Parede de EPS recoberta por concreto: tecnologia evolui
Com bom desempenho termoacústico, sistema construtivo agora atende projetos mais sofisticados, principalmente de casas em condomínios fechados
Por: Altair Santos
A tecnologia de paredes com EPS, popularmente conhecido como Isopor®, começou a ser usada há 30 anos. No Brasil, fez parte de projetos financiados pelo Banco Nacional de Habitação (BNH), mas poucas unidades foram erguidas no país. Agora, com os avanços tecnológicos, o sistema construtivo volta ao mercado. Desta vez, não para atender habitações de interesse social, mas projetos sofisticados que buscam certificação sustentável.
Na região de Campinas-SP, condomínios de luxo têm usado a tecnologia para construir casas que consomem um volume de água até 50% menor no canteiro de obras, sem contar com a redução quase a zero de resíduos sólidos. Outra característica do sistema é a performance termoacústica, o que ajuda as obras a cumprirem requisitos das Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575).
Nos Estados Unidos, onde foi criada, a tecnologia que usa painéis de argamassa armada com miolo de Poliestireno Expandido (EPS), envolto por malha de aço galvanizado, é conhecida pela sigla SCIP (Structural Concrete Insulated Panel. Além do conhecido desempenho termoacústico, o sistema tem propriedades antifúngicas e resistência de até 40 toneladas por metro linear, sem requerer a utilização de vigas e pilares. “Isso o torna eficaz tanto para paredes de vedação quanto para paredes estruturais”, assegura a engenheira civil Lourdes Cristina D. Printes, da LCP Engenharia&Construções, que detém a exclusividade da tecnologia no Brasil, e que foi exposta no Greenbuilding Brasil 2015.
Certificação sustentável
As casas, normalmente de dois pavimentos, são montadas sobre um radier de concreto armado. As instalações elétricas e hidráulicas da obra são colocadas entre a malha de aço e o isopor, dispensando quebrar a parede. Em caso de reforma, os recortes podem ser feitos com uma serra elétrica. No Brasil, a LCP Engenharia&Construções treina mão de obra quando precisa construir fora do estado de São Paulo.
A construtora assegura que uma casa com 100 m² pode ser entregue para morar no prazo de duas semanas. Comparativamente a uma obra em alvenaria convencional, o custo do sistema, em média, é 20% mais barato. “Outra vantagem é que a aplicação de revestimento sobre as paredes dispensa reboco, podendo ser assentada diretamente na argamassa armada”, explica Lourdes Cristina D. Printes.
Desde 2007, o sistema tem a certificação LEED for Homes, nos Estados Unidos. Os números atualizados mostram que 140 mil casas já foram construídas usando a tecnologia – a maioria nos Estados Unidos e no Canadá. Deste total, 65% têm certificação sustentável. Para obter a LEED for Homes, que é exclusiva para casas, a habitação precisa reduzir consumo de energia em mais de 40%, de água em 12%, de emissões de CO2 em 39% e de geração de resíduos em 65%.
Entrevistada
Engenheira civil Lourdes Cristina D. Printes, diretora técnica da LCP Engenharia&Construção
Contato: lourdes.printes@lcpconstrucoes.com.br
Créditos fotos: Divulgação/Cia. Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Sustentabilidade vira aliada da Norma de Desempenho
Além de exigir o cumprimento da ABNT NBR 15575, certificações de prédios verdes também ajudam a solucionar dúvidas de construtores
Por: Altair Santos
Em vigor há dois anos, a Norma de Desempenho ainda enfrenta resistência, mas também já conta com aliados no ambiente da construção civil. Entre eles, as certificações sustentáveis. Além de reforçar a necessidade de a ABNT NBR 15575 ser executada, pois atrelam a concessão da certificação ao cumprimento da norma, os selos verdes também ajudam a melhorar itens da NBR 15575. Sobretudo nos quesitos relacionados a desempenho térmico e lumínico, como revelam as arquitetas Márcia Menezes e Tássia Marques, que atuam no Centro de Tecnologia de Edificações (CTE).
Para mostrar a existência de vários pontos em comum entre a Norma de Desempenho e as certificações sustentáveis, as profissionais palestraram no Greenbuilding Brasil 2015, que aconteceu na cidade de São Paulo entre 11 e 13 de agosto. Basicamente, explicou Márcia Menezes, a única diferença entre as certificações sustentáveis e a Norma de Desempenho é que os selos verdes são opcionais e a ABNT NBR 15575 é obrigatória para a construção de edificações habitacionais e comerciais. “Dos catorze pontos fundamentais de uma construção, sob o ponto de vista do usuário, em doze a norma e as certificações coincidem”, diz a diretora da Unidade de Inovação & Tecnologia do CTE.
Estes pontos referem-se a desempenho térmico, conforto acústico, desempenho lumínico, durabilidade, segurança, entorno do prédio, gestão de resíduos, usabilidade, conservação e manutenção, qualidade sanitária, projeto e mão de obra qualificada. “A Norma de Desempenho faz um ordenamento destes itens e das normas específicas que tratam deles em uma construção. Isso elimina o risco de experimentos na obra. Qualquer sistema (construtivo) ou produto, de acordo com o que determina a NBR 15575, terá de comprovar que passou por ensaios para ser aceito no canteiro de obras”, completa Márcia Menezes.
Sombras e insolação
Norma de Desempenho e certificações para construções verdes estão intrinsecamente ligadas pelas três grandes categorias de que elas tratam: segurança, habitabilidade e sustentabilidade. No entanto, selos como LEED e Aqua têm elementos que ajudam a aprimorar a ABNT NBR 15575, principalmente nos pontos relacionados a desempenho térmico e lumínico. De que forma? Com base na certificação Aqua, a arquiteta Tássia Marques mostrou estudo realizado pelo CTE, que simulou várias situações de sombreamento, insolação e ventilação, comparando-as com o que pede a norma.
Em síntese, a Norma de Desempenho é pouco descritiva em relação às regiões bioclimáticas do Brasil quando cobra desempenho térmico e lumínico. Para compensar essa fragilidade, a melhor solução é adotar parâmetros estabelecidos nas certificações sustentáveis. Cada região tem pontos cardeais com maior ou menor eficácia em relação a sombreamento e insolação. Em Curitiba, como exemplo, as habitações voltadas para o sudoeste são as que menos recebem a incidência da luz solar, independentemente da estação do ano. Assim é também com outras cidades, o que obrigaria a Norma de Desempenho ser mais abrangente ao tratar das questões térmicas e lumínicas em cada bioclima do país.
Entrevistadas
Arquiteta Márcia Menezes, diretora da unidade de Inovação & Tecnologia do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE)
Arquiteta Tássia Marques, consultora de eficiência energética do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE)
Contatos
marciame@cte.com.br
comunicação@cte.com.br
Créditos fotos: Divulgação/Cia. Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Gestão sustentável viabiliza produtividade na obra
Empreendimentos que buscam certificações green buildings trazem atrelados aos seus projetos fundamentos da construção industrializada
Por: Altair Santos
Um bom caminho para conseguir melhorar a produtividade no canteiro de obras é aderir a certificações sustentáveis. Os conceitos para quem busca o selo de “prédio verde” para um empreendimento já trazem atrelados processos que melhoram o desempenho da obra. Entre eles, baixa geração de resíduos, o uso da logística para minimizar desperdícios, emprego de mão de obra mais especializada, e em menor número, e o uso de sistemas construtivos industrializados.
Quem aponta os pontos em comum entre gestão sustentável e produtividade na obra é o engenheiro civil Daniel Ohnuma, gerente de consultoria em sustentabilidade do CTE (Centro de Tecnologia de Edificações), e que no dia 13 de agosto palestrou no Greenbuilding Brasil 2015, com o tema “Canteiros de obras: reduzindo o custo do m² com a sustentabilidade”. “Obras que buscam mais produtividade buscam industrialização do canteiro de obras. Isso coincide com a gestão sustentável, que também prega uso menor de mão de obra, menor geração de resíduos e uso da logística para reduzir o desperdício, entre outros requisitos”, destaca.
Daniel Ohnuma garante que esses preceitos já são praticamente obrigatórios, sob o ponto de vista do business, para quem se propõe a construir empreendimentos comerciais. “O discurso romântico da sustentabilidade ficou para trás. Agora, é negócio. Principalmente, para empreendimentos comerciais. Sem green building, o prédio não é competitivo e vai ter dificuldade para vender uma laje. Diante deste novo cenário, cai também a tese de que obras sustentáveis são caras. A economia com água e energia para operar esses edifícios faz com que eles se paguem muito rapidamente”, diz.
Incentivo das cidades
O próprio poder público passou a ser um ator importante na disseminação de empreendimentos sustentáveis, cujas obras consolidam avanços na produtividade. As cidades do Rio de Janeiro-RJ, Guarulhos-SP e Belo Horizonte-MG, por exemplo, têm hoje suas próprias certificações. Obviamente, elas se baseiam em conceitos já consolidados nas plataformas LEED e Aqua, mas são importantes para multiplicar a gestão de obra sustentável. Além disso, oferecem vantagens a quem adere às certificações. Entre elas, descontos em registros de projetos nas prefeituras e abatimento no IPTU.
Independentemente do município em que se constrói a obra, é do interesse dos empreendedores aderirem à gestão sustentável. Atualmente, um bom exemplo deste tipo de construção está às margens da Marginal Pinheiros, na cidade de São Paulo, sob a responsabilidade da construtora Odebrecht. Trata-se do Parque da Cidade – um bairro verde incrustado na maior cidade do país -, que persegue conceitos de “prédio verde”, com ganhos de produtividade. O mix de edificações comerciais e residenciais aposta em sistemas construtivos mistos de aço com elementos pré-fabricados de concreto, além de banheiros prontos que se encaixam na obra e paredes de vedação em drywall. “Esse é o padrão de obras que veremos cada vez mais no país”, avalia Daniel Ohnuma.
Entrevistado
Mestre em engenharia civil Daniel Ohnuma, gerente de consultoria em sustentabilidade do CTE (Centro de Tecnologia de Edificações)
Contato: daniel@cte.com.br
Créditos fotos: Divulgação/Cia. Cimento Itambé/Odebrechet
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Espelhos d’água ajudam indústrias a poupar energia
Empresas investem em projetos que priorizam ventilação natural, energia solar, luz ambiente, telhado verde e reúso da água
Por: Altair Santos
Os escritórios de arquitetura passaram a ser desafiados pelas indústrias para desenvolver projetos que permitam a elas economizar energia elétrica e diminuir o consumo de água. Uma solução eficiente tem sido envolver os prédios por espelhos d’água. Estruturas de concreto com lâminas de água, variando entre 30 a 80 centímetros de profundidade, ajudam a minimizar a temperatura externa no entorno da instalação, o que faz com que ela poupe o uso de ar condicionado.
Além disso, a água armazenada pela estrutura é utilizada para fins não potáveis, como a rega de plantas ou descargas em banheiros. Outra função do tanque é armazenar água para uso no combate ao fogo. Os espelhos d’agua cumprem ainda uma função estética, dando às fábricas um novo visual arquitetônico, tirando delas o ar de enclausuramento. “Pensamos que fábricas podem ter arquitetura de alta qualidade”, diz Roberto Loeb, cujo escritório é especializado nesse tipo de obra.
O arquiteto expôs cases na palestra “Arquitetura e Sustentabilidade – uma responsabilidade compartilhada”, durante o Greenbuilding Brasil 2015, realizado de 11 a 13 de agosto, na cidade de São Paulo. Plantas como a do centro de distribuição da Avon, na cidade de Cabreúva-SP; da fábrica de tintas especiais SICPA, em Santa Cruz-RJ; do datacenter do Banco Santander, em Campinas-SP, e da unidade da indústria alimentícia Danone, em Poços de Caldas-MG, têm em comum o espelho d’água.
“Fábricas verdes”
Roberto Loeb explica que esse tipo de projeto requer quebrar paradigmas e vencer a burocracia. “A princípio, demanda muitas negociações, mas elas resultam em melhorias no projeto. Sob o aspecto burocrático e sanitário, é preciso mostrar aos organismos de fiscalização que não estamos criando um fosso de água parada que irá disseminar doenças”, revela.
Os espelhos d’agua são abastecidos de duas formas: por poços artesianos ou por captação de água da chuva. Os projetos arquitetônicos mostrados por Roberto Loeb, em palestra no Greenbuilding Brasil, possuem bombas instaladas nos tanques, as quais permitem que a água circule. Isso não só tem a função de impedir que ela sirva de criadouro como a mantém a uma temperatura ideal para que cumpra a função de refrescar o ar no entorno das unidades.
Todos os projetos mostrados por Loeb foram construídos em regiões do país em que a temperatura média anual é de 25ºC. São plantas que exploram, além dos espelhos d’água, o concreto aparente e os elementos vazados de pré-fabricados de concreto, conhecidos como cobogós. Não são, portanto, para regiões frias. Da mesma forma, todas as edificações contam com certificação LEED e passaram por simulações de desempenho energético e de iluminação para ganharem o selo de “fábricas verdes”.
Os testes comprovaram economia anual de consumo de energia entre 20% e 35%, dependendo da estação do ano. Mas o maior ativo se deu no aumento da produtividade dos colaboradores. O ambiente gerou qualidade de vida no trabalho, reduzindo o afastamento por doença, principalmente as relacionadas aos sintomas alérgicos.
Entrevistado
Arquiteto Roberto Loeb, sócio do escritório de arquitetura LoebCapote Arquitetura e Urbanismo Twitter:
Contatos
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Créditos fotos: Divulgação/LoebCapote/Cia. Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Para construção sustentável, Brasil é primeiro mundo
Conferência internacional Greenbuilding, realizada em São Paulo, mostra que país é hoje o 5º colocado em emissão de certificações de prédios verdes
Por: Altair Santos
Se há um setor em que o Brasil avança, esse é o da construção sustentável. Não apenas por que, entre 11 e 13 agosto, na cidade de São Paulo, sediou com sucesso a conferência internacional Greenbuilding 2015, mas pelo fato de ocupar o topo da lista de nações que mais aplicam conceitos de sustentabilidade em obras. “O Brasil alcançou a maturidade no segmento da construção sustentável. O país atingiu o patamar de potência nesta área”, define Felipe Faria, diretor-gerente do Greenbuilding Council Brasil.
Enquanto a construção civil tradicional prevê queda de 8% em 2015, a sustentável projeta crescer 5% este ano, em comparação com 2014. Atualmente, há 235 obras de prédios verdes – construídas ou em processo de construção – funcionando com a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design [Liderança em Energia e Design Ambiental]) no país. Existem outras 760 em processo de certificação. Se contabilizados os outros selos de construção sustentável que operam no Brasil, passam de dois mil os empreendimentos que perseguem conceitos que minimizam geração de resíduos e economizam energia e água.
Vê-se na construção sustentável uma agenda positiva para o país, pois o tema consegue unir setores públicos e privados. “Observamos que estamos em um crescente processo de conscientização do mercado, do governo e da sociedade em relação aos conceitos de sustentabilidade”, avalia Felipe Faria. Isso reflete na diversidade de obras que buscam certificações. São prédios habitacionais, comerciais, plantas industriais, centros de logística, data centers, lojas de varejo, instalações esportivas, museus, edifícios públicos, instituições de ensino, bibliotecas e agências bancárias se credenciando ao selo de “prédio verde”.
EUA lideram construção sustentável
Felipe Faria entende que uma das saídas para a crise econômica pela qual o Brasil passa atualmente está na construção sustentável. “Não tenho dúvida de que um milagre econômico verde está próximo de nosso alcance”, diz. O que o motiva a pensar assim é a quantidade de empresas que aderem aos conceitos de sustentabilidade. Praticamente todos os segmentos da cadeia produtiva da construção civil já entenderam que ter produtos ecologicamente corretos faz bem aos seus negócios. Trata-se de um processo que nos Estados Unidos, por exemplo, já predomina o mercado - país onde os conceitos de construção sustentável foram criados.
No mundo, diariamente 172 mil m² de área construída requerem certificações de obra sustentável. São 146.300 empreendimentos certificados em 150 países. Os Estados Unidos têm 53.908 construções com o selo greenbuilding. O Brasil é top 5 neste ranking, atrás de EUA, Canadá, China e Índia. “O movimento da construção sustentável é um caminho sem volta em todo o mundo”, ressalta Rick Fedrizzi, CEO e presidente-fundador da USGBC (Greenbuilding Council dos Estados Unidos), que participou da abertura do evento internacional que aconteceu recentemente no Brasil.
Entrevistado
Felipe Faria, advogado e diretor manager da Green Building Council Brasil.
Contato: ffaria@gbcbrasil.org.br
Crédito foto: Divulgação/GBC Brasil
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Blocos celulares de concreto substituem drywall
Agora no Brasil, tecnologia desenvolvida na Rússia permite que elementos sejam utilizados como estruturas de vedação e em paredes corta-fogo
Por: Altair Santos
Ainda que seja uma tecnologia adotada há mais de 20 anos na Europa, a produção e o uso de blocos celulares de concreto leve ainda é insipiente no Brasil. No entanto, know-how desenvolvido na Rússia começa a mudar esse viés. Através dele, produtos com adição de Poliestireno Expandido (EPS) reciclável se mostram competitivos para paredes de vedação, sendo capazes de substituir o drywall com melhor eficiência termoacústica. Os blocos, que medem 30 cm x 60 cm x 15 cm (altura, comprimento e largura), são adequados, além do fechamento de paredes, para escadas de incêndio e divisórias.
A vantagem para as paredes de gesso acartonado está na durabilidade, na impermeabilidade e na resistência a cargas extras, não oferecendo nenhuma restrição à fixação de parafusos e ganchos. “O custo-benefício do bloco celular leve com EPS (popularmente conhecido como Isopor®) é muito melhor. A permeabilidade é de 5,1%, o que permite seu uso em áreas úmidas, como banheiros, cozinhas e lavanderias. A alta resistência (2,3 MPa) também é bem superior ao drywall”, explica Elton Artmann, sócio-gerente da AVS, empresa com sede em Soledade-RS, e que adquiriu a tecnologia russa para produzir os blocos com EPS reciclável no Brasil.
A fabricação do produto envolve cimento Portland, cinza volante de carvão captada nas termoelétricas da região sul e Isopor® reciclado. Para viabilizar mil blocos de concreto leve no tamanho padrão são necessários 27 m³ de concreto leve. Além disso, o processo de industrialização leva em conta conceitos de sustentabilidade, como o uso de água captada da chuva para a fabricação e para a limpeza dos equipamentos. Os resíduos dos blocos também são reutilizados. Há ainda a utilização de rejeitos de óleo de cozinha, usados para que os blocos não grudem nas formas. “A aplicação de procedimentos sustentáveis torna nosso produto ainda mais competitivo”, diz Elton Artmann.
Economia de 30%
Os cálculos são de que o processo de construção com bloco celular de concreto leve economiza 30% de material e de tempo para erguer as paredes. “Um metro cúbico de bloco celular com EPS pesa menos de 600 quilos e pode ser assentado com massa de fixação de tijolos. Nas paredes internas dispensa o reboco, pois a variação de espessura de um bloco para outro não ultrapassa dois milímetros, o que permite fazer o acabamento com uma massa niveladora”, revela o sócio-gerente da AVS. Segundo ele, a redução do custo final da obra onde são adotados os blocos celulares de concreto também se dá em razão da economia nas fundações, na superestrutura, nos pilares e vigas, e no chapisco e reboco. A diminuição também ocorre em relação à mão de obra.
As inovações implantadas pela AVS para fabricar os novos produtos exigiram a ativação de uma planta flexível para expandir sua produção. Foram adquiridos silos com capacidade para armazenar 98 toneladas de materiais. Um deles é carregado com cimento Portland e o outro com cinzas volantes de carvão. Em sincronia e por gravidade, ambos abastecem os equipamentos de mistura para a produção do bloco celular.
Confira vídeo sobre a fabricação de bloco celular de concreto leve.
https://youtu.be/iMi3pE8n1E0
Entrevistado
Elton Artmann, sócio-gerente da AVS
Contrato: avsconcretoleve@gmail.com
Crédito foto: Divulgação/AVS
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Sem projeto de acessibilidade, obra não terá alvará
Sanção da lei 13.146, que trata do Estatuto da Pessoa com Deficiência, dá às construtoras seis meses para que elas se adaptem à nova legislação
Por: Altair Santos
A partir de 7 de janeiro de 2016, qualquer construtora que vá requerer licença municipal para iniciar uma obra terá de apresentar, junto com o projeto executivo, o projeto de acessibilidade da edificação. No caso de o empreendimento ser um edifício habitacional construído com financiamento público, precisará atender à cota de unidades térreas voltadas para portadores de deficiência, que é de 3%. A obrigatoriedade se deve à sanção da lei 13.146, que trata do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Assinado em 6 de julho, pela presidência da República, a medida passa a vigorar após seis meses da data de publicação no Diário Oficial da União.
A decisão abrange também obras e prédios públicos, incluindo os que venham a passar por retrofit. Para as construtoras e incorporadoras, seis meses é um prazo muito curto para as devidas adaptações. Além disso, alegam que o momento econômico do país não favorece mudanças drásticas de projetos que já estejam em andamento. Alterá-los, para que se adaptem ao estatuto, resultaria em postergar lançamentos e perder receitas. Há ainda outro item da lei que preocupa as empresas: as unidades adaptadas à acessibilidade não poderão ser mais caras que as demais.
Para o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto, a eficácia da nova legislação dependerá em grande parte de estímulos do poder público para seu cumprimento, uma vez que a crise econômica limita as construtoras. Porém, ele avalia que essa tese não irá se viabilizar. “Como o governo também não dispõe, no momento, de recursos para financiar os louváveis objetivos de moradia, mobilidade, acessibilidade e inserção segura no mercado de trabalho das pessoas com deficiência, ele deveria propor um prazo maior do que 180 dias para as adaptações necessárias”, sugere.
As novas medidas, embutidas no Estatuto da Pessoa com Deficiência, definem que a garantia de acessibilidade não se restringe à área interna das unidades habitacionais no piso térreo. Ela deve se estender aos equipamentos urbanos comunitários e também estabelecer parâmetros para a instalação de elevadores nas edificações. Por isso, José Romeu Ferraz Neto insiste: “O tempo para que as empresas se adaptem é curto”. Ele ainda lembra que CREA e CAU também precisarão se adaptar à nova legislação.
Garantia de empregabilidade
Os dois organismos deverão exigir nas Anotações de Responsabilidade Técnica o compromisso declarado de atendimento às regras de acessibilidade previstas em legislação e em normas técnicas vigentes. Superada essa fase, e após certificar a acessibilidade da edificação ou do serviço, é que o poder público determinará a colocação, em espaços ou em locais de ampla visibilidade, do símbolo internacional da acessibilidade. Só com essa placa é que deverá ser liberado o HABITE-SE do empreendimento.
Outra determinação da lei é que as empresas estão obrigadas a garantir ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos a pessoas com deficiência, em igualdade de oportunidades com os demais trabalhadores. A legislação também proíbe a exigência de aptidão plena a esses cidadãos na fase de recrutamento. “A inserção segura do trabalhador com deficiência na construção civil depende tanto da iniciativa privada quanto do governo, que precisa realizar investimentos para o transporte público, a acessibilidade e a qualificação destes profissionais”, finaliza José Romeu Ferraz Neto.
Dados do Seconci-SP (Serviço Social da Construção) revelam que é possível que pessoas com deficiência desempenhem 17 cargos e funções de 29 atividades profissionais nas fases de fundação, estrutura, alvenaria e acabamento de uma obra.
Entrevistado
Engenheiro civil José Romeu Ferraz Neto, presidente do SindusCon-SP (Sindicato das empresas Construção Civil do Estado de São Paulo)
Contato: sindusconsp@sindusconsp.com.br
Crédito foto: Divulgação/SindusCon-SP
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Setor da construção civil aguarda Minha Casa Minha Vida 3 como milagre
Governo federal promete lançar nova fase do programa habitacional em 10 de setembro. Antes, precisa colocar em dia 1,6 milhão de moradias contratadas
Por: Altair Santos
Há oito meses o setor da construção civil está em compasso de espera, aguardando a fase 3 do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). A expectativa é de que sejam contratadas mais 3 milhões de unidades até o final de 2018. Porém, para que isso se materialize, teriam que ser viabilizadas 500 mil unidades até o final de 2015 e mais 2,5 milhões nos 36 meses seguintes. O número é ousado, já que, desde a criação do MCMV, em 2009, foram contratadas aproximadamente 3,9 milhões de unidades, tendo sido efetivamente entregues 2,3 milhões de moradias. Isso dá uma média de quase 320 mil unidades construídas a cada 12 meses.
O lançamento do MCMV 3 já foi adiado quatro vezes este ano, com a nova promessa ficando para 10 de setembro. Enquanto isso, várias empresas sofrem com a paralisação do programa. O motivo é que muitas investiram pesadamente em tecnologia para que pudessem ter um alto volume de produção. Com a estagnação, toda a expertise adquirida corre o risco de ser sucateada. Neste ano, a construção civil prevê demitir cerca de 480 mil trabalhadores, mais que o triplo da indústria automobilística, além do volume de equipamentos ociosos.
A paralisação do programa atinge direta ou indiretamente toda a cadeia produtiva da construção civil. Assim, mesmo que venha a lançar o Minha Casa Minha Vida 3 em 10 de setembro, o governo federal não estará solucionando todos os problemas do setor. Ocorre que há um passivo de 1,6 milhão de moradias contratadas e não pagas. A estimativa de organismos como CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil) é de que a dívida com as empresas que atuam no programa ultrapasse R$ 1,5 bilhão.
No auge do MCMV, as construtoras recebiam o repasse de verba da Caixa Econômica Federal de 15 em 15 dias. Esse tempo aumentou para 30 dias, 60 dias e, atualmente, algumas reclamam de até 90 dias para serem reembolsadas. O atraso levou o governo federal a paralisar a concessão de financiamentos em 2015, para as famílias que se enquadram no perfil econômico do programa. As obras que a presidente Dilma Rousseff vem entregando recentemente fazem parte dos contratos assinados ainda na metade de seu primeiro mandato.
Pressão
Os organismos que representam a construção civil têm exercido pressão para que o governo federal regularize as contas e crie medidas que perenizem o Minha Casa Minha Vida – uma delas, transformando-o em programa de estado e não de governo. “É premente que haja mudanças nas faixas de renda, de forma a colocar mais pessoas dentro do programa, alocação de mais subsídios e reajuste nos limites dos valores máximos de contratação, que estão completamente fora da realidade na maioria do país, especialmente nas regiões metropolitanas de diversos estados", reivindica Flávio Prando, vice-presidente de Habitação Econômica do Secovi-SP.
Junto com CBIC e SindusCon-SP, o Secovi-SP tem participado de reuniões em Brasília para alertar o governo sobre a necessidade de acelerar o programa. “Estamos acompanhando as negociações atentamente e vemos interesse do governo em resolver a situação. O grupo de trabalho criado para discutir o MCMV 3 retomou suas atividades e vem discutindo o futuro do programa”, afirma o vice-presidente de Habitação Popular do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Ronaldo Cury, que, assim como todo o setor da construção civil, aguarda ansiosamente 10 de setembro chegar.
Entrevistados
- Engenheiro civil Ronaldo Cury De Capua, vice-presidente de Habitação Popular do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP)
- Engenheiro de produção Flávio Prando, vice-presidente de Habitação Econômica do Secovi-SP
Contatos
imprensa@relacionamento.secovi.com.br
sindusconsp@sindusconsp.com.br
Crédito foto: Arquivo/EBC
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Robô-pedreiro pode assentar mil tijolos por hora
Expertise do equipamento é assentar tijolos, seja em casas ou em prédios com poucos pavimentos. Invenção é da australiana Fastbrick Robotics
Por: Altair Santos
Em um ano, a australiana Fastbrick Robotics promete lançar no mercado o Hadrian. Trata-se de uma máquina inteligente, que opera de acordo com a planta em 3D (BIM ou CAD) implantada em sua memória. A expertise do equipamento é assentar tijolos, seja em casas ou em prédios com poucos pavimentos. O alcance de seu telescópio articulado é de 28 metros e, segundo o fabricante, pode assentar mil tijolos por hora, seja em paredes estruturais ou de vedação.
Hadrian leva esse nome em homenagem ao imperador Adriano, que governou no período em que foi erguido o Panteão de Roma. Mas, para popularizar a invenção, a própria fabricante já passou a chamar a máquina de robô-pedreiro. Na verdade, ela substitui uma equipe de operários, pois consegue trabalhar 20 vezes mais rápido do que um humano, na mesma tarefa.
Pela projeção da Fastbrick Robotics, quando chegar ao mercado o robô estará ajustado para auxiliar na construção de até 150 casas com 100 m² por ano. Por causa de seu longo telescópio, também virá programado para atender demandas em edifícios com até 8 pavimentos. “O Hadrian reduz o tempo total de construção de uma casa padrão em aproximadamente seis semanas”, diz o CEO da fabricante, Mike Pivac.
O diretor da Fastbrick Robotics também tenta minimizar a versão de que a máquina poderá causar desemprego no setor da construção civil. “No nosso entender, não tira empregos de humanos. Na Austrália, por exemplo, esse tipo de mão de obra, o de assentador de tijolos, está desaparecendo, pois é pouco qualificada. O Hadrian abrirá espaço no canteiro de obras para profissionais com mais especialidades”, avalia.
Maior precisão, menor desperdício
O robô não apenas ajusta o tijolo, como requer a planta, como também coloca a argamassa e verifica o nivelamento. “O sistema de navegação e de estabilização gera precisão milimétrica. Nos testes, o maior desnível que encontramos foi de 0,5 milímetros. Além disso, em uma casa-padrão, com 100 m², a máquina gerou economia de 30% no consumo de argamassa e volume de resíduos 95% menor se comparado a um humano”, observa Mike Pivac.
O CEO da Fastbrick Robotics afirma ainda que, por causa do elevado nível de precisão do robô, o acabamento fino - ou seja, a colocação do revestimento das paredes - pode ser iniciado logo que o assentamento de tijolos esteja concluído. Mike Pivac garante também que o equipamento é ajustável a qualquer tipo de tijolo, seja ele cerâmico ou bloco de concreto. “A máquina se adapta ao projeto que é gravado em sua memória e ao tipo de material por ele definido”, assegura.
Para Pivac, a chegada da robótica na construção civil é algo inevitável. “O setor, por muitas décadas, se acomodou com processos rudimentares, mas a cobrança por produtividade exige essa evolução. Comparando com a indústria automobilística, ficamos muito para trás. Acredito que o Hadrian é um passo importante para uma nova era na construção civil”, finaliza.
Confira animação que mostra o robô-pedreiro em ação
Entrevistado
Engenheiro mecânico Mike Pivac, CEO da Fastbrick Robotics
Contatos
info@cygnetcapital.com.au
www.fastbrickrobotics.net
Créditos fotos: Divulgação/Fastbrick Robotics
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Sim, relâmpagos podem causar danos em edificações
Estruturas que não estejam suficientemente protegidas por para-raios podem sofrer danos, como trincas em vigas e pilares, estimulando patologias
Por: Altair Santos
O Brasil é um dos países com maior incidência de descargas atmosféricas do mundo. Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Aeroespaciais) o território nacional é atingido anualmente por aproximadamente 50 milhões de raios. Ainda de acordo com o mesmo levantamento, 85% dos relâmpagos atingem estruturas altas, como edifícios, torres, linhas de transmissão e árvores. No caso das edificações, os danos causados pelas descargas chegam a R$ 1 bilhão por ano.
Portanto, não é mito que relâmpagos podem causar estragos, principalmente em prédios (mesmo os protegidos por para-raios). Os casos mais comuns são trincas profundas em vigas e pilares, abrindo espaço para a corrosão do aço e a deterioração do concreto. É muito comum edifícios serem atingidos por raios e não passarem por inspeção em seus sistemas de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) após o fenômeno. Isso abre espaço para que uma nova descarga cause ainda mais estragos na edificação.
O alerta é do professor-doutor Alexandre Piantini, líder do Centro de Estudos em Descargas Atmosféricas e Alta Tensão (CENDAT), vinculado à Universidade de São Paulo (USP). O especialista recomenda que a construção de um prédio em uma área com forte incidência de raios preveja em seu projeto proteções reforçadas contra relâmpagos. “Quanto maior a incidência de descargas na região, maior a probabilidade de a estrutura ser atingida”, diz.
Norma revisada
Piantini destaca ainda que, quando uma edificação é atingida por uma descarga, o SPDA deve passar por uma inspeção para se verificar se todos os seus componentes encontram-se em bom estado, com as conexões firmes e livres de corrosão. “Nenhum sistema de proteção tem eficiência de 100%. Portanto, é possível que ocorram danos mesmo que a edificação esteja protegida. Entretanto, é certo que em uma estrutura protegida por um SPDA projetado e instalado de acordo com a norma brasileira (NBR 5419) o risco de danos é mínimo”, afirma.
A norma técnica ABNT NBR 5419:2015 - Proteção de estruturas contra descargas atmosféricas - tem uma nova versão desde o final do primeiro semestre deste ano. Publicada em 22 de maio, está em vigor desde 22 de junho. Com 380 páginas - antes tinha apenas 42 -, a NBR revisada é dividida em quatro partes e tem um capítulo que trata de estruturas de concreto armado atingidas por raios.
No caso do concreto que é alvo de descargas atmosféricas, recomenda-se ficar atento à mudança de coloração com o passar do tempo. Por causa das reações químicas desencadeadas pelos relâmpagos, o material costuma apresentar manchas avermelhadas ou castanho-avermelhadas, o que normalmente configura corrosão na armadura. Os defeitos tornam a estrutura ineficiente, podendo causar trincas, deformações ou patologias mais graves.
Entrevistado
Engenheiro elétrico, e professor-doutor da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Piantini. É líder do Centro de Estudos em Descargas Atmosféricas e Alta Tensão (CENDAT)
Contato: piantini@iee.usp.br
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