China “compra” infraestrutura na América Latina

Priorizando Brasil e Argentina, potência mundial viabiliza corredores de transporte ferroviário para facilitar escoamento de matérias-primas

Por: Altair Santos

O trem-bala brasileiro seria o mais ousado projeto ferroviário nacional, caso tivesse saído do papel. Agora, o governo federal lança o plano da Ferrovia Transoceânica. A extensão pode variar entre 4 mil e 5 mil quilômetros, já que o trajeto ainda não está definido. A princípio, a linha sairia do Rio de Janeiro, cortando outros cinco estados brasileiros (Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre) até entrar no Peru, para desembocar no Pacífico. A diferença desta megaobra, em relação ao trem-bala, é que agora há um investidor interessado: a China.

Acordos assinados entre a presidente Dilma Rousseff e o premier chinês Li Keqiang destacam a construção da ferrovia Transoceânica
Acordos assinados entre a presidente Dilma Rousseff e o premier chinês Li Keqiang destacam a construção da ferrovia Transoceânica

A potência mundial tem um novo foco de investimentos: a América Latina. Priorizando Brasil e Argentina, a China quer viabilizar corredores de transporte ferroviário para facilitar o escoamento de matérias-primas compradas destes países. Em território argentino, os chineses querem criar um corredor da carne. Já no Brasil, a meta é abrir um caminho para que a soja e os minérios do país possam ser embarcados no Oceano Pacífico – especificamente em portos do Peru. A intenção é baratear a logística, pois, atualmente, os navios saem carregados do Brasil e da Argentina e precisam passar pelo Canal do Panamá para transpor o continente ou cruzar o Atlântico e o Oceano Índico.

Hoje, as exportações brasileiras para a China levam de 30 dias a 40 dias para chegar ao destino, independentemente do caminho (via Canal do Panamá ou Atlântico/Índico). Com a megaobra, a estimativa é que o percurso cairia para 20 dias ou menos. Para viabilizá-la, o aporte financeiro pode chegar a R$ 34 bilhões, dependendo do trajeto a ser escolhido. O principal empecilho está na possibilidade de a ferrovia cortar a região amazônica - traçado mais curto -, o que implicaria em superar barreiras ambientais.

Abertura a empreiteiras estrangeiras
Independentemente das dificuldades que possam ser impostas à construção, na segunda quinzena de maio de 2015 os governos brasileiro, chinês e peruano assinaram 35 acordos, com validade até 2021, que viabilizam a construção da Ferrovia Transoceânica. Mas é possível que a megaobra exija também a inclusão da Bolívia na parceria, caso o trajeto tenha que evitar a floresta amazônica. Com a participação ou não dos bolivianos no empreendimento, esta será, após mais de 40 anos, a segunda obra transnacional viabilizada em território brasileiro. A primeira foi a hidrelétrica Itaipu.

Mapa da rota da Transoceânica: obra pode custar até R$ 34 bilhões, por causa de questões ambientais
Mapa da rota da Transoceânica: obra pode custar até R$ 34 bilhões, por causa de questões ambientais

Além disso, poderá ser também a primeira construção a usar empreiteiras estrangeiras. Com o andamento da operação Lava Jato envolvendo as principais construtoras do Brasil, é possível que elas sejam impedidas de participar de licitações para esse tipo de obra. Com isso, a China já se “ofereceu” para viabilizar o projeto. O governo brasileiro reluta, mas os chineses acenam com a possibilidade de contratação de mão de obra brasileira e transferência de tecnologia. A Ferrovia Transoceânica é vista pela potência mundial também como uma porta de acesso para atuar na construção civil da América Latina.

Entrevistados
- Câmara de Comércio e Indústria Brasil China (CCIBC) (via assessoria de imprensa)
- VALEC, Engenharia, Construções e Ferrovias S.A (via assessoria de imprensa)
Contatos
presidente@valec.gov.br
infosp@ccibc.com.br

Créditos Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Divulgação

 

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Lava Jato obriga revisão da gestão corporativa

Repercussão das investigações em andamento leva Instituto Brasileiro de Governança Corporativa a reavaliar procedimentos para mitigar ameaças

Por: Altair Santos

Tema cada vez mais relevante nas reuniões de conselho das empresas - principalmente após os escândalos recentes, trazidos à tona pela Operação Lava Jato -, os modelos de gestão corporativa começaram a passar por aperfeiçoamentos no Brasil. Um exemplo é a mais recente medida do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), que elencou oito pontos que devem ser melhorados para mitigar as ameaças e os riscos aos quais os negócios passaram a estar expostos no país.

Amadurecimento da sociedade brasileira exige mudanças das empresas, incluindo as ligadas à cadeia produtiva da construção civil
Amadurecimento da sociedade brasileira exige mudanças das empresas, incluindo as ligadas à cadeia produtiva da construção civil

Segundo Mercedes Stinco, coordenadora da comissão de gerenciamento de riscos corporativos do IBGC, as investigações em andamento e a repercussão que estão tomando, em conjunto com a aprovação da Lei Anticorrupção (nº 12.846), em 2014, trazem mais luz e força às iminentes mudanças pelas quais as corporações estão passando. “Leis, regulamentos e normas impõem às organizações novas exigências. Adequar-se pode ser considerado como parte de uma nova estrutura de governança”, diz.

Os oito pontos reavaliados pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa foram estabelecidos no 3º Encontro de Conselheiros Certificados do IBGC, promovido em maio de 2015. Eles servem como alertas para as empresas, e são os seguintes:
- Riscos cibernéticos: em maior ou menor grau, as evoluções tecnológicas afetam ou podem afetar os negócios em caso de algum ataque externo.
- Papéis e responsabilidades conhecidos: fóruns e principais responsáveis pelo monitoramento de riscos, alçadas e metodologia aplicada devem fazer parte da governança da gestão de riscos.
- Comunicação eficaz entre o conselho de administração e os gestores responsáveis pela área. Adoção de políticas de riscos, transparência e formalização de riscos assumidos.
- Engajamento: não adianta ter estrutura, processos e controles formais sem que haja indivíduos pessoalmente engajados na execução de suas atribuições. Principalmente no conselho de administração, que é o guardião da política de gerenciamento de risco.
- Independência, sinergia e utilidade: gestão de riscos que funciona com eficácia deve ter, além de independência, sinergia com áreas correlatas e ser patrocinada pela liderança. Ao mesmo tempo, se não for útil para a gestão, não terá a efetividade e a continuidade necessárias.
- Compliance e transformação cultural: após a Lei Anticorrupção, fez-se necessário lapidar as pessoas da organização. Portanto, a mudança cultural surge como desafio. Não basta ser. Tem que parecer, através de ações como tolerância zero, treinamento e orientação, incentivo à denúncia e gestão de consequências.
- Reputação se constrói de dentro para fora da organização e se mede através da percepção dos stakeholders. Há a necessidade da participação de todos os níveis da empresa, entregar o que se promete e não ter medo de fazer perguntas difíceis.
- Lei Anticorrupção: os conselheiros devem estar atentos à prevenção de práticas de corrupção. A lei traz penalidades para as pessoas jurídicas, entretanto, as pessoas físicas poderão ser responsabilizadas por outras formas, como através da Lei das S.A., que impõe deveres fiduciários aos administradores das companhias.

Mercedes Stinco: leis, regulamentos e normas impõem às organizações novas exigências
Mercedes Stinco: leis, regulamentos e normas impõem às organizações novas exigências

Mais transparência
Para Mercedes Stinco, as mudanças se devem também ao amadurecimento da sociedade brasileira, já que elas abrangem as empresas com matriz no país. “As empresas globais já possuem mecanismos mais robustos e maduros, advindos das obrigações impostas pelas matrizes”, afirma, completando que os investidores também estão mais seletivos quanto ao modelo de gestão das corporações. “Há várias pesquisas que mostram que os investidores estão dispostos a pagar mais pelas ações de empresas classificadas em bons níveis de governança, devido aos vários requerimentos e transparências necessários para chegar a estes estágios.”

Sobre as grandes empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, o IBGC tem como política não comentar casos específicos. Mas, de forma conceitual, a coordenadora da comissão de gerenciamento de riscos corporativos do instituto avalia que as empresas que quiserem preservar seu valor e sua perenidade terão de reformular suas estratégias de atuação, além de incorporar uma série de ações que possam trazer mais transparência ao seu modelo de gestão. “Entendo que gerir riscos no setor da construção civil faz parte do modelo de negócio. O que deve ser observado é a necessidade de evoluir nas práticas de como são exercidas as transações comerciais, para poder atender aos princípios básicos da governança”, avalia.

Entrevistada
Mercedes Marina Stinco, graduada em ciências contábeis, especialista em negócios e coordenadora da Comissão de Gerenciamento de Riscos Corporativos do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa)
Contato: ibgc@planin.com

Créditos Fotos: Divulgação/Divulgação/IBGC

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Após crise, construção civil nunca mais será a mesma

Quadrinômio formado por eficiência, produtividade, segurança e lucratividade tende a estar cada vez mais presente nos canteiros de obras

Por: Altair Santos

A crise pode fazer a construção civil fechar 2015 com quase 500 mil demissões, mas também tem servido de alavanca para o setor acelerar processos que melhoram a produtividade e tornam os canteiros de obras mais enxutos. Especialistas que debateram o tema no M&T Expo 2015 concluíram que, ao final desta transformação, surgirá uma mão de obra muito mais qualificada, além de empresas capacitadas tecnologicamente e com um leque maior de sistemas construtivos para empreender. Enfim, uma construção nacional mais moderna e competitiva.

Márcio Cardoso: saem os operários, entram os operadores
Márcio Cardoso: saem os operários, entram os operadores

O engenheiro mecânico Márcio Cardoso, que palestrou no M&T Expo 2015 - evento voltado a equipamentos para canteiros de obras e sistemas construtivos -, lembra que há um quadrinômio que já é perseguido pelas empresas do setor. “Eficiência, produtividade, segurança e lucratividade é o que vai nortear as construtoras brasileiras a partir de agora, assim como foi nos Estados Unidos após a crise de 2008. Lá, hoje, há 800 mil equipamentos trabalhando nos canteiros de obras. Aqui, são 35 mil, mas com forte potencial e viés de alta. É um caminho sem volta”, avalia.

O especialista lembra que esse processo de transformação começou com o programa Minha Casa Minha Vida. “Foi com o Minha Casa Minha Vida que se introduziram as gruas nos canteiros de obras. Também foi com o impulso do programa que os fabricantes passaram a paletizar seus produtos para entregá-los nas áreas em construção. Isso é um sinal evidente de investimento em produtividade”, afirma. De acordo com Márcio Cardoso, a tecnologia cada vez mais agregada à construção civil levará a execuções mais rápidas e eficientes e à redução do número de horas/homem.

Mário Humberto Marques: é inexorável que o país deverá modernizar a forma de construir
Mário Humberto Marques: é inexorável que o país deverá modernizar a forma de construir

Em vez de pás, joysticks
Na avaliação do palestrante, sairão os operários e entrarão os operadores de máquinas nos canteiros de obras. Para isso, Márcio Cardoso destaca que as construtoras precisarão investir fortemente em treinamento. Até porque, a sofisticação das máquinas é cada vez mais acentuada. “A versatilidade dos equipamentos permite que eles operem tanto em áreas externas quanto internas. Também podem carregar mais cargas, em alturas mais elevadas e em terrenos mais acidentados. Quanto ao sistema de operação, os fabricantes optam por algo parecido com os games, usando joysticks, por exemplo. Isso requer treinamento”, diz.

Diante do cenário de crise, o M&T Expo 2015 mostrou que a lógica das empresas será seguir o lema “mais com menos”. Não apenas nos canteiros de obras de construções habitacionais, mas também nas áreas que envolverem grandes construções, haja vista que o país colocou um pacote de concessões em curso para melhorar sua infraestrutura. “É inexorável que o Brasil deverá viabilizar grandes obras e isso demandará investimentos também em equipamentos e na modernização na forma de construir. A construção civil nacional sabe que precisa executar mais rápido e com mais eficiência”, destaca o vice-presidente da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração), Mário Humberto Marques.

Entrevistados
Engenheiro mecânico Márcio Cardoso, vice-presidente de vendas e aftermarket da JLG para a América do Sul
Engenheiro mecânico Mário Humberto Marques, vice-presidente da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração)

Contatos
treinamento@jlg.com
sobratema@sobratema.org.br

Créditos Fotos: Divulgação/M&T Expo 2015

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

O que é mais barato: construir ou comprar pronto?

Ainda que os índices para construção própria sejam mais em conta, o gerenciamento da obra é decisivo para não estourar o orçamento

Por: Altair Santos

Em maio de 2015, o valor médio do Índice Nacional da Construção Civil (INCC), medido pelo IBGE e pela Caixa Econômica Federal, foi cotado em R$ 1.001,31. Trata-se do indicador que mede a variação dos preços de materiais, mão de obra e matéria-prima da construção civil. Por isso, serve de balizador para quem constrói e faz crer que, em comparação com outros índices - como os que medem o m² construído -, seja mais barato viabilizar um empreendimento por conta própria do que comprar o imóvel pronto.

Euclésio Finatti, do CREA-PR: gerenciamento da obra é que define se ela será mais cara do que o orçado inicialmente
Euclésio Finatti, do CREA-PR: gerenciamento da obra é que define se ela será mais cara do que o orçado inicialmente

Mas não é tácito afirmar que construir é mais barato que comprar pronto. Ainda que o metro quadrado construído seja, em média, de cinco a seis vezes mais caro que o INCC, é preciso colocar nesta conta o custo do gerenciamento da obra e também do terreno em que ela será erguida. Se quem for construir por conta própria tiver um bom engenheiro civil, mão de obra qualificada e souber comprar os materiais adequadamente, a obra, de fato, pode custar mais barato. Caso contrário, o estouro do orçamento pode ser inevitável.

Segundo o engenheiro civil Euclésio Manoel Finatti, assessor de relações com o setor empresarial do CREA-PR, para quem vai construir por conta própria o gerenciamento é decisivo. “Quando o gerenciamento é feito com o objetivo de otimizar a execução, promover compras programadas, buscar custos, prazos e qualidade, ele atinge seu objetivo: reduzir o custo da obra. Um bom gerenciamento se paga. Por outro lado, caso o gerenciamento seja desastroso, a obra pode ficar mais cara que comprar pronto”, avalia.

A recomendação para quem se propõe a viabilizar uma obra, seja residencial, comercial ou industrial, é que contrate especialistas competentes. “Um bom arquiteto e um bom engenheiro civil basta para que uma obra seja feita corretamente e adequada ao seu custo. O dono da obra não deve contratar mão de obra. Isto é atribuição de quem conhece de execução de obra, que é o engenheiro. Este é um dos papéis deste profissional: saber selecionar a mão de obra adequada para cada parte, cada fase da obra”, complementa Finatti.

Construtor não precisa entender de obra, mas tem que contratar os profissionais certos
Construtor não precisa entender de obra, mas tem que contratar os profissionais certos

Retrabalho fulmina custo da obra

Sobre o que pesa mais no custo da obra, se materiais, mão de obra ou terreno, o especialista do CREA-PR revela que o impacto do terreno chega, no máximo, a 20%. Significa que a influência de mão de obra e materiais é maior no preço final. “Um profissional sem a qualificação devida causará prejuízo, pois o trabalho terá que ser refeito. Por outro lado, materiais de construção de qualidade duvidosa também geram retrabalho. Neste caso, o custo é dobrado, pois paga-se para retirar e refazer o serviço”, afirma.

Por fim, Euclésio Finatti explica que o preço da obra pronta é maior por, normalmente, existir a figura do investidor neste tipo de empreendimento. “O investidor colocou seu capital antes, e quer remunerá-lo - ao menos no valor da inflação do período. Nesta conta, ele ainda acrescenta seu ganho como investidor, e também o custo da obra. Tudo isso somado deixa a construção pronta mais cara”, reitera.

Mão de obra e materiais são fatores decisivos no sucesso da construção
Mão de obra e materiais são fatores decisivos no sucesso da construção

Entrevistado
Engenheiro civil Euclésio Manoel Finatti, assessor de relações com o setor empresarial do CREA-PR

Contato: euclesio@braengel.com.br

Créditos Fotos: Divulgação/CREA-PR/Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Ponte de Laguna é marco da engenharia nacional

Obra de infraestrutura construída no trecho catarinense da BR-101 começa a funcionar em julho, tornando-se referência a futuros projetos

Por: Altair Santos

Relevante obra para o tráfego de transporte rodoviário no Sul do país, a Ponte de Laguna entra em operação até a segunda quinzena de julho de 2015. A construção começou em 2012 e, junto com o trecho leste do Rodoanel de São Paulo, é a única no Brasil a usar a tecnologia de cimbramento móvel. O sistema permite construir grandes vãos com estruturas mais leves e de forma mais rápida. Através dele, a concretagem in loco das aduelas ocorre dentro do equipamento, evitando contato com o solo. É ideal para obras erguidas em áreas alagadas ou sobre braços de mar, como é o ambiente em que se localiza a Ponte de Laguna.

Ponte de Laguna: obra consumiu 86.772 m³ de concreto usinado
Ponte de Laguna: obra consumiu 86.772 m³ de concreto usinado

No caso da superestrutura construída no trecho catarinense da BR-101, no município de Laguna-SC, a tecnologia de cimbramento móvel foi usada pela primeira vez no Brasil para viabilizar uma ponte em curva. Por isso, a construção é considerada um marco da engenharia nacional, como explicou o engenheiro civil Bruno Galvani Oliveira. Ele citou a obra como case no VIII Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas, realizado pela ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e pela ABPE (Associação Brasileira de Pontes e Estruturas) entre 21 e 22 de maio.

Bruno Galvani Oliveira disse que a Ponte de Laguna estabeleceu um recorde de concretagem no país, através do sistema de cimbramento móvel. “Conseguimos concretar 50 metros de ponte em três dias e meio”, revelou. O engenheiro explicou também que o equipamento permitiu usar menos aço no concreto protendido. “Com isso, construímos tabuleiros com menor número de juntas, reduzindo o risco de corrosões. Consequentemente, a durabilidade da obra será muito maior”, explicou.

Fluxo de até 30 mil veículos por dia
O engenheiro citou que a Ponte de Laguna tem 52 vãos. O central (estaiado) mede 500 metros, com dois adjacentes de 100 metros cada um. Além disso, conta com outros 49 vãos de 50 metros. Segundo dados do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), a extensão da ponte é de 2.830 metros. Ela foi construída com 588 aduelas, das quais 94 estão no trecho estaiado. Cada aduela pesa em torno de 60 toneladas.

O vão principal é sustentado por 60 estais (cabos), sendo 52 longitudinais e 8 transversais (nos mastros). A altura dos mastros centrais chega a 66 metros. Ao todo, a obra consumiu 86.772 m³ de concreto dosado em central. O volume seria capaz de encher 3.471 piscinas olímpicas, com capacidade para 25 mil litros. A Ponte de Laguna também usou 12.520 toneladas de aço. As pistas medem 25,3 metros cada e a expectativa de fluxo de veículos é de 27 mil a 30 mil por dia. O consórcio da obra foi liderado pela Camargo Corrêa e o custo final chegou a R$ 695 milhões, envolvendo 1.700 trabalhadores em seu canteiro de obras.

Entrevistados
- Engenheiro civil Bruno Galvani Oliveira, business development manager da BERD (Bridge Engineering Research & Design), com sede em Portugal
- Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) (via assessoria de imprensa)

Contatos
info@berd.eu
imprensa@dnit.gov.br

Créditos Fotos: Jurandir Figueiredo, Divulgação/Dnit, Guarnição Especial PM Laguna e Divulgação/ABECE

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Versão 4 da certificação LEED prioriza fabricantes

No país, documento será lançado na 6ª edição da Greenbuilding Brasil, em agosto. Desafio é equilibrar rigor técnico com expectativa do mercado

Por: Altair Santos

Agendada para acontecer de 11 a 13 de agosto de 2015, em São Paulo, a 6ª conferência anual do Greenbuilding Brasil marcará o lançamento da versão 4.0 da certificação LEED (sigla em inglês para Liderança em Energia e Design Ambiental) no país. O novo modelo é uma evolução do que está em vigor desde 2009. Seu lançamento internacional se deu no final de 2013 e nos Estados Unidos já existem construções dentro dos parâmetros da 4.0.

Nos EUA já existem obras construídas com base na versão 4.0 da LEED: maior exigência com materiais usados na construção
Nos EUA já existem obras construídas com base na versão 4.0 da LEED: maior exigência com materiais usados na construção

A versão ganhou atualizações técnicas e aumentou as exigências para que os empreendimentos ganhem o selo de obra sustentável. Agora, a certificação preocupa-se detalhadamente com os materiais. Passou a exigir, por exemplo, análises do ciclo de vida (ACV), divulgação da composição dos produtos utilizados na edificação e identificação de compostos químicos tóxicos nos produtos aplicados na obra.

Na 6ª conferência, um dos seminários previstos é: LEED versão 4, nossos fabricantes estão preparados? O objetivo é que especialistas do Green Building que atuam no Brasil comecem a balizar os fabricantes para que os produtos passem a carregar o LEED versão 4 em suas embalagens. A implantação da versão 4.0 será gradual, pois o principal receio dos profissionais é que o mercado da construção civil não esteja preparado para acompanhar as novas propostas, principalmente no que tange a tecnologias e produtos necessários para o atendimento dos novos créditos do LEED.

Além disso, a certificação nova é mais abrangente. Não atende apenas edifícios habitacionais e comerciais, mas também data centers, centros de distribuição e edifícios escolares. Ele é também mais exigente para que o edifício construído preserve o selo LEED quando estiver em funcionamento.

Evolução desde 1998
Conceitos como concepção integrada de projeto, compensação de carbono e medição setorizada do consumo de água, além do ciclo de vida de materiais e do empreendimento, passaram a ser levados em conta. Por isso, a GBC Brasil avalia que a versão 4.0 do LEED, além de necessária para que a certificação continue evoluindo no país, traz avanços nos conceitos de desempenho ambiental e nos critérios técnicos.

Para tal, a atualização considerou todas as evoluções tecnológicas e construtivas desde 1998, quando surgiu a certificação LEED. Foram lições aprendidas em milhares de projetos certificados ao redor do mundo, o que serviu para o sistema amadurecer e impulsionar o setor da construção civil na direção da sustentabilidade.
Atualmente, há 18 mil edifícios certificados em todo o mundo e 36 mil em processo de obter o selo verde. No Brasil, apesar do movimento pela construção sustentável ser recente, iniciado em meados de 2006, já são 783 empreendimentos registrados e 115 com LEED.

Resumo das principais mudanças na certificação LEED 4.0
• Exige análise das condições iniciais do terreno, antes do desenvolvimento do projeto
• Requer entorno com boa mobilidade urbana e prioridade ao transporte público
• Obrigatoriedade na redução do consumo de água para paisagismo, ao menos em 30%
• Dispositivos hidrossanitários das edificações devem reduzir consumo de água em pelo menos 20%
• Obrigatoriedade de se desenvolver um plano de gestão de resíduos durante a construção
• Pede análise de ciclo de vida (ACV) dos materiais empregados na obra
• Exige coleta, armazenamento e disposição correta de resíduos perigosos

Entrevistado
Green Building Council Brasil (via assessoria de imprensa)
Contato: marketing@gbcbrasil.org.br

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Pós-venda cria ciclo virtuoso para novas vendas

Desde a Norma de Desempenho, sucesso do empreendimento só é concretizado se satisfizer consumidor e gerar novas perspectivas mercadológicas

Por: Altair Santos

Construtoras e incorporadoras nunca estiveram tão atentas ao pós-venda. A atenção cresceu, principalmente, após a criação da Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575), que em junho de 2015 completou dois anos em vigor. Além disso, passou a pesar também o aspecto mercadológico. O pós-venda hoje é visto como uma alavanca para futuros negócios, além de preservar as empresas de problemas com o Código do Consumidor. Outro elemento que fortalece o círculo virtuoso do pós-venda são as redes sociais. Construtoras e incorporadoras têm utilizado esses canais para prestar assessoria técnica, principalmente quando o comprador do imóvel tem dúvidas com relação a reformas.

Manuais do proprietário e do síndico: construção civil busca padrões da indústria automobilística
Manuais do proprietário e do síndico: construção civil busca padrões da indústria automobilística

A força do pós-venda para atrair novas vendas é analisada pelo engenheiro civil Leonardo Pissetti, diretor de empreendimentos da Swell Construções e Incorporações, que recentemente criou um departamento de engenharia de qualidade para as demandas dos clientes que já residem em seus empreendimentos. Segundo ele, a construção civil persegue os padrões de dinâmica de venda e de execução de garantias semelhante aos existentes na indústria automobilística. Confira a entrevista:

É possível, através do pós-venda, criar um ciclo virtuoso para novas vendas de imóveis?
Sim. É aí que se faz a manutenção do cliente e da satisfação dele após a entrega do produto. Nas etapas anteriores, ele estava na intenção de compra ou tinha comprado a ideia. No pós-venda, já morando e vivenciando o uso do imóvel é que surgem as demandas. Neste caso, a assistência da construtora em todo este processo é muito importante.

O pós-venda auxilia também para que a construtora aprimore seus padrões de qualidade?
Sem dúvida, vale como um programa de qualidade para a empresa. Permite avaliar materiais, equipamentos usados na obra e corrigir vícios construtivos. Afinal, há muitas descobertas que só surgem depois que o proprietário passa a morar no imóvel.

Sob o ponto de vista mercadológico, o pós-venda é também uma alavanca para futuras vendas, principalmente para preservar a marca da empresa de problemas com o código do consumidor e para que ela ganhe impulso nas redes sociais?
Antes de adquirir um imóvel o comprador pesquisa. Isso se dá através dos canais disponíveis na internet. Qualquer reclamação que haja contra o empreendimento ou a construtora poderá deixá-lo inseguro. Assim, não tem como a construtora se esconder atrás de um problema.

Mas todo comprador de imóvel tem esse perfil hoje?
O mercado atual tem dois perfis de consumidores. Um é aquele que busca o desconto, o melhor negócio, e que pensa: por esse preço que eu estou comprando vale a pena correr o risco. Esse não quer pós-venda. E tem o que prioriza o relacionamento com a construtora. Afinal, quando vendemos um imóvel estamos também vendendo um relacionamento de cinco anos com o comprador (o Código do Consumidor prevê que a construtora deve prestar atendimento ao imóvel ao longo deste período, caso surjam problemas decorrentes da execução da obra). Achamos que isso tem peso, pois é através desta assistência, do atendimento e da imagem que se forma, que se consegue influenciar a rede de relacionamento do cliente, com ele recomendando os empreendimentos da construtora para os amigos.

Leonardo Pissetti: relacionamento e atendimento pós-venda geram novos clientes
Leonardo Pissetti: relacionamento e atendimento pós-venda geram novos clientes

O pós-venda inclui prestação de assessoria técnica quando o comprador do imóvel tem, por exemplo, dúvidas com relação às reformas?
Ao receber o imóvel, o proprietário recebe um manual que orienta como proceder. Desde solicitar a ligação de luz na companhia elétrica até os cuidados que deve ter para não furar uma tubulação. Também mostra se pode fazer a retirada de uma parede para ampliar um cômodo, quais os procedimentos técnicos e burocráticos. Hoje é preciso ter um responsável técnico pela obra, contar com a aprovação do síndico, entre outras exigências. Todos esses passos devem vir detalhados no manual do proprietário e também estar disponível nos canais de acesso direto ao cliente da construtora, como sites e e-mails.

Qual o peso das normas ABNT NBR 15575 (Desempenho das Edificações), ABNT NBR 5674 (Manutenção das Edificações) e ABNT NBR 14037 (Diretrizes para Elaboração de Manuais de Uso, Operação e Manutenção das Edificações) nesta mudança de relação entre construtoras e consumidores?
São poucos os imóveis ainda entregues sob esse conjunto de normas, já que elas passaram a valer a partir de alvarás emitidos desde julho de 2014. Mas elas também passaram a atribuir responsabilidades ao comprador, quando exigem que ele siga um plano de manutenção. Se o proprietário não cumprir com o que dizem as normas ele vai reduzir a vida útil do imóvel. É como a garantia de um carro. O comprador perde se não realizar as revisões programadas ou fizer alterações significativas no veículo.

Como as empresas se estruturam para fazer o atendimento pós-venda, tanto na parte técnica quanto no marketing e no relacionamento direto?
Na Swell Construções e Incorporações, por exemplo, montamos um setor de engenharia de qualidade, que faz o atendimento desde o pré-venda, passando por geração de contratos e documentos de emissão, até o pós-venda. Isso engloba atendimento técnico em caso de reformas no empreendimento.

É possível que no futuro, o mercado imobiliário chegue ao nível da indústria automobilística, que hoje faz recall e tem garantia estendida?
O sonho das construtoras é que o mercado imobiliário chegue aos padrões do mercado automobilístico. Desde a execução dos produtos até a dinâmica de vendas, análise de crédito, geração de contratos e execução de garantias.

Entrevistado
Engenheiro civil Leonardo Pissetti, diretor de empreendimentos da Swell Construções e Incorporações.
Contato: leonardo@swellconstrucoes.com.br

Créditos Fotos: Divulgação/Swell Construções

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

A 400 dias das Olimpíadas, obras não subiram no pódio

Construções avançam, mas em ritmo lento. Incógnita, agora, é saber qual o impacto que a Lava Jato causará nos empreendimentos para os jogos

Por: Altair Santos

Em 1º de julho, dentro da contagem regressiva para as Olimpíadas de 2016, a cidade do Rio de Janeiro-RJ completou a marca de 400 dias para o início dos jogos. As obras no complexo olímpico avançam, mas ainda em ritmo lento. Se fossem atletas, daria para dizer que o desempenho não é suficiente para levá-las ao pódio. Porém, a Prefeitura do Rio e a Empresa Olímpica Rio 2016, que administram a construção dos empreendimentos, asseguram que o cronograma está adequado. Mas uma incógnita paira no ar: qual o impacto que a Operação Lava Jato causará no canteiro de obras dos jogos, já que boa parte das construtoras contratadas está envolvida no escândalo?

Velódromo: pelo cronograma, deve ser concluído até o final de 2015
Velódromo: pelo cronograma, deve ser concluído até o final de 2015

Recentemente, em visita ao local dos jogos, a presidente Dilma Rousseff refutou o risco de paralisação das obras. “Eu não vejo qual o impacto que a Lava Jato terá nas obras olímpicas. Eu não tenho nenhuma avaliação que mostra que exista algum impacto”, disse. No entanto, as empresas investigadas na operação detêm 73% do investimento em obras para o evento. Dos R$ 37,6 bilhões previstos no orçamento oficial das Olimpíadas de 2016, R$ 27,4 bilhões estão concentrados em obras tocadas por Odebrecht, OAS, Mendes Junior, Queiroz Galvão e uma subsidiária da Camargo Correa, a CCR. O receio é que o Ministério Público Federal possa pedir a paralisação das obras para revisar contratos.

Estão a cargo das empreiteiras denunciadas na Lava Jato as seguintes obras:
Camargo Correa, através da CCR
- VLT do Porto (R$ 1,188 bilhão) e Transolímpica (R$ 1,806 bilhão).

 

Mendes Júnior
- Desvio do Rio Joana, para a contenção de enchentes na área do Maracanã (R$ 185,94 milhões).

OAS
- Parque de Deodoro (R$ 647,1 milhões), revitalização da região portuária (R$ 8,2 bilhões), construção de reservatórios contra enchentes (R$ 421 milhões) e limpeza das lagoas da Barra (R$ 673 milhões).

Odebrecht
- Parque Olímpico (R$ 1,678 bilhão), Vila dos Atletas (R$ 2,909 bilhão), construção do VLT do Porto (R$1,188 bilhão), Transolímpica (R$ 1,806 bilhão), duplicação do Elevado do Joá (R$ 459,88), saneamento da zona oeste do Rio (R$ 431 milhões), revitalização do porto (R$ 8,2 bilhões) e Linha 4 do metrô (R$ 8,890 bilhões).

Queiroz Galvão
- Parque de Deodoro (R$ 647,1 milhões), Linha 4 do Metrô (R$ 8,890 bilhões) e limpeza das Lagoas da Barra (R$ 673 milhões).

Canteiro de obras no Parque Olímpico da Rio 2016: maioria das construtoras que compõem o consórcio está envolvida na Lava Jato
Canteiro de obras no Parque Olímpico da Rio 2016: maioria das construtoras que compõem o consórcio está envolvida na Lava Jato

Segundo o balanço de maio, apresentado pela Empresa Olímpica Rio 2016, 100% dos projetos de execução contratados para o Parque Olímpico da Barra da Tijuca já estão com os serviços iniciados. Neste complexo, que irá concentrar a maior parte das atividades esportivas, além da Vila dos Atletas, nenhuma obra está com atrasos significativos. A construção do velódromo e do Centro Olímpico de tênis são as mais lentas e demonstram que não ficarão prontas até o final do quarto trimestre de 2015, como prevê o cronograma. No entanto, tendem a ser entregues no começo de 2016. Já as mais adiantadas são a Arena do Futuro e a Arena Carioca – conjunto de três ginásios que irá concentrar desde jogos de basquete até duelos de esgrima.

Um milhão de m³ de concreto
O ponto crítico das obras para os jogos olímpicos está no complexo esportivo de Deodoro. O local abrigará 11 modalidades e nenhuma obra ficará pronta antes do primeiro trimestre de 2016. Outro empreendimento que só estará 100% concluído no ano que vem será a Vila dos Atletas. São 31 prédios residenciais divididos em sete condomínios, com 3.604 apartamentos de dois, três e quatro dormitórios. Há atrasos também na readequação do Riocentro para os jogos e nas melhorias do Estádio Olímpico, que será o mesmo usado no Pan de 2007.

Arena Carioca: obra está avançada e será entregue até o final de 2015
Arena Carioca: obra está avançada e será entregue até o final de 2015

Também há um impasse quanto ao Maracanã. O COI (Comitê Olímpico Internacional) pede adequações e a prefeitura do Rio de Janeiro afirma que não fará mais obras no local. O certo é que a pira olímpica irá acender no estádio no dia 5 de agosto de 2016. Até lá, somando todas as obras – incluindo as de infraestrutura e as de mobilidade urbana -, prefeitura e governo do Rio de Janeiro estimam que o volume de concreto a ser produzido para viabilizar os jogos deverá passar de 1 milhão de m³.

Para dar conta de tanto concreto, há centrais montadas nos locais das obras que trabalham ininterruptamente para processar, cada uma, 65 m³/h. Além dos complexos esportivos, elas fornecem material para as obras de mobilidade espalhadas pela cidade. A saber: linha 4 do metrô (120 mil m³), quatro linhas de BRT (Bus Rapid Transit) (70 mil m³), 28 quilômetros de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) (23 mil m³) e recuperação e construção de 60 obras de arte (viadutos e pontes), além da abertura de três túneis.


Entrevistados

Empresa Olímpica Rio 2016, Secretaria de Obras do Governo do Rio de Janeiro (SEOBRAS) e Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos (via assessoria de imprensa)

Contatos
imprensa@empresaolimpica.rio.rj.gov.br
imprensa@obras.rj.gov.br
pressroom@rio2016.com

Créditos Fotos: André Motta/Ministério dos Esportes, Fernando Frazão/Agência Brasil e Renato Sette Camara/Prefeitura do Rio

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Cem anos de Vilanova Artigas, o arquiteto das cidades

Colocado no mesmo patamar de Oscar Niemeyer, ele se inspirava na valorização das estruturas e no concreto aparente para projetar suas obras

Por: Altair Santos

Nascido em Curitiba, em 23 de junho de 1915, o engenheiro-arquiteto João Batista Vilanova Artigas é colocado no mesmo patamar de Oscar Niemeyer. Os dois são considerados os grandes nomes da arquitetura do país. Se Niemeyer criou Brasília, Artigas propôs a transformação de cidades já construídas. É reconhecido por antever a arquitetura e o urbanismo como ferramentas indispensáveis para melhorar a realidade brasileira. Foi com base nesses conceitos que orientou a criação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU), da qual foi um de seus fundadores.

Vilanova Artigas: arquiteto, intelectual e fundador Escola Paulista de Arquitetura
Vilanova Artigas: arquiteto, intelectual e fundador da Escola Paulista de Arquitetura

Vilanova Artigas não apenas influenciou intelectualmente o surgimento da chamada Escola Paulista de Arquitetura, como projetou, junto com Carlos Cascaldi, o edifício que até hoje é sede da FAU-USP. O prédio tem uma das marcas registradas do arquiteto: a valorização das estruturas, dos pilares esbeltos e do concreto aparente. O material foi amplamente explorado por ele em fachadas, brises, paredes internas, escadas e mobiliário. Essa aproximação com o concreto aparente faz parte da chamada terceira fase de Artigas, também conhecida como arquitetura brutalista.

Foram os conceitos desta fase que o arquiteto empregou ao projetar o estádio do Morumbi. Mas Artigas, que em 2015 tem seu centenário celebrado em várias frentes culturais, gostava também de criar novas viabilidades para as habitações. É dele a frase que até hoje é um marco nas escolas de arquitetura e urbanismo. “As pessoas devem se sentir nas cidades como se sentem em casa, e se sentir em casa como se sentem nas cidades", dizia. Seguindo esse conceito, ele projetou obras como o edifício Louveira e as casas Bettega, em Curitiba, e Czapski, na capital paulista.

Celebração do centenário

Muitas obras projetadas e construídas por João Batista Vilanova Artigas - ele era graduado em engenharia civil - estão em processo de tombamento pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Entraram recentemente na fila o Cine Teatro Ouro Verde e a antiga rodoviária de Londrina, além do Museu de Artes – também na cidade do norte paranaense. Todas as edificações foram inauguradas em 1952, quando o arquiteto começava a entrar na fase em que o concreto aparente passou a ter papel relevante em seus projetos.

A celebração do centenário de Vilanova Artigas abre a oportunidade para que seu trabalho seja conhecido pelo público. Há quatro vertentes com o objetivo de mostrar quem foi o arquiteto. Entre elas, o documentário “Vilanova Artigas: as Cidades como as Casas, as Casas como as Cidades”. Também foi lançado um site oficial, que disponibiliza o acervo profissional e pessoal de Artigas, além de um livro com suas obras mais relevantes. Por fim, a exposição no espaço Itaú Cultural, localizado na Avenida Paulista, em São Paulo, propõe um mergulho no processo criativo do arquiteto. A mostra vai de 24 de junho a 9 de agosto e reúne projetos, desenhos e fotos pessoais do imortal arquiteto.

Navegue no site oficial e conheça mais sobre Vilanova Artigas: www.vilanovaartigas.com

Entrevistado
Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB)
Contato: centenarioartigas@gmail.com

Créditos Fotos: Divulgação/Vilanova Artigas

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Na carreira, não basta conhecimento. É preciso agir

Jaqueline Salles, especialista em business coach, ensina que tanto o profissional quanto a empresa são bem-sucedidos quando compartilham conhecimento

Por: Altair Santos

Para ter sucesso, além de especializar-se e dominar as técnicas de seu ramo de atividade, o profissional precisa saber entrar em ação. Por mais brilhante que seja, uma das variáveis é ter a percepção de quando colocar em prática as potencialidades. Enfrentar problemas, ter consistência no dia a dia e atuar com decisão perante as demandas são três vértices que acabam definindo os bem-sucedidos. A isso se define como habilidade de entrar em ação, segundo a business coach Jaqueline Salles. Confira a entrevista sobre carreira, desenvolvimento pessoal, resiliência e empreendedorismo.

Jaqueline Salles: grande desafio dos profissionais da construção civil está relacionado com a comunicação
Jaqueline Salles: grande desafio dos profissionais da construção civil está relacionado com a comunicação

Para alcançar o sucesso profissional, além de especializar-se e dominar as técnicas de seu ramo de atividade, o indivíduo precisa saber entrar em ação. Como transformar conhecimento em ação?
Existe o mito de que ação, tanto na vida pessoal quanto profissional, é sinônimo de sacrifício, de pesar e de dureza. Na verdade, estamos agindo o tempo todo. Até dormir é uma ação. Hoje vivemos na era da informação. Um indivíduo desse século recebe mais informações diariamente do que um indivíduo no século XVIII em todo aquele século. Somos bombardeados pelo conhecimento, mas nem todo conhecimento é válido para ser transformado em ação. Recebemos mais do que expomos, e isso gera estresse e irritabilidade. Para transformar conhecimento em ação é preciso prática. A teoria sem prática não serve para nada. Às vezes, instruir um colega de trabalho ou compartilhar uma descoberta nas redes sociais é transformar conhecimento em ação. Vivemos na era do compartilhamento. Somos o que compartilhamos. Compartilhar é colocar o conhecimento em ação.

Por mais brilhante que seja o profissional, se não souber colocar em prática suas potencialidades ele está fadado ao fracasso?
Sucesso e fracasso são palavras relativas. Existem pessoas que pensam ter alcançado o sucesso e são pegas de surpresa por uma demissão, por exemplo. Não observaram seus pontos cegos. Existem pessoas que fazem de seus fracassos belas histórias de superação e vendem muitos livros alcançando o sucesso. Nessa era do conhecimento não existe zona de conforto e estabilidade. Somos confrontados todos os dias e precisamos mostrar conhecimento através de nossas iniciativas e também através de nossa capacidade de terminar o que começamos. Ao mesmo tempo, precisamos estar em conexão com novas áreas. A questão não está só em praticar o que já sabemos, e sim descobrir o que não sabemos. Essa ação nos faz descobrir os pontos cegos e gerar novos insights.

Enfrentar problemas, ter consistência no dia a dia e atuar com decisão perante as demandas são três vértices que acabam definindo os bem-sucedidos?
Os problemas surgem o tempo todo. A questão é como vamos agir diante deles. A grande maioria não tem uma estratégia. Ao reagir, geram ações negativas ou irrelevantes e se envolvem ainda mais no problema, ao invés de resolvê-lo. Quando se tem consciência de onde se quer chegar e se tem estratégia de vida e de carreira, o indivíduo age em relação ao problema e não simplesmente reage. Ação e reação são dois verbos diferentes, assim como são visões que geram resultados de ações diferentes. O primeiro estágio da equação formada por enfrentar problemas, ter consistência no dia a dia e atuar com decisões é: ter uma estratégia de vida e de carreira bem planejada. Saber onde está e onde vai chegar, e estar sempre se perguntando: aonde eu quero que essa ação me leve?

O ambiente que o profissional encontra na empresa é fator decisivo para ele ser pró-ativo?
As empresas em geral estão ainda presas a modelos passados. Penso que isso é fruto também do modelo tradicional de ensino, que modela pessoas a seguirem determinados padrões que foram criados há séculos e já não representam o indivíduo na atualidade. Indico aos profissionais chegarem devagar e mostrarem suas capacidades com equilíbrio e resiliência. Depois que esse profissional gerar autoridade dentro da empresa, mostrando seus resultados mediante modelos de ação que já estão em andamento, aí sim indico uma maior pró-atividade. Os funcionários mais pró-ativos, que não encontram espaço dentro das empresas em que atuam, geralmente encontram no empreendedorismo uma saída criativa para suas inspirações.

No caso de um trainee, é recomendável que ele já chegue transformando seu conhecimento em ação?
O ideal é modelar os princípios da empresa. A ação pode ser também a observação e o estudo de ambiente. Observar e agir mediante ao que nos espera também é uma excelente estratégia. Ouvir mais do que falar, idem. Muitas pessoas desprezam o poder de escutar ativamente, e é na escuta que moram as oportunidades. Principalmente, para quem está começando. Escutar também é agir.

Transformar conhecimento em ação serve também como desenvolvimento pessoal, de que forma?
A vida profissional não se separa da vida profissional nem em limitações nem em resultados. É isso que as empresas precisam começar a perceber: o ser humano funciona como um todo.

Engenheiros são tidos como cartesianos. Quando a senhora atua como coach para essa categoria de profissionais, o que muda no treinamento?
Todos os que buscam coaching querem transformação, independentemente de seus cargos. Transformação é diferente de mudança. Quantos já quiseram mudar de emprego e encontraram um ambiente ainda mais hostil no novo emprego? Isso não tem nada a ver com o cargo que se ocupa, e sim com o ser humano. Engenheiros, assim como médicos, arquitetos e outros profissionais, são seres humanos. O que um coach faz é potencializar os sentimentos, usando-os como combustível para a realização de sonhos pessoais e metas profissionais.

Quando a senhora atende um público ligado à construção civil quais as maiores demandas deste público para atingir o desenvolvimento profissional?
O grande desafio dos profissionais da construção civil está relacionado com a comunicação. Muitos profissionais não conseguem falar a linguagem de todos os envolvidos num projeto: do engenheiro ao pedreiro, passando por quem encomendou a obra. É preciso ter disponibilidade para entrar no mundo do outro, ouvir o que o outro diz e o que ele não diz. Ouvir e decifrar a linguagem dos diversos seres humanos, com diversos níveis de escolaridade, é realmente um grande desafio dentro de um canteiro de obras.

Em relação ao empreendedorismo, o que muda quando o assunto é transformar conhecimento em ação?
Quando trabalhamos em uma empresa somos geridos por alguém. A empresa escolhe onde iremos trabalhar, qual horário, com quem, etc. A liberdade do empreendedor o obriga a se autogerir. Mandar em si, e ser obediente consigo, demanda muito poder pessoal e resiliência. Muitas vezes o empreendedor não consegue colocar em ação o próprio conhecimento porque procrastina e se envolve na sua autogestão de forma incompleta. Ele não obedece a si mesmo. E para compensar isso, se enche de cursos e mais cursos, sem colocar nada em prática. Não são todos que estão preparados para empreender. É preciso ter um senso de autoconhecimento antes de investir no sonho de ser seu próprio patrão. Todos os empreendedores de sucesso dizem que o autoconhecimento foi o grande diferencial na vida deles.

Entrevistada
Jaqueline Salles
, business coach, especialista em mudança de hábito, escritora e palestrante
Contatos:
contato@jaquelinesalles.com.br
www.jaquelinesalles.com.br

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330