CBIC lança guia para manuais de manutenção
Material serve de orientação às construtoras e foi criado porque a Norma de Desempenho obriga o fornecimento de instruções sobre como preservar obras
Por: Altair Santos
A Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575) acrescentou, entre tantas, uma outra obrigação aos construtores: a de fornecer um manual de manutenção aos usuários das edificações. Elaborar o documento, no entanto, requer o cumprimento de alguns requisitos. Como seguir o que determinam outras duas normas técnicas: a de Manutenção de Edificações (NBR 5674) e a de Elaboração de Manuais de Uso, Operação e Manutenção (NBR 14037).
Para auxiliar as empresas a formular seus manuais, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) lançou um guia com dicas e observações. "É preciso tomar alguns cuidados, como na maneira de apresentação, na forma de entrega, na observação às características de cada região e no tipo de empreendimento, de modo que as regras sejam claras e didáticas”, explica a engenheira civil e coordenadora técnica do Comitê de Meio Ambiente do Sindicato da Indústria da Construção de São Paulo (Comasp) e da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (Comat), Lílian Sarrouf.
A publicação mostra os cuidados que se deve ter na elaboração da descrição, das garantias, dos cuidados de uso e manutenção em exatos 52 tipos de sistemas construtivos. Conforme Lílian, existem pelo menos outros 50 que ficaram de fora, mas os integrantes da comissão responsável pela elaboração do guia tentaram contemplar os tipos mais variados possíveis, de diferentes padrões, incluindo, entre eles, as moradias do Minha Casa Minha Vida. “O guia tem abrangência nacional e alinha conceituação, conduta e posicionamento das empresas no país”, diz Lílian.
Segundo a autora do manual, cada programa de manutenção é único e o construtor precisa conversar com seus fornecedores para estabelecer os prazos mais adequados. “Ao entregar os manuais, a construtora ressalta que a durabilidade de uma edificação está ligada não só ao projeto e à execução, mas também ao correto uso e manutenção, sobretudo a preventiva”, alerta Lílian Sarrouf, que fez apresentação do guia na 86ª edição do Enic (Encontro Nacional da Indústria da Construção), ocorrida em maio, em Goiânia-GO.
Apoio dos SindusCons
Mais do que uma descrição, o Guia Nacional para Elaboração do Manual de Uso, Operação e Manutenção de Edifícios pretende ser informativo e servir de fundamento não só para construtoras e incorporadoras, mas também para usuários comuns, em situações de reforma. Por isso, Lílian Sarrouf reforça a função de entidades, como os SindusCons, para replicar o material em cada Estado e torná-lo acessível ao público. O contexto atual, segundo ela, exige cada vez mais das empresas. "Se por um lado as construtoras estão inovando e construindo edifícios mais complexos, por outro, os clientes estão cada vez mais informados e por dentro das regras do setor", destaca.
Clique aqui para saber mais sobre o Guia Nacional para Elaboração do Manual de Uso, Operação e Manutenção de Edifícios
Entrevistado
Engenheira civil Lílian Sarrouf, consultora em Sustentabilidade na Construção Civil e consultora em Gestão Empresarial, Qualidade e Meio Ambiente
Contato
kcilene@sindusconsp.com.br
Crédito Foto: Divulgação/ENIC
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Sebrae prioriza terceirizados da construção civil
Organismo reserva R$ 1 bilhão para qualificar pequenos empreiteiros que prestam serviço às megaconstrutoras brasileiras
Por: Altair Santos
O superintendente nacional do Sebrae (Serviço Brasileiro de Aprimoramento de Empresas) Renato Perlingeiro Júnior anunciou recentemente no ENINC (Encontro Nacional para Inovação na Construção Civil) que uma das prioridades do organismo em 2014 é viabilizar programas voltados à construção civil. Entre os objetivos, está o de aprimorar empresas que atuam como terceirizadas em obras de responsabilidade de grandes empreiteiras. O foco estará em treinamento de mão de obra, atuação de acordo com exigências de certificações sustentáveis, reequipamento de micro e pequenas empresas e aproximação destes empreendedores com as chamadas grandes empreiteiras, através de um banco de parcerias. "O Sebrae quer intermediar a relação entre grandes e pequenas empresas, através de um programa ganha-ganha, onde as grandes mantêm seu padrão de qualidade e as pequenas ganham em novos negócios", diz Perlingeiro.
Segundo o superintendente do Sebrae, o organismo tem reservado R$ 1 bilhão para implantar uma agenda de gestão junto às micro e pequenas empresas da construção civil. “A meta é levar a esses empreendedores conhecimento de planejamento, industrialização, tecnologia, sustentabilidade, desempenho e inovação, além de replicar boas práticas. Afinal, estamos falando de um setor que precisa se modernizar até para ampliar sua fatia no PIB (Produto Interno Bruto)”, afirma Renato Perlingeiro. Segundo números de 2013, a cadeia produtiva da construção civil ocupa uma fatia de 10% de tudo que é produzido no país e gerou R$ 315 bilhões no ano passado. Dentro do segmento, 65% destes recursos foram arrecadados pelas construtoras, 17% pela indústria de materiais, 12% pelo comércio de materiais e 6% pelos demais elos da cadeia. “Melhorando o encadeamento produtivo dá para melhorar todos esses números”, estima Perlingeiro.
Turnover
O Sebrae vem diagnosticando os desafios da construção civil, principalmente na relação entre terceirizados e megaconstrutoras. O organismo pesquisa junto a empresas como Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez os gargalos mais relevantes. Segundo essas empreiteiras, os terceirizados precisam melhorar significativamente a qualidade da mão de obra, a entrega no prazo combinado e a capacidade de atuar em determinados nichos de mercado. “Uma das reivindicações que mais se ouve é que as empresas precisam aprender a atuar com certificações como LEED, AQUA e outros selos. Não só aprender a construir com base nestes conceitos, mas saber operar a manutenção de edifícios verdes, para manter os padrões das certificações”, comenta Renato Perlingeiro Júnior. De acordo com o superintendente do Sebrae, atualmente as grandes construtoras têm 84 projetos enquadrados no perfil de construções sustentáveis e que exigem qualificação de terceirizados.
Outro ponto bastante ressaltado pelas grandes construtoras, em relação aos terceirizados, refere-se ao turnover (alta taxa de demissões e contratações) e suas consequências - entre elas, a incapacidade técnica da mão de obra contratada. "O combate a essas precariedades é que reforça o encadeamento produtivo através de programas que pretendemos implantar. Dessa forma toda a cadeia ganha. O Sebrae auxilia as pequenas empresas a fechar parceiras e ajuda a desenvolver uma maior eficiência. Até por que, com as concessões que estão sendo colocadas, estima-se um volume de negócios de R$ 3 bilhões para os terceirizados, através de contratos fechados pelas grandes construtoras", reforça Perlingeiro.
Entrevistado
Renato Perlingeiro Júnior, superintendente nacional do Sebrae.
Contato
renato.perlingeiro@sebrae.com.br
Crédito Foto: Divulgação/Fiep
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
PR comprova viabilidade de construções sustentáveis
Projetos de uma fábrica, de uma escola e de um prédio de escritórios tiveram seus custos reduzidos ao seguir padrões da certificação LEED
Por: Altair Santos
Três edificações erguidas no Paraná mostram que construções sustentáveis já podem custar menos do que obras que seguem padrões convencionais. A fábrica da Spaipa, em Maringá - credenciada para produzir bebidas da multinacional Coca-Cola -, o Colégio Internacional Positivo, em Curitiba, e o edifício de escritórios Iguaçu 2820, também na capital paranaense, obtiveram a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) sem onerar seus orçamentos. “O curioso é que essas obras decidiram partir para a certificação LEED depois de o projeto estar pronto e de o construtor já ter sido contratado. Isso revela que o green building é uma tecnologia que está chegando para mudar parâmetros, e que é possível fazer mais, melhor, e com menos”, destaca o consultor em edificações sustentáveis, Guido Petinelli.
No caso da fábrica de refrigerantes, quando se propôs construir dentro dos padrões LEED, a motivação principal do cliente era um ganho com marketing. Porém, a entrada em operação da unidade, em agosto de 2012, revelou que as conquistas reais tornaram-se muito mais relevantes. “A indústria hoje funciona com 23% de economia de energia e 75% de economia de água. Está entre os prédios com certificação LEED que mais poupa energia no mundo. É a fábrica mais econômica do Paraná e reduziu a conta de luz do cliente em um milhão de reais por ano. A energia preservada equivale a abastecer 2.700 residências anualmente”, afirma Guido Petinelli, que relatou os cases dos quais participou em recente palestra no ENINC 2014 (Encontro Nacional para Inovação na Construção Civil) realizado em Curitiba.
No Colégio Positivo Internacional, priorizou-se ventilação e iluminação naturais, além da implantação de um sistema inovador de aquecimento do edifício. Tubulações de água abaixo do piso permitem o aquecimento das salas em dias de frio. A água é coletada da chuva, armazenada em reservatórios e aquecida a gás. Através de canos de cobre instalados por dentro das estruturas, a água quente percorre o prédio e o aquece em dias frios. “O projeto do colégio permite que a redução do consumo de energia elétrica seja de 56% e o de água de 87%. Nesta obra também houve a conscientização dos fornecedores de adequar seus preços a uma nova realidade. Aliás, as certificações também vieram para cumprir esse papel: colocar a cadeia dentro de uma realidade, puxando as tecnologias para o preço real”, comenta Petinelli.
Padrão sustentável
O consultor lembra que o segredo das construções sustentáveis- projetadas de acordo com o que pedem as certificações - é que elas criam uma linguagem única para arquitetos, engenheiros, construtores e fornecedores de material. “Isso é que gera economia”, avalia, citando que nos Estados Unidos o mercado já estabeleceu como padrão que o edifício sustentável deve abranger todas as obras. “É uma tendência mundial e que chegará aqui no Brasil também”, prevê, apostando que uma obra puxa outra. “Se uma empresa faz uma fábrica prata, a concorrente vai querer uma com selo ouro e a outra vai querer fazer uma com selo platina”, finaliza Guido Petinelli. Atualmente, o Brasil tem 149 edifícios com o selo LEED e cerca de 800 empreendimentos buscando a certificação.
Entrevistado
Arquiteto Guido Petinelli, um dos fundadores do Green Building Council Brasil, e vice-presidente da empresa canadense iLiv, especializada em desenvolvimento de negócios sustentáveis
Contato
www.petinelli.com
Créditos Fotos: Divulgação/Emisa/Colégio Positivo/Laguna
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Economia estável é o alicerce da construção (Podcast)
Jornalista Nildo Carlos Oliveira, um dos maiores especialistas do setor, analisa momento do país para engenharia nacional
Por: Altair Santos
Entrevistado
Jornalista Nildo Carlos Oliveira, consultor editorial da revista O Empreiteiro e autor dos livros 100 Anos de Engenharia Brasileira e A construção no espelho.
Contato
nildo@revistaoempreiteiro.com.br
Crédito Foto: Divulgação/O Empreiteiro
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Clique no player abaixo e ouça a entrevista na íntegra.
Arenas brasileiras encantam arquitetura mundial
Profissionais elogiam inovações empregadas nas construções dos estádios e se rendem ao design das obras erguidas para sediar jogos da Copa
Por: Altair Santos
Dados divulgados pelo governo federal mostram que a Copa do Mundo teve um custo de R$ 25,6 bilhões, dos quais R$ 21,4 bilhões bancados pelos cofres públicos. Deste valor, R$ 7,09 bilhões foram para as construções e reformas dos 12 estádios que sediaram jogos do mundial. Apesar dos gastos considerados excessivos, houve um legado: a arquitetura das arenas. Boa parte delas arrancou elogios de renomados arquitetos estrangeiros, como mostrou recentemente o site norte-americano especializado em negócios International Business Times. Profissionais norte-americanos e europeus foram unânimes: o Brasil conseguiu construir arenas que unem conforto, sustentabilidade e arquiteturas inovadoras.
Entre os elogios, destacaram as arenas do Amazonas, do Rio Grande do Norte e de Cuiabá - justamente estádios que depois da Copa podem ficar ociosos. "Eles conseguiram fugir do lugar comum que tem sido visto no design de estádios pelo mundo afora. Além disso, são construções sustentáveis, que aproveitam a ventilação natural para promover o fluxo de ar dentro das instalações", elogia Chris Lamberth, diretor de desenvolvimento do escritório 360 Architecture, uma empresa de design norte-americana sediada em Kansas City. "É muito bom ver diferentes arquitetos interpretarem diferentes elementos de design. Você vê expressões singulares nos projetos destes edifícios", completa Lamberth.
Concreto, aço e alumínio
Para David Lizarraga, designer e sócio sênior da Populous Architects - outro escritório com sede nos Estados Unidos -, o desafio do Brasil será manter os estádios após a Copa do Mundo. "As pessoas no Brasil não estão acostumadas a isso. Os estádios estão agora se tornando destinos para entretenimento. Não era o caso no passado. As pessoas iam para o jogo e saiam logo depois. Agora, é possível ir duas horas antes do jogo e permanecer no estádio duas horas depois. Mas para que isso se sustente, é preciso saber manter as estruturas depois que a Copa for embora", frisa. Lizarraga comparou as inovações arquitetônicas às obtidas pela China nos equipamentos que sediaram os jogos olímpicos de Pequim em 2008. "Tanto na China como no Brasil, houve a coragem de investir em novos materiais para compor estruturas", diz.
Mas o concreto não foi esquecido. Assim como o Estádio das Dunas, em Natal-RN, com suas "pétalas maciças de alumínio", e a Arena da Amazônia, em Manaus, com suas estruturas de aço que lembram um cesto de vime, o Estádio Nacional de Brasília, com suas múltiplas colunas de concreto aparente, também é destacado pelos especialistas. "Ele remonta aos desenhos do famoso arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer. É uma espécie de herança de Brasília", avalia Leonardo Finotti, que veio especialmente ao Brasil para ver de perto as construções erguidas para a Copa. "Eu estava muito pessimista sobre os estádios. Mas, depois de vê-los, estou feliz", confessa, fazendo coro com profissionais internacionais da arquitetura e do design, que decretam: os novos estádios brasileiros ganharam a Copa.
Leia aqui o artigo original.
Créditos Fotos: Canindé Soares/Secopa-RN/Divulgação/Secopa-AM/Secopa-DF
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Senado atende apelo do setor construtivo e barra RDC
Regime Diferenciado de Contratação está limitado à construção de presídios. Próximo passo é conseguir modernizar e qualificar a Lei das Licitações
Por: Altair Santos
Criado na forma de medida provisória, o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) surgiu em 2011 para dar celeridade às obras para a Copa do Mundo. Numa tentativa de estender o RDC para todas as obras públicas de âmbito federal, estadual e municipal, o Palácio do Planalto enviou no começo de 2014 uma outra medida provisória - a MP 630 - e gerou desconforto ao setor da construção civil. Organismos como SindusCons, Confea, Sinaenco e CAU-BR se posicionaram contra o RDC por ele dar margem a empreendimentos sem qualidade.
Para o vice-presidente do Sinaenco, João Alberto Viol, ao simplificar as regras de licitação, o RDC cria problemas nas etapas seguintes das obras. “O governo ganha tempo na concorrência, mas não sabe direito o que contratou. Se o projeto contratado pelo menor preço for malfeito, a obra certamente vai atrasar. No fim, o poder público vai pagar mais, porque os trabalhos, tanto o projeto quanto a própria execução da obra, terão de ser refeitos”, critica.
Assessor para assuntos institucionais do CAU-BR, o arquiteto Gilson Paranhos diz que o RDC trouxe outro agravante. Segundo ele, o regime emergencial abre brechas para superfaturamentos ao permitir que, no caso de obras licitadas apenas com base nos anteprojetos (esboço de projetos) as próprias construtoras encarreguem-se da conclusão dos projetos. “Isso traz um conflito de interesse, porque as construtoras têm preocupações distintas de quem contratou a obra”, adverte.
Sensível aos alertas dados pelo setor da construção civil, o Senado Federal rejeitou, no final de maio de 2014, a MP 630 e manteve o Regime Diferenciado de Contratações apenas para obras e serviços de engenharia relacionados à construção, ampliação ou reforma de presídios e unidades de internação de adolescentes infratores. Mas a discussão não para por aí. Foi transferida para os debates em torno da reforma da Lei Federal 8.666, mais conhecida como Lei das Licitações. A reivindicação dos organismos de engenharia e arquitetura é que prevaleça a contratação pelo projeto executivo da obra.
Critério técnico
Designada como relatora do texto que reforma a Lei 8.666, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) mostra-se favorável à qualificação das obras e reconhece que equívocos devem ser corrigidos. "O Fiscobras de 2012, relatório de fiscalização de obras elaborado pelo TCU, indicou que 45% das obras investigadas apontaram projetos deficientes ou desatualizados e em 41,5% houve apontamento de sobrepreço ou superfaturamento. Portanto, tratar corretamente a conduta para a confecção de projetos é tratar os procedimentos com melhor planejamento e buscar a aquisição do projeto tecnicamente mais bem elaborado. Deve contribuir nesse sentido a simples mudança do conceito de projeto básico para projeto completo”, cita em seu relatório.
Kátia Abreu avalia que as mudanças propostas na reforma da Lei das Licitações, através de seu relatório, tendem a mudar o viés da contratação de obras públicas, priorizando o critério técnico. "Foi importante resgatar a qualidade dos projetos, pois a grande reclamação dos órgãos de controle refere-se à ineficiência destes projetos. Este foi um resgate fundamental. Optar pela qualidade dos projetos tira aquela coisa de política, de que tudo tem que ser feito pelo menor preço. Às vezes, o mais barato não é o mais econômico para a administração pública", diz.
Clique aqui e confira a íntegra do relatório que altera a Lei Federal 8.666.
Entrevistados
- Senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) relatora da reforma da lei federal 8.666 (Lei das Licitações)
- Engenheiro civil João Alberto Viol, vice-presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco)
- Arquiteto Gilson Paranhos, assessor para assuntos institucionais do Conselho de Arquitetura e Urbanisno (CAU-BR)
Contato
katia.abreu@senadora.gov.br
sinaenco@sinaenco.com.br
comunicacao@caubr.org.br
Crédito Foto: Wenderson Araújo/Senado Federal
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Construção civil também precisa de uma "Embrapa"
Presidente da CBIC cobra investimento federal em desenvolvimento tecnológico do setor, como já ocorre há quatro décadas com a agropecuária
Por: Altair Santos
Para o novo presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) José Carlos Martins, a construção civil brasileira precisa de um programa para desenvolver tecnologias e tornar-se mais competitiva. Ele cita como exemplo o salto dado pela agricultura e pela pecuária, quando o governo federal criou a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em 1973. "Por que ficamos para trás no aspecto tecnológico? Existem dois pontos básicos para esta resposta: dinheiro barato e continuidade de programas. Ninguém vai investir para amanhã desmobilizar sua equipe ou devolver a máquina que comprou. Por isso, a construção civil precisa de um grande programa nacional para a construção civil, nos moldes do que foi feito em cima da agricultura. A construção precisa de um organismo similar à Embrapa. O governo federal precisa entender que é importante investir no nosso setor", destacou.
Vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a Embrapa foi criada para desenvolver um modelo nacional para o setor. A partir dela, a agropecuária brasileira tornou-se uma das mais eficientes e sustentáveis do planeta. Incorporou uma larga área de terras degradadas dos cerrados aos sistemas produtivos e fez da região Centro-Oeste a responsável por quase 50% da produção de grãos do país. A Embrapa também possibilitou quadruplicar a oferta de carne bovina e suína e ampliou em 22 vezes a oferta de frango. Essas são algumas das conquistas que tiraram o país da condição de importador de alimentos básicos para a condição de um dos maiores produtores e exportadores mundiais.
José Carlos Martins, que a partir de 1º de julho de 2014 substitui Paulo Safady Simão na presidência da CBIC, usou a Embrapa como exemplo em recente palestra no Encontro Nacional para Inovação na Construção Civil (ENINC), que aconteceu em Curitiba. Ele também comentou, em tom crítico, o fato de o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) não criar linhas de crédito para pequenos construtores. "As linhas de crédito do BNDES começam a partir de R$ 10 milhões. Mas há pequenas construtoras que não conseguem captar esse dinheiro. Precisaria de linhas de crédito mais baratas. Mesmo assim, a construção civil cresceu muito em dez anos. Saltamos de um milhão para 3,5 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Saímos de um PIB do setor de R$ 2,3 bilhões para R$ 120 bilhões. Mas queremos continuar crescendo mais, e isso exige um reposicionamento e uma visibilidade maior", destaca.
Estímulo à inovação
Com mandato até 2017, José Carlos Martins assegurou que irá estimular a inovação na construção civil nacional. "Nós da CBIC, do Sinaenco, da Abramat e da Anamaco, que representamos boa parcela do setor, temos que nos perguntar constantemente: o que queremos como construção civil?", questiona. Para mostrar a filosofia que irá seguir, Martins assegurou estímulo a projetos que já funcionam na CBIC, com o Programa de Inovação Tecnológica (PIT), coordenado por Raquel Naves Blumenschein. O PIT procura atender ao Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) e às exigências e critérios de certificações ambientais e de construção sustentável, em conformidade com determinações do ministério do Meio Ambiente. Uma de suas metas é proporcionar obras com menor consumo de água, de energia e de geração de resíduos sólidos.
Entrevistado
Engenheiro civil José Carlos Martins, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção)
Contato
coordenacao@cbic.org.br
Crédito Foto: Divulgação/Fiep
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
BRT é futuro, metrô é passado, afirma Jaime Lerner
Arquiteto e urbanista, que há 40 anos implantou o Bus Rapid Transit em Curitiba, avalia que política nacional de mobilidade urbana está equivocada
Por: Altair Santos
Arquiteto, ex-prefeito de Curitiba por três vezes e governador do Paraná por duas vezes, além de criador do sistema que ficou mundialmente conhecido como BRT (Bus Rapid Transit), Jaime Lerner avalia que a mobilidade urbana no Brasil encontrará sua eficácia no sistema de ônibus que percorre canaletas exclusivas, e não no metrô. Em recente palestra na OAB-PR (Ordem dos Advogados do Brasil) Lerner disse não ter nada "contra o metrô", mas defende que o programa do governo federal, o qual pretende investir R$ 50 bilhões no modal subterrâneo, canalize seus recursos para o BRT. "Construções subterrâneas estão cada vez mais caras. Com esse dinheiro, dará para fazer no máximo três linhas de metrô, enquanto que, com os mesmos recursos, é possível implantar BRTs em cem cidades brasileiras de duzentos mil a cinco milhões de habitantes", diz.
Jaime Lerner apresentou números. Mostrou que com R$ 50 bilhões seria possível implantar BRTs em 70 cidades entre 200 mil e 500 mil habitantes, assim como em 17 municípios entre 500 mil e 1 milhão de habitantes e em 11 cidades entre 1 milhão e 5 milhões de habitantes, além de atender duas metrópoles com mais de 5 milhões de habitantes. "É possível atingir essas cidades com BRT, e solucionar os problemas de mobilidade urbana delas sem recorrer ao metrô", assegura. Ele lembrou ainda que hoje é inviável criar uma rede de transporte público baseada no metrô, como as que existem em cidade como Londres, na Inglaterra, e Paris, na França. "Construir redes completas de metrô não é mais possível. Londres e Paris fizeram isso quando era barato trabalhar no subterrâneo", completa o urbanista, para quem o metrô atualmente é viável apenas para interligar cidades de regiões metropolitanas.
Metrô em Curitiba
Lerner fez uma abordagem específica sobre a transformação que se pretende implantar em Curitiba, substituindo o sistema de BRT pelo metrô, e foi veemente. "É um embuste, que vai quebrar uma rede consolidada e trocá-la por meia linha de metrô, a qual vai custar até R$ 6 bilhões", critica, lembrando que há 40 anos, quando foi implantado na capital paranaense, o Bus Rapid Transit transportava 50 mil passageiros/dia e hoje é usado por 2.700.000 passageiros/dia. "A cidade não precisa da troca do sistema, mas de manutenção do sistema, acompanhada de inovações. Quando surgiram as canaletas exclusivas, os ônibus biarticulados e as estações-tubo, o conjunto 'metronizou' o ônibus. O problema é que hoje o sistema está se deteriorando. A rede perdeu o sincronismo", alerta.
O arquiteto e urbanista citou que o sucesso do BRT está no número de metrópoles que hoje o utilizam. "Há 126 cidades usando o Bus Rapid Transit em todo o mundo. Desde Bogotá, na Colômbia, até várias metrópoles chinesas, europeias, nos Estados Unidos e no Canadá. Mas é preciso frisar que essas 126 cidades, de fato, implantaram os conceitos do sistema. Só pintar uma faixa no asfalto e torná-la exclusiva para ônibus não funciona. O que funciona é a rede, é integrar o BRT à cidade. Hoje, no Brasil, só o Rio de Janeiro está fazendo isso. Lá o BRT realmente está conseguindo melhorar o sistema, interligando-se ao metrô já existente e às novas linhas em construção", afirma Lerner, resumindo que o transporte coletivo precisa atender três problemas das cidades atuais: mobilidade, sustentabilidade e convivência entre as pessoas.
Saiba mais sobre o BRT.
Entrevistado
Jaimer Lerner, arquiteto e urbanista, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná.
Contato
contato@jaimelerner.com
Créditos Fotos: Divulgação/OAB-PR/Prefeitura de Curitiba
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
No Brasil, manta de concreto tem mil e uma utilidades
Material inventado na Inglaterra pode ser usado em canais de irrigação, para revestir diques, envelopar dutos e proteger encostas de deslizamentos
Por: Altair Santos
Imagine uma manta envolta em uma argamassa especial, cuja fórmula é mantida em segredo pelos seus inventores, e que, por causa de componentes aceleradores transforma-se em uma fina camada de concreto ao entrar em contato com a água. É esse material que tem sido usado em um diversificado número de obras em 45 países, e mais recentemente no Brasil. Na Inglaterra e na Espanha, o produto é aplicado principalmente nos setores ferroviários e rodoviários. Na África do Sul, a indústria de cana de açúcar usa a manta para irrigação. Outra aplicação é vista no Chile, no Canadá e no Oriente Médio, onde o material é utilizado para envelopar dutos de óleo e gás.
A praticidade da manta de concreto, o que a transforma em um elemento com "mil e uma utilidades" na construção civil, permite economia de tempo até dez vezes maior do que uma obra convencional. "Uma vala de 50 metros em uma refinaria, em vez de demorar dois dias e meio, foi construída em duas hora e meia. A economia mínima é de 20% de mão de obra direta e indireta, no custo de material e no custo de equipamentos utilizados, se comparado, por exemplo, ao concreto projetado", explica Ian Pacey, diretor da Concrete Canvas Brasil, que trouxe a invenção inglesa para o mercado nacional.
No país, a manta de concreto é vendida em rolos portáteis de 1,10 m de largura, até 10 m², ou a granel, com 1,10 m de largura até 200 m, e vem em três espessuras : 1) CC5 – 5 mm de espessura; 2) CC8 – 8 mm de espessura, e 3) CC13 – 13 mm de espessura. A SPI - Engenharia e Representações, que detém os direitos do produto no Brasil, oferece o serviço de treinamento teórico e prático aos clientes. O setor agropecuário brasileiro tem sido o que mais consome o material. "O que é especial nesta manta é que, ao contrário dos sistemas de concretagem, que normalmente levam até 28 dias para cura, esta tecnologia, em 24 horas, atinge 80% da resistência/cura (fck = 30 MPa) e, em apenas 48 horas atinge 100% potência/cura (fck = 40 MPa)", diz Ian Pacey.
Procedimentos para instalação da manta de concreto
1) Para valas, utilizar a manta de 5 mm. Para canais e camadas de contenção e impermeabilização, utilizar a de 8 mm.
2) Importante retirar qualquer protuberância, como pedras, raízes ou galhos.
3) Material deve ser fixado diretamente no solo, com estacas de 40 cm ou 60 cm, a cada 2 metros.
4) Levar a manta para aplicação ainda em sua embalagem, especialmente em tempo chuvoso, para o produto não iniciar processo de hidratação.
5) Abrir a embalagem no local, desenrolar a manta, iniciando pelo final da vala, deixando o tecido para cima, a fim de receber a hidratação, e o lado impermeável da manta direto no solo.
6) Fixar estacas nos cantos de sobreposição de um rolo para o próximo.
7) Sempre fixar estacas antes de processo de hidratação.
8) Após os rolos estarem bem posicionados, e devidamente fixados, é que inicia-se o processo de hidratação.
9) A hidratação deve ser feita com água sem pressão, regando o produto em excesso (encharcando) com 1 volume de água para 2 de Concrete Canvas. Faz-se uma aplicação inicial de água e após uma hora desta primeira hidratação checar o posicionamento do produto para ajustes e iniciar a segunda hidratação, igual a anterior. Não há perigo de hidratação em excesso, mas sim perigo de sub-hidratação. É importante aplicar água até que o produto esteja encharcado.
10) Durante as primeiras duas horas de hidratação, o produto ainda pode ser moldado e trabalhado.
11) Após a segunda hidratação, não permitir movimentação sobre o produto. Em 48 horas, o produto atinge 100% da cura/potência (fck = 40 MPa).
12) O tempo de vida útil do produto é de dois anos a partir da fabricação, com o produto ainda na embalagem sem a violação, e armazenado em local seco.
Entrevistado
Ian Pacey, diretor da Concrete Canvas Brasil e da SPI Engenharia & Representações
Contatos
pacey-spi@uol.com.br
www.concretecanvas.com.br
Créditos Fotos: Concrete Canvas/Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Lean Construction mexe com paradigmas do setor
Filosofia transforma cultura da construtora, para que resultados não sejam obtidos em apenas uma obra, mas em todos os processos da empresa
Por: Altair Santos
Em agosto, o Brasil sedia pela primeira vez um encontro internacional sobre Lean Construction. O evento acontecerá em São Paulo e o objetivo é atingir engenheiros, gerentes, superintendentes e diretores de construtoras que atuam em obras rodoviárias, metroviárias, ferroviárias, portuárias, usinas hidroelétricas, termoelétricas e nucleares, plataformas off shore, instalações petrolíferas e petroquímicas, além de pontes, viadutos, aeroportos, oleodutos, gasodutos, linhas de transmissão, obras de saneamento, edifícios residenciais, comerciais, condomínios, edificações para fábricas, shopping centers e hotéis.
Para Jevandro Barros, diretor-geral do Institute for Operational Excellence Brasil - promotor do 1º Summit Internacional IOpEx - essa é a chance de a filosofia Lean ganhar corpo no país. "As empresas necessitam buscar diferenciais competitivos que as levem a outros patamares de resultados. As margens de lucro dos projetos estão cada vez menores, a produtividade do colaborador brasileiro ainda é muito baixa se comparada a outros países, os desperdícios em nossos processos ainda são muito elevados e nossa expectativa é de que a construção consiga se adaptar à filosofia Lean", avalia.
O Lean é uma filosofia de gestão e a Lean Construction é a adaptação para o mercado de construção. O modelo engloba conceitos como TQM (Total Quality Management ou Gestão da Qualidade Total), Just in Time (programa que reduz o desperdício), assim como o Just in Sequence (automação do Just in Time), o BSC (sistema de gestão de desempenho) e a Teoria das Restrições, voltada para o aumento do desempenho, entre outros desenvolvedores. "Procuramos juntar o que há de melhor em relação a modelos de gestão e metodologias de aumento de performance, adaptando-os às particularidades da construção civil", explica Jevandro Barros.
O objetivo da Lean Construction é mexer com paradigmas do setor, entre eles:
- Entregar a obra no prazo.
- Manter a satisfação e o envolvimento de seus colaboradores do início ao fim da obra, atentando para aspectos voltados à Segurança, Meio Ambiente, Ergonomia e Motivação.
- Produzir com qualidade.
- Reduzir os desperdícios dos processos produtivos e administrativos.
- Reduzir custos e, com isso, aumentar a margem operacional.
- Satisfazer seu cliente desde o início até a entrega do empreendimento.
- Alcançar resultados estratégicos de seus respectivos negócios de forma orientada, padronizada e com sustentabilidade.
Arena Amazônia
De acordo com Jevandro Barros, a Lean Construction tem um mercado praticamente inexplorado no Brasil. "Algumas empresas brasileiras, principalmente da área civil predial, vêm desenvolvendo iniciativas de caráter experimental, ou seja, através de pequenos e rápidos projetos-piloto. No país, o primeiro grande projeto de Lean Construction ocorreu na construção da Arena da Amazônia. O estádio é o nosso principal case para disseminar o sistema na construção civil", cita, relacionando as conquistas obtidas na obra erguida em Manaus para a Copa do Mundo:
- Aumento médio da produtividade dos colaboradores da produção de 35%.
- Aumento médio da produtividade dos colaboradores administrativos de 25%.
- Aumento do índice de satisfação dos colaboradores.
- Redução média do número de desperdícios nos processos (produtivos e administrativos) de aproximadamente 60%.
- Redução média dos custos dos projetos de 20% a 40% em relação ao orçamento (mão de obra, materiais, equipamentos, ferramentas, projetos).
- Redução média dos prazos intermediário e final entre 15% e 35% em relação ao planejado.
Como a Lean Construction é também um modelo de gestão, a construtora interessada em implantar o processo não pode ter ansiedade para obter resultados. "Para que a empresa possa colher resultados realmente sustentáveis, pode levar de três a cinco anos. Este é um excelente período para que as mudanças sejam feitas e para que as pessoas possam assimilar todo o processo de melhoria contínua como um todo. Dentro de todo o processo há planejamentos de curto, médio e longo prazos", alerta o especialista.
Entrevistado
Engenheiro mecânico Jevandro Barros, diretor-geral do Institute for Operational Excellence Brasil, com MBA em Gestão e Sistemas de Produção para Indústria Automotiva pela UFRJ, Lean Expert pela Lean Coaching da Alemanha, Lean Construction Specialist pelo Institut fuer Innovation und Management GmbH – Alemanha e Lean Construction Expert pelo The Associated General Contractors of America - USA
Contato: www.instituteopexbrasil.org/site/home/contato
Créditos Fotos: Divulgação/Chico Batata/Agecom-AM