PDE para artefatos de concreto busca abrangência nacional
Objetivo dos coordenadores do Plano de Desenvolvimento Empresarial é que, até 2016, todos os pequenos e médios fabricantes do país sejam atendidos
Por: Altair Santos
Criado há sete anos, através de uma parceria entre a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às micro e pequenas Empresas) o Programa de Desenvolvimento Empresarial (PDE) está consolidado como uma das mais bem sucedidas iniciativas de um setor para levar capacitação e novos modelos de gestão aos empreendedores. No caso específico, aos fabricantes de artefatos de concreto.
Segundo o coordenador do programa, o engenheiro civil Eduardo D’Ávila, que também ocupa a gerência regional da ABCP no Rio de Janeiro, o PDE conseguiu quebrar paradigmas relacionados a questões como qualidade, produtividade e sustentabilidade. "Havia um círculo vicioso no setor, quanto a esses três itens. Daí, perguntávamos ao fabricante por que ele não produzia dentro das normas. Ele dizia: não faço, porque eles não compram. Íamos aos construtores, e perguntávamos por que ele não comprava dos pequenos e micros. Eles diziam: não compro, porque eles não fazem dentro dos padrões", recorda D’Ávila.
A solução foi disseminar os critérios de fabricação definidos no selo de qualidade da ABCP, para que houvesse a adesão dos empresários do setor. "No começo do PDE, 36% dos fabricantes atendiam integralmente as exigências do selo. Hoje, 67% já atendem", afirma Eduardo D’Ávila, que esteve na Concrete Show 2013 para contar os cases de sucesso do Programa de Desenvolvimento Empresarial.
O selo de qualidade ABCP é concedido a quem fabrica artefatos de concreto em conformidade com as normas técnicas. Para consegui-lo, a empresa precisa obter a pontuação mínima em cada um dos 12 itens que o produto precisa atender. São eles:
1. Registros e Certificados
2. Matéria Prima
3. Dosagem
4. Mistura
5. Vibro Prensa
6. Moldagem
7. Sistema de Cura
8. Transporte Interno
9. Armazenamento
10. Rastreabilidade
11. Ensaio dos Blocos
12. Equipamentos de Produção
Para Eduardo D’Ávila, a grande virtude do PDE foi mostrar aos empresários que, se eles melhorassem a capacitação da mão de obra e o conhecimento do sistema de fabricação, aumentariam a produtividade, reduziriam custo e teriam mais lucro. "A percepção de gestão de custo foi decisivo para o programa prosperar", diz.
O Programa de Desenvolvimento Empresarial hoje está em 11 estados, além do Distrito Federal, mas o plano é torná-lo amplamente nacional até 2016. "Iniciamos um processo de interiorização e hoje contamos com a ajuda de construtoras, indústrias e fornecedores para expandir o PDE. Essa aposta no relacionamento tem ajudado a mudar atitudes", relata Eduardo D'Ávila.
Entrevistado
Eduardo D’Ávila, coordenador do PDE e gerente regional da ABCP no Rio de Janeiro (via assessoria de imprensa da ABCP)
Currículo
- Eduardo D’Ávila é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (1992) e com pós-graduação em estruturas de concreto pela Ulbra, em Canoas-RS, em 1995
- Ajudou a fundar a Blocosul - Associação de Fabricantes de Blocos do Sul do País - e comandou até 2002, quando assumiu a gerência regional da ABCP no Rio de Janeiro
Contato: eduardo.davila@abcp.org.br
Crédito foto: Divulgação/ABCP
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Trem de Alta Velocidade está cada vez mais devagar
Com licitação adiada, TAV brasileiro só se viabiliza economicamente se houver ramais que o levem para o sul do país e para Minas Gerais
Por: Altair Santos
No dia 12 de agosto de 2013, o governo federal adiou por pelo menos mais um ano a nova rodada de leilões que viabilizaria o primeiro trem-bala brasileiro. O projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV) já se arrasta há cinco anos e as previsões mais otimistas são de que, se nenhum imprevisto atrasá-lo novamente, os veículos só entrarão em funcionamento em 2023. O prazo de dez anos para que o sistema passe a operar é admitido pelo próprio coordenador de infraestrutura do TAV, Eloi Ângelo Palma Filho, vinculado à Empresa de Planejamento e Logística (EPL). "Trata-se de uma obra de que ainda precisamos encontrar a modelagem ideal. Acredito que se a construção começar em 2017 podemos finalizá-la até 2023", diz o executivo, que recentemente palestrou no Concrete Show 2013.
O projeto original prevê um trem-bala ligando as cidades de São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro. Mas a própria EPL admite que o sistema possa se tornar mais interessante aos futuros concessionários - e consequentemente ter maior viabilidade econômica - se forem pensados em ramais que estendam o TAV até Curitiba (partindo de São Paulo) e até Belo Horizonte e o Triângulo Mineiro (saindo do Rio de janeiro e de Campinas, respectivamente). "Não tenho dúvidas de que o trem-bala irá se viabilizar no Brasil, mas, como disse, precisamos encontrar o modelo que melhor se adapte à realidade do país. Por enquanto, o único consenso que existe é que será um TAV e não um trem de média velocidade. Até porque, o objetivo do projeto é concorrer com o transporte aéreo", afirma Eloi Ângelo Palma Filho.
Até que a nova rodada de licitações seja marcada, a EPL espera ter definido uma gerenciadora de projetos, a qual fará a modelagem dos editais dividindo-os em lotes, já pensando em sistemas de manutenção, licenças ambientais, linhas de alta tensão e subestações de energia. Tudo isso ficará a cargo do governo. Cada lote terá um projeto de engenharia completo, que incluirá as obras de ferrovia, pontes, túneis e todos os demais equipamentos. Um exemplo é o trajeto entre São Paulo e Rio, passando por Campinas. Pelo projeto original, concebido em 2008, o trem-bala irá percorrer 511 quilômetros, dos quais 312 serão em superfície, 108 por pontes e viadutos e 91 através de túneis. "Dependendo da tecnologia que ganhar, isso pode ser mantido ou mudar", revela o executivo da EPL.
Uma medida prática tomada pelo ministério dos Transportes, ao qual a Empresa de Planejamento e Logística está subordinada, foi adquirir um software chamado Quantum, o qual irá simular pelo menos 50 traçados para o projeto do trem-bala, já calculando o valor da obra de engenharia. "Esse software nos dará uma noção do custo atual da obra. Em 2008, ela foi orçada em R$ 27 bilhões. Hoje, não temos como estimar, porque há muitas complexidades", comenta Eloi Ângelo Palma Filho. Entre os detalhes técnicos a serem definidos está o modelo de túnel a ser adotado: se com galerias paralelas (trens percorrendo o mesmo túnel) ou singelas (túneis separados para trens que vão e que vêm). Outra incerteza é quanto ao volume de concreto que a obra irá consumir. "Só para os túneis, parte-se do princípio de que será 1,6 milhão de m³. Mas pode chegar a 5 milhões, se incluir obras de superfície, pontes, viadutos e estações", estima o executivo da EPL.
Mais dificuldades
Recentemente, o acidente ferroviário ocorrido na Espanha criou mais incertezas sobre o trem-bala brasileiro. O motivo é que uma cláusula do edital não permite a participação de empresas envolvidas em acidentes fatais nos últimos cinco anos. A estatal Renfe é quem opera o TAV espanhol, que ao descarrilar em julho de 2013 matou 80 pessoas e feriu 178. A mesma regra já havia inviabilizado a participação da empresa China Communications Construction no processo licitatório, por causa de acidente ocorrido em 2011. Mesmo assim, a China é a maior referência para o Brasil, no que diz respeito a Trem de Alta Velocidade. Há pouco tempo, o país concluiu um trecho de 1.300 quilômetros de trem-bala, no tempo de 100 meses - cerca de oito anos.
Entrevistado
Eloi Ângelo Palma Filho, coordenador de infraestrutura do TAV da Empresa de Planejamento e Logística (EPL)
Currículo
- Eloi Ângelo Palma Filho é engenheiro civil graduado pela Unochapecó, de Chapecó-SC (2003)
- Possui mestrado em engenharia de minas, pela UFRGS (2006) e curso de extensão no POLITO - Politécnico de Turim, Itália (2009/2010)
- É servidor público de carreira do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e atualmente trabalha junto à EPL (Empresa de Planejamento e Logística S.A) no projeto do TAV brasileiro
Contato: eloi.palma@epl.gov.br
Créditos fotos: Divulgação/Sobretema
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Habitação social só sairá do papel com tecnologia
Secretária nacional Inês Magalhães, e outros agentes da construção civil, defendem investimento em pesquisa e em sistemas construtivos inovadores
Por: Altair Santos
O Brasil só conseguirá viabilizar a produção em massa de habitações de interesse social - hoje o maior gargalo do programa Minha Casa, Minha Vida - se desenvolver sistemas inovadores que permitam construir com alta produtividade, qualidade e custos adequados a esse modelo, cujo objetivo é atingir as famílias de baixa renda e eliminar o déficit habitacional brasileiro. Para a secretária nacional da habitação, Inês Magalhães, estes desafios levaram o governo federal a elaborar uma agenda para que os avanços saiam do papel e tornem-se realidade. "Precisamos de soluções construtivas que incorporem ciclo de vida, durabilidade e assistência aos usuários, para que eles realizem a manutenção corretamente", diz.
Inês Magalhães tratou do tema habitação de interesse social em dois eventos que ocorreram no final de agosto na cidade de São Paulo: o 1º Fórum Executivo de Inovação IPT-Grace e o Congress Concrete, realizado paralelamente ao Concrete Show 2013. Ao lado de outros agentes importantes da construção civil, como os presidentes da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) e da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) Paulo Safady Simão e Renato Giusti, além da coordenadora geral do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), Maria Salette de Carvalho Weber, Inês Magalhães defendeu mais investimentos em centros de pesquisa voltados para as habitações de interesse social. "Não podemos ficar limitados aos centros que existem nas regiões sudeste e sul. É preciso expandir a pesquisa, principalmente nas regiões norte e nordeste", afirma.
Reconhecendo que há distorções tributárias para incentivar inovações no país, ela comentou que o esforço do ministério das Cidades - a quem a Secretaria Nacional da Habitação está vinculada - é para que se disseminem os centros de pesquisa. "De toda a verba destinada ao PAC e ao Minha Casa, Minha Vida, cerca de 1,5% a 2% tem o objetivo de atender investimentos em pesquisa para a habitação de interesse social. Nosso foco, agora, é desenvolver pesquisas que estudem essas habitações após a ocupação, pelo menos no período entre seis meses e um ano. Isso dará subsídios para alterações de parâmetros, inclusive para que se obtenha avanços no sentido de alterar o modelo do produto, permitindo variações tipológicas. Escala e ganho de produtividade não podem ser justificativas para que a gente não ofereça variação de tipologia. Não é concebível, por exemplo, que em um conjunto de três mil unidades horizontais tenhamos todas as habitações com a mesma tipologia", argumenta.
A avaliação de novos produtos usados nos processos de construção de habitações de interesse social já está em andamento no Sistema Nacional de Avaliações Técnicas (SiNAT), com a coordenação do IPT (Instituto de Pesquisa e Tecnologia do Estado de São Paulo) mas Maria Salette de Carvalho Weber lembra que é relevante o envolvimento de mais centros de pesquisa. "Num país de dimensões continentais como é o Brasil, tanto a questão dos materiais, com o enfoque da sustentabilidade, como a dos sistemas construtivos devem se adequar às características de cada região, principalmente levando em consideração as diferenças bioclimáticas", avalia. Já Renato Giusti, da ABCP, lembra que além de tecnologias é preciso qualificar a mão de obra. "Talvez seja nosso grande desafio capacitar profissionais que saibam usar os sistemas que já estão disponíveis", alerta.
Por fim, o presidente da CBIC, Paulo Safady Simão, analisa que o desafio é levar a inovação aos pequenos construtores. "Comparando com 10 anos atrás já aconteceram muitas evoluções, mas precisamos estimular as pequenas construtoras, que representam basicamente 80% do setor, a implementar sistemas inovadores. E há recursos para isso. O BNDES tem uma linha de crédito no valor de R$ 5 bilhões, voltada exclusivamente para a inovação tecnológica na construção civil, que não é acessada praticamente por ninguém. Nosso papel é estimular isso. É pegar aquele pequeno construtor, que tem entre dez e vinte empregados, e que empreende na construção de trinta casas no interior do país, a investir em inovação e na qualificação de sua mão de obra. Através do SindusCon da Bahia, a CBIC está implementando um projeto modelo, junto com o Sebrae, o Senai e a UFBA (Universidade Federal da Bahia) e pretendemos estender isso a outros estados", conclui.
Entrevistados
Inês Magalhães, secretária nacional da habitação
Maria Salette de Carvalho Weber, coordenadora geral do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H)
Paulo Simão Safady, presidentes da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção)
Renato Giusti, presidente da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)
Currículos
- Inês da Silva Magalhães é graduada em sociologia, com especialização em planejamento de gestão
- Entre as funções já exercidas, estão a de diretora de urbanização de assentamentos precários na Secretaria Nacional de Habitação
- Atuou também na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) do Estado de São Paulo e nas administrações municipais de São Paulo e São Vicente
- Maria Salette de Carvalho Weber é graduada em arquitetura pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL-RS) em 1983
- Tem pós-graduação em Arquitetura pela Universidade de Brasília (UnB) 1985
- Conta com especialização em Gestão pela Qualidade no Setor Público (ENAP/PR) 1992, além de curso de mestrado em Planejamento Urbano pela Universidade de Brasília (UnB) 1996
- É funcionária de carreira do ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, desde 1985
- De 1985 a 1988, assessorou o Programa Especial Cidades de Porte Médio e Regiões Metropolitanas
- De 1989 a 1990 fez acompanhamento técnico aos Projetos de Lei em Tramitação no Congresso Nacional, relacionados com a questão Urbana e Habitacional da Secretaria de Desenvolvimento Habitacional do MINTER (Ministério da Terra)
- De 1990 a 1992 chefiou a divisão de Normas e Procedimentos da Secretaria Nacional de Habitação do Ministério da Ação Social (SNH/MAS)
- De 1992 a 1996 chefiou a Divisão de Desenvolvimento Tecnológico e Coordenadora do Programa Nacional de Tecnologia da Habitação (PRONATH) da Secretaria de Habitação do Ministério do Bem-Estar Social (SH/MBE S)
- De 1996 a 1999 chefiou a Divisão da Coordenação Geral de Fundos da Secretaria de Política Urbana (SEPURB/MPO)
- De 1999 a 2002 tornou-se coordenadora técnica do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade da Habitação (PBQP-H)
- A partir de 2003 assumiu a coordenação geral do Programa Brasileiro de Qualidade e
- Produtividade do Habitat (PBQP-H) da Secretaria Nacional de Habitação do ministério das Cidades
- Paulo Safady Simão é graduado em engenharia civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem especialização em administração de empresa pela Fundação João Pinheiro, em conjunto com a Graduate School of Business da Columbia University de New York
- É diretor-presidente da Wady Simão-Construções e Incorporações LTDA e presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção)
- Renato Giusti é graduado em engenharia metalúrgica (1971) com especialização em marketing e mercado
- Exerce o cargo de Presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)
- É diretor do Departamento de Construção Civil (DECONCIC) e membro do Conselho da Indústria da Construção da FIESP ( Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)
- Membro do Conselho Deliberativo da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)
- É conselheiro do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto)
Contatos: snh@cidades.gov.br / salette.weber@cidades.gov.br / presidencia@cbic.org.br /
renato.giusti@abcp.org.br
Créditos fotos: Divulgação/IPT, Divulgação/ABCP
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Pesquisa ressalta presente e futuro do concreto
Estudo encomendado pela ABCP mostra mudança cultural das construtoras e incorporação do concreto dosado em central no dia a dia das obras
Por: Altair Santos
O concreto é hoje o segundo produto mais consumido no mundo. Projeções otimistas presumem que o material possa ocupar o primeiro lugar a partir de 2025, superando a geração de água potável. No Brasil, não é diferente. Por isso, a ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) encomendou a mais ampla pesquisa sobre o mercado nacional do concreto. O estudo, coordenado pela e8 Inteligência e pela UBM Brazil, coletou dados do período entre 2005 e 2012 para projetar tendências do setor nos próximos anos. Uma delas é que o concreto dosado em central definitivamente está incorporado ao dia a dia da construção civil brasileira. Em sete anos, seu consumo cresceu 180%.
Em 2012, por exemplo, as concreteiras instaladas no país produziram 51 milhões de m³, revela a pesquisa. "O concreto preparado em centrais cresce a uma taxa superior ao crescimento da construção civil porque seus sistemas construtivos têm ganhado a preferência dos construtores e porque tem caído o número de obras que rodam concreto sem o uso do serviço das concreteiras", afirma Valter Frigieri, diretor de mercado e planejamento da ABCP, detectando nesta tendência uma mudança cultural dos construtores - hoje mais focados em sistemas construtivos racionais. A ponto de o estudo demonstrar que, em 2012, 20,7% de todo o cimento produzido no país foi consumido pelas concreteiras.
Trata-se de um volume que tende a aumentar. A pesquisa divulgada pela ABCP durante o Concrete Show 2013 projeta que a produção de concreto dosado em central atingirá 72,3 milhões de m³ em 2017, crescendo a uma taxa de 7,1% nos próximos quatro anos. Segundo Eliana Taniguti, que coordenou o estudo pela e8 Inteligência, esse avanço se deve ao maior volume de obras urbanas. "Esse tipo de empreendimento requer um canteiro mais racional, em que a construtora troca a produção de concreto na obra pela compra do produto já pronto", avalia. De acordo com o levantamento, atualmente 12% do concreto produzido no país vai para o nicho das construções urbanas, sejam do segmento residencial ou de infraestrutura.
A pesquisa encomendada pela ABCP mostra também que a inovação tende a acompanhar o crescimento do mercado de concreto dosado em central. "Hoje, o produto na forma de autoadensável já está ocupando uma boa faixa de consumo. No médio e no longo prazo devem surgir novas variedades de concreto, como os autorrecuperáveis, que combatem as fissuras, ou os fotocatalíticos, que minimizam as emissões de gases. Também é esperada a chegada de aditivos verdes. São cenários que vão exigir das concreteiras a otimização de seus processos de fabricação, através de equipamentos mais modernos, menor consumo de energia e maior preocupação com o impacto ambiental", alerta Eliana Taniguti.
Entrevistados
Valter Frigieri, diretor de planejamento e mercado da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)
Eliana Taniguti, diretora-executiva da e8 Inteligência
Currículos
- Valter Frigieri é graduado em engenharia de produção e mestre em engenharia pela Escola Politécnica da USP, com especialização em Gestão da Engenharia e da Tecnologia
- Professor de Estratégia da Fundação Vanzolini
- Participou da equipe de consultoria que desenvolveu os processos de mudança na Método Engenharia
- Cocriador da Comunidade da Construção
- Atualmente é gerente nacional de mercado da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e foi um dos idealizadores do Clube da Reforma
- Eliana Kimie Taniguti é graduada em engenharia civil pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho(1996), com mestrado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo(1999) e especialização em vedação vertical, drywall, gesso acartonado, divisórias, inovação tecnológica e construção civil
- Atualmente é diretora-executiva da e8 Inteligência e membro-efetivo da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)
Contatos: valter.frigieri@abcp.org.br / eliana@e8inteligencia.com.br
Crédito foto: Divulgação/EVCom
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Gestão de Pessoas é desafio para a construção civil
Setor precisa aprimorar mecanismos de retenção de jovens engenheiros civis, principalmente os que atuam nos canteiros de obras
Por: Altair Santos
O mercado da construção civil intensifica o trabalho para reter talentos. O objetivo é impedir o gap (lacuna) que gerou a expressão "engenheiros de início de obra", ou seja, aqueles que começam um projeto e rapidamente são atraídos por outras empresas, buscando um crescimento mais rápido dentro das corporações. Essa característica é predominante nos profissionais da geração Y, como explica Fernando Marucci, diretor da Asap - empresa de recrutamento de executivos. "O imediatismo da geração Y compromete o amadurecimento no mercado e o aprendizado para ocupar posições de gestão. Isso tem dificultado as empresas e tem levado algumas delas a colocar um profissional júnior em um cargo gerencial, o que é um risco, pois ele pode conseguir desempenhar a função ou não", afirma.
Segundo Fernando Marucci, o grande desafio da construção civil, no que se refere à gestão de talentos, está mesmo em segurar os profissionais de engenharia civil por mais tempo nos canteiros de obras. "A maior parte dos engenheiros civis recém-formados vai para o canteiro de obras, mas fica pouco tempo. Logo, eles se dividem em dois grupos: o que opta por posições no escritório e o que migra para outro setor, como o mercado financeiro", diz o especialista, para quem as empresas familiares da construção civil são as mais impactadas por esse problema. Isso ocorre porque as grandes corporações do setor costumam buscar profissionais nas construtoras de menor porte. "Como existe um apagão de talentos, elas têm planos de remuneração bastante agressivos para atrair quem se destaca", completa.
Para combater o assédio e reter seus engenheiros, Fernando Marucci recomenda que as empresas de pequeno e médio porte invistam numa gestão de talentos que priorize não apenas bons salários, mas fatores como empregabilidade, plano de carreira, bom ambiente de trabalho e política de gestão de pessoas e benefícios. Outra solução é melhorar o recrutamento. "O recrutamento deve se basear nos valores da empresa e num bom mapeamento de mercado", explica o especialista, avaliando que o mercado também poderia agir para, de certa forma, forçar a retenção de talentos. "Acho importante que o mercado segure um pouco os salários no começo da carreira", completa.
No entanto, apesar das dificuldades, não há expectativa de que o mercado encontre um cenário semelhante ao vivido entre as décadas de 1980 e 1990, quando a falta de oferta de trabalho aos engenheiros civis gerou um vácuo na profissão, e que foi sentido recentemente, quando o setor aqueceu e não havia profissionais disponíveis. "A crise não vai atingir esse mesmo nível. Enquanto houver equilíbrio econômico, é sempre bom ter mais oferta de empregos do que candidatos no mercado. A construção civil, junto a outras variáveis, é um termômetro da economia do país. Hoje temos um percentual de participação da construção civil no PIB ainda baixo, se comparado a países desenvolvidos, como os Estados Unidos (a projeção é que só em 2015 o setor atingirá 10% do PIB). Enquanto esse percentual não crescer, esse gap entre oferta de emprego e de candidatos vai existir", finaliza Fernando Marucci.
Entrevistado
Fernando Marucci, diretor da Asap, empresa de recrutamento de executivos
Currículo
- Fernando Marucci é graduado em Economia, com MBA em marketing pela ESPM e em Finanças pela USP. É fluente em inglês
- Iniciou sua carreira de executive search, em 2004, liderando projetos em finanças e RH para média e alta gerência
- É executivo com mais de 14 anos de experiência e iniciou sua carreira em mercado financeiro, passando por siderurgia, bens de consumo, papel e celulose
- Atualmente, é regional managing partner da Asap para a prática de consultoria em busca e seleção de executivos para os setores industrial, infraestrutura e energia
Contato: fernando.marucci@asapbrasil.com
Crédito foto: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Norma de desempenho elimina insegurança jurídica
Congresso do SindusCon-SP debateu aspectos legais da ABNT NBR 15575, a qual incorpora elementos que ajudam nas decisões do Judiciário
Antes de a norma de desempenho (ABNT NBR 15575) entrar em vigor, uma grande construtora brasileira foi acionada judicialmente, sob a alegação de que uma de suas unidades residenciais em Santos não cumpria as exigências de conforto acústico, alegadas pelo comprador. Como não havia parâmetros, o juiz que condenou a empresa usou da subjetividade para analisar o caso e pediu que um perito batesse uma bola de basquete no apartamento do andar de cima para que fosse medido o isolamento acústico da unidade do reclamante. Obviamente, o som transpassou a laje e serviu de subsídio para que o magistrado formulasse sua sentença.
Esse caso foi contado no Congresso Jurídico da Construção, promovido dia 29 de agosto pelo SindusCon-SP, na cidade de São Paulo. Quem relatou a história foi o engenheiro civil Fábio Villas Bôas, coordenador da comissão de estudos da norma de desempenho, membro do comitê de tecnologia e qualidade do SindusCon-SP e diretor técnico da Tecnisa. "Essa é uma das vantagens da norma de desempenho. Ela acaba com a subjetividade do Judiciário, elimina a insegurança jurídica para quem constrói formalmente e cria procedimentos padrões para se aferir itens como eficiência acústica e eficiência térmica. Tanto é que, no texto final da norma, foi eliminada a palavra conforto. A norma usa o termo atenuação, pois conforto é muito subjetivo", explica Fábio Villas Bôas.
Pelo que relatou um dos articuladores da NBR 15575, o advogado Carlos Del Mar - coordenador jurídico do SindusCon-SP - recomenda aos construtores que se esforcem para se adequar o mais rapidamente possível à norma. Primeiro, pelo motivo de que ela passa a disciplinar os Procons de todo o país no que se referir a ações contra construtoras e incorporadoras; segundo, porque não segui-la pode desencadear as seguintes consequências: rejeição do produto, abatimento no preço, indenização, trocas e reparos sob pena de multa, penhora online, entrada no cadastro negativo da Caixa Econômica Federal e até reflexos na esfera criminal. "É importante destacar que quem elaborou a norma foi o meio técnico. Portanto, ela impõe quase uma autorregulamentação ao setor. Por isso, é razoável supor que ela será cumprida", destaca Carlos Del Mar.
Tanto Fábio Villas Bôas quanto Carlos Del Mar alertam que o consumidor é quem será o principal fiscal da norma de desempenho. Por isso, a orientação é para que as construtoras estabeleçam situações de prevenção documentando todas as etapas da obra. "Na Tecnisa, foram criados manuais, termos declaratórios e relatórios. Neles, os projetistas declaram ter ciência das especificidades do terreno e que farão o projeto adequando-o àquelas condições. Já os processos construtivos têm acompanhamento constante. Quando o imóvel está pronto, o usuário recebe um manual detalhado e o condomínio é alertado sobre suas obrigações com relação à manutenção. A construtora também estabeleceu um plano de visitas, realizado dentro dos prazos de manutenção. Nosso pessoal de assistência técnica vai ao empreendimento e verifica se a manutenção foi realizada. Caso contrário, o condomínio é notificado de que estará sujeito à perda das garantias", relata Villas Bôas.
Para os membros do SindusCon-SP, apesar de a norma de desempenho exigir mais cautelas do construtor ela deve ser enxergada como um indutor de benefícios ao setor. "A norma torna a concorrência do mercado mais leal e facilita a implementação de inovações nos sistemas construtivos. Além disso, cria diferenciais de venda. Nos estandes da Tecnisa o comprador encontra dois apartamentos montados, um dentro da norma e outro fora. Isso permite a ele ver as diferenças", diz Fábio Villas Bôas. "A norma é uma garantia de segurança ao cliente e estabelece uma relação mais equilibrada entre construtora, incorporadora e cliente", completa Carlos Del Mar.
Entrevistados
- Fábio Villas Bôas, coordenador da comissão de estudos da norma de desempenho, membro do comitê de tecnologia e qualidade do SindusCon-SP e diretor técnico da Tecnisa
- Carlos Del Mar, coordenador jurídico do SindusCon-SP
Currículos
- Fábio Villas Bôas é graduado em engenharia civil pela Universidade Mackenzie e desde 2003 é diretor técnico da Tecnisa
- Integra os comitês de meio ambiente e de tecnologia e qualidade do SindusCon-SP
- Carlos Pinto Del Mar é graduado em direito, sócio da Del Mar Associados Advogados e coordenador jurídico do SindusCon-SP e do Secovi-SP
- Também é consultor jurídico da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) e autor do livro “Falhas, Responsabilidades e Garantias na Construção Civil”, da Editora PINI
Contato: sindusconsp@sindusconsp.com.br
Créditos fotos: Divulgação/Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Limites ambientais pedem mais tecnologia das obras
Congresso do SindusCon-SP debateu soluções técnicas e jurídicas para que construtoras possam se adequar à nova lei ambiental em áreas urbanas
Por: Altair Santos
Promulgado em 2012, o Código Florestal Brasileiro trouxe uma nova realidade a quem decide empreender no meio ambiente urbano. As restrições tornaram-se mais rigorosas e o risco de embargo - mesmo após a concessão de licenciamento da obra por parte das prefeituras - ficou potencializado pela nova lei, em função de ações do Ministério Público (MP). "Aumentou a insegurança, desde a compra do terreno até o momento do início das obras propriamente dito", avalia o advogado José Carlos Puoli, coordenador do conselho jurídico do SindusCon-SP e um dos debatedores do Congresso Jurídico da Construção, que aconteceu dia 29 de agosto na cidade de São Paulo.
Para o especialista, não resta ao setor se adaptar às restrições do novo código. Uma das soluções, apontadas por Puoli, é investir em tecnologia. "Não vejo outra opção aos construtores, senão investir na industrialização dos canteiros. Com isso, a obra gera menos resíduos, causa menor dano a terceiros nas escavações dos terrenos e reduz o impacto no entorno da obra", afirma, completando que as empresas devem atuar cada vez mais com a perspectiva da prevenção. "Trabalhar dentro da lei já não é mais suficiente, pois vive-se o dilema de estabelecer parâmetros objetivos para um cenário que muda diuturnamente. Por isso, o projeto precisa abraçar todas essas variáveis", alerta.
Para a advogada Ana Cláudia La Plata de Melo Franco, especialista em direito ambiental, o que o novo Código Florestal Brasileiro impõe aos construtores, na questão urbana, é que a análise técnica de uma obra precisa andar de mãos dadas com os limites jurídicos impostos a ela. "Há um imperfeição na lei, pois ela trata as cidades como se elas tivessem sido projetadas, o que não coaduna com a realidade. Esqueceu-se que o Brasil foi urbanizado dentro do conceito ibérico, com ocupação dos morros, das margens das lagoas e dos cursos hídricos (rios). Impropriamente, a lei equiparou zona rural com zona urbana, quando os dois são substancialmente diferentes", comenta.
Ana Cláudia recomenda que as empresas busquem um processo de aprovação compartilhada do licenciamento da obra, atuando em conjunto com os setores responsáveis do poder público e do judiciário - especialmente o MP. "Hoje, o técnico da prefeitura designado a dar o licenciamento responde isoladamente se ele conceder a licença e o Ministério Público achar que a licença concedida está incorreta. Na maioria dos casos, o Ministério Público coloca a espada na cabeça dos técnicos e o que o empreendedor precisa é passar segurança ao organismo ambiental, mostrando que o que está no projeto será seguido à risca", diz.
Já o engenheiro civil Francisco Vasconcellos, vice-presidente de meio ambiente do SindusCon-SP, que também atuou nos debates do congresso, destaca que os donos de construtoras precisam rever paradigmas. "A maioria dos empresários do setor é formada por engenheiros e dentro de suas empresas eles costumam terceirizar a questão ambiental. É hora de mudar isso. O bom exemplo está nas empresas que passaram a valorizar essa área. As que eu conheço deixaram de ter conflitos com o Ministério Público ou com ONGs ambientais", relata.
Entrevistados
- José Carlos Puoli, coordenador do conselho jurídico do SindusCon-SP
- Ana Cláudia La Plata de Melo Franco, especialista em direito ambiental
- Francisco Vasconcellos, vice presidente de meio ambiente do SindusCon-SP
Currículos
- José Carlos Puoli é graduado em direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) em 1990. Concluiu também na USP mestrado e doutorado em Direito Processual Civil
- Especialista em direito imobiliário, atua como professor-doutor do departamento de Direito Processual Civil da Universidade de São Paulo (USP) e professor em cursos de especialização do Instituto Nacional de Pós-Graduação e do Centro de Extensão Universitária
- É membro da Associação dos Advogados de São Paulo, do Instituto dos Advogados de São Paulo, do Instituto Brasileiro de Direito Processual e do conselho jurídico do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP)
- Ana Cláudia La Plata de Melo Franco é graduada em direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
- Participou do primeiro módulo do curso de pós-graduação em meio ambiente, desenvolvimento sustentável e questões globais na FAAP-São Paulo
- É membro da comissão de meio ambiente da Câmara Americana de Comércio (AMCHAM)
- Comanda o grupo de Gás,Construção e Engenharia da Milaré Advogados.
- Francisco Vasconcellos é graduado em engenharia civil e arquitetura pela Universidade de São Paulo
- Desde 2000 atua como vice-presidente de meio ambiente do SindusCon-SP
Contato: sindusconsp@sindusconsp.com.br
Créditos fotos: Divulgação/Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
China promete prédio mais alto do mundo em tempo recorde
Sky City One será entregue em abril de 2014 e obras começaram em 20 de julho de 2013. Edificação em aço e concreto terá 838 metros de altura
Por: Altair Santos
No dia 20 de julho de 2013, na cidade de Changsha, no centro-sul da China, começou a construção daquele que será o novo prédio mais alto do mundo. A edificação, cujo projeto prevê altura de 838 metros, irá superar em 10 metros o Burj Khalifa, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e está a cargo do grupo Broad Group.
Batizado de Sky City One, o prédio terá um conceito de cidade vertical para 30 mil pessoas - englobando escolas, hospitais, escritórios, setor habitacional e shopping centers - e promete ser construído em tempo recorde. O consórcio, que conta com a participação de chineses e ingleses, estima que as fundações da obra estarão prontas em dezembro de 2013. A partir daí, os 220 andares serão erguidos até abril de 2014, a um custo de 1,46 bilhão de euros - aproximadamente R$ 5 bilhões.
O arranha-céu usará estrutura mista de aço, paredes pré-moldadas de concreto e blocos modulares para agilizar a construção, como explica o engenheiro civil André Gertsenchtein, diretor-superintendente da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE). "Trata-se de uma edificação executada com estrutura metálica especialmente projetada e industrializada para fins prediais, pouco utilizada no Brasil. Além disso, usará elementos construtivos pré-moldados e modulares. É quase como uma montagem de Lego, bastante otimizada", compara.
Serão empregadas 270 mil toneladas de aço e estimados 93 mil m³ de concreto - cerca de 60 mil m³ só para as fundações. André Gertsenchtein destaca por que o volume de concreto empregado é relativamente pequeno para uma obra desta envergadura. "Grandes estruturas de concreto exigem tempo de cura (secagem) das lajes, o que tornaria inatingíveis os prazos definidos no projeto", diz.
Para o especialista, opinar sobre a confiabilidade de uma construção deste tamanho depende de uma análise intrínseca do projeto. "A engenharia atual é capaz de projetar com segurança edifícios bastante altos, ainda que estes tenham peculiaridades que devam ser levadas em conta nos projetos, como o esforço devido ao vento. Por isso, não é possível expressar opinião sobre a confiabilidade da obra sem que se tenha acesso ao projeto. O método construtivo adotado é determinante na análise de confiabilidade versus prazo de execução. Como já disse, uma estrutura de concreto jamais poderia ser executada neste tempo", afirma.
André Gertsenchtein reconhece, porém, que há tecnologia suficiente para dar conta deste desafio proposto pela China. "A engenharia hoje é globalizada e a China aproveita esta tecnologia e viabiliza sua aplicação", avalia. Os motivos que levam aquele país a ter acesso a essa engenharia de vanguarda é que lá existem leis que favorecem a produção, sem as amarras brasileiras, como a legislação ambiental. "Se por um lado isto faz da China um país bastante criticado por sua poluição, por outro torna possível executar projetos inovadores em ritmo que, no Brasil, não seria possível", completa.
O Sky City One empregará 20 mil operários em sua construção. Sete mil deles estarão fora do canteiro de obras, atuando nas etapas industriais. Estará a cargo deles a fabricação das peças pré-moldadas, dos módulos e das estruturas de aço. Por isso, o sucesso do empreendimento está na forma como será feita a gestão da obra. "É muito importante, neste caso, a aplicação de conceitos estudados na engenharia de produção, pois pequenos atrasos na execução desta ou daquela operação podem, em função da escala, resultar em atrasos expressivos quando se considera a obra como um todo", explica o diretor-superintendente da FDTE.
Nos quesitos gestão de obra e industrialização, a China tornou-se referência mundial. A ponto de outros quatro edifícios com mais de 500 metros de altura estarem em construção naquele país e de outros onze estarem em fase de projeto. Os empreendimentos que já têm canteiros instalados são:
• Shanghai Tower, em Shanghai (632 metros) com conclusão até o 2º semestre de 2014.
• Goldin Finance 117, em Tianjin (597 metros) com conclusão até 2015.
• Ping An Finance Center, em Shenzhen (660 metros) com conclusão até 2016.
• Greenland Center, em Wuhan (636 metros) com conclusão até 2017.
Veja vídeo sobre o Sky City One
Entrevistado
André Stagall Gertsenchtein, diretor-superintendente da FDTE
Currículo
- André Stagall Gertsenchtein é graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da USP (1989)
- Atua como consultor e é presidente do conselho consultivo do Instituto de Engenharia
- Também é presidente do Instituto Brasileiro Veicular
- É diretor-superintendente da FDTE (Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia ) organismo de apoio à Escola Politécnica da USP
- Foi ex-vice-presidente do Instituto de Engenharia de São Paulo
- Foi diretor responsável pela área comercial de construtora na área de infraestrutura e concessões (estradas, portos, aeroportos) por 15 anos.
Contato: asg@fdte.org.br
Créditos fotos: Divulgação/ Broad Group
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Sistemas construtivos inovadores chegam ao Minha Casa, Minha Vida
Construções que permitem reduzir o custo das unidades e elevar a produtividade, sem prejudicar a qualidade, tendem a dar impulso ao Programa
Por: Altair Santos
É consenso entre os players da construção civil que o programa Minha Casa, Minha Vida precisa aderir aos sistemas construtivos inovadores para ganhar produtividade, reduzir custos e conseguir combater o déficit habitacional brasileiro, hoje estimado em 5,461 milhões - segundo dados divulgados em julho de 2013 pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (SindusCon-SP) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para que os sistemas inovadores ganhem espaço no MCMV, hoje eles contam com um facilitador que é o SINAT (Sistema Nacional de Avaliações Técnicas) como explica Júlio César Sabadini de Souza, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). "Ele é um indutor da inovação tecnológica na construção civil. Em razão de não haver norma nacional a respeito de projeto, execução e especificação de materiais, só podem ser empregados os sistemas construtivos inovadores avaliados no âmbito do SINAT e que possuem DATec (Documento de Avaliação Técnica)", diz.
Entre os sistemas avaliados, os que têm encontrado menor resistência são os que utilizam painéis de concreto, paredes de perfis de PVC preenchidos com concreto e os sistemas de estrutura leve metálica (light steel frame). Mas nenhum supera o de parede de concreto moldada “in loco”. Esse, definitivamente, já está integrado aos processos construtivos em uso no MCMV.
O motivo é que desde 2012 ele está normatizado pela ABNT NBR 16055 - Parede de concreto moldada no local para a construção de edificações – Requisitos e procedimentos. "Essa tecnologia tem sido utilizada em obras do MCMV e, que eu saiba, não enfrenta resistências", afirma Júlio César Sabadini de Souza, para quem o uso frequente do sistema foi estimulado pela existência de uma nova norma, a qual especifica procedimentos de execução, projeto e requisitos mínimos.
Outra vantagem desta tecnologia é que, por ser recente, a normalização já veio adequada às exigências da norma de desempenho (ABNT NBR 15575) em seus requisitos de isolamento térmico e acústico. Além disso, ela garante produtividade. "No caso do sistema de paredes de concreto, pode-se obter paredes estruturais já com as instalações embutidas, e que permitem a aplicação dos acabamentos diretamente sobre as paredes, sem necessidade de revestimento. Então está se reduzindo etapas de execução e obtendo-se ganhos de produtividade no processo", explica o pesquisador do IPT.
Segundo dados da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) a expectativa é que até 2024 pelo menos 30% das construções habitacionais utilizem sistemas industrializados como o de paredes de concreto. "Hoje já existe um bom número de construtoras viabilizando unidades habitacionais através deste sistema. É desta maneira que ele se consolida: com um volume suficiente de unidades para se diluir o custo da fôrma. Assim, é natural que a tecnologia seja empregada em grandes conjuntos habitacionais", estima Júlio César Sabadini de Souza, lembrando outra vantagem da entrada de sistemas inovadores no MCMV. "Como geram menos resíduos, levam vantagem sob o ponto de vista ambiental", conclui.
Entrevistado
Júlio César Sabadini de Souza, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT)
Currículo
- Júlio César Sabadini de Souza é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal de São Carlos (1993), com mestrado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (2003)
- Atualmente é pesquisador II do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) atuando principalmente na avaliação de desempenho de sistemas construtivos
Contato: sabadini@ipt.br
Créditos fotos: Divulgação / Doria
Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
Para o mercado, conforto térmico faz a diferença
Habitações que conseguem ser eficientes em relação à zona climática em que foram construídas economizam energia e estão valorizadas após a NBR 15575
Por: Altair Santos
Desde 2008, quando a norma de desempenho (ABNT NBR 15575 - parte 1 a parte 6) entrou em debate público, o tema eficiência térmica foi um dos que mais causou impacto no mercado. Hoje, com a norma já em vigor, isso se confirma. As construtoras brasileiras, sobretudo as voltadas para o setor habitacional, estão cada vez mais atentas à necessidade de oferecer conforto compatível com as regiões climáticas em que seus empreendimentos são construídos. Quem consegue cumprir essa exigência da NBR 15575 começa a fazer a diferença perante o consumidor. "As pessoas estão valorizando cada vez mais o conforto térmico, porque perceberam que as edificações que apresentam essas soluções gastam menos energia", afirma a arquiteta Patrizia Chippari.
No entanto, conforto térmico não se obtém depois que a obra estiver concluída. É importante prever essa solução no projeto da edificação, até por uma questão de custo. "Quando a preocupação com o conforto térmico da edificação existe desde a fase do desenvolvimento do projeto, os custos são reduzidos. O que muda é que o projetista já passa a considerar esse aspecto no seu planejamento. Podem ser necessários alguns gastos extras em aquisição de materiais, mas a economia posterior muitas vezes compensa o investimento inicial. Perfis de portas e janelas em PVC, por exemplo, costumam ser mais caros, mas garantem melhor isolamento para o ambiente e ajudam a garantir tanto o conforto térmico quanto o acústico", explica Patrizia Chippari.
No projeto, além da escolha de materiais, é importante também levar em consideração outros fatores que influenciam no desempenho térmico da edificação. Entre eles, a localização do terreno e a posição do imóvel no terreno, a questão dos ventos e o posicionamento de portas e janelas. Também é fundamental valorizar itens como insolação, presença de prédios ou outras edificações na vizinhança e a zona climática onde a obra será construída. Se for em regiões quentes, é importante valorizar o sol da manhã; se em regiões frias, a insolação da tarde é mais relevante. Tratam-se de fatores que, segundo a arquiteta Patrizia Chippari, influenciam na produtividade e na qualidade de vida dos que irão habitar a edificação. "A valorização do conforto térmico é um fator de produtividade", ressalta.
Cálculos estimam que uma habitação que tenha bom desempenho térmico consegue poupar até 10% de energia por mês. No caso de a edificação estar localizada em zona climática quente, a eficiência se obtém trocando o uso de ar-condicionado por soluções como brise soleil - estruturas metálicas, de madeira ou de alvenaria que são projetadas levando em consideração a posição do imóvel em relação à insolação. O aparato garante sombra no interior das edificações a partir de determinados horários. Outras opções estruturais são os tetos verdes e as fachadas com placas especiais, instaladas à frente da parede - a sete centímetros de distância - que formam um "colchão" de ar no local e diminuem a transmissão de calor do ambiente externo para o interno.
Se a obra estiver em uma região fria, é fundamental estar atento às especificações dos caixilhos, da vedação das janelas, da qualidade dos tijolos (cerâmicos ou de concreto) e do revestimento do piso e das paredes. Por causa da norma de desempenho, o mercado de materiais já oferece uma série de produtos que, quando usados na fase de construção, garante eficiência térmica ao empreendimento. Entre eles, mantas para serem instaladas entre o piso e o contrapiso, lajes pré-fabricadas com elementos como o isopor, papéis de parede, janelas com vidro duplo e até portas com componentes isolantes. É importante, porém, levar em consideração a inércia térmica da edificação (capacidade de contrariar as variações de temperatura no seu interior, em relação ao ambiente externo) fazendo-a resistir à zona climática em que foi construída. Em regiões de clima seco e frio, o ideal é buscar uma alta inércia térmica. Já em regiões litorâneas, onde predomina o clima úmido e quente, se deve trabalhar com baixa inércia térmica.
Entrevistada
Patrizia Chippari, arquiteta, especialistas em projetos habitacionais e sócia-diretora da Espaço Livre Arquitetura
Currículo
- Patrizia Chippari é graduada em arquitetura e urbanismo pela Universidade Mackenzie (SP)
- Em 2004, idealizou a Espaço Livre Arquitetura, que já desenvolveu mais de 45 projetos de arquitetura, corporativos e residenciais
- Em 2012, organizou um curso in company em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre gestão de projetos, justamente para garantir a eficiência dos processos internos e garantir o cumprimento de prazos
Contato: contato@espacolivre.arq.br
Créditos fotos: Divulgação autorizada