Bom uso das redes sociais alavanca carreira
Acesso às ferramentas pode impactar diretamente no ambiente corporativo, seja para quem já atua numa empresa ou para quem quer ser contratado
Por: Altair Santos
Pesquisa da Robert Half - empresa mundialmente conhecida por desenvolver recrutamento para a área tecnológica - revela que no Brasil 44% das Companhias usam redes sociais para avaliar candidatos e colaboradores. Isso reforça a tese de que quem utiliza ferramentas como Twitter, Instagram, Google+, Facebook e Linkedin precisa ser gestor de sua imagem. É o que confirma Sylvia Ignácio da Costa, especialista em recursos humanos e professora da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. "O uso das redes sociais deve observar regras éticas que não prejudiquem a imagem do profissional. Elas funcionam como uma projeção no mundo virtual do que as pessoas são ou como gostariam de ser. Isso influencia diretamente na percepção que cada um irá despertar entre seus pares no ambiente corporativo, ampliando as chances de promoção, de ingresso ou de recolocação no mercado de trabalho", afirma.
A professora da Anhembi Morumbi relaciona os principais comportamentos em redes sociais, que contribuem para impedir a evolução profissional. Entre eles, estão: postagem de fotos ou comentários inadequados; conteúdos que fazem apologia a drogas, sexo e crime; redação inapropriada e erros gramaticais; conduta que demonstre preconceitos; comentários que visam macular a imagem de pessoas ou de empregos anteriores, e a inclusão de informações falsas. "Por isso, é tão importante preservar nossos valores e atitudes", destaca Sylvia Ignácio da Costa. Para que o profissional não caia em armadilhas, a especialista enumera atitudes corretas para interagir com as redes sociais sem macular a imagem. As regras são as seguintes:
- Participar de grupos de discussões técnicas voltadas à área profissional;
- Preocupar-se com a redação dos textos publicados;
- Buscar conexões de qualidade;
- Manter a ética e discrição;
- Ter bom senso e critério ao replicar conteúdos;
- Avaliar a mensagem que será colocada;
- Não expor fotos ou vídeos que comprometam a imagem;
- Seguir pessoas ou comunidades relacionadas à sua área de atuação;
- Não divulgar informações falsas;
- Nunca desrespeitar as normas de uso das redes;
- Não participar de comunidades consideradas extremistas ou preconceituosas.
Sylvia Ignácio da Costa alerta, porém, que as empresas não podem avaliar os profissionais apenas pelo que eles postam nas redes sociais, sob risco de cometer equívocos. "As redes sociais devem ser utilizadas como fonte de informação e atração de candidatos. Portanto, não podem ser ignoradas. Porém, é um recurso complementar, principalmente no recrutamento e na seleção. O currículo continua sendo uma ferramenta importante, assim como as entrevistas formais para conhecer melhor o profissional. Não é possível somente por meio das redes sociais se obter uma avaliação completa do colaborador ou do candidato", reitera, completando que, mesmo assim, é importante estar nas redes sociais. "O profissional que opta por não ter um perfil no ambiente digital está em desvantagem, por não manter um network e por perder oportunidades interessantes por falta de exposição", finaliza.
Entrevistada
Sylvia Ignácio da Costa, coordenadora da graduação tecnológica em gestão de recursos humanos da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo
Currículo
- Sylvia Ignácio da Costa é graduada em economia e administração de empresas pela UniFECAP. Também, é mestre em administração de empresas
- Professora universitária há mais de 10 anos, leciona na Anhembi Morumbi desde 2004
- Possui 26 anos de experiência administrativa em empresas multinacionais
- É consultora em treinamentos empresariais e organização de eventos e palestrante em seminários, congressos, teleconferências e feiras
Contato: www.anhembi.br
Créditos foto: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Tecnologia com esferas plásticas reduz peso da laje
Sistema desenvolvido na Dinamarca, conhecido como tecnologia BubbleDeck®, agiliza obra e permite fazer mais andares com o mesmo volume de concreto
Por: Altair Santos
Catorze anos depois de ser lançada na Dinarmarca, e de se propagar pelo mundo, a tecnologia BubbleDeck® chega ao Brasil. A primeira obra no país a utilizar o sistema é o novo centro administrativo do Distrito Federal, a cargo do consórcio CADF (construtoras Odebrecht Infraestrutura e Via Engenharia) que é quem está trazendo a inovação para a construção civil nacional. "O Brasil incorpora uma tecnologia que já está consolidada em mais de trinta países, com obras na América do Norte e do Sul, na Europa, na África, na Oceania e na Ásia", diz o engenheiro civil Leonardo Bernardi, um dos gestores técnicos da BubbleDeck® no Brasil.
O sistema construtivo incorpora esferas plásticas na laje, que, em comparação com estruturas maciças, reduz em até 35% o peso. Isso se deve ao menor consumo de concreto e de aço. "As esferas são introduzidas na intersecção das telas soldadas, ocupando a zona de concreto em áreas que não desempenham função estrutural. Esse recurso diminui significativamente o consumo de materiais, agilizando o processo e gerando menor impacto ambiental", explica Leonardo Bernardi. O engenheiro assegura ainda que a tecnologia traz ganho de produtividade e apresenta um mix de tarefas semelhante a um sistema pré-moldado.
A BubbleDeck® pode ser aplicada em edificações de pequeno e grande porte. "Não existe uma limitação técnica ao uso. Apenas deve ser feito um estudo de viabilidade econômica", afirma Bernardi, garantindo que, para cada área de 1.000 m², o sistema proporciona um ciclo de laje em 6 dias. "Esse ganho é devido à confecção de até 80% da armação da laje em fábrica, redução de até 60% do escoramento e eliminação da fôrma de assoalho. Consequentemente, a tecnologia exige menos mão de obra e um dimensionamento menor do canteiro de obra quando comparado com o sistema convencional. Se o cliente optar pela fabricação em seu próprio canteiro, deve-se atentar ao espaço de fabricação e à logística interna. Se for entrega just in time, precisa apenas verificar os acessos à chegada das lajes", completa.
Um case importante ocorreu na Europa, no empreendimento Millenium Tower, construído na Holanda. Foram obtidos os seguintes ganhos:
- Redução de 10 para 4 dias por andar;
- Redução de 500 viagens de caminhões-betoneiras;
- Redução relevante do equipamento utilizado na obra;
- Dois andares construídos a mais, quando comparado com o projeto original, que previa laje alveolar.
- O sistema também poupou espaço de armazenamento de materiais no local da obra, que se situava em vias arteriais e rodovias.
O representante da tecnologia BubbleDeck® garante que ao aplicá-la em uma laje de 280 mm de espessura ela reduz o consumo em 0,09 m³ de concreto por m² de laje. O sistema também foi submetido à NBR ISO 14040 - Gestão Ambiental, Análise do ciclo de vida, Princípios e Estrutura -, a qual possibilita calcular a emissão de CO2 com base na Análise do Ciclo de Vida (ACV²) de um produto, e constatou-se que essa economia em concreto permite que estruturas que usam a tecnologia deixem de emitir até 23,5 kg de CO2 por m² de laje. Além disso, o uso das esferas reduz o número de pilares e elimina vigas, permitindo vãos maiores - estrutura ideal para grandes construções, como estacionamentos. O sistema também proporciona isolamento acústico e térmico, adequando-o à norma de desempenho ABNT NBR 15.575. Outra característica é que, em caso de incêndio, as esferas carbonizam sem emitir gases tóxicos, pois são fabricadas de polipropileno.
Saiba mais sobre a tecnologia BubbleDeck® e suas obras
Entrevistado
Leonardo Bernardi, gestor técnico da BubbleDeck® no Brasil
Currículo
-Leonardo Bernardi é engenheiro civil graduado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) com MBA em gestão empresarial pela FGV
-Tem 9 anos de atuação profissional, com experiência em obras industriais, passarelas para pedestre, viadutos e pontes, prédios residenciais e construção de supermercados
-Atua na BubbleDeck® desde dezembro de 2012, como gestor técnico e comercial
Contato: leonardobernardi@bubbledeck.com.br
Créditos fotos: Divulgação/ BubbleDeck®
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Acidente de trabalho recrudesce na construção civil
Até 2010, números estavam em queda. A partir de 2011, voltaram a crescer. Para a ABPA, combate deveria ser feito com fiscalização educativa
Por: Altair Santos
Entre julho de 2003 e julho de 2013, o número de trabalhadores da construção civil cresceu de 1,7 milhão para quase 3,5 milhões no Brasil. O maior salto se deu a partir de 2008, quando o governo federal criou estímulos através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do Minha Casa, Minha Vida. Esse aumento veio seguido de campanhas para prevenir acidentes de trabalho no setor. O resultado foi que, entre 2008 e 2010, houve queda no número de acidentados. Porém, a partir de 2011, os dados recrudesceram. Segundo os ministérios da Previdência Social, da Saúde e do Trabalho e Emprego, a construção civil, que chegou a cair para o 4º lugar no ranking de acidentes, voltou a oscilar entre o 3º e o 2º posto.
Hoje, de cada 10 acidentes de trabalho que ocorrem no país, três acontecem em canteiros de obras. Dos acidentados, apenas metade retorna ao mercado de trabalho da construção civil. Essas estatísticas têm sido alvo de preocupação do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que recentemente participou no senado federal de um debate sobre o tema. Entre as constatações, está a de que a qualificação da mão de obra não conseguiu acompanhar o volume de contratações. Além disso, o TST admitiu que faltam auditores fiscais para detectar irregularidades em obras. Outro aspecto preocupante é a terceirização, que, segundo o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho, está envolvida em oito de cada dez acidentes no setor.
De acordo com o presidente da ABPA (Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes) Milton Perez, boa parte dos acidentes relacionados a empresas terceirizadas está vinculada a contratações ilícitas. "Tratam-se de empresas que são montadas sem orientação e que acabam não realizando a qualificação de seus colaboradores com base em programas como o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) e o PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional). E por que isso ocorre? Por que a maioria age na informalidade", explica. "Por isso, a construtora que contrata um terceirizado precisa ver se ela cumpre as exigências para depois não ter problemas", completa.
A ABPA defende que ocorra a fiscalização educativa nos canteiros de obras, com a implantação do ciclo PDCA (do inglês PLAN - DO - CHECK - ACT [Planejar-Executar-Verificar-Ajustar]) para controle e melhoria contínua de processos. "É preciso educar, reeducar, educar, reeducar, sempre numa espiral, e de forma permanente, para criar a cultura da segurança no trabalho", avalia Milton Perez, para quem o Sistema S (Senai, Senac e Sesi) é fundamental para que essas mudanças se consolidem. "Desde o superaquecimento do mercado da construção civil, o Sistema S já qualificou mais de sete mil trabalhadores para o setor. Óbvio que é preciso mais. Porém, o caminho para a prevenção é esse", finaliza.
Entrevistado
Milton Perez, presidente da ABPA (Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes)
Currículo
- Milton Perez é graduado em administração de empresas, com pós-graduação em estratégia empresarial
- Com 70 anos de idade, é presidente da ABPA (Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes) especialista de segurança do trabalho e um dos primeiros técnicos em segurança do trabalho do Brasil
- Também é diretor do estadual do SINTESP (Sindicato dos Técnicos em Segurança do Trabalho de São Paulo)
- Faz parte do GEHST (Grupo de Estudos de Higiene e Segurança do Trabalho) e é integrante do Comusan (Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de São Paulo)
Contatos: www.abpa.org.br / abpasn@terra.com.br
Créditos fotos: Divulgação autorizada / ABr
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Ônibus é a melhor solução para a mobilidade urbana (Podcast)
Monitorado por sistemas inteligentes de sinalização e bilhetagem dos passageiros, BRT pode competir com metrô, avalia o especialista Cláudio Luiz Marte
Por: Altair Santos
Entrevistado
Cláudio Luiz Marte, professor-doutor do departamento de engenharia de Transportes (PTR) da EPUSP (Escola Politécnica da USP).
Currículo
- Cláudio Luiz Marte é graduado em engenharia elétrica pela USP (1988) mestre em engenharia elétrica pela USP (1994) e doutor em computação e sistemas digitais pela USP (2000).
- É professor-doutor do departamento de engenharia de transportes (PTR) da EPUSP e pesquisador licenciado do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT.
- Tem experiência na área de Engenharia de Computação, com ênfase em arquitetura de sistemas distribuídos.
Contato: claudio.marte@poli.usp.br
Créditos foto: Divulgação autorizada
Clique no player abaixo e ouça a entrevista na íntegra.
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
"Obras a jato" viram tendência na engenharia mundial
Depois da China, EUA investem maciçamente em construções modulares. No Brasil, falta de mão de obra especializada é um dos empecilhos à tecnologia
Por: Altair Santos
Vídeos de prédios chineses construídos em quinze, dez e até em seis dias estão entre os mais visitados no Youtube (acesse imagens ao final da reportagem). Tratam-se de projetos que exploram ao máximo o conceito de construção modular e que só se viabilizam por causa do emprego de mão de obra altamente especializada e de processos industrializados. Pela velocidade com que conseguem ser concluídos, esses modelos passaram a despertar o interesse da engenharia mundial, e cuja tecnologia começa a ser copiada em países como Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos.
Um exemplo é o condomínio que será inaugurado em setembro nos EUA. Projetado pelo escritório de arquitetura Gluck+, o prédio residencial está cumprindo à risca um cronograma de dez meses. Com sete andares e 28 apartamentos, o complexo erguido em Manhattan teve as fundações e o primeiro pavimento executados convencionalmente, em concreto moldado in loco. Os demais andares são compostos por 56 blocos pré-fabricados construídos na Pensilvânia, cada um com 45 metros de comprimento e configurados para se encaixar um a um, formando o edifício. Esta etapa levou 90 dias para ser concluída.
Ainda que não sejam erguidas na mesma velocidade dos edifícios chineses, essas "obras a jato" projetadas no ocidente se valem da construção modular e, consequentemente, das estruturas mistas de aço e concreto para ganhar tempo, reduzir o emprego de mão de obra e economizar recursos. Apesar das vantagens da tecnologia, no Brasil ela ainda é minimamente consumida. Poucas empresas nacionais detêm esse conhecimento. Uma delas é a CME – Construções Modulares Especiais Ltda. -, onde atuam o arquiteto Bruno Pylro e os engenheiros Raphael Rocha e Theodoro Diniz. Na entrevista a seguir, eles explicam como funciona o sistema construtivo que dominam. Confira:
Recentemente veio a notícia de que em Nova York um edifício de apartamentos está em construção baseado em módulos. Isso pode significar uma tendência da arquitetura daqui para frente?
Bruno Pylro - A modulação na construção civil já é desenvolvida no mundo desde o fim da segunda guerra. A ideia surgiu da necessidade de dar velocidade à reconstrução da Europa, então destruída pelo conflito. Atualmente, com a busca de soluções ágeis para novas construções, esse sistema está ganhando novo impulso. Vários países já o utilizam em larga escala. No Brasil, infelizmente, ainda encontra muita desconfiança. Um dos motivos é que poucas faculdades do país abrangem essa disciplina. Outra crença é a de que o projeto modular limita soluções, o que definitivamente é uma inverdade. Mas, pouco a pouco, as soluções de modularidade ganharão as pranchetas e os canteiros. Daí, os desperdícios da construção artesanal serão um passado difícil de se explicar.
As estruturas mistas de concreto e aço predominam na construção modular ou há outras opções?
Raphael Rocha - Embora haja alternativas, o concreto e o aço predominam o mercado modular brasileiro. Porém, infelizmente, ainda se vê como sinônimo de durabilidade e rigidez soluções artesanais que se tornam cada vez mais incompatíveis com as demandas de mercado. Alternativas novas, e tão ou mais eficientes, como os painéis Wall, Steel frame, placas cimenticias, perfis em PVC, painéis sanduíche compostos de EPS e PU e a própria estrutura metálica, permitem que sejam utilizadas das mais diferentes formas possíveis, possibilitando arranjos arquitetônicos ousados e modernos.
Hoje a construção civil brasileira já está sob regime da norma de desempenho. A construção modular atende a essa norma?
Raphael Rocha - A construção modular não difere dos outros modais de construção quando o assunto é norma de desempenho, pois a mesma não trata de sistemas construtivos ou materiais constituintes do edifício, e sim sobre o seu desempenho e comportamento global. A norma estabelece requisitos e critérios de desempenho, considerando as exigências do usuário, como segurança, habitabilidade, conforto térmico e acústico, manutenção, acessibilidade entre outros. Neste sentido, a construção modular atende plenamente as exigências normativas e dos usuários.
Como as tecnologias modulares lidam com a demanda da sustentabilidade?
Bruno Pylro - O sistema construtivo modular busca ao máximo evitar o desperdício. Os projetos devem ser customizados, utilizando a modularidade de todas as peças previstas, evitando-se cortes comuns na construção convencional. O desperdício no canteiro de montagem de painéis não chega a 3% de inservíveis.
A construção modular demanda que tipo de mão de obra e em qual quantidade?
Raphael Rocha - Um dos maiores entraves da difusão do sistema construtivo modular atualmente no Brasil é a qualificação da mão de obra. Não adianta colocar um anúncio no jornal para se contratar um montador de painel. É uma profissão que simplesmente não existe. Atualmente busca-se a fidelização de mão de obra, através da qualificação e da excelência no processo construtivo. Há entendimento de que havendo mais mão de obra capacitada haverá também mais demanda para o mercado da construção modular.
Como a construção modular age em relação às peças úmidas (banheiro e cozinha) além de instalações hidráulicas de obra?
Raphael Rocha - Os ambientes molhados exigem atenção em qualquer tipo de construção e no sistema construtivo modular se diferem dos demais apenas pelo fato de possuírem shafts de acesso as instalações. Essas aberturas estrategicamente posicionadas permitem acesso facilitado para manutenção, sem que haja necessidade de “rasgar” a parede, promovendo o quebra-quebra. Basta utilizar a visita existente.
A cadeia produtiva da construção civil no Brasil está preparada para abastecer a construção modular?
Raphael Rocha - A cadeia produtiva brasileira, embora crescente, apresenta resultados bem abaixo das expectativas projetadas pelo setor. O potencial de crescimento esbarra principalmente pela falta de mão de obra qualificável somadas à cultura brasileira já enraizada no modo artesanal de construção, onde o saber prático, passado de pai para filho, e o saber técnico são demasiadamente convencionais. O fortalecimento do setor modular depende da melhoria da capacidade técnica, que tange a elaboração de projetos, e na sua maior valorização, tanto da parte do setor público como do privado, pois é por meio deles que se insere efetivamente a aplicação de produtos e processos na construção.
Quais os ganhos que a construção modular oferece em relação à construção convencional?
Theodoro Diniz - A industrialização dos processos construtivos permite inúmeras vantagens, das quais podemos destacar:
Tempo
A construção modular permite reduzir o prazo de entrega da edificação em até 1/3 quando comparado à construção convencional. Tal fato se fundamenta pela concomitância de atividades que são realizadas durante todo processo de implantação do empreendimento. Enquanto atividades civis de fundação e infraestrutura sanitária são executadas, os componentes estruturais e de vedação estão sendo fabricados paralelamente. No término da etapa civil, inicia-se imediatamente a montagem dos componentes da edificação. Os painéis são pré-dimensionados ainda na linha de produção visando a mínima intervenção possível in loco.
Qualidade
Os materiais utilizados na construção modular são pré-fabricados e industrializados. São produzidos através de uma linha de produção industrial, fabricados por equipamentos de última geração e submetidos a um rigoroso processo de qualidade antes de serem transportados e fornecidos para a obra.
Organização
Os insumos são fornecidos, organizados e protegidos, permitindo uma melhor distribuição no canteiro por tipo de materiais e por frente de serviço. O ganho de espaço é muito grande, pois assim que um insumo é usado, outro poderá tomar seu lugar no pátio, e assim sucessivamente. Isso garante menor área de canteiro e uma boa dinâmica para a obra.
Planejamento
Permite maior controle das etapas do projeto e aumenta a possibilidade de detalhar melhor os serviços. Isso melhora os índices de produtividade, facilitando o acompanhamento de cada etapa do empreendimento.
Velocidade
Como o conceito é a modularidade, este tipo de construção permite replicar os mesmos métodos utilizados de uma obra para a outra. Isso possibilita um processo de melhoramento contínuo. Construções com este conceito já saem do projeto com um nível muito alto de detalhamento, o que aumenta consideravelmente sua velocidade de execução. Elas também são mais adaptáveis a ferramentas 3D, que permitem antecipar possíveis gargalos construtivos, minimizando o inesperado e garantindo uma fluidez na execução do empreendimento.
Limpeza
Este é um dos principais conceitos. Estamos acostumados com muita poeira e resíduos espalhados por todos os lados. Na construção modular, encontramos o que chamamos de “chão de fábrica”: um espaço limpo, organizado e muito seguro.
Segurança
O método construtivo permite um ganho enorme no que tange à segurança do trabalho. Com um ambiente organizado e limpo, podemos realizar as tarefas minimizando cada vez mais o risco de acidentes. Neste processo, o mapeamento de risco é quase total.
Confira vídeos sobre as construções a jato na China:
http://youtu.be/UCk_dLjgB6s
http://youtu.be/NiQ_ZKv30k4
Entrevistados
Bruno Satler Pylro, Raphael Rocha Baptista de Oliveira e Theodoro Diniz, da CME – Construções Modulares Especiais Ltda
Currículos
- Bruno Satler Pylro é graduado em arquitetura pela UFMG (2008) e pós-graduado em engenharia de segurança do trabalho, pela UNA (2012)
- Raphael Rocha Baptista de Oliveira é graduado em engenharia de produção civil pela FEA-FUMEC e pós-graduado em gestão de negócios pela Fundação Dom Cabral
- Theodoro Diniz é graduado em engenheiro de produção civil FUMEC
Contato: www.cme.com.br
Créditos foto: Divulgação /CME / Gluck+
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Decoração se rende aos pisos e revestimentos cimentícios
Investimento em pesquisa e tecnologia agrega sofisticação ao concreto arquitetônico e permite simulação de outros materiais, como a madeira
Por: Altair Santos
O piso cimentício saiu do chão da fábrica para se instalar em shopping centers, hospitais, universidades, ambientes de escritório, e chegou à beira da piscina. Agora, com maciço investimento dos fabricantes em pesquisa e tecnologia, foi convidado a entrar em casa. E o faz com grande estilo. A ponto de ter conquistado os arquitetos de interiores. Principalmente por que os produtos ganharam sofisticação e capacidade de se transmutar, recebendo texturas que imitam do porcelanato à madeira, e com uma vantagem: são muito mais resistentes. "Os produtos à base de concreto arquitetônico apresentam a mesma propriedade do concreto, ou seja, alta resistência mecânica e extensa durabilidade, desde que instalados conforme as instruções", explica a designer de produtos Mariana Favaron.
Segundo a especialista, os arquitetos de interiores, quando optam por usar os pisos e revestimentos cimentícios, o fazem também para diferenciar seus projetos e personalizar o resultado. "Como os produtos têm diversas opções de acabamento e cores, eles servem para gerar ambientes inovadores, sejam em projetos residenciais ou corporativos", afirma Mariana Favaron, lembrando também que as características técnicas do material também ampliaram sua participação no mercado. "Há produtos específicos para ambientes internos e externos. Eles atendem exigências como baixa transferência térmica, alta durabilidade e propriedades antiderrapantes. A qualidade tecnológica do concreto arquitetônico fabricado no Brasil atingiu um padrão de excelência", elogia a designer.
Outra virtude dos pisos e revestimentos cimentícios é que eles ganharam competitividade na relação custo-benefício, em comparação com cerâmicas e porcelanatos. "Isso é resultado do investimento dos fabricantes em pesquisas de materiais de superfície. Chegou-se a um nível em que o concreto arquitetônico está cada vez mais resistente e moldável, permitindo a criação de inúmeras formas, com designs cada vez mais inovadores. Houve também o refinamento do acabamento final e, consequentemente, o mercado de decoração hoje o adota como uma tendência", complementa Mariana Favaron. Entre os que dão preferência aos pisos e revestimentos cimentícios estão os arquitetos que constroem com base nas certificações de sustentabilidade, como LEED e AQUA.
Os tipos de cimento mais utilizados na fabricação de pisos e revestimentos cimentícios são os do tipo II (NBR 11578 – Cimento Portland composto), embora outros tipos também possam ser utilizados mediante dosagens adequadas. A Cia. de Cimento Itambé fabrica os tipos CP II-F-32 e CP II-Z-32. Outro item importante na qualidade do material é a mão de obra especializada. Boa parte dos fabricantes disponibiliza o serviço e não recomenda que o consumidor faça a instalação ou contrate profissionais que não tenham familiaridade com pisos e revestimentos cimentícios. Outro alerta é quanto à utilização de equipamentos e produtos para fixar e impermeabilizar as peças. "Desde que respeitados os procedimentos de instalação e conservação, os pisos e revestimentos cimentícios raramente apresentam problemas de durabilidade", conclui Mariana Favaron.
Entrevistada
Mariana Favaron, designer de produtos
Currículo
- Mariana Favaron é designer de produtos, com especialização em marketing na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing)
- Com 34 anos, já está à frente do departamento de marketing da Castelatto há 6 anos
Contato: contato@coevcomunicacao.com.br
Créditos fotos: Divulgação / Castelatto
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Retrabalho é patologia do processo de construção
Negligência ao planejamento e mão de obra não treinada alimentam um dos maiores vilões para o orçamento de uma obra
Por: Altair Santos
O retrabalho dentro de um processo construtivo, na maioria das vezes, é gerado pela falta de planejamento das operações ou pelo não alinhamento das várias etapas do projeto. Isso, invariavelmente, gera repetição de procedimentos, e o que é pior: em algumas fases que já eram consideradas concluídas. Para a construção civil, a ausência de planejamento nos processos, e a consequente geração de retrabalho, não deixa de ser um tipo de patologia dentro da obra. É o que explica o engenheiro civil Ricardo André Fiorotti Peixoto, que tem uma série de estudos sobre o assunto, e também é professor da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais. Confira a entrevista:
O retrabalho dentro de uma obra pode ser considerado um tipo de patologia?
Se pudermos classificar o retrabalho como uma patologia, ele pode ser considerado uma patologia do processo de construção e não da edificação em si.
Quais os principais motivos que acarretam o retrabalho?
O grande problema do retrabalho na construção civil relaciona-se diretamente com a negligência - e aí, nós engenheiros, também temos culpa - em relação ao planejamento do processo operacional, do processo de construção. Nos preocupamos com memoriais descritivos, orçamento, planejamento físico-financeiro e esquecemos de planejar as operações de construção. Essa negligência impacta na turma que está tocando a obra e, por vezes, gera retrabalho.
Em termos de custo e perda de tempo, o que o retrabalho significa para uma obra?
Se fazer bem, e bem feito, custa dez unidades de moeda, executar um retrabalho custa 100 unidades da mesma moeda. Executar um retrabalho não significa simplesmente refazer o trabalho. Isso implica em paralisar várias frentes de serviço que estão em andamento, a partir daquela etapa. Por exemplo, se surge um problema de piso, eu tenho que parar a turma da pintura, da eletricidade e do revestimento. Na construção civil, diferentemente da indústria em série, é necessário que tenhamos uma tarefa pronta para que a próxima possa acontecer. Por isso que o custo do retrabalho é tão alto.
Onde existem as maiores ocorrências de retrabalho e onde o efeito de uma obra mal executada é mais severo?
Em fundações, é uma etapa crítica. Durante a execução da cravação de estacas, caso uma destas estacas se rompa ou entre num processo de ruptura, isso vai exigir modificar a geometria de um bloco de fundação. É sério, pois vai impactar em todo o cronograma da obra. Principalmente, por que as superestruturas hoje são dimensionadas para funcionar de forma aporticada. Todos os elementos respondem em conjunto por todos os esforços.
Já nas construções de baixo custo, as etapas de retrabalho afetam diretamente o lucro das construtoras e os prazos de entrega, mas pulverizadamente. Então representam um impacto grande, mas de forma sequencial. Quando a construção é de alto luxo, algumas vezes ocorrem problemas com assoalhos de madeira importada ou com pisos de revestimento de pedras importadas. Isso também é um problema grave, pois vai gerar grande perda de tempo, grande quantidade de dinheiro alocada e a paralisação de outras etapas da obra.
Gestão de projetos e gestão de obras que não têm sintonia fina normalmente levam ao retrabalho no canteiro de obras?
Com certeza. Com a globalização dos processos, as empresas ficaram muito mais próximas. Eu posso construir uma edificação em Belo Horizonte e contratar um serviço do Rio Grande do Norte, por exemplo. A gestão deste tipo de operação é extremamente complexa e por mais que tenhamos muitos softwares de controle de operação, ainda assim é muito difícil produzir projetos em unidades tão distantes. O grande problema da gestão hoje reside nisso. Há casos em que a obra está aqui no Brasil e os projetos foram comprados da China. Isso obriga a uma grande estrutura de vídeo-conferências para discutir as etapas da obra. Trata-se de gestão de projetos, que se não for bem executada é uma pontecializadora de riscos relacionados ao retrabalho.
Quando ocorre o retrabalho, a quem se atribui mais culpa: ao projeto ou à execução da obra?
Esta é uma pergunta muito difícil de responder, porque na maioria das vezes quem está na frente de obra segue as informações que estão no projeto. Por outro lado, os projetos podem ser insuficientes. Acho que a responsabilidade pode ser dividida entre as duas etapas.
O turn over em grau elevado num canteiro de obras propicia o retrabalho?
Evidentemente que sim.
Hoje ainda há um elevado grau de retrabalho nas obras ou o avanço das técnicas de engenharia já minimizou bastante esse risco?
Se fizermos um comparativo dos últimos dez anos, mas com a ressalva de conservar as escalas tecnológicas, hoje nossas construções têm um índice de retrabalho menor. Os processos evoluíram, como o de qualificação de mão de obra, dos sistemas construtivos e do próprio Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H). Além disso, tem as exigências relacionadas aos organismos financiadores. Tudo isso, trouxe melhoria para os processos. Mas o retrabalho continua sendo um grande problema na construção civil.
Recursos tecnológicos, como o BIM, ajudam a combater o retrabalho?
Claro que sim. Inclusive estamos orientando uma dissertação de mestrado na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) onde a aluna buscou casos de projetos que foram executados em diversos escritórios de construção e aplicou o BIM nestes projetos. Os resultados preliminares da pesquisa são bastante animadores. Eles mostram que o BIM é uma ferramenta importante para corrigir rumos e reduzir o retrabalho.
Quando percebe-se que o retrabalho é inevitável, quais procedimentos devem ser tomados?
Infelizmente, dificilmente se percebe isso. O retrabalho surge de uma operação mal conduzida e que só depois dela iniciada é que se percebem os equívocos.
Entrevistado
Ricardo André Fiorotti Peixoto, professor-adjunto do curso de graduação e pós-graduação em engenharia civil da Universidade Federal de Ouro Preto
Currículo
- Ricardo André Fiorotti Peixoto é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1996)
- Mestre em engenharia civil pela Universidade Federal de Viçosa (1999)
- Doutor em engenharia agrícola pela Universidade Federal de Viçosa (2004)
- Atualmente, é professor-adjunto do curso de graduação e pós-graduação em engenharia civil do departamento de engenharia civil da Universidade Federal de Ouro Preto
- Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em materiais e componentes de construção, processos construtivos e construção civil
- Lidera o grupo de pesquisa em resíduos sólidos - RECICLOS -, atuando nos seguintes temas: tecnologia de materiais, processos construtivos, construção civil, materiais de construção, manejo, tratamento e reciclagem de resíduos sólidos industriais
Contato: ricardofiorotti@yahoo.com.br
Créditos fotos: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Construção civil se divide diante do cenário econômico
Setor habitacional ainda tem fôlego para seguir aquecido. No entanto, obras voltadas à infraestrutura não têm perspectivas tão animadoras
Por: Altair Santos
A sensação de bem-estar gerada pela economia brasileira arrefeceu. Indicadores como inflação crescente, confiança em queda e disposição para o consumo em viés de baixa criaram um novo cenário no país. Pagam todos, indiscriminadamente. Uns mais, outros menos. Até dentro de um mesmo setor, há quem sinta o impacto de maneira diferente. É o caso da construção civil. Segundo levantamento realizado pela LCA Consultoria, o segmento voltado ao setor imobiliário tende a se manter aquecido. Já o que engloba as obras de infraestrutura não convive com previsões tão otimistas. Por dois motivos: a lentidão dos projetos e por que boa parte dos recursos já foi empenhada para o evento Copa do Mundo, seja na forma de estádios ou empreendimentos voltados à mobilidade.
Um dado relevante levantado pela LCA Consultoria, e que mostra o cenário econômico atual, está no desempenho do PIB da construção civil registrado no primeiro trimestre de 2013. Houve recuo de 1,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, acentuando a queda em relação ao final de 2012, quando o PIB do setor caiu 0,2% na mesma base de comparação. Diante destes números, a empresa especializada em inteligência de mercado estima que o PIB da construção fechará 2013 com crescimento de 2,9%. O mesmo estudo projeta que para 2014 esse número deve chegar a 3,9%. "É que no ano que vem haverá eleições e os governos tendem a contratar obras. Mas a euforia de 2010 não vai voltar. O crédito está desacelerando", diz o economista Fernando Sampaio, um dos sócios da LCA.
Em 2010, o PIB do setor cresceu 11,6%. Em boa parte, esse avanço se deu por causa do encaminhamento de projetos de infraestrutura, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e do auge do programa Minha Casa, Minha Vida. Agora, o momento é outro, principalmente na construção pesada. Um exemplo é que em maio de 2013 o segmento gerou apenas 719 empregos líquidos com carteira. Bem abaixo do patamar de 12 mil vagas observado no mesmo mês do ano anterior. Outro indicador é a confiança do empresariado. Em julho de 2013, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o índice baixou para 51 pontos entre os construtores de edifícios, 50,2 entre os ligados às obras de infraestrutura e 52,9 entre os que prestam serviço especializado ao setor.
Crédito em alta
Um dado que mostra por que o segmento de construção habitacional está mais otimista que o de infraestrutura está no volume de empréstimos concedidos para a compra e construção de imóveis no país. O desembolso atingiu R$ 49,6 bilhões no primeiro semestre de 2013. Tratam-se de recursos 34% superiores aos R$ 37 bilhões no mesmo período de 2012. Esse dinheiro financiou 244,7 mil unidades nos primeiros seis meses de 2013 - 14% a mais do que no mesmo período do ano passado. O levantamento é da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), que alerta, porém, que os números atuais ainda são reflexo do auge do mercado imobiliário, vivido entre 2009 e 2010. Seriam os lançamentos daquele período que estão sendo entregues agora e, portanto, consolidando a concessão de financiamento a quem comprou as unidades.
Entrevistados
- LCA Consultoria, especializada em inteligência de mercado. (via assessoria de imprensa)
- Confederação Nacional da Indústria (CNI). (via assessoria de imprensa)
- Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). (via assessoria de imprensa)
Contatos: contato@lcaconsultores.com.br / imprensa@cni.org.br / imprensa@abecip.org.br
Créditos foto: Marcelo Camargo / ABr
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Minha Casa, Minha Vida falha na qualidade e na entrega
Programa habitacional enfrenta descompasso entre o volume de unidades contratadas e construídas, além de fraudes e problemas de não-conformidade
Por: Altair Santos
Na metade de julho de 2013, a Polícia Federal deflagrou a primeira operação para investigar fraudes no programa Minha Casa, Minha Vida. Batizada de 1905, em referência à sigla MCMV, que lembra um algarismo romano, a ação foi determinada pelo ministério da Justiça, após denúncias de crimes de estelionato, tráfico de influência e lavagem de dinheiro envolvendo unidades habitacionais em municípios com até 100 mil habitantes. Também recentemente, a Caixa Econômica Federal criou uma central de atendimento para receber reclamações de mutuários contra deformidades nas habitações já entregues. O banco usará as informações para avaliar a qualidade dos empreendimentos e cobrar judicialmente das construtoras.
Através da central "Caixa de Olho na Qualidade", que pode ser acessada pelo número 0800 721 6268, o banco recebe a reclamação e aciona a construtora, que passa a ter cinco dias para entrar em contato com o mutuário e corrigir o problema. Caso contrário, a empresa corre o risco de ser processada e entrar para uma lista negativa que veta o acesso às operações com recursos da instituição financeira. Desde o lançamento do serviço, em 15 de março de 2013, a Caixa tem registrado média diária de 30 ligações relacionadas a algum tipo de deformidade. Até agora, o caso mais grave ocorreu no conjunto habitacional Zilda Arns II, em Niterói-RJ, onde dois prédios tiveram que ser demolidos em razão de problemas estruturais. As edificações estavam em fase de vistoria e nem haviam sido entregues aos mutuários.
Segundo o arquiteto Demetre Anastassakis, ex-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), e conhecido por estudar os problemas das habitações voltadas para a população de baixa renda, as não-conformidades das construções devem ser tratadas como "caso de polícia". "A Caixa Econômica ganha um bom dinheiro para fiscalizar, mas existe omissão. A lei é muito rigorosa com isso, porém sua aplicação deixa a desejar. É um caso de polícia", afirma. Para Demetre Anastassakis, deveria haver um controle maior dos projetos para o Minha Casa, Minha Vida. "Por economia, tem gente pegando os projetos de outros e copiando. Isso é outro crime. As pessoas acham que podem fraudar projetos. A Caixa é conivente, pois ela não poderia aprovar projetos copiados", critica o especialista.
Além de problemas com a qualidade dos empreendimentos, o MCMV sofre também com o descompasso entre unidades contratadas e concluídas. Recentemente, o governo federal anunciou que desde 2009, quando o programa foi criado, 75% da meta havia sido alcançada. Segundo dados do ministério do Planejamento, o total de unidades contratadas soma 2.783.275. Porém, apenas 45% (1.247.859) foram entregues. Em 15 de julho, em encontro no Secovi-SP, a ministra da pasta, Miriam Belchior, admitiu que são necessários ajustes. Entre eles, fazer com que serviços públicos, como energia elétrica e saneamento, cheguem às casas quando elas estiverem prontas. Há ainda as dificuldades burocráticas, como licenciamento ambiental e habite-se, e os registros dos imóveis em cartórios. "São desafios que se apresentam e que vamos superar", disse a ministra, projetando que em 2014 o MCMV chegará a 3,75 milhões de contratos.
Entrevistado
Demetre Anastassakis, ex-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB)
Currículo
- Demetre Anastassakis nasceu na Grécia e é naturalizado brasileiro. Graduou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ (1973)
- Já exerceu várias funções no IAB. Desde representante no conselho das cidades a presidente nacional da entidade
- É reconhecido por seus estudos sobre a habitação popular para a baixa renda, o que lhe rendeu o prêmio de o arquiteto do ano da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) em 2006
- Também foi atuando na criação do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo)
Contato: demetre.anastassakis@gmail.com
Créditos fotos: Elza Fiúza / Abr / Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Especialistas em medir confiabilidade ganham mercado
Setores de óleo e gás, mineração e energia elétrica passaram a requisitar profissionais da área. No Brasil, UTFPR é a única que oferece o curso
Por: Altair Santos
A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) é a única no país a oferecer curso de especialização (lato-sensu) na área de engenharia da confiabilidade. O profissional que atua nesta área está apto a especificar a performance de equipamentos, produtos, sistemas e linhas de processos de um produto, um equipamento ou uma obra. Atualmente, os setores que mais requisitam a engenharia de confiabilidade são o de óleo e gás, ambiental, saneamento básico e mobilidade. Segundo a pesquisa “Perspectivas Estruturais do Mercado de Trabalho na Indústria Brasileira 2020”, realizada pela FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) essa é uma das especializações com mais espaço para crescimento dentro da engenharia. É o que confirma o professor Emerson Rigoni, coordenador do curso da UTFPR. Confira o que faz o especialista desta área:
Como daria para definir a engenharia de confiabilidade?
Simplificando, engenharia de confiabilidade mede a probabilidade que qualquer equipamento, sistema ou processo tem para executar sua função. Exemplificando, seria como verificar a confiança que um avião transmite para executar um voo de um ponto A para um ponto B.
Hoje, quais setores mais demandam por profissionais especialistas em engenharia de confiabilidade?
No Brasil, o de petróleo e gás, além das mineradoras e as concessionárias de energia elétrica.
Desde quando a engenharia de confiabilidade começou a despertar o interesse no país?
A engenharia de confiabilidade chegou há uns 15 anos no Brasil, mas as primeiras aplicações se deram há uma década. Diria que de uns cinco anos para cá é que realmente o interesse pela confiabilidade despertou. Passaram a surgir certificações na área e daí o assunto entrou em pauta.
Quando contratado por uma empresa, o engenheiro de confiabilidade opera que tipo de gestão?
Normalmente, as empresas contratam esse profissional quando querem medir o período em que um equipamento precisa passar por manutenção. Outra aplicação é para definir estoques de sobressalentes. Se uma máquina ou processo tem probabilidade alta de falhar, é preciso dimensionar a reposição para suprir esta demanda. As seguradoras, por exemplo, usam muito a engenharia de confiabilidade para aferir o risco ao fazer o seguro de uma planta ou até mesmo de pessoas. A especialidade também tem aplicação no desenvolvimento de produtos, para que eles não gerem perdas financeiras por excesso de uso da garantia.
A construção civil absorve de que forma os especialistas em engenharia de confiabilidade?
Tem uma área da engenharia de confiabilidade que chamamos de análise qualitativa. É quando se busca antecipar as falhas. Criam-se, barreiras gerenciais ou técnicas a partir do projeto. Na construção civil, é no projeto que se pode mapear erros de dimensionamento de cálculo ou estruturais. Outra aplicação da engenharia de confiabilidade dentro deste setor é no controle de suprimentos de materiais dentro da obra.
Setores como meio ambiente, saneamento básico e mobilidade urbana demandam de que forma a engenharia de confiabilidade?
Em meio ambiente, pode-se medir o risco de ocorrer um vazamento. A engenharia de confiabilidade antecipa eventuais ocorrências e cria barreiras para que elas não ocorram. Na área de saneamento básico, idem. Já na mobilidade urbana, a especialidade é usada para medir a previsão de demanda. Dá para projetar o envelhecimento de uma frota e que custo isso irá gerar para a empresa. Da mesma forma, ela avalia quando uma plataforma de transporte (ônibus, trem ou metrô) ficará saturada.
UTFPR é a única no país que oferece o curso de especialização em engenharia de confiabilidade?
Sim. A engenharia de confiabilidade da UTFPR é plena e atua em três áreas: manutenção, análise de risco e desenvolvimento de produtos. O curso opera em parceria com a ReliaSoft Brasil, que é quem fornece o software que usamos nas aulas. A duração é de um ano e meio, com 360 horas de aula. Ele é em nível de pós-graduação lato-sensu, como se fosse um MBA, e concede diploma reconhecido pelo MEC. O curso tem aulas em São Paulo, onde está na quarta edição, e em Curitiba, que está na terceira edição.
Quem mais procura o curso?
Dentro da engenharia de confiabilidade tem uma área chamada de confiabilidade estrutural, que é relacionada à engenharia civil. Além desses profissionais, engenheiros mecânicos e eletricistas também buscam a especialização, assim como administradores. O curso serve para qualquer profissional que queira aprender a fazer a gestão de plantas, processos e ativos. Hoje, no mundo, os Estados Unidos são o país que mais tem especialistas em engenharia de confiabilidade.
Entrevistado
Emerson Rigoni, coordenador do curso de engenharia de confiabilidade da UTFPR
Currículo
- Emerson Rigoni é graduado em engenharia elétrica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) (1995)
- Tem mestrado em engenharia elétrica e informática industrial (UTFPR) (2002) e doutorado em engenharia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) (2009)
- É professor da UTFPR, atuando na graduação e na pós-graduação junto aos seguintes temas: engenharia da confiabilidade, metodologias para gestão da manutenção e métodos multicritérios para apoio a tomada de decisão
- Atualmente é coordenador dos cursos de graduação em engenharia elétrica e da especialização em engenharia da confiabilidade da UTFPR
- Também é membro do comitê técnico da Associação Brasileira de Manutenção (ABRAMAN) regional VII PR/SC e membro-fundador da Associação Brasileira de Análise de Risco, Segurança de processo e Confiabilidade (ABRISCO)
Contatos: rigoni@utfpr.edu.br / emerson@rigoni.com.br
Créditos foto: Divulgação