Principal função da norma para reformas é educar

Como a NBR 16280:2014 não tem força de lei, seu principal legado é conscientizar o consumidor sobre risco de alterar imóvel sem orientação técnica

Por: Altair Santos

Desde 18 de abril está em vigor a ABNT NBR 16280:2014 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) que estabelece sistema de gestão e requisitos de processos, projetos, execução e segurança de reformas. A norma define que qualquer obra que altere ou comprometa a segurança de uma edificação já construída, ou de seu entorno, precisará ser submetida à análise da construtora/incorporadora e do projetista, desde que ainda esteja dentro do prazo de garantia. Caso contrário, será exigido laudo técnico assinado por engenheiro civil ou arquiteto. Com base em parecer de um destes especialistas, o síndico ou a administradora poderão autorizar, autorizar com ressalvas ou proibir a reforma, caso entendam que ela irá colocar em risco o prédio.

Flávio Figueiredo, do IBAPE: norma deixa implícito que troca de revestimento é reforma

Na interpretação do engenheiro civil Flávio Figueiredo, conselheiro do IBAPE-SP (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícia de Engenharia de São Paulo) a principal função da ABNT NBR 16280:2014 é educar. "A população precisa ter consciência de que se deve fazer uma reforma tomando todos os cuidados técnicos devidos. Contratando profissionais habilitados, sairá um trabalho com maior qualidade, maior durabilidade, com menos desperdício e com maior segurança. Aquilo que aparentemente paga-se a mais irá reverter em economia imediata ou a médio prazo. Falta esta cultura, pois no Brasil as pessoas tendem a não usar estes profissionais e consequentemente não atender a norma. A tendência é que, se não houver uma conscientização, esta norma voluntariamente não será utilizada", avalia.

Flávio Figueiredo entende que, por não ter força de lei, a nova norma dificilmente causará efeito onde ela realmente deveria agir, que é nas reformas de imóveis de classes mais populares, e que movimentam o chamado mercado formiguinha da construção civil. "Estas obras normalmente são feitas sem nenhum tipo de supervisão técnica, e não acredito que a norma cause impacto neste público, pois se não houver lei especificando não há como punir alguém", diz, afirmando que o texto não inclui apenas reformas em prédios, mas em qualquer edificação. "Teoricamente, ela seria aplicável a todo o tipo de reforma", explica.

Tragédia provocou norma
Ainda de acordo com o especialista, a norma também deveria ser mais clara ao definir o que é reforma e o que é manutenção. Por exemplo: trocar azulejos e piso de áreas úmidas de um imóvel exige o cumprimento da norma? "Esta é uma grande dúvida, pelo tipo de material empregado e pelo tipo de movimentação que é feita no imóvel. Pela tabela A1 da norma, a troca de revestimentos pode ser interpretada como reforma. Mas se for levar ao pé da letra, a troca de azulejos de cozinhas ou banheiros precisa atender outras normas", diz, reforçando que, por isso, é importante contratar uma supervisão técnica para as reformas. "Hoje, o que acontece: temos muitos serviços que deveriam ser supervisionados por engenheiros e arquitetos e não são. A gestão das reformas é um deles", finaliza.

O meio técnico da construção civil decidiu trabalhar pela criação da ABNT NBR 16280:2014 após o desabamento do Edifício Liberdade, de 20 andares, e de mais dois prédios, no centro do Rio de Janeiro, em 25 de janeiro de 2012. O acidente foi provocado por reformas irregulares e causou a morte de 22 pessoas.

Entrevistado

Engenheiro civil Flávio Figueiredo, conselheiro do IBAPE-SP (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícia de Engenharia de São Paulo) e diretor da Figueiredo & Associados Consultoria
Contatos
www.ibape-sp.org.br
flaviofigueiredo@consultores.eng.br
atendimento.sp@abnt.org.br

Crédito Foto: Divulgação/André Labate

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Falta de especialização torna crítica segurança do trabalho

Segundo dados recentes da Previdência Social, índice de acidentes aumenta, principalmente, pela falta de qualificação da mão de obra

Por: Altair Santos

Dados da Organização Internacional do Trabalho apontam que, no Brasil, morrem anualmente 57 mil pessoas vítimas de acidente de trabalho. A metodologia do organismo leva em consideração, inclusive, óbitos causados por doenças relacionadas ao trabalho. Já os números do DataSUS - banco de dados da Previdência Social - são bem mais modestos. Consideram apenas como três mil por ano as mortes causadas por acidentes de trabalho, mas se limita às ocorrências registradas somente no ambiente da empresa. Essas estatísticas controversas foram reveladas pelo diretor estadual do Sintesp (Sindicato dos Técnicos de Segurança do Estado de São Paulo) Cosmo Palasio de Moraes Jr., em recente palestra no Workshop 2014, promovida pela Sobratema em São Paulo-SP.

Palasio de Moraes Jr: na Espanha, a segurança do trabalho hoje é modelo. Tem norma até para uso de espátula

Independentemente da estatística que for levada em consideração - se da OIT ou do DataSUS -, Palasio alerta que a construção civil tem um percentual significativo no volume de acidentes. "Pelo menos 40% destas mortes ocorrem em canteiros de obras", estima, afirmando que a falta de especialização dos profissionais contratados é um dos fatores que ajudam a tornar crítica a segurança do trabalho dentro do setor. "Há pouco treinamento. O pessoal avalia que instalar a CIPA basta, quando a realidade é outra. Estudos revelam que trabalhadores submetidos a atividades de risco costumam, com o decorrer do tempo, sofrer um processo de desligamento do cérebro para o perigo. Significa que se o trabalhador estiver em um andaime, a 50 metros de altura, ele não avaliará o risco. Para minimizar o perigo, é preciso treinamento", diz.

Palasio alertou que o Brasil tem uma boa legislação, mas é mal trabalhada. Ele citou como exemplo a NR 35 (Norma Regulamentadora sobre trabalho em altura) a qual permite rastrear com precisão os cumprimentos das regras de segurança. No entanto, ele destaca que apenas leis não bastam. "É preciso investir na mudança de comportamento das pessoas. Cultura não se muda com lei", destaca, citando como exemplo o trabalho feito na Espanha ao longo de um período de dez anos. "A Espanha liderava os acidentes de trabalho na Europa. Até que o país decidiu dar uma guinada na segurança de trabalho. O país investiu em treinamento e também em pesquisa sobre equipamentos para melhorar a segurança no trabalho. Resultado: hoje, lá, existe espátula para tudo dentro do canteiro de obras", relata.

Prejuízo às exportações
O diretor estadual do Sintesp alerta que o Brasil, por conta dos números da OIT, enfrenta dificuldades para exportar seus produtos. "Em alguns países há sobretaxa sobre os manufaturados nacionais, pois lá fora as empresas brasileiras têm o rótulo de mutiladoras de trabalhadores. Quando não há sobretaxa, o importador pede documentos que comprovem que a empresa tem baixo índice de acidentes de trabalho, ou seja, a extensão deste problema atinge a imagem do país lá fora", comenta Cosmo Palasio de Moraes Jr. De acordo com dados da OIT, o Brasil é o quarto país no mundo em número de acidentes de trabalho, atrás apenas de China, Estados Unidos e Rússia.

Números da OIT sobre segurança e saúde no trabalho
•    2,02 milhões de pessoas morrem a cada ano devido a enfermidades relacionadas com o trabalho.
•    321 mil pessoas morrem a cada ano como consequência de acidentes no trabalho.
•    160 milhões de pessoas sofrem de doenças não letais relacionadas com o trabalho.
•    317 milhões de acidentes laborais não mortais ocorrem a cada ano.
•    A cada 15 segundos, um trabalhador morre de acidentes ou doenças relacionadas com o trabalho.
•    A cada 15 segundos, 115 trabalhadores sofrem um acidente laboral.

Entrevistado
Cosmo Palasio de Moraes Jr., especialista em segurança no trabalho e diretor estadual do Sintesp (Sindicato dos Técnicos de Segurança do Estado de São Paulo)
Contato: sintesp@sintesp.org.br

Crédito Foto: Divulgação/Sobratema

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Por que grandes obras levam décadas para ficar prontas?

Exigências ambientais impostas por União, Estados e municípios chegam a paralisar empreendimentos de infraestrutura por até duas décadas no Brasil

Por: Altair Santos

Desde que a lei ambiental brasileira foi promulgada, em 1998, nenhuma obra de infraestrutura consegue começar no país sem que tenha a licença ambiental para instalar canteiro de obras e viabilizar o empreendimento. Pensar em não cumprir à risca o que determina a legislação é flertar com o risco. Por isso, o recomendável é que nenhuma construtora participe de uma obra de grande porte sem que faça a gestão de impacto ambiental. "A questão ambiental está extremamente associada à paralisação de obras. É um risco que, para o empreendedor, é terrível. Estamos falando de uma das legislações mais rigorosas e completas do mundo, que impõe multas altas e penalizações duras. Para enfrentá-la, é preciso mensurar, planejar e organizar", alerta o geólogo e consultor ambiental Fernando Kertzman.

Serra do Cafezal, na rodovia Régis Bittencourt: embargos ambientais atrasaram obras por mais de 20 anos

O especialista afirma que tem dois tipos de empreendedores na construção civil: aquele que gerencia o risco ambiental, previne e corrige para evitar a multa, e aquele que ainda vê o meio ambiente como um empecilho e burocracia. "Meio ambiente é parte do negócio. Quem entender isso, vai se dar melhor. Quem entender que é coisa de ambientalista, pode ter problemas", frisa Kertzman, elogiando que de dez anos para cá a construção civil está entendendo melhor esse tema, principalmente por que diagnosticou que passivo ambiental tem impacto direto no custo. "A gestão de risco ambiental subentende planejamento. Se organizar para enfrentar licenciamento ambiental é se organizar para não deixar passivos ambientais depois da obra", completa. Sua palestra ocorreu durante o Workshop 2014 da Sobratema.

Bom e mau exemplo
Duas obras são emblemáticas sobre fazer a gestão ambiental correta e incorretamente. Uma decisão acertada foi realizada no Rodoanel, que ainda está em construção para desviar o tráfego pesado da cidade de São Paulo. "Um bom exemplo de liberação de licença ambiental foi conseguido no Rodoanel. Optou-se por uma avaliação estratégica, que conseguiu a liberação por trechos. Mesmo assim, demorou dez anos para o empreendimento obter o licenciamento", cita o consultor ambiental, afirmando que o tempo foi relativamente curto se comparado com a demora para se conseguir a licença ambiental para a obra na rodovia Régis Bittencourt, no trecho que corta a Serra do Cafezal. "O licenciamento ambiental definitivo tramita há 25 anos. Neste período, a obra foi embargada, reiniciada, reembargada, sofreu uma ação civil pública, houve a concessão da rodovia e o licenciamento teve que ser refeito. É um clássico de como não se deve fazer gestão ambiental de empreendimentos."

Fernando Kertzman: questão ambiental é ligada a atrasos de obras, mas há como mensurar, organizar e reduzir o risco

Fernando Kertzman avalia que o licenciamento ambiental tem um trâmite contraditório. Enquanto a legislação afirma que a licença federal basta, na prática não funciona assim: os licenciamentos estaduais e municipais também precisam ser expedidos. A burocracia também é outro obstáculo, já que se exige a licença prévia, a licença de instalação e a licença de execução. "O risco principal destas licenças é que não existe nenhuma regra que defina o prazo para liberação. Hoje, esse prazo é político. A parte técnica que representa 20% e 80% é político. Isso exige uma gestão diária junto aos organismos", diz. O especialista ressalta ainda que o planejamento do impacto ambiental começa na análise do edital. "Há muitos editais que trazem surpresas ambientais nas entrelinhas. Muitas vezes, o empreendedor ganha a obra, mas leva de brinde uma área contaminada ou uma fauna em extinção, o que exige que ele monte um departamento ambiental para fazer a gestão destes passivos", finaliza.

Entrevistado
Fernando Kertzman, geólogo e diretor da GEOTEC - Consultoria Ambiental
Contato: http://www.geotecbr.com.br/site/contato
Créditos Fotos: Divulgação/Cia. Cimento Itambé

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Reúso de água funciona se vier contemplado no projeto

Tecnologia gera empresas especialistas em planejar esse tipo de obra, mas implantá-la em prédios já construídos encarece investimento

Por: Altair Santos

O reuso de água está na moda. Desde que as certificações para empreendimentos imobiliários chegaram ao Brasil, os projetos que reaproveitam o recurso natural só fazem crescer. A ponto de influenciar também o setor industrial. Hoje, de cada dez plantas concebidas para que se construa uma fábrica, seis investem no reuso de água.

Enrico Freire: indústrias são as que mais investem em reúso de água

O objetivo é sempre ampliar a produção sem aumentar o consumo do bem natural no processo de fabricação. Mas há uma ressalva feita por especialistas: se a tecnologia de reuso não for concebida durante a fase de projeto da edificação, seja ela para fins residenciais, comerciais ou industriais, nem sempre o custo-benefício que se deseja é alcançado.

É o que explica o engenheiro químico e ambiental Enrico Freire, especialista em implantar reúso de água em unidades industriais. "Quando a tecnologia é incorporada ao projeto, as principais mudanças ocorrem na rede de distribuição de água e em sistemas de tratamento. Com suporte técnico adequado, os custos envolvidos são normalmente baixos frente aos valores investidos no complexo industrial", diz.

O engenheiro alerta que viabilizar a tecnologia em fábricas já construídas é possível, mas nem sempre se obtém bons resultados. "Neste caso, dependendo do tipo de construção, o prazo de retorno do investimento pode deixar o projeto pouco interessante financeiramente. Se considerarmos que a água é um recurso finito, existirão empresas que sempre considerarão esse tipo de investimento viável. O melhor é pensar nos detalhes construtivos do prédio, durante o projeto. Isso reduz consideravelmente os custos de implantação de sistemas de reúso", completa.

Gestão integrada
As indústrias têxtil e de beneficiamento de proteína animal são as que mais investem em reúso de água. Normalmente, essas fábricas se instalam em áreas com restrição de acesso a recursos hídricos ou em regiões onde o custo da água é elevado. No entanto, outros setores também se beneficiam da tecnologia. "Atualmente, em projetos de maior ou menor escala, todos os segmentos têm buscado opções de reaproveitamento de seus efluentes", afirma Enrico Freire.

Unidades concebidas para usar a tecnologia do reúso de água têm maior custo-benefício

Segundo o especialista, os projetos de implantação de reuso de água sempre são customizados e o objetivo é que o investimento seja amortizado em, no máximo, dois anos. "A economia de dinheiro está muito relacionada ao custo da água e ao local onde ela é consumida. Esses valores podem ser extremamente baixos a ponto de inviabilizar um projeto ou ter períodos de payback (retorno de investimento) inferior a dois anos. Cada caso deve ser analisado separadamente", comenta.

No mundo, os países que mais investem em reuso de água são Dinamarca, Bélgica, Alemanha e Austrália. Eles utilizam sistemas que o Brasil importa, como a gestão ambiental integrada. Nesta tecnologia, se faz o gerenciamento dos recursos hídricos, do reaproveitamento de chuvas e do tratamento de efluentes, integrando-os de acordo com a necessidade da fábrica. Outro modelo é a técnica de Pinch, no qual se avalia a qualidade da água e se define onde ela será aplicada.

Entrevistado
Engenheiro químico e ambiental, Enrico Freire, gerente de negócios do segmento ÁGUA e AR da Essencis Engenharia e Consultoria
Contato: comercialec@essencis.com.br

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Consumidor aceita pagar mais por Norma de Desempenho

Pesquisa do Instituto Sensus, encomendada pela CBIC, mostra que quem compra imóvel também busca qualidade, inovação e tecnologia

Por: Altair Santos

Se depender do consumidor, a Norma de Desempenho (ABNT 15575 - Edificações habitacionais - Desempenho, partes 1, 2, 3, 4, 5 e 6) irá se consolidar no mercado da construção civil. Recente pesquisa encomendada pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) ao Instituto Sensus mostra que quem compra imóvel está cada vez mais preocupado com a qualidade da habitação e se dispõe, inclusive, a pagar mais por isso. Segundo o levantamento, 81,9% dos entrevistados apontaram que buscam, além de edificações bem construídas, inovações tecnológicas incorporadas ao empreendimento.

Paulo Safady Simão: pesquisa confirma sentimento do mercado, de que consumidor está cada vez mais exigente

Para o presidente da CBIC, Paulo Safady Simão, os dados da pesquisa mostram o que o mercado já sentia. "O resultado desse trabalho inédito comprova o que até então era apenas um sentimento do mercado, ou seja, as pessoas que estão adquirindo ou planejam comprar um imóvel estão cada vez mais exigentes com a qualidade da moradia", diz. "O estudo fortalece, inclusive, os argumentos utilizados pela indústria da construção em seu diálogo com o governo federal no sentido de levar a inovação tecnológica ao Programa Minha Casa Minha Vida", completa.

O Instituto Sensus ouviu 1.100 pessoas em 23 estados, mais o Distrito Federal. De acordo com o presidente da CBIC, outro dado interessante da pesquisa é que a exigência por qualidade independe da renda familiar que está viabilizando a compra do imóvel. "Um dos aspectos mais importantes desse estudo foi a possibilidade de comprovarmos, pela primeira vez, que mesmo as famílias com renda mais baixa aprovam pagar mais caro para ter inovações em suas casas. Isso, claro, desde que essas modernidades proporcionem mais qualidade de vida e redução de custos de manutenção ao longo da vida útil do empreendimento", explica.

Impacto na cadeia produtiva
Paulo Safady Simão entende que o resultado da pesquisa não induzirá o mercado a elevar os preços dos imóveis. Pelo contrário, será lido como um reconhecimento do cliente em agregar valor ao seu imóvel através do acesso a produtos de qualidade, que, na medida em que forem consumidos em maior escala, tendem a baratear custos. "Sabendo como os consumidores veem a inovação, os empresários de toda a cadeia produtiva da construção podem planejar melhor os necessários investimentos. O aumento em escala do uso de novas tecnologias, máquinas e produtos fará com que os custos se tornem gradativamente menores e permitirá avanços em todos os níveis de empreendimentos", avalia.

A pesquisa apurou ainda que, entre os entrevistados, 78,5% têm renda de até cinco salários mínimos, e 13,6% de cinco a dez salários mínimos. Outro dado trazido pelo estudo é que o consumidor mudou a maneira de escolher um imóvel.  Antes, a boa localização era o mais importante. Agora, pesam na escolha a segurança e a economia de recursos. Entre os pesquisados, 31,5% procuram um lugar "calmo"; 20,6%, “boa localização”, e 11,2%, "conforto”.

Veja aqui a pesquisa na íntegra.

Entrevistado
Engenheiro civil Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
Contato: comunica@cbic.org.br

Crédito Foto: Erivelton Viana/CBIC

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Arquitetura penal obedece diretrizes específicas

Para atuar nessa área, profissional precisa buscar especialização fora do país ou atuar em escritórios que trabalham com esse tipo de projeto

Por: Altair Santos

A alta complexidade de um projeto para construir presídios requer formação específica para esse tipo de obra, tanto para engenheiros civis quanto para arquitetos. O problema é que no Brasil há poucas referências e sequer disciplinas sobre como projetar e erguer um empreendimento deste tipo. Nas graduações e nas pós-graduações, revela a arquiteta Suzann Cordeiro, há escolas que, inclusive, discriminam esse tipo de obra.

Suzann Cordeiro: país tem normatização para construir presídios, mas faltam especialistas

Fora do país, segue-se um caminho contrário. Existem até escritórios de engenharia e arquitetura que trabalham unicamente para projetar e construir presídios. Trata-se de obras em que grande investimento em tecnologia, principalmente na do concreto. É o que revela Suzann Cordeiro, professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e consultora na área de arquitetura penal. Confira a entrevista:

Um projeto de unidades destinadas ao custodiamento de pessoas possui diversas características especiais. Quais são as principais?
O principal desafio de um projeto de unidade penal é o equilíbrio entre segurança e a dita “ressocialização”. Por ser um espaço com alta complexidade programática, já que demanda serviços de saúde, educação, trabalho, custodiamento, alojamento, serviços industriais e grande aglomeração de pessoas, a preocupação com cruzamento de fluxos, dimensionamento adequado, ventilação e iluminação suficientes, além de minimização do potencial violento da população atendida, são complicadores para a solução espacial. Também é preciso cuidar para que a própria estrutura construída não possibilite a subversão, com a produção de armas com as ferragens, que são transformadas em ‘espetos’. As especificações técnicas necessitam ser específicas para características de alta resistência antivandálica, entendendo-se que esta resistência não se resume à resistência a impactos ou fogo.

Em termos de normas, quais as internacionais de segurança construtiva e acessibilidade que precisam ser cumpridas?
Não existem normas internacionais específicas para a segurança construtiva ou para a acessibilidade em edifícios de custodiamento. Em parte, isto se explica pela necessidade de entender o sistema penal específico de cada país e, consequentemente, a gestão prisional. Além disso, cada unidade, a depender do perfil de atendimento (masculino/feminino; regimes fechado/semiaberto/aberto; público provisório/condenado), apresenta especificidades de funcionamento, de fluxos e de usuários. Existem as regras mínimas da ONU, assim como alguns tratados internacionais (Tratado de Bangkok e Pacto de San Jose, entre outros) que exigem condições mínimas de atendimento, impactando em características espaciais. Mas não há nada específico.

Presídio de segurança máxima em Porto Velho - RO: concreto de 120 MPa

E no Brasil, segue-se uma normativa?
No Brasil, em 1994 foram criadas as diretrizes básicas para os projetos de estabelecimentos penais (Resolução nº 16, de 12 de dezembro de 1994) pelo Conselho Nacional de Políticas Criminal e Penitenciária (CNPCP) na tentativa de normatização da Arquitetura Penitenciária, revisada em 2005, e revogada pela Resolução nº 3, de 18 de fevereiro de 2005. Ambas, traziam discussões sobre zoneamento, programa de necessidades e funcionamento dos edifícios destinados à aplicação da pena. No entanto, ainda não incorporavam o conceito de vaga de forma mais abrangente, considerando demandas e não apenas celas, ou mesmo questões de adequação ambiental, eficiência energética, sustentabilidade etc. Apesar dos avanços contidos nesta resolução, continuavam imperando espaços voltados à segregação e segurança, com dimensões dos ambientes fixas, sem considerar a quantidade de usuários, ou seja, não havia reflexões de racionalização dos espaços, das dimensões e das especificações necessárias a cada ambiente. Em 2011, houve uma nova revisão da normatização acerca da Arquitetura Penitenciária, através das Diretrizes para Arquitetura Penal (Resolução nº 9, publicada em 18 de novembro de 2011) da qual eu participei como conselheira do CNPCP. Acredito que, a partir da nova resolução e seus desdobramentos, surge uma perspectiva mais inovadora e integrada dos aspectos de segurança, inclusão social, direitos humanos e sustentabilidade (econômica, social e ambiental) de maneira a exigir, dos projetistas, reflexões mais integradas e mais aprofundadas na concepção dos estabelecimentos penais, o que considero ser uma contribuição importante do Brasil para os demais países.

Quanto às normas da ABNT, quais as que um projeto desta natureza precisa atender?
Não existem normas específicas para a construção de estabelecimentos penais. Porém, a Res.9/2011 especifica, nas suas referências bibliográficas, a seguinte relação de normas a serem consideradas:

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220/2003: zonas bioclimáticas do Brasil.
2. NBR 9050/2004: acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.
3. NBR 6492/1994: representação de projetos de arquitetura.
4. NBR13532/1995: elaboração de projetos de edificações.
5. NBR 5626/1998: instalações prediais de água fria.
6. NBR 5648/1999: sistemas prediais de água fria – tubos, conexões de PVC 6,3, PN 750 kPa, com junta soldável – Requisitos.
7. NBR 8160/1999: instalações prediais de esgoto sanitário.
8. NBR 5410/2004: instalações elétricas de baixa tensão.
9. NBR 5413/1992: iluminância de interiores.
10. NBR 5473/1986: instalações elétricas prediais.
11. NBR 7198/1993: projeto e execução de instalações de água quente.
12. NBR 13.932/1997: instalações internas de gás liquefeito de petróleo (GLP) – projeto e execução.
13. NBR 13.933/1997: instalações internas de gás natural (GN) – projeto e execução.
14. NBR 9575/2010: impermeabilização – seleção e projeto.
15. NBR 6023/2000: informação e documentação: referência – elaboração.
Ainda assim, cabe aos projetistas atentarem para as especificidades deste tipo de construção, pois muitas das sugestões das normas não podem ser utilizadas neste uso específico, por questões de segurança, como por exemplo, a colocação de extintores dentro de módulos de alojamentos, pois os mesmos podem ser utilizados como arma pelos detentos.

Para quem quer atuar nesta área, seja arquiteto ou engenheiro, as universidades brasileiras têm disciplinas voltadas a isso?
Não. Inclusive, tenho recebido diversos e-mails de alunos, pedindo ajuda para convencer os professores sobre a elaboração de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), porque alguns consideram que isto não é arquitetura. A este respeito, gostaria de enfatizar a gigantesca necessidade de soluções técnicas para o atendimento da população que vivencia o espaço prisional, que não se restringe apenas a criminosos. Temos agentes penais, profissionais de saúde, educação, psicologia, religiosos, visitantes, os quais não deveriam cumprir penas de reclusão, pois estão a serviço do estado, mas que, por estarem vivenciando ambientes insalubres, inadequados, fechados, opressores, também desenvolvem problemas de saúde. Além disso, a população presa tem uma maior propensão de contágio de tuberculose e hanseníase (conforme dados da coordenação de saúde prisional MS) e que precisa de ambientes que minimizem este contágio. É preciso ficar claro que o ambiente prisional impacta na saúde de milhares de pessoas, ainda que não estejam presas. Deste ponto de vista, defendo a necessidade e a urgência de pesquisa e ensino voltados para a compreensão deste espaço, pois ele precisa ser adequadamente projetado.

Sobre especialização, existem cursos na área de arquitetura prisional?
Não existe. Temos tentado implantar uma especialização a distância, com o corpo docente já preparado para tal desafio, porém a burocracia para a contratação dos professores e recursos para o curso têm dificultado enormemente esta capacitação de profissionais. Vale destacar que a realidade prisional não é facilmente compreendida e depende de aspectos sociais, culturais e psicológicos inerentes a cada lugar. Portanto, se faz necessária a realização de pesquisas e de transparência, para que consigamos transpor o obstáculo da opacidade prisional para projetarmos melhores espaços.

Em outros países, o profissional que quer se especializar nesta área pode optar por quais caminhos?
Existem escritórios cujo foco é, exclusivamente, projetar prisões. Porém, não há especializações em nível de pós-graduação. O que há, é a experiência adquirida com os projetos realizados.

O concreto predomina nestas construções?
Sim. Acredita-se que seja a especificação técnica que garante maior segurança. Porém, como eu disse anteriormente, a própria sustentação do concreto já propicia subversões, tais como fabricação de armas. As pesquisas relacionadas ao concreto têm avançado no sentido de maior resistência (temos concretos que chegam a apresentar 120 MPa de resistência) mas esta resistência a impacto não anula a capacidade criativa deste usuário, em especial. Além disso, dependendo das condições bioclimáticas locais, este não é um material adequado à manutenção do conforto bioclimático dos ambientes, o que pode impactar no aumento do estresse do usuário e, consequentemente, da violência no interior da cadeia.

Um presídio de segurança máxima, por exemplo, requer quantos m3 de concreto, pegando os modelos brasileiros?
Isto depende do projeto arquitetônico, mas eu não tenho dados suficientes. Não consigo responder a esta pergunta, porque não se consegue, facilmente, acesso aos projetos ou especificações técnicas dos projetos de unidades penais. O argumento - no meu entendimento bastante equivocado - é a segurança. Os gestores acreditam que a publicidade dos projetos prejudica a segurança das unidades. Infelizmente, este argumento é utilizado para inviabilizar pesquisas e avanços técnicos e tecnológicos nesta área.

A industrialização, através de pré-fabricados e pré-moldados, também está presente neste tipo de obra?
Está sim, e em curva ascendente. Temos um déficit gigantesco de vagas e a industrialização consegue diminuir o tempo de execução das obras, atendendo a urgência. Concretos de Alto Desempenho, autoadensáveis e impermeáveis têm sido utilizados para a pré-fabricação de celas, que são transportadas para as obras já montadas. Mas ainda temos no Brasil poucas empresas com este tipo de serviço. Nesse sentido, as universidades poderiam trabalhar para difundir esta tecnologia, bem como outras pesquisas relacionadas a esta área específica, dada a complexidade do tema, que considera ainda soluções técnicas e tecnológicas para demandas de respostas interdisciplinares. De uma maneira geral, a necessidade de compreensão do comportamento de materiais com maior grau de complexidade, dadas as demandas especiais deste tipo de construção, refletidas no desenvolvimento de novas técnicas de materiais construtivos, se configura como claro exemplo de necessidade de investimento tecnológico neste setor.

Entrevistada
Arquiteta Suzann Cordeiro, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Projetos Especiais da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e consultora na área de arquitetura penal, além de doutora em psicologia
Contatos
secfau.ufal@gmail.com
coordenacao.aurb@fau.ufal.br
www.suzanncordeiro.com

Crédito Foto: Divulgação/Construtora Porto Belo

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Regime que apressa licitações ameaça qualidade das obras

Medida Provisória permite contratação diferenciada, mas é criticada pelo setor da construção civil e por especialistas do direito público

Por: Altair Santos

O setor da construção civil observa com ressalvas o trâmite da medida provisória (MP 630/13) que institui o Regime Diferenciado de Contratação (RDC) e dia 9 de abril de 2014 passou pela Câmara Federal. O Senado tem até 3 de junho para votar a MP, que, caso seja aprovada, vai para a sanção da presidência da República. O RDC simplifica as contratações do poder público, mas é visto por organismos que unem engenheiros e arquitetos como um agravante que gera riscos de desvios nas contratações públicas. O argumento deles é de que “quem projeta, não constrói, quem constrói não faz projeto”. Em tese, a preocupação é de que, ao permitir a contratação pelo projeto básico ou anteprojeto, a MP 630/13 abra brecha para o superfaturamento, tornando como regra comum os chamados aditivos de obras.

Plenário da Câmara aprovou MP, que agora precisa passar pelo Senado e ser sancionada pela presidência

De acordo com o presidente do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) Sérgio Magalhães, licitações sem projeto completo têm reflexos na qualidade da obra. “Defendemos que as licitações sejam feitas com projeto completo. Sem isso, a qualidade das obras se torna questionável, propicia aditivos, aumento de preços e outros problemas já identificados pelo próprio governo”, afirma o dirigente. Além do IAB, são contrários ao RDC os seguintes organismos: Federação Nacional de Arquitetos e Urbanistas (FNA), Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (AsBEA), a Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura (ABEA), a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), CONFEA (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), Sindicato da Arquitetura e Engenharia (Sinaenco), a Associação Nacional dos Servidores Públicos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos do Poder Executivo Federal (ANSEAF).

Outro organismo que se pôs na linha de frente contra o RDC foi o SindusCon-SP.  Em recente boletim, intitulado "Risco de retrocesso", o organismo faz a seguinte alegação: "O RDC introduz mais incertezas. Retira a transparência do processo licitatório, ao não divulgar os valores de referência atribuídos pelo governo às obras. Ao permitir que a mesma empresa elabore o projeto executivo e o realize, levanta dúvidas sobre a qualidade da obra e abre a possibilidade de a concorrência ser dirigida, com a antecipação de informações a determinado licitante, que teria mais tempo para trabalhar o projeto."

Melhor preço
O RDC foi proposto pelo governo e aprovado pelo Legislativo, inicialmente, para acelerar as obras destinadas à realização da Copa do Mundo, da Copa das Confederações e dos Jogos Olímpicos de 2016. Posteriormente foi estendido a obras do programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Sistema Único de Saúde (SUS) e do sistema público de ensino. Com o projeto aprovado na Câmara, o regime foi estendido a todos os contratos de obras e serviços de engenharia de todos os órgãos da administração pública federal, estaduais e municipais. "Uma das modificações introduzidas pelo RDC é o julgamento da licitação primeiro pelo menor preço, para só depois proceder ao exame da habilitação técnica das concorrentes. Esta inversão do que preconiza a Lei de Licitações pode levar administradores públicos a desconsiderarem eventual ausência de qualificação técnica da empresa, o que no futuro levará à paralisação de obras", alerta boletim do SindusCon-SP.

Outro crítico do RDC é o especialista em direito público Jacoby Fernandes. Segundo ele, há a necessidade da proposta ser alterada para prever a qualificação do servidor público que irá operar o RDC. "Imagine uma nova lei extremamente complexa como é o RDC. As pessoas dizem: é muito fácil. Não, não é. Eu sou um especialista na área e afirmo que essa lei é uma lei difícil. Por exemplo, se uma empresa que começou uma obra em contratação integrada desiste de fazê-la, a lei diz: chama o segundo colocado. Mas o segundo colocado pode ter metodologia diferente, cobrar mais e estender o prazo da obra. E a lei não resolveu", diz.

Outro lado
A alegação do governo federal para acelerar a aprovação do RDC é de que, sem ele, não conseguirá encaminhar uma série de obras de infraestrutura que já dispõem de recursos, mas estão barradas pelos organismos fiscalizadores. De acordo com mensagem encaminhada ao Congresso, primeiramente a medida provisória permitirá investimento de R$ 7,3 bilhões no desenvolvimento da aviação regional, liberando R$ 1,7 bilhão, para 67 aeroportos da região norte; R$ 2,1 bilhões, para 64 aeroportos regionais do nordeste; R$ 924 milhões, para 31 aeroportos no centro-oeste; R$ 1,6 bilhão, para 65 aeroportos no sudeste, e R$ 994 milhões, param 43 aeroportos do sul.

Clique aqui e entenda o que é o Regime Diferenciado de Contratações:

Entrevistados
- Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) e SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo)
- Advogado  Jorge Ulisses Jacoby Fernandes, mestre em direito público, professor de direito administrativo, escritor, consultor, conferencista e palestrante

Contatos
comunicacao@iab.org.br
sindusconsp@sindusconsp.com.br
http://www.jacoby.pro.br/novo

Crédito Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Estoque de imóveis prontos cresce nas construtoras

Empresas fecharam 2013 com R$ 14,6 bilhões travados por falta de negociação e por impasse nas vendas das faixas 2 e 3 do Minha Casa Minha Vida

Por: Altair Santos

Puxado pelas quatro maiores construtoras do mercado - MRV Engenharia, Cyrela, Direcional Engenharia e Gafisa -, o estoque de imóveis fechou 2013 com um valor de R$ 14,6 bilhões. Para entender melhor, o setor considera imóvel em estoque aquele já construído ou colocado à venda na planta, mas que ainda não atraiu o interesse de um comprador no período máximo de três anos. Sob essa perspectiva, cerca de 46 mil unidades residenciais ficaram paradas no ano passado nas principais capitais brasileiras - 18 mil só na cidade de São Paulo.

Estoque de imóveis das principais construtoras terminou o ano passado em alta

Para especialistas, o nível do estoque atingido em 2013 representa uma espécie de fronteira entre a normalidade e a crise no setor. Há, no entanto, a apreensão de que o cenário econômico faça a construção civil ultrapassar esta linha. "O mercado imobiliário é muito sensível à estabilidade econômica. Quando os juros sobem, o mercado reage negativamente. E, hoje, é esta a situação do nosso país. Então as decisões de compromisso de longo prazo, como prestação da casa própria, tornam-se mais lentas ou até são adiadas. É o que está acontecendo, acarretando um incremento nos estoques de imóveis", diz Odair Senra, vice-presidente de Imobiliário do SindusCon-SP.

Um outro sinal que contribui para o aumento do estoque de imóveis é que os investidores estão migrando para outros meios, a fim de proteger seu dinheiro, em vez de correr para a compra de unidades na planta, para depois vender ou alugar. "Esse segmento estabilizou", reconhece Emílio Kallas, vice-presidente de Incorporação do Secovi-SP. "Nas grandes metrópoles, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, os investimentos estão mais comportados e adquiriram menor velocidade", completa Odair Senra.

Odair Senra: MCMV3 seria um impulso para o mercado voltar a reaquecer

Apesar de o estoque ter fechado 2013 no limite, o setor não crê que as construtoras baixem os preços. Se isso ocorrer, será exceção. "O que pode acontecer é algum caso isolado, de alguma empresa decidir acabar com os estoques de um produto não bem aceito e que, para ela fazer caixa, tentar uma liquidação. Mas de forma geral o custo dos imóveis está aumentando", entende Emílio Kallas.

Outra perspectiva do mercado é que o governo volte a estimular a construção civil, lançando uma terceira etapa do Minha Casa Minha Vida. "Os empresários que atuam neste segmento estão esperando do governo federal o anúncio do MCMV 3. Este programa não pode ter descontinuidade, pois o segmento não suportaria", alerta o dirigente do SindusCon-SP.

Já Emílio Kallas descarta haver sinais de bolha imobiliária. "Os economistas mais conscientes já perceberam que esta é uma teoria vaga que não tem nenhuma lógica ou razão de existir. Veja: custo dos imóveis subindo, pois tem mais impostos e terrenos mais caros. Então, não tem porque diminuir preço; segundo: a demanda está aquecida; terceiro: a inadimplência é baixíssima; quarto: quando se compra um apartamento, a média é que 35% do valor do apartamento seja quitado no ato da negociação, o que é uma âncora é muito forte; quinto, os bancos são extremamente seletivos para liberar financiamento", destaca.

Emílio Kallas: não há a menor possibilidade de uma bola imobiliária

Entrevistados
Engenheiro civil Odair Garcia Senra, presidente do conselho de administração da Gafisa S/A e vice-presidente de Imobiliário do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo)

Engenheiro civil Emílio Kallas, diretor-presidente da Kallas Engenharia Ltda e Kallas Incorporações e Construções S/A, e vice-presidente de Incorporação e Terrenos Urbanos do Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo)

Contatos
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Mineradores de areia tentam reinventar mercado

Produto, antes vendido por m³, agora é negociado por peso. Setor também ampliou preocupação ambiental e materiais alternativos tentam suprir demanda

Por: Altair Santos

Apesar de ser um dos que mais cresceram com o fortalecimento da construção civil, o setor de agregados, como areia e pedra brita, não está seguro. Falta de planejamento governamental e restrições ambientais estão empurrando a extração para cada vez mais longe dos grandes centros consumidores do país, o que tende a encarecer o produto.

Mineradoras têm procurado minimizar problemas ambientais e consideram mais justo vender areia por peso

Para se reinventar, o setor busca materiais alternativos. Entre eles, a areia de rocha ou a areia de resíduos da construção civil. Como em algumas regiões, principalmente as de Porto Alegre, Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro, já existe pressão por demanda, a ANEPAC (Associação Nacional das Entidades de Produtores de Agregados para a Construção Civil) entende que os organismos públicos deveriam ter uma política para a extração da areia, o que não ocorre. É o que explica o presidente do organismo, Fernando Mendes Valverde, na entrevista a seguir. Confira:

Como está atualmente a questão da produção de areia para a construção civil, fazendo uma abordagem de região por região no país?
Impossível avaliar região por região, devido à diversificação dos mercados e à enorme gama de produtores. De uma maneira geral, o setor de areia para construção civil teve uma retomada de crescimento a partir de 2004, com aumento consistente até o presente.  Novas obras públicas, aumento da renda e financiamento habitacional foram os principais fatores para a elevação do consumo. Atualmente, a demanda está alta face às obras de infraestrutura e habitacionais, por serem indispensáveis ao crescimento econômico do país. Podemos dizer que o setor vive um clima de bom desempenho devido aos investimentos públicos e privados em infraestrutura, embalados pelos programas governamentais e pelo crescimento da demanda habitacional, facilitado pelo crescimento de renda, o que proporciona crédito acessível para grande parte da população.

Existe risco de faltar esse agregado importante para a fabricação de concreto, sobretudo nas regiões que mais a consomem, como a sudeste, por exemplo?
Problemas de abastecimento de areia no Brasil, de momento, ainda não existem. Há pressões de demanda em alguns mercados expressivos, como ocorreu nas regiões metropolitanas de Porto Alegre, Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro. No entanto, em um cenário de longo prazo, com a persistência das condições atuais, poderá ocorrer agravamento de suprimento de areia em regiões de alta demanda pela ausência de mecanismos públicos de planejamento da atividade. Esses mecanismos correspondem, na maioria das vezes, à inclusão da mineração de areia no ordenamento territorial consolidados nos planos diretores municipais.

Fernando Valverde, da ANEPAC: planejamento da atividade e ordenamento territorial é estratégico para o setor e para o governo

Nos últimos anos, temos percebido o aumento na utilização de areia de brita, principalmente nos grandes centros urbanos. Há como quantificar em que volume esse material é usado?
De fato, tem-se ampliado nos últimos dez anos o uso de areia de brita ou areia de rocha, anteriormente designada por areia artificial ou areia manufaturada. É bom não confundir com o grupo denominado de areia industrial, que são as areias para a fabricação de vidro, fundição e outras finalidades para uso na indústria. Em termos quantitativos, estimamos que a demanda anual por areia de brita seja da ordem de vinte milhões de toneladas.

Aliás, qual é a diferença entre a areia de brita e a areia natural em termos qualitativos?
Areia de brita é resultado do beneficiamento do pó de pedra, com melhoria do formato - de bordas cortantes para a forma arredondada. Já as curvas granulométricas da areia de brita e da areia natural apresentam-se diferentes, sendo que ocorre uma porcentagem maior de ultrafinos (abaixo de 200#) na areia de brita. A dificuldade tecnológica existente é extrair economicamente os ultrafinos, seja em processos via seca ou via úmida.

Soluções como areia de brita e substituição da areia por resíduos de demolição são viáveis ou apenas paliativos?
Areia de brita e a areia natural, em termos qualitativos, se equivalem, sendo que as necessidades técnicas e econômicas determinadas pelo mercado definem qual deve ser a escolha. Já não é o caso da areia reciclada de demolição. Esta é normalmente contaminada com material cerâmico, plásticos etc, o que impede sua utilização em alguns usos, principalmente na preparação do concreto estrutural. Existem projetos acadêmicos que indicam possibilidade de utilização, mas cuja viabilidade econômica não permite sua utilização comercial.

A extração da areia e os conflitos ambientais que ela gera são o maior desafio do setor para conseguir com que a produção aumente?
Falta de planejamento é o grande problema do setor. O setor vem há muito tempo afirmando a necessidade de planejamento adequado para poder cumprir sua função social. Nosso setor, por atuar em ambiente urbano, disputa espaço com vários tipos de uso de solo, o que não ocorre na maioria das vezes com outros produtores minerais. Por este fato, o custo de transporte é fator limitante para nós. Não podemos estar longe dos consumidores. Há um discurso daqueles que se opõem à atividade, de que areia ocorre em qualquer lugar. Realmente, areia é abundante, mas não dá para pegar areia em Copacabana e levar para Belo Horizonte, nem de Santos para São Paulo, por exemplo.

Como desafio, por outro lado, seria o de reservar e proteger áreas em extração e potenciais para serem exploradas. Devemos reconhecer que os governos (no sentido genérico) estão ainda muito atrasados nesta questão. Em princípio, existe hoje o reconhecimento de que a mineração de areia é uma atividade importante para a melhoria do padrão de vida dos habitantes das cidades. Entretanto, institucionalmente, muito pouco foi feito. Ainda persiste entre os administradores públicos a noção distorcida de que os recursos de areia para a construção civil são abundantes. Prevalece o pensamento de que um porto de areia não passa de um estorvo. Quanto mais longe estiver dos olhos dos cidadãos, melhor. Se o problema deve existir, que seja com o vizinho, e por aí afora. Ao contrário de outros países, não temos levantamentos sistemáticos de recursos de areia, nem se planeja executá-los. Não há preocupação em solucionar os entraves legais e burocráticos à atividade. Em estados como Rio de Janeiro e São Paulo, o problema se tornou grave na década de 1970 e muito pouco foi feito para saná-lo.

Um outro problema muito sério é a questão dos reciclados. É importante ressaltar que o problema dos resíduos da construção civil é um problema da sociedade, com reflexos muito fortes nos municípios. Como todo material produzido é necessário dar uma destinação final para se fechar o ciclo, o setor está bastante preocupado, pois a solução passa por uma legislação que ainda não está clara, especialmente no que se refere à coleta e classificação dos resíduos.

Como solucionar esse problema a nível governamental?
A produção de areia nos principais mercados não atende à demanda e ela tem de ser trazida de outras regiões. Muitos municípios têm criado leis para impedir a instalação de novas minas e dificultando o funcionamento daquelas em operação. Há uma noção errada de que areia pode ser encontrada em qualquer lugar e ninguém aceita que exista uma extração no “seu quintal” (de NIMBY – Not In My Back Yard), como não aceitam feiras livres, cemitérios, ruas de lazer, lixões etc. Tudo isso encarece o produto, que tem de ser buscado cada vez mais longe. Portanto, o planejamento da atividade ou ordenamento territorial se afigura como estratégico para o setor e para o governo. Paralelamente, a racionalização do licenciamento ambiental deve urgentemente ser solucionado. Há uma enorme dificuldade para a obtenção das licenças municipais e ambientais. Quando se consegue, o tempo para a renovação não condiz com o volume de investimentos realizados.

Em resumo, o grande problema que existe hoje é a convivência com o entorno das minerações de areia causada pela falta de planejamento dos governos, especialmente o municipal, que é o responsável pelo uso do solo. A solução passa então pelos planos diretores municipais. Estes devem contemplar a mineração como atividade de uso e ocupação do solo como as demais atividades econômicas.

Há uma estatística de quanto é consumido de areia em todo o país, por mês ou por ano?
Segundo a Anepac/Sindipedras-SP, em 2013 a produção de agregados (areia e pedra britada somados) alcançaram a ordem de 770 milhões de toneladas (456 milhões de toneladas de areia e 314 milhões de toneladas de brita) ou seja, um crescimento de 7,59% em relação a 2012. Deve-se levar em conta que o crescimento do PIB no mesmo ano foi de 2,3%.

O Brasil importa ou já cogitou importar areia?
A areia é um produto mineral que deve ser extraído o mais próximo de seu ponto de consumo. Areia é relativamente abundante e barata. Custa de R$ 15,00 a R$ 20,00 a tonelada, para ser retirada dos portos de areia. Então, não se pode falar em importação de outros países. Trazer, por exemplo, areia do Rio Paraná para a região metropolitana de São Paulo é inviável economicamente. São 800 quilômetros de transporte. O mesmo pode ser dito do Rio Grande ou do Paranapanema. São grandes rios que estão nas divisas estaduais. Imagine então trazer de locais ainda mais longes. O limite de transporte por caminhões em países desenvolvidos não passa de 50 quilômetros. Em São Paulo, se transporta a mais de 100 quilômetros do seu ponto de extração. A areia passa de R$ 15,00 a R$ 20,00 para mais de R$ 60,00 e R$ 70,00 a tonelada, só por causa do transporte.

No Rio Grande do Sul, salvo engano, cogitou-se até vender areia por quilo por causa do risco de escassez do agregado. Isso, de vender areia por quilo, é uma possibilidade real?
A venda da areia por quilo ou ensacada é apenas uma conveniência de comercialização para, por exemplo, não deixar a areia empilhada, permitindo o acúmulo de umidade, e para liberação de vias de transporte interno.

O senhor sabe se há desenvolvimento de pesquisas, por exemplo, que permitem no futuro dessalinizar a areia do mar para que ela possa ser usada na construção civil?
Existem países, como França, Inglaterra e Japão, que utilizam quantidades consideráveis, devido à absoluta carência de produtos naturais. No Brasil, existem pesquisas e iniciativas neste sentido, desenvolvidas principalmente por técnicos do Departamento Nacional de Produção Mineral da Superintendência de Fortaleza, no Ceará. Porém, ainda incipientes, pois necessitam de viabilidade técnico-econômica para o aproveitamento além do que os depósitos no continente serem abundantes.

Entrevistado
Geólogo Fernando Mendes Valverde, especializado em economia mineral pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro e pela Mc Gill University do Canadá. Atualmente, é presidente-executivo da ANEPAC (Associação Nacional das Entidades de Produtores de Agregados para Construção Civil).
Contato: fernando.valverde@anepac.org.br

Créditos Fotos: Divulgação/ANEPAC

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Obras de infraestrutura estimulam setor de seguro

Know-how das seguradoras ajuda a mapear riscos das construções de grande porte, principalmente as envolvidas em licitações e realizadas em consórcio

Por: Altair Santos

Os altos investimentos em obras de infraestrutura no país têm feito o setor de seguros não apenas crescer, mas adotar novos modelos de relacionamento com a engenharia. As seguradoras estão indo além do que oferecer prêmios que estimulem as construtoras a proteger suas obras. Elas hoje se tornaram parceiras das etapas de construção, ofertando parceria na gestão de risco do empreendimento.

Carlos Almeida: gestão de risco dá maior segurança para tomar decisões durante a obra

Ao serem contratadas para segurar uma construção, as seguradoras passaram a utilizar uma ferramenta chamada de matriz de risco. A função é mapear as ameaças a que a obra está sujeita e propor tratamentos. “Sem conhecer e identificar os principais riscos, as soluções aplicadas podem conter falhas ou estar inadequadas para a exposição”, explica Carlos Almeida, diretor da Universal RE Seguros, e que recentemente palestrou no Sobratema Workshop 2014.

Segundo Almeida, a matriz de risco está diretamente relacionada com cumprimento de orçamento e cronograma de uma obra. "Ela traz informações que dão maior segurança para tomar decisões, pois minimiza o risco acidental, súbito e imprevisto. Na maioria das vezes, o que é mapeado é o elemento humano, mais do que o elemento físico. Já existe a convicção de que investir em elemento humano reduz a gestão de risco", afirma o especialista, citando o monotrilho em construção em São Paulo-SP como exemplo de uma obra que implantou a matriz de risco.

De acordo com Carlos Almeida, há uma tendência ainda maior de que a gestão de risco seja cada vez mais abrangente por parte das seguradoras. O motivo é a probabilidade de a lei 8.666, que define o Regime Diferenciado de Contratação (RDC) passar a nortear todas as licitações públicas. Na essência, a lei, que foi criada para acelerar as obras dos estádios e de mobilidade urbana para a Copa do Mundo, tira do contratante - no caso o governo - o peso de assumir o risco da obra e transfere integralmente para a construtora.

Monotrilho em construção em São Paulo: obra em que o seguro ajudou a melhorar o desempenho do canteiro de obras

Mais produtividade
Outro fator que acelera a busca por esse modelo de seguro é o posicionamento das construtoras brasileiras em alcançarem o máximo da produtividade e competitividade em suas obras. “Sem conhecer e identificar os principais riscos, as soluções aplicadas podem conter falhas ou estar inadequadas para a exposição”, explica Almeida, completando que a correta elaboração da matriz de riscos vai assegurar que a obra tenha andamento previsível, seguro e sem sobressaltos. “Surpresas desagradáveis podem ser evitadas.”

No entender do especialista, essa preocupação das empresas ligadas à construção civil em apresentar melhor performance está ligada à expectativa do mercado, que projeta o investimento de R$ 1,19 trilhão em obras de infraestrutura até 2018, sobretudo em segmentos como óleo e gás, transporte, energia e saneamento. Isso faz o mercado de seguros de risco de engenharia viver um momento de aquecimento. Entre 2010 e 2011, a carteira mais que dobrou, indo de R$ 460 milhões a R$ 912 milhões. Estabilizou em 2012 e 2013, mas o setor avalia que avançará fortemente nos próximos quatro anos.

Entrevistado
Engenheiro mecânico Carlos Eduardo Almeida, graduado pela Brigham Young University-EUA e atualmente diretor da Universal RE Corretores de Resseguro
Contato: carlos.almeida@universalre.com.br

Crédito Foto: Divulgação/SPTrans/Cia. Cimento Itambé

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330