Minha Casa Minha Vida esquece de reurbanizar favelas

Grupo de arquitetos voltado para a habitação de interesse social tenta compensar falha do programa com adoção de seus projetos pelas Cohabs

Por: Altair Santos

Para alguns urbanistas, o programa Minha Casa Minha Vida teve um erro de concepção ao não priorizar a reurbanização de favelas e a recuperação de áreas degradadas nos grandes centros urbanos. Para compensar essa falha, especialistas têm se preocupado em viabilizar projetos que permitam a transformação destes bolsões de pobreza em espaços habitáveis dignamente. Para isso, a solução tem sido sensibilizar organismos como as Cohabs.

Favela do Sapé, na periferia da cidade de São Paulo: projeto viabilizado sem recursos do Minha Casa Minha Vida
Favela do Sapé, na periferia da cidade de São Paulo: projeto viabilizado sem recursos do Minha Casa Minha Vida

Trata-se de um movimento que já constituiu um bom número de projetos, mas cujas parcerias com os poderes públicos municipais e estaduais ainda resultam em poucas ações concretas. No Brasil, atualmente, só há dois cases emblemáticos: a favela do Sapé, no bairro Rio Pequeno, na periferia da cidade de São Paulo, e o conjunto habitacional do Jardim Edite, que convive com uma área nobre da capital paulista.

São complexos de interesse social que se diferenciam do antigo projeto Cingapura, viabilizado pelo então prefeito paulistano Paulo Maluf no início dos anos 1990. “Não é apenas verticalizar as favelas, mas levar para esses espaços serviços públicos como postos de saúde, creches e escolas técnicas que permitam a qualificação dos moradores que irão habitá-los”, explicou o arquiteto Milton Liebentritt de Almeida Braga, do escritório MMBB Arquitetos, em um recente webseminário promovido pelo portal AECweb.

O Jardim Edite ocupa um dos espaços urbanos com o m² mais caro da cidade de São Paulo: o da avenida Berrini. Antes de a infraestrutura rodoviária ser construída, a favela já existia no local. Em vez de removê-la, a prefeitura de São Paulo denominou a área como uma ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) e abriu para a iniciativa privada pensar em soluções. Da mesma forma ocorreu com a favela do Sapé. Nos dois modelos de reurbanização, as estruturas pré-fabricadas de concreto foram decisivas para o cumprimento do cronograma das obras.

Parcerias público-privadas

Para Milton Braga, é a prova de que a desfavelização é possível. Mas para isso, diz, é importante estabelecer a parceria entre o poder público, que planeja, e a iniciativa privada, que constrói. “O Brasil tem um exemplo eloquente de sua capacidade de desenvolver projetos urbanos planejados, que é Brasília. No entanto, boa parte de suas metrópoles cresceu desordenadamente, pelas mãos dos loteamentos privados, e sem contar com o planejamento do poder público. O resultado é um tecido urbano fragmentado, sem equilíbrio e organização. São Paulo é um exemplo clássico”, afirma.

Diante desta linha de raciocínio, o arquiteto avalia que os cases do Jardim Edite e da favela do Sapé podem servir de exemplo não apenas para habitações de interesse social, mas para se combater um dos males das grandes cidades brasileiras, que são as enchentes e a poluição de rios e córregos. “Com a reurbanização de favelas é possível abrir espaço para restabelecer as áreas verdes no entorno de rios e córregos, criando parques lineares com calçamento e ciclovias”, avalia, convicto de que os primeiros passos para essa transformação começam a ser dados.

Entrevistado
Arquiteto Milton Liebentritt de Almeida Braga, sócio do escritório MMBB Arquitetos (via webconferência do portal AECweb)
Contato: mmbb@mmbb.com.br

 

Créditos Fotos: Pedro Vannucchi/Divulgação/MMBB

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Em tese, Brasil produz o melhor concreto do mundo

Principais nomes da engenharia estrutural não têm dúvidas de que normas técnicas vigentes garantem excelente qualidade ao material produzido no país

Por: Altair Santos

Em todo o continente americano, o Brasil é o único país que não segue as normas da ACI (American Concrete Institute) dos Estados Unidos. Para 50 nações, seja na América do Norte, Central ou do Sul, quando o assunto é concreto estrutural, vale a ACI 318-14 - Building Code Requirements for Structural Concrete (Exigências do código de construção para concreto estrutural). Na Europa, prevalece a EN 206: 2013. Já em território nacional vigoram as normas técnicas ABNT NBR 6118 - Projeto de estruturas de concreto – Procedimento; ABNT NBR 12655 - Concreto de Cimento Portland – Preparo, controle e recebimento, e ABNT NBR 7680:2015 - Concreto – Extração, preparo, ensaio e análise de testemunhos de estruturas de concreto.

Debate ocorrido no Concrete Show, em agosto, levou ao consenso de que o concreto brasileiro não deixa a desejar a nenhum outro do mundo
Debate ocorrido no Concrete Show, em agosto, levou ao consenso de que o concreto brasileiro não deixa a desejar a nenhum outro do mundo

Essas três normas, no entender de algumas das principais autoridades brasileiras em engenharia estrutural, possuem requisitos para fazer do concreto produzido no país o melhor do mundo. “O procedimento de controle adotado no Brasil é o mais rigoroso do mundo.
Com amostragem total exigida pelas normas, conhecemos toda a população em exame. Mais segurança que isso, impossível”, afirmou o doutor em engenharia civil pela POLI-USP, Paulo Helene, que, ao lado dos também engenheiros civis Roberto José Falcão Bauer, Egydio Hervé Neto, Bernardo Fonseca Tutikian e Antonio Domingues de Figueiredo, participou de um abrangente seminário sobre as práticas de análise da resistência do concreto em estruturas.

Normas conservadoras
O evento ocorreu dentro do Concrete Show 2015. No encontro, um dos mais veementes defensores das normas brasileiras foi Egydio Hervé Neto, que entre as atribuições é perito em inspeção e diagnóstico de patologias em estruturas, especialista em tecnologia do concreto e qualidade, além de consultor de empresas de construção. “Eu respeito muito as normas técnicas brasileiras. São feitas por pessoas muito especializadas, redigidas por grupos multidisciplinares, entre eles professores universitários extremamente capacitados, o que me deixa tranquilo quanto ao seu conteúdo. Não existe nenhum outro documento para consultar a não ser a norma brasileira, quando se está dentro do território nacional”, assegurou.

Tanto a EN 206: 2013 quanto a ACI 318-14 Building Code Requirements for Structural Concrete, segundo os especialistas, são mais flexíveis que as ABNT NBR 6118, ABNT NBR 12655 e ABNT NBR 7680:2015. Para Bernardo Tutikian, coordenador do Instituto Tecnológico de Desempenho para Construção Civil (ITT Performance) e presidente da Alconpat Brasil, chega a ser proposital o rigor das normas brasileiras. “Nossas normas são conservadoras, mas são assim por segurança”, explica. Um destes rigores foi debatido exaustivamente no seminário. Trata-se da questão que envolve a resistência do corpo de prova em relação à resistência característica do concreto. No Brasil, as normas técnicas dizem que não se pode aceitar nenhum valor de fci (resistência de cada exemplar de corpo de prova) abaixo do fck (resistência característica do concreto). Já a ACI 318-14 aceita variação de 3,5 MPa a 4 MPa, enquanto a EN 206: 2013 considera um fci até 10% abaixo do fck. É por isso que, no que depender das exigências técnicas impostas pelas normas, o Brasil, em tese, produz o melhor concreto do mundo.

Entrevistados
Engenheiros civis especialistas em estruturas de concreto, Paulo Helene, Roberto José Falcão Bauer, Egydio Hervé Neto, Bernardo Fonseca Tutikian e Antonio Domingues de Figueiredo
Contato: concrete@concreteshow.ubm-info.com

Crédito: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Na prática, Minha Casa Minha Vida 3 está suspenso

Terceira etapa do programa, que contrataria mais de 3 milhões de unidades até 2018, fica prejudicada pelo ajuste fiscal e por cortes no orçamento

Por: Altair Santos

A fase 3 do Minha Casa Minha Vida está suspensa por tempo indeterminado. Ela deveria ter entrado em vigor a partir de 10 de setembro, quando o governo federal prometeu que iniciaria a abertura de novos contratos para viabilizar mais três milhões de unidades até 2018. No entanto, a falta de recursos causou a mudança de rota. Agora, o compromisso é de apenas tentar honrar as obras já contratadas, relacionadas às fases 1 e 2 do MCMV. “A prioridade do momento é completar as unidades habitacionais que já estão contratadas. A fase 3 será implementada de uma maneira mais devagar, condizente com o cenário fiscal que a gente vê para o próximo ano (2016)”, disse o ministro do planejamento, Nelson Barbosa.

Ajuste fiscal tira R$ 4,8 bilhões do Minha Casa Minha Vida e inviabiliza terceira fase
Ajuste fiscal tira R$ 4,8 bilhões do Minha Casa Minha Vida e inviabiliza terceira fase

Além do adiamento de uma nova etapa do Minha Casa Minha Vida, o programa também sofreu cortes nos subsídios e aumento de juros. “Continua a haver subsídios, só que numa escala menor do que eram no ano passado (2014). Nós enfrentamos um novo cenário fiscal, e também decidimos adequar o programa à evolução de renda da população, das condições e da capacidade de financiamento dos beneficiários”, afirmou o ministro do planejamento. Assim, a faixa 1, que continua isenta, passa a ter limite mínimo de renda de R$ 1,8 mil – antes era R$ 1,6 mil. Também foi criada a faixa 1.5, que atinge renda de até R$ 2.350, e que vai pagar juros de 5%. Já as faixas 2 e 3 também tiveram os juros ampliados para até 8%.

Outra mudança diz respeito ao limite do valor da prestação para a faixa 1 do programa. Antes, o beneficiário podia comprometer somente 5% de seu salário com a parcela. Agora, as famílias que fazem parte da renda mínima deverão destinar 10% do que recebem ao pagamento da prestação. Esse percentual pode chegar a 20%, dependendo da renda familiar. Estas alterações, segundo o ministro das cidades, Gilberto Kassab, são para garantir que haverá o pagamento dos contratos. “É pé no chão e mantém o programa dentro da nova realidade do país. O ritmo não será o que gostaríamos, mas não podemos desconhecer o que está acontecendo. Agora, a expectativa da indústria da construção é pela regularização de débitos pendentes em obras executadas”, disse o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, sobre as mudanças no MCMV.

Nelson Barbosa, ministro do planejamento: prioridade é construir as unidades habitacionais já contratadas
Nelson Barbosa, ministro do planejamento: prioridade é construir as unidades habitacionais já contratadas

Queda no volume de obras
Segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas, 55,7% das construtoras que prestam serviço para o Minha Casa Minha Vida estão recebendo o desembolso por obras executadas com pelo menos 60 dias de atraso. Isso, de acordo com a FGV, faz com que 57% das empresas que atuam no MCMV acreditem que o volume de empreendimentos sofrerá queda drástica nos próximos 12 meses. Para 2016, o investimento do governo federal no Minha Casa Minha Vida perdeu inicialmente R$ 4,8 bilhões e não deve ultrapassar o teto de R$ 15 bilhões. Esse recurso será destinado à construção de 1,6 milhão de unidades que ainda não saíram do papel.

Criado em 2009, o Programa Minha Casa, Minha Vida já contratou 4 milhões de unidades habitacionais, com investimento total superior a R$ 270 bilhões, de acordo com o ministério das cidades. Até agora, 2,4 milhões de moradias já foram entregues e 1,6 milhão estão em fase de projeto.

Entrevistados
Ministérios do planejamento e das cidades (via EBC - Empresa Brasileira de Comunicação)
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) (via assessoria de imprensa)

Contatos
cidades@cidades.gov.br
gabinete.ministro@planejamento.gov.br
comunica@cbic.org.br

Créditos Fotos: EBC/Agência Brasil

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Obras de infraestrutura: ainda é possível investir

Seminário promovido pelo SindusCon-PR mostra que bom caminho para novos modelos de Parcerias Público-Privadas está nos municípios

Por: Altair Santos

O SindusCon-PR (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná), em parceria com a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), promoveu dia 15 de setembro, em Curitiba, o primeiro seminário regional sobre concessões e parcerias público-privadas (PPPs). No encontro, especialistas sinalizaram que o caminho para a retomada de obras públicas é um só: apostar nesta modelagem para destravar projetos de infraestrutura não só na esfera federal, mas estadual e municipal.

Debate no SindusCon-PR procurou mostrar aos construtores onde estão os modelos confiáveis de parcerias entre poder público e setor privado
Debate no SindusCon-PR procurou mostrar aos construtores onde estão os modelos confiáveis de parcerias entre poder público e setor privado

O presidente da CBIC, José Carlos Martins, fez uma defesa veemente das PPPs. “Não tem outra saída para o país. Até agora, elas não andaram por mera questão ideológica. Mas é a melhor solução, principalmente em tempos de baixa receita. Elas evitam o inchaço da máquina pública e permitem ao estado readquirir a capacidade de investimento. Além disso, melhoram a qualidade do serviço, que passa a ser remunerado pelo desempenho, além de ser melhor fiscalizado pela sociedade”, argumentou.

O advogado Fernando Vernalha Guimarães, especialista nos aspectos jurídicos das PPPs, revelou que até o momento apenas 81 PPPs foram assinadas entre o poder público e a iniciativa privada no país, independentemente do nível de governo. Ele recordou ainda que boa parte destes contratos assinados subverte a natureza das parcerias. “A maioria é subsídio patrocinado, onde o poder público entra com a maior parte dos recursos. Porém, não equaciona a matriz de risco, o que acaba afugentando o investidor”, ressaltou.

PPPs municipais
Vernalha destacou que um novo ciclo de PPPs começa a ser estabelecido nos municípios, principalmente os do sul do país. Boa parte destes contratos envolve obras para a área de saúde, como a construção de hospitais, e de mobilidade urbana. “Os municípios estão fomentando projetos interessantes de PPPs”, completou o consultor Bruno Pereira, da Radar PPP – empresa que orienta tanto o poder público quanto o setor privado sobre como estabelecer as parcerias público-privadas.

Para intensificar as PPPs, as prefeituras têm investido na qualificação de quadros para entender como se faz a modelagem. “As PPPs engatinham no Brasil. Agora é que alguns governantes começam a entender que os serviços devem ser públicos, mas não necessariamente estatais”, reforça Rodrigo Garcia, secretário de habitação do governo de São Paulo, que apresentou um case de PPP para habitação de interesse social coordenada pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo).

Por fim, o professor da Fundação Getúlio Vargas, Gesner Oliveira, alertou que o rebaixamento de grau de investimento do Brasil pode ser um obstáculo ao estímulo das PPPs. “O rebaixamento de risco afeta o custo de capital das empresas e, obviamente, os programas de concessões. Entre eles, o PIL (Programa de Investimento em Logística), que o governo federal anunciou com 198,4 bilhões de reais, mas na verdade são 80 bilhões e poucos. Mas a questão não é o volume de recursos, mas como viabilizar o programa. O governo federal quer transferir o risco de prejuízo totalmente para a iniciativa privada, sem compartilhar esse risco. Isso subverte o conceito das PPPs, que é dividir o lucro e minimizar a possibilidade de prejuízo”, finalizou.

Entrevistados
Engenheiro civil José Carlos Martins, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção)
Advogado Fernando Vernalha Guimarães, da Vernalha Guimarães & Pereira Advogados
Advogado Bruno Pereira, consultor da Radar PPP
Rodrigo Garcia, secretário de habitação do governo de São Paulo
Gesner Oliveira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e sócio da GO Associados

Contatos
gesner@goassociados.com.br
bp@bslaw.com.br
fernando.vernalha@vgpadvogados.com.br
comunica@cbic.org.br
imprensa@casapaulista.sp.gov.br

Crédito Foto: Divulgação/SindusCon-PR/Priscilla Fiedler

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Nova geração de máquinas qualifica artefatos de cimento

Equipamentos importados levam fabricantes a atingir novos patamares em termos de qualidade, acabamento e durabilidade de seus produtos

Por: Altair Santos

Prestes a completar 10 anos, o Programa de Desenvolvimento Empresarial (PDE) é um dos propulsores da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) para melhorar a produção e a qualidade dos artefatos de concreto fabricados no Brasil. O objetivo é manter o setor bem treinado, levando inovações e orientando sobre a necessidade de manter as fábricas sempre atentas aos avanços tecnológicos. Na recente edição do Concrete Show, realizada no final de agosto na cidade de São Paulo, engenheiros que integram o PDE procuraram destacar a nova geração de máquinas que chegam ao mercado brasileiro para qualificar os artefatos de cimento.

No Brasil, a fabricação quase artesanal de artefatos de cimento é substituída por máquinas importadas da Europa e dos Estados Unidos
No Brasil, a fabricação quase artesanal de artefatos de cimento é substituída por máquinas importadas da Europa e dos Estados Unidos

Os equipamentos - alguns deles expostos no Concrete Show - tiram o segmento da era artesanal para lançá-lo numa fase de escala industrial. No Brasil, as máquinas fabricadas na Espanha e nos Estados Unidos estão entre as que mais têm conseguido crescer neste mercado. Além de permitir 100% de automação do processo industrial, o maquinário ainda promove a paletização do produto, facilitando o transporte e a logística de armazenamento dentro da fábrica. Outra vantagem desta nova geração de equipamentos é que eles facilitam a produção de artefatos com dupla camada, além de permitir geometrias variadas e oferecer maiores alternativas para a pigmentação.

No Concrete Show foi mostrado o case da ConcrEpoxI, empresa localizada em Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco. Três anos antes de instalar a unidade, a empresária Renata Gaudêncio, de 34 anos, matriculou-se no PDE para absorver o máximo de conhecimento. Junto com um grupo de engenheiros da regional Norte e Nordeste da ABCP, ela também esteve em Barcelona, na Espanha, para participar de congressos e feiras voltadas ao artefato de cimento. Foi lá que sentiu a necessidade de ter em sua fábrica máquinas que lhe permitisse produzir elementos inovadores e com qualidade. “Tentei fugir do conceito mais do mesmo, que muitas vezes permeia o setor”, explicou.

Menos commodities, mais sofisticação
Durante a fase de instalação da fábrica, Renata Gaudêncio, cuja formação está ligada à arquitetura, teve constante assessoria de Eduardo Moraes, que é gerente regional da ABCP para o Norte e Nordeste. “Uma das inovações deste case que trouxemos para o Concrete Show é que houve investimento em equipamentos que possibilitassem inovar no design e na diversidade do tamanho das peças”, relatou o engenheiro. “Sabemos que o consumidor não quer mais comprar commodities. Ele quer inovação, beleza e preço adequado”, completou Renata Gaudêncio.

Não basta, no entanto, apenas investir em máquinas. No segmento de artefatos de concreto é fundamental também ter o controle de qualidade e o atendimento às normas técnicas. Além disso, observar as demandas do mercado, e muitas vezes antecipá-las, também facilita a ação do fabricante. “O que tentamos fazer foi levar o pavimento intertravado de concreto para dentro das garagens das casas e para o hall de entrada dos hotéis. Também estamos presentes nas calçadas e nas praças, mas oferecemos produtos para quem busca sofisticação”, finalizou Renata Gaudêncio.

Entrevistados
Engenheiro civil Eduardo Moraes, gerente regional da ABCP para o Norte e Nordeste
Arquiteta Renata Gaudêncio, empresária e diretora da ConcreEpoxI

Contatos
eduardo.moraes@abcp.org.br
comercial@concrepoxiartefatos.com.br

Crédito Foto: Divulgação/ConcrEpoxI

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Com aeroportos privados surgem os bairros logísticos

Viracopos, em Campinas-SP, será o primeiro do Brasil a adotar conceito desenvolvido pelo urbanista John Kasarda, e batizado de Aerotrópole

Por: Altair Santos

O urbanista norte-americano John Kasarda entende que as cidades, desde que planejadas, podem crescer no entorno dos aeroportos. O conceito criado por ele, e batizado de “aerotrópole”, prevê estruturas que atraiam centros de negócio, bens de serviços, polos industriais e instalações comerciais em volta dos terminais aéreos. A ideia é criar bairros logísticos que facilitem a vida de executivos, profissionais liberais e frequentadores de congressos, exposições e convenções, propiciando que eles cumpram suas agendas sem precisar se deslocar para fora do perímetro dos aeroportos. “Os viajantes podem realizar seus negócios, trocar conhecimento, fazer compras, comer, dormir e se divertir, tudo a 15 minutos dos aeroportos”, explica Kasarda.

Aerotrópole desenvolvido por John Kasarda cria estruturas planejadas no entorno dos aeroportos
Aerotrópole desenvolvido por John Kasarda cria estruturas planejadas no entorno dos aeroportos

O que era uma tese urbanística já é realidade na Holanda. O aeroporto de Schiphol, que fica a 15 quilômetros de Amsterdam, é o primeiro “aerotrópole” da Europa. As mudanças começaram em 2012, atraindo hotéis, edifícios de escritórios, shopping center, armazéns logísticos e até áreas habitacionais. Resultado: transformou-se no sexto aeroporto mais movimentado do mundo. Hoje, recebe mais de 50 milhões de passageiros por ano e quase 500 mil operações de aeronaves em igual período. “Schiphol combinou planejamento aeroportuário, planejamento urbano e planejamento de negócios, transformando-se em um potente motor do desenvolvimento econômico para Amsterdam. É esse o conceito que proponho”, explica John Kasarda.

A ideia se propaga. Os aeroportos de Fort Worth, em Dallas-EUA, e de Songdo, na Coreia do Sul, estão em processo de transformação para “aerotrópoles”. Songdo, aliás, não está criando apenas um bairro logístico no entorno do terminal aéreo, mas um bairro tecnológico. O New Songdo foi projetado para receber uma população de 65 mil habitantes, que estará 100% interligada pela tecnologia de informação. A estratégia é que a “aerotrópole” sul-coreana se transforme na maior do mundo até 2020, já que está a pouco mais de três horas de alguns dos países mais populosos do mundo: China, Rússia e Japão.

Aeroporto de Schiphol, na região de Amsterdam, na Holanda: primeiro do mundo a agregar um bairro logístico em sua área
Aeroporto de Schiphol, na região de Amsterdam, na Holanda: primeiro do mundo a agregar um bairro logístico em sua área

Viracopos, o pioneiro no Brasil

No Brasil, o aeroporto de Viracopos, em Campinas-SP, é o primeiro do país que se prepara para se adequar a esse conceito. Existe a previsão de que, inicialmente, sejam investidos R$ 9,5 bilhões em obras de infraestrutura para transformar o entorno do terminal aéreo. O projeto para consolidar Viracopos como “aerotrópole” é uma parceria entre a prefeitura de Campinas e a concessionária Aeroportos Brasil, que administra o aeroporto. “É um conceito que vai criar, a partir do aeroporto, uma integração com a região do próprio aeroporto, com a cidade, com a região metropolitana de Campinas e com outros municípios de São Paulo”, diz o secretário municipal de desenvolvimento econômico de Campinas, Samuel Rossilho.

O plano prevê que o terminal de Viracopos tenha quatro pistas em 30 anos, para suportar o movimento de 80 milhões de passageiros. A fim de atender toda esta estrutura haverá um contingente entre 50 mil e 60 mil pessoas trabalhando dentro do terminal, e pelo menos mais 150 mil no entorno. “Nós estimamos que nos próximos 20 anos a região de Viracopos irá receber mais de R$ 100 bilhões em investimentos somente da iniciativa privada, além dos investimentos dentro do aeroporto e dos investimentos de governos”, ressalta Rossilho.

John Kasarda: planejamento urbano e planejamento de negócios transformam os aeroportos
John Kasarda: planejamento urbano e planejamento de negócios transformam os aeroportos

Entrevistados
John Kasarda, urbanista, Ph.D em negócios aeroportuários, professor da Universidade da Carolina do Norte e CEO da Aerotropolis Business Concepts
Samuel Rossilho, economista e secretário municipal de desenvolvimento econômico de Campinas

Contatos
john_kasarda@kenan-flagler.unc.edu
Kasarda@aerotropolisbusinessconcepts.aero
www.aerotropolisbusinessconcepts.aero
smdes.gabinete@campinas.sp.gov.br

Créditos Fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Única saída está na infraestrutura (Podcast)

José Carlos Martins, presidente da CBIC, avalia que Brasil precisa repensar capacidade de investimento e buscar sair da crise viabilizando grandes obras

Por: Altair Santos
José Carlos Martins: Lava-Jato não preocupa CBIC. O que preocupa é como recuperar a capacidade de investimento
José Carlos Martins: Lava-Jato não preocupa CBIC. O que preocupa é como recuperar a capacidade de investimento

Entrevistado
Engenheiro civil José Carlos Rodrigues Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
Contato
presidencia@cbic.org.br

Crédito foto: Divulgação/Priscilla Fiedles/SindusCon-PR

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Clique no player abaixo e ouça a entrevista na íntegra.


BR-163, Cuiabá-Santarém, um retrato do Brasil

Rodovia, que hoje é um dos principais corredores da safra de grãos do país, segue inconclusa após 40 anos do início de suas obras

Por: Altair Santos

A BR-163 está completando 40 anos. Seu percurso passa por Cuiabá, capital do Mato Grosso, e termina em Santarém, uma das principais cidades do Pará. Nasceu do projeto de integração nacional, idealizado pelo exército brasileiro, no período em que o regime militar governou o país (1964-1984). Com extensão de 3.467 quilômetros, segue inconclusa até hoje. São mais de 1.200 quilômetros que ainda são percorridos em trecho de chão ou com o asfalto precário, mesmo após a privatização de 850,9 quilômetros, ocorrida em março de 2014.

Trecho privatizado da Cuiabá-Santarém, conhecido como Rota do Oeste: asfalto novo e bem conservado
Trecho privatizado da Cuiabá-Santarém, conhecido como Rota do Oeste: asfalto novo e bem conservado

O próprio Dnit admite que a Cuiabá-Santarém é uma das maiores “calamidades rodoviárias do país” – termo usado pelo próprio Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Existem vários trechos em que o fluxo de veículos, que hoje é de 70 mil por dia, segue a rota aberta pelos tratores - único meio de transporte que supera os atoleiros. Mesmo assim, a estrada é o principal corredor de escoamento de grãos do Norte e do Centro-Oeste do país, principalmente quando escoa a safra pelos portos de Santos-SP e Paranaguá-PR.

Não é raro, em períodos de chuva, um trajeto de 30 quilômetros levar 15 horas para ser vencido. É um cenário que, para mudar, depende do governo viabilizar novas obras ao longo de toda a extensão da rodovia ou privatizar mais trechos, como o assumido pela concessionária Rota do Oeste. Ligada à Odebrecht Transportes, a administradora dos 850,9 quilômetros repassados à iniciativa privada atua em três frentes para, em cinco anos, melhorar 453,6 quilômetros da BR-163.

Ao custo de R$ 5,5 bilhões, a Rota do Oeste já duplicou 54,9 quilômetros. A prioridade foi melhorar as condições da rodovia a partir do perímetro urbano de Rondonópolis-MT. Da cidade, em direção à divisa com o Mato Grosso do Sul, foram duplicados 32,4 quilômetros. Já, de Rondonópolis até o terminal Intermodal de trens, foram duplicados mais 22,5 quilômetros. Superada essa obra, que foi entregue no final de julho de 2015, a concessionária já começou a cobrar pedágio no trecho.

Dos 3.467 quilômetros da BR-163, exército atua em alguns trechos que ainda pertencem ao governo federal
Dos 3.467 quilômetros da BR-163, exército atua em alguns trechos que ainda pertencem ao governo federal

Agora, a Rota do Oeste atua no trecho privatizado da BR-163 que corta o centro de Mato Grosso. Obras de revitalização já recuperaram 60 quilômetros de pavimento, além de repor a sinalização e promover a limpeza da faixa de domínio. A próxima etapa é melhorar mais 60 quilômetros. Outro ponto crítico que recebe intervenção é o que passa pelo município de Nova Mutum. São 60 quilômetros pavimentados no sentido norte, em direção à divisa com o Pará, e que também estão recebendo obras de recuperação.

Porém, o trecho privatizado da Cuiabá-Santarém, e as melhorias que ele traz à rodovia, ainda é uma exceção ao longo da estrada. Ainda faltam mais de 2.600 quilômetros em estado precário, principalmente no estado do Pará e no norte do Mato Grosso. Ou seja, mesmo com a retomada dos investimentos, a BR-163 não deixa de ser um retrato das obras de infraestrutura rodoviária no Brasil, onde a demora, o desperdício e a falta de projetos comprometem a economia do país.

Entrevistados
Concessionária Rota do Sol e Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes) (via assessoria de imprensa)
Contatos
imprensa@dnit.gov.br
ouvidoria@rotadooeste.com.br

Créditos Fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Nova norma de acústica melhora cinemas e teatros

Outros ambientes construídos que se beneficiam da ABNT NBR 10152 são hospitais, shopping centers, aeroportos e terminais rodoviários e ferroviários

Por: Altair Santos

O texto revisado da ABNT NBR 10152 - Acústica - Níveis de Pressão Sonora em Ambientes Internos e Edificações – esteve em consulta pública até 14 de agosto de 2015. Na reta final para ser publicada, a expectativa é de que até o final de 2015 a norma entre em vigor, influenciando principalmente os projetos arquitetônicos de salas de concerto, cinema e teatro.

Krisdany Vinícius Cavalcante, coordenador da revisão da norma: ABNT NBR 10152 ajuda a Norma de Desempenho
Krisdany Vinícius Cavalcante, coordenador da revisão da norma: ABNT NBR 10152 ajuda a Norma de Desempenho

Criada em 1987, e revisada em 1992, a ABNT NBR 10152 estava sensivelmente desatualizada. Para ter ideia, estabelecia parâmetros acústicos para salas de datilografia – equipamentos que hoje só existem em museus. Mas o foco principal da norma atualizada é dar padrão internacional a ambientes onde a acústica é primordial.

Também será primordial para projetos arquitetônicos de clínicas e hospitais, shopping centers, aeroportos e terminais rodoviários e ferroviários. Os detalhes da norma são relatados aqui pelo engenheiro Krisdany Vinícius Cavalcante, que coordena a comissão de estudos de desempenho acústico de edificações da ABNT. Confira o que muda na NBR 10152:

A ABNT NBR 10152 - Acústica - Níveis de Pressão Sonora em Ambientes Internos e Edificações - passa por processo de revisão. Quais os pontos em que ela mais sofreu aperfeiçoamento?
A ABNT NBR 10152 em sua versão vigente, é de 1987. De lá para cá, foram muitas as evoluções tecnológicas e também conceituais e de hábitos. Assim, além da alteração de conteúdo, houve também necessidade de alteração do título da norma, que atualmente é “Níveis de ruído para conforto acústico”. O termo “Nível de ruído” é tecnicamente equivocado. O novo título proposto está harmonizado com a norma ABNT NBR 16313:2014 Acústica – Terminologia. Além disso, a versão vigente não descreve como executar as medições. Ela apenas apresenta a tabela de valores em Lp e NC para comparação dos resultados. Já o projeto de revisão contempla o procedimento de medição e detalhamento quanto à instrumentação a ser utilizada.

A norma revisada tende a influenciar nos ambientes construídos?
A adoção de normas técnicas se dá voluntariamente. Nosso desejo é que os projetistas e construtores passem a adotá-la. Os usuários e empreendedores também podem fazê-lo ao exigir em contrato o atendimento às normas. No caso particular da ABNT NBR 10152, sua aplicação compulsória está prevista apenas na NR-17 – Ergonomia do Ministério do Trabalho e Emprego, e na Resolução CONAMA 01 de 1990.

Os projetos arquitetônicos de salas de concerto, cinemas e teatros seriam as obras mais influenciadas pela norma?
Além dos ambientes citados, este projeto de revisão também contempla clínicas e hospitais, shopping centers, aeroportos e terminais rodoviários e ferroviários. Favorece ainda edifícios residenciais, de escritórios e escolas, assim como hotéis.

A Norma de Desempenho tem como um de seus principais valores o desempenho acústico. Como a ABNT NBR 10152 pode ajudar a ABNT 15575 a atingir suas metas em ambientes construídos?
A ABNT NBR 15575, conhecida como Norma de Desempenho de Edificações, na verdade tem como título “Edificações habitacionais – Desempenho” e se limita a esta classe de edifícios. É importante também destacar que ela não faz qualquer referência à ABNT NBR 10152. São duas normas técnicas com objetivos bem diferentes, mas que podem ser aplicadas conjuntamente, se assim o usuário das normas o desejar, já que não são conflitantes.

A norma tem alguma orientação para construções em que o concreto prevalece?
A ABNT NBR 10152 não aborda sobre a tipologia construtiva da edificação. Ela traz método de medição e tabela de critério de avaliação sonora em função do uso do ambiente interno de uma edificação. Assim, cabe ao projetista e ao construtor definirem quais as características construtivas que poderão ser adotadas para que o ambiente construído possa proporcionar, aos seus usuários, os limites de níveis sonoros em função da finalidade de uso que será dada aos ambientes internos de uma edificação.

A norma não era revisada há muito tempo e tinha algumas curiosidades, como definir parâmetros acústicos para salas de datilografia. Por que ela demorou tanto para ser revisada?
Por estar desde 1987 sem alterações, a versão vigente da ABNT NBR 10152 apresenta alguns ambientes que não existem mais, tais como sala de mecanografia e sala de computadores. Em 2000 houve a consulta nacional do 1º projeto de revisão, porém não foi aprovado. Posteriormente, também foram submetidos sem sucesso, o 2º e 3º projeto. Agora em 2014 nossa Comissão deliberou para Consulta Nacional o 4º Projeto. Houve algumas manifestações contrárias, mas a grande maioria favoráveis. A Comissão se reunirá para analisar as manifestações e deliberar pela aprovação ou não desse projeto para publicação.

Após a publicação da norma, é possível que o Brasil passe a ter cinemas, teatros e salas de concerto compatíveis com os melhores espaços existentes fora do país?
Esse é nosso desejo, para isso a ABNT/CEE-196 - Comissão de Estudos Especiais de Acústica - está trabalhando na adoção das Normas ISO 3382 bem como na elaboração de outras que, em conjunto, poderão instrumentalizar os projetistas na elaboração de bons projetos acústicos.

Como ficam as salas já construídas: terão de se adaptar à norma revisada?
Como esclarecido anteriormente, a adoção de normas técnicas é voluntária. No caso particular da ABNT NBR 10152, sua aplicação compulsória está prevista na NR-17 – Ergonomia do Ministério do Trabalho e Emprego e na Resolução CONAMA 01 de 1990. Após a publicação de nova edição da ABNT NBR 10152 caberá a estes organismos de Estado analisar o novo texto e deliberar por continuar referendando ou não.

Quantos profissionais se envolveram na revisão da norma?
Atualmente estão inscritos mais de uma centena de pessoas em nossa comissão. Mas normalmente, por reunião, temos tido a presença de 30 a 40 pessoas. Por entender a importância de se ampliar a participação e as limitações orçamentárias para viagens, desde 2012, quando assumi a coordenação da comissão, temos aceitado os convites e já realizamos reuniões em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campinas e Brasília. Lembro a todos que estas são reuniões públicas e qualquer cidadão brasileiro pode participar.

Qual a expectativa de data para que a norma entre em vigor?
Nossa comissão se reunirá em outubro para analisar as contribuições da última consulta nacional. Se aprovado, o texto poderá ser publicado ainda em 2015. Se entendermos pela necessidade de uma nova consulta, prevê-se mais 12 a 18 meses para a conclusão de todo o processo.

Entrevistado
Engenheiro eletricista Krisdany Vinícius S. M. Cavalcante, diretor-técnico do dB Laboratório de Acústica e coordenador da comissão de desempenho acústico de edificações da ABNT

Contatos
krisdany@dbacustica.com.br
laboratorio@dbacustica.com.br

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Na crise, ainda há vagas para engenheiros?

Versatilidade da profissão, principalmente para atuar nas áreas comercial, pesquisa & desenvolvimento e manutenção, ajuda a manter mercado aquecido

Por: Altair Santos

Os anos 1980 e 1990 foram considerados períodos perdidos para os engenheiros. Graduados não encontravam trabalho dentro da construção civil e foram migrando para outros segmentos. O setor financeiro absorveu boa parte, enquanto outros profissionais migraram para a área de prestação de serviços e até a gastronomia.

João Xavier, especialista em recursos humanos: é preciso mais do que a graduação para se posicionar no mercado
João Xavier, especialista em recursos humanos: é preciso mais do que a graduação para se posicionar no mercado

Hoje, depois de um período de efervescência, que fez com que os cursos de engenharia civil voltassem a estar entre os mais procurados por jovens, a profissão corre o risco de dar passos atrás. A crise econômica, que congela obras, combinada com a operação Lava Jato, a qual paralisa as principais empreiteiras do país, gera incógnitas sobre o futuro do mercado de trabalho no setor.

A pergunta que fica é: ainda há vagas para engenheiros? O especialista em recursos humanos, João Xavier, diretor-geral da Ricardo Xavier Recursos Humanos, responde essa, e outras perguntas, diante do atual cenário nacional. Confira:

Na crise, ainda há vagas para engenheiros?
Sim. Sempre haverá boas oportunidades para os engenheiros. Três áreas são promissoras para os profissionais da engenharia: comercial, onde os engenheiros são necessários para realizar vendas técnicas; Pesquisa & Desenvolvimento, diante da necessidade constante de inovação, e na manutenção, que apesar de estar sentindo fortemente o impacto, é atividade essencial para as indústrias e grandes instalações comerciais. As áreas mais impactadas são as ligadas à produção, principalmente os setores metalúrgico, automotivo, óleo e gás e construção civil.

Quais engenharias encontram sustentabilidade no mercado de trabalho neste período?
Eu colocaria as seguintes áreas: computação, controle e automação, mecatrônica, química, elétrica, biomédica, agronômica, minas, energia, mecânica, aeronáutica, naval, industrial e ambiental. Mas podemos dizer que, de modo geral, todas as engenharias encontram sustentabilidade. São os engenheiros os responsáveis por engendrar as ideias.

No caso da engenharia civil, durante a fase efervescente da construção civil, chegaram a faltar profissionais. Hoje, qual o cenário?
Na verdade nunca faltaram profissionais no mercado. O que acontece é que as empresas não estão dispostas a pagar o preço por bons profissionais. No momento em que a economia fica aquecida, esse fenômeno aparece com maior intensidade. Hoje, com o mercado desaquecido, a pressão sobre os salários é ainda maior. Portanto, há menos oportunidades e menores salários.

O curso de engenharia civil voltou a ser um dos mais procurados pelos jovens. É possível que ao se formar eles encontrem um mercado de trabalho hostil?
O mercado de trabalho é hostil para qualquer área. Sempre há um jogo de forças entre o capital e o trabalho. Hoje, o que está se valorizando é o trabalho criativo, independentemente da área. É o trabalho com Pesquisa & Desenvolvimento, é o trabalho de inovação. Esse nunca poderá ser substituído por máquinas ou pelo computador. A engenharia civil é bastante ampla e versátil, com oportunidades em projetos (das mais diversas naturezas), obras, manutenção e facilities (instalações) comerciais, Pesquisa & Desenvolvimento. Portanto, existem muitas oportunidades.

O que afeta mais a engenharia: a crise econômica em si ou a operação Lava Jato, que paralisou as principais empreiteiras do país?
Não podemos creditar o efeito da paralisia à operação Lava Jato. A Lava Jato é o remédio amargo a ser tomado. Na minha opinião, o sistema corrupto e fraudulento que se interpôs entre governos e empreiteiras nas negociações de obras e terceirizações de serviços é o grande culpado pela redução de empregos na engenharia. A Lava Jato é a cura. Mas, obviamente, a crise no governo e na Petrobras afetou significativamente o mercado de trabalho para os engenheiros. Não só com as obras como também com os contratos de prestação de serviços de manutenção.

A proposta de se abrir o mercado para construtoras estrangeiras seria interessante para profissionais de engenharia do Brasil?
Tem o lado bom e o ruim nessa abertura. O positivo será a geração de oportunidades para os engenheiros, tanto dentro quanto fora do país. O lado negativo será a pressão no valor dos salários, pois as empresas enfrentarão maior concorrência.

Corre-se o risco de a engenharia voltar a enfrentar um cenário semelhante ao vivido nos anos 1980 e 1990, conhecido no setor como décadas perdidas?
Acredito que não. Como falei, sempre haverá oportunidades para os engenheiros. E o Brasil, por pior que seja administrado, devido a seu grande potencial agrícola, mineral e à sua grande população, ainda vai ser atrativo para muitas empresas, muitos investidores.

Caso as concessões para rodovias, ferrovias, portos e aeroportos decolem, a situação tende a mudar?
Sim, a iniciativa privada sempre foi mais eficiente que os órgãos públicos na gestão. Com certeza, gerará mais investimento e mais empregos.

Apenas ter a graduação em engenharia é requisito para competir no mercado de trabalho?
Não. Domínio do idioma inglês também é fator de diferenciação.

A arquitetura vive momento semelhante ou estaria mais aquecida?
Vive momento semelhante e tem o agravamento de não ter a mesma versatilidade da engenharia civil.

Entrevistado
Engenheiro agrônomo João Xavier, especialista em recursos humanos e diretor-geral da Ricardo Xavier Recursos Humanos
Contato: joaoxavier@ricardoxavier.com.br

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330