Parque usa pistas de skate para combater enchentes
Em períodos chuvosos, área na Dinamarca consegue reter até 23 mil m³. Nos períodos de seca, piscinões se transformam em lazer para os moradores
Por: Altair Santos
O Rabalderparken, parque construído em 2012 na cidade de Roskilde, no sudeste da Dinamarca, está se tornando referência mundial. Os países vizinhos, Holanda e Bélgica, já projetam estruturas semelhantes e não faltam arquitetos, urbanistas e profissionais ligados à construção sustentável que não queiram visitá-lo. Mas o que esse parque tem de diferente? Planejada para drenar as águas pluviais, a área tem uma série de equipamentos multifuncionais que servem ao lazer dos cidadãos quando o período de enchentes chega ao fim.
Três piscinões, capazes de reter até 23 mil m³ de água, se transformam em pistas de skate, patins e bicicleta quando o Rabalderparken esvazia. Canais de concreto e asfalto viram ciclovias após drenarem a água para um imenso lago no centro do parque e para cisternas subterrâneas que ajudam no abastecimento da cidade. “Isso garante a usabilidade da área durante todo o ano, para que ela não se transforme em um deserto em tempo seco”, afirma o arquiteto Søren Nordal Enevoldsen, do escritório dinamarquês SNE Architects, que foi contratado pela prefeitura de Roskilde para projetar o parque.
Vencedor dos prêmios de construção sustentável City Planning Award 2012 e Sustainable Concrete 2013 Award, o Rabalderparken concorreu em 2014 ao Place By-Design, promovido pela SXSW Eco, que acontece anualmente em Austin, no Texas-EUA, e é considerada uma das principais conferências mundiais no campo da construção sustentável. Na premiação, o parque dinamarquês recebeu “menção honrosa”. “O Rabalderparken oferece uma forma lúdica de abordar o problema das inundações causadas pelas mudanças climáticas globais”, definiram os organizadores da SXSW Eco.
Bairro sustentável
Primeiro passo para a reurbanização de uma área industrial de Roskilde, o Rabalderparken fará parte de um bairro com construções sustentáveis batizado de Musicon. A região escolhida abrigava concreteiras na cidade e, por isso, o concreto foi definido como um elemento protagonista na construção do parque. O Musicon deverá estar totalmente implantado até 2020 e tem o propósito de concentrar, além de residências e prédios de escritórios, escolas de arte e de música. “A ideia é que ele seja uma referência europeia em instalações voltadas para a arte”, explica Søren Nordal Enevoldsen.
O conceito do Rabalderparken, de servir como um catalisador de águas pluviais, não é novo. Em Curitiba-PR, o Parque Barigui foi concebido em 1972, pelo então prefeito Jaime Lerner, com o mesmo objetivo: conter o fluxo de água que inundava aquela região da cidade em períodos de chuva. Por isso, foi construído um lago com 23 mil m² no centro do parque. No caso do Rabalderparken, foram utilizadas novas tecnologias de drenagem, através de canais, piscinões e cisternas.
Entrevistado
Arquiteto Søren Nordal Enevoldsen, da SNE Architects
Contato: sne@snearchitects.com
Crédito Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Construção civil ainda atrai poucas startups
Setor é fértil para se investir em empresas inovadoras, mas carga tributária, dificuldade de acesso ao crédito e burocracia desestimulam empreendedores
Por: Altair Santos
A construção civil é um campo fértil para a criação de startups, mas, ao mesmo tempo, árido. “Setores em que há muitos problemas a serem resolvidos são setores com muitas oportunidades. O da construção civil é um deles. Porém, é ainda muito pouco receptivo a inovações. Mas há oportunidades para se pensar em novos processos industriais, soluções que diminuam o tempo das obras, ajudem a evitar desperdícios e agreguem valor sem aumentar o custo”, define Henrique Tormena, coordenador do Instituto Endeavor no Paraná.
Além de quebrar paradigmas, startups que planejem atuar na construção civil brasileira precisam também estar preparadas para os obstáculos burocráticos e tributários. Outro desafio é encontrar profissionais capacitados, e que entendam o conceito de uma startup: empresa que é concebida a partir de uma ideia inovadora. “Empreender não é tarefa fácil. Existe a questão do ambiente regulatório, que muda de uma cidade para outra, da dificuldade para encontrar colaboradores capacitados e também da cultura empreendedora no Brasil. Três entre quatro brasileiros sonham ser donos do próprio negócio, mas pouca gente se prepara”, afirma Tormena.
De longe, os empecilhos tributários são os que mais afetam startups no Brasil. De acordo com o Banco Mundial, são necessárias 2.600 horas para pagar impostos no país. A explicação está em outro estudo, do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), que detectou 11.500 normas tributárias que uma empresa deve seguir no Brasil. Isso se reflete em dificuldades para que o empreendedor priorize a produtividade e dificulta a captação de recursos para financiar o negócio e fazer evoluir a ideia que originou a startup.
Cinco pecados capitais
Outra pesquisa - desta vez realizada pela Fundação Dom Cabral – revela que quatro em cada dez empresas de inovação não passam dos 12 meses vida no Brasil, por causa de erros recorrentes, que são os seguintes:
1. Fluxo do caixa: a maioria das startups começa a funcionar com o caixa para apenas os dois primeiros meses. Sem planejamento de contas a pagar e receber, elas não chegam a 12 meses de atuação no mercado.
2. Número de sócios: a grande quantidade de sócios em uma mesma empresa dificulta o desempenho no relacionamento e nas decisões, pois os interesses pessoais e profissionais se confundem no ambiente de trabalho.
3. Empréstimos bancários: para permanecer no mercado, as startups recorrem a financiamentos bancários para se manter. A falta de conhecimento e organização nas finanças faz as pequenas empresas entrarem nos juros e parcelamentos bancários, o que inviabiliza a gestão saudável do caixa.
4. Faturamento: um dos problemas é o gasto com folha de pagamento superior a 30% do faturamento. Algumas empresas acabam contratando mais funcionários do que podem, depois acabam por demitir por falta de dinheiro no caixa.
5. Capital de giro: as startups invariavelmente não têm dinheiro em caixa e, assim, não conseguem cumprir com as necessidades imediatas da empresa, o que é algo fundamental para manter o negócio saudável e uma boa imagem no mercado perante fornecedores e clientes.
O resultado deste ambiente pouco propício para startups é que o Brasil ainda não conseguiu produzir uma empresa inovadora que fature U$ 1 bilhão (cerca de R$ 2,6 bilhões) por ano. No mundo, há 46 que já atingiram esse patamar. Destas, 72% encontram-se nos Estados Unidos, 20% na China e 8% na Europa. Porém, mesmo fora do país, o volume de startups ligados à construção civil ainda é pequeno. Não chega a 15%. A maioria ainda está ligada a vendas pela internet.
“Geralmente, os pilares que formam um bom ambiente empreendedor têm vínculo com infraestrutura, acesso ao capital, disponibilidade de capital humano qualificado, ambiente favorável à inovação e cultura”, define Henrique Tormena.
Em 2013, o Fórum Econômico Mundial elegeu, entre as 36 startups mais inovadoras do mundo, uma empresa brasileira: a Bug Agentes Biológicos, localizada em Piracicaba-SP. Ele desenvolve vespas geneticamente modificadas para combater pragas em plantações de cana-de-açúcar e soja, reduzindo a aplicação de agrotóxicos nestas lavouras.
Entrevistado
Engenheiro mecânico Henrique Tormena, coordenador do Instituto Endeavor no Paraná
Contato: henrique.tormena@endeavor.org.br
Crédito Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Infraestrutura do Brasil requer R$ 1,17 tri até 2019
Recursos viabilizarão 6.068 obras relevantes para o país, nas áreas de transporte, energia, óleo e gás, saneamento, habitação e indústria
Por: Altair Santos
Se quiser viabilizar a retomada do crescimento através do impulso à infraestrutura, o Brasil precisará investir R$ 1,17 trilhão até 2019. Esse volume de recursos deverá priorizar seis setores: óleo e gás, transporte, energia, saneamento, infraestrutura de habitação e indústria. São segmentos que englobam 6.068 obras, algumas em andamento, outras já projetadas, mas a maioria apenas em intenção. É o que revela a edição 2014 da pesquisa intitulada “Principais Investimentos em Infraestrutura no Brasil”, encomendada pela Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração).
O segmento de transporte é um dos que mais tendem a capitalizar recursos, requerendo investimentos na ordem de R$ 438,4 bilhões para o período 2014-2019. Entre as principais obras neste setor, as relacionadas com a mobilidade urbana em municípios é que deverão absorver a maior parte destes recursos. As mais relevantes são: linha 5 do metrô de São Paulo, linha 4 do metrô do Rio de Janeiro, VLT de Santos, VLT Cuiabá-Várzea Grande, corredor Via 710, em Belo Horizonte, perimetral de Porto Alegre, túnel Santos-Guarujá, ponte sobre o rio Baetatã, em Magoragipe-BA e travessia de Juazeiro, também na Bahia.
Os investimentos em saneamento básico, segundo o levantamento da Sobratema, precisam chegar a R$ 35,8 bilhões até 2019. Atualmente, existem cerca de 1.500 obras em andamento, realizadas por municípios, governos estaduais e parcerias público-privadas. Há outros 3.400 empreendimentos em fase de projeto ou em intenção de construir. No entanto, o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) prevê que sejam aportados recursos da ordem de R$ 508,4 bilhões, entre 2014 e 2033. Do total de investimentos previstos, 59% virão de recursos federais e 41% com recursos de outros agentes, como governos estaduais e municipais, prestadores de serviços de saneamento e iniciativa privada.
Por conta deste volume de recursos, e da quantidade de obras que precisam ser viabilizadas, o presidente da Sobratema, Afonso Mamede, entende que o governo federal não tem mais como recuar em uma política de incentivo à infraestrutura. “Não dá mais para o Brasil não investir em infraestrutura. Ainda que estejamos enfrentando uma acomodação, causada pelo momento econômico, avalio que, a partir de 2016, a infraestrutura será a locomotiva para o país voltar a crescer”, diz.
Já o professor do departamento de economia da PUC-SP e diretor da Insight Consultoria Econômica, que também atua como consultor da Sobratema, Rubens Sawaya, também considera que a retomada do crescimento do país deverá se dar através do impulso às obras de infraestrutura. “Uma hora o investimento em infraestrutura deverá ser retomado. Diria mais: independentemente do momento econômico, dá para fazer”, completa.
Entrevistados
Engenheiro civil Afonso Mamede, presidente da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração)
Economista Rubens Sawaya, professor do departamento de economia da PUC-SP e diretor da Insight Consultoria Econômica
Contato: sobratema@sobratema.org.br
Crédito Foto: Divulgação/Cia. de Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Calcadas em concreto, obras olímpicas saem do papel
Construções de arenas, redes de infraestrutura e empreendimentos de mobilidade urbana aceleram no Rio de Janeiro, para cumprir cronograma do COI
Por: Altair Santos
Após a Copa do Mundo de 2014, o Comitê Olímpico Internacional visitou o Rio de Janeiro e fez acender a luz amarela. A cidade-sede dos jogos olímpicos de 2016 estava muita atrasada e, nos bastidores, se cogitou até uma mudança de local. A advertência serviu como estímulo. Em pouco tempo, as obras deslancharam e o Rio fecha 2014 com o cronograma praticamente em dia. Para recuperar o tempo perdido, e alavancar a produtividade, houve investimento maciço na construção industrializada do concreto e nas estruturas mistas (concreto e aço). Através destas tecnologias, é possível verificar que o parque olímpico, localizado na Barra da Tijuca, já se torna realidade.
A pira olímpica irá se acender no estádio Maracanã no dia 5 de agosto de 2016. Até lá, somando todas as obras - incluindo as de infraestrutura e as de mobilidade urbana -, prefeitura e governo do Rio de Janeiro estimam que o volume de concreto a ser produzido para viabilizar os jogos deverá passar de 1 milhão de m³. Só o complexo Ilha Pura, que abrigará a vila olímpica, e depois será transformado em um condomínio residencial, já consumiu 350 mil m³ do material. Outra parte deste volume também está presente nas obras de infraestrutura subterrânea. São 10,5 km de redes de drenagem, 5,3 km em redes de esgoto, 8,3 km de redes de água, 5 km de redes de incêndio, 5 km de rede de iluminação pública, 9,9 km de rede de média tensão e 21,9 km de redes de telecomunicações.
Para dar conta de tanto concreto, usinas montadas no canteiro de obras do parque olímpico trabalham quase ininterruptamente para processar, cada uma, 65 m³/h para o consórcio que toca o empreendimento: o Rio Mais, formado pelas empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Carvalho Hosken. Há ainda as grandes obras de mobilidade espalhadas pela cidade, e que seguem consumindo grandes volumes de concreto. A saber: linha 4 do metrô (120 mil m³), quatro linhas de BRT (Bus Rapid Transit) (70 mil m³), 28 km de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) (23 mil m³) e recuperação e construção de 60 obras de arte (viadutos e pontes), além da abertura de três túneis.
Arquitetura nômade
Somente no parque olímpico da Barra da Tijuca, há 4.500 trabalhadores no canteiro de obras. Outros 850 atuam no complexo esportivo de Deodoro, bairro da cidade do Rio de Janeiro que irá sediar algumas competições olímpicas e dos jogos paraolímpicos. Segundo a Empresa Olímpica Municipal (EOM), criada exclusivamente para gerenciar as obras para 2016, está em uso uma arquitetura inédita neste tipo de evento: a arquitetura nômade. Significa que boa parte das estruturas pré-fabricadas poderá ser desmontada e servir para outras obras. No caso do Rio de Janeiro, algumas já têm destinação certa: irão se tornar escolas após os jogos. “Desde o início dos trabalhos foi necessário pensar em como cada equipamento olímpico seria integrado à rotina da cidade pós-evento, que é o verdadeiro legado dos jogos”, diz o presidente da EOM, Joaquim Monteiro de Carvalho.
A expectativa dos organismos governamentais envolvidos com o projeto olímpico é de que, até o final de 2015, 70% das obras estejam concluídas.
Em que estágio estão as obras para os jogos olímpicos:
Parque olímpico
Arenas Cariocas 1, 2 e 3 - Fase final de montagem das estruturas de concreto pré-moldado e da cobertura, com previsão de conclusão no terceiro trimestre de 2015.
Centro de tênis - fundações foram concluídas.
Velódromo - obras estão em fase de fundação.
Arena do Futuro - fundações e montagem da estrutura metálica (pilares principais, vigas principais da cobertura e treliças) foram concluídas.
Estádio Aquático - em fase final de fundações. Estão em andamento a concretagem da laje de piso e a montagem da estrutura metálica das arquibancadas da piscina principal.
Parque Aquático Maria Lenk - Instalação está pronta e necessita apenas de adaptações.
Arena Rio - Instalação está pronta e necessita apenas de adaptações.
Centro Internacional de Transmissão (IBC) - obra está em fase final de montagem da estrutura metálica do prédio e concretagem das lajes.
Centro Principal de Mídia (MPC) - obras de fundações, contenções e concretagem do segundo pavimento foram finalizadas. Estão em andamento as estruturas de concreto (pilares, vigas e lajes) dos níveis subsolo, térreo e mezanino e a concretagem do terceiro pavimento da torre sul.
Campo de Golfe - obras começaram em 2013 e estão dentro do cronograma.
Riocentro - local está pronto e, em 2015, receberá instalações complementares para se adequar às competições.
Complexo esportivo Deodoro
Arena da Juventude - obras estão em fase de terraplenagem e fundações. Foi concluído o estaqueamento e a colocação de blocos está em andamento.
Circuito de canoagem slalom - obras de terraplanagem estão em fase de conclusão e concretagem da laje do lago está em andamento.
Entrevistado
Empresa Olímpica Municipal (EOM), Secretaria de Obras do Rio de Janeiro (SEOBRAS) e Comitê Organizador dos jogos olímpicos (via assessoria de imprensa)
Contatos
imprensa@empresaolimpica.rio.rj.gov.br
imprensa@obras.rj.gov.br
pressroom@rio2016.com
Crédito Fotos: Renato Sette Camara/EOM
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
IPT aprimora concreto autoadensável usado em paredes
Material tende a ganhar cada vez mais mercado no Brasil, principalmente se for produzido dentro das especificações recomendadas pela ABNT NBR 15823
Por: Altair Santos
Pesquisadores do Centro de Tecnologia de Obras de Infraestrutura do IPT desenvolveram traço de referência para o concreto autoadensável utilizado em paredes moldadas no local da obra. O material desenvolvido contempla integralmente aos requisitos da ABNT NBR 15823:2010 - Concreto autoadensável - Classificação, controle e aceitação no estado fresco. Para concreteiras e construtoras, é a chance de contar com um material dosado de acordo com suas especificações, e que apresenta ótima trabalhabilidade para aplicação no sistema construtivo de paredes moldadas no local. O projeto esteve a cargo de Alessandra Lorenzetti de Castro e Rafael Francisco Cardoso Santos, ambos do Laboratório de Materiais de Construção Civil do instituto. Na entrevista a seguir, o engenheiro civil Rafael Francisco explica os resultados da pesquisa e no que ela melhora a qualidade do concreto autoadensável aplicado na construção civil brasileira. Confira:
O que levou o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) a desenvolver um estudo que levasse ao aprimoramento do concreto autoadensável usado em obras residenciais no Brasil?
A indústria brasileira da construção civil experimentou um período de grande demanda por obras no setor habitacional. Esta situação exigiu que as construtoras buscassem formas mais rápidas e eficazes de construir. Tecnologias que permitem a racionalização das obras, com qualidade, durabilidade, segurança estrutural e bom gosto estético ganharam espaço, destacando-se o sistema de paredes de concreto moldadas no local da obra. No entanto, a pesquisa desenvolvida no Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) do CT-Obras/IPT verificou discordância entre o que determina a norma brasileira de concreto autoadensável (ABNT NBR 15823:2010) e as características dos materiais utilizados no mercado da construção. Diante desta problemática, o LMCC vislumbrou a necessidade de desenvolver concretos com propriedades diferenciadas, destinados à execução de paredes de concreto, principalmente aquelas moldadas no local. Assim nasceu o projeto intitulado “Produção e avaliação de concreto autoadensável para aplicação em sistemas construtivos de paredes de concreto moldadas na obra”.
Por que a preocupação específica com o concreto autoadensável moldado no local da obra?
Na indústria de materiais pré-moldados (onde o autoadensável também é utilizado) existe um controle de qualidade significativo. Na obra, diversos fatores interferem nesse controle, o que gera dificuldades em realizar a caracterização prevista na norma do material autoadensável. A capacidade de autoadensabilidade é obtida com o equilíbrio entre a alta fluidez e a moderada viscosidade do material. A alta fluidez é alcançada com a utilização de aditivos superplastificantes, enquanto a moderada viscosidade e a coesão são conseguidas com o incremento de um percentual adequado de material com granulometria muito fina e/ou aditivos modificadores de viscosidade.
Como a pesquisa desenvolvida no IPT fez para chegar a um concreto autoadensável com as características especificadas na NBR 15823:2010?
A funcionalidade do trabalho do IPT está em contar com um material que atende às propriedades fundamentais do concreto autoadensável: fluidez, habilidade passante e resistência à segregação. A capacidade de autoadensabilidade é obtida com o equilíbrio entre a alta fluidez e a moderada viscosidade do material. A alta fluidez é alcançada com a utilização de aditivos superplastificantes, enquanto a moderada viscosidade e a coesão são conseguidas com o incremento de um percentual adequado de material, através de granulometria muito fina ou aditivos modificadores de viscosidade. Para a composição do traço, foram utilizados aditivos encontrados no mercado. O grande diferencial é a quantidade e o tipo de materiais finos empregados. No caso do traço do IPT, esses materiais são, em boa parte, resíduos oriundos da britagem de rochas (finos de pedreira). Na pasta de cimento a proporção desses produtos chega a 40%.
A pesquisa do IPT tem reflexo sobre a aplicação do concreto autoadensável em outras estruturas, além da parede moldada no local?
A pesquisa realizada no IPT nos dá condição para desenvolver concretos para as diversas aplicações, além da aplicação em paredes moldadas no local. O concreto autoadensável tem a vantagem de ser facilmente aplicado nos mais diversos tipos de estruturas, visto que o atual prédio mais alto do mundo hoje, o Burj Khalifa, também ostenta o recorde de bombeamento de concreto, chegando a 605 metros de altura. Isso, graças às propriedades específicas do concreto autoadensável desenvolvido para aquela obra.
No Brasil, o uso do concreto autoadensável ainda está restrito a poucas obras ou ele já é bem popular?
O concreto autoadensável está relacionado com o aumento na produtividade, redução de mão de obra e melhoria da qualidade e da segurança do ambiente de trabalho, contribuindo com a tecnologia sustentável do concreto. Por essas e outras razões, esse concreto é cada vez mais empregado como material de construção, tanto nos setores de pré-moldados e pré-fabricados, quanto para aplicações de concreto moldado no local, caso das paredes de concreto. No entanto, no Brasil, a utilização do concreto autoadensável é incipiente, estando muito aquém do seu potencial devido. Principalmente, por causa do desconhecimento dos profissionais da construção brasileira a respeito do material. A grande parte do concreto autoadensável produzido no país é aplicada na indústria de elementos pré-moldados, mas já existem registros de sua aplicação em edifícios residenciais, principalmente em Goiânia e na região sul do país.
É possível construir edifícios com concreto autoadensável aplicado em paredes moldadas no local, até quantos andares?
O sistema pode ser empregado em diferentes tipos de edificações: casas térreas, casas assobradadas, edifícios de até cinco pavimentos-tipo, edifícios de oito pavimentos-tipo com limite para ter apenas esforços de compressão, edifício de até trinta pavimentos e, em casos especiais e específicos, edifícios com mais de trinta pavimentos.
Entrevistado
Engenheiro civil Rafael Francisco Cardoso dos Santos, engenheiro-pesquisador do Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) do Centro de Tecnologia de Obras de Infraestrutura (CT-Obras) do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).
Contato: ctobras@ipt.br
Crédito Foto: Divulgação/IPT
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Weber Saint-Gobain é pioneira em gestão do fornecedor
No Brasil, empresa inova ao aplicar sistema de aperfeiçoamento de qualidade dentro da cadeia produtiva da construção civil
Por: Altair Santos
Fora do Brasil, a gestão de fornecedores é uma prática considerada essencial para a sustentabilidade das empresas. Há corporações, principalmente as ligadas aos setores automobilístico e alimentício, que a praticam há mais de uma década. No país, é mais recente. Trazido pelas multinacionais instaladas em território nacional, o sistema começou a se difundir há cerca de cinco anos. Entre as primeiras a implantá-lo, estão a Wall Mart - maior empresa do mundo em volume de negócios e faturamento - e a Unilever. No setor da construção civil, a francesa Weber Saint-Gobain é pioneira no Brasil. “Implantamos a metodologia faz quatro anos e foi uma quebra de paradigmas dentro do setor”, afirma Fernando Eduardo de Souza, engenheiro de desenvolvimento da Weber Saint-Gobain.
Na Weber Saint-Gobain Brasil, a gestão de fornecedor é denominada de Engenharia de Qualidade do Fornecedor (EQF). Existe um trabalho realizado pelo departamento técnico, responsável por homologar, avaliar e monitorar os parceiros. Todas as companhias que passam a fazer parte da cadeia produtiva da multinacional francesa se submetem a esse programa. Na fase de homologação, verifica-se a capacidade de fornecimento, com base em normas técnicas e na legislação vigente nos três níveis (federal, estadual e municipal). A etapa de avaliação funciona como uma auditoria, em que é verificado o potencial do fornecedor em atender os padrões de qualidade do grupo Saint-Gobain.
Segundo Fernando Eduardo de Souza, há cinco níveis que classificam os fornecedores: D, C, B, A e S. “Os melhores são B, que é classificado como um bom fornecedor; A, fornecedor exemplar, e S, que passa a ser um fornecedor recomendado pela Weber Saint-Gobain”, explica. Independentemente da nota, o fornecedor da Weber Saint-Gobain é constantemente monitorado. A qualquer momento, ele pode ser submetido ao Índice de Qualidade do Fornecimento (IQF). “A metodologia ajuda a adotar medidas corretivas e preventivas. O objetivo também é diminuir eventuais não conformidades. Em 2014, as não conformidades foram reduzidas em mais de 30%”, complementa o engenheiro de desenvolvimento da Weber Saint-Gobain.
Inspeção na Cia. de Cimento Itambé
Para os fornecedores da Saint-Gobain, compartilhar a gestão é visto como uma oportunidade de melhoria. “O feedback é positivo, pois contribui também para que o fornecedor melhore seu produto. No final, é uma garantia de qualidade para o consumidor final, favorecendo toda a cadeia produtiva”, avalia Fernando Eduardo de Souza, que recentemente aplicou o EQF na fábrica da Cia. de Cimento Itambé, localizada em Balsa Nova-PR, na região metropolitana de Curitiba. A empresa é um dos fornecedores de cimento para a Weber Saint-Gobain.
Para parceiros como a Cia. de Cimento Itambé, a gestão de fornecimento da Saint-Gobain orienta-se, principalmente, pela norma técnica ABNT NBR 11578 - Cimento Portland composto. A inspeção também segue a ISO 19011, que define diretrizes para auditoria de sistemas de gestão. “Procedimentos internacionais também são levados em consideração, como american standards (definidas pela American National Standards Institute (ANSI)) e normas europeias”, conclui Fernando Eduardo de Souza.
Entrevistado
Engenheiro químico Fernando Eduardo de Souza, engenheiro de desenvolvimento da Weber Saint-Gobain.
Contato: fernando-eduardo.souza@saint-gobain.com
Crédito Foto: Divulgação/Saint-Gobain
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
CBIC prega combate à burocracia e apoio às PPPs
À frente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, José Carlos Rodrigues Martins anuncia metas realistas e quer estímulo ao investimento privado
Por: Altair Santos
Empossado em agosto de 2014 como o novo presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Rodrigues Martins, já definiu as bandeiras pelas quais irá se esforçar ao longo de sua gestão, e que coincidirá com o segundo mandato de Dilma Rousseff à frente da Presidência da República. Para ele, é preciso liderar um processo que não interrompa os investimentos na construção civil. Esse caminho passa pelo combate à burocracia, a fim de destravar obras, e pelo estímulo a iniciativas que apoiem empreendimentos de infraestrutura através de concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs). “O governo perdeu sua capacidade de investimento e não há outra saída para retomá-la, senão através de PPPs e concessões, despindo-se do viés ideológico”, avalia.
Engenheiro civil formado na turma de 1977 da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e com a carreira construída na construção civil paranaense, José Carlos Rodrigues Martins anunciou seu plano de gestão em uma sabatina realizada no começo de novembro no SindusCon-PR. Convidado pelo presidente do sindicato, José Eugenio Souza de Bueno Gizzi, Martins estima que, além de capital privado, as PPPs podem ajudar a implementar modelos mais saudáveis de gestão de obras. “Veja o aeroporto de Brasília depois da privatização. Parece um aeroporto europeu e funcionou perfeitamente durante a Copa do Mundo”, diz, citando que é preciso criar também um sistema que democratize a participação de médias e pequenas empreiteiras em processos licitatórios.
José Carlos Rodrigues Martins lembra que a Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (ANEOR) tem 330 empresas filiadas, mas basicamente dez, que são as megaempreiteiras, participam dos processos de licitação. “O desafio é criar um modelo que faça todas participarem, criando um ambiente mais saudável de concorrência”, defende, citando que também é possível avançar em políticas que desburocratizem a construção civil. “Hoje, o excesso de burocracia encarece em 12% o custo final de um imóvel. Só o município de Curitiba poderia aumentar em R$ 300 milhões sua receita - isso sem criar novos impostos ou elevar alíquotas – desburocratizando processos, como alvarás e liberação de Habite-se”, resume o presidente da CBIC.
Passado e futuro
Para Martins, é necessário também que a construção entenda o momento do mercado e adapte-se para não elevar mais seus custos. “O mercado aceitou, até certo ponto, que nosso custo aumentasse. Agora, precisamos elevar a produtividade, pois não há mais espaço para se aumentar preço. Por isso, acredito que nos próximos quatro anos nosso setor passe maciçamente por capacitação, produtividade e inovação tecnológica”, crê. Tudo isso, diz o presidente da CBIC, sem dissociar a construção civil de economia e política. “Nosso setor é, basicamente, movido pelos investimentos. Só que isso está diretamente ligado a decisões políticas e decisões econômicas. Porém, no momento, 2015 ainda é um grande ponto de interrogação para nós”, alerta.
José Carlos Rodrigues Martins avalia que, de 2004 a 2014, a construção civil brasileira deu um grande salto. “Em dez anos, saímos de um milhão de trabalhadores com carteira assinada para mais de três milhões. O financiamento imobiliário saiu de R$ 5 bilhões para quase R$ 150 bilhões. A produção de cimento avançou de 33 milhões de toneladas por ano para 71 milhões de toneladas por ano. Convivemos com um PIB crescendo mais do que o país, mas agora nos deparamos com outro mundo. Nossa luta, então, é para preservarmos conquistas. Entre elas, programas que canalizam investimentos para o setor, como o Minha Casa Minha Vida e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Ainda que os volumes de recursos sejam menores, acredito que esses programas não serão desativados”, prevê.
Entrevistado
Engenheiro civil José Carlos Rodrigues Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Contatos
www.cbic.org.br
comunica@cbic.org.br
Crédito Foto: Divulgação/SindusCon-PR
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Concreto chega à moda e conquista a Europa
Estúdio IVANKA, escritório de design e arquitetura com sede na Hungria, inova com coleções que emprestam aos tecidos e ao couro a textura do concreto
Por: Altair Santos
Concreto Genezis é o nome da grife que tem sido apresentada em feiras de moda da Europa, a começar pela Paris Fashion Week. Uma pasta de concreto é agregada aos tecidos para criar roupas-conceito, tanto para homens quanto para mulheres. O desenvolvimento do material e o design das confecções foram criados pelo famoso casal de arquitetos húngaros, Katalin Ivanka e Andreas Ivanka. Donos do Estúdio IVANKA, localizado em Budapeste-Hungria, eles fazem do concreto a matéria-prima para produzir peças de decoração, joias, móveis e, agora, roupas. “A ideia de conceituar moda em cima do concreto era um projeto antigo nosso. O desenvolvimento da tecnologia do material permitiu que chegássemos a um concreto autoadensável bem leve, onde as roupas eram mergulhadas e depois moldadas”, explica o casal Ivanka.
Para a Paris Fashion Week, o Estúdio IVANKA desenvolveu também bolsas e relógios para expor no principal evento de moda da Europa. Todos os modelos criados se inspiraram na urbanidade. “Achamos que as roupas femininas deveriam explorar o dualismo da mulher urbana: ao mesmo tempo frágil e ao mesmo tempo dura como o concreto”, define Katalin Ivanka. No caso das peças masculinas, os modelos agregaram couro. Para desenvolver a coleção, foram necessários dois anos. O longo tempo trouxe resultados positivos, principalmente no desenvolvimento de uma massa de concreto antialérgica e que não causa danos à pele humana. Por isso, o Estúdio IVANKA decidiu abrir uma nova ramificação, criando a “Casa do Concreto da Moda”. O objetivo é seguir desenvolvendo coleções e testando a aplicação do concreto nos mais variados tecidos.
Moda para o dia a dia
Clientes para vincular suas grifes aos produtos do casal húngaro Ivanka não faltam. O interesse internacional inclui marcas como Liberty London, Andaz by Hyatt, Oakley, Levi Strauss, Bang & Olufsen e Vodafone, entre outros. O crescimento levou a IVANKA a conceber uma fábrica na região de Budapeste. Transformar uma pequena empresa familiar em uma nova estrutura corporativa profissional abriu as portas para investidores e levou à concepção de um conselho consultivo, formado por um corpo de profissionais de diferentes áreas do conhecimento para dar a assistência significativa à empresa. É isso que faz com que a marca Ivanka seja, hoje, uma das mais valorizadas da Europa. “Essa estrutura nos estimula a criar mais, sempre usando o concreto como nossa matéria-prima”, revela Andreas Ivanka.
Criado em 2002, o Estúdio IVANKA já tem um novo projeto em andamento, depois de conceber moda a partir do concreto: criar instrumentos musicais com o material. A empresa também criou uma grife a base de couro e camurça, que imita a textura do concreto. Neste caso, pigmentos tirados do cimento ajudam a tingir as peças. “A coleção explora os efeitos produzidos pelo concreto, fazendo com que o couro imite essa textura. Diferentemente da coleção-conceito apresentada na Paris Fashion Week, estas peças são projetadas para o uso diário”, diz Katalin Ivanka.
Entrevistados
Arquitetos e designers Katalin Ivanka e Andreas Ivanka, sócios do Estúdio IVANKA (via assessoria de imprensa)
Contatos:
info@ivankaconcrete.com
laszlo.perlaki@ivanka.hu
Crédito Foto: Divulgação/Estádio IVANKA
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Estaleiro na Bahia inova em construção pré-fabricada
Obra que venceu o Prêmio Talento Engenharia Estrutural 2014 optou por um processo totalmente industrializado para superar restrições ambientais
Por: Altair Santos
Empreendimento orçado em R$ 2,6 bilhões, o estaleiro Enseada do Paraguaçu, que está em construção no município de Maragogipe-BA, no Recôncavo Baiano, foi contemplado recentemente com o Prêmio Talento Engenharia Estrutural 2014, na categoria construção industrializada. A obra inova em termos de estruturas pré-fabricadas de concreto - desde o porte das peças até a qualidade dos encaixes. A edificação é composta por cinco galpões geminados, em que se destaca uma estrutura formada por vigas e pilares de grandes dimensões. Com mais de 41 metros de vão, as treliças da cobertura estão apoiadas em pilares que chegam a mais de 35 metros de altura.
A envergadura das peças, que, em alguns casos, chegam a pesar 44 toneladas, se deve ao fato de que os galpões de 70 mil m² terão de suportar 23 pontes rolantes capazes de movimentar, individualmente, o peso de até 120 toneladas. O estaleiro Enseada do Paraguaçu será usado para a produção de navios e plataformas de exploração de petróleo. A cargo do consórcio Enseada Indústria Naval S.A., a obra engloba quatro empreiteiras: Odebrecht, OAS, UTC e Kawasaki Heavy Industries. Já a empresa contratada para a fabricação dos elementos de concreto foi a T&A Pré-fabricados, que instalou uma unidade a 110 quilômetros do canteiro de obras exclusivamente para construir as peças pré-fabricadas.
Toda a estrutura consumiu mais de 11 mil m³ de concreto na confecção dos elementos. Por questões ambientais, o canteiro de obras do estaleiro precisou ser o mais enxuto possível. Uma das exigências era que não gerasse resíduos de construção. Por isso, criou-se uma espécie de linha de montagem no local da obra. As peças pré-fabricadas chegavam, eram armazenadas e uma equipe técnica formada por 170 pessoas montava as estruturas. Previsto para ser inaugurado no primeiro semestre de 2015, o estaleiro Enseada do Paraguaçu empregou o uso de gruas e guindastes para içar até 220 toneladas. “É um canteiro de obras extremamente mecanizado e limpo”, diz o engenheiro civil George Magalhães Maranhão, responsável pelo projeto.
Encaixes milimétricos
Para Caroline Azevedo, gerente de sustentabilidade do estaleiro Enseada do Paraguaçu, o empreendimento mostra que é possível a convivência entre construção civil e áreas de preservação ambiental, sem que uma prejudique a outra. “A prova é que obtivemos todas as licenças ambientais exigidas. Além do licenciamento clássico ambiental, fomos licenciados também pelo patrimônio histórico, por meio do Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional], pela Fundação Palmares, pela característica de estarmos dentro de uma comunidade quilombola; pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, por estarmos vizinhos a uma área de proteção federal; e pelo Estado, por estarmos dentro da APA [Área de Preservação Ambiental] Baía de Todos-os-Santos”, afirma Caroline.
Outro desafio da obra foi especificar como seria a ligação dos elementos. O objetivo era que eles saíssem da indústria de pré-fabricados já com os encaixes prontos, para que no canteiro de obras ocorresse apenas o içamento e a montagem. “Na fábrica, foi adotado um processo de verificação milimétrica, por meio de gabaritos, que aprovava ou não a saída de peças para a obra. Os pilares, por exemplo, foram fabricados em três partes para facilitar o transporte. Por isso, o encaixe não poderia falhar”, explica George Magalhães Maranhão. Além de servir à indústria naval do petróleo, o estaleiro Enseada do Paraguaçu fornecerá equipamentos para a indústria militar.
Clique aqui e entenda mais sobre como foi construído o estaleiro Enseada do Paraguaçu.
Entrevistado
Engenheiro civil George Magalhães Maranhão, diretor-presidente da George Maranhão Engenharia e Consultoria Estrutural
Contato: projetos@georgemaranhao.com.br
Crédito Foto: Divulgação/George Magalhães Maranhão
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Norma de Desempenho também exige mudança cultural
Para engenheira Sueli Bacchereti Bueno, revisão do imóvel deve perseguir modelo já adotado com automóveis e as próprias pessoas, ao prevenir doenças
Por: Altair Santos
Em vigor desde 19 de julho de 2013, a Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575) ainda é tema de profundos debates no meio técnico da construção civil. Entre eles, como fazer o consumidor entender o que significa esta norma técnica e o que ela representa para a qualidade do imóvel adquirido. É esse o alerta que faz a engenheira civil Suely Bacchareti Bueno, projetista e ex-presidente da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural). Para ela, a questão do ciclo de vida útil da construção – um dos itens mais comentados da norma – passa por uma mudança cultural do usuário.
Segundo a especialista, é preciso difundir a prática da manutenção do imóvel da mesma forma que ocorreu com o setor automobilístico. “Hoje, o consumidor promove as revisões em seu veículo conforme o manual do proprietário, o que prolonga a vida útil do carro e evita transtornos. Assim deve ser com o imóvel”, diz. Ela também usou como exemplo o hábito de as pessoas irem com mais frequência ao médico e ao dentista. “As pessoas descobriram que é mais barato, e dói menos, fazer a manutenção da saúde. Da mesma forma, deve ser com os imóveis”, completa.
Suely Bueno defende que a cadeia produtiva da construção civil promova campanhas de esclarecimento ao consumidor sobre o que é a Norma de Desempenho, sobretudo no que se refere ao ciclo de vida útil e à manutenção do empreendimento. “Vamos ter que ensinar os consumidores a revisar seus imóveis. Hoje, já funciona assim para os elevadores. Muitos edifícios adotam como regra a revisão mensal do sistema. Em algumas cidades, isso já é lei. Por que não, isso se estender a toda edificação?”, questiona, entendendo que esses conceitos deveriam se propagar às obras públicas. “Existem governantes que preferem inaugurar novas obras, em vez de atuar na manutenção dos empreendimentos já construídos. As definições de ciclo de vida útil devem valer para todas as construções”, complementa.
Além de vigas e lajes
Sob o aspecto técnico, Suely Bueno afirma que a Norma de Desempenho também precisa ser melhor entendida pelos engenheiros-projetistas. “Os projetistas estão vulneráveis se não entenderem as exigências de performance de uma estrutura, a partir dos conceitos da Norma de Desempenho. Hoje, não se trata mais de projetar uma viga ou uma laje, mas de projetar uma viga e uma laje que devem ter desempenho acústico e que vão receber um tipo de piso e um tipo de caixilho de porta adequados à norma. É preciso levar em consideração todo o sistema, ou seja, se uma disciplina falhar desencadeia falhas em outras disciplinas”, alerta.
A Norma de Desempenho, de acordo com a engenheira civil, também exige que o projetista passe a ter a prática de documentar todos os procedimentos adequados à ABNT NBR 15575. “Ao contrário do que se imagina, a Norma de Desempenho está amparada pelo Código do Consumidor, que é lei. Assim, se um usuário vier a acionar a justiça, desencadeará um processo que fará com que a incorporadora acione a construtora, e que essa acione fornecedores de materiais e projetistas. Então, o que resta é que a Norma de Desempenho é uma grande oportunidade de fortalecer a engenharia e a arquitetura”, conclui.
Entrevistada
Suely Bacchereti Bueno, engenheira-projetista, sócia-diretora da JKMF e ex-presidente da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural)
Contato: jkmf@jkmf.com.br
Crédito Foto: Divulgação/ABECE