Tragédia em MG gera debate sobre construção de barragens

O rompimento da Barragem do Fundão na região de Mariana, em Minas Gerais, colocou na pauta da engenharia os modelos para contenção de rejeitos construídos no Brasil. Já se sabe que, no caso da obra que causou o maior acidente ambiental do país, a mineradora Samarco optou pela tecnologia mais simples, de menor custo, e, consequentemente, menos seguro: a barragem de terra-enrocamento a montante.

Modelos de barragens terra-enrocamento: a montante (acima), a jusante (meio) e da linha ao centro (abaixo)
Modelos de barragens terra-enrocamento: a montante (acima), a jusante (meio) e da linha ao centro (abaixo)

O sistema parte da construção de diques compostos por materiais argilosos ou enrocamento compactado. Após esta etapa, os rejeitos são depositados e, com o tempo, o adensamento serve de fundação para que se ergam futuros diques no formato de degraus invertidos. O processo é repetido até atingir a cota máxima prevista no projeto. No caso da Barragem do Fundão, ela tinha 150 metros de altura e os rejeitos estavam a 130 metros quando houve o rompimento.

Estudos divulgados pela imprensa, tão logo aconteceu a tragédia em Minas Gerais, mostram que 40% das barragens que romperam em todo o mundo, em um período de 100 anos, usavam o modelo de terra-enrocamento a montante. Isso, no entanto, não decreta o fim do modelo. “Barragens de terra-enrocamento não são necessariamente ultrapassadas em termos de tecnologia. Elas são muito seguras quando projetadas e executadas dentro de padrões rígidos de segurança e devidamente instrumentadas”, diz o engenheiro civil Daniel Prenda de Oliveira Aguiar.

Em 2014, o especialista desenvolveu uma dissertação de mestrado na Unicamp, intitulada “Contribuição ao estudo do Índice de Segurança de Barragens – ISB”. No trabalho, o engenheiro faz uma avaliação de riscos e aponta ações de manutenção periódica e preditiva para evitar desastres. Ele sustentou a tese em cima da Política Nacional de Segurança em Barragens (Lei 12.334, de 2010), cujo maior desafio ainda reside na falta de regulamentação pelos organismos estaduais.

Barragem de terra-enrocamento a montante, igual a que rompeu na região de Mariana-MG
Barragem de terra-enrocamento a montante, igual a que rompeu na região de Mariana-MG

Na dissertação, Daniel Prenda de Oliveira Aguiar cita que havia - até a data de sua publicação - 13.736 barragens cadastradas pela Agência Nacional das Águas (ANA). O número seguramente deve ter aumentado, mas é uma estatística imprecisa, por causa das barragens construídas na informalidade para o acúmulo de água para abastecimento particular, irrigação, lazer e para a hidratação de rebanhos.

Fiscalização dividida
Segundo a Lei 12.334, a ANA tem sob sua responsabilidade a fiscalização das barragens implantadas em rios de domínio da União e, para os quais, ela outorga o direito de uso dos recursos hídricos. “Seria muito complicado para a agência fiscalizar todo o universo de barragens em território brasileiro. Por isso, existe um modelo descentralizado atribuindo responsabilidades de fiscalização a diversos organismos estaduais e federais, conforme o tipo e localização do empreendimento”, explica Daniel Prenda de Oliveira Aguiar.

Entre os organismos envolvidos na fiscalização de barragens estão os seguintes:

• Barragens de rejeitos de mineração: Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM)
• Barragens de contenção de rejeitos industriais: órgão estadual ambiental que concedeu a licença ambiental
• Barragens para fins preponderantes de geração de energia hidroelétrica: Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
• Barragens em rios de domínio do estado: órgão estadual de recursos hídricos que emitiu a outorga
• Barragens em rios de domínio da União: Agência Nacional das Águas (ANA)

Engenheiro Daniel Prenda de Oliveira Aguiar: tragédia vai impulsionar novas tecnologias sobre barragens
Engenheiro Daniel Prenda de Oliveira Aguiar: tragédia vai impulsionar novas tecnologias sobre barragens

Os organismos de fiscalização, segundo prevê a lei 12.334, devem ater-se a três tipos de patologias que afetam as barragens: percolação, deformações e recalques. “Isso não implica necessariamente em risco, pois em toda barragem ocorrem percolação, deformação e recalque. O importante é que esses fenômenos sejam controlados e estejam dentro dos limites de segurança definidos em projeto. Por isso, é de suma importância a instrumentação da estrutura, ou seja, que toda deformação seja mensurada e acompanhada regularmente como um indicador da saúde do empreendimento”, avisa Daniel Prenda de Oliveira Aguiar.

No caso de barragens a montante, mais ainda. Principalmente quando os especialistas apontam que há outros modelos mais seguros. Entre eles, a jusante, que é quando a barragem cresce sobre ela mesma, formando uma espécie de pirâmide. Há ainda a barragem que usa o sistema da linha ao centro - técnica que é um aperfeiçoamento do modelo a montante, onde os degraus se estendam uns sobre os outros. Tem ainda um sistema mais seguro, conhecido como barragem seca e construída totalmente em concreto, como uma grande piscina, que isola os rejeitos.

Para o engenheiro autor da dissertação sobre segurança das barragens, a tragédia em Minas Gerais tende a impulsionar o desenvolvimento de novas tecnologias, práticas de engenharia e legislação no assunto. “É possível dizer que esse rompimento irá movimentar o meio acadêmico (com a publicação de artigos, dissertações e teses), o governo (com a intensificação da fiscalização e possível publicação de novas leis e decretos) e os profissionais atuantes no ramo que podem se tornar ainda mais cautelosos”, finaliza.

Entrevistado
Engenheiro civil Daniel Prenda de Oliveira Aguiar, em ênfase em recursos hídricos e geotecnia
Contato: daniel.prenda@gmail.com

Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Déficit em obras de infraestrutura chega a R$ 2 trilhões

Quanto menos o país deixa de aportar recursos em obras estratégicas para seu crescimento mais encarece a lacuna de investimentos

Por: Altair Santos

Em 2014, o Brasil investiu R$ 130,9 bilhões em obras de infraestrutura, somando capital privado e recursos governamentais (federal, estaduais e municipais). Este ano, essa conta deve fechar em R$ 106,4 bilhões, com queda de 19% em termos nominais. Quanto menos o país deixa de aportar recursos em sua infraestrutura mais encarece essa lacuna de investimentos. Estima-se que ela esteja atualmente no patamar dos US$ 500 bilhões – aproximadamente R$ 2 trilhões.

Usina Belo Monte: atrasos recorrentes na entrega da obra aumentam prejuízos do país
Usina Belo Monte: atrasos recorrentes na entrega da obra aumentam prejuízos do país

Segundo especialistas, o que falta ao país é um PMO (Project Management Office ou plano de gerenciamento de projetos). Só assim, entende o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Robson Gonçalves, o Brasil conseguirá atrair os chamados funding (fundos de investimento existentes principalmente nos Estados Unidos e na Europa) para investir no Brasil. “Nós não conseguimos ter a competência necessária para atrair o capital estrangeiro. Precisamos criar um plano que gere confiança no investidor”, avalia.

Ainda de acordo com Robson Gonçalves, esse déficit de infraestrutura se deve à adoção de políticas erradas, as quais acentuaram o distanciamento do país do resto do mundo. “Das dez maiores economias do mundo, o Brasil é a única que está em recessão. Isso mostra o quanto estamos isolados”, afirma. O sócio da GO Associados, Fernando Marcato corrobora a opinião e complementa destacando o tripé fundamental para avanços do setor. “É necessário regulação, planejamento e gestão”, completa.

Os analistas estiveram em um seminário promovido pelo SindusCon-SP e pela Fundação Getúlio Vargas, no começo de dezembro de 2015, em São Paulo-SP, intitulado “Oportunidade de Investimento Privado em Infraestrutura: uma saída para a crise”. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo, José Romeu Ferraz Neto, justificou o encontro por causa do atual momento do país. “O Brasil não pode ficar mergulhado indefinidamente na recessão. É na expansão da infraestrutura que estão as maiores oportunidades para voltar a crescer de forma sustentada”, afirma.

Obras atrasadas também dão prejuízo

Atualmente, calculam os participantes do seminário, o Brasil precisa que os recursos para a infraestrutura sejam da ordem de 5,5% do PIB, ou seja, pelo menos quintuplicar o investimento de R$ 106 bilhões por ano. Se para o país é muito, para o restante do mundo são recursos considerados de pequeno porte.

Até 2030, os fundos de investimento projetam desembolsar mais de US$ 700 trilhões em obras de infraestrutura nos cinco continentes. Convertido para a moeda nacional, esse montante ultrapassa dois quatrilhões de reais. “Como se vê, dinheiro existe. Mas o investidor externo tem dificuldade de entender as regras do jogo aplicadas no Brasil. Isso é particularmente relevante para fundos de pensão e investimentos de longo prazo”, cita o economista da Inter B Consultoria, Claudio Frischtak.

Além da escassez de recursos em obras de infraestrutura, o Brasil sofre também com os atrasos nas obras já em execução. Dois casos são emblemáticos: a hidrelétrica Belo Monte e a transposição do rio São Francisco. A usina deveria estar em pleno funcionamento desde 2014, mas só deve começar a operar as primeiras duas turbinas em 2016. Já a transposição - prometida para 2012 - conta com atraso de três anos e chegará a cinco até 2017, ano em que o governo federal assegura entregá-la integralmente.

Entrevistados
Economista Robson Gonçalves, coordenador de projetos da FGV Projetos e professor no FGV Management
Advogado Fernando Marcarto, sócio da GO Associados
Economista Claudio Frischtak, da Inter B Consultoria
Engenheiro civil José Romeu Ferraz Neto, presidente do SindusCon-SP

Contatos
fsmarcato@goassociados.com.br
claudio.frischtak@interb.com.br
imprensa.fgvprojetos@fgv.br
sindusconsp@sindusconsp.com.br

Crédito foto: Divulgação/Norte Energia S/A

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Economia circular na construção: Brasil dá 1º passo

Douwe Jan Joustra mostra conceito a organismos ligados à engenharia civil nacional, o qual cria novos paradigmas à sustentabilidade

Por: Altair Santos

Com o objetivo de refletir sobre ações futuras para a indústria da construção, usando o conceito da economia circular, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e o SindusCon-SP, com o apoio do Senai, promoveram no final de novembro de 2015 um seminário com um dos principais propagadores deste conceito no mundo: o sócio-gerente da One Planet Architecture Institute, da Holanda, Douwe Jan Joustra.

Douwe Jan Joustra implantou sistema na Holanda e agora busca propagá-lo pelo mundo
Douwe Jan Joustra implantou sistema na Holanda e agora busca propagá-lo pelo mundo

Foi ele quem coordenou, junto ao governo holandês, o programa ‘Cradle to Cradle’ (do berço ao berço) – implantado em 2010. O objetivo é o reaproveitamento integral dos materiais usados em um processo industrial. Os pilares são os seguintes: novos paradigmas, sistemas vivos, combinação de produtos e serviços, repensar e redesenhar, e performance contracting (contrato de desempenho).

Da Holanda, a economia circular já começa a se propagar pela comunidade europeia. A expectativa é de que, até 2020, ela poupe o equivalente a US$ 630 bilhões por ano em consumo de matéria-prima extraída do meio ambiente. O especialista ressalta que tudo dependerá da forma de como o conceito será disseminado. “A economia circular foi introduzida na Holanda em 2010. Em apenas cinco anos, já conseguimos com que 25% da população do país tenham conhecimento do conceito”, explicou.

No Brasil, princípios de economia circular estão inseridos na Política Nacional de Resíduos Sólidos - lei de 2010, que pretende garantir a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, através de logística reversa e acordo setorial. A responsabilidade compartilhada pelos produtos prevê que todos os agentes do ciclo produtivo, os consumidores e os serviços públicos tenham atribuições para minimizar o volume de resíduos sólidos e seus impactos ambientais.

Tecnologia é aliada
A economia circular está inserida no artigo 6º da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que diz:

Art. 6º - São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
I – a prevenção e a precaução;
II – o poluidor-pagador e o protetor-recebedor;
III – a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública;
IV – o desenvolvimento sustentável;
V – a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o fornecimento, a preços competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta;
VI – a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade;
VII – a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
VIII – o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania;
IX – o respeito às diversidades locais e regionais;
X – o direito da sociedade à informação e ao controle social;
XI – a razoabilidade e a proporcionalidade

Joustra cita que, além das leis que cada país cria para estimular a boa relação entre indústria e meio-ambiente, a tecnologia é a grande aliada da economia circular, pois permite não apenas monitorar os resíduos, mas facilitar a transformação, através de equipamentos cada vez mais sofisticados. “Estamos em uma nova era, temos novas tecnologias e isso pode avançar mais rápido do que prevemos”, avalia, prevendo que a construção civil será uma das beneficiadas. “Não tenho dúvida de que, a partir da economia circular, será possível construir mais rápido, com mais qualidade e com menor volume de resíduos”, completa.

Entrevistado
Arquiteto Douwe Jan Joustra, sócio-gerente da One Planet Architecture Institute, da Holanda
Contato: djj@opai.eu

Crédito foto: Divulgação/SindusCon-SP/Guilherme Kardel

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Paraná quer construir 1º aeroporto do Brasil para A380

Projeto do terminal encontra-se em fase de licenciamento ambiental e será construído na região da cidade de Ponta Grossa

Por: Altair Santos

O A380 é o maior avião do mundo. Pesa 575 toneladas e tem envergadura de quase 80 metros entre as asas. Por isso, requer terminais especiais para pousar e decolar. No Brasil, dia 14 de novembro de 2015, o aeroporto de Guarulhos-SP recebeu um voo-teste da aeronave. O terminal paulista precisou paralisar todos os outros pousos e decolagens para receber o avião. Sinal de que não suporta voos regulares do A380. Para que o país pudesse receber esse avião seria necessário construir pistas adaptadas a ele ou novos aeroportos. É o que pretende a Companhia Aeroportuária Campos Gerais, em Ponta Grossa, no Paraná.

Projeção do terminal de Ponta Grossa: capacidade para receber o maior avião do mundo
Projeção do terminal de Ponta Grossa: capacidade para receber o maior avião do mundo

O projeto, que envolve investimento integral da iniciativa privada, já se encontra na fase de licenciamento ambiental - etapa final do cumprimento dos requisitos legais para a implantação do empreendimento. O objetivo é construir um aeroporto entre os municípios de Ponta Grossa e Palmeira, ficando no meio do caminho entre as cidades do interior e a capital, Curitiba. Com o nome oficial de Aeroporto Internacional dos Campos Gerais, o terminal aéreo também já conta com a aprovação de organismos como ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) e CINDACTA/DECEA – ligados à aeronáutica.

O empreendimento será feito em quatro etapas. A primeira fase prevê a construção de duas pistas de pousos e decolagens, pátios de estacionamentos das aeronaves, armazéns e hangares para todo o tipo de cargas (secas, perecíveis, refrigeradas, congeladas, biológicas e em trânsito), além de um terminal de passageiros para atender a demanda inicial. O projeto prevê que se desenvolva no entorno do aeroporto um bairro logístico, capaz de receber um porto seco, também conhecido como Estação Aduaneira Interior (EADI), indústrias e galpões de armazenamento.

O custo estimado da obra é de R$ 3,5 bilhões. Segundo Edison Morozowski, presidente da Companhia Aeroportuária Campos Gerais, há investidores nacionais e internacionais interessados no projeto. Definido como o primeiro grande HUB (aeroporto comercial de transporte multimodal) do Brasil, o aeroporto irá abranger uma área de 50 quilômetros quadrados e envolverá 22 municípios do Paraná, integrando-se aos sistemas rodoviários e ferroviários existentes na região. “O aeroporto formará um complexo de distribuição e recepção de mercadorias no Paraná, com área de influência sobre os estados vizinhos”, diz Edison Morozowski.

Edison Morozowski (dir.), presidente da Companhia Aeroportuária Campos Gerais: aeroporto vai atender demandas dos estados vizinhos
Edison Morozowski (dir.), presidente da Companhia Aeroportuária Campos Gerais: aeroporto vai atender demandas dos estados vizinhos

Pista especial

Para receber o A380, o aeroporto de Guarulhos-SP precisou de obras de adequação que foram coordenadas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). O Centro de Tecnologia de Obras de Infraestrutura do IPT trabalhou especialmente no recapeamento de uma das pistas, que necessitou de pavimentação especial. A mistura asfáltica teve que atender requisitos especiais de aderência. Segundo Rubens Vieira, da Seção de Geotecnia do IPT, o contato pneu-pavimento é essencial nas operações de decolagem e de aterrissagem do A380, o que exige o monitoramento de índices como coeficiente de atrito e profundidade da macrotextura.

Esse controle de atrito é uma das principais características que diferencia a formulação das misturas asfálticas destinadas às pistas de aeroportos e as utilizadas em vias urbanas. “O revestimento da pista é fabricado com materiais pétreos retirados de pedreiras, que são britados e dosados, e em seguida esta combinação de agregados é misturada a um cimento asfáltico do petróleo de fórmula mais resistente do que a usual”, explica Vieira. Outra solução apontada pelo Laboratório de Materiais de Construção Civil do IPT é o uso de pavimento de cimento Portland, a qual deve ser aplicada no futuro aeroporto de cargas do Paraná.

Veja vídeo sobre o terminal de cargas

Entrevistado
Companhia Aeroportuária Campos Gerais (via assessoria de imprensa)
Contato: http://www.cacg.com.br/contacts.html

Créditos fotos: Divulgação/Ivan Bueno/AEN

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Futuro da construção civil mundial está na Ásia

Auditoria internacional revela que, até 2030, nenhum outro país terá tantas obras quanto China e Índia, seguidos de Indonésia, Vietnã e Filipinas

Por: Altair Santos

Estudo da auditoria internacional PwC revela que, até 2025, 63% das obras de infraestrutura em todo o mundo estarão concentradas na Ásia. Só a China responderá por 26% dos empreendimentos, seguida da Índia. O levantamento ainda revela que entre 2025 e 2030, a Índia terá potencial para superar a China e se transformar no país com maior concentração de obras.

Ponte Bandra Worli Sea Link, em Mumbai: Índia caminha para passar a China em volume de obras
Ponte Bandra Worli Sea Link, em Mumbai: Índia caminha para passar a China em volume de obras

O mesmo relatório prevê que o ritmo global da construção civil tende a superar o PIB do planeta no mesmo período. Contribuem para esse crescimento, além de China e Índia, os novos “tigres asiáticos” - Indonésia, Vietnã e Filipinas. Fora da região asiática, os Estados Unidos seguirão encabeçando a construção civil do ocidente. “É normal que a demanda por obras seja maior na Ásia, mas nos surpreende a voracidade da índia”, diz Jonathan Hook, líder global de Engenharia & Construção da PwC.

Estima-se que já em 2016 a Índia ultrapasse o Japão no volume de obras. A construção civil no país, desde 2013, cresce a taxas constantes de 7,4% ao ano. É esse ritmo que faz o documento da PwC assegurar que a China será superada pela índia na condição de “canteiro de obras” do mundo. “A diferença entre a explosão construtiva que se viu na China, e a que é assistida agora na Índia, é que os indianos estão muito preocupados em gerar construções sustentáveis”, afirma Jonathan Hook.

Um exemplo é a ponte Bandra Worli Sea Link, construída na ilha de Mumbai. A obra investiu na construção industrializada e buscou certificação sustentável. Um quesito exigido era que o concreto tivesse baixa emissão de CO2. A solução foi buscar um material com 30 MPa de resistência, após 28 dias, usando cinza volante e um aditivo químico desenvolvido exclusivamente pela BASF para a obra.

Com esses procedimentos, a obra utilizou 400 quilos de cimento para cada metro cúbico de concreto. Ao todo, a Bandra Worli Sea Link consumiu 20 mil m³ de concreto, reduzindo em 4.400 toneladas a emissão de CO2.

Brasil na contramão

O estudo da PwC envolveu 49 países, responsáveis por 90% da produção econômica mundial. O Brasil e as principais nações latino-americanas fizeram parte do levantamento. Pelos dados coletados, a pesquisa indica que a construção civil brasileira, em função das demandas, tem condições de crescer 6% ao ano, em média. No entanto, com um olhar otimista, a expectativa é de que o setor de infraestrutura no país cresça a um ritmo de 2%, a partir de 2017.

A mesma pesquisa apontou onde estão as maiores demandas estruturais do Brasil, que passam por extração (petróleo e gás e commodities), indústria de transformação (refino de petróleo, química e de metais pesados), infraestrutura social (educação e saúde), além de transporte (rodovias, ferrovias, transporte marítimo e aeroportos) e serviços públicos (geração, transmissão e distribuição de energia, gás, água e telecomunicações). São obras que coincidem também com as carências da Índia. Só que, no país asiático, elas já estão em fase de execução, e a pleno vapor.

Entrevistado
Jonathan Hook, líder global de Engenharia & Construção da PwC (via assessoria de imprensa)
Contato: jonathan.hook@pwc.com

Crédito foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Água da chuva para produzir concreto. É possível?

A resposta é sim, mas requer cuidados. Se o pH for ácido, pode afetar a resistência do material e também estimular manifestações patológicas

Por: Altair Santos

Uso de água da chuva na produção de concreto é sempre um assunto que causa polêmica. Pode ou não pode? Um dos principais especialistas no assunto, o gerente de laboratórios da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), Arnaldo Forti Battagin, afirma que não há problema em utilizar água da chuva para produzir concreto, desde que essa água passe por ensaios e cumpra as exigências mínimas da norma ABNT NBR 15900 - Água para amassamento do concreto – Requisitos. É o que ele explica na entrevista a seguir:

Arnaldo Forti Battagin: “É tradição do cimento brasileiro primar pela qualidade”
Arnaldo Forti Battagin: “É tradição do cimento brasileiro primar pela qualidade”

É possível usar água da chuva para produzir concreto? Caso sim, ela precisa passar por tratamento ou pode ser usada do jeito que for captada?
A água precisa ser submetida a todos os procedimentos de que trata a norma técnica (ABNT NBR 15900 - Água para amassamento do concreto – Requisitos). Ela prevê uma série de águas para serem utilizadas na produção de concreto: água de poço, água até de reúso de esgoto, de estação de tratamento de esgoto, água de reúso da concreteira, de lavagem de caminhão etc. Ela não fala explicitamente nada sobre água de chuva, mas de qualquer maneira, as águas pluviais devem passar pelo mesmo ritual, ou seja, fazer os ensaios preliminares previstos na norma, que são ensaios de composição química que estejam ligados a alguns efeitos da durabilidade. Aí tem duas alternativas dos componentes que mudam a cinética de hidratação do cimento e do concreto. Uma está relacionada aos componentes presentes na água, e que podem influenciar quimicamente o concreto. Outra opção é ir diretamente às propriedades que são relacionadas à resistência e ao tempo de pega, em comparação à água tratada. São importantes esses ensaios, que vão detectar, por exemplo, presença de detergentes e de óleos, além do pH da água. O que pode acontecer com a água de chuva? Se ela for de um ambiente urbano, de uma área poluída, ela pode ter um PH ácido. A norma veta o uso de água abaixo do pH 5. Normalmente, as águas de ambientes rurais não têm esse problema.

Existe risco de a água da chuva causar patologias no concreto, como a eflorescência, por exemplo?
Existe, se for uma água ácida. Já a eflorescência dificilmente vai carregar componentes. Por isso, existem os ensaios para prever estes problemas. Mas uma água de chuva não ácida não vai dar eflorescência. Não vai ter carbonatos dissolvidos ou similares. Ela tem que sofrer os mesmo rituais que sofrem uma água e atentar para o problema de ser num ambiente poluído para evitar um pH muito baixo.

Com os devidos cuidados, a água da chuva pode produzir concreto de boa qualidade
Com os devidos cuidados, a água da chuva pode produzir concreto de boa qualidade

O uso de água da chuva altera resistência e durabilidade do concreto?
Sim, e por esse motivo é preciso fazer a análise, para ver se vai dar problema ou não.

O uso de água da chuva muda o prazo de cura do concreto?
Não. O prazo de cura é uma coisa que o próprio usuário, o engenheiro, o construtor estabelece. Não existem recomendações para isso relacionadas ao uso de água da chuva.

Existe norma específica que fala do uso de água da chuva na produção de concreto?
Não existe.

O concreto produzido com água da chuva pode ser usado em estruturas ou somente em elementos não-estruturais?
Pode ser usado em qualquer elemento, desde que ele passe nos ensaios de especificação, que é a parte 1 da NBR 15900. Se esta água de chuva obedecer todos os parâmetros mínimos descritos na norma técnica ela pode ser usada para produzir concreto estrutural sem o menor problema.

No Brasil, o uso de água da chuva para a produção de concreto é comum?
Desconheço que isso seja usado em grande escala. O que está começando são as concreteiras utilizarem a água da lavagem de caminhão, mas assim mesmo é ainda muito incipiente.

Normalmente, quantos litros de água, se de chuva ou tratada, são necessários para produzir um metro cúbico de concreto?
O volume é o mesmo, independentemente da origem da água, ou seja, 150 litros por metro cúbico de concreto.
Há diferença entre usar água da chuva para fabricar concreto e usar água tratada que venha do sistema convencional de captação de água?
Não há diferença nenhuma, desde que a água de chuva obedeça os parâmetros da norma de água de amassamento.

Para concretos especiais, como o autoadensável, é recomendável usar ou não usar água de chuva?
Não é uma questão de recomendação. A recomendação de reaproveitamento de água é uma exigência da sociedade moderna. É preciso saber que água é um bem precioso, finito e que não pode ser substituído. Então, qualquer iniciativa de utilizar a água de chuva para o concreto é bem-vinda, mas desde que obedeça aos parâmetros técnicos exigidos.

Entrevistado
Geólogo Arnaldo Forti Battagin, gerente dos laboratórios da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)
Contatos
laboratorio@abcp.org.br
arnaldo.battagin@abcp.org.br

Créditos fotos:  Divulgação/ABCP e Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Retrofit atinge Avenida Paulista de ponta a ponta

Em São Paulo, uma das ruas mais conhecidas do país passa por completa reforma. A revitalização vai do asfalto aos arranha-céus com mais de 50 anos

Por: Altair Santos

Uma das ruas mais conhecidas do país está passando por um completo retrofit. No chão, a prefeitura de São Paulo revitaliza calçadas e cria ciclovias em seu canteiro central. No alto, os prédios localizados na Avenida Paulista é que se submetem a revitalizações. Com muitos edifícios construídos entre os anos 1940 e 1970, as reformas atingem quase uma dezena de empreendimentos. A opção pelo retrofit se dá por três motivos: o alto custo para demolir e reconstruir obras novas, a burocracia para viabilizar novas edificações na região e a escassez de terrenos.

Todos os prédios que passam por retrofit na Avenida Paulista estão requerendo certificação sustentável
Todos os prédios que passam por retrofit na Avenida Paulista estão requerendo certificação sustentável

A Perkins + Will, escritório global de arquitetura e design interdisciplinar, lidera dois grandes projetos na Avenida Paulista, e que somam investimentos de mais de R$ 110 milhões. Um deles é o do Brazilian Financial Center (BFC), conhecido por ter abrigado por muitos anos a sede do Banco Real. A previsão de conclusão é em dezembro de 2016. Nos projetos em andamento, o processo de retrofit é utilizado para adicionar novas tecnologias às construções. "A estimativa de vida útil de uma edificação é de 50 anos. Com o processo de retrofit é possível proporcionar um novo ciclo de vida de mais 40 anos às construções", afirma Douglas Tolaine, diretor de Design da Perkins + Will no Brasil.

O arquiteto explica que o universo de trabalho em retrofit é vastíssimo no Brasil. Além do aspecto cultural de preservação de patrimônio, também reforçam essa tendência a escassez de boas áreas disponíveis em locais estratégicos, aliado ao longo e burocrático tempo para as aprovações de projeto, a complexidade de demolição ou implosão de edificações em zonas consolidadas e o tempo de construção de um novo edifício. Além disso, as certificações para prédios verdes, voltadas para o retrofit, estimulam investir em reformas.

Há pelo menos dez edifícios na Avenida Paulista em fase de retrofit, o que tende a garantir pelo menos mais 40 anos de vida útil
Há pelo menos dez edifícios na Avenida Paulista em fase de retrofit, o que tende a garantir pelo menos mais 40 anos de vida útil

Economia energética de 30%
É o caso do edifício comercial Panorama Paulista. A reforma, concluída em 2014, esteve sob a responsabilidade do escritório Athié Wohnrath. A torre teve 80% de sua estrutura preexistente mantida por meio da conservação de lajes, vigas, pilares e elevadores. Já a fachada, totalmente reformulada, utilizou vidros de alta eficiência e brises de alumínio para atenuar a absorção de calor e o ofuscamento visual. Para adequar o edifício aos padrões de certificação LEED, o projeto ainda contou com a instalação de um sistema hidráulico para a redução em 30% no consumo de água.

Na Avenida Paulista, outro edifício que busca retrofit com certificação sustentável é o Paulista 2028. A reforma é viabilizada pela BNCORP - incorporadora especializada em empreendimentos comerciais -, cujo projeto inclui fachada com vidros de alto desempenho térmico, para minimizar o uso de ar-condicionado, além de dispositivos sanitários de baixo consumo para reduzir o uso da água em até 35%. “A adoção destas e outras medidas no Paulista 2028 devem gerar uma economia de aproximadamente 30% no custo de operação do edifício”, diz Nelson Mazzeo, gerente de marketing e incorporação da BNCORP. O plano prevê também a destinação do entulho e a reutilização de materiais.

Edifício Brazilian Financial Center (BFC): reforma deve ser concluída em 2016
Edifício Brazilian Financial Center (BFC): reforma deve ser concluída em 2016

Entrevistados
Escritórios Perkins + Will, Athié Wohnrath e BNCORP (via assessoria de imprensa)
Contatos
media@perkinswill.com
contato@awnet.com.br
relacionamento@benx.com.br 

 

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Norma-mãe do concreto é reconhecida internacionalmente

ISO (International Organization for Standardization) define que NBR 6118 pode ser usada em qualquer país para projetos de estruturas de concreto

Por: Altair Santos

Após a importante revisão de 2014, a ABNT NBR 6118 - Projeto de estruturas de concreto – Procedimento – foi novamente atestada pela ISO (International Organization for Standardization) como uma das normas técnicas que atendem exigências internacionais e, por isso, pode ser utilizada em qualquer local do mundo para projetos de estruturas de concreto. O reconhecimento ocorreu na reunião realizada em 28 de outubro de 2015, pelo ISO/TC71/SC4 (Performance Requirements for Structural Concrete), em Seul, na Coreia do Sul. A conquista, no entender de organismos que representam a construção civil nacional, vem reafirmar a capacidade da engenharia brasileira, bem como sua tradição na produção de concreto com qualidade. Para explicar o que a internacionalização da ABNT NBR 6118 representa, a engenheira civil Inês Battagin, superintendente do comitê ABNT/CB-18, relata, na entrevista a seguir, todos os passos dados por essa norma técnica para que ela se alinhasse às melhor do mundo. Confira:

Reconhecimento da ABNT NBR 6118 pela ISO é uma conquista da engenharia brasileira
Reconhecimento da ABNT NBR 6118 pela ISO é uma conquista da engenharia brasileira

O que representa para a construção civil brasileira, ter uma norma como a ABNT NBR 6118, reconhecida como norma internacional?
Representa a certeza de que a engenharia brasileira está entre as melhores do mundo e que o Brasil mantém sua tradição na construção em concreto. Esse reconhecimento, vindo no momento em que o país precisa de estímulo para manter seu crescimento em bases sólidas, reveste-se de grande importância, pois traz consigo a certeza de que qualidade, boas práticas e atendimento à normalização técnica são valores fundamentais.

Em boa parte dos países sul-americanos, as normas dos Estados Unidos prevalecem. É possível que a ABNT NBR 6118 venha a substituir as normas para estruturas de concreto nos países vizinhos a partir de agora?
Acho improvável que isso ocorra, pois cada país tem sua tradição em projetar e construir estruturas. Realizar mudanças nessa área é possível apenas a partir de um longo processo de aculturamento. A própria ISO, ao estabelecer os critérios de verificação das normas nacionais de projeto de estruturas de concreto, para seu registro como documento de validade internacional, reconheceu a dificuldade de alterar culturas locais. Entendo que essa iniciativa da ISO pode aproximar as normas dos países que fazem parte do grupo, na medida em que os especialistas envolvidos nesse trabalho estudam profundamente os documentos submetidos ao processo de aprovação e certamente evidenciam aspectos que podem ser melhorados nas normas de seus próprios países.

O reconhecimento da ISO aumenta também a responsabilidade de toda a cadeia envolvida na produção de concreto e projetos de estruturas no Brasil?
Acredito no incentivo gerado pelo reconhecimento da nossa norma pela ISO, que acaba criando um forte sentimento de compartilhamento, no seu mais genérico sentido. Assim, não se trata de uma responsabilidade imposta, mas sim assumida pelo orgulho do reconhecimento e pelo desejo de manter essa condição ou até de atingir novas metas. A engenharia brasileira sempre foi internacionalmente reconhecida no campo das construções em concreto e tem mostrado que mantém essa hegemonia ao longo do tempo. Precisamos, sim, desenvolver mecanismos para que esse conhecimento não fique restrito, mas seja disseminado em todo o meio técnico nacional, alcançando especialmente os novos profissionais e estudantes.

Como foi o processo de reconhecimento da ABNT NBR 6118 pela ISO? Houve muitas exigências? Demorou muito tempo?
Em todos os trabalhos de normalização internacional o Brasil é representado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que por meio de seus Comitês Brasileiros - no caso, o ABNT/CB-18 Cimento, Concreto e Agregados e a ABNT/CB-02 Construção Civil - indicam os especialistas do país para tomarem parte nas reuniões. No âmbito internacional, esse tema é tratado pela ISO/TC71/SC4 (Performance requirements for structural concrete), que é o subcomitê do TC71 (Concrete, reinforced concrete and pre-stressed concrete) que trabalha com as normas de projeto de estruturas de concreto. As bases internacionais para a avaliação das normas nacionais são estabelecidas na norma ISO 19338 Performance and assessment requirements for design standards on structural concrete.

Com a revisão da ABNT NBR 6118, em 2014, muitas das exigências internacionais já estavam atendidas, o que facilitou o processo. Porém, foi necessário evidenciar esse atendimento. Uma vez mais a ABNT NBR 6118 foi traduzida para o inglês e, para complementar as exigências da ISO, também foram traduzidos para esse idioma os resumos de normas nela referenciadas, como a ABNT NBR 12655, que estabelece os requisitos para preparo, controle e recebimento do concreto, a ABNT NBR 15200, que trata do projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio e a ABNT NBR 9062, de estruturas pré-moldadas de concreto, entre outras.

Complementando a documentação exigida, foi preparado um checklist (conforme a ISO 19338) que informa detalhadamente os itens ou seções da ABNT NBR 6118 que atendem a cada uma das exigências para que normas nacionais possam ser registradas como documentos internacionais pela ISO. A reunião plenária anual da ISO/TC71 e de seus subcomitês, ocasião em que são tomadas as decisões de aprovação do Comitê e se estabelece as deliberações de trabalho, foi realizada este ano (2015) no período de 27 a 29 de outubro, em Seul, na Coreia.
No entanto, para permitir a avaliação prévia da documentação, como exigido pela ISO 19338, todo esse material foi enviado à ISO com mais de um mês de antecedência com relação à reunião plenária. O conteúdo da nossa norma foi avaliado por três países integrantes do ISO/TC71/SC4, sendo aprovado para ser apresentado na reunião desse subcomitê no dia 28 de outubro, onde sua aprovação foi confirmada. Tramitaram simultaneamente as aprovações das normas americana (ACI 318-14) e coreana (KCI 2012). Tanto na reunião do subcomitê (SC4), como na reunião plenária do TC71, as três normas foram aprovadas e referendadas para serem submetidas à aprovação final de todos os países integrantes do grupo por votação direta (ballot eletrônico).

Portanto, ABNT NBR 6118 tem ainda que passar por esse último desafio para ser registrada de acordo com a ISO 19338, mas trata-se de processo formal, uma vez que sua aprovação foi unânime na reunião plenária realizada em Seul. O tempo investido na tradução da nossa norma e na elaboração da documentação necessária para ser apresentada à ISO chegou a cerca de dois anos, sendo que os trabalhos foram intensificados nos últimos meses.

Inês Battagin: normas técnicas são documentos dinâmicos que devem ser revisados com a frequência necessária
Inês Battagin: normas técnicas são documentos dinâmicos que devem ser revisados com a frequência necessária

Em 2008 a ABNT NBR 6118 foi reconhecida pela primeira vez. O que mudou daquela iniciativa para esta agora?
A ISO 19338, base para o registro de normas nacionais de projeto de estruturas de concreto como documentos de validade internacional foi publicada em primeira versão em 2003 e serviu ao registro da nossa norma em 2008. Com a revisão da ISO 19338, todas as normas já aprovadas pela ISO precisam ser reavaliadas, de forma a terem seu registro confirmado. Conforme já mencionado, as primeiras normas a atingirem essa meta foram a ABNT NBR 6118, o ACE 318 e a KCI2012. No âmbito internacional, a grande mudança de 2008 para os dias atuais consiste em exigências relativas à durabilidade e à vida útil das estruturas de concreto.

A ABNT NBR 6118, por sua vez, teve seu escopo ampliado na versão de 2014, passando a contemplar os concretos de alta resistência, até C90 (grupo II da ABNT NBR 8953), com as consequentes adequações de todos os critérios de cálculo (novas expressões para a avaliação do módulo de elasticidade do concreto e do valor da tensão de tração no concreto, por exemplo), além de aprimoramentos em itens como a verificação e o detalhamento de projeto de regiões especiais, possibilitando o uso de modelos biela-tirante, bem como novos critérios para a consideração de imperfeições globais e de retração e fluência, entre outros avanços.

  O que está previsto para a 6118 a partir de agora: ela deve entrar em novo processo de revisão? Caso sim, o que será revisto?
As normas técnicas são documentos dinâmicos que devem ser revisados com a frequência necessária a se manterem atualizados. A ABNT exige que as normas brasileiras sejam reavaliadas a cada cinco anos, devendo ser confirmadas, se estiverem adequadas ao uso; revisadas, se precisarem de atualização ou melhorias, ou canceladas, caso não sejam mais aplicáveis. O ideal, especialmente em casos como este, é que a comissão de estudo se mantenha ativa e realize pequenas modificações na norma com a frequência adequada à sua constante atualização, de forma que não sejam necessários processos exaustivos e extensos de revisão. Essa é a postura da comissão de estudo responsável pelos trabalhos no âmbito do projeto de estruturas de concreto, que contando com o apoio do CT 301 (Comitê Técnico IBRACON/ABECE de Projeto Estrutural) tem procurado realizar revisões periódicas e baseadas nas práticas recomendadas editadas a cada nova versão publicada dessa norma brasileira.

Em um eventual novo processo de revisão, ela volta a ser analisada pela ISO para que sua internacionalização seja novamente confirmada?
Caso a ABNT NBR 6118 seja revisada e se deseje que a versão mais nova seja reconhecida internacionalmente, esse processo será necessário. Caso contrário, se as modificações forem pequenas, e não houver interesse em realizar um novo processo de registro, ficará valendo a edição anterior como documento de validade internacional. Vale salientar que, em qualquer caso, se a norma ISO 19338 for revisada, obrigatoriamente a nossa norma de projeto estrutural deverá passar por novo processo de avaliação para ter seu registro confirmado.

Em relação às outras normas internacionais que balizam projetos de estruturas de concreto, o que a 6118 tem de especial?
Para o desenvolvimento das diversas revisões da ABNT NBR 6118 foram consultados documentos internacionais e normas de outros países, de forma que se verifica, em alguns requisitos ou critérios de projeto, certa semelhança com o que estabelece o Eurocode 2 (norma da Comunidade Europeia), em outros casos com o ACI 318 (norma americana), em algumas situações com o Model Code da fib (Federação Internacional do Beton) e alguns outros documentos. No entanto, no desenvolvimento da ABNT NBR 6118 sempre se considerou a experiência e o conhecimento do meio técnico nacional como fundamentais para o estabelecimento de requisitos que sejam relevantes para o país e que possam ser cumpridos.

Desde que a 6118 foi criada, ela mudou muito de lá para cá?
A primeira versão dessa norma brasileira foi a NB-1 de 1940 e seu título era “Cálculo e execução de obras de concreto armado”, tendo sido publicado na data de fundação da ABNT. Nos diversos processos de revisão foram feitas alterações em seu escopo, primeiramente transferindo para outra norma a parte relativa a preparo, controle e aceitação do concreto (hoje tratados na ABNT NBR 12655) e depois a parte relativa à execução da estrutura de concreto (atualmente na ABNT NBR 14931). A ampliação no campo do projeto estrutural previsto na ABNT NBR 6118 em 2003 permitiu que essa norma passasse a contemplar o escopo completo das aplicações em concreto, seja ele simples, armado ou protendido.

Qual foi a atualização mais significativa realizada na 6118, desde a sua criação?
Certamente, a revisão realizada em 2003 foi a mais expressiva, pois além da necessidade de atualização (a versão anterior era de 1978), a ABNT NBR 6118 passou a tratar exclusivamente do projeto estrutural e exigiu a revisão de outras normas de base, como a ABNT NBR 8681, de ações e segurança nas estruturas e a ABNT NBR 7187, de pontes de concreto, além do cancelamento da ABNT NBR 7197, que tratava especificamente do projeto de estruturas de concreto protendido, com a incorporação de seu escopo. A partir da revisão realizada em 2003 na ABNT NBR 6118 foi possível avaliar a possibilidade de registro da norma brasileira na ISO pela primeira vez, tendo sido necessário o desenvolvimento de duas normas que eram exigidas pela entidade internacional: a ABNT NBR 15200, de projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio, e a ABNT NBR 15421, de projeto de estruturas resistentes a sismos. Desde 1940 a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) participa do desenvolvimento e da atualização da ABNT NBR 6118, tendo atuado de forma técnica e proativa para o registro da nossa norma como documento de validade internacional, ao lado do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON) e da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (ABECE).

Entrevistada
Engenheira civil Inês Laranjeira da Silva Battagin, superintendente do ABNT/CB-18 - Cimento, Concreto e Agregados
Contatos
ines.consult@abcp.org.br
cb18@abcp.org.br

Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Para vender, construtoras atraem quem mora fora do país

Empresas miram brasileiros que vivem nos EUA, na Ásia e na Europa. Para esses compradores, alta do dólar fez imóveis ficarem até 60% mais baratos

Por: Altair Santos

Com o consumo interno retraído, o mercado imobiliário voltou-se para os imigrantes brasileiros que moram nos Estados Unidos, na Ásia e na Europa. O objetivo é atraí-los para que invistam em imóveis ou terrenos no país. Com a alta do dólar, casas, apartamentos e até escritórios - para esse tipo de comprador - estão, em média, quase 60% mais baratos.

Elton Oliveira: bons negócios podem ser fechados lá fora a US$ 60 mil
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Especialistas dizem que o Brasil vive uma situação semelhante ao que aconteceu em Miami-EUA, após a crise de 2008. “Voltamos a ser o lugar certo para investir”, diz Rogério Santos, diretor da RealtON. “O que muda em relação ao que ocorreu em Miami e o que acontece no mercado imobiliário brasileiro atualmente é que a nossa política de crédito é diferente da que existe nos Estados Unidos. Aqui não se pode fazer mais de um financiamento por imóvel”, completa Elton Oliveira, diretor de operações internacionais da RealtON.

Após a crise internacional, muitos investidores brasileiros compraram imóveis nos Estados Unidos, principalmente em Miami. Agora, o caminho inverso está aberto. Santa Catarina tem sido um dos estados mais procurados para esse tipo de investimento, com destaque para as cidades de Balneário Camboriú e Florianópolis. Terrenos na capital catarinense, que custavam o equivalente a US$ 160 mil um ano atrás, agora valem US$ 95 mil.

Para se ter ideia, usando US$ 100 mil como base de referência, em 2011 eles valiam R$ 165 mil. Atualmente, os mesmos US$ 100 mil representam R$ 382.530,00, ou seja, valorização de 56,87%. “Para o brasileiro que tem seus rendimentos em dólar, é como se tudo estivesse em promoção no Brasil”, afirma Rogério Santos. “Esse é um movimento de mercado que está mobilizando somente os brasileiros que residem no exterior, já que o investidor estrangeiro tem receio de nossa economia e da instabilidade política. O foco está nos brasileiros”, reforça Elton Oliveira.

Rogério Santos: para quem ganha em dólar, é como se tudo estivesse em promoção no Brasil
Rogério Santos: para quem ganha em dólar, é como se tudo estivesse em promoção no Brasil

Direto com a construtora
A ponto de construtoras brasileiras estarem anunciando em canais de televisão nos Estados Unidos, como é o caso da MRV, da Tecnisa e da divisão imobiliária da Odebrecht. Para o público brasileiro que vive em cidades norte-americanas, como Nova York e Miami, são ofertados apartamentos de até US$ 60 mil. “Existem investidores que procuram imóveis bem localizados e preços mais baixos, mas há também aqueles que procuram imóveis mais caros para usarem de base no Brasil”, revela Elton Oliveira.

Para evitar a burocracia, os brasileiros que moram no exterior buscam comprar imóveis financiados diretamente pela construtora. O procedimento padrão se dá por meio de procuração, ou seja, quem está no exterior nomeia um representante seu no Brasil (parente ou amigo) para efetuar a compra. Há modelos deste tipo de procuração nos consulados brasileiros no exterior, o qual permite que o imóvel fique em nome da pessoa compradora que está no exterior. Pode-se também enviar o contrato diretamente para o comprador no exterior. Porém, esse é um processo mais demorado e permitido somente por algumas construtoras. Existe também a prática de colocar o imóvel em nome de algum parente que esteja no Brasil e, a qualquer momento, transferi-lo posteriormente para o nome de quem o comprou.

Entrevistados
Rogério Santos, CEO da RealtON, e Elton Oliveira, diretor de operações internacionais da RealtON
Contatos
contato@realton.com.br
www.realton.com.br

Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Não resista à tecnologia digital (Podcast)

Especialista em gestão estratégica e marketing digital, Edelcio Pedro Jacomassi avalia que sobrevivência do mercado imobiliário está na internet

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Entrevistado
Edelcio Pedro Jacomassi, economista, mestre e professor em gestão estratégica. CEO da DMLINE – Digital Marketing.

Contato
jacomassi@jacomassi.com

Crédito: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

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