Engenharia Ltda
Contato : ubirajarafs@gmail.com
Créditos fotos: Divulgação/ABECE
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Pequenas empresas despertam para a ISO 9001
Busca pela certificação tem atraído muitas construtoras, pois tornou-se exigência do PBQP-H para a concessão de financiamento público
Por: Altair Santos
Quando se fala em melhorar a operacionalidade, ampliar a participação no mercado, reduzir os custos, gerenciar riscos e atingir a satisfação do cliente, nenhuma outra estrutura de qualidade é melhor que a ABNT NBR ISO 9001. Para conduzir aos objetivos traçados, a norma se sustenta sobre três pilares: melhoria da satisfação dos clientes, motivação dos colaboradores e superação contínua. Há mais de uma década, as grandes empresas brasileiras sabem que o caminho para alcançar essas metas é ter a certificação. Desde 2008, quando saiu uma nova versão, a qual facilitou o entendimento da norma, são as pequenas empresas nacionais que passaram a despertar para a ISO 9001.
Atualmente, segundo dados da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) já existem 35.000 certificados de ISO 9001 emitidos no Brasil. Deste volume, 3.798 abrangem pequenas empresas, entre as quais 934 são ligadas à construção civil. Segundo o consultor de empresas, com foco em diagnóstico e análise da estrutura organizacional e mapeamento de processos, Carlos Bonetti, boa parte destas 934 são construtoras. "Por dois motivos: o amadurecimento do mercado, com o consequente aumento da competitividade, e a exigência da certificação junto ao PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade-Habitar) para se obter financiamento público para a construção de moradias", explica.
Para Carlos Bonetti , quando uma pequena empresa se propõe a obter a ISO 9001 ela está disposta a quebrar paradigmas. De acordo com o especialista, seriam três: certificação é possível e é acessível, gestão profissional não é perda de controle e retenção de talentos não é moda ou privilégio de multinacionais. Bonetti também destaca que os requisitos da ISO 9001 pedidos para grandes e médias corporações são os mesmos solicitados às pequenas. "Os critérios têm como base princípios gerenciais consagrados na década passada: foco no cliente, liderança, abordagem de processo e melhoria contínua", afirma, completando que tratam-se de componentes essenciais para a empresa que busca crescimento sustentado, independentemente do tamanho.
Qualquer empresa que queira adotar a ISO 9001 precisa ter consciência de que passará por mudanças, em menor ou maior grau. "O nível de transformação será de acordo com o grau de maturidade da organização. Mas as transformações sempre são positivas. A minha experiência com empresas certificadas mostra que a opção pela certificação é uma decisão acertada, com melhorias ao longo de toda a cadeia produtiva", ressalta o especialista, mostrando os pontos comuns entre as empresas que buscam se adequar à norma: "O perfil é de companhias em expansão de seus negócios e que querem evitar um crescimento desordenado, que provoque descompasso entre vendas e produção."
Quando adotada, a certificação traz conquistas às empresas que podem ser divididas em dois grupos: financeiras e não financeiras.
Financeiras
Maior organização e controle dos processos internos
Redução dos custos operacionais
Melhorias nos produtos e serviços fornecidos
Redução de refugos e retrabalhos
Melhorias sustentadas e nas performances
Produtividade
Não financeiras
Melhorias nas operações
Melhorias na motivação
Melhoria de imagem (interna e externamente)
Melhoria do desempenho produtivo
Já, quanto ao custo para a implantação da ISO 9001, vai depender do investimento, do tempo, do tamanho da empresa, do grau de maturidade e, principalmente, do grau de comprometimento da alta direção. "O que indico ao empresário é que o planejado não é caro, ou seja, ele precisa planejar a certificação como um investimento e analisar criteriosamente o custo/benefício e o prazo estimado de retorno financeiro", sugere Carlos Bonetti. Na média do mercado, a implantação de uma ISO 9001 em uma pequena empresa pode custar de R$ 15 mil a R$ 40 mil, dependendo da organização que a Companhia já possua e do tempo para consolidar a certificação, que pode variar de seis meses a um ano.
Entrevistado
Carlos Bonetti, consultor de empresas, com foco em diagnóstico e análise da estrutura organizacional e mapeamento de processos.
Currículo
- Carlos Benetti é graduado em química, com especialização em gerenciamento ambiental na indústria e MBAs em estratégia e gestão empresarial, pela UFPR, e em finanças, auditoria e controladoria pela FGV-ISAE
- É instrutor, professor e atua como consultor de empresas com foco em diagnóstico e análise da estrutura organizacional e mapeamento de processos
- Tem experiência de mais de 20 anos em indústria química nas áreas de projetos, suprimentos e gestão de sistemas da qualidade, meio ambiente e segurança industrial
- Atuou como consultor e diretor industrial em empresa metalúrgica e possui vivência como facilitador de inovação e compliance
Contatos: carlos.paula@bsiexternal.com / carlos-benetti@hotmail.com
Créditos fotos: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Combate às patologias começa na impermeabilização
Estanqueidade de uma obra precisa vir contemplada no projeto. Caso contrário, além de infiltrações, custo da construção encarece mais de 12%
Por: Altair Santos
O custo de uma boa impermeabilização representa de 1% a 2% no orçamento total da obra. Isso, se ela já vier incluída no projeto do empreendimento. Caso contrário, se tiver que ser feita depois de constatados problemas na construção, o processo pode gerar um acréscimo superior a 12% no custo da mesma obra. Por isso, impermeabilizar corretamente é melhor do que combater patologias. Esse foi o legado do 13º Simpósio Brasileiro de Impermeabilização, que aconteceu em junho de 2013, em São Paulo. No encontro, foram apresentadas inovações, tendências e tecnologias que devem estar presentes tanto nas grandes obras quanto nos empreendimentos imobiliários, como explica na entrevista a seguir a arquiteta Elka Porciúncula, especialista em impermeabilização com ênfase em projetos. Confira:
Os projetos, sejam de grandes obras ou de empreendimentos imobiliários, têm dado relevância à impermeabilização ou essa é uma preocupação ainda periférica na construção civil?
A conscientização da necessidade de uma boa impermeabilização na construção civil decorre da crescente ocorrência de patologias, fruto de mau serviço executado em obra, no que diz respeito a estanqueidade e proteção estrutural. Nos empreendimentos imobiliários, isso é computado em planilha de custo com orçamentos planejado que não admitem desvios. Portanto, corrigir ou refazer a impermeabilização é bastante oneroso. Nas grandes obras, geralmente com recursos públicos, essas ocorrências são resolvidas com novas contratações e não com cobranças dos responsáveis pelo serviço mal executado. Deveria ser diferente, com a maior fiscalização do uso de verbas públicas.
Em termos de custo/benefício e vida útil de um empreendimento, qual o peso da impermeabilização na obra?
O custo de uma boa impermeabilização em uma obra esta dentro de uma margem de 1% a 2% do custo geral e representa muito pouco na planilha de custo final, visto que significa preparar a edificação contra os efeitos de infiltração , dando estanqueidade a sistemas construtivos e protegendo a estrutura contra corrosão, fissuras, descolamentos, ações químicas etc. Refazer a impermeabilização eleva esse custo a uma margem superior a 12%, segundo estudos já elaborados.
Quais normas estão vinculadas hoje ao correto emprego da impermeabilização?
A NBR 9575 - Projeto de Impermeabilização; NBR 9574 - Serviços de Impermeabilização, e NBR 15575 - Desempenho dos Sistemas Construtivos, além de todas as normas que se referem aos produtos e elementos utilizados em impermeabilização, como NBR 9952 - Mantas Asfálticas; NBR 9910 - Asfalto Modificado, e NBR 9686 - Solução e Emulsão Asfáltica.
Sabe se há alguma norma em processo de revisão ou sendo criada para melhorar o processo de impermeabilização?
Atualmente, as NBR 9952 – Mantas Asfálticas para impermeabilização, está na comissão de estudo de sistemas de mantas asfálticas da ABNT, assim como a NBR 11905 - Sistema de Impermeabilização Composto por Cimento Impermeabilizante e Polímeros, que encontra-se na comissão de estudo de sistemas rígidos da ABNT.
No que a norma de desempenho (NBR 15575) vai acrescentar na melhoria dos processos de impermeabilização?
A NBR 15575 – Desempenho dos Sistemas Construtivos para Edificações Residenciais chega em um excelente momento da construção civil, onde novas tecnologias e materiais estão sendo utilizados e precisam ser balizados para atender aos critérios desejados pelos usuários, que são o objetivo final da edificação. As incorporadoras e construtoras devem conceber e executar as obras de acordo com processos construtivos que atendam o nível de desempenho especificado em projeto para ser atingido ao longo de uma vida útil. Isso envolve toda a cadeia construtiva - incorporadores, projetistas, construtores, fabricantes, fornecedores de insumos e o usuário. Em impermeabilização teremos um processo muito mais planejado em suas etapas, que possibilitará rastrear o que foi executado, como e por quem, desde que devidamente documentado o procedimento. A NBR 15575 se baseia nas normas prescritivas que, em impermeabilização, seriam a NBR 9575 e a NBR 9574, acrescentando conceitos novos ao que se pretende em requisitos de estanqueidade, proteção das estruturas, resistência ao fogo etc. Também define quais os prazos de garantias para cada sistema construtivo e sua vida útil e vida útil de projeto. Muito ainda será preciso medir em laudos e ensaios técnicos. Não temos as informações balizadas para definir esses prazos, mas certamente é um avanço no que diz respeito à qualidade da construção civil.
Quando se elabora um projeto de impermeabilização, o que deve ser levado em consideração?
Em impermeailização é preciso um processo muito mais planejado, que começa pelo estudo do terreno e suas características geomorfológicas e químicas, bem como o entorno, além de estudos de drenagens. Também é preciso ter a compreensão do projeto de arquitetura e de todos os outros envolvidos numa obra, compatibilizando sempre as indicações dos sistemas de impermeabilização e os sistemas construtivos adotados. Por fim, quando o empreendimento estiver pronto, se faz necessário orientar o usuário sobre como utilizar as áreas que receberam impermeabilização.
O que diferencia, em termos de impermeabilização, quando se faz um projeto para uma grande obra (pontes, viadutos, estádios etc) e para um empreendimento imobiliário, por exemplo?
Na elaboração de projetos de impermeabilização não existe diferença entre empreendimentos imobiliários e grandes obras. O que difere são os estudos técnicos necessários para iniciar um estudo preliminar de impermeabilização para a obra a ser executada. Grandes obras possuem interfaces multidisciplinares que precisam ser bem discutidas, até para se formatar a real necessidade de impermeabilizar e como isso funcionará em decorrência de diversos fatores possíveis no pós-obra, como ações de vento, chuvas, movimentos, alto tráfegos, exposição ao sol etc. Geralmente, as grandes obras são com recursos públicos e não valorizam essa fase projetual, deixando consequências para correção no pós-obra, sem a devida fiscalização e com os serviços mal executados. Em empreendimentos imobiliários, essa fase projetual tem sido bem discutida pelas empresas, que já perceberam a importância de um projeto de impermeabilização.
Quais patologias podem afetar uma obra se a impermeabilização for mal feito ou ignorada?
Diversas são as patologias decorrentes da falta ou má execução de impermeabilização, tais como infiltrações por capilaridade ascendente, que causam aquele bolor e fungos em rodapés e pisos; manchas por eflorescência, carbonatação, corrosão das armaduras, infiltrações em juntas e detalhes construtivos, manchas de umidade por absorção, trincas e fissuras, descolamento de revestimentos internos e externos, para citar as mais comuns.
Construções que usam concreto pré-moldado usam que tipo de impermeabilização em comparação com as de concreto armado?
Sistemas construtivos que utilizam estruturas pré-moldadas precisam estar atentos aos detalhes de juntas verticais e horizontais, além dos encaixes, que sofrem grandes movimentações. O tipo de uso a que estará exposta a edificação também influencia, assim como o tipo de concreto, que pode ser mais leve, mais aerado e com maior facilidade de absorção de água. O uso acentuado de desmoldantes, alterando as propriedades da superfície, bem como a grande quantidade de elementos que serão fixados aos pré-fabricados, pós-serviços, também podem influenciar na impermeabilização.
Em termos de mão de obra, equipamentos e produtos para impermeabilização, a construção civil brasileira está bem servida ou tem muito a evoluir em relação ao que é aplicado fora do país?
No que diz respeito à impermeabilização, o Brasil está muito bem em produtos e técnicas construtivas. Mas em mão de obra qualificada, está muito fraco. Não temos ainda a cultura do treinamento técnico e aperfeiçoamento. Precisamos qualificar e reconhecer a boa mão de obra, isso é o que há de fraco em toa a cadeia, não apenas em impermeabilização. É importante pensar em impermeabilização em fase de projeto e fazer com que ele se compatibilize com todos os outros projetos. Também é necessário que ele faça parte da planilha de orçamento previsto com menor desvio possível. A prática nos apresenta que a impermeabilização só é decidida na fase em que a obra já esta muito avançada e muitos serviços precisam ser refeitos por não estarem previstos em projeto. Isso foi tema relevante no Simpósio de impermeabilização que aconteceu recentemente em São Paulo e fez parte do trabalho de dissertação de mestrado do engenheiro Jorge de Aquino Lima, sob o título "Processo integrado de Projeto, aquisição e execução de sistemas de impermeabilização em edifícios residenciais: diagnóstico e proposição de melhorias de gestão".
Entrevistada
Elka Porciúncula, arquiteta, assessora técnica e especialista em impermeabilização com ênfase em projetos
Currículo
- Elka Porciúncula é graduada em arquitetura pela Universidade Federal de Pernambuco (1986)
- Atua como assessora técnica na ADEMI-PE (Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário no Estado de Pernambuco)
- É sócia-diretora do escritório Paralelas Projetos, especializado em impermeabilização com ênfase em projetos
Contato: elkawp@hotmail.com
Créditos fotos: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Inovação é legado da indústria automobilística à construção civil (Podcast)
Segundo a consultora Letícia Costa, para produzir mais obras sem inflacionar o custo, setor precisa investir em equipamentos e qualificação da mão de obra
Por: Altair Santos
Entrevistada
Letícia Costa, coordenadora do Centro de Estratégia da Insper
Currículo
Leticia Costa é graduada em engenharia de produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Tem MBA pela Samuel Curtis Johnson, da Universidade de Cornell
Atuou nos anos 1990 na Booz Allen Hamilton (hoje Booz & Company) no escritório de Londres
Tem experiência na indústria automotiva, com trabalhos de estratégia e operacionais para fabricantes de carros, caminhões, ônibus, autopeças e rede de concessionário. Atualmente é coordenadora do Centro de Estratégia da Insper e sócia-diretora da Prada Consultoria
Contato: leticia.costa@insper.edu.br / lcosta@pradabr.com.br
Créditos foto: Divulgação
Clique no player abaixo e ouça a entrevista na íntegra:
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Demora transforma obras de infraestrutura em lendas
Em boa parte dos casos, falta de planejamento e má gestão de projetos resultam em construções que não saem do papel ou param no meio do caminho
Por: Altair Santos
Em sua edição 2012-2013, o tradicional anuário Exame-Infraestrutura lista 1.200 projetos de obras lançados pelos governos federal e estaduais no período de cinco décadas. São empreendimentos nas áreas de energia, saneamento, telecomunicações e transportes, dos quais 731 começaram a ser executados. Destes, porém, apenas 11% foram totalmente concluídos. Algumas das construções estão inacabadas há 50 anos. Um caso emblemático é o do Perímetro de Irrigação Jaíba, em Minas Gerais - agora prometido para entrar em funcionamento em 2017.
Mas não para por aí a relação de obras inconclusas. Tem o metrô de Salvador, a Ferrovia Norte-Sul, a transposição do rio São Francisco, a ponte ligando Brasil e Guiana, a hidrelétrica Belo Monte e a duplicação integral da rodovia BR-101, entre centenas delas. A cada ano de atraso na lista de obras de infraestrutura, o custo para os cofres públicos - o principal financiador dos empreendimentos - encarece R$ 40 bilhões, estima o grupo permanente sobre Infraestruturae Soluções Ambientais da Fundação Getúlio Vargas.
Mas se custa tanto para o país a demora em concluir obras de infraestrutura, a ponto de algumas delas se tornarem lendas, por que os governos (federal e estaduais) não as viabilizam? Segundo João Carlos Boyadijan, coordenador dos cursos de pós-graduação em gestão de projetos do IETEC (Instituto de Educação Tecnológica, localizado em Belo Horizonte-MG) a ineficiência da administração pública está no centro do problema. "Ela não contrata a obra como um todo e não acompanha o cronograma das execuções. Falta gestão pública. Mais pessoas que atuem tecnicamente e não politicamente", avalia.
Boyadijan explica como funciona hoje o processo de viabilização de uma obra de infraestrutura no Brasil. "Lançam-se os projetos, porém não possuem capacidade de gestão. Não licitam, e quando licitam, licitam atrasado, de forma descoordenada e sem estratégias definidas. Por exemplo, não atacam projetos vitais e necessários e sim projetos políticos. Quando contratam, há o problema dos orçamentos superestimados, sem contar os problemas técnicos na definição de projetos. Falta governança", enumera o especialista.
O coordenador de gestão de projetos do IETEC entende que a lista de obras inconclusas só andaria se o poder público intensificasse as privatizações e as parcerias público-privadas (PPPs) assim como desburocratizasse as análises ambientais. "Se fossem menos burocráticas e mais eficientes, elas não impactariam nada nos projetos. Mas o processo é lento, burocrático e arcaico. Tudo isso passa por uma organização pública moderna e eficaz", alerta João Carlos Boyadijan, reafirmando que tudo passa pela gestão de projetos das obraspúblicas.
O especialista, junto com outros profissionais da área, participa dias 16 e 17 de julho de 2013 do 16º Seminário Nacional de Gestão de Projetos. “Tendências em Gestão de Projetos: Pessoas, Tecnologias e Métodos” será o tema central do encontro realizado pelo IETEC, e que ocorre em Belo Horizonte.
Entrevistado
João Carlos Boyadijan, coordenador dos cursos de pós-graduação em gestão de projetos do IETEC (Instituto de Educação Tecnológica)
Currículo
- João Carlos Boyadijan é graduado em administração de empresas pela Universidade São Judas Tadeu (1977)
- É mestre em engenharia naval e oceânica pela Universidade de São Paulo (2006). - Especializado em planejamento e finanças pela NYU-EUA e planejamento de produção pela FGV
- Profissional em gerenciamento de projetos, PMP pelo PMI-Project Management Institute, EUA
- Membro da APICS - American Production Inventory Control Science - EUA
- Palestrante, coaching e consultor desde 1972 em gerenciamento de projetos e planejamento e controle de produção
- Professor da FIA (Fundação Instituto de Administração) da FGV (Fundação Getúlio Vargas) do IETEC (Instituto de Educação Tecnológica) do INPG (Instituto Nacional de Pós-graduação) da UFSCar em EAD de Gerenciamento de Projetos e da FATEC (Faculdade de Tecnologia de São Paulo)
- Presidente da CPLAN Consultoria e Planejamento Ltda
Contato: jcb@cplan.com.br
Créditos fotos: Divulgação/EBC
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Contra a maré, concreto precisa ser bem especificado
Material submerso no ambiente marinho tem que estar preparado para sofrer uma série de agressões ao longo do seu tempo de vida
Por: Altair Santos
O concreto submerso no ambiente marinho tem que estar preparado para sofrer uma série de agressões ao longo do seu tempo de vida. Essa agressividade se potencializa em zonas sujeitas a ciclos de molhagem e secagem, como no caso de quebra-mares, pilares de ponte semissubmersos e outras estruturas. A variação das marés propicia manifestações patológicas, sendo que a mais frequente é a corrosão das armaduras, devido à carbonatação e ataque de cloretos presente na água do mar. A abrasão superficial do concreto também é comum, em casos de estruturas submetidas a impacto direto das ondas do mar e de embarcações.
Atualmente, as normas ABNT NBR 12655 - Concreto - Preparo, Controle e Recebimento - e ABNT NBR 6118 - Projeto de estruturas de concreto - Procedimento - classificam as regiões sujeitas a respingos ou variação de marés como de agressividade muito forte ou nível IV, com elevado risco de deterioração da estrutura, o que prescreve cobrimentos maiores, menor relação água/cimento e, consequentemente, maior resistência do concreto à compressão. Já as estruturas totalmente submersas não sofrem os mesmos problemas, por não terem ciclos secos e úmidos, e também por não haver presença de oxigênio.
Segundo o engenheiro civil Douglas de A. Couto, e especialista em manifestações patológicas em estruturas de concreto, além das recomendações das normas técnicas, as tecnologias atuais também permitem o uso de adições minerais, tipo sílica ativa e aditivos redutores de água, como alternativas extremamente viáveis para melhorar a compacidade do concreto. "Quando necessário, proteções superficiais podem ser aplicadas, como as bases poliuretano e poliuréia, por exemplo", explica. Já quanto ao tipo de cimento a ser utilizado, ele recomenda verificar o tipo de peça estrutural e seu volume. "Em peças de grande volume, sugere-se o uso de cimentos tipo CP-III e CP-IV, devido ao seu baixo calor de hidratação, quando comparado aos outros tipos de cimento. Em geral, é preciso primeiramente se observar a disponibilidade dos cimentos na região da obra, e estudar a alternativa mais viável do ponto de vista técnico e econômico", sugere.
Ações físicas
Além das ações químicas, as estruturas de concreto expostas à água do mar sofrem também com as ações físicas causadas pelas ondas e marés. "Os impactos são os piores possíveis. Além do ataque químico, o concreto sofre abrasão por causa das ondas. Em estruturas executadas com concreto de resistência inadequada, e com pouco cobrimento das armaduras, esses ciclos podem ocasionar o desplacamento do concreto, e iniciar o processo de corrosão das armaduras em pouco tempo, diminuindo drasticamente a vida útil da estrutura", alerta Douglas de A. Couto.
O especialista afirma ainda que o concreto, se especificado, dosado e executado adequadamente para o fim ao qual se destina, pode, por si só, ser suficiente para garantir durabilidade a uma estrutura, seja ela qual for. No entanto, ele apoia o uso de aditivos cristalizantes, com o objetivo de diminuir a permeabilidade do material. "Em estruturas marítimas de concreto aparente ou similares, essa é uma alternativa interessante. Assim como as adições minerais pozolânicas, que melhoram muito o empacotamento das partículas no concreto, conferindo menor porosidade e, consequentemente, maior resistência às intempéries. No caso de estruturas sujeitas aos efeitos do mar, a utilização dessas adições também melhora muito o desempenho do concreto frente aos agentes agressivos", conclui.
Entrevistado
Douglas de A. Couto, pesquisador de concretos de alta resistência em projetos estruturais
Currículo
- Douglas de A. Couto é graduado em engenharia civil pela Escola de Engenharia de Piracicaba (2009)
- Foi membro da equipe de pesquisa sobre concreto de alto desempenho da Escola de Engenharia de Piracicaba e segue como pesquisador de concretos de alta resistência, em projetos estruturais, reforço de estruturas de concreto, análise dinâmica de estruturas e estudo de manifestações patológicas
- Atualmente, é mestrando do programa de pós-graduação em engenharia civil do departamento de engenharia de estruturas e geotécnica da Escola Politécnica da USP
- É engenheiro civil associado à empresa PhD Engenharia Ltda. e diretor da empresa DCR Engenharia e Projetos Ltda., atuando nas áreas de projeto, patologia, inspeção, reforço e recuperação de estruturas de concreto
Contato: douglas.couto@concretophd.com.br
Créditos fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Boas obras públicas começam pela licitação
Construtoras que se relacionam com a administração pública precisam ter amparo técnico para evitar pressões de organismos fiscalizadores
Por: Altair Santos
Não são raras as obras contratadas pelo poder público que acabam sofrendo atraso de cronograma ou, em casos extremos, ficam paralisadas e entram em colapso. Na maioria das vezes, não se trata de falta de recursos, mas de licitações mal feitas, resultando em contratos que depois precisam ser revistos ou que terminam em processos judiciais. Para evitar problemas, os projetos hoje necessitam atender a uma série de requisitos técnicos e legais, com orçamentos e serviços que reflitam os preços de mercado. Tudo isso tem que estar embutido nos editais e ser bem interpretado pelas construtoras, através de equipes técnicas preparadas. É o que ensina o professor Luciano Elias Reis na entrevista a seguir. Confira:
Boas obras começam pela licitação?
Não existe a menor dúvida de que sem uma boa licitação não existe boa obra pública. A licitação não é somente a fase externa, ou seja, quando o edital é publicado. A licitação divide-se em fase interna e fase externa. A fase interna da licitação, a qual é imprescindível para a confecção do edital e de seus anexos, dentre eles o projeto básico e executivo, é simplesmente esquecida e muitas vezes suprida ou amadurecida precocemente por suposta “pressa ao interesse público” ou também conhecida como “as licitações para ontem”.
O que uma construtora que entra numa licitação precisa atender?
A construtora precisa atender todos os documentos de habilitação, manter a documentação de habilitação durante toda a execução do contrato e ter uma boa equipe técnica para relacionar-se e comunicar-se com a administração pública. Quando se fala em relacionamento e comunicação das empreiteiras com a administração pública, infelizmente a falta deste preparo e qualificação é fator de elevado risco para prejuízos materiais. Por exemplo, a ausência da formalização de um pedido de reequilíbrio ou de entrega de uma fatura pode, e provavelmente vai, gerar um erro no termo inicial de infração contratual, ausência de materialização e provas. Percebe-se que as empreiteiras que estão bem assessoradas ganham muito mais dinheiro a médio e longo prazo. Este é o caminho. Não pode o engenheiro ou dono da empresa achar que leu a lei n.º 8.666 (lei de licitações) e saber de todos os seus pormenores. A lei precisa ser interpretada pelo poder judiciário e pelos cortes de contas. É necessário pensar numa ótima equipe para alcançar ótimos resultados, pois do contrário, às vezes a empresa estará ganhando cem e deixando de faturar cem mil.
Há uma espécie de dez mandamentos para se entrar em uma licitação?
Quanto aos mandamentos para participar de licitação, depende do público-alvo para falar dos dez mandamentos. Em síntese, pode-se dizer que o primeiro mandamento para entrar em licitação é saber como é uma licitação e quais são as características e peculiaridades de um contrato administrativo. Muitos se aventuram em licitações e depois se decepcionam. Para entrar no ramo de licitação, como dito anteriormente, é imperioso que haja qualificação, preparação e treinamento, por que do contrário não haverá resultados positivos e talvez o ramo de licitações se transforme num grande problema a médio e longo prazo.
Um bom projeto e uma licitação transparente permitem que uma obra tenha quanto em economia de tempo e de dinheiro?
Para acontecer economia de tempo e de dinheiro, não basta um excelente projeto e a boa condução do processo licitatório. É preciso que haja uma fiscalização árdua sobre o contrato administrativo. Várias empreiteiras já estão sentindo o impacto da melhor qualificação dos fiscais de contratos administrativos no dia a dia das obras públicas. Esta qualificação decorre da pressão que os tribunais de contas estão realizando sobre a administração pública, inclusive com a penalização de agentes públicos, para fiscalizar corretamente os contratos e penalizar as empresas que infringirem a lei e o contrato.
Hoje, com a quantidade de organismos fiscalizadores existentes, por que ainda ocorrem processos licitatórios defeituosos?
Grande parte dos vícios nas licitações e nos contratos administrativos decorre da falta de capacitação e treinamento dos agentes públicos. Muitas vezes, a administração pública não dá condições adequadas para o agente público desenvolver a sua função. Da mesma forma, existem várias mudanças de interpretação, legislação e critérios, os quais clamam pela constante atualização dos servidores públicos. Infelizmente, nem sempre existe programa de capacitação e treinamento adequado aos agentes públicos, o que por si só contribui e auxilia nas licitações defeituosas, fiscalizações inadequadas, obras paradas etc.
Os chamados aditivos da obra, que ocorrem após uma empresa ganhar uma licitação, podem ser considerados vícios de uma má licitação?
Não necessariamente. Tem aditivo que é necessário em razão de mudanças ocorridas após a licitação, os quais decorrem de fatos supervenientes à licitação. Porém, existem várias alterações de contratos que decorrem de falha na fase interna da licitação, mais precisamente quando da elaboração do projeto. Ou seja, usam os aditivos para consertar erros e muitas vezes simplesmente deturpam ou transfiguram o projeto inicial. Em outras palavras, alteram substancialmente o projeto inicialmente proposto. Tudo isso deve ser evitado pela correta fase interna da licitação e com pessoas qualificadas e capacitadas.
Ao ganhar uma licitação, que cuidados uma construtora deve tomar para evitar que a licitação se torne um fardo?
A construtora precisa ter a devida assessoria para saber no que está entrando, como deve entrar e se portar no mercado das licitações e contratos administrativos para evitar processos judiciais. Processos judiciais, dependendo do caso, podem significar grave risco à saúde financeira de uma empresa que trabalha com licitações, haja visto o grande tempo para a finalização deste processo.
As construtoras têm procurado se especializar nos trâmites de uma licitação? Normalmente, dentro da empresa, quem cuida disso?
Como disse, a equipe de licitação de uma construtora tem que ser multidisciplinar e ter, no mínimo, um técnico de licitação, um analista de licitação, um advogado, um engenheiro e um orçamentista. Esta é uma equipe enxuta para que cada um faça o seu papel muito bem feito.
Quem atua em licitações tem se atualizado sobre as alterações promovidas pela IN (Instrução Normativa) 01/10, pertinentes às exigências de sustentabilidade? Quais são as principais mudanças?
Infelizmente, na parte do setor privado é muito falha a atualização sobre a Instrução Normativa n.º 01/2010, e de outras medidas que têm sido adotadas e inseridas nos editais de licitação. A falha na atualização será sentida no faturamento. Não há dúvidas disso. Preparação, treinamento e boa qualificação são ingredientes de sucesso em qualquer empreitada.
Entrevistado
Luciano Elias Reis, presidente da comissão de gestão pública e controle da administração da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná
Currículo
- Luciano Elias Reis é graduado em direito, sócio do escritório Reis, Correa e Lippmann Advogados Associados
- Tem mestrado em direito econômico pela PUC-PR e especialidade em processo civil e em direito administrativo, ambos pelo Instituto de Direito Romeu Felipe Bacellar. Preside a comissão de gestão pública e controle da administração da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná
- É professor de direito administrativo da UniCuritiba, professor convidado da pós-graduação em licitações e contratos administrativos da Unibrasil, professor da Escola Superior da Advocacia da OAB-PR, professor do MBA em administração pública e gerência de cidades da FATEC Internacional
- É autor de diversos artigos jurídicos e coautor da obra “Estado, Direito e Sociedade” (Editora Iglu).
Contato: luciano@rcl.adv.br
Créditos fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Burocracia torna PCHs menos competitivas
No Brasil, há 654 projetos na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que ainda não foram viabilizados. Alguns há mais de 10 anos
Por: Altair Santos
O foco do governo federal em usinas eólicas, combinado com investimentos em termoelétricas, deixou desassistido o setor das pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Atualmente, na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) há 654 projetos de PCHs nas prateleiras. Eles estão na condição de "aceito", ou seja, foram entregues na agência, mas ainda não receberam autorização para se viabilizarem. Outros 117 estão em fase de elaboração e ainda não foram protocolados na Aneel. Da mesma forma, a Aneel tem 438 planos de PCHs disponíveis, mas não houve interessados em desenvolver os projetos.
Esses dados fazem parte do mais recente relatório da agência, divulgado em fevereiro de 2013. Se todos os projetos ainda em fase de "aceito" já tivessem sido viabilizados, a capacidade instalada proveniente das PCHs seria bem maior que o dobro dos atuais 4.274 MW (megawatts) o que representa 3,49% do total da matriz elétrica brasileira. Atualmente, o país tem 437 empreendimentos em operação. Boa parte está localizada nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Goiás e Paraná. A média é de aproximadamente 10 MW por empreendimento de PCH, segundo dados da Abragel (Associação Brasileira de Energia Limpa).
No ano passado, foram dadas apenas 41 outorgas para a construção deste tipo de usina. Hoje, as regiões sul e sudeste são as que mais reclamam concessões para novas PCHs - boa parte ligadas a investimentos privados. Por isso, recentemente, a Abragel apresentou projeto para a instalação de 5 mil MW em 10 anos, mas a Aneel reluta. "O principal argumento da agência é de que ela somente analisa projetos básicos que tenham licenciamento ambiental. Não penso que seria correto dizer que isto é uma falha da agência, mas o fato é que o ciclo de desenvolvimento de uma PCH, desde a identificação do potencial até a outorga e construção da usina, é muito longo. Tem demorado mais de dez anos. Isto é um dos fatores que ajudam a tornar as PCHs menos competitivas", reclama o presidente-executivo da Abragel, Charles Lenzi.
No entender da associação, o grande desafio do segmento é convencer o governo federal a tornar a construção de PCHs mais competitiva. "Pela falta de isonomia fiscal, nossos custos de construção por megawatt instalado são maiores. Outro desafio está relacionado com a grande complexidade e a demora do ciclo de desenvolvimento dos projetos. São muitos anos entre a identificação e a transformação de potencial em um empreendimento comercial. A tramitação de estudos e projetos na agência reguladora e o processo de licenciamento ambiental são fatores que têm desestimulado os empreendedores", analisa Lenzi.
As PCHs se caracterizam por empreendimentos com capacidade instalada entre 1 MW e 30 MW. Normalmente, são fontes de energia limpa e renovável localizadas perto de centros urbanos e têm vida útil de mais de 80 anos. No processo de obra, aproximadamente 50% do investimento necessário é direcionado para a construção civil. Dependendo das características do projeto, elas podem levar de 18 meses a 30 meses para entrar em operação. "A Abragel tem trabalhado para mostrar que as PCHs contribuem para a redução do custo global da energia no país, uma vez que não sobrecarregam nossos sistemas de transmissão e ajudam a gerar energia em horário de ponta. Por isso, merecem retomar sua importância no cenário da geração de energia elétrica no país", alerta o presidente-executivo da associação.
Entrevistado
Charles Lenzi, presidente- executivo da Abragel (Associação Brasileira de Energia Limpa)
Currículo
- Charles Lenzi é graduado em engenharia elétrica pela PUC-RS (1981). Cursou pós-graduação em finanças, gestão estratégica e liderança
- No setor elétrico, atuou por 10 anos no Grupo AES, ocupando funções de liderança em empresas do grupo na Índia, Venezuela e Brasil. Foi diretor-superintendente do Grupo Stefani, na área de logística e transporte
- Desde julho de 2010 é o presidente-executivo da Abragel
Contato: abragel@abragel.org.br
Créditos fotos: Divulgação/Abragel
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Concreto sustenta modal inovador em São Paulo
Obra do monotrilho tem fábrica própria de vigas pré-moldadas e produzirá duas mil peças até a conclusão, prevista para 2016
Por: Altair Santos
Até o final de 2013, os primeiros 2,9 quilômetros do monotrilho de São Paulo entrarão em funcionamento. O modal é a nova aposta da maior cidade do país para o transporte público. Sobre pilares de concreto pré-moldado de até 15 metros de altura cada um, trens irão se locomover para interligar o extremo leste paulistano (Cidade Tiradentes) à estação do metrô da Vila Prudente. Estima-se que a obra estará 100% concluída em 2016. O consórcio que viabiliza a construção é integrado pelos grupos Queiroz Galvão, OAS e Bombardier. Tanto os veículos quanto a tecnologia construtiva são novidades no país e podem indicar uma nova alternativa para o transporte de massa nas grandes cidades.
A escolha do modal foi orientada por aspectos como menor prazo de construção e rapidez para a entrada em operação do empreendimento, além de seu custo - orçado em R$ 2,4 bilhões. Enquanto a obra de uma linha de metrô de 26,5 quilômetros levaria até quinze anos para ser concluída, o monotrilho será entregue à população em menos de cinco. Em um ano, é possível construir cinco quilômetros de monotrilho, o que é aproximadamente metade do tempo de construção de um metrô subterrâneo. Isso é possível, graças ao menor número de desapropriações, que consomem tempo e recursos, e também em razão da inexistência de escavações exigidas na construção de um metrôconvencional.
O método construtivo empregará peças pré-moldadas, o que reduz o impacto da obra em vias públicas durante a execução. Serão duas mil vigas, medindo entre 1,2 e 1,5 metros de altura e 30 metros de cumprimento. Cada uma consumirá, em média, 42 m³ de concreto. Esse complexo sustentará lajes com 30 metros de cumprimento e 70 toneladas de peso. Para garantir a precisão das peças, o consórcio responsável pela obra construiu uma fábrica de pré-moldados somente para atender o empreendimento. Vigas e lajes precisam se encaixar milimetricamente e atender peculiaridades do projeto, como peças curvas e com superelevação variável. Para atender a demanda, todos os artefatos utilizam concreto com 50 MPa e são submetidos a cura elétrica (térmica).
O monotrilho terá capacidade para transportar até 500 mil passageiros por dia. O sistema será composto por 54 trens elétricos, que atingirão velocidade máxima de até 80 km/h. Eles irão atender 17 estações. Cada composição terá sete vagões e poderá transportar até mil passageiros. O modal já é utilizado com sucesso em importantes centros urbanos da Ásia, Europa e América do Norte. Se for bem sucedido em São Paulo, deve desencadear obras semelhantes em outras cidades do país. Rio de Janeiro e Manaus têm projetos e Porto Alegre estuda expandir o sistema, batizado de "aeromóvel".
Veja vídeo sobre a obra:
http://youtu.be/hCowsAigoj4
Entrevistado
Consórcio Expresso Monotrilho (via assessoria de imprensa)
Contato: http://www.expressomonotrilholeste.com.br/index.php
Créditos fotos: Divulgação