Em tempos de crise, engenharia de valor está em alta
Especialidade está diretamente relacionada à redução de custos, seja ao fabricar um produto, executar um serviço ou viabilizar uma obra
Por: Altair Santos
Resumidamente, Engenharia de Valor é a especialidade em que, antes de fabricar um produto, executar um serviço ou viabilizar uma obra, os recursos disponíveis são analisados ainda na fase de projeto para que sejam evitados custos desnecessários ou que ocorra a extrapolação do orçamento. Nascida no pós-guerra, a metodologia recebeu o nome de Engenharia de Valor em 1947.
Nos Estados Unidos, a partir de 1959, surge a Sociedade Americana de Engenheiros de Valor (em inglês, Society of American Value Engeneers – SAVE). A partir da década de 1960, os conceitos se espalham por diversos países da Europa, até chegar ao Japão. No Brasil, a Engenharia de Valor desembarcou nos anos 1970 e em 1984 foi fundada a Associação Brasileira de Engenharia e Análise do Valor – ABEAV (www.abeav.com.br).
Para explicar os conceitos da Engenharia de Valor, e como a metodologia pode ser aplicada na construção civil, o engenheiro civil Luiz Geraldo Crespo Arruda e a administradora María Esmeralda Ballestero-Alvarez concederam a entrevista a seguir. Ambos fizeram questão de frisar que Engenharia de Valor não pode ser confundido com corte de custos. Confira:
Em tempos de crise, praticar Engenharia do Valor é essencial?
Luiz Geraldo Crespo Arruda - Considerando que uma crise se traduz na perda de valor econômico nas organizações, podemos inferir que o caminho efetivo para reverter estruturalmente tal situação é a adoção de uma filosofia de gestão apropriada para tal demanda, como a Engenharia do Valor, que é unicamente baseada na contra-desvalorização econômica, ou seja, combate à destruição de valor através da (re)criação de valor para todos os interessados. Entretanto, uma filosofia não é algo que se pratique às vezes, e por alguns, mas sim algo que se acredita e se tem como base fundamental de pensamento sistêmico, decisões e ações. Ou seja, posso também sustentar que a crise se instala por fragilidades estruturais e filosóficas oriundas da falta de uma gestão baseada na Engenharia do Valor.
O foco principal da engenharia de valor é meramente baixar custos ou ela engloba outras diretrizes?
María Esmeralda Ballestero-Alvarez - Infelizmente, essa é uma visão muito difundida da Engenharia de Valor, mas que reduz a quase nada sua importância e significado. Desenvolver, usar, praticar e aplicar Engenharia de Valor significa adotar uma filosofia diferenciada em relação aos negócios. Engenharia de Valor é um sistema amplo que se destina a analisar, criticar, modificar e inovar um processo qualquer, visando maximizar os resultados para agregar valor a um produto ou serviço, tanto para o cliente quanto para a empresa. Engenharia de Valor parte da premissa de que, absolutamente tudo que se faça, obrigatoriamente deve agregar valor. Caso contrário, é custo e quem paga o custo (no final das contas) é o cliente. Isso ocorrendo, a concorrência superará a empresa e ela não será competitiva. Desse enfoque, podemos inferir a importância de se fazer Engenharia de Valor, pois ela constitui mais uma ferramenta à disposição dos gestores para tornar a empresa mais competitiva, agressiva, inovadora e criativa.
Em quais áreas a Engenharia de Valor é mais aplicada?
Luiz Geraldo Crespo Arruda - A Engenharia de Valor poderá ser aplicada em organizações de qualquer setor da atividade econômica, basta a mesma considerar que deve gerenciar a valorização do seu negócio. Já dentro dos negócios, podemos aplicá-la em precificação baseada em valor, compras baseada em valor, riscos baseado em valor, venda baseada em valor, marketing baseado em valor, alianças baseada em valor, valorização da informação, potencialidade baseada em valor, valorização de marcas e intangíveis, valorização de ações e cotas, valorização de produtos e serviços, valorização da usabilidade, valorização de processos, valorização ambiental, valorização social, valorização de resíduos, valorização energética, além de desempenho, indicadores e metas baseadas em valor.
A engenharia de valor também prioriza a qualidade?
María Esmeralda Ballestero-Alvarez - Engenharia de Valor somente faz sentido quando utilizada para maximizar resultados de um projeto. Portanto, ela deve considerar também as normas preconizadas pela ISO 21500 (Guia para Gerenciamento de Projetos) na qual a qualidade é a pedra de toque, o ponto fundamental. Somente maximizamos resultados com muita qualidade.
Na construção civil, como a Engenharia de Valor é aplicada?
Luiz Geraldo Crespo Arruda - Podemos aplicar em diversas situações na construção civil. Cito como exemplo a aplicação da Engenharia de Valor nas técnicas de VIPs (Value Improving Pratices), que são uma série de ferramentas utilizadas para otimização do valor de empreendimentos de grande porte. Também podemos citar a aplicação em obras industriais na modalidade de Preço Máximo Garantido (PMG), no qual o cliente e o fornecedor repartem as economias conquistadas através da utilização da Engenharia de Valor. Outra aplicação, mais especificamente voltada para a área predial, é a tendência da elaboração de Produto Imobiliário baseado em valor. E mais recentemente, com o advento da Norma ABNT NBR 15575 (Norma de Desempenho de Edificações), temos o interessante relato do engenheiro Ércio Thomaz, do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas): “Com o cruzamento de exigências e respostas, a norma NBR 15575 põe no papel um conceito muito falado, mas pouco aplicado na relação entre construtor e usuário de uma edificação: a relação custo-benefício, e que implica na Engenharia de Valor”. Assim, podemos aplicar a Engenharia de Valor em todos os projetos técnicos, sejam eles arquitetônicos, de instalações ou estruturais, de modo a aumentar a criação de valor econômico. Cito ainda a aplicação da Engenharia de Valor em estudo de potencialidade para avaliações de imóveis pela ABNT NBR 14653 – Avaliação de bens, pelo método involutivo indireto.
Em quais áreas a engenharia de valor é mais aplicada?
María Esmeralda Ballestero-Alvarez - Em todas. Não há uma área que precise mais da Engenharia de Valor do que outra. Qualquer área empresarial usa recursos (tempo, dinheiro, pessoas, tecnologias, materiais, máquinas, equipamentos e matéria-prima). Esses recursos não se encontram infindáveis, à nossa disposição. Eles são escassos e têm custos (dinheiro, tempo, esforços). Então, o pensamento central é: sua área usa recursos? Então, ela é apropriada para usar Engenharia de Valor.
Quando a Engenharia de Valor é usada em uma obra, ela já precisa estar prevista na fase de projeto?
Luiz Geraldo Crespo Arruda - A contratação de projetos de Engenharia de Valor é baseada em retorno sobre o investimento. Estudos estatísticos nos mostram que quando aplicamos a Engenharia de Valor na fase de projeto de necessidades e no projeto conceitual, as taxas de retorno são de cerca de 1:200, ou seja, para cada um real que se gasta no projeto de Engenharia de Valor, cerca de 200 reais são criados em valor econômico. Além desta abordagem, o projeto de Engenharia de Valor deve ser o primeiro projeto a ser elaborado, pois dele partirão o escopo, as premissas e as restrições de necessidades de desempenhos, custos e metas a serem alcançados pelos projetistas e pelo setor de produção.
O Brasil explora pouco as soluções oferecidas pela Engenharia de Valor?
María Esmeralda Ballestero-Alvarez - Na verdade, o que ocorre é a simplificação de seu escopo, a banalização da ferramenta e a redução de seu significado e impacto. Conhecer, dominar e aplicar Engenharia de Valor requer tempo, dedicação, interesse e criatividade. Isso requer investimento na formação de um profissional, e que muitas vezes o mercado não está disposto a recompensar de forma adequada. Infelizmente, não podemos esquecer que estamos mais habituados a obter resultados imediatos do que esperar que eles germinem para a colheita. A partir desse pensamento entende-se o porquê desta simplificação.
Além do Brasil, quais países fazem melhor uso da Engenharia de Valor?
Luiz Geraldo Crespo Arruda - Em termos de política de estado, os Estados Unidos possuem leis que obrigam a utilização da Engenharia de Valor em todos os serviços governamentais desde 1959, conforme resolução 172 do Pentágono. Para se ter uma dimensão, apenas no departamento de transportes, o Federal Highway Administration (FHWA) tem catalogados mais de 12.000 projetos de Engenharia de Valor ao longo dos últimos 40 anos, que analisaram mais de 800 bilhões de dólares em investimentos e já criaram mais de 120 bilhões de dólares de valor econômico. Além das leis de estado, temos também a norma ASTM-1699-Value Engineering/Value Analysis e o Guia Value Standard and Body of Knowledge- da SAVE (Society American of Value Engineers) associação que existe desde 1962.
Temos na comunidade europeia uma abordagem mais normativa, na qual utilizam a norma EN 1325-Value Management. Somente no metrô de Londres são realizados anualmente cerca de cem estudos de Engenharia de Valor. No Japão, existe uma robusta abordagem legislativa de estado, sendo que é obrigatória a aplicação da Engenharia de Valor nos serviços municipais, além da grande aplicação na sua indústria eletrônica, com destaque para a aplicação nos projetos de robótica da Kawasaki. Na Arábia Saudita, temos como determinação a aplicação da Engenharia de Valor em todos os projetos relacionados à economia e à valorização de um bem que lhes é muito escasso: a água potável.
Em empresas privadas, cito a aplicação da Engenharia de Valor na empresa de softwares alemã SAP. Esta empresa é atualmente a maior do mundo em número de Value Engineers (engenheiros do valor).
Como se especializa em engenharia de valor? Existe um curso específico?
María Esmeralda Ballestero-Alvarez - A Engenharia de Valor está contemplada em três formações: administração, economia e ciências contábeis. Trata-se de especialização em nível de pós-graduação, tanto lato como stricto sensu. Outra forma que existe é a especialização em PMBOK - sistema mais conhecido e utilizado para gerenciar projetos de qualquer porte para empresas de qualquer segmento. O Project Management Institute (PMI) no Brasil oferece diversos cursos de certificação, desde técnico até profissional com diversas áreas específicas (projetos, cronograma, negócios, risco, projeto). Os cursos estão disponíveis em: https://brasil.pmi.org/brazil/CertificationsAndCredentials.aspx.
O especialista em Engenharia de Valor é, necessariamente, engenheiro?
Luiz Geraldo Crespo Arruda - Não necessariamente. Cito como exemplo um movimento robusto nos Estados Unidos, da aplicação da Engenharia de Valor em sistemas de saúde. Lá temos as chamadas Nurse Value Analysis, que são as enfermeiras Analistas do Valor. Entretanto, devemos explicitar que a palavra engenheiro ou engenharia são de propriedade legal do Conselho Federal de Engenharia (CONFEA), ou seja, em termos de Direito, somente um engenheiro poderá ser engenheiro de valor, com tal registro de responsabilidade técnica se for graduado ou pós-graduado em titulação conferida pelo CONFEA. Já em termos de fatos, qualquer profissional poderá ser um analista do valor, desde que tenha o conhecimento, não deturpe a metodologia e esteja pronto para uma possível auditoria em seus trabalhos, que autentique que tal projeto realizado realmente é em projeto de Engenharia de Valor e não algo parecido.
Entrevistados
Engenheiro civil Luiz Geraldo Crespo Arruda, com especialidades em qualidade, tecnologia, produtividade, sutentabilidade e gestão de custos. É diretor da ELEGE Engenharia do VALOR & Sustentabilidade
María Esmeralda Ballestero-Alvarez, doutoranda em administração e docente de graduação e pós-graduação em disciplinas ligadas a planejamento estratégico, marketing, desenvolvimento gerencial e desenvolvimento de pessoas. Possui mais de vinte livros publicados.
Contatos:
elege@elegevalorsustentavel.com.br
www.elegevalorsustentavel.com.br
iecatsp@fei.edu.br
Crédito Foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Brasil busca modelo de industrialização do concreto
Na Austrália, comitiva atuou em seminários e em visitas técnicas, a fim de encontrar modelos que incentivem a construção pré-fabricada no país
Por: Altair Santos
A cidade de Melbourne, na Austrália, reuniu entre o final de agosto e começo de setembro de 2015 a elite da comunidade mundial dedicada à pesquisa e à disseminação da construção industrializada do concreto. Durante o Concrete Australia, ocorreram dois importantes encontros: o fib Presidium e a reunião da C6 (Comissão de pré-fabricados da fib). Uma comitiva brasileira esteve nas duas conferências para absorver novos conceitos e tecnologias, a fim de buscar modelos que incentivem a construção industrializada no país.
Houve também visitas técnicas a canteiros de obras inovadores. Entre eles, prédios com múltiplos pavimentos construídos com painéis e pilares pré-fabricados. O evento, realizado pelo Instituto Australiano de Concreto, em conjunto com o RILEM (União Internacional de Laboratórios e experts em matérias de construção e sistemas estruturais), serviu para mostrar, por exemplo, o quanto o país da Oceania está avançado na utilização de concreto de ultra-alta performance (UHPC) para a fabricação de peças pré-fabricadas para pontes.
A tecnologia permite construir ou substituir estruturas antigas utilizando o processo conhecido como ABC (Accelerated Bridge Construction) [Construção Acelerada de Pontes]. Os benefícios deste modelo incluem interrupção mínima do tráfego de veículos, reduzida manutenção, redução do tamanho das articulações e complexidades, maior durabilidade, velocidade de construção, eliminação de pós-tensão e tempo de uso prolongado das pontes. O UHPC apresenta, entre suas principais características, resistência à compressão seis a oito vezes superiores ao concreto convencional, além de vedação perfeita e capacidade de moldar os mais diversos elencos.
O material foi utilizado também na construção do Mucem (Museu das Civilizações Europeias e Mediterrânicas), em Marselha, na França. A enorme passarela que leva ao prédio e a fachada que envolve o museu foram todas construídas com UHPC. O concreto de ultra-alta performance foi a solução encontrada para que o edifício do Mucem não ficasse exposto à maresia com alta densidade de sal que se verifica na região em que foi construído. Erguido em 2003, o edifício foi um dos bons exemplos de como a construção industrializada oferece alternativas à engenharia civil.
Bons exemplos
Essa constatação é compartilhada pela engenheira Íria Lícia Oliva Doniak, presidente-executiva da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada do Concreto), e que representou o Brasil nas conferências ocorridas na Austrália. “Cada país possui sua cultura em relação às tipologias possíveis de uso das estruturas pré-fabricadas de concreto, que são inúmeras. Desde o total precast, presente nas estruturas em esqueleto dos edifícios da Bélgica, passando pelos edifícios altos com painéis portantes na Holanda, e chegando ao mix destas tipologias nos países nórdicos, que possuem entre 80% e 90% de estruturas pré-fabricadas nas construções, como a Dinamarca e a Finlândia. Na Índia, pelas necessidades locais de habitações e espaço urbano, são adotados os painéis em edifícios habitacionais de alturas mais elevadas. Já na Austrália, este modelo que visitamos mostra que a indústria é fornecedora de componentes, já que faz parte do dia a dia das construtoras trabalharem com a industrialização e terem canteiros de obras altamente mecanizados”, comenta.
Em sua visão, o Brasil tem inúmeras possibilidades de crescimento na indústria das estruturas pré-fabricadas de concreto. Uma delas é “crescer para cima”. “Hoje, a ABCIC, que conhece modelos de desenvolvimento nos mais diversos países, tem estudado especialmente a adoção do sistema no mercado imobiliário, além da habitação social, em edifícios residenciais e comerciais. Não apenas no que tange ao projeto, que é uma fase importante, mas desde a cultura para este desenvolvimento, passando por questões de logística, pois os canteiros no país ainda são pouco mecanizados, até os sistemas de produção e manutenção”, finaliza.
Baixe as apresentações realizadas no Concrete Australia.
http://www.rilem.org/docs/2015145617_concrete-2015-protege.pdf
Entrevistada
Engenheira civil Íria Lícia Oliva Doniak, presidente-executiva da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada do Concreto)
Contato: abcic@abcic.org.br
Créditos Fotos: Divulgação e Clement Mahoudeau/IP3 Press/MAXPPP
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Em vigor, “norma das calçadas” prioriza pedestres
Publicada em setembro, ABNT NBR 16416:2015 agora passa a requerer projeto, estudo do solo e uso de materiais permeáveis em pavimento para pedestres
Por: Altair Santos
Desde 6 de setembro de 2015, está em vigor a ABNT NBR 16416:2015 - Pavimentos Permeáveis de Concreto - Requisitos e Procedimentos. Entre as obras urbanas que mais podem se beneficiar desta norma técnica estão as calçadas. Por isso, ainda que não seja exclusiva para a pavimentação voltada aos pedestres, o setor de construção de artefatos de cimento passou a chamá-la popularmente de “norma das calçadas”. O objetivo da NBR 16416:2015 é definir requisitos mínimos exigíveis ao projeto, especificação, execução e manutenção de pavimentos permeáveis de concreto. Tanto os moldados no local quanto os construídos com peças intertravadas.
Para o engenheiro civil Cláudio Oliveira Silva, gerente de inovação da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), ainda que a norma não tenha como tema central as calçadas, seguramente ela será incorporada aos manuais e guias que cada prefeitura precisa elaborar sobre revestimento de concreto para pedestres. Aliás, a norma foi criada fundamentalmente para balizar o poder público municipal nesta área de pavimentos permeáveis. “A procura por parte de prefeituras e especificadores deste tipo de sistema levou à necessidade da criação de critérios para a correta especificação e execução do pavimento permeável”, explica o especialista.
Além disso, a NBR 16416:2015 envolve também ruas pavimentadas com blocos de concreto para tráfego leve. “A norma abrange qualquer tipo de pavimentação permeável de concreto, de acordo com o que o projetista determinar de carga a ser suportada, seja pedestre, veículos ou armazenamento. Independentemente da finalidade, a norma afirma que o piso deve permitir a percolação de água através de sua estrutura. Neste caso, vários tipos de revestimentos podem ser utilizados. A escolha de cada um depende do tipo de tráfego e condições de entorno”, afirma Cláudio Oliveira Silva.
Mercado receptivo
Redigida no período de dois anos - entre o texto-base e a aprovação final -, a norma de pavimentos permeáveis de concreto reforça a recomendação de estudo do solo, antes de se construir calçadas e ruas pavimentadas. “O estudo do solo deve ser realizado para qualquer tipo de pavimentação, seja permeável ou não. No caso do pavimento permeável, além do suporte do solo (CBR) e de sua expansibilidade, deve-se avaliar também o coeficiente de permeabilidade e assim definir que tipo de estrutura terá o pavimento permeável”, destaca o gerente de inovação da ABCP.
De acordo com Cláudio Oliveira Silva, o item da norma que causou os debates mais acalorados foi o relacionado à especificação de critérios de resistência para os revestimentos de concreto permeável (poroso), seja ele no formato de placas, peças de concreto ou mesmo do concreto moldado no local. “Isso ocorreu devido ao comportamento mecânico diferente, se comparado ao concreto convencional, visto que havia pouco histórico, tanto nacional quanto internacional”, relata, avaliando que a NBR 16416:2015 já caiu nas graças do mercado. “Muitos fabricantes de peças para piso e placas de concreto já fabricam produtos industrializados que podem ser utilizados como revestimento de pavimentos permeáveis”, afirma.
Entrevistado
Engenheiro civil Cláudio Oliveira Silva, gerente de inovação da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)
Contato: claudio.silva@abcp.org.br
Créditos Fotos: Divulgação e Divulgação/ABCP
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
PR tem mais construtoras entre as 500 maiores do Sul
Tradicional ranking da revista Amanhã lista principais empresas do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Ao todo, 36 se destacam
Por: Altair Santos
O tradicional ranking das 500 maiores empresas do sul do país foi divulgado no final de outubro, em Porto Alegre-RS. A lista traz as companhias que mais se destacam em seus respectivos setores, seja no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina ou no Paraná. No segmento construção e imobiliário, o Paraná se destaca com o maior número de empresas ligadas à construção civil. O estado teve 17 listadas, contra 12 do Rio Grande do Sul e 7 de Santa Catarina. A melhor do sul do país, segundo a revista Amanhã, é a Construtora Triunfo S/A, que na relação geral aparece na 73ª posição.
Parte da explicação para o bom desempenho da construção civil paranaense no ranking anual da revista Amanhã está no fato de o Paraná ter se tornado a 4ª principal economia do país, a partir dos dados econômicos de 2013. O estado ultrapassou o Rio Grande do Sul e passou a responder por 6,3% de todas as riquezas geradas no país, atrás apenas de São Paulo (32,1%), Rio de Janeiro (11,8%), Minas Gerais (9,2%). O Rio Grande do Sul ficou com 6,2%. A mudança de patamar da economia paranaense é histórica. Desde 1949 o Paraná ocupava a posição de 5ª maior economia do Brasil.
Os dados são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e confirmados pelo Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social). “O Paraná adensou sua estrutura produtiva nos últimos anos, com um agronegócio pujante, e que não pode ser igualado hoje por nenhum outro estado do Sul e do Sudeste. Ao mesmo tempo, atraiu um ciclo de investimentos produtivos. Isso, obviamente, se reflete na construção civil do estado”, avalia Júlio Suzuki Júnior, presidente do Ipardes.
No balanço geral do ranking da revista Amanhã, no entanto, as empresas do Rio Grande do Sul ainda são maioria. O estado ranqueou 193 corporações, contra 181 do Paraná e 126 de Santa Catarina. Na soma dos faturamentos de 2014, as companhias gaúchas contabilizaram R$ 174 bilhões. No Paraná, esse valor chegou a R$ 166 bilhões no ano passado, considerando apenas receitas líquidas. A primeira empresa no ranking geral da revista Amanhã é a Gerdau. Em 1991, a indústria era uma empresa de base regional e não passava da 5ª colocação entre as maiores do Rio Grande do Sul. Em duas décadas e meia, tornou-se uma multinacional brasileira, alçando a posição de número 1 não apenas na economia gaúcha, mas em toda a região sul.
Economia dinâmica
O ranking é auditado pela PwC, que levanta os dados das companhias através do Valor Ponderado de Grandeza (VPG). O índice apresenta a saúde financeira das empresas não apenas em função da renda, mas pela ponderação de três indicadores financeiros: patrimônio líquido (50%), receita líquida (40%) e lucro líquido ou prejuízo (10%). Por uma questão de credibilidade, todas as informações são extraídas de uma única fonte: os balanços financeiros das corporações listadas. De acordo com os dados de 2014, as marcas que mais cresceram foram as cooperativas industriais. "Nessas mais de duas décadas, vimos várias vezes a economia do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná mudar. As cooperativas industriais são apenas um exemplo disso. Elas conseguiram crescer além de suas fronteiras geográficas, inclusive no cooperativismo de crédito", diagnosticou Carlos Peres, sócio da PwC Brasil e líder para a região Sul.
Quanto ao fato de as empresas ligadas à construção civil aparecerem apenas do 70º lugar do ranking para baixo, os analistas entendem que a lista reflete o impacto da crise econômica no setor. Outra explicação é o dinamismo da economia dos três estados. “Em pouco mais de duas décadas, tudo mudou. Ao analisar os motivos pelos quais companhias entraram ou saíram da listagem, nota-se o saldo positivo de uma economia mais dinâmica, competitiva e internacionalizada. Colocados lado a lado, os rankings contam a história da economia da região sul. Relatam, por exemplo, como tantas empresas do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul saíram de cena por terem sido desestatizadas ou incorporadas por outros grupos. É salutar para a economia dos três estados essa oscilação no ranking”, define Carlos Peres.
Infográfico
Construtoras e incorporadoras com destaque no ranking das 500 maiores do Sul
Empresa Estado Posição no ranking geral
1º Construtora Triunfo S/A PR 73º
2º Grupo Habitasul RS 80º
3º Grupo Plaenge PR 85º
4º Cohapar PR 90º
5º Cesbe S/A PR 94º
6ª Goldztein Cyrela RS 101º
7º CR Almeida PR 114º
8º Combrashop PR 125º
9º A. Yoshii Engenharia PR 132º
10º Toniolo, Busnello S/A RS 159º
11º Melnick Even RS 168º
12º Arena Porto Alegrense RS 195º
13º Hacasa SC 198º
14º Grupo Thá PR 208º
15º Saha PR 234º
16º Nex Group RS 247º
17º Karagounis RS 254º
18º Ivaí Engenharia PR 274º
19º Perville SC 289º
20º Jota Ele PR 303º
21º Cohab-PR PR 310º
22º Vikan participações RS 320º
23º Zita Empreendimentos SC 325º
24º Construtora Castilho PR 335º
25º Intertechne PR 336º
26º Shopping Park Europeu SC 356º
27º Hoelzel RS 418º
28º SBS Engenharia RS 424º
29º Koerich SC 446º
30º Merisa S/A PR 459º
31º Trevisa RS 460º
32º Seta Engenharia SC 479º
33º Paraná Empreendimentos PR 481º
34º Invespark PR 483º
35º STE Engenharia RS 485º
36º Rögga S/A SC 488º
Entrevistados
Carlos Peres, sócio da PwC Brasil e líder para a região Sul
Júlio Suzuki Júnior, presidente do Ipardes
Contatos
carlos.peres@br.pwc.com
diretoria@ipardes.pr.gov.br
Créditos Fotos: Divulgação e Divulgação/Daniel Derevecki
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Norma de Desempenho ensina engenheiros a ler normas
Em vigor há três anos, ABNT NBR 15575 deixa profissionais mais atentos, ainda que existam construtoras que relutem adotá-la em suas obras
Por: Altair Santos
O engenheiro civil Ivanor Fantin Júnior, assessor técnico de engenharia junto ao SindusCon-PR, esteve recentemente palestrando no Congresso de Inovação Tecnológica (Cintec 2015), em Joinville-SC, sobre as implicações da Norma de Desempenho na construção civil. O especialista atuou na elaboração da ABNT NBR 15575, principalmente no período em que esteve em revisão, entre 2010 e 2013. Conhecedor do assunto, ele assegura que uma das virtudes da Norma de Desempenho é ter feito os engenheiros reaprenderem a ler normas. “Considero essa norma a mais importante em 30 anos na construção civil brasileira. Um dos motivos é que ela despertou os engenheiros a voltarem a ler normas técnicas”, afirma.
De acordo com Ivanor Fantin Júnior, os engenheiros civis que vieram dos anos 1980 e 1990 passaram muito tempo não falando em normas, até pelo baixo volume de obras empreendidas nas chamadas “décadas perdidas”. “Não se prestava mais atenção nisso (normas técnicas). Até nas escolas de engenharia os professores não tocavam mais neste tema” diz. Agora, segundo o especialista, a Norma de Desempenho tem que ser o “livro de cabeceira” dos engenheiros, calculistas, projetistas, tecnólogos e arquitetos. “Essa norma é a porta de entrada para a engenharia do futuro, focada em obras duráveis, sustentáveis e que priorizam o usuário”, completa.
Do usuário ao fabricante
Fantin lembra que a primeira publicação da Norma de Desempenho ocorreu em maio de 2010. Porém, havia grandes incongruências na primeira versão, as quais levaram a norma a entrar em processo de revisão. “Como exemplo, se ela tivesse vigorado com o texto original, pelo menos 94% dos pisos cerâmicos brilhantes vendidos no Brasil estariam proibidos de uso. Então, houve grande movimento para a revisão, que teve duração de três anos. A norma definitiva foi publicada em 19 de julho de 2013. Mas até agora, pouca gente foi atrás. Pequenas e médias construtoras nem começaram a estudá-la ainda. Quem já tinha projeto aprovado antes da data da publicação não seguiu a norma. Então, boa parte das construtoras está começando agora a pensar em Norma de Desempenho”, alerta.
A ABNT NBR 15575 define que o engenheiro civil tem que voltar a controlar a obra. Além disso, mexe com toda a cadeia produtiva da construção civil, inclusive o usuário. “Ao usuário, cabe seguir o manual de manutenção. Antes da Norma de Desempenho, um manual de manutenção tinha oito páginas. Agora, passa de cem. Um manual bem feito especifica até as cargas máximas que uma laje deve suportar. Quanto ao fabricante, não cabe mais especificar o produto como o mais bonito, o mais durável, o mais tradicional. Ele tem que vir com os resultados dos ensaios. Uma série de empresas já está se enquadrando à Norma de Desempenho. É uma questão de mercado. Segui-la é garantir a venda do imóvel. Quem ainda não acordou para ela, vai ficar para trás”, assegura Ivanor Fantin Júnior.
Entrevistado
Engenheiro civil Ivanor Fantin Júnior, assessor técnico de engenharia junto ao SindusCon-PR
Contato: engenharia@sindusconpr.com.br
Créditos Fotos: Divulgação/Cintec-Intercon 2015
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Maior desafio brasileiro é produzir com qualidade
Materiais em não-conformidade, serviços mal executados e projetos que levam a erros de execução ainda predominam em boa parte das obras nacionais
Por: Altair Santos
O Brasil tem programas de gestão de qualidade, normas técnicas e certificadores para cobrar qualidade na construção civil. No entanto, o mercado ainda não se comporta assim. Materiais em não-conformidade, serviços mal executados e projetos que levam a erros de execução ainda predominam em parte das obras nacionais, seja de infraestrutura ou habitacional. De acordo com o engenheiro, e professor-doutor Paulo Henrique Laporte Ambrozewicz, o próprio governo federal dá mau exemplo nesta área. Ele cita o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), onde 70% das obras estão inacabadas. “O VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) de Cuiabá é um exemplo. Os vagões estão enferrujando no pátio e a obra não foi concluída. Isso é planejamento, isso é gestão de qualidade da construção. No caso desta obra, a falta de ambos”, diz.
Em palestra recente no Congresso de Inovação Tecnológica (Cintec 2015), em Joinville-SC, Paulo Laporte afirmou que o Brasil precisava criar padrões construtivos. O especialista usou os Estados Unidos como exemplo. “Lá, a obra sai com qualidade porque existe um padrão para se construir e todos seguem esse padrão”, afirmou, ao avaliar que o maior desafio brasileiro é produzir com qualidade. “Nossa indústria (a da construção civil) é nômade, pois tem processos inconstantes. Não é um processo industrial. Muda de obra para obra, seja qual for o sistema: estrutura metálica ou estrutura de concreto. Além disso, utiliza mão de obra cíclica e mal treinada para processos e serviços diferentes. Isso gera orçamentos e prazos com baixo grau de precisão, sem contar erros de estrutura e processos ruins de produção que contrariam programas de qualidade. O resultado são projetos mal executados, que geram perdas de dinheiro e de tempo”, cita.
Não é por falta de programas de qualidade que isso ocorre na construção civil brasileira. Em 1990, o país ganhou o PBQP (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade). Oito anos depois, foi criado o PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat). Mais recentemente veio o Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil (SiAC), que utiliza parâmetros da norma ISO 9001. “O objetivo destes programas é promover a concorrência justa, estimular a melhoria contínua, fazer o setor assumir compromissos com a qualidade dos materiais e dos serviços. Mas isso é realidade hoje? Não”, explica Paulo Laporte, lembrando que qualidade e produtividade são portas para o conhecimento. “Certificados de qualidade não se compram. Leva tempo conquistar”, completa.
Inflação compromete qualidade
O palestrante avalia que há um componente cultural nesse paradigma da qualidade na construção civil. “O consumidor não quer qualidade, quer preço. É cultural. Isso gera dificuldades para construir com qualidade no Brasil”, alerta. Ele aborda ainda que o processo inflacionário pode gerar ainda mais empecilhos para que o país alcance padrões internacionais. “A inflação impacta na qualidade do empreendimento, pois o construtor quer terminar a obra rápido para não ver seu lucro se diluir. Nos anos 1980, vivemos esse cenário”, recorda. Outros obstáculos são tributos e encargos. Paulo Laporte usou um exemplo. “Uma obra que na nota fiscal custa R$ 500 mil vai gerar R$ 100 mil em impostos, R$ 200 mil para pagar a mão de obra - sendo que R$ 100 mil irão para encargos - e R$ 200 mil para a compra de materiais e o lucro do construtor. Então, para tirar sua margem, ele terceiriza os serviços, em vez de contratar diretamente. É um sistema falho? É, mas sem o qual não se sobrevive”, finaliza.
Entrevistado
Engenheiro civil, mestre e doutor em engenharia de produção, Paulo Henrique Laporte Ambrozewicz
Contato: contato@grupola.com.br
Créditos Fotos: Divulgação/Cintec-Intercon 2015
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Principal matéria-prima de uma obra é a informação
Sem dados sobre como construir, nenhum projeto se torna viável. No momento, a melhor ferramenta para fazer essa gestão é o BIM
Por: Altair Santos
O princípio básico de uma obra é a informação. Sem dados sobre como construir, nenhum projeto se torna viável. Esses são conceitos que nortearam a palestra do engenheiro civil Tiago Francisco Campestrini no Congresso de Inovação Tecnológica (Cintec 2015), realizado recentemente em Joinville-SC. O especialista afirmou que atualmente não há melhor ferramenta para fazer a gestão de toda a informação de um empreendimento do que o BIM (Building Information Modeling), apesar de existirem outros modelos para gestão de obras. Segundo ele, operar bem essas tecnologias, e explorar toda a potencialidade, é implantar um processo de melhoria contínua desde o projeto até a execução da obra. “O BIM permite entender a matéria-prima da obra, que é a informação, e fazer a gestão de todos os dados relacionados a uma construção”, diz.
O engenheiro explicou ainda que o bom uso do BIM, assim como de outras ferramentas de gestão de obras, se reflete em futuros projetos que a construtora vá empreender. “Ele permite fazer um diário da obra, coletando informações de cada área envolvida, e os respectivos problemas ocorridos diariamente. Esses dados ficam armazenados e quando se monta um novo projeto ele alerta para problemas que possam surgir em determinada etapa, seja concretagem, alvenaria ou revestimento. O objetivo é que o erro não seja repetido. Então, ele gera um processo automático de melhoria contínua. Por isso, costumo dizer que o BIM é a tecnologia das tecnologias”, elogia Tiago Francisco Campestrini.
O palestrante alertou ainda que o BIM e seus similares começam a estabelecer uma fronteira entre as construtoras, e que, futuramente, irá segregar as que não trabalham com softwares de gestão de obras. “BIM já não é mais um sistema, mas um conceito em que estão ligadas produtividade, tecnologia e qualidade da obra”, define. “Por isso, quando uma empresa usa a ferramenta pela primeira vez, vê os ganhos, e que vale a pena o investimento, ela não para mais de fazer o projeto e a gestão da obra pelo BIM. Além disso, usá-lo é uma questão de sobrevivência no mercado. Daqui a três anos, será impossível para qualquer empresa que não tenha BIM ganhar licitação governamental, por exemplo”, estima.
Obviamente, o BIM - software mais usado no mundo para gestão de obras - não é uma ferramenta que, por si só, irá resolver todos os problemas que surgirem no canteiro. Como instrumento de gestão, ele precisa que as pessoas envolvidas no empreendimento estejam compromissadas e entendam todos os processos. “A formação das equipes é primordial, pois a tecnologia impõe uma mudança cultural. A equipe de projetos precisa atuar junto com a de execução. Também é necessário seguir rigorosamente o cronograma. Não adianta nada o projetista atuar com BIM, mas atrasar a entrega do projeto”, orienta. Essa unidade, lembra Tiago Francisco Campestrini, é importante por que a ferramenta funciona também como um simulador de situações. “Na construção civil é normal surgirem problemas e o BIM ajuda a solucioná-los”, garante.
Por agregar todas as informações, a ferramenta permite também que haja o controle da mão de obra e dos equipamentos que serão usados no canteiro, além de possibilitar construir com redução de custo e de desperdícios. “No BIM são definidas as metas: preciso reduzir custos, preciso minimizar perdas no revestimento, preciso controlar a alvenaria estrutural. Reunidas essas informações, a ferramenta simula e aponta soluções. Foi assim que a China construiu um prédio em 15 dias. Lá a obra só começa quando o planejamento chega a 100%. Aqui no Brasil, a construção civil se dá por satisfeita se o planejamento atingir 70% do que foi definido na fase de projeto. Mas esse processo de melhoria contínua pode evoluir sempre com o BIM (e outros modelos de gestão de obras)”, conclui Tiago Francisco Campestrini.
Entrevistado
Engenheiro civil Tiago Francisco Campestrini, coordenador de projetos BIM da Campestrini Gestão de Projetos e autor do livro Entendendo BIM
Contato: tiago@campestrino.com.br
Créditos Fotos: Divulgação/Cintec-Intercon 2015
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Certificação sustentável chega às escolas brasileiras
Selo LEED Schools, da Green Building Council, além de minimizar consumo de água e de energia elétrica, melhora rendimento dos alunos
Por: Altair Santos
A Escola Estadual Erich Walter Heine, na cidade do Rio de Janeiro, é a primeira da América Latina a receber a certificação LEED Schools, da Green Building Council. Exemplo bem-sucedido em economia de gastos com água e energia elétrica, e em melhoria de rendimento dos alunos, o colégio estimulou outros a seguir o mesmo caminho. É o caso do Colégio Santa Cruz, na cidade de São Paulo, e o Colégio Israelita Brasileiro, em Porto Alegre-RS. Em comum, estas instituições de ensino enfrentavam reclamação dos alunos, por causa do calor nas salas de aula, e alto custo com ar-condicionado. A solução foi promover “retrofit verde” nos prédios.
Na escola Erich Walter Heine, as iniciativas geraram uma redução mensal de R$ 4.000,00 para R$ 1.600,00 na conta de água, e de R$ 4.500,00 para R$ 1.800,00 na de luz. O prédio hoje conta com lâmpadas de led, que apagam assim que as salas são liberadas, e faz a reutilização da água da chuva para uso em banheiros, hortas e jardins. A edificação também ganhou um telhado verde para minimizar o calor e os custos com ar-condicionado. Foram investidos R$ 16 milhões nas reformas, todas elas seguindo os conceitos da certificação LEED Schools. Ao todo, houve a adoção de mais de 50 procedimentos para melhorar o aproveitamento dos recursos naturais e tornar a escola uma construção sustentável.
A readequação do prédio teve reflexo no desempenho dos alunos. O colégio aparece atualmente com a segunda melhor média de notas no ranking de escolas estaduais do Rio de Janeiro. O rendimento dos alunos também melhorou após o retrofit realizado no colégio Santa Cruz, na cidade de São Paulo. A escola adotou telhados verdes com a intenção de levar conforto térmico às salas de aula e adotou o reaproveitamento da água da chuva para fins não potáveis.
Maior telhado verde de Porto Alegre
No Colégio Israelita Brasileiro, na capital gaúcha, o que incomodava os alunos era o calor nas salas de aula. Os prédios antigos, alguns com mais de 40 anos, tinham pouca ventilação e as esquadrias das janelas não favoreciam a luz natural. “A direção da escola pretendia instalar sistema de ar-condicionado em toda a escola, mas o custo seria muito elevado. Adotando padrões de construção sustentável, o orçamento caiu praticamente pela metade”, disse Guido Petinelli, que atuou no retrofit do colégio de Porto Alegre e relatou o case no Congresso de Inovação Tecnológica (Cintec 2015), realizado recentemente em Joinville-SC.
O que transformou o ambiente nas salas de aula do Colégio Israelita Brasileiro foram as reformas nas esquadrias e o uso de vidros duplos. Essas medidas permitiram a instalação de um sistema de ar-condicionado que consome bem menos energia, e que economizou R$ 150 mil no orçamento da reforma. “Essa economia possibilitou a instalação de um telhado verde, que hoje é o maior da cidade de Porto Alegre”, relata Guido Petinelli . Atualmente, as salas de aula da escola da capital gaúcha têm temperatura média anual que varia de 24 °C a 26 °C, independentemente da estação do ano. Além disso, o desempenho dos alunos melhorou, em média, 40%.
Entrevistado
Arquiteto Guido Petinelli, sócio-diretor da Petinelli, empresa de engenharia e consultoria em construção sustentável e certificação LEED, com escritórios em Curitiba-PR e Porto Alegre-RS
Contato: guido@petinelli.com
Créditos Fotos: Divulgação/Cintec-Intercon 2015
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Indústria da construção civil cresce da porta para dentro
Relatório anual da ABRAMAT mostra que setor modernizou equipamentos e obteve ganhos de produtividade, mas agora se ressente da falta de demanda
Por: Altair Santos
O mais recente relatório anual da ABRAMAT (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), denominado de “Perfil da Cadeia Produtiva da Construção e da Indústria de Materiais e Equipamentos, edição 2015”, mostra que o setor conseguiu números relevantes da porta para dentro da fábrica, principalmente no que se refere ao aumento de produtividade e modernização de equipamentos. Porém, aponta o estudo, a situação econômica do país não permite que essas conquistas se reflitam no mercado. “O esforço continuado das empresas da indústria brasileira de materiais de construção para manter seus níveis de eficiência esbarra nas dificuldades macroeconômicas, o que afeta o dinamismo setorial”, resume o documento.
Segundo o relatório, a indústria de material de construção fez a “lição de casa” quanto às ações que abrangem da porta para dentro da fábrica, e que envolvem processos produtivos, padrão de gestão e uso de tecnologias. Também avançou nas relações com clientes, fornecedores e competidores, priorizando gestão da marca, política de pós-venda, cadeia de suprimentos e distribuição e custos logísticos. No entanto, nada disso foi compensado por elementos macroeconômicos que estão fora do alcance das empresas, como câmbio, juros, impostos e política de comércio exterior. O documento destaca que, até 2013, o chamado equilíbrio entre o que acontece da porta para dentro da fábrica entre o que ocorre da porta para fora se manteve sustentável, mas se perdeu a partir de 2014.
De acordo com o documento da ABRAMAT, cujos dados foram coletados e organizados pela Fundação Getúlio Vargas, “desde junho de 2014 começou a ocorrer uma paralisia na demanda, especialmente aquela originada no consumo das famílias. Essa dinâmica foi reforçada pela progressiva perda de fôlego das vendas no varejo. Na outra ponta, as construtoras também reduziram suas atividades. Tanto no segmento imobiliário quanto no de infraestrutura”. Para enfrentar a retração no mercado interno, alguns setores da cadeia produtiva da construção civil têm compensado a falta de demanda no país através das exportações. Aproveitando-se da desvalorização cambial, setores como o de vidros e de aços longos foram os que mais venderam para outros países.
Cimento
Quanto à indústria do cimento, ela é tradicionalmente pouco afetada pelos fluxos de comércio exterior, cita o documento. Em 2014, as exportações foram de US$ 14,5 milhões, o equivalente a apenas 0,2% do valor total das vendas. Já as importações somaram US$ 190 milhões ou 2,3% do valor das vendas da indústria nacional. Com isso, o saldo de comércio exterior desse segmento foi negativo em US$ 175,5 milhões, tendo aumentado 5% em relação a 2013. Segundo dados do SNIC (Sindicato Nacional da Indústria de Cimento), a produção nacional em 2014 atingiu a marca de 71,2 milhões de toneladas. Apesar da desaceleração em relação ao ano anterior, quando a produção física teve expansão de 19,8%, a série histórica atingiu seu ponto mais alto em 2014.
Para Walter Cover, presidente da ABRAMAT, o relatório não apenas diagnostica o cenário atual da indústria de materiais de construção no país, como serve para balizar as ações do segmento para o futuro. “Trata-se de um estudo completo sobre a estrutura e desempenho do setor. Tenho certeza que será muito útil no processo de planejamento das empresas e para pesquisas sobre a construção civil no Brasil”, completa.
Confira o relatório completo
www.abramat.org.br/site/lista.php?secao=9
Entrevistado
Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (ABRAMAT) (via assessoria de imprensa)
Contato: abramat@abramat.org.br
Crédito Foto: Divulgação/EBC