Governo eleva teto para uso do FGTS e divide mercado
Organismos ligados à construção civil enxergam aquecimento moderado nas vendas, enquanto especialistas em real estate veem alta nos preços
Por: Altair Santos
No final de setembro de 2013, o governo federal anunciou uma medida que há algum tempo o mercado imobiliário esperava: a elevação do valor máximo de compra de imóveis com o uso de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Para os estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, além do Distrito Federal, o teto passou para R$ 750 mil. Nos demais estados, ficou em R$ 650 mil. Significa que o comprador pode utilizar sua conta de FGTS para amortizar o preço de imóveis com valor acima de R$ 500 mil - o teto anterior. Um exemplo: se o mutuário tem R$ 50 mil no FGTS e quer comprar um imóvel que vale R$ 650 mil, ele irá financiar apenas R$ 600 mil.
De imediato, a pergunta que se fez foi: essa decisão pode resultar em aumento do metro quadrado? Foi o suficiente para dividir o setor. Organizações de classe, como o Secovi, entendem que não. Já os analistas de real estate avaliam que o novo teto pode estimular reajustes. "Pode influenciar, mas não de forma geral. A influência maior ocorrerá nos imóveis que estavam com valores próximos ao limite anterior (R$ 500 mil). Eles se mantinham nesta faixa de preços porque eram produtos direcionados para clientes com perfil que utilizam o FGTS", alerta Fernanda Maria Ferreira, do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da USP.
A especialista destaca ainda que o preço de um imóvel é estabelecido por uma série de variáveis, e o limite do FGTS é apenas uma delas. "Depende do produto, do público alvo, da localização, do padrão, e uma das variáveis que pode ou não influenciar a flutuação do preço do imóvel é o limite para a utilização do FGTS. Mas para ocorrer essa influência o produto deve estar direcionado para um público que anseia por utilizar o FGTS. Com certeza, onde houver essa margem, que possibilite aumento, ele ocorrerá", ressalta Fernanda Maria Ferreira.
Outra análise feita pela pesquisadora da USP é a de que, embora a medida do governo tenha sido para estimular o consumo de imóveis, o mercado imobiliário passa por uma fase de reassentamento, depois de um período de cinco anos de euforia. "De 2008 para cá, houve um descolamento entre o valor dos imóveise o poder de compra da população. Isso foi gerado, basicamente, por demanda reprimida, aumento nos custos de produção, aumento de custos de terrenos, escassez de mão de obra e aumento da oferta de crédito. Houve também um componente especulativo, o que gerou teses sobre o risco de bolha. Mas o Brasil tem regras muito conservadoras para o crédito imobiliário e a tendência atual é a de que o mercado se reorganize dentro da lei da oferta e da procura", diz.
Fernanda Maria Ferreira entende que as novas regras para financiamento imobiliário com recursos do FGTS atendem ao consumidor interessado em adquirir a casa própria ou trocar de imóvel para morar. Já o cenário não é propício a investidores. "A medida beneficia o comprador, que pode ter acesso a uma variedade maior de imóveis, e ao construtor e ao incorporador, que podem aumentar suas vendas. Já o investidor deve ter cautela. Os imóveis deixaram de se valorizar tanto e a velocidade das vendas caiu. Talvez seja o momento de buscar investimentos lastreados em imóveis e não especificamente os imóveis", recomenda.
Entrevistada
Fernanda Maria Ferreira, engenheira civil, pós-graduada em finanças pelo Insper e mestre em real estate pela Poli-USP. Faz parte da equipe do Núcleo de Real Estate da Universidade de São Paulo
Contatos:
fefemaria10@yahoo.com.br
Créditos fotos: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Concretagem em tempo quente
Altas temperaturas provocam efeitos indesejáveis em algumas características do concreto
Por: Jorge Aoki, Gerente de Assessoria Técnica na Cia. de Cimento Itambé
Com a chegada do verão e das altas temperaturas, são necessários determinados cuidados com o concreto. As características básicas do material, quando fresco, são as mais afetadas, embora o concreto endurecido também necessite de atenção especial, principalmente na questão da cura das primeiras idades.
A perda rápida de água da massa de concreto e das argamassas provoca a chamada retração hidráulica, que por sua vez causa o aparecimento das indesejáveis trincas e fissuras. Esse efeito fica acentuado com o aumento da velocidade dos ventos e da baixa umidade relativa do ar. No momento da aplicação do concreto é provável a ocorrência de uma dificuldade a mais com a perda da plasticidade.
Nos concretos convencionais, a maior parte da água de amassamento determinada no momento da dosagem tem apenas a função de permitir a correta aplicação com o total preenchimento das fôrmas. A retirada do ar da massa, com o uso de vibradores, fica bem facilitada quando a plasticidade é adequada. Porém, esta mesma água adicional, que depois vai sair por evaporação (exudação) é a que sofre a ação das altas temperaturas. Uma das funções fundamentais do processo de cura é exatamente impedir a saída rápida desta água, evitando a retração.
Define a ABNT NBR-7212 ( Execução de concreto dosado em central) em seu item 4.5.4: "A temperatura ambiente para lançamento do concreto deve estar entre 5° C e 30° C, conforme a ABNT NBR 14931 (Execução de Estruturas de Concreto - Procedimento). Fora desses limites devem ser tomados cuidados especiais acordado entre as partes. A temperatura do concreto por ocasião de seu lançamento deve ser fixada de modo a evitar a ocorrência de fissuração de origem térmica.
Portanto, algumas precauções são necessárias:
1. No caso de o concreto ser dosado em central, programar o intervalo entre caminhões-betoneira de modo a evitar a espera dos mesmos na obra. Desta forma, ganha-se tempo de aplicação.
2. Verificar com atenção o horário de mistura dos materiais componentes do concreto - anotado, obrigatoriamente, na nota fiscal -, pois a partir deste começa a contar o tempo de início de pega do concreto.
3. Nos bombeamentos, evitar paradas prolongadas, pois a tubulação exposta ao sol aumenta o efeito do início de pega e provoca entupimentos frequentes.
4. Dimensionar bem o pessoal da obra envolvido no transporte vertical/horizontal do concreto e adensamento (vibração) agilizando a descarga e ganhando tempo.
5. Manter as fôrmas bem molhadas para que não absorvam a água do concreto, aumentando o efeito da retração e provocando o aparecimento de fissuras.
6. Observar atentamente os procedimentos da cura do concreto, evitando a perda de água e a ocorrência de fissuração térmica.
Os métodos mais comuns de cura são:
- Irrigação ou molhagem contínua da superfície do concreto logo após o término da concretagem e por um período de pelo menos 7 dias, inclusive nos horários noturnos.
- Utilização de lonas plásticas para cobrir a superfície do concreto, evitando a perda de água.
- Recobrimento das superfícies com areia, serragem, sacos de aniagem ou papel, sempre mantidos bem úmidos.
- Emprego de películas de cura que evitam a evaporação rápida de água.
Crédito foto: Cia. de Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Manaus tem maior conjunto do Minha Casa Minha Vida
Das 8.895 unidades previstas, 3.511 já foram entregues. Sistema de paredes de concreto armado viabiliza megaconstrução do programa habitacional
Por: Altair Santos
Balanço do Minha Casa Minha Vida, divulgado em julho de 2013 pela ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, revela que, desde o lançamento do programa, em 2009, 340.774 unidades da faixa 1 (três salários mínimos) foram entregues. Entre essas moradias, 8.895 estão concentradas no Residencial Viver Melhor, em Manaus-AM, que detém o título de maior conjunto habitacional do MCMV.
Localizado na zona norte da capital amazonense, o complexo habitacional foi concebido sob o conceito de bairro planejado. "Paralelamente, foram construídas uma estação de tratamento de esgoto, ruas asfaltadas, creches, posto de saúde, escolas e uma linha de transporte público para o conjunto. É o primeiro bairro planejado popular do país", afirma Regina Lúcia Ferreira Gomes, diretora-técnica da Superintendência de Habitação do governo do Amazonas (Suhab).
Na primeira etapa do Viver Melhor, foram entregues 3.511 unidades habitacionais em setembro de 2012. Em dezembro de 2013, outras 5.384 serão concluídas. Para cumprir o cronograma, a Direcional Engenharia - construtora que ganhou a licitação da obra -, optou pelo sistema de paredes de concreto armado.
Segundo Ismar Fernandes, engenheiro que gerencia o empreendimento, o modelo traz um elevado ganho de produtividade. "A montagem das fôrmas e a concretagem permite construir 32 estruturas de apartamentos por dia. Em processos convencionais, a construção de 32 unidades, incluindo acabamento, leva em média seis meses. Com esse método, o tempo diminui para 60 dias. A primeira etapa da construção das moradias durou dois anos", revela. "A mão de obra foi treinada para montar e desmontar as fôrmas com grande agilidade, o que também dá rapidez ao processo", completa
O planejamento prevê que as 8.895 unidades do conjunto consumirão 149 mil m³ de concreto. Para viabilizar o bairro do Minha Casa Minha Vida, o investimento é de 463,1 milhões, num formato de financiamento que envolve a Caixa Econômica Federal e o governo amazonense. O empreendimento gera 2.500 empregos diretos e 8.500 indiretos. Entre os operários, 150 mulheres foram contratadas para atuar especificamente nos trabalhos de acabamento.
Cada casa e apartamento mede 33 m², com sala, cozinha, dois quartos, banheiro e área de serviço. "O residencial atende as famílias, segundo critérios estabelecidos pelo ministério das Cidades: famílias chefiadas por mulheres; famílias residentes em áreas de risco; famílias com filhos com residência fixa em Manaus há, no mínimo, três anos; famílias que residem na condição de cedidos ou alugados, que não foram contempladas com programas habitacionais de esfera federal, estadual, municipal, bem como assentamentos, e famílias com membros que possuam doenças crônicas degenerativas. Some-se a esses critérios, a renda familiar, que não pode ultrapassar R$ 1.600,00 reais por mês", finaliza Amilca Pontes Negrão, diretora de habitação da Suhab.
Veja vídeo sobre o maior conjunto do MCMV
Entrevistado
Superintendência de Habitação do governo do Amazonas (Suhab) (via assessoria de imprensa)
Contatos:
assessoriadecomunicacao@suhab.am.gov.br
dehab@suhab.am.gov.br
Crédito foto: Divulgação/Suhab
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Custo torna quase inviável a construção de metrôs
Luís Afonso dos Santos Senna, professor da UFRGS e especialista em mobilidade urbana, defende que cidades priorizem projetos de BRT e VLT
Por: Altair Santos
O professor de engenharia de produção e transportes da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Luís Afonso dos Santos Senna, defende que as grandes cidades brasileiras pensem em soluções alternativas para o transporte público, que não seja o metrô. Segundo ele, o sistema, que é o sonho de consumo de 10 entre 10 prefeitos de capitais, tornou-se economicamente inviável de construir. Dados apresentados pelo especialista, no Congresso Brasileiro de Construção Sustentável 2013, mostram que, no Brasil, o quilômetro construído do metrô não sai por menos de R$ 100 milhões, podendo chegar a R$ 500 milhões em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. "O custo e a escassez de terras para desapropriar, associada às tecnologias cada vez mais sofisticadas para escavar túneis, encareceram por demais esse modelo de transporte", alerta Santos Senna.
Indiretamente, a cidade de São Paulo começa a valorizar outros modais. A prefeitura espera criar 150 quilômetros de BRT (Bus Rapid Transit) até o final de 2016, ao custo de R$ 6 bilhões. Com o mesmo volume de recursos, seria possível fazer apenas 12 quilômetros de metrô na capital paulista. O governo federal também se convenceu de que deve deixar de ver o metrô como a alternativa número um para a mobilidade urbana. Desde as manifestações populares de junho de 2013, linhas de crédito incentivando a criação de BRTs e VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos) nas principais cidades brasileiras já somam R$ 50 bilhões para projetos que prometem ser viabilizados nos próximos quatro anos.
O professor da UFRGS lembra que o metrô foi um modal importado para o Brasil, mas que hoje não é mais prioridade nem na Europa nem nos Estados Unidos. "Nos países europeus e nas cidades norte-americanas, os metrôs existentes foram consolidados no século passado. Hoje, esse sistema de transporte tornou-se muito caro até para eles", afirma Luís Afonso dos Santos Senna, citando que o que se busca atualmente nos países desenvolvidos é o network da mobilidade urbana. "Se o metrô já está construído, perfeito. Então, que se conecte a cada estação um terminal de ônibus e uma faixa de ciclovia. Los Angeles é quem melhor faz isso. A cidade decidiu trocar o metrô pelo investimento em ônibus. Primeiro, partiu para a compra de veículos sofisticados, com ar-condicionado e som ambiente, mas esqueceu de dar mobilidade a eles. Foi aí que a prefeitura se deu conta de que era necessário menos luxo e mais praticidade. Los Angeles hoje tem corredores exclusivos próximos das estações de metrô, conectando os sistemas", conta.
Para Luís Afonso dos Santos Senna, o Brasil precisa caminhar neste sentido e ter uma política séria de transporte público e mobilidade urbana para as grandes cidades. "A estratégia nacional de desenvolvimento do país tem seus fundamentos na produção de automóveis. O Brasil precisa mudar isso, caso contrário só irá piorar o quadro atual. Para se ter uma ideia, a velocidade do fluxo de veículos hoje nas metrópoles brasileiras é semelhante ao da Inglaterra na revolução industrial. Pior: a inclusão social agravou o problema de mobilidade nos grandes centros, pois quem não tinha carro, agora tem", alerta. Para o especialista, é hora de o Brasil pensar em políticas que subsidiem a não utilização de automóveis, que controlem a oferta de estacionamentos e que restrinjam a circulação de automóveis nos centros das metrópoles. "Não temos mais tempo para sermos amadores em termos de mobilidade", completa.
Entrevistado
Luís Afonso dos Santos Senna, engenheiro civil, ex-secretário municipal de transporte na cidade de Porto Alegre e professor-doutor de engenharia de produção e transportes da UFRGS
Contato: lsenna@producao.ufrgs.br
Crédito foto: Divulgação/Cia. de Cimento Itambé/ Consórcio Via Quatro
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Inmetro dá mais atenção à cesta básica da construção
Portaria que regulamenta fabricação e comercialização de blocos de concreto para alvenaria é uma das ações do Instituto voltadas ao setor
Por: Altair Santos
Atualmente mais de 350 mil produtos fabricados no Brasil ou importados contam com o selo do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia). Eles estão distribuídos em 197 famílias, das quais 160 são submetidas a avaliações compulsórias e 37 a inspeções voluntárias. Em um destes grupos encontra-se a cesta básica da construção civil. Atualmente, barras e fios de aço, plugues e tomadas, cabos e fios elétricos, além de disjuntores e produtos do segmento sanitário, como torneiras, misturadores, registros e sifões, já são obrigados a estar em conformidade com o Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, que baliza as ações do Inmetro. A partir do ano que vem, será a vez dos artefatos de concreto.
A exemplo do que já ocorre com telhas cerâmicas, os blocos de concreto para alvenaria e as telhas de concreto também passarão a ter inspeções compulsórias. O primeiro passo nesta direção foi a publicação da portaria que regulamenta a fabricação e a comercialização destes produtos, publicada em abril de 2013. A partir daí, os fabricantes terão até outubro de 2014 para se adequar. "Demos esse prazo para que as indústrias e o comércio do setor se adaptem, tanto para comprar equipamentos e aprimorar a linha de produção quanto para esgotar o estoque de produtos fabricados antes da implementação do programa", explica Alfredo Lobo, diretor de avaliação de conformidade do Inmetro, que durante o Concrete Show 2013 explicou como se darão as mudanças.
Segundo Alfredo Lobo, futuramente outros produtos vinculados à construção civil também serão submetidos a programas de certificação do Inmetro. "Argamassas colantes, cal hidratada, piso de madeira maciça, tintas e porcelanatos, além de dispositivos hidráulicos prediais e metais sanitários também passarão a ter inspeções compulsórias. Isso já foi aprovado pelo conselho curador do FGTS, para que haja um controle mais rigoroso na produção destes materiais", diz. Ainda de acordo com o diretor, quando um produto passa a receber certificação, o Inmetro tem condições de promover fiscalização técnica, recolhendo exemplares no varejo para que suas especificações sejam testadas em laboratórios. "Outra vantagem é que nossas certificações são reconhecidas internacionalmente, o que facilita o exportador brasileiro", completa.
No caso dos blocos de concreto para alvenaria e das telhas de concreto, para que eles obtenham a certificação do Inmetro terão de cumprir requisitos técnicos mínimos relacionados à dimensão, composição, absorção de água e resistência. "Nossos programas priorizam sempre a concorrência justa", afirma Alfredo Lobo. Uma das razões de o instituto dar mais atenção à cesta básica da construção civil se deve a dois motivos: a entrada em vigor da norma de desempenho (ABNT NBR 15575) e o volume crescente de denúncias relacionadas a habitações do Minha Casa, Minha Vida construídas com produtos sem conformidade. "Apesar de não poder intervir quando o produto já está de posse do usuário, o Inmetro tem a missão de acompanhar a conformidade dos produtos da fábrica ao ponto de venda", revela Alfredo Lobo.
Entrevistado
Alfredo Carlos Orphão Lobo, engenheiro mecânico e diretor de avaliação de conformidade do Inmetro
Contato: dconf@inmetro.gov.br
Crédito foto: Divulgação/Inmetro
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Reter alunos de engenharia é mais difícil do que captar
Fernando Micali, professor doutor da USP, explica por que evasão é grande nos cursos de engenharia. Segundo ele, é preciso falar a linguagem das novas gerações
Por: Altair Santos
Os mais recentes dados do MEC (Ministério da Educação) sobre evasão de alunos dos cursos de engenharia mostram que de 227 mil matriculados apenas 45 mil finalizaram a graduação em 2011 - 62,32% pertenciam às instituições públicas e 43,41% às particulares. Destes números, 24% estavam vinculados à engenharia civil. A estatística vai de encontro à tese do professor Fernando Micali - mestre e doutor em engenharia civil pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) - de que hoje o grande desafio da escola não é captar o aluno, mas retê-lo. A prova é que, segundo o MEC, pelo menos meio milhão de estudantes prestam vestibular todo o ano para os cursos de engenharia. "Se há demanda, onde está o problema: no aluno ou na escola?", questiona Fernando Micali, que recentemente palestrou no 20º Fórum de Docentes, promovido pelo Crea-PR.
Segundo o especialista, que atualmente se dedica ao desenvolvimento de softwares para ajudar na retenção dos alunos por parte das escolas, o primeiro passo é entender para quem se está ensinando. "A geração atual tem o seguinte perfil: não utiliza manual, prefere a tentativa e erro; tem dificuldade em planejar, prefere o improviso; é multiprocessada e totalmente familiarizada com a tecnologia; tem necessidade de ter voz ativa e repudia o autoritarismo. Quem não perceber isso, não obtém o diálogo. Então, o grande desafio, hoje, é estabelecer uma comunicação para essas inteligências múltiplas. Caso contrário, como escreveu Rubem Alves, em seu livro Histórias de quem gosta de ensinar, o professor estará agindo como um Gepetto ao contrário: transformando gente em boneco de madeira", diz Fernando Micali.
Em um mundo onde a informação está disponível a todos, Micali defende que o novo professor deve agir como um mediador desta informação, motivando e inspirando o aluno. "Ele deve transmitir conhecimento, mas também desenvolver no aluno habilidades e atitudes. Veja o que ocorre hoje nas escolas de engenharia, sejam públicas ou privadas. O estudante passa dois anos aprendendo ferramentas para calcular estruturas e fundações, mas o professor não ensina ele a usar aquilo interdisciplinarmente, que é o que exige a engenharia atual", afirma o professor doutor, que é defensor de métodos de ensino baseados no conceito "problem based learning" (aprendizagem baseada em problema). "Isso desenvolve no aluno o interesse pelo estudo prévio, pelo feedback constante e pela interação intensa", completa.
Para Fernando Micali, o papel das escolas de engenharia deve ser o de dar habilidade para os alunos continuarem aprendendo, comportando-se como eternos aprendizes. “A formatura, como era conhecida no passado, não existe mais. Ninguém mais pode se considerar formado", alerta o especialista, lembrando que a taxa de conhecimento por indivíduo é cada vez menor. Dados apresentados por ele mostram que um jovem médio, na faixa de 20 anos, detém atualmente apenas 0,004% de tudo o que é produzido de conhecimento no mundo. "Por que isso ocorre? Porque o novo conhecimento não se faz mais de forma evolucionária, mas revolucionária, ou seja, quando surge um novo conhecimento o anterior pode ser jogado fora", explica.
Micali usou o seguinte exemplo para explicar sua tese: "Há 600 a.C., Aristóteles detinha 90% do conhecimento da humanidade, que ia de medicina a astronomia. Em 1700, Leonardo da Vinci detinha 60%. Já Isaac Newton, detinha 30%; Einstein, menos de 10%. Isso chama-se volatilidade do conhecimento. Há cada três anos todo o conhecimento da humanidade dobra. Diante deste desafio, o que o professor precisa é transmitir fundamentos sólidos ao aluno, para que ele aprenda a desenvolver a habilidade de continuar aprendendo sempre." Em sua análise, são esses profissionais que as empresas buscam hoje. "As corporações modernas se projetam como visionárias e querem colaboradores capazes de prospectar o futuro, para antever o que vai acontecer", finaliza.
Entrevistado
José Fernando Montovani Micali, engenheiro civil, professor doutor da USP e presidente da TNT Technology, especializada em soluções de TI para educação
Contato: fernando.micali@tntedu.com.br
Créditos fotos: Leandro Taques/Crea-PR
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Olimpíadas vão gerar bairro mais sustentável do Brasil
Ilha Pura abrigará 50 mil moradores depois dos jogos de 2016. Complexo sustentável terá 31 edifícios de 17 andares cada um e consumirá 350 mil m³ de concreto
Por: Altair Santos
O evento dos jogos olímpicos, que acontece daqui a três anos no Rio de Janeiro, tem entre seus projetos essenciais a construção da vila olímpica - local que tradicionalmente abriga os atletas que disputam as competições. No caso da Vila dos Atletas, a Construtora Odebrecht planeja transformá-la no bairro mais sustentável do Brasil.
Depois de agosto de 2016, o local será rebatizado de Ilha Pura e deverá abrigar 50 mil moradores. As obras estão 15% concluídas e devem ser finalizadas no final de 2015, com prazo-limite até maio de 2016. Segundo Maurício Cruz Lopes, diretor de projetos da Odebrecht, desde o início da construção da Vila dos Atletas tem sido tomadas medidas que garantam a sustentabilidade do empreendimento. Uma delas é que 100% da água cinza produzida dentro do canteiro de obras é coletada, tratada e reusada no vestiário que serve os 2,5 mil operários contratados. "Há preocupação também com a pegada de carbono. Por isso, selecionamos fornecedores que fazem esse controle desde a extração da matéria-prima até a entrega do produto no local da obra", explica Maurício Cruz Lopes.
O empreendimento também se preocupa com a emissão de gás carbônico (CO₂) na produção de concreto. Por isso, foram instaladas duas centrais na obra, com capacidade de produzir, por ano, 100 mil m³ de material. "Faremos uma economia de 1,5 milhão de quilômetros, poupando o transporte de concreto por betoneiras, e, com isso, haverá a redução anual de 1.200 toneladas de gás carbônico", revela o diretor de projetos da Odebrecht. Com 31 edifícios de 17 andares cada, espalhados em uma área de 632 mil m² da Barra da Tijuca, o Ilha Pura irá consumir um total de 350 mil m³ de concreto.
Construídos de acordo com as normas da certificação AQUA, os prédios do Ilha Pura terão os seguintes equipamentos voltados para a sustentabilidade do bairro planejado: aquecimento solar, telhado verde, painéis fotovoltaicos, tomadas para veículos elétricos, paisagismo com espécies nativas, central de tratamento de água, iluminação eficiente em led e elevadores capazes de gerar 60% da energia que irão consumir. "Acreditamos que o uso de tecnologia verde permita reduzir o consumo de energia em 30%, se comparado a uma obra convencional. Isso nos primeiros dez anos", avalia Maurício Cruz Lopes, que expôs o projeto no Congresso Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS 2013).
No mesmo evento foi apresentado o projeto do Jardim das Perdizes, que a Construtora Tecnisa está empreendendo na região da Barra Funda, em São Paulo. Trata-se de um outro bairro sustentável, com 28 torres distribuídas em uma área de 250 mil m². Os apartamentos terão de 80 m² a 197 m², para atender famílias com renda mensal entre 6 e 20 salários mínimos. "A principal característica deste empreendimento é a possibilidade de inclusão social", destaca Fábio Villas Bôas, diretor-técnico da Tecnisa. Além do Jardim das Perdizes e do Ilha Pura, existem no Brasil outros dois bairros sustentáveis em fase de construção: o Pedra Branca, em Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis, e o Noroeste, no Distrito Federal.
Entrevistados
Engenheiros civis Maurício Cruz Lopes, diretor de projetos da Construtora Odebrecht, e Fábio Villas Bôas, diretor-técnico da Construtora Tecnisa
Contato: secretaria@cbcs.org.br
Créditos fotos: Divulgação/COB/SCHWING-Stetter/CBCS 20013
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Colaborador-tóxico: saiba como evitar ou recuperá-lo
Apesar de ter grande capacidade de influenciar outros colaboradores, não é fácil identificá-lo dentro da corporação, diz especialista
Por: Altair Santos
Os conceitos de que o coletivo é mais importante do que o individual e de que os valores são mais relevantes do que a habilidade têm prevalecido nas empresas. Para encontrar quem se encaixe a esse novo perfil, as Companhias passaram a aprimorar métodos que identifiquem o chamado colaborador-tóxico, ou seja, aquele que, por algum motivo, gera ambiente negativo e pode contaminar o setor em que atua.
Para a psicóloga Renata Falco, apesar de todas as ferramentas disponíveis, não é fácil evitar um colaborador-tóxico, principalmente no momento da contratação. De acordo com a especialista, independentemente do aparato de que disponha o departamento de recursos humanos da empresa, são os valores da corporação que conseguem atuar como um filtro para que a Companhia minimize o risco de "intoxicação". Confira na entrevista a seguir:
Como se define um colaborador-tóxico?
Fazendo referência ao conceito literal do termo tóxico, torna-se fácil compreender a expressão colaborador-tóxico. Define-se como um colaborador que possui a capacidade de envenenar o outro. Trazendo ao contexto de comportamento e estrutura de personalidade, trata-se de um profissional que influencia, manipula e controla o comportamento de colegas de trabalho com personalidade mais vulnerável, intencional e exclusivamente para benefício próprio. Dependendo da capacidade de contaminação, pode provocar um abalo na estrutura organizacional, caso esta não esteja preparada para lidar com esse tipo de comportamento.
Colaboradores-tóxicos são recuperáveis?
Há estudiosos da psicologia que consideram que o ser humano inicia sua estrutura de personalidade a partir de suas experiências no convívio familiar e social. Porém, há aquelas que defendem que sua formação inicia desde sua concepção, havendo características de ordem genética. Tais linhas conceituais podem dar respostas diferentes quanto à possibilidade de recuperação:
- Se o comportamento tóxico foi aprendido em convívio com a sociedade, e através de suas experiências emocionais, o tóxico pode sim ser recuperado, através do ato de ressignificar o comportamento aprendido;
- Se o comportamento vier de ordem genética, e for estimulado pelo convívio social, o tóxico pode ser controlado, mas não recuperado, através de medicamentos e psicoterapia.
Como a empresa deve agir se o colaborador-tóxico for também talentoso?
O ponto mais difícil do processo é a identificação. A partir disso, a empresa deve analisar as consequências de tentar recuperá-lo e mantê-lo no quadro de colaboradores, mesmo correndo o risco de perder outros colaboradores. Vale destacar que os tóxicos são pessoas inteligentes, mas na empresa possuem basicamente dois objetivos: conquistar poder e retorno financeiro dentro da organização.
Maus gestores e o ambiente da empresa contribuem para gerar colaboradores-tóxicos?
O comportamento tóxico é sim potencializado pelos estímulos aos quais está inserido, seja pelo ambiente em geral da empresa em que atua ou por um ou mais gestores. Porém, pela idade com que o tóxico em formação ou inato entra em uma organização, o mesmo já possui bagagem suficiente para atuar, não sendo assim um gestor capaz de gerar um colaborador- tóxico, mas com plena capacidade de torná-lo ainda mais avassalador.
Existem colaboradores motivados e colaboradores determinados. Quais deles têm mais probabilidade de vir a se tornar um colaborador- tóxico?
A motivação e a determinação são competências que fazem parte do mesmo universo, sendo uma praticamente a consequência da outra. Motivação é um desejo, uma energia psicológica que desperta no ser humano o movimento para iniciar e continuar uma ação específica. Já a determinação provém de uma decisão, de um despertar de coragem para cumprir a ação. Sendo assim, a determinação é uma competência mais embasada, que geralmente faz com que a pessoa leve a decisão tomada até sua efetiva conclusão. Já a motivação é baseada em desejo, em estímulos que podem acabar se dispersando no decorrer do tempo. Se tivermos que classificar uma dessas características para definir o tóxico, com certeza seria a motivação, pois o sentimento de posse, de humilhar o outro e de conquistar um benefício (sob seu olhar) pode mudar de foco rapidamente caso um outro caminho, pessoa ou ação possa gerar mais vantagens para o mesmo.
Steve Jobs definia seus bons colaboradores como “classe A”, ou seja, aqueles que dão o máximo, independentemente da situação e da tarefa. Esse é o colaborador ideal de hoje?
A descrição citada por Jobs deixa claro que o potencial do colaborador “classe A” é o comportamento. Dar o máximo é esforçar-se, é ser responsável, comprometido, focado, alinhado ao contexto citado, independentemente da situação ou da tarefa. Até poucas décadas o foco das contratações era por colaboradores com potencial para resultados produtivos, com capacidade intelectual, e, de preferência, com muitas formações acadêmicas e técnicas. Baseado neste perfil, considerando os índices de colaboradores desligados, há pesquisas que mostram que a maioria é contratada pelos conhecimentos e quase todos são demitidos por problemas de comportamento. Este resultado mostra que o perfil das contratações está mudando, que as empresas começaram a perceber que não adianta ser inteligente e gerar bons resultados se não há interação com a equipe, trabalho em grupo, relacionamento interpessoal, honestidade, ética, bom senso e, principalmente, respeito para com os outros. Essas passam então a ser as competências primordiais para a escolha dos candidatos.
É possível identificar um potencial colaborador- tóxico na entrevista de contratação? Caso sim, como?
Uma das principais características de um colaborador tóxico é exatamente sua capacidade manipulativa, além de ser muito simpático, envolvente e sedutor. Todas essas características tendem a levar o selecionador à aprovação do candidato no processo seletivo, pois possivelmente se sobressairá mediante comparação com outro candidato. Se o selecionador tiver formação em psicologia e empregar testes psicológicos projetivos, terá mais chances de detectar características tóxicas no candidato e minimizar o risco de contratação.
As grandes corporações, que tem um RH mais complexo, possuem maior facilidade para identificar colaboradores-tóxicos, em comparação com as médias e pequenas empresas?
Não necessariamente a identificação do tóxico será feita pela equipe de recursos humanos, assim como, não necessariamente, o porte da empresa influencia na identificação. Porém, alguns pontos merecem atenção especial:
- Sendo a empresa de grande porte, infere-se que possui uma estrutura mais completa (e complexa) no que se refere à gestão de pessoas; isso remete a processos, políticas e cultura melhor delineadas e melhor implementadas, pontos que, por si só, já dificultam a entrada do tóxico.
- Quanto maior a organização, maior a quantidade de colaboradores e a diversidade de personalidades. Isso culmina em melhor experiência para compreender os comportamentos.
- No caso de pequenas e médias empresas, ambas devem se respaldar tendo seus valores muito bem definidos, para que possam perceber e tomar uma atitude rapidamente quando detectarem um comportamento que diverge daquilo que acreditam.
Entrevistada
Renata de Oliveira Falco é psicóloga, com MBA em gestão de pessoas por competências e coaching, e desenvolveu tese sobre colaborador-tóxico
Contato: renatafalco9@gmail.com
Créditos fotos: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Construtoras trocam lucro por pontualidade do MCMV
Garantia de receber sem atraso levam médias e pequenas empresas a optar pelo credenciamento no programa, em vez de priorizar o mercado imobiliário
Por: Altair Santos
Principalmente no interior do país, construtoras de pequeno e médio porte estão preferindo empreender com exclusividade para o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) em vez de trabalhar voltadas para o mercado imobiliário, onde a lucratividade é maior. O que faz essas empresas privilegiarem a política habitacional do governo federal é a pontualidade do pagamento. "A vantagem é que trata-se de um programa com credibilidade, onde o empresário, executando a obra, tem a garantia de que vai receber na data combinada, conforme o contrato", exalta o engenheiro civil Álvaro Pereira da Silva, da Provectum Engenharia e Empreendimentos.
Para ter margem de lucro, as construtoras que empreendem para a faixa 1 do MCMV (de um a três salários mínimos) precisam ter volume de obras. "A margem no Minha Casa, Minha Vida é pequena. Não é como na iniciativa privada, onde a empresa incorpora e vende a um preço que o mercado aceita pagar. Quem faz as avaliações é a Caixa Econômica Federal, e ela define o preço. Então, é preciso ganhar no volume", diz Álvaro Pereira da Silva, que em quatro anos já viabilizou cerca de três mil unidades nas regiões norte e noroeste do Paraná. No caso da Provectum, a prioridade são as habitações horizontais, construídas em alvenaria convencional. "Estamos estudando adotar sistemas inovadores de construção para o ano que vem", revela Álvaro Pereira da Silva.
Quem também constrói para a faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida é a CCP Engenharia de Obras, que atua em municípios da região metropolitana de Londrina, como Rolândia e Cambé. Segundo o engenheiro civil e diretor técnico da empresa, José Maria Soares, está se criando um nicho de construtoras especializadas em atuar na faixa 1 do MCMV. Boa parte, composto por empresas de pequeno porte. "A empresa de pequeno porte tem mais flexibilidade para atuar nessa faixa, pois é preciso ter um jogo de cintura para se inserir neste mercado", cita José Maria Soares, afirmando que a pontualidade no pagamento compensa. "É preciso ter consciência de que se está trabalhando para um programa público. Por isso, é preciso responsabilidade. Mas o pagamento é rigorosamente em dia", completa.
A CCP já construiu aproximadamente mil unidades para a faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida. A maioria de habitações horizontais e em sistema de alvenaria convencional. As empresas alegam que adotar métodos construtivos inovadores só é interessante se o volume de casas contratadas for de quinhentas unidades para cima. "É um processo evolutivo, que talvez para futuros empreendimentos possa se viabilizar", diz José Maria Soares, que avalia positivamente o MCMV. "É um programa que vai durar muitos anos, pois existe demanda", completa. Da mesma forma, Álvaro Pereira da Silva também elogia o Minha Casa, Minha Vida. "É bom para todo mundo. Para a construtora e para o governo. Além disso, por causa da demanda alta, é um programa fortemente subsidiado", enaltece.
Entrevistados
Engenheiros civis Álvaro Pereira da Silva, da Provectum Engenharia e Empreendimentos Ltda., e José Maria Soares, da CCP Engenharia de Obras Ltda
Contatos
provectum@provectum.com.br
alvaro@provectum.com.br
vasco@construtora-ccp.com.br
jmsoares@construtora-ccp.com.br
Crédito foto: Divulgação/Provectum
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Norma para estacas pré-fabricadas está na reta final
Consulta pública terminou no dia 10 de outubro de 2013 e expectativa é que a ABNT publique a norma no começo de 2014
Por: Altair Santos
O projeto da norma técnica exclusiva para estacas pré-fabricadas de concreto encerrou a fase de consulta pública no dia 10 de outubro de 2013. Segundo o engenheiro civil Luís Fernando de Seixas Neves, que secretariou a elaboração da norma, a expectativa é de que a Associação Brasileira de Normas Técnicas estabeleça a validação no primeiro semestre de 2014. "Houve uma boa repercussão durante o período de consulta pública e há pouquíssimos pedidos de mudança", afirma. Há muito tempo que o setor via a necessidade de estabelecer uma norma para estacas de concreto. O CB-18 - Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados, implantou o projeto e coordenou as reuniões da Comissão de Estudos. O Coordenador da Comissão de Estudos foi o Eng. Cláudio Gonçalves.
Entre os itens que podem levar a alterações no texto da norma estão o que define o tempo mínimo de concretagem para que uma estaca seja considerada apta à cravação e o que estabelece obrigatoriedade de ensaios de absorção de água pelo concreto. No original, o comitê concluiu que as estacas estarão liberadas para a cravação quando a resistência do concreto for maior que 35 MPa e o tempo de fabricação for maior ou igual a sete dias. Da mesma forma, sugere que devem ser feitos ensaios para determinar a taxa de absorção de água por imersão pelo menos uma vez ao mês ou quando houver mudança no traço do concreto ou nos materiais, ou quando solicitado pelo cliente.
Ainda sem numeração, a nova norma para estacas pré-fabricadas de concreto é aguardada com ansiedade pelo setor. O motivo é que dará mais credibilidade aos produtos fabricados no Brasil e tende a abrir mercado no exterior. "Em uma das palestras que dei sobre a norma, esteve presente o representante da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China. Ele estava interessado em saber como se dará a normatização do produto no Brasil e como isso poderá gerar parcerias comerciais entre os dois países", diz Luís Fernando de Seixas Neves.
Como a nova norma aborda aspectos técnicos e de garantia de qualidade nas etapas de fabricação, manuseio, estocagem e transporte, os importadores de produtos brasileiros avaliam que terão mais garantias de receber estacas sem avarias. "Neste aspecto, o item mais crítico, e que a norma espera solucionar, é o manuseio. Muitos segmentos de estaca acabam sofrendo avarias importantes em obra por falta de cuidados básicos a serem seguidos durante manipulação das peças", explica o engenheiro civil.
Uma característica da norma, alerta Luís Fernando de Seixas Neves, é que ela não foi criada para "engessar" o produto. “Esse não é o objetivo. Acreditamos que seja saudável a existência de estacas executadas de modo artesanal e a meta é garantir a qualidade do produto final, seja ele fabricado em uma grande indústria ou no canteiro de obra. A norma de estacas fará o que qualquer outra norma faz: garantir ao cliente final um produto com requisitos básicos de qualidade, sem engessá-lo. Cada empresa fabricante poderá impor ao seu produto suas características próprias", resume.
Independentemente da nova norma, a produção de estacas pré-fabricadas de concreto também continuará submetida a outras normas já existentes, como a ABNT NBR-6118 (Projeto de estruturas de concreto - Procedimento) e a ABNT NBR-9062 (Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado) além da ABNT NBR-6122 (Projeto e execução de fundações).
Clique aqui e entenda a norma técnica para estacas pré-fabricadas de concreto.
Saiba mais sobre a nova norma para estacas pré-fabricadas de concreto:
http://www.cimentoitambe.com.br/estaca-pre-fabricada-de-concreto-tera-norma-propria/
Entrevistado
Engenheiro civil Luís Fernando de Seixas Neves, secretário da comissão técnica da ABNT que trabalhou no conteúdo da nova norma sobre estacas pré-fabricadas de concreto
Contato: lfneves@cepollina.com.br
Crédito foto: Divulgação/Meccanica