Hermann Tilke: o engenheiro que reinventa autódromos

Profissional alemão revoluciona a arquitetura das pistas. Hoje, é o projetista de 65 circuitos localizados na Europa, Ásia e América do Norte

Por: Altair Santos

Hermann Tilke atesta que, como piloto, transformou-se em um excelente engenheiro civil e arquiteto. Após não dar certo nas pistas, procurou dar vazão à sua paixão projetando autódromos pelo mundo. A partir de seus conceitos - que não se limitam ao traçado, mas à arquitetura que envolve os complexos voltados para o automobilismo e o motociclismo -, ele revolucionou o significado de autódromo.

Hermann Tilke: após atuar na construção de rodovias, ele transformou o conceito de autódromo
Hermann Tilke: após atuar na construção de rodovias, ele transformou o conceito de autódromo

Além de corridas de carros ou motos, os projetos desse alemão de 60 anos englobam outros empreendimentos, pois no entorno dos traçados são construídos hotéis, centros comerciais e até shopping centers. Isso dá vida às estruturas, mesmo quando não há competição. Mas não é só isso que faz Hermann Tilke ser hoje o número um em construção de autódromos no mundo. Sua principal qualidade está no fato de projetar pistas extremamente seguras.

Engenheiro com especialidade em projetos de rodovias, Tilke trabalhou por 10 anos atuando em obras de autopistas na Alemanha e em outros países, como Áustria e Suíça. De lá, trouxe conceitos inovadores para dentro dos autódromos. Entre eles, grandes áreas de escape revestidas em concreto, em vez das tradicionais britas, onde os carros atolavam e corriam o risco de capotar, como ocorreu com Ayrton Senna no GP do México em 1991. Pesquisa desenvolvida por ele revelou que o gripping do concreto aumenta o poder de frenagem do carro em até 40%.

De autódromos a hospitais

Circuito de Yas Marina, em Abu Dhabi: complexo luxuoso de entretenimento atrai milionários do mundo todo
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Hoje, Hermann Tilke tem em seu currículo 65 autódromos construídos. Os mais recentes incluem a total reestruturação do circuito Hermanos Rodriguez, na Cidade do México, onde a Fórmula 1 voltou a competir, e o traçado na capital do Azerbaijão, Baku, que receberá a principal categoria do automobilismo mundial em 2016. “Quando projeto um circuito, preciso pensar nos pilotos, que querem acelerar e ultrapassar; nas equipes, que querem ganhar corridas, mas preservar seus pilotos e carros, e no público, que quer ver emoção, mas não quer o trauma de graves acidentes”, explica.

Tanto a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) quanto a FIM (Federação Internacional de Motociclismo) fazem questão de colocar suas principais categorias – F1 e MotoGP - correndo em autódromos desenhados por Hermann Tilke. No atual calendário da Fórmula 1, por exemplo, só os tradicionais autódromos de Spa-Francorchamps, na Bélgica; Monza, na Itália; Mônaco, na Europa; Interlagos, no Brasil, e Suzuka, no Japão, não foram projetados por Tilke.

A forma como concebe a construção da infraestrutura que envolve os autódromos, incluindo boxes, arquibancadas, paddocks e centros médicos, tem levado Hermann Tilke para outras áreas. Sua empresa, a Tilke Engenheiros e Arquitetos, já foi contratada para projetar hospitais, hotéis e até estádios de futebol. Porém, ele garante que sua paixão é desenhar circuitos. “Para quem gosta de engenharia, calcular uma curva, prevendo o que um carro irá fazer nela, muitas vezes a 200 km/h, é indescritível”, assegura o engenheiro alemão.

Entrevistado
Engenheiro civil e arquiteto Hermann Tilke (via assessoria de imprensa)

Contatos:
mailbox@tilke.de
www.tilke.de

Créditos Fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Momento é de oportunidades (Podcast)

Empresária Chieko Aoki, que preside o grupo hoteleiro Blue Tree, afirma que hora é de investir em inovação e em fazer mais com menos

Por: Altair Santos
Chieko Aoki, em palestra realizada em setembro, em Curitiba: hora é de inovar
Chieko Aoki, em palestra realizada em setembro, em Curitiba: hora é de inovar

Entrevistada
Advogada, administradora e empresária Chieko Aoki, presidente do grupo Blue Tree Hotels & Resorts do Brasil S/A
Contato
presidente@bluetree.com.br

Crédito foto: Divulgação/UP

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Clique no player abaixo e ouça a entrevista na íntegra.


Mercado imobiliário esquece 2015 e já projeta 2016

Setor investe em planejamento para não ser surpreendido, como foi no ano passado. Para isso, se ancora em dados e análises especializadas

Por: Altair Santos

O ano de 2015 ainda não terminou, mas para o mercado imobiliário já é hora de pensar em 2016. Com os lançamentos em baixa e os estoques precisando se readequar a uma nova realidade econômica, o setor busca se ancorar em dados para dar os próximos passos. Com o máximo de informações que possa conseguir, as construtoras e incorporadoras investem em planejamento. A lista do que as empresas querem saber é encabeçada por cinco perguntas:

Consultores e players da área mapeiam números para tentar diagnosticar probabilidades para 2016
Consultores e players da área mapeiam números para tentar diagnosticar probabilidades para 2016

1) O preço dos imóveis vai subir ou vai cair?
2) Haverá crédito para o construtor e para quem quer comprar?
3) Que tipo de imóvel deve atrair mais o consumidor?
4) Em quais regiões do país ainda é possível investir no mercado imobiliário?
5) O Minha Casa Minha Vida irá sobreviver?

Para Lucas Vargas, VP Executivo do grupo VivaReal, os sinais por trás dos números já permitem tirar algumas conclusões. À frente do DMI (Dados do Mercado Imobiliário) - relatório sobre o comportamento do setor -, o especialista avalia que os imóveis tendem a seguir valorizados ou ter queda leve de preços nas cidades entre 500 mil e dois milhões de habitantes. Já nos grandes centros urbanos, a perspectiva é de que os preços atuais não se sustentem. “Uso Curitiba como exemplo. Em 2014, quando os preços dos imóveis em São Paulo já davam sinais de exaustão, na capital paranaense o metro quadrado continuava a subir. Em 2015, os preços assentaram e em 2016 eles tendem a estabilizar em Curitiba”, afirma.

Imóvel na planta em extinção
O DMI aponta que imóveis novos com dois quartos tendem a seguir despertando maior interesse dos compradores. Pela pesquisa, 51% dos que pretendem adquirir a casa própria ou trocar de imóvel pensam em ir para um apartamento com dois quartos, principalmente nos grandes centros urbanos. Outro dado é que 74% dos que têm intenção de comprar imóvel buscam os que se encontram na faixa de até R$ 500 mil. “Aí existe um conflito, pois a oferta de apartamentos prontos neste preço só atende 42% dos interessados em todo o país”, diz Lucas Vargas, revelando que o risco de faltar crédito para construir e para comprar imóvel novo pode estimular dois mercados: o de consórcio de imóveis e o de aluguel.

Para Rogério Santos, da RealtON, especialista com 27 anos de mercado imobiliário, o chamado “imóvel na planta” tende a ser deixado de lado pelo setor em 2016. “Estamos vivendo um momento único para o estoque. Antes, o foco dos maiores investimentos ficava nos lançamentos e os imóveis que sobravam exigiam enormes esforços para venda. Hoje, isso se inverteu”, afirma. Diante deste cenário, construtoras e incorporadoras devem se concentrar na compra de terrenos em 2016, para - caso a economia volte a crescer - dar início a novos investimentos em 2017. A prática, chamada de land banking, consiste na aquisição de áreas cujas características territoriais, geográficas e topográficas sejam atraentes para loteamento e venda no futuro, com ganho de capital. “Estamos encerrando o ciclo de 2012 agora em 2015 e, como trabalhamos com ciclos de 36 meses a 40 meses, iniciamos o planejamento do próximo”, detalha Leonardo Pissetti, diretor de empreendimentos da Swell Construções e Incorporações.

Entrevistados
- Engenheiro de telecomunicações e administrador Lucas Vargas, VP (Vice-Presidente) Executivo do grupo VivaReal
- Rogério Santos, CEO da RealtON e graduado em marketing
- Engenheiro civil Leonardo Pissetti, diretor de empreendimentos da Swell Construções e Incorporações

Contatos
contato@realton.com.br
leonardo@swellconstrucoes.com.br
pesquisa@vivareal.com

Crédito Foto: Images Money/Flickr

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Construção civil tem QG tecnológico em Ponta Grossa

Com a conclusão do IST na cidade paranaense, setor ganha impulso para aprimorar materiais, investir em inovação e testar sistemas construtivos

Por: Altair Santos

Em operação plena, o Instituto Senai de Tecnologia em Construção Civil (IST), localizado na cidade de Ponta Grossa-PR, dispensa a modéstia. Segundo um de seus coordenadores, José Rossa Júnior, o objetivo é torná-lo referência nacional e internacional. Com especialistas e equipamentos de novíssima geração, o IST já atende 200 empresas do setor, mas tem potencial para, a curto prazo, atender uma demanda três vezes maior. Confira por que na entrevista a seguir:

Instituto Senai de Tecnologia em Construção Civil: equipado para se tornar um dos melhores do país
Instituto Senai de Tecnologia em Construção Civil: equipado para se tornar um dos melhores do país

Após os laboratórios de cerâmica vermelha, concreto e argamassa e minerais, que estão em operação desde 2014, o IST de Ponta Grossa passa a contar com laboratórios de química, tecnologias construtivas e desenvolvimento de novos produtos na área da construção civil. O que isso representa para o mercado da construção civil?
Representa um suporte para auxiliar no desenvolvimento das indústrias do setor. No IST (Instituto Senai de Tecnologia em Construção Civil do Paraná) as indústrias encontrarão infraestrutura laboratorial completa, com equipe técnica qualificada, que trarão a solução completa para atender a todas as demandas do setor. Desde serviços mais simples, como ensaios de resistência à compressão, a desenvolvimentos e otimizações de produtos.

O IST dará suporte à indústria da construção civil, através de consultorias especializadas, ensaios laboratoriais e pesquisas?
Em consultorias, o IST atua nas seguintes áreas:
- PSQs (Programas Setoriais da Qualidade)
- Melhoria no processo produtivo
- Implantação, adequação e manutenção do PBQP-H
- Lean Construction
- BIM (Building Information Modeling)
- Avaliação e adequação de projetos em relação à Norma de Desempenho
- Elaboração de catálogos técnicos, manual de uso, operação e manutenção das edificações
Em metrologia, atendemos toda a cadeia da construção civil, analisando desde insumos, como areia, brita, cal e cimento, passando por produtos acabados como concreto, argamassas, artefatos de cimento, cerâmicas, solos e pavimentação, completando o ciclo com a avaliação de sistemas e edificações para atendimento ao escopo da Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575). Outra linha de atuação muito forte do IST é a de inovação, onde atuamos em pesquisa aplicada às indústrias do setor para o desenvolvimento de uma nova solução seja de produto ou processo, para torná-las mais competitivas elevando assim o nível do setor.

Em termos de equipamentos para os laboratórios, o IST possui máquinas de última geração?
O IST possui infraestrutura laboratorial completa, com o que existe de mais moderno para serviços metrológicos nas áreas de agregados, química, cerâmica vermelha, concreto, argamassas e tecnologias construtivas. Exemplificando: acabamos de realizar a instalação de dois novos equipamentos de fluorescência e difração de raios-X, da marca Panalytical, que serão utilizados transversalmente em todas as áreas acima citadas. E os investimentos não param. Para atendimento à Norma de Desempenho estamos trabalhando nos projetos dos
equipamentos que serão desenvolvidos exclusivamente para o IST. Hoje já contamos com os equipamentos para avaliação de estanqueidade e choque térmico de alvenarias, além das medições de acústica com equipamentos da Bruel, que é referência mundial.

O IST tem a ousadia de se colocar como o mais avançado na área de construção civil do sul do país?
Sem dúvida alguma o IST de Construção Civil do Paraná está entre os principais centros de serviços metrológicos, consultorias e inovação para o setor de construção civil do país, e para
reforçar nossa capacidade de atendimento contamos com o apoio da rede Senai e parceiros em âmbito regional, nacional e internacional.

Em termos de pesquisas inovadoras, já existe alguma sendo processada no IST?
Existem vários projetos que já foram executados e outros que estão em execução. Em linhas gerais, trabalhamos principalmente com a incorporação de resíduos ou subprodutos, agregando novas funcionalidades a produtos já existentes ou, como é o caso do projeto atual, onde estamos utilizando dois subprodutos industriais, que isoladamente gerariam um grande impacto ambiental. Além disso, estamos desenvolvendo um novo tipo de revestimento que será utilizado no setor da construção civil.

Quantas empresas já são atendidas no IST, e quantas ele tem potencial de atender?
Em dois anos de atuação já atendemos mais de 200 indústrias, e a expectativa é de que esse número seja triplicado.

O IST tem capacidade de atender toda a região sul ou ele se concentrará no Paraná?
Hoje a estrutura laboratorial para a área de construção civil está bem defasada. Temos poucas opções bem equipadas e que atendam os requisitos normativos de climatização, que requerem controle de temperatura, umidade e velocidade do vento. Aqueles laboratórios que
atendem a esses requisitos possuem uma grande demanda de serviços, fazendo com que o tempo de entrega seja elevado. Assim, a ideia é que o IST possa suprir essa demanda do setor não só na região sul, mas nacionalmente.

Parece que existe a possibilidade de o IST ganhar extensões em Maringá, Cascavel, Curitiba e Pato Branco? O que isso significará para as pesquisas?
Essas extensões que chamamos de polos avançados já existem em Maringá, Cascavel e Pato Branco. Eles foram criados para a realização de serviços de menor complexidade e de menor valor agregado, que por questões logísticas poderiam ficar inviáveis. A governança desses serviços, bem como os serviços de maior complexidade de todo o estado, é realizada no IST em Ponta Grossa.

Em termos de profissionais que atuam no IST, quantos são e qual a especialização?
Atualmente, contamos com 14 profissionais, todos graduados nas áreas de engenharia civil, de materiais e química. Entre eles, contamos com quatro mestres e um doutor. A expectativa é de que esse número chegue a 25 profissionais até 2021.

O IST também será um formador de novos pesquisadores?
Em nosso quadro contamos com Bolsistas CNPQ, da Fundação Araucária e estagiários que estão sendo preparados para se tornarem pesquisadores.

Entrevistado
Químico industrial e mestre em ciência dos materiais, José Rossa Júnior, coordenador STI (Serviços Tecnológicos e Inovação) do Senai de Ponta Grossa-PR
Contato: jose.rossa@pr.senai.br

Crédito Foto: Divulgação/Senai

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Conexpo mostra inovações do concreto no continente

Feira realizada no Chile promoveu a Expo Hormigón, que, entre as novidades, revelou os avanços no uso de colas químicas para grandes estruturas

Por: Altair Santos

Entre 21 e 24 de outubro de 2015, a capital do Chile - Santiago - sediou a Conexpo Latin America. O evento reuniu fabricantes de equipamentos e produtos, desenvolvedores de tecnologias e especialistas da construção civil. Paralelamente à feira, que contou com 800 expositores, atraiu 35 mil visitantes e movimentou US$ 200 milhões em negócios (R$ 800 milhões), aconteceram outras duas exposições: a Edifica, voltada para a área da arquitetura, e a Expo Hormigón, cujas sessões técnicas debateram a produção de concreto no continente e a aplicação do material nas mais variadas obras.

Expo Hormigón atraiu importantes empresas que atuam no mercado do concreto
Expo Hormigón atraiu importantes empresas que atuam no mercado do concreto

Como os demais países da América Latina utilizam as normas técnicas dos Estados Unidos para a produção de concreto - a exceção é o Brasil, que possui normas próprias - o centro das atenções na Expo Hormigón foi a ACI318 -14S (Requisitos para construção com concreto estrutural), que recentemente passou por revisão e mudou os parâmetros para o uso de âncoras com adesivos químicos. As alterações trazem maior responsabilidade para fabricantes, projetistas e construtores que atuam de acordo com a ACI318 -14S.

Ainda que a norma norte-americana não gere reflexos no Brasil, as influências dela sobre adesivos químicos e outros produtos usados no concreto podem, indiretamente, trazer essas novidades ao país. O objetivo é a fabricação de componentes mais eficazes, principalmente para estruturas sujeitas a colapsos causados por terremotos, como o que atingiu o Chile em 2010. Boa parte dos viadutos que caíram era construída com estruturas pré-moldadas e usava adesivos químicos nos parafusos que uniam as peças, e que se soltaram com o tremor.

A partir do terremoto foi instalada uma comissão para revisar a ACI318 -14S, principalmente em seu capítulo 17, que trata dos adesivos químicos. “Os adesivos devem resistir a incêndios, exposições químicas severas e aos impactos”, diz o engenheiro civil Claudio Medel Lavin, que palestrou em uma das sessões técnicas. O especialista é diretor de desenvolvimento e recuperação de estruturas da Sika para o Chile. Medel também é ligado ao Instituto Del Cemento y del Hormigón do Chile – similar do Ibracon no Brasil.

Engenheiros civis e tecnólogos formaram o público quer acompanhou a Expo Hormigón
Engenheiros civis e tecnólogos formaram o público que acompanhou a Expo Hormigón

Além de um seminário específico sobre adesivos químicos para reforçar estruturas de concreto, a Expo Hormigón teve também palestras sobre a industrialização da habitação através do concreto, que abordou a construção de edifícios com paredes de concreto, além de tecnologias para a construção de pavimentos de concreto, e que os tornem mais competitivos e melhorem a qualidade. O Chile é o país da América Latina com a maior quilometragem em pavimento rígido. Quase 80% de suas principais estradas têm o concreto como matéria-prima.

Entrevistado
Engenheiro civil Claudio Medel Lavin, diretor de desenvolvimento e recuperação de estruturas da Sika para o Chile

Contato: info@ich.cl

Conexpo, realizada de 21 a 24 de outubro, em Santiago do Chile: US$ 200 milhões em negócios
Conexpo, realizada de 21 a 24 de outubro, em Santiago do Chile: US$ 200 milhões em negócios

Créditos Fotos: Divulgação/ Expo Hormigón/Conexpo

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

El Niño e tornados colocam construção civil em alerta

Chuvas intensas e ventos com grande poder de destruição obrigam empresas a se precaverem para evitar prejuízos e risco de perder obras

Por: Altair Santos

Anomalias climáticas, como chuvas ininterruptas e tornados, incorporaram um novo elemento aos canteiros de obras: as previsões meteorológicas. É de acordo com boletins sobre o tempo que as construtoras passaram a definir seu cronograma de obras. Etapas como terraplanagem e concretagem de fundações, pilares e lajes são cada vez mais pautadas por boletins climáticos.

Construção em concreto armado destruída por tornado que atingiu Xanxerê-SC, em abril de 2015
Construção em concreto armado destruída por tornado que atingiu Xanxerê-SC, em abril de 2015

Segundo o meteorologista César Ferreira Soares, do Climatempo, ferramentas que fazem previsões ajudam, principalmente, a produtividade no canteiro de obras. “Com o acesso a serviços sobre o clima a empresa melhora o planejamento, principalmente das etapas que exigem ser realizadas com tempo seco, como concretagem e terraplenagem”, diz o especialista.

A antecipação das adversidades climáticas também é uma questão de segurança para os profissionais que atuam no canteiro de obras. “Um meteorologista treinado é capaz de identificar uma tempestade ou um tornado e emitir um alerta para evacuar o canteiro de obra em tempo hábil. As estações meteorológicas também são importantes para esse tipo de trabalho”, completa César Ferreira Soares.

Mais comuns nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, os tornados são os sistemas mais severos e temidos pela construção civil. Dependendo da intensidade, o fenômeno pode destruir casas, tombar guindastes, arrancar estruturas metálicas e até esfacelar obras de concreto armado. “São ventos que podem ultrapassar 300 km/h. Dependendo do estágio do empreendimento, um edifício ou uma ponte também podem sofrer danos”, afirma o meteorologista.

Enchente em Encantado-RS, causada pelo El Niño: fenômeno paralisou obras no Rio Grande do Sul
Enchente em Encantado-RS, causada pelo El Niño: fenômeno paralisou obras no Rio Grande do Sul

Prejuízo na casa dos milhões

Nos Estados Unidos, onde os tornados estão mais incorporados ao clima do país, ocorreram alterações profundas nos sistemas construtivos. Também houve a preocupação na elaboração de normas técnicas que orientassem a construção civil a empreender obras mais seguras e capazes de poupar vidas quando afetadas por esses fenômenos. No Brasil, ainda não existem normas com esta finalidade. “A princípio, não há nenhuma norma na construção civil brasileira relacionada aos fenômenos meteorológicos severos”, cita César Ferreira Soares.

Segundo estudo da Bloomberg, agência internacional de notícias econômicas, os tornados provocam estragos que, anualmente, passam da casa dos 3 bilhões de dólares nos Estados Unidos. Não há um estudo similar para o Brasil, mas segundo informações da Defesa Civil o mais recente tornado verificado no país, e que atingiu a cidade de Xanxerê, em Santa Catarina, em abril de 2015, causou danos equivalentes a R$ 60 milhões.

Neste ano, só as chuvas intermitentes no Rio Grande do Sul, provocadas pelo El Niño, causaram prejuízos em ordem equivalente a dos tornados. A instabilidade climática também paralisou uma série de obras em várias cidades gaúchas e catarinenses, colocando a construção civil em alerta contra esses novos fatores climáticos.

 Meteorologista César Ferreira Soares: Brasil não tem norma técnica na construção civil relacionada aos fenômenos meteorológicos severos

Meteorologista César Ferreira Soares: Brasil não tem norma técnica na construção civil relacionada aos fenômenos meteorológicos severos

Veja aqui a cartilha do Climatempo que alerta sobre os efeitos dos tornados na construção civil.

Entrevistado
Meteorologista César Ferreira Soares
Contato: cesar@climatempo.com.br

Créditos Fotos: Julio Cavalheiro/Secom/Antonio Paz/Governo do RS/Divulgação/Climatempo

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Pavimento rígido ganha versão 100% permeável

Revestimento monolítico apresentado como novidade na Inglaterra tem similar no Brasil, na forma de artefatos de cimento para pisos intertravados

Por: Altair Santos

Uma inundação que atingiu a Inglaterra em 2007, deixando 57 mil casas danificadas por causa de problemas com o escoamento das águas pluviais, levou laboratórios britânicos a investirem em pesquisas que resultassem em um concreto 100% permeável. Com investimento bancado por cimenteiras e concreteiras europeias, o material foi apresentado recentemente como uma inovação para o mercado.

No teste de absorção, fabricante despejou quatro mil litros de água no concreto permeável
No teste de absorção, fabricante despejou quatro mil litros de água no concreto permeável

O segredo do pavimento rígido permeável desenvolvido na Inglaterra está nos agregados. Seixos com granulometria maior, colocados tanto na camada de cima quanto na sub-base, permitem que o revestimento tenha rigidez, resistência e alta capacidade de absorção de água. Nos testes, o material foi capaz de absorver quatro mil litros de água em questão de segundos.

Recomendado para estacionamentos, ciclovias e ruas onde só trafeguem veículos de pequeno porte, a inovação inaugura uma nova geração de pavimento rígido, trazendo-o para dentro do espaço urbano. No entanto, as pesquisas sobre o produto precisam equacionar dois problemas: o comportamento do concreto permeável ao ser recoberto pela neve e a perda da permeabilidade quando atingido por águas barrentas, as quais entopem os vãos entre os seixos, principalmente na sub-base.

Pavimento intertravado

A questão da carga que o concreto permeável pode suportar também é um fator que limita sua área de atuação. No Brasil, onde as pesquisas dentro da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) se concentram no pavimento permeável intertravado, em vez do revestimento monolítico, têm conseguido resultados melhores no que diz respeito a testes de carga. “O intertravado permeável, que é testado no Brasil desde 2008, tem conseguido apresentar boas soluções para o tráfego pesado”, diz Cláudio Oliveira Silva, gerente de inovação da ABCP.

O engenheiro civil explica como funciona o sistema de concreto permeável desenvolvido no país, em relação à inovação britânica. “Eles coincidem no que se refere à pavimentação permeável. O que muda é o modelo de revestimento. Em um pavimento, o britânico, nós temos um revestimento monolítico feito com concreto moldado in loco. Em outro, o que desenvolvemos aqui na ABCP, usa-se o pavimento intertravado permeável. Neste caso, diferentemente do pavimento intertravado convencional, o encaixe das peças geram vazios que permitem a passagem da água”, afirma Cláudio Oliveira Silva.

O gerente de inovação da ABCP revela que o mercado de pavimento permeável intertravado está em ascensão no Brasil. “As prefeituras têm usado bastante. Além do pavimento intertravado, utilizam também as placas de concreto permeável. Em termos de tecnologia, o grande avanço está na questão do dimensionamento hidráulico, ou seja, em como fazer com que a superfície pavimentada permita a passagem da água e, ao mesmo tempo, suporte cargas”, revela.

Veja vídeo do concreto permeável desenvolvido na Inglaterra:

Entrevistado
Engenheiro civil Cláudio Oliveira Silva, gerente de inovação da ABCP
Contato: claudio.silva@abcp.org.br

Crédito Foto: Divulgação/Tarmac

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Concretos duráveis: saiba quando vale a pena usar

Material foi tema de recente seminário da ABCP. Sua principal característica é a adaptação ao meio ambiente e o risco menor de patologias

Por: Altair Santos

Concretos projetados para durar acima de cem anos são definidos como “concretos duráveis”. O material tem um processo de produção mais rigoroso, seguindo controles mais rígidos, e conta com aditivos que incrementam as características relevantes do material, influenciando a durabilidade e as características do cimento Portland. Na prática, adapta o concreto à realidade do meio ambiente e ao clima local, minimizando o risco de patologias e de influências externas, como chuva, insolação e raios UV.

Seminário da ABCP promoveu debates técnicos sobre produtos e sistemas à base de cimento, entre eles os concretos duráveis
Seminário da ABCP promoveu debates técnicos sobre produtos e sistemas à base de cimento, entre eles os concretos duráveis

Obviamente mais caro, há quem defenda o uso de “concretos duráveis” apenas para obras de grande porte e que precisam de alta produtividade no canteiro de obras. Um dos principais especialistas brasileiros sobre concretos duráveis, o professor Oswaldo Cascudo, da UFG (Universidade Federal de Goiás), recentemente palestrou em seminário promovido pela ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland). Confira na entrevista o conhecimento do especialista sobre concretos duráveis:

Por que os concretos duráveis são o novo desafio da engenharia?
Porque a durabilidade é um dos quatro pilares fundamentais em termos de requisitos para os sistemas estruturais em concreto. Espera-se de uma estrutura de concreto que ela apresente segurança e estabilidade, rigidez e deformabilidade controlada, durabilidade e sustentabilidade. As obras em engenharia no Brasil têm um histórico de baixa durabilidade, com a incidência prematura e acentuada de manifestações patológicas, em alguns casos provocando acidentes estruturais. Quem paga essa conta é sempre o usuário final, o que é injusto. Esse quadro vem mudando desde a edição da última grande revisão da principal norma de concreto brasileira, a NBR 6118 - Projeto de Estruturas de Concreto, em 2003, que introduziu um capítulo exclusivo sobre durabilidade do concreto. Atualmente, com a edição da nova norma de desempenho das edificações (NBR 15575:2013), há uma prescrição tácita para que um tempo mínimo de vida útil seja aplicado a uma estrutura de concreto, a ser estabelecido em projeto, a chamada vida útil de projeto (VUP), que deverá ser igual a 50, 63 ou 75 anos, respectivamente para um nível de desempenho mínimo, intermediário ou superior. Em outras palavras, desde 2013 existe uma exigência normativa que torna compulsória dotar as estruturas de durabilidade, por fazer valer uma VUP mínima no projeto. Isto representa uma revolução na forma de conceber, projetar, formular o concreto, construir e usar a estrutura. É puro respeito ao usuário, é defesa do consumidor.

A diferença entre concretos duráveis e convencionais está apenas nos aditivos ou o tipo de cimento e os agregados também influenciam nesta diferenciação?
A especificação de um concreto durável passa por toda a essência da tecnologia do concreto, que buscará a melhor formulação de acordo com a agressividade ambiental. O concreto durável aplicável a uma estrutura é aquele suficiente para alcançar a vida útil estabelecida em projeto, o que significa considerar aspectos da agressividade do ambiente, ao mesmo tempo em que deverá ser economicamente viável e competitivo. Também é indissociável sua especificação ocorrer em bases cada vez mais sustentáveis, dentro de um contexto de responsabilidade socioambiental. Nesse cenário, fazem parte do concreto durável os cimentos Portland e agregados em conformidade com suas normas de especificação, com os devidos ajustes dos tipos, principalmente dos cimentos, em função das características do ambiente. Também se incluem os aditivos, em especial os plastificantes e os superplastificantes ou aditivos de alta capacidade de redução de água, de terceira geração, além das adições minerais, especificamente as superpozolanas (adições de alta finura e de alta atividade pozolânica), que propiciam microestruturas de concreto muito fechadas, através das quais o transporte de massa de agentes agressivos é muito restrito ou inexistente. O resultado é uma altíssima durabilidade.

Em quais obras os concretos duráveis são mais recomendáveis ou requisitados?
É preciso salientar que não existe um único concreto durável. Existem muitos concretos duráveis, com as características e formulações do concreto ajustadas em função da agressividade ambiental e da expectativa de vida útil. O conceito de durabilidade evoluiu muito nos últimos anos. Passou de mera constatação daquilo que vence o tempo para algo que mantém seus aspectos funcionais e propriedades fundamentais ao longo do tempo. Deixou de ser um conceito qualitativo, algo que se conquista ao acaso ou por métodos empíricos, para algo palpável e mensurável, por meio da inserção do conceito de vida útil. A durabilidade pode ser inserida no projeto, por meio do conceito de vida útil de projeto, que sinaliza uma expectativa de durabilidade, a ser conquistada com a boa execução, com a definição correta e conforme os materiais e componentes de construção, e com um adequado uso e operação, que contemple as ações de manutenção preventiva e, quando necessária, corretiva. A durabilidade, portanto, deixou de ter um significado abstrato, evoluindo para algo real, fruto de ações absolutamente sistêmicas. No campo das estruturas de concreto, a compreensão científica dos materiais e o aprofundamento nos mecanismos físico-químicos e eletroquímicos dos fenômenos patológicos, e de degradação e envelhecimento estrutural, propiciaram um avanço extraordinário, que mudou a abordagem de durabilidade. Inicialmente calcada em avaliações sintomatológicas de fenômenos, caminha agora para uma abordagem baseada no desempenho. Esta nova abordagem permite, com boa margem de segurança, por meio dos parâmetros de desempenho e dos modelos de previsão de vida útil, conceber uma estrutura de concreto para vencer certa durabilidade.

Oswaldo Cascudo: edifício e-Tower, em São Paulo, é referência em construção com concretos duráveis no Brasil
Oswaldo Cascudo: edifício e-Tower, em São Paulo, é referência em construção com concretos duráveis no Brasil

As influências do clima - lugares mais quentes ou frios - podem ser determinantes para a opção pelos concretos duráveis?
Sim, nem tanto por ser mais frio ou mais quente, mas principalmente por ser mais agressivo ou menos agressivo. A base conceitual para a concepção de estruturas de concreto duráveis passa por uma adequada classificação do ambiente quanto à sua agressividade. No Brasil, a NBR 6118 estabelece 4 classes de agressividade ambiental (CAA), sendo as mais agressivas as atmosferas urbano-industriais e marinhas (CAA III) e as atmosferas quimicamente agressivas ou zonas de respingo de maré (CAA IV). Para se ter uma ideia do grau de detalhamento diferente, a norma europeia possui atualmente 18 classes de exposição agrupadas em 6 famílias.

Em termos de ciclo de vida útil, uma estrutura em concreto durável resiste quanto tempo mais que uma em concreto convencional?
O conceito contemporâneo de concepção estrutural baseada no desempenho prevê que todas as estruturas tenham durabilidade, algumas mais e outras menos. Pela normalização brasileira atual, a vida útil de projeto mínima prevê 50 anos para que uma estrutura, desde que executadas as operações programadas de manutenção preventiva, apresente-se com suas funções e propriedades acima de um limite mínimo aceitável. Evidentemente que o tipo de concreto a ser especificado para essa vida útil pode ser mais simples se a agressividade do ambiente for menor. Caso a agressividade seja mais intensa, o concreto terá que ser mais elaborado e, claro, será mais caro. Obras especiais como pontes, viadutos e grandes estruturas, independentemente da agressividade ambiental, podem já partir de uma vida útil de projeto elevada. Nesses casos e, notadamente se a agressividade ambiental for alta, serão necessários concretos especiais, tais como os concretos de alto desempenho (CAD) ou, em situações muito particulares, os concretos de ultra-alto desempenho. Esses concretos especiais normalmente estão atrelados a VUPs superiores a 100 anos ou 120 anos, ao passo que os concretos convencionais se propõem a atender a VUPs de 50 anos (no máximo de 63 anos).

No Brasil, como está o uso do concreto durável?
No Brasil ainda é incipiente o emprego desses concretos especiais, principalmente os concretos de ultra-alto desempenho. Mais que isso, ainda é embrionária a abordagem estrutural, em termos de concepção, projeto e especificação do concreto, tendo como base o desempenho e a durabilidade. Com a exigência da nova norma de desempenho das edificações, esse status deve paulatinamente ir mudando, pela incorporação na dosagem dos concretos dos chamados “indicadores de durabilidade”. Estes indicadores são parâmetros de desempenho mensuráveis, com métodos de ensaio existentes e que avaliam propriedades do concreto, intimamente relacionadas aos mecanismos que levam à degradação. A saber: absorção de água, índice de vazios, coeficientes de permeabilidade à água e ao gás, coeficiente de difusão de cloretos, coeficiente de carbonatação, resistividade elétrica etc. Ao se especificar o concreto com base nesses indicadores e controlá-los durante a produção da estrutura, a garantia de durabilidade é muito maior. Uma abordagem que teremos no futuro, que representa o ápice da contemporaneidade, é aquela em que se utilizam os modelos preditivos de vida útil (determinísticos ou probabilísticos), como já se pratica na normalização europeia.

Como é o histórico do concreto durável no país, e quando ele foi usado pela primeira vez?
Não há esse levantamento no Brasil. O que sabemos é que existem muitos concretos duráveis aplicados no país, porém sem ter havido um estudo criterioso de formulação do concreto e de concepção estrutural que levasse em conta a projeção futura de durabilidade (abordagem de desempenho). Uma obra emblemática em estrutura de concreto no Brasil - empregado com fck superior a 100 Mpa - é o edifício e-Tower em São Paulo. Seu fck é igual a 115 MPa, sendo que resultados de controle tecnológico aos 63 dias atingiram um valor de 156 MPa.

E fora do Brasil, como é a aplicabilidade?
No exterior, o emprego de concretos duráveis é mais ordenado, seguindo a lógica da concepção estrutural baseada no desempenho, notadamente nos países mais desenvolvidos da Europa. São referências de obra no mundo em que se têm estruturas com concretos duráveis a Ponte Vasco da Gama (sobre o Rio Tejo), em Lisboa; o Viaduto Millau, no interior da França; a Ponte da Confederação, na Ilha do Príncipe Eduardo, no Canadá; e a Ponte Rion-Antirion, na Grécia.

Em termos de custo da obra, o concreto durável encarece ou não influencia no orçamento?
O concreto especial concebido para elevada durabilidade vai, certamente, ser mais caro. Ele se utilizará dos aditivos mais eficientes do mercado. Também, muito provavelmente, incorporará adições minerais de alta performance, como o metacaulim de alta reatividade, a sílica ativa ou a nanossílica (todos insumos de custo relativamente elevado). Contudo, este acréscimo no custo do concreto é desprezível em comparação aos eventuais custos de manutenção corretiva, nos casos de falta de durabilidade e de descumprimento da vida útil de projeto.

Uma estrutura com concreto durável atinge quanto de resistência (fck e MPa) em relação ao convencional?
Concretos de ultra-alto desempenho podem ter resistências superiores a 200 MPa. Porém, os fck mais comuns dessas obras tidas como muito especiais são da ordem de 80 a 120 MPa. Os fck de estruturas convencionais mais praticados em projetos no Brasil são da ordem de 25 a 40 MPa.

Com o concreto durável usa-se menos concreto para uma determinada estrutura do que se fosse usar convencional?
Sim, de fato a resposta é afirmativa se considerarmos o mesmo carregamento incidente na comparação. Isso ocorre porque nos concretos de alta durabilidade normalmente sua resistência mecânica aumenta. Com maior resistência intrínseca do concreto, as seções dos elementos estruturais são diminuídas, bem como o volume e a densidade de elementos constituintes do conjunto estrutural global.

Entrevistado
Engenheiro civil Oswaldo Cascudo, professor-doutor da escola de engenharia civil e ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG)
Contato: oscascudo@gmail.com

Créditos Fotos: Divulgação/ABCP

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Após 300 anos, ladrilho hidráulico ressuscita no Brasil

Artefato de cimento ganha espaço nas construções sustentáveis, pois produção dispensa uso de fornos e, consequentemente, emite menos CO2

Por: Altair Santos

O projeto da prefeitura de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, de recuperar os famosos ladrilhos que revestem o patrimônio histórico dos tempos do Império, levou o revestimento artesanal - inventado no século XVIII - a renascer na região. Empresas fabricantes de artefatos de cimento passaram a investir no produto, a fim de fornecer material para a restauração, e enxergaram nele a possibilidade de desenvolver um novo segmento no mercado.

Além de ter cores e desenhos que chamam a atenção, ladrilhos hidráulicos são versáteis: servem tanto para revestir pisos quanto paredes
Além de ter cores e desenhos que chamam a atenção, ladrilhos hidráulicos são versáteis: servem tanto para revestir pisos quanto paredes

Outro impulso dado à fabricação desses artefatos, que ainda segue um viés artesanal, vem da construção sustentável. Como os ladrilhos hidráulicos dispensam o uso de fornos e, consequentemente, emitem menos CO2 na produção, têm ganhado a preferência para compor pisos decorativos ou revestir paredes, tornando-se um concorrente para cerâmicas e porcelanatos. A alta resistência à abrasão também faz do produto um elemento requisitado em calçadas.

Durabilidade é outra virtude do ladrilho hidráulico. A mistura de cimento com pigmentos faz com que as cores resistam íntegras por décadas. A composição do desenho vem das formas de metal, que são preenchidas com o cimento e as misturas de cores. Em seguida, o material é compactado sobre grande pressão, por meio de prensas manuais ou mecânicas. Depois de formatado, o ladrilho hidráulico é retirado da prensa e colocado para secar em prateleiras, para, após ficar imerso em água por 24 horas, ir para a cura e a secagem.

Faltam opções no mercado

Um case que resume o bom momento do mercado de ladrilhos hidráulicos foi relatado pelo economista, com formação em engenharia de planejamento, Felipe Honorato. O profissional integra o grupo que atua no PDE (Plano de Desenvolvimento Empresarial) voltado para o setor de artefatos de concreto e ligado à Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). Em palestra na edição 2015 do Concrete Show, Honorato usou o modelo da empresa Ladrilhos Petrópolis, que hoje vende artefatos através de uma plataforma online. “A empresa recebe o projeto do arquiteto, determina cores e desenhos e executa as peças, com entrega em 30 dias. Isso é uma inovação importante”, ressalta.

Filipe Honorato: falta portfólio variado para a maioria das empresas de artefatos de cimento
Filipe Honorato: falta portfólio variado para a maioria das empresas de artefatos de cimento

Honorato lembra que o Plano de Desenvolvimento Empresarial tem atualmente a adesão de 374 empresas. O grande desafio que se impõe a elas é diversificar produtos. “Falta um pouco de inovação. Isso ainda não é um grande gap (atraso) para o setor, mas pode ser no futuro. Um exemplo comparativo ocorre com a espanhola Breinco, uma das maiores fábricas de artefatos de cimento do mundo. Ela tem um portfólio de quase 2.500 produtos. Aqui, nossas fábricas mais desenvolvidas têm 120. Mas a grande maioria trabalha com 4 ou 5 produtos. É preciso rever isso e os ladrilhos hidráulicos estão aí para provar que é possível”, finaliza Filipe Honorato.

Entrevistado
Economista Filipe Honorato, mestre em engenharia de planejamento e doutor em métodos quantitativos

Contato: selo.artefatos@abcp.org.br

Créditos Fotos: Divulgação/Ladrilhos Petrópolis/Cia. Cimento Itambé

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Casas sustentáveis não abrem mão do concreto

Material é estratégico para atender requisitos de conforto térmico, exigidos nas certificações exclusivas para residências unifamiliares

Por: Altair Santos

Certificações sustentáveis específicas para residências unifamiliares começam a chegar ao Brasil. Duas casas já estão chanceladas pelo GBC Brasil. Nove estão em processo de obter a certificação e outras onze em fase de projeto. Em comum, elas têm o concreto aparente como elemento base. O piso em cimento queimado também está presente em alguns conceitos. O motivo é a capacidade de refletir luz, minimizar ilhas de calor e ajudar no conforto térmico.

Primeira casa com certificação construída na cidade de São Sebastião, no litoral paulista: concreto explora luz natural e minimiza ilhas de calor
Primeira casa com certificação construída na cidade de São Sebastião, no litoral paulista: concreto explora luz natural e minimiza ilhas de calor

Estruturas pré-fabricadas de concreto e sistemas inovadores, como o que utiliza painéis de argamassa armada com miolo de EPS (Poliestireno Expandido), também estão presentes nos projetos de casas que buscam certificações sustentáveis. O objetivo é dispor de tecnologias que atendam a Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575), em seus requisitos termoacústicos, e sejam geradoras de baixo volume de resíduos da construção civil.

A primeira residência com a certificação GBC Brasil Casa foi construída na cidade de São Sebastião, no litoral paulista. Há outra edificação em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, que se destaca pelo telhado em forma de folhas. Agora, as casas sustentáveis começam a chegar às capitais, como Brasília e São Paulo liderando esse movimento, segundo o Referencial GBC Brasil Casa - programa criado para avaliar diferentes questões de sustentabilidade específicas para projetos residenciais.

Proprietários sustentáveis

Na cidade de São Paulo, primeiro projeto de casa sustentável com certificação já está pronto para ser executado
Na cidade de São Paulo, primeiro projeto de casa sustentável com certificação já está pronto para ser executado

Acima de normas e programas que estimulam construções sustentáveis está o desejo dos proprietários que encomendam os projetos. Um caso é o do empresário Henrique Cury. Ele concorre para ser o dono da primeira casa com certificação LEED específica para residências na cidade de São Paulo. O motivo dessa opção ele explicou em palestra no Greenbuilding Brasil, que aconteceu em agosto de 2015. “Vivemos um período de despertar da consciência sustentável e, apesar de incipiente, são necessárias ações para que este movimento aumente. O que busco com essa construção certificada é deixar um legado para meus filhos”, afirmou.

O projeto é da arquiteta Kika Camasmie, para quem o maior desafio das construções sustentáveis é educar a cadeia produtiva da construção civil. “A arquitetura já pensa na sustentabilidade, mas existe toda uma dificuldade. Porém, acredito que seja um caminho sem volta”, disse Kika Camasmie, que investiu em telhado verde, parede verde e na permeabilidade. “A casa é toda permeável, ou seja, boa parte da água que ela receber será captada para reúso”, completou.

Outro elemento importante deste modelo de casa sustentável está relacionado com a escolha da construtora. Por exigência da certificação LEED para casas, a empresa deve atuar totalmente dentro da formalidade, além de ter mão de obra treinada para atuar em construções sustentáveis. Da mesma forma, os fornecedores. “Para atender os requisitos, existe um raio máximo em que devo contratar fornecedores. Isso exigiu uma busca minuciosa para termos materiais certificados”, disse Henrique Cury, cuja intenção é iniciar as obras ainda em 2015.

Kika Camasmie e Henrique Cury: casas sustentáveis são caminho sem volta
Kika Camasmie e Henrique Cury: casas sustentáveis são caminho sem volta

Entrevistados
Empresário Henrique Cury e arquiteta Kika Camasmie
Contato: contato@kikacamasmie.com.br

Créditos Fotos: Divulgação/LCP Engenharia/Henrique Cury/Cia. Cimento Itambé

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330