Efeitos da norma de desempenho não serão imediatos

Consumidor só irá perceber mudanças daqui a dois anos. Por outro lado, NBR 15575 impõe novos desafios a engenheiros, projetistas e arquitetos

Por: Altair Santos

A ABNT NBR 15575 - Desempenho de Edificações Habitacionais, que desde 19 de julho de 2013 está em vigor, só será efetivamente percebida pelo consumidor daqui a dois anos, quando novos empreendimentos adequados a ela forem entregues. É o que preveem especialistas, como o engenheiro-projetista Jorge Batlouni Neto, coordenador do grupo de Estruturas e Fundação do Comitê de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo) e o assessor técnico do SindusCon-PR, Ivanor Fantin Júnior. "Como a norma vale para empreendimentos protocolados a partir do dia 19 de julho, e a obra dura de um ano e meio a dois anos para ficar pronta, teremos que esperar esse tempo para ver os efeitos reais da norma", avalia Fantin.

Jorge Batlouni Neto: algumas empresas só estão acordando agora para a ABNT NBR 15575.

Essa projeção vale para as empresas que estão preparando-se para a ABNT NBR 15575 desde que ela teve sua primeira versão aprovada, e depois entrou em consulta pública e passou por nova revisão para ser melhorada. "Tem empresas que já estão adaptando seus processos desde quando estava acontecendo a revisão da norma. Isso vale tanto para construtoras quanto para produtores de insumos, como janelas e portas, por exemplo. Mas tem algumas que estão acordando agora e terão de correr atrás para atender as especificações", afirma Jorge Batlouni Neto. "Alguns fornecedores não fizeram a lição de casa e vão ter problemas para adequar seus produtos à norma, apesar de todo o tempo que foi dado", completa Ivanor Fantin Júnior.

A norma de desempenho foi dividida em seis partes: 1) requisitos gerais; 2) sistemas de
estrutura; 3) sistemas de pisos; 4) vedações verticais; 5) vedações de coberturas e 6) sistemas hidrossanitários. No entender dos especialistas, um dos pontos mais complicados será o que exige do construtor um manual de uso, operação e manutenção da unidade habitacional, a fim de que o usuário possa segui-lo ao longo do período de vida útil do imóvel. Há também a questão de que a ABNT NBR 15575 tende a puxar a revisão de outras normas. "A mais urgente é a parte 3 da norma 15220, que trata do zoneamento bioclimático (ABNT NBR 15220 - parte 3 - Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social). "Ela já é uma norma defasada e ainda não temos nenhuma comissão trabalhando na revisão. A relevância, é que ela afeta todo o desempenho térmico das habitações", alerta Ivanor Fantin Júnior.

Ivanor Fantin Júnior: norma de desempenho tende a impor a revisão de outras normas.

Jorge Batlouni Neto destaca também que das seis partes da norma, a parte dois (sistemas de estrutura) vai requerer atenção se forem usados processos inovadores de construção. Além disso, a parte um passa a pedir cuidados especiais na construção das alvenarias que dividem os apartamentos, assim como na das lajes e no acabamento de caixilhos, janelas e paredes externas. "Isso ocorre, porque estaremos tratando de uma elevação na qualidade da habitação", diz o coordenador do SindusCon-SP, lembrando que o adiamento da entrada em vigor da norma de desempenho foi benéfico sob o ponto de vista de entendimento de suas peculiaridades. "O mercado assimilou melhor a norma e vai conseguir construir com mais atenção", entende. "A versão anterior tinha uma série de problemas que inviabilizaria a construção civil no Brasil", emenda o assessor técnico do SindusCon-PR.

A ABNT NBR 15575 é vista como um marco na evolução da construção civil brasileira, mas também imporá novos desafios a engenheiros, projetistas e arquitetos, em especial. "A norma passa a exigir especificações de materiais, algo que não havia costume no Brasil. Por exemplo, a escolha de uma cerâmica terá que atender o desempenho necessário para o tipo de construção proposto", explica Jorge Batlouni Neto. "Para projetar, será importante saber os parâmetros dos produtos. E o que nós não temos é justamente isso. Ainda são poucos os ensaios feitos pelas empresas, e que podem balizar o projetista a identificar materiais", conclui Ivanor Fantin Júnior, estimando que em cinco anos a norma de desempenho terá sido totalmente assimilada pela cadeia produtiva da construção civil.

Entrevistados
- Jorge Batlouni Neto, coordenador do grupo de Estruturas e Fundação do Comitê de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo)
- Ivanor Fantin Júnior, assessor técnico do SindusCon-PR (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná)
Currículos
- Jorge Batlouni Neto é graduado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (1982) e mestre em Habitação e Tecnologia pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT (2003)
- É diretor-superintendente da JB Tecnum Engenharia e Construções Ltda (Tecnum Construtora)
- Professor do MBA da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo –Tecnologia na Gestão da Produção de Edifícios (desde 2002)
- Coordenador do grupo de Estruturas e Fundação do Comitê de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP (Sindicato da Industria da Construção Civil de São Paulo)
- Ivanor Fantin Júnior é graduado em engenharia civil pela PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e assessor técnico do SindusCon-PR
Contatos: jbn@tecnum.com.br / engenharia@sindusconpr.com.br
Créditos fotos: Divulgação autorizada

Jornalista responsável: Altair Santos

Pré-moldado quer abrir portas na universidade

Encontro leva grandes nomes do concreto ao universo acadêmico e mostra verdade absoluta: industrialização na construção civil é inexorável

Por: Altair Santos

A construção industrializada decidiu enfrentar um entrave: fazer com que a tecnologia abra as portas do mundo acadêmico e se propague entre os futuros engenheiros civis. As universidades admitem que boa parte dos novos profissionais não domina os processos à base de pré-fabricados. "A maioria das escolas de engenharia e arquitetura não trata este assunto como deveria. Normalmente, o tema é abordado em uma disciplina alternativa, que é ensinada no último ano da graduação, quando o aluno já está mais focado no mercado de trabalho", revela o professor Mounir Khalil El Debs, do Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC/USP).

Encontro realizado em São Carlos-SP reuniu algumas das sumidades mundiais em concreto pré-fabricado.

Um dos marcos desta aproximação da construção industrializada com o universo acadêmico ocorreu no 3º Encontro Nacional de Pesquisa, Projeto e Produção em Concreto Pré-Moldado, onde nomes como Marco di Prisco, professor e chefe do Departamento de Engenharia de Estruturas do Politécnico de Milão, na Itália; Minehiro Nishiyama, professor do Departamento de Arquitetura e Engenharia da Universidade de Kyoto (Japão) e vice-presidente do Instituto do Concreto Protendido do Japão (JPCI); Paulo Helene, professor titular da USP e presidente da Associação Latino Americana de Controle de Qualidade, Patologia e Recuperação das Construções (ALCONPAT) e Sami Rizkalla, professor de Engenharia Civil e diretor do Laboratório de Construção da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, mostraram as inovações e aplicações do pré-moldado mundo afora.

No evento, que acontece de quatro em quatro anos, e em 2013 teve a EESC/USP como anfitriã, Sami Rizkalla palestrou sobre o estado atual da aplicação de armadura não metálica em concreto, especificamente para o pré-moldado. Já Marco di Prisco mostrou a evolução de elementos delgados para cobertura, uma tecnologia bem desenvolvida na Itália. Minehiro Nishiyama tratou dos materiais de alta resistência, bem evoluídos no Japão. "São experiências diferentes da nossa. Embora seja outra realidade, temos que ter o discernimento de ver o que podemos pegar de lá e aplicar aqui. Precisamos saber o que está acontecendo, para aprimorar nossos procedimentos em relação ao concreto pré-moldado", revela Mounir Khalil El Debs.

Outro ponto relevante abordado no simpósio, o qual contou com a parceria da Abcic (Associação Brasileira da Construção Industrializada do Concreto) esteve relacionado aos novos cálculos para edifícios em pré-fabricado sujeitos a sismos. "Isso é algo que, apesar de existir uma norma de sismo no Brasil, os projetistas não estão ainda familiarizados", completou Mounir Khalil El Debs, lembrando que, entre os palestrantes brasileiros, o professor Paulo Helene foi o que mobilizou as maiores atenções. "Ele abordou a importância do concreto pré-moldado para a questão da sustentabilidade", destacou.

Do encontro, nasceu um consenso: o de que o avanço da industrialização na construção civil brasileira é inexorável. "Temos que modernizar. Não há como continuar desperdiçando material. As questões envolvendo sustentabilidade, morosidade da construção e perturbação do ambiente, tudo isso são demandas que a sociedade está exigindo que sejam melhoradas. Por outro lado, tem o problema da mão de obra, que está cada vez mais difícil de contratar e não se qualifica no ritmo que é necessário. Fatalmente, a maior parte das etapas no canteiro de obras terá de vir pronta. É uma tendência irreversível", diz o professor da EESC/USP.

Durante o 3º Encontro Nacional de Pesquisa, Projeto e Produção em Concreto Pré-Moldado foram apresentados 18 trabalhos acadêmicos sobre construção industrializada. Entre os mais relevantes, estão os que tratam de ligações semirrígidas. "São modelos que mostram que a aplicação do concreto pré-moldado pode ser mais palpável. Mas não é um evento específico que vai desmistificar o emprego deste tipo de material. O ideal seria que as escolas aprofundassem o ensino e mostrassem as vantagens da aplicabilidade do pré-moldado. Passa a ser o papel delas a partir de agora", conclui Mounir Khalil El Debs.

Entrevistado
Mounir Khalil El Debs, professor do Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC/USP)
Currículo
- Mounir Khalil El Debs é graduado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (1972), com mestrado em engenharia de estruturas pela Universidade de São Paulo (1976) e doutorado em engenharia de estruturas pela Universidade de São Paulo (1984). Atualmente é professor titular da Universidade de São Paulo.
- Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em estruturas de concreto, atuando principalmente nos seguintes temas: concreto pré-moldado, ligações, pontes de concreto, ensaios estruturais e elementos delgados de concreto.
- É autor ou coautor de aproximadamente 150 trabalhos técnicos completos publicados em anais de congressos e revistas, além de autor do livro Concreto pré-moldado: fundamentos e aplicações, publicado pela EESC-USP, em 2000.
Contatos: www.set.eesc.usp.br/3enpppcpm / mkdebs@sc.usp.br
Créditos foto: Divulgação autorizada

Jornalista responsável: Altair Santos

Confea não se opõe à importação de engenheiros

Conselho, que em setembro promove o Congresso Nacional de Profissionais, avalia que crescimento baixo deve reprimir vinda de estrangeiros

Por: Altair Santos

Enquanto os médicos brasileiros protestam contra a intenção do governo federal de importar profissionais de outros países, o sistema Confea/Crea decidiu deixar que o mercado regule a entrada de engenheiros estrangeiros, desde que eles cumpram as exigências legais. "O Confea não faz qualquer objeção à entrega de registro aos profissionais estrangeiros. Não existe qualquer bloqueio ou impedimento à atuação dos profissionais de qualquer nacionalidade. Os profissionais estrangeiros continuam ingressando no país e estão trabalhando no Brasil há anos. Desde que a emissão de registro profissional obedeça aos critérios legais vigentes, não há empecilhos", afirma o presidente do sistema, José Tadeu da Silva.

Mesmo assim, o 8º Congresso Nacional de Profissionais, que acontecerá em setembro de 2013 na cidade de Gramado-RS, debaterá a questão "entrada de profissionais estrangeiros no Brasil". Antes do evento, porém, o Confea/Crea estima que o momento econômico do país é que vai regular esse mercado de trabalho. "Com o desenvolvimento da economia abaixo da taxa de crescimento potencial, a demanda está equilibrada, nos dias atuais, diferentemente do cenário apontado em 2012. Além do fator econômico, variáveis culturais e sociais também influenciam sobre esse contexto. O Brasil tem situações muito diferentes nas suas diversas regiões, tem necessidades diferentes e soluções diferentes", estima o comando do sistema Confea/Crea.

Segundo pesquisa divulgada em abril de 2013 pela BBC, houve recentemente, em todo o mundo, uma migração de 200 milhões de profissionais. No Brasil, a maior demanda recaiu sobre a área tecnológica. Vieram ao país especialistas em engenharia civil, mecânica e elétrica, além de desenvolvedores de tecnologia da informação. O Confea/Crea confirma esses dados, mas estima que a oferta por esse tipo de mão de obra reduziu sensivelmente a partir do segundo trimestre de 2013 (abril, maio e junho). "O que se percebe é menor oferta de mão de obra na área tecnológica nacional. De forma pontual, em segmentos como gás, petróleo e minério, e em tecnologia da informação", relata o sistema que representa os engenheiros no país.

Exigências legais

Entre as exigências para um profissional estrangeiro da área de engenharia trabalhar legalmente no Brasil, está a revalidação do diploma, que cabe às instituições de ensino público (universidades federais). Depois dessa etapa, o diploma deve seguir para o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) e, segundo o que determina o Código Civil, a documentação que eventualmente se encontre em língua estrangeira deve ser levada ao Crea com sua tradução juramentada, elaborada por tradutor registrado no Brasil. No caso dos documentos portugueses, essa etapa é dispensada, tendo em vista que o idioma utilizado já é o português e levando em consideração o Tratado da Amizade, Cooperação e Consulta, de 2000.

Em seguida, há a análise técnica por parte da Câmara Especializada do Crea, seguida da aprovação do seu plenário e, aí sim, se dá a homologação no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). O tempo médio para a obtenção do registro profissional – de qualquer nacionalidade – dentro do sistema Confea/Crea (trâmite entre Crea e Confea) é de 90 dias, caso toda a documentação esteja correta. Durante a etapa de análise de documentos do solicitante, é verificado se o curso e as complementações atendem à carga horária mínima estabelecida para os cursos de engenharia nacionais. Essa etapa obedece às exigências da Câmara de Educação Superior (CES) do Conselho Nacional de Educação (CNE).

Vale reforçar que a revalidação e o fornecimento de diploma não libera o profissional estrangeiro a entrar no mercado brasileiro sem a autorização do conselho, que atua conforme as exigências legais, estabelecidas pela Lei 5.194/66 – que regula o exercício profissional – e pela resolução 1.007/2003 do Confea – que dispõe sobre o registro de profissionais. Já sobre o acordo de cooperação entre Brasil e Portugal, para equivalência e reconhecimento recíproco dos diplomas de engenheiros e arquitetos, assinado em Lisboa no dia 10 de junho de 2013, o Confea aguarda discussão dos termos assinados juntamente com o governo federal.

Confira a pesquisa da BBC

Entrevistado
Presidência do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) (via assessoria de imprensa)
Contato: gco@confea.org.br
Créditos foto: Divulgação/ABr

Jornalista responsável: Altair Santos

Empresas se especializam em dar qualidade ao projeto

Cresce número de construtoras que recorrem a mecanismos que filtram os problemas e fazem o acompanhamento da obra, evitando retrabalho

Por: Altair Santos

Está claro para boa parte das construtoras que operam no Brasil que o sucesso da obra depende do projeto. É nele que é possível reunir as melhores soluções, adequando custos e prazos. Estima-se que um bom projeto equivale de 3% a 6% do valor total do empreendimento. No entanto, se mal feito, poderá impactar todos os outros 94% ou 97%. Por isso, antes de iniciar a fase da construção, empresas têm recorrido a especialistas em avaliar a qualidade do projeto. O procedimento consiste em submeter a um grupo de profissionais, que vão desde geólogos até engenheiros calculistas, a análise meticulosa do conceito da obra.

Roberto Kochen: projeto mal feito impacta em todo o empreendimento.

Essas empresas, cuja expertise está voltada para um modelo de gestão conhecido como Especificação da Qualidade do Projeto, também se especializaram em promover o acompanhamento técnico dentro do canteiro de obras. Isso permite verificar se o projeto está correto ou se, ao ser colocado em prática, ele ainda tem possibilidades de melhora. "É como uma grande peneira, que filtra os grandes problemas e torna o empreendimento mais redondo. Trata-se de uma ferramenta que está sendo usada cada vez mais, principalmente pelas médias construtoras, que não têm como sustentar um departamento só para fazer a gestão da qualidade do projeto", explica Roberto Kochen, da GeoCompany.

Sinteticamente, a Especificação da Qualidade do Projeto utiliza quatro ferramentas técnicas:
- Análise de custo-benefício, que avalia se vale ou não a pena fazer determinados testes no projeto.
- Benchmarking, que compara práticas aplicadas e bem-sucedidas em diferentes projetos.
- Projeto de experimento, que avalia se é relevante submeter a ensaios produtos que serão usados na obra.
- Custos da qualidade, que, para não onerar a obra, analisa quais ações podem ou não ser descartadas no projeto.

PBQP-H

A criação do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) em 1998 foi determinante para que as empresas passassem a valorizar os projetos, sobretudo os habitacionais. O programa passou a agir como um indutor da cadeia produtiva da construção civil, enfrentando desequilíbrios nos padrões de qualidade, práticas de não conformidade e baixo nível de inovação tecnológica - fatores que contribuíam para um habitat urbano de baixa durabilidade. Além disso, sem a aprovação do PBQP-H, as construtoras dificilmente conseguem financiamento para as obras via Caixa Econômica Federal.

O PBQP-H possui um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) que divide as empresas em quatro níveis: A, B, C e D. O nível D é a etapa inicial para a implementação do SGQ. Os demais são alcançados por meio de certificação, de acordo com organismos acreditados pelo Inmetro. Para que as construtoras subam de nível, elas precisam investir em projetos consistentes. As grandes e médias já se adequaram. Há pequenas empresas, no entanto, que ainda confiam projetos a profissionais autônomos, balizando-se pelo preço de mercado e não pela qualidade. Invariavelmente, isso gera uma descontinuidade nos ciclos de produção dentro do canteiro de obras e inviabiliza o próprio projeto, gerando o pior dos problemas num empreendimento: o retrabalho.

Entrevistado
Roberto Kochen, diretor-técnico da GeoCompany
Currículo
- Roberto Kochen é graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1977)
- Tem mestrado e doutorado em engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1982 e 1989)
- Fez pós-doutorado na Universidade de Toronto, no Canadá
- É diretor do Departamento de Construções Civis do Instituto de Engenharia do Estado de São Paulo
- Ocupa o cargo de professor-doutor do Departamento de Estruturas e Fundações da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
- É diretor-técnico da GeoCompany Tecnologia, Engenharia e Meio Ambiente
Contatos: www.geocompany.com.br / kochen@geocompany.com.br
Créditos foto: Divulgação autorizada

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Ensaios não destrutivos penetram concreto a dentro

Ainda que a tecnologia transmita mais confiabilidade aos materiais, construção civil explora muito pouco o potencial dos chamados ENDs

Por: Altair Santos

Apesar de os Ensaios Não Destrutivos (ENDs) serem aplicados no Brasil desde a década de 1950 - há normas com mais de 60 anos que regem a inspeção visual, por exemplo -, a construção civil utiliza raramente as tecnologias que permitem avaliar a integridade de uma estrutura, sem danificá-la. "Ainda há poucas empresas dispostas a investir nestes métodos, mesmo com a tecnologia em estágio avançado", comenta Thomas Gabriel Rosauro Clarke, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestre em engenharia de materiais.

Thomas Gabriel Rosauro Clarke, da UFRGS: uso de ensaios não destrutivos ainda engatinha no Brasil.

No país, a indústria de petróleo e gás é a que mais usa Ensaios Não Destrutivos. Por estar ligado à soberania nacional, e ter alto valor agregado, o setor faz dos ENDs uma ferramenta valiosa. Primeiro, na questão da segurança, para garantir a integridade das estruturas e evitar acidentes que possam ter impacto ambiental e, consequentemente, multa para a empresa; segundo, para que a produção não seja interrompida. "O fabricante sempre ganha com Ensaios Não Destrutivos, pois a confiabilidade no material que ele produz aumenta significativamente", diz Thomas Gabriel Rosauro Clarke.

Quando usados na construção civil, os ENDs prestam auxílio técnico ao engenheiro estrutural, fornecendo, por exemplo, dados sobre a integridade do concreto a ser usado na obra, para que ele possa verificar os coeficientes de segurança. "Como o concreto é um material mais complexo, por ter propriedades anisotrópicas, ele requer tecnologias mais avançadas", alerta o professor da UFRGS. Entre esses métodos hoje aplicados, estão o ultrassom em 3D, o com líquidos penetrantes, o de partículas magnéticas e o de análise dimensional. "Com eles, já é possível submeter estruturas de concreto armado a análises precisas", diz o especialista.

Ensaios não destrutivos por ultrassom, com aplicabilidade no concreto, estão bem popularizados fora do Brasil.

De maneira geral, existem duas classes de Ensaios Não Destrutivos para aplicação em estruturas de concreto. A primeira consiste em métodos usados para estimar a resistência do material, tais como o ensaio de dureza superficial (esclerometria), resistência à penetração, ensaios de arrancamento e método da maturidade. A segunda classe inclui os métodos que medem outras características e defeitos internos do concreto, por meio de propagação de ondas e termografia infravermelha. Além dessas metodologias, existem outros que fornecem informações sobre a armadura, como a localização das barras de aço, seu diâmetro e o potencial de corrosão.

Os Ensaios Não Destrutivos têm um custo maior que os ensaios tradicionais, mas por não causar danos à estrutura permitem que ela continue em operação ao mesmo tempo em que tem sua integridade avaliada. "Esta é a primeira grande vantagem. Não são necessários cortes especiais, que vão ter que ser ensaiados de forma destrutiva. Os ENDs permitem ganho de produtividade. O engenheiro pode seguir com a obra fazendo controles periódicos do material que está sendo utilizado, sem a necessidade de parar e aguardar ensaios de laboratórios", explica Thomas Gabriel Rosauro Clarke, garantindo que as pesquisas sobre Ensaios Não Destrutivos estejam entre as que mais apresentam inovações. "Dois anos já é tempo suficiente para que o setor rompa paradigmas", conclui o especialista.

Saiba mais sobre Ensaios Não Destrutivos

Entrevistado
Thomas Gabriel Rosauro Clarke, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Currículo
- Thomas Gabriel Rosauro Clarke é graduado em engenharia de materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (2002)
- É mestre em engenharia de materiais, com ênfase em metalurgia, pelo programa de pós-graduação em engenharia de materiais, metalúrgica e de minas, com orientação de professor-doutor Afonso Reguly (PPGEM-UFRGS) (2004)
- É Ph.D pelo departamento de engenharia mecânica da Imperial College London, na área de acústica, vibrações e Ensaios Não Destrutivos, sub-área inspeção de estruturas complexas, monitoramento de integridade estrutural e ondas guiadas
- Atualmente é professor adjunto I do departamento de metalurgia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
- É responsável pelo Grupo de Ensaios Não Destrutivos (GEND) do Laboratório de Metalurgia Física (LAMEF-UFRGS) cujo coordenador-geral é o professor-doutor Telmo Strohaecker
Contato: tclarke@demet.ufrgs.br
Créditos fotos: Divulgação autorizada

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Projeto mapeia blocos de concreto sustentáveis

ABCP, BlocoBrasil e CBCS unem-se para aferir índices de eficiência nos processos de fabricação dos artefatos e melhorar qualidade dos produtos

Por: Altair Santos

Três importantes organismos ligados à cadeia produtiva da construção civil estão unindo esforços para medir o grau de sustentabilidade encontrado no setor de fabricação de blocos e pisos de intertravados de concreto. ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), BlocoBrasil (Associação Brasileira da Indústria de Blocos de Concreto) e CBCS (Conselho Brasileiro da Construção Sustentável) vão mapear um grupo de 43 indústrias espalhadas por todas as regiões do país, a fim de definir um índice denominado de Avaliação de Ciclo de Vida Modular (ACV-m). Ele vai mensurar o quanto a produção de artefatos de cimento impacta no consumo de energia, de água, de geração de CO2, de geração de resíduos e consumo de matéria-prima.

Cláudio Oliveira Silva, da ABCP: objetivo é minimizar desperdícios.

Segundo Cláudio Oliveira Silva, gerente da área de Inovação e Sustentabilidade da ABCP, o projeto pretende estimular o processo de boas práticas dentro das indústrias e minimizar o impacto na fabricação dos blocos. "O objetivo é induzir o fabricante a gerar economia, fazendo ele perceber onde estão os desperdícios dentro de seu processo produtivo. Tudo isso, fazendo comparações entre o modelo de fabricação dele com o de outros fabricantes. Ele poderá comparar práticas que dão certo ou dão errado e daí obter indicadores com melhores níveis. Esses indicadores, que vão definir parâmetros para o ACV-m, antes de serem repassados aos fabricantes serão auditados por uma comissão", explica Cláudio Oliveira Silva.

Ultrapassada a fase de coleta de dados, ABCP, BlocoBrasil e CBCS, em parceria com o Senai-RJ (Serviço Nacional da Indústria) irão definir uma metodologia de produção mais limpa para repassar a todos os fabricantes de blocos e pisos intertravados de concreto do país. Serão ferramentas que irão mostrar onde a produção está sendo bem feita e onde ela precisa melhorar. "Nesse sentido, o estudo servirá também como um modelo de gestão para o fabricante. Ele pode se tornar mais competitivo e ampliar a lucratividade, fazendo melhor uso da água, da energia e das matérias-primas - no caso, de cimento e agregados", afirma Marcelo Kaiuca, presidente da BlocoBrasil.

Marcelo Kaiuca, da BlocoBrasil: coleta já começou e dados serão divulgados em 2014.

Antes de o projeto ir a campo, os 43 fabricantes selecionados - entre eles há grandes, médias e pequenas indústrias - passarão por workshops no Senai-RJ para entender como o estudo será feito e para preparar as unidades sobre as questões que serão abordadas pelos pesquisadores. Os índices de cada indústria serão de conhecimento apenas dos auditores do Senai-RJ e de cada fabricante, que terá acesso somente aos seus dados específicos para poder comparar aos números gerais do setor. A previsão é que esse projeto esteja concluído até o final de 2013, com as informações principais divulgadas no início de 2014. "Será um grande ato de transparência do setor para a sociedade", resume Kaiuca.

De acordo com a diretora do CBCS, Érica Ferraz de Campos, serão gerados indicadores nacionais e regionais das empresas participantes. Os indicadores serão divulgados em base de dados aberta online, no site do CBCS. Estarão disponíveis as faixas de resultados (valor mínimo, mediano e máximo) para cada indicador e a posição do conjunto de empresas participantes. Cada fabricante receberá as informações relativas à sua própria produção e sua posição entre as demais participantes. "As vantagens dos fabricantes em participar são: conhecer seu desempenho dentro do mercado, envolver sua equipe em processos de sustentabilidade e receber apoio técnico sobre a medição e a quantificação dos resultados", explica Érica Ferraz de Campos.

Saiba mais sobre o projeto

Confira o folder

Érica Ferraz de Campos, da CBCS: fabricantes poderão conhecer seu desempenho dentro do mercado.

Entrevistados
- Cláudio Oliveira Silva, gerente da área de Inovação e Sustentabilidade da ABCP
- Marcelo Kaiuca, presidente da BlocoBrasil
- Érica Ferraz de Campos, diretora do CBCS
Currículos
- Cláudio Oliveira Silva é graduado em engenharia civil pela Universidade de Guarulhos, com pós-graduação em administração industrial na Escola Politécnica da USP e mestrado em engenharia na área de materiais de construção, pela Escola Politécnica da USP
- Atua como gerente da área de inovação e sustentabilidade da ABCP
- É representante da ABCP no CBCS (Conselho Brasileiro da Construção Sustentável) no comitê de materiais
- Marcelo Kaiuca é sócio da Multibloco Indústria e Comércio de Artefatos de Concreto, no Rio de Janeiro
- Preside a Associação Brasileira da Indústria de Blocos de Concreto (BlocoBrasil) na gestão 2011-2013
- Érica Ferraz de Campos é graduada em arquitetura e urbanismo pela EESC-USP (2003)
- Pós-graduada em gestão ambiental pela Unicamp (2007)
- Mestre na área de materiais e componentes de construção civil pela Escola Politécnica da USP (2012)
- Coordenadora Técnica do CBCS (2010 a 2012) e atualmente diretora do CBCS
Contatos: claudio.silva@abcp.org.br / blocobrasil@blocobrasil.com.br / comunicacao@cbcs.org.br / twitter.com/cbcssustentavel
Créditos fotos: ABCP / BlocoBrasil / Calao Jorge / CBCS / Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Norma de desempenho aquece engenharia diagnóstica

Profissionais que tenham essa especialidade tendem a conquistar mais mercado, a partir da entrada em vigor da ABNT NBR 15575, no dia 19 de julho

Por: Altair Santos

Os requisitos da norma de desempenho - ABNT NBR 15575 -, que entrará em vigor dia 19 de julho de 2013, tendem a favorecer uma especialidade cada vez mais presente na construção civil: a engenharia diagnóstica. O profissional desta área tem como atribuições vistoriar, inspecionar, auditar, periciar e promover consultorias sobre normalização. Por isso, cabe a ele verificar se um empreendimento atende os índices mínimos, segundo parâmetros técnicos, de segurança, habitabilidade e sustentabilidade. "O profissional com essa especialização é quem faz o controle de qualidade de uma edificação predial", resume Marco Antonio Gullo, diretor de cursos do Instituto de Engenharia de São Paulo.

Engenharia diagnóstica: ela pode ser requisitada tanto na fase de projeto quanto após a conclusão da obra.

Outro fator que estimula a procura por especialistas em engenharia diagnóstica são as várias leis que têm sido aprovadas pelos municípios brasileiros, e que exigem inspeção predial. Essa demanda cresceu após desabamentos de edifícios, coberturas e marquises, que ganharam o noticiário nacional entre 2011 e 2012. "Isso desencadeou a busca por profissionais especializados em serviços diagnósticos e, por conseguinte, estes buscam cursos e publicações afins", explica Marco Antonio Gullo, lembrando que é relevante que o especialista em engenharia diagnóstica tenha conhecimento jurídico, para que possa orientar seu cliente nas questões de direito do consumidor, responsabilidades construtivas e outras demandas judiciais.

Além de engenheiros civis, arquitetos e profissionais que atuam na área de gestão patrimonial imobiliária são os que mais procuram pela especialidade em engenharia diagnóstica. Organismos como os institutos de engenharia e o Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (IBAPE) estão entre os que costumam ministrar cursos. Dentro das universidades, a disciplina ainda é pouco relevante. "Nas escolas de engenharia, as prestações de serviço que dão apoio às obras de construção são pouco abordadas", reconhece Marco Antonio Gullo, citando que o setor habitacional, seguido do segmento comercial, é o que mais demanda pelos profissionais com a qualificação em engenharia diagnóstica.

Marco Antonio Gullo: especialidade tem compromisso com a qualidade da obra.

Em países como Estados Unidos, Alemanha e também no Reino Unido, a engenharia diagnóstica já é ministrada como pós-graduação nas universidades. No Brasil, ainda funciona como uma especialização, com cursos que variam de 12 horas a um mês de carga horária. A expectativa do setor é que com legislações e normas mais rigorosas, a qualificação também seja aprimorada. Uma tendência é que a engenharia diagnóstica não se limite apenas à edificação, mas se estenda à linha de produção, ao longo de toda a cadeia da construção civil. Neste caso, fabricantes contratariam o profissional para dar resposta às questões conflitantes entre produto e consumidor. "A área de atuação só tende a ampliar", avalia Marco Antonio Gullo.

 

 

Entrevistado
Marco Antonio Gullo, diretor de cursos do Instituto de Engenharia de São Paulo
Currículo
- Marco Antonio Gullo é graduado em engenharia civil, com pós-graduação em perícias de engenharia e avaliações e administração de empresas
- Possui cursos de extensão em patologias construtivas e avaliações de imóveis
- É diretor de cursos do Instituto de Engenharia de São Paulo e ex-coordenador da câmara técnica de perícias em edificações do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo (IBAPE-SP)
- Atua ainda como assistente técnico em ações judiciais envolvendo perícias de engenharia
- Militante em reuniões da ABNT/CB02 (Comitê Brasileiro da Construção Civil da Associação Brasileira de Normas Técnicas) para elaboração das normas técnicas de Manutenção de Edificações, Diretrizes para elaboração de manuais de uso, operação e manutenção das edificações (CE-02:140.01), Desempenho de Edificações (CE-02:136.01) e Inspeção Predial (CE-02:140.02), sendo relator dos estudos do I.E. (Instituto de Engenharia) na proposta de alteração da NBR-15575/Parte I (no processo de consulta nacional da ABNT)
Contatos: www.mgconsult.com.br / m.a.gullo@mgconsult.com.br / cursos@iengenharia.org.br
Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330

Censo dos arquitetos revela desafios à profissão

Sair da informalidade, melhorar a qualificação e levar os profissionais para o interior do país estão entre as prioridades do CAU

Por: Altair Santos

Os arquitetos brasileiros já sabem que desafios precisam superar para que a profissão ganhe novos mercados e obtenha avanços qualitativos. As respostas estão no primeiro censo realizado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU). A pesquisa levantou dados junto a mais de 83 mil profissionais, abordando temas como segmento de atuação, renda, formação, interesses gerais e expectativas quanto ao crescimento do mercado. "Esse levantamento é fundamental para melhorar a gestão e o planejamento de nossa profissão", explica o presidente do CAU-PR, Jeferson Dantas Navolar, com sede em Curitiba, onde o censo nacional foi apresentado dia 24 de junho de 2013.

Jeferson Dantas Novolar, presidente do CAU-PR: profissional ainda é visto como desenhista de luxo.

Atacar a informalidade que hoje cerca a arquitetura é uma das primeiras prioridades apontadas pelo censo. Atualmente, 80% dos que atuam no país estão nesta condição. "A grande maioria não tem estrutura jurídica por trás, são desenhistas de luxo. "Nós somos educados para fazer gestão, para fazer planejamento, seja de uma residência ou de um espaço público, mas para que possamos exercer estas atribuições necessitamos minimamente de estruturas de organização social ou jurídica que nos dê suporte", avalia Navolar. Do universo de arquitetos no país, apenas 20% estão constituídos como empresas.

Outro dado trazido pelo censo é que 60% dos profissionais hoje se concentram nos grandes centros urbanos. Interiorizar a profissão é outro desafio à arquitetura. "Não é possível que em um estado como o Paraná, por exemplo, dos 399 municípios 198 não tenham um arquiteto sequer. Como se faz gestão nestes territórios? O Estatuto das Cidades foi criado há 11 anos, mas são outros profissionais que estão se beneficiando dele. Não são arquitetos nem engenheiros, mas sim os lobistas. O resultado é que não temos qualidade nos investimentos em infraestrutura nos municípios. É preciso que o arquiteto chegue a todas as cidades", avalia o presidente do CAU-PR.

O censo apontou também que são poucos os arquitetos que avançam na qualificação. Dos que responderam ao questionário, 85% se satisfazem com a graduação e apenas 1,5% tem pós-graduação em nível de mestrado. Na avaliação do CAU, isso dificulta a gestão e o planejamento. "Poucos estão teorizando sobre a profissão. Como é possível? Se não se teoriza, não há como apontar soluções para as políticas públicas de habitação e mobilidade, por exemplo", diz Navolar. "Arquitetura é trabalho intelectual e tem que ser contratado por qualidade e não só por preço", completa.

O primeiro censo do CAU levou três meses para a coleta de dados e foi respondido espontaneamente por 88% dos 95.169 arquitetos e urbanistas com registro profissional e em atividade no país. Os dados apontaram que 60,5% são mulheres e 39,5% homens. As regiões sudeste e sul concentram a maior parte dos profissionais. A grande maioria tem entre 30 e 35 anos. Um dado interessante é que, por causa da informalidade, quase 34% não contribui para nenhum fundo previdenciário e quase metade não possui imóvel próprio. Também entre os que responderam, a maioria atua na área de concepção de projetos de arquitetura e urbanismo, seguido de execução de projetos e arquitetura de interiores.

Confira todos os dados do censo

Serviço

Para ajudar os arquitetos a saírem da informalidade, o CAU-PR instalou em sua sede o Núcleo de Empreendedorismo, Sustentabilidade e Cidadania (NESC). O objetivo é apoiar os profissionais no processo de constituição de pessoas jurídicas. O núcleo tem o apoio do Sebrae, da Caixa Econômica Federal, da Fomento Paraná, do Banco do Brasil, do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial – CPCE/FIEP, da Aliança Nosso Paraná Sustentável – ONU, da Associação Comercial do Paraná e do FUNSAU (Fundo de Assistência Social dos Arquitetos e Urbanistas).

Informações:
Telefones: (41) 3244-3117 / (41) 3243-5496
E-mail: atendimento@caupr.gov.br
Sede CAU-PR: Av. N. Sra. da Luz, 2.500 - Curitiba-PR

Entrevistado
Jeferson Dantas Navolar, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU-PR)
Currículo
- Jeferson Dantas Navolar é graduado em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal do Paraná (1983)
- Fez pós-graduação em nível de especialização na área de conservação e restauração de monumentos e conjuntos históricos (CECRE) na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (1984)
- Também na UFB, fez mestrado em preservação do patrimônio histórico em Curitiba (2004-2006). O trabalho que resultou na publicação de livro “A Arquitetura Resultante da Preservação do Patrimônio Edificado em Curitiba”
- Foi membro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios ICOMOS/UNESCO (1988), presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-PR) (2008 – 2011) membro do Conselho Nacional de Política Cultural – CNPC (2010 – 2011) e do Conselho Consultivo do IPHAN/MINC (2010 – 2012)
- Desde dezembro de 2011 é presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná
Contato: comunicacao@caupr.gov.br
Créditos foto: Marcus Simão / CAU-PR

Jornalista responsável: Altair santos - MTB 2330

Cidadania caminha pelas calçadas

Segundo Benedito Abbud, um dos principais especialistas em mobilidade para pedestres do país, poder público deve assumir calçamento nas cidades

Por: Altair Santos

O artigo 5º da Constituição Federal define uma série de direitos do cidadão brasileiro, entre eles o de ir e vir. Por isso, o arquiteto e paisagista Benedito Abbud passou a defender que o poder público assuma integralmente a construção de calçadas no país. Hoje, em boa parte dos municípios brasileiros, sobretudo nas capitais, essa responsabilidade é do morador. O resultado são pavimentos irregulares, sem padronização, o que acaba gerando uma visão negativa do ambiente urbano. "A cidadania passa pelas calçadas, pois consta na constituição o direito de ir e vir com segurança. Se é lei, o poder público é quem deve instalar esses equipamentos e preservá-los", prega Abbud.

Benedito Abbud: morador não pode ser responsável pela calçada, mas sim o poder público.

No entender do arquiteto, calçadas bem concebidas, sustentáveis e acessíveis propiciam cidades mais civilizadas, com melhor qualidade de vida para seus habitantes e, consequentemente, com mais cidadania. "É através das calçadas que se tem a imagem da cidade", diz Benedito Abbud, que desde 2006 vem trabalhando com o projeto Calçada Viva. "Ele foi pensado para ser aplicado pelo poder público. Várias prefeituras se interessaram por alguns dos seus aspectos e algumas estão estudando a viabilidade de implantação", revela. "A ideia é que, em cada cidade, uma equipe de urbanistas pense as calçadas de acordo com a geografia da localidade e até os aspectos culturais e históricos do município", completa.

No projeto liderado por Abbud, as calçadas devem ser mais largas, com faixas de serviços para arborização, rampas para cadeirantes e piso táctil de orientação e alerta. "A projeção de calçadas vivas incentivaria as pessoas a caminhar mais. Afinal, a maioria das nossas calçadas são ruins, com desníveis, buracos, pisos irregulares, degraus, entre outros obstáculos. Isso causa acidentes. Se é difícil uma pessoa sem limitações físicas andar a pé, imagina os cadeirantes, cegos e até mesmo os idosos e as mães com carrinhos de bebê? As calçadas deveriam ser acessíveis para o uso comum de todos", afirma o arquiteto.

Além disso, Abbud defende que deve haver um planejamento em conjunto com as Companhias fornecedoras de energia, água, gás e telefone que quebram constantemente o piso das calçadas, resultando em prejuízos estéticos e obstáculos para o passeio (buracos, emendas e caimentos inapropriados). Nesse caso, são indicados produtos e técnicas para as chamadas calçadas inteligentes, que funcionam como uma galeria no subsolo, permitindo que as fiações da rede elétrica, telefônica, de TV, fibras ópticas, rede de água e esgoto sejam embutidas. A medida ajudaria na manutenção dos serviços sem necessidade de quebrar o piso e ainda diminuiria a poluição visual da cidade.

O projeto Calçada Viva segue os seguintes parâmetros:

Abbud defende que calçamento deve ser uniforme em toda a cidade.

- Contribuir para amenizar o ambiente árido de muitas ruas, com projetos paisagísticos para calçadas ajustados à realidade de cada rua, bairro, e inseridos no contexto de uma megalópole numa região de Mata Atlântica.

- Promover a aproximação da comunidade com o meio ambiente natural, com o plantio de ervas e árvores frutíferas naturais de Mata Atlântica nas calçadas, conforme viabilidade.

- Garantir boa acessibilidade para todos no uso dos passeios.

- Aumentar a permeabilidade do solo, colaborando para evitar enchentes e para a reposição dos aquíferos.

- Contribuir para a diminuição da poluição visual e sonora.

- Melhorar a qualidade do ar na cidade, reduzindo os gases tóxicos e nocivos ao clima.

- Melhorar a qualidade de vida da comunidade.

Entrevistado
Benedito Abbud, arquiteto, urbanista e paisagista
Currículo
- Com 40 anos de experiência, Benedito Abbud é formado em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, na qual foi professor na disciplina de paisagismo de 1980 a 1985. Ministrou aulas, também, na Faculdade de Arquitetura da PUC – Campinas de 1977 a 1981. É pós-graduado e mestre pela FAU-USP
- Em 1981, fundou sua própria empresa, que hoje conta com aproximadamente 5.200 projetos paisagísticos desenvolvidos em todo Brasil e em outros países, como Argentina, Uruguai e Angola. Abbud foi presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap) durante os biênios de 1987-1988 e 1999-2000
Contatos: www.beneditoabbud.com.br / babbud@beneditoabbud.com.br
Crédito: Nicola Labete / Michel Willian / SMCS

Jornalista responsável: Altair santos - MTB 2330

Gestão de risco é insipiente na construção civil

Eventuais ações preventivas, que vão além do sistema produtivo do dia a dia, são realizadas pela minoria das empresas do setor

Por: Altair Santos

Recente pesquisa da Deloitte revela que mais de 80% das empresas, de um universo de 54 grandes corporações multinacionais, dizem estar longe do ideal quanto aos processos de gestão de risco. Destas, 59% admitiram não ter um comitê de risco estruturado. Os dados levaram à seguinte reflexão: se Companhias que agem mundialmente são deficientes neste área, como estariam as empresas nacionais - em especial, as voltadas para a construção civil? A resposta é que elas também agem de forma insipiente em relação à gestão de risco.

Mozart Bezerra da Silva: gestão de risco ainda é tema intangível para as empresas.

Para o especialista Mozart Bezerra da Silva, que desde 2008 estuda gerenciamento de risco na construção civil, o motivo de as corporações darem pouca atenção a esta área é que trata-se de um tema intangível, quando comparado aos processos diários de operação das Companhias. "As empresas inicialmente se preparam para lidar bem com questões visíveis e comuns, inclusive para corrigir os problemas depois que eles acontecem. O gerenciamento do risco trata de ações de natureza preventiva, que muitas vezes são deixadas em segundo plano. Principalmente para quem nunca foi atingido por um prejuízo que nunca havia considerado a hipótese de ocorrer", explica.

Mozart Bezerra da Silva, que em 2008 realizou um estudo de mestrado na Universidade Federal do Paraná (UFPR) sobre gerenciamento de risco na construção civil, detectou que não existe essa cultura no setor. "A indústria da construção civil é bem menos preparada que as de produção em série. Eventuais ações preventivas que ocorrem no setor são realizadas por uma minoria", diz, completando que a maioria das construtoras se dá por satisfeita em conseguir controlar o sistema produtivo do dia a dia.

Deveria ser o contrário, já que naturalmente toda construção tem um escopo de risco. "O risco está presente no porte do negócio, na mão de obra, no projeto, na meteorologia, nos recursos, enfim, nas indecisões que fazem da construção civil um setor extremamente arriscado", destaca Mozart Bezerra da Silva, enfatizando que toda empresa que quer operar por longo prazo e com garantia de bom resultado deve ter aversão ao risco.

O especialista deixa claro que a gestão de risco não faz distinção entre grande e pequena empresa ou entre corporação de capital aberto ou familiar. "É uma questão de cultura da Companhia, de sua percepção e aversão ao risco, muito mais do que do porte ou do modelo que ela adota", define, apontando os cinco passos básicos para que uma empresa implante um procedimento de gestão de risco:

Quanto maior o empreendimento, mais ele exige gestão de risco de quem irá construí-lo.

1) Reunir os colaboradores mais experientes.
2) Brainstorming sobre o que pode dar errado (identificação de risco).
3) Classificação do impacto dos riscos. Quais têm mais chance de ocorrer e poder de reduzir a lucratividade da empresa.
4) Busca de respostas ao risco. O que pode ser feito hoje, dentro da viabilidade, do planejamento, do orçamento e do gerenciamento, que pode reduzir o impacto dos riscos e os problemas potenciais.
5) Monitoramento contínuo, pois sempre podem surgir novos riscos.
Fora do Brasil, os Estados Unidos são os mais avançados em procedimentos de gestão de risco. No país, os modelos tem sido aprimorados desde a década de 1960. Já no Brasil, ainda que em um universo pequeno, quem promove gestão de risco obtém ganho de produtividade. "Os problemas potenciais que pertencem a todos podem ser transformados em oportunidades por alguns que tenham percepção e criatividade. O maior ganho talvez seja a garantia de perder menos, driblando alguns problemas potenciais e tendo menores prejuízos com os problemas que aparecem", assegura Mozart Bezerra da Silva.

Confira estudo de mestrado de Mozart Bezerra da Silva

Entrevistado
Mozart Bezerra da Silva, pesquisador de gerenciamento de risco na construção civil
Currículo
- Mozart Bezerra da Silva é engenheiro civil graduado pela PUC Campinas (1979)
- É mestre em gerenciamento de risco na construção civil, pela UFPR (2008)
- Tem 10 anos de experiência como construtor
- Possui experiência como professor, com 20 anos ministrando cursos de treinamento de curta duração
- Tem participação em cerca de 500 eventos, como 12,5 mil profissionais treinados
- Atua como consultor em empresas como Petrobrás, Sabesp, Infraero, Chesf, Cemig, Caema, Sanepar, Casan, Codebras, Odebrecht, Matec, Espaço Aberto, Ellenco, Tecmac, SindusCon-PR e Ademi-AL
- É autor do livro "Manual de BDI", publicado pelas editoras Pini e Blucher, em 2006, e de artigos técnicos
Contatos: www.mozarnet.com / adm@mozarnet.com
Créditos fotos: Divulgação autorizada

Jornalista responsável: Altair santos - MTB 2330