Déficit no saneamento básico fomenta epidemias
Brasil tem cerca de 40 milhões de habitantes que não possuem acesso à água tratada e nem a banheiros com encanamento e fossa séptica
Por: Altair Santos
Dados do Ministério das Cidades, através do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), revelam que mais da metade da população brasileira (51,4%) ainda não possui acesso às redes de coleta de esgotos e que somente 39% dos resíduos são tratados. Há ainda 35 milhões de brasileiros que não recebem água tratada e mais de 5 milhões que não possuem banheiros em suas casas. Além disso, 37% da água potável se perde em vazamentos, “gatos” ou problemas de medição. O déficit em saneamento básico fomenta também as epidemias. Entre elas, as que afligem o Brasil atualmente e são causadas pelo mosquito aedes aegypti, como dengue, febre chikungunya e vírus Zika.
O déficit de saneamento básico é tão gritante no Brasil que a campanha da fraternidade de 2016 está focada no tema. A opção da CNBB (Confederação nacional dos Bispos do Brasil) se deu pelo fato de o saneamento ser um direito humano e uma infraestrutura essencial ao meio ambiente e à saúde das pessoas, em especial aos mais vulneráveis. Além disso, essa é uma problemática com pouca visibilidade no país, apesar da correlação com doenças gerar dados alarmantes. Segundo o Instituto Trata Brasil, sete crianças morrem todo dia no país - vítimas de diarréia - e outras 700 mil pessoas são internadas a cada ano nos hospitais públicos devido à falta de tratamento de esgoto. Nas zonas rurais, a coleta atinge apenas 4% da população.
Entre 2011 e 2015, o investimento em saneamento básico foi de 0,22% do PIB, quando deveria ser, no mínimo, de 0,63%. A análise que especialistas fazem é a de que em cada real investido em saneamento se economizam quatro reais em gastos com saúde. Outro benefício é que, se houvesse investimento para a universalização do saneamento, isso geraria 550 mil novos empregos por ano, principalmente nos setores ligados à construção civil, como empreiteiras especializadas nesse tipo de obra e fabricantes de tubos de concreto. Esse segmento, especificamente, experimentou seu auge entre 2010 e 2012, quando o país chegou a ter cinco mil fábricas em funcionamento - de acordo com dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tubos de Concreto (ABTC).
Internações em vez de saneamento
A atual redução no volume de produção de tubos de concreto não é por falta de demanda, mas por ausência de uma política realmente interessada em expandir o saneamento básico no país. A meta do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) de universalizar os serviços de coleta e tratamento de esgoto, além de abastecimento de água, deveria ser cumprida em 2033, mas vai atrasar 21 anos. É o que aponta estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), denominado Burocracia e Entraves no Setor de Saneamento. No ritmo atual, a população só será plenamente atendida com água encanada em 2043 e com acesso à rede de esgoto em 2054. Para universalizar os serviços em 2033, seriam necessários R$ 15,2 bilhões por ano. Hoje, metade disso é investido (R$ 7,6 bilhões).
Para o gerente de infraestrutura da CNI, Wagner Cardoso, que coordenou o estudo Burocracia e Entraves no Setor de Saneamento, há um “círculo vicioso” que perpetua o déficit de saneamento básico no país. “A gente tem burocracia, tem falta de recursos, tem perdas, tem roubo de água, tem um planejamento muito ruim e tem baixa eficiência das empresas de saneamento”, listou. Diante desse contexto, Wagner Cardoso avalia que o Brasil fez a opção errada de não ter saneamento básico universalizado, trocando-o por internações hospitalares. Os casos de dengue, febre chikungunya e vírus Zika estão aí para comprovar a tese.
Confira aqui o estudo Burocracia e Entraves no Setor de Saneamento.
Entrevistado
Ministério das Cidades, Instituto Trata Brasil, Associação Brasileira dos Fabricantes de Tubos de Concreto (ABTC) e Confederação Nacional da Indústria (CNI) (via assessorias de imprensa)
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Empresa precisa manter agenda positiva na crise
Consultor Marcelo Ortega aponta medidas que ajudam a fazer uma leitura diferente do momento atual que a economia do Brasil atravessa
Por: Altair Santos
A palavra crise se tornou um mantra no Brasil. Seus efeitos já estão além do impacto econômico. Começam a interferir diretamente no desempenho de profissionais – principalmente os que continuam empregados. Para evitar um clima que afete a produtividade, a empresa precisa se blindar e criar uma agenda positiva, alerta o consultor Marcelo Ortega.
Segundo o especialista, nestas horas existe uma espécie de “Dez mandamentos positivos” que devem nortear as companhias. O foco deve ser na melhoria de métodos de produção, estratégias inovadoras de venda e visão otimista do futuro. Além disso, Ortega recomenda a busca de um ambiente de trabalho que procure retirar a pressão, trocando-a pela eficácia. Confira a entrevista:
Em seu artigo, “Dez maneiras de blindar sua empresa contra a crise”, o senhor prega que as empresas tenham uma agenda positiva na crise. Das dez maneiras, qual seria a primeira medida a ser tomada?
A melhor maneira de enfrentar crises é investir nela. Investir no treinamento de sua equipe, na consolidação de processos de vendas mais eficazes, fazendo com que seu negócio seja percebido pelos diferenciais de atendimento, consultoria ao cliente, esforço extra no pós-venda, enfim, fazer mais com menos. Empresas inteligentes retêm seus talentos nessa hora, e isso se dá com desafios e responsabilidades. Treinar é apostar na pessoa e dar a ela competências que permitam fazer até mais do que aquilo que se é pago para fazer. Sem dúvida, fico com a frase: é melhor investir no conhecimento, do que pagar o preço da ignorância.
Existem setores mais vulneráveis ao impacto psicológico da crise do que outros?
Todos os setores são percebidos ou se posicionam como commodities, pois não têm valor percebido, valor agregado. Portanto, só podem ser diferenciados por preço e prazo. O varejo sofre muito, em especial setores de alimentação. Restaurantes fast foods acusam queda de mais de 40% no faturamento nos últimos 12 meses. Foi o que me revelou uma importante rede de franquias no segmento. Vemos o mercado imobiliário também em queda, pelo simples fato de que as pessoas tiveram seu poder de compra afetado, com alta de juros e com redução das vantagens no financiamento imobiliário. O corretor de hoje tem que ser muito mais criativo que em outros tempos. Em geral, tirando agronegócio e alguns setores ligados ao mercado externo, comércio exterior, os demais foram prejudicados com a desconfiança do mercado, a queda no consumo e as perspectivas terríveis que estão traçando os especialistas em macroeconomia. O caminho é criar novos produtos, adequar preços, estratégias inovadoras que mesclem produtos e serviços no mix de solução, para criar o sentimento de urgência, de vantagem em comprar agora. Irá se diferenciar quem resistir ao turbulento voo que iremos alçar neste ano. Sem criatividade, inspiração e transpiração, não há blindagem.
A construção civil é um setor que tem sido bem impactado pelo cenário econômico, sobretudo os engenheiros. Esses profissionais precisam de uma injeção de ânimo maior?
Não são os engenheiros que precisam de mais motivação. São todos que participam da cadeia produtiva no setor da construção civil. Devemos entender que a crise é uma espécie de filtro. Iremos agora ver quem é quem e, em qualquer setor afetado, ver aqueles que estão dispostos a pagar o preço do mercado desaquecido, que inspira mudanças. O conceito agora é fazer vendas. Todos somos vendedores, e se pensarmos assim, engenheiros, arquitetos, serralheiros, vidraceiros, mestres de obras, enfim, todos, precisam se inspirar na onda da mudança de hábito, da remodelagem de seus modus operandi. Não dá pra ficar atrás da mesa. É preciso redesenhar a agenda, criar mecanismos de encantamento do cliente, fazendo pesquisas de mercado, criando empreendimentos que satisfaçam muito mais necessidades de seus consumidores. Canso de ver empresas que pensam de forma exata, pouco humana e, assim, não visam oferecer soluções criativas, desejáveis, customizáveis a necessidades e momento do mercado.
As iniciativas de mudar o clima na empresa devem partir de quem, a princípio?
Sem dúvida, depende da liderança. Líderes criam comportamentos e o clima favorável à motivação. Tem chefe que não vê o quanto mina a energia de sua equipe, praticando apenas a arte da pressão, de dar ordens e cobrar. Ser cognitivo, atuar junto com seus liderados e promover eventos de relacionamento, de aprendizagem, de reciclagem ajudam muito nessa hora.
As dez maneiras de blindar a empresa mudam conceitualmente de uma startup, por exemplo, para uma fábrica?
Uma startup ou uma grande indústria têm diferenças, é claro. No entanto, as dez maneiras de blindar-se contra a crise, não se relaciona ao tamanho, porte ou ramo de atividade. É um olhar profundo para as pessoas, para o desenvolvimento de estratégias, táticas e operações que podem reduzir gastos, eliminar retrabalhos, aumentar a eficiência e prover soluções para a empresa ter mais lucro. Máquinas não sentem a crise, as pessoas sim. O emocional é muito importante na superação dos fatos negativos, que são muitos. Ocupar o espaço de seu concorrente dependerá de fazer mais que ele, com mais qualidade. No entanto, as empresas estão ficando muito parecidas do ponto de vista técnico. O lado comercial, do relacionamento com o bem mais valioso de qualquer negócio - ou seja, o cliente -, fica um pouco esquecido na crise. O primeiro a sentir cortes é o RH; segundo, o Marketing. Sem pessoas treinadas, sem estratégias de conquista de clientes, sem reter os principais contratos ou carteira de clientes estratégica, sua empresa ou negócio fracassará.
A crise tende a gerar melhores procedimentos nas empresas? Quais, por exemplo?
Há três exemplos que quero citar. Nesta empresa que mencionei na entrevista, ligada à área de alimentação (rede de franquias fast food), eles inovaram realizando parcerias com cinemas dos principais shoppings e fazendo o cliente ter vantagens na compra casada do ingresso e de seus pratos mais acessíveis, criados para aumentar a demanda em crise. Perceberam que o cliente, mesmo em tempos difíceis, continua buscando entretenimento e, portanto, indo ao cinema, pelo menos. No setor de concreteiras, em uma grande empresa que atendi com palestras em fevereiro de 2016, a inovação se deu pela intensa carga de treinamento que fizeram. Aumentaram a convenção de vendas em um dia, para explorar não só a parte técnica de produtos, mas detalhamento de metas e números obtidos no ano anterior. Começaram o ano investindo mais tempo na reciclagem de equipe, para que não estejam reféns de um mercado tão “comoditizado”, em que o valor agregado é perto de zero. A solução foi vender tecnologia do concreto, com a criação de laboratórios e centros de suporte específicos para cada tipo de obra, e do material a ser empregado. A equipe de vendas, em especial, conheceu os diferenciais a fundo e simulou situações de negociação em que a concorrência era desleal, e mesmo assim, conseguiu contra-argumentar e convencer o cliente. Clientes especiais e fornecedores participaram dos eventos. Isso aumentou o nível de relacionamento deles com o mercado em que atuam. Por fim, quero citar o Uber. Esse é o grande case. Uma empresa que conheço de perto há muitos anos, e que chega no Brasil com força total, gerando uma polêmica gigantesca pela concorrência que promove com taxistas. O Uber é uma opção, uma evolução, uma contradição à crise. Outro dia fui à praia de Uber e recebi um kit contendo protetor solar, água de coco na caixinha e outros apetrechos para praia. Carros de qualidade, motoristas educados e um conforto que faz você pagar até um pouco mais, porque recebe muito mais. Surpreender o cliente no final com esse kit foi sensacional.
Produtividade, competitividade e transparência podem ser elementos novos a serem acrescidos nas empresas?
São três valores fundamentais. Produtividade depende de disciplina, de dizer não a algumas coisas. Falta foco a muita gente, por isso tanta improdutividade. Competição e cooperação são duas palavrinhas que deviam andar juntas, pois advêm do latim: competir significa partir junto (dar a largada) e cooperar significa querer chegar junto. O mundo anda muito competitivo e pouco cooperativo. O grande competidor treina e ajuda seus principais adversários, aprende com eles, mira os melhores. Para estar entre os melhores é preciso andar com eles, trocar algo, buscar cooperação como arma de competição, de melhoria contínua. E transparência é uma questão ética, outro ponto escasso no meio corporativo. As pessoas optam pela ilusão de esconder fatos, defeitos, limitações, informações relevantes ao bom desempenho. O país vive uma crise de ética por isso, pelo jeitinho brasileiro, de empurrar para debaixo do tapete aquilo que não lhe é conveniente. É um cessar imediato desta atitude que permitirá nas organizações muito mais aderência e preferência de seus clientes.
Empresas que, por conta da crise, já demitiram bastante, e ainda podem demitir mais, têm ambiente para gerar uma agenda positiva?
É melhor um fim trágico que uma tragédia sem fim. Tem outra frase, esta de Dale Carnegie, que diz: coopere com o inevitável. Simples assim. Eu não entendo que uma pessoa possa ter uma agenda negativa se está engajada com metas e com os objetivos da empresa. Engajamento não se compra, é algo pessoal. A maioria das demissões ocorre por incompetência dos demitidos, e claro, motivos de força maior. A crise é um filtro, como eu disse. É boa para ver quem está disposto a mudar, a pensar de forma diferente, a se engajar com os novos desafios e metas maiores. Fatalmente alguns serão injustiçados, mas faz parte. A disrupção é um conceito interessante. Quando vivemos o caos, temos que ser capazes de transcender, de inovar, de superar. Aqueles que permanecem na empresa devem se sentir prestigiados, convidados ao sucesso, a fazer mais do que aquilo que são pagos para fazer. Os que se vão, paciência e persistência. Cooperem com o inevitável e enxerguem isso como uma oportunidade de renovar suas competências, e partir para novos desafios. Entropia é um conceito a ser aprendido por todos nós. Significa entrar para sair do caos. Quem aprende com a crise, melhora, e muito. Isso é muito positivo.
Entrevistado
Marcelo Ortega é especialista no desenvolvimento de técnicas e atitudes que determinam crescimento, lucratividade e aumento de produtividade. É autor dos livros "Sucesso em Vendas" e "Inteligência em Vendas".
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Rodoanel ajuda a resgatar botânica da Mata Atlântica
BID considera obra como modelo em preservação, capaz de comprovar ser possível conciliar empreendimentos de infraestrutura com meio ambiente
Por: Altair Santos
Ao longo da construção do Rodoanel, que começou em 1998, a DERSA - Desenvolvimento Rodoviário S/A -, em parceria com o Instituto de Botânica de São Paulo, aproveitou o avanço das obras para catalogar todas as espécies de plantas vinculadas à Mata Atlântica. Passados 18 anos, o que se tem é um estudo quase completo das áreas verdes da região.
Além disso, houve a preservação em laboratório de espécies que eram consideradas praticamente extintas. Agora, o acervo técnico e científico sobre a rica botânica ao longo do percurso do Rodoanel será resgatada e devolvida à Mata Atlântica. Por causa deste trabalho, a obra é considerada modelo em preservação e comprova ser possível conciliar empreendimentos de infraestrutura com meio ambiente.
Chamada de Programa de Conservação de Flora, a parceria entre DERSA e Instituto de Botânica de São Paulo já resgatou mais de 22 mil plantas, além de realizar um levantamento pioneiro nas áreas de influência direta e indireta do empreendimento. Houve a classificação de espécies, com orientação do resgate, realocação e monitoramento da flora com fins de preservação.
Também teve como objetivo a restauração florestal por meio da compensação ambiental. Trata-se de um abrangente conjunto de conhecimentos, tais como inventários florestais e complexos modelos de repovoamento vegetal. Além disso, estabelece parâmetros de avaliação e monitoramento de reflorestamentos induzidos, incluindo coleta, guarda e conservação de sementes, entre outras especialidades.
Os resultados já representam avanços significativos em termos de reflorestamento: segundo o Instituto de Botânica, recriar as florestas que se perderam e que somam cerca de 1,3 milhão de hectares em território paulista levaria apenas 63 anos, e não mais dois séculos, como se estimava há 15 anos.
Elogios do BID
O estudo rendeu elogios do gerente do setor de infraestrutura e meio ambiente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Pablo Pereira dos Santos. “O Rodoanel combina elementos de desenvolvimento de infraestrutura sustentável, enfatizados pelo BID, com planejamento sócio-ambiental. É uma combinação que permite a gestão do crescimento econômico, com estabilidade social e preservação ambiental”, ressalta. Para o Programa de Conservação de Flora, o BID autorizou financiamento de 1,148 milhão de dólares (R$ 4,36 milhões).
Com seus 176,5 quilômetros, o Rodoanel - cujo objetivo é desviar o tráfego pesado da cidade de São Paulo - é a maior obra rodoviária urbana da América Latina e do Caribe. O empreendimento encontra-se, atualmente, em sua última etapa: a construção do trecho norte. Iniciada em 2013, será concluída em 2017. “Projetos de infraestrutura carregam impactos inevitáveis ao meio ambiente, mas o Rodoanel conseguiu mitigar ao máximo os problemas. É, sem dúvida, um exemplo de obra”, exalta Pablo Pereira dos Santos.
Além dos cuidados com a flora, o avanço das obras do Rodoanel exigiu o resgate de quase dois mil animais silvestres, realocando-os em ambientes semelhantes aos que viviam. A preocupação com o habitat exigiu também que o empreendimento inovasse em sistemas de drenagem, controle de erosão e uso da terra. Para isso, o BID participou com 11,6 milhões de dólares (R$ 44,08 milhões) para o programa de compensação ambiental às áreas protegidas de Mata Atlântica.
Entrevistados
- DERSA - Desenvolvimento Rodoviário S/A (via assessoria de imprensa)
- Pablo Pereira dos Santos, gerente do setor de infraestrutura e meio ambiente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)
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Pesquisa relaciona prédio verde à saúde e ao bem-estar
Estudo interliga construção da edificação com o mobiliário utilizado pelas pessoas que a frequentam, mudando conceitos de obra sustentável
Por: Altair Santos
Vinte anos depois de o conceito de prédio verde ser colocado em prática, pesquisa revela que as edificações que tiveram manutenção adequada realmente conseguiram influenciar na qualidade de vida de seus usuários. Coordenado pelo Centro de Harvard para a Saúde e Ambiente Global, da Universidade de Harvard, o estudo selecionou prédios verdes erguidos na Europa, e com idade de construção variando entre 10 anos e 20 anos. Entre as constatações, a pesquisa detectou que a qualidade dos empreendimentos e a conservação de um edifício podem afetar, por exemplo, a cognição de seus frequentadores.
As principais funções cognitivas estão relacionadas com percepção, atenção, memória, linguagem e funções executivas (planejamento, memória, atenção, inibição e autocontrole). “Para sete das nove funções cognitivas testadas, os escores médios diminuíram de acordo com o aumento de níveis de CO2 nos ambientes internos", diz trecho do estudo da Universidade de Harvard. O levantamento demonstrou que a exposição a poluentes domésticos comuns, tais como dióxido de carbono e de compostos orgânicos voláteis (COV), como os encontrados em tintas e alguns tipos de colas para carpetes, são suficientes para influenciar no desempenho cognitivo.
A pesquisa também fez a relação entre a construção do prédio verde e o mobiliário utilizado pelas pessoas que frequentam a construção. Dependendo dos materiais, eles podem anular os efeitos positivos dos conceitos agregados à obra. “Se um escritório tiver um sofá ou uma cadeira tratada com retardadores de chama, eles podem anular a qualidade da edificação. Trata-se de produtos químicos que estão ligados a problemas de perda de memória ou de fertilidade. O mesmo ocorre com tapetes que podem emitir compostos orgânicos voláteis, o que provoca irritação na garganta ou dor de cabeça”, revela o estudo.
Além do prédio verde
A tese desenvolvida no Centro de Harvard para a Saúde e Ambiente Global mostra que as substâncias químicas desprendidas pelo mobiliário, e que podem impactar na saúde das pessoas, ainda são pouco conhecidos, inclusive pelos fabricantes. Ao mesmo tempo, os pesquisadores descobriram que, em média, ambientes com melhor ventilação fazem dobrar o desempenho dos seus participantes, especialmente em áreas críticas, repletas de computadores. “As empresas que desejam se diferenciar como empregadores devem se concentrar em edifícios mais saudáveis para seus empregados”, alerta o estudo.
Trabalhos como o de Harvard estão prestes a levar o conceito de prédio verde a dar um passo à frente. O estudo se alia a outras pesquisas, como as desenvolvidas pelo International Well Building Institute, com sede nos Estados Unidos, e que criou o primeiro protocolo a se concentrar especificamente sobre a saúde na construção civil. Nele, melhorias tecnológicas são medidas de acordo com o desempenho de sete categorias - ar, água, alimentação, luz, aptidão, conforto e mente. Criou-se, então, o selo Well, que começa a ser agregado pelo Green Building Council, organismo que emite a certificação LEED.
Entrevistados
Centro de Harvard para a Saúde e Ambiente Global, da Universidade de Harvard (via assessoria de imprensa)
International Well Building Institute (via assessoria de imprensa)
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Patologias ameaçam transposição do São Francisco
Antes mesmo de ficar pronta, obra apresenta trincas em suas paredes. Para especialista, empreendimento reúne uma série de equívocos
Por: Altair Santos
No começo de fevereiro de 2016, a estrutura de concreto do aqueduto do Mari - o terceiro do eixo norte da transposição do rio São Francisco -, entre os reservatórios do Tucutu e de Terra Nova, na região de Cabrobó-PE, não resistiu à força da água, rompeu e causou vazamento. O colapso lança dúvidas sobre a qualidade da obra, como questiona o engenheiro civil Marcio de Almeida Pernambuco, coordenador de valorização profissional do CREA-SP. “Como engenheiro, digo que é um projeto muito questionável, que não atendeu vários fatores técnicos”, diz.
Autor de um artigo que questiona a responsabilidade dos profissionais da engenharia que deixaram a obra entrar em execução, Marcio Pernambuco entende que o projeto da transposição do rio São Francisco “ofendeu a Lei 8.666 (Lei das Licitações)”. “Não houve aprofundamento técnico da obra. Faltaram estudos e consolidação de projetos básicos e executivos”, completa. Na condição de membro do CREA-SP, e de acordo com a função que ocupa no conselho, o engenheiro ainda faz uma advertência sobre os profissionais que atuaram na obra: “Acho que os engenheiros que foram contratados para elaborar o projeto deveriam responder judicialmente e em seus respectivos conselhos por falta de ética”.
O trecho que rompeu da transposição do São Francisco está a cargo do consórcio formado pelas empresas Carioca Engenharia, Serveng Civilsan e S.A. Paulista – terceirizadas da Mendes Júnior. Questionado desde o começo, em 2007, o empreendimento com 477 quilômetros de extensão já está entre as obras mais polêmicas do país. Com custo inicial de R$ 4,5 bilhões, o valor já ultrapassa os R$ 8 bilhões. A primeira previsão era de que a conclusão ocorresse em 2012. Agora, a previsão mais otimista é que a execução seja finalizada no segundo semestre de 2017. “Obras sem projetos encarecem sem limites”, ressalta Marcio Pernambuco.
Causas e efeitos
A ruptura do concreto que reveste os trechos da transposição pode ter três causas: excesso de fissuras por má qualidade do material, juntas de dilatação mal concebidas e questões geológicas. Segundo o ministério da integração nacional, que é quem faz o repasse de recursos para a obra, um estudo técnico vai avaliar a causa do rompimento do canal. Na primeira semana de março ainda não havia saído nenhum parecer. “Isso é que dá o fator político atrapalhar o técnico, que requer estudos e maturação para executar uma obra”, entende o coordenador do CREA-SP.
A transposição do rio São Francisco foi concebida para que a água percorra o canal por gravidade em boa parte do trecho. Com isso, atenderá 390 municípios dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Mas Marcio Pernambuco não está convicto disso. Para ele, em alguns trechos a evaporação da água pode ser mais intensa que o volume que irá se deslocar por gravidade. “O que eu entendo é que outras alternativas deveriam ter sido estudadas para tornar a obra realmente viável”, destaca.
Leia aqui o artigo do engenheiro Marcio de Almeida Pernambuco.
Entrevistado
Engenheiro civil Marcio de Almeida Pernambuco, coordenador de valorização profissional do CREA-SP
Contato: engpernambuco@gmail.com
Créditos Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Varejo exclui aventureiros (Podcast)
Comércio de material de construção exige empreendedores cada vez mais especializados no segmento, alerta Natal Destro
Por: Altair Santos
Entrevistado
Natal Destro, presidente da ACOMAC-SP (Associação dos Comerciantes de Material de Construção de São Paulo). É graduado em administração de empresas, palestrante e professor de gestão comercial e de vendas e diretor e fundador da Universidade Corporativa Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção).
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presidente@acomacsp.com.br
Crédito Foto: Divulgação/ACOMAC-SP
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Clique no player abaixo e ouça a entrevista na íntegra.
Metrô de Salvador passa longe da gestão de obra
Trecho de 12 quilômetros da linha 1 levou 16 anos para ficar pronto. Proporcionalmente ao percurso, execução foi a mais demorada do país
Por: Altair Santos
Principal obra de mobilidade urbana da capital baiana, o metrô de Salvador não pode ser considerado um modelo de gestão de obra. Para um trecho de 12 quilômetros, o empreendimento levou 16 anos para ficar pronto. Proporcionalmente ao percurso, a execução foi a mais demorada do país. Além de extrapolar o cronograma, a construção também estourou o orçamento e teve complicações com o projeto.
Um dos equívocos da obra fez com que o CREA da Bahia abrisse uma investigação. Erros no estudo do subsolo levaram o traçado a se confrontar com uma rede de esgoto ao longo de quatro quilômetros. Isso obrigou a correções que encareceram o empreendimento e fizeram as escavações terem de ser aprofundadas em 12 metros.
Além dos empecilhos técnicos, a obra da linha 1 enfrentou também problemas na licitação. Tribunal de Contas da União e Ministério Público Federal comprovaram que houve uma concorrência viciada entre grandes empreiteiras - atualmente boa parte é investigada na Operação Lava Jato -, o que obrigou a abertura de um novo processo licitatório.
Entre 1999 - quando as obras começaram - e 2013, a linha 1 do metrô de Salvador avançou apenas seis quilômetros. O empreendimento chegou a ficar totalmente paralisado de 2009 a 2012. Foi em 2013, quando o governo do estado da Bahia encampou a construção - até então capitaneada pela prefeitura de Salvador - é que o canteiro de obras foi reativado.
O grupo CCR assumiu o empreendimento e reduziu o projeto inicial da linha 1, que previa 10 estações, para 8 estações. A execução terminou em dezembro de 2015, com boa parte dos recursos bancada pelo governo federal, que incluiu o metrô de Salvador em uma das primeiras fases do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Agora, a capital baiana aguarda a conclusão da linha 2, que mesmo com o cronograma atrasado anda a uma velocidade maior que a linha 1. O novo trecho era para ter 30 quilômetros, mas será inaugurada com 20,7 quilômetros. A prefeitura de Salvador, que voltou a participar do empreendimento, promete entregá-lo até 2018. Somadas as linhas 1 e 2, o custo da obra é de R$ 3,6 bilhões.
Uma característica da linha 2 é que 90% dela é construída na superfície e com elementos pré-moldados. O trecho escavado se dá apenas na junção com a linha 1. Isso permite que a obra ande mais rápido. O modelo de concessão também acelera o ritmo, já que ele conta com a participação da iniciativa privada, através de um contrato PPP (Parceria Público-Privada).
Entrevistado
CCR Metrô Bahia (via assessoria de imprensa)
Contato: faleconosco.metrobahia@grupoccr.com.br
Créditos Fotos: Manu Dias/Pedro Moraes/GOVBA
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Ritmo das mudanças no mercado exige RH Visionário
Estratégia permite às empresas conduzir práticas inovadoras, que antecipem tendências e possam prepará-las para diferentes cenários
Por: Altair Santos
O RH Estratégico, que se alinha aos objetivos da corporação, já não consegue acompanhar a velocidade das mudanças nas relações entre corporações e colaboradores. Surge, então, o RH Visionário, mais receptivo às alterações de hábitos das novas gerações, aos avanços tecnológicos e às variações comportamentais. Esse novo conceito não ignora, por exemplo, o peso que as redes sociais passaram a ter nos negócios e o quanto elas conseguem influenciar no sucesso ou não de um negócio. Ter o RH Visionário - entendem os especialistas - é uma questão estratégica para as empresas. Através dele, é possível conduzir práticas inovadoras, que antecipem tendências e estejam preparados para diferentes cenários. É o que a consultoria de treinamento corporativo, Graziela Moreno, explica na entrevista a seguir. Confira:
Quais conceitos norteiam o RH Visionário?
As megatendências mundiais norteiam o RH Visionário e surgem como importantes indicadores para os profissionais da área, já que mostram que é necessário que desenvolvam competências para que tenham uma visão macro do mercado e da organização. Os profissionais de RH estão sendo mais exigidos e os CEOs têm esperado cada vez mais dos CRHOs. Exemplo disso é a pesquisa global feita pela consultoria Deloitte que mostra que só 5% dos CEOs consideram excelente o desempenho do líder de gestão de pessoas de suas organizações. O resultado disso é a alta rotatividade desses profissionais que, nos Estados Unidos, chega a 40% entre as 100 maiores corporações, segundo a lista anual da revista Fortune. E pesquisas dão conta de que 4 em cada 10 vagas desses profissionais são preenchidas por pessoas de fora da área de RH. Isso confirma que a expectativa em relação ao papel do RH hoje é muito diferente do que foi há alguns anos. A necessidade hoje é que eles conduzam a empresa a práticas inovadoras, que antecipem tendências e estejam preparados para diferentes cenários. São profissionais criativos, corajosos, flexíveis a pessoas e ambientes, que assumem riscos e tomam decisões. O RH Visionário é isso: mostrar que as megatendências globais precisam estar no dia a dia, na prática dos profissionais de recursos humanos, para que eles possam apoiar a empresa de maneira relevante, que extrapole o RH Estratégico.
Onde surgiu essa versão moderna de RH?
A visão moderna de RH não surgiu, simplesmente. Ela gritou! Vendo como os RHs ainda tropeçam na tentativa de sair do operacional e se tornarem mais relevantes para suas organizações, eu comecei a me questionar sobre quais eram suas maiores dificuldades. E, a partir de um estudo mais aprofundado sobre as megatendências globais, percebi que a discussão era muito mais profunda. Não se tratava apenas de penar para virar um RH Estratégico, reter talentos, implantar processos de avaliação de desempenho ou reformular as políticas de recompensa. Para mim, tudo isso só faria sentido se os RHs parassem de olhar para seus mundos particulares e para modelos encaixotados e olhassem para o futuro, para as tendências.
Qual o perfil que a empresa deve ter para que ponha em prática o RH Visionário?
A empresa deve estar aberta às inovações, uma vez que criatividade é um fator importante para que o RH possa ser eficaz. Afinal, é preciso jogo de cintura para lidar com pessoas de diferentes gerações, culturas, cenários econômicos e políticos adversos. A empresa como um todo deve abraçar a ideia de que, principalmente em tempos de crise como a que vivemos, é preciso pensar fora da caixa, é preciso inovar e criar soluções alternativas para lidar com as pedras no caminho. E é exatamente isso que o RH Visionário propõe.
O RH Visionário é uma forma de as empresas conseguirem se adequar à geração Y?
A questão geracional é apenas um viés do RH Visionário. Assim como é necessário estarem atentos às questões de diversidade cultural, política, econômica, individualismo e envelhecimento da população, pois tudo isso vai impactar nas estratégias e resultados das organizações. É preciso que os RHs interpretem as diferenças geracionais. Não é uma questão de adequação à geração Y especificamente, mas sim de um olhar atento à diversidade de gerações presentes nas empresas. O profissional de RH tem que ter jogo de cintura e não apenas respeitar, mas, de fato, compreender e aceitar as diferenças e, com isso, enxergar as limitações de cada funcionário. Entendendo isso, e organizando ações e políticas internas que se adequem a esta realidade, as empresas poderão ter maiores e melhores resultados de produtividade, clima organizacional e retenção de talentos.
Por outro lado, em breve a geração Z começa a chegar ao mercado de trabalho. Quando isso ocorrer, que tipo de RH terá de surgir?
O papel do RH é exatamente saber como lidar com essa geração do “futuro”. Com a geração Z chegando ao mercado, a visão estratégica terá de ser a mesma. O RH Visionário precisa saber enxergar as necessidades e ir atrás de informação para resolver as adversidades da melhor forma possível. O RH Visionário deve sempre olhar para o futuro e para as tendências. Sendo assim, ele não deve sair de moda nunca. Uma evolução possível é um RH Visionário com o pé cada vez mais pesado no acelerador, porque a relação com o tempo será cada vez mais estreita e a rapidez com o que as coisas irão acontecer será mais curta, até o momento em que será instantânea.
Empresas tradicionais estão adequadas para implantar RH Visionário?
Qualquer empresa está adequada para implantar o RH Visionário se estiver aberta às mudanças que ele pode realizar na organização. Mudanças positivas e necessárias. O primeiro passo é a transformação das competências do atual RH e a busca por tendências, começando a conectar tudo isso à realidade de suas organizações. Não importa o tamanho da empresa, nem o ramo de atividade: olhar para o futuro cabe em qualquer espaço. A diferença é como grandes, médias, pequenas e microempresas irão implantar processos, ações e mudanças com base nesse olhar para frente.
Que formação os profissionais que atuam no RH devem ter para gerir um RH Visionário?
Li uma pesquisa realizada pela revista Fortune recentemente em que eles apontam que apenas 4 de cada 10 posições em aberto foram preenchidas por executivos de fora do RH. Ou seja, a formação não conta se você tem visão de negócio, se você é bom com pessoas, se você é criativo e está disposto a correr riscos e a vestir a camisa da empresa. Saber sobre economia, sustentabilidade, tecnologia e gestão, estão lado a lado de competências como ser cuidador do capital humano, liderar mudanças e cultura, além de saber administrar recompensas. Enfim, não existe uma formação. Existem formações e, acima de tudo, a grande capacidade de ler o mundo e saber contextualizar tudo isso para que a organização tome as melhores decisões não só a respeito de pessoas.
Engenheiros teriam espaço em um RH Visionário?
Com certeza. Como vimos, o RH está se renovando, agregando profissionais de outras áreas e especialidades. A diversidade de conhecimentos e áreas está agregando muito ao RH e pode haver uma troca muito rica entre profissionais formados em recursos humanos e engenheiros para se chegar mais perto do RH Visionário.
Empresas ligadas à construção civil têm perfil para RH Visionário?
Sim. Qualquer empresa tem perfil para olhar para o mundo lá fora e entender como as principais tendências globais irão impactar nos negócios e nas pessoas de suas empresas.
O RH Estratégico fracassou?
O RH Estratégico ainda não está totalmente de pé no Brasil, mas de forma alguma ele fracassou. O RH Visionário veio para somar ao Estratégico. O mundo ideal é aquele onde a soma das competências do RH Estratégico e do Visionário resultam no RH que é exigido e esperado pelo mercado e pelos CEOs hoje.
Entrevistada
Graziela Moreno, graduada em administração e pós-graduada em marketing, e CEO da Academia da Estratégia (ACAD)
Contato: graziela.moreno@academiadaestrategia.com.br
Crédito Foto: Divulgação/ACAD
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Números do setor imobiliário retrocedem doze anos
Volume de lançamentos e de vendas volta ao patamar de 2004. Segundo analistas, sistema de produção desestruturado vai encarecer imóveis
Por: Altair Santos
A paralisia experimentada em 2015 fez alguns segmentos da cadeia produtiva da construção civil retroceder até 12 anos. O impacto atinge desde o volume de vagas que deixou de ser criado até a quantidade de negócios do mercado imobiliário. Os lançamentos de imóveis no ano passado se equipararam a 2004. O que analistas temem é que o setor privado decida paralisar obras, esperando zerar os estoques, e que o Minha Casa Minha Vida não disponha de recursos suficientes para dar início à terceira fase.
Isso, avaliam, faria aumentar o déficit habitacional, fazendo-o voltar ao período anterior ao Minha Casa Minha Vida, quando estava em quase 7 milhões de unidades (6,941 milhões). O MCMV baixou esse número para 6,198 milhões. Para o Departamento da Indústria da Construção da Fiesp (Deconcic), o programa habitacional do governo federal é peça-chave para tirar o setor da construção civil da paralisia que enfrenta. Porém, o organismo da Federação das Indústrias de São Paulo avalia ser necessário reformular o MCMV. Uma alternativa seria abri-lo para PPPs (Parcerias Público-Privadas).
Carlos Eduardo Pedrosa Auricchio, diretor titular do Deconcic, entende também que o crédito imobiliário deveria ser destravado. “Estimular PPPs habitacionais é uma alternativa importante e de extrema relevância”, acrescenta. “Além disso, é preciso promover a retomada do crédito, talvez buscando criar estímulos para ampliar a participação do setor privado nesta área”, completa. Para o dirigente, a certeza é uma só: “Todos do setor temos convicção de que a construção civil é a principal porta de saída para a crise”.
No entanto, enquanto mudanças não ocorrem no cenário econômico, as sondagens junto aos empresários da construção continuam apresentando pessimismo. Levantamento nacional do Deconcic junto à cadeira produtiva mostra como andam as expectativas para 2016:
Mineração
São Paulo foi o 2º estado cujo setor menos caiu (RJ foi o 1º), totalizando 17% a menos de quantidade de agregado vendida. Em alguns estados a queda foi de mais de 50%, e a média nacional está na ordem dos 30%. A previsão para 2016 é queda de 12%.
Blocos de Concreto
A perspectiva é queda de 40% a 50% e o setor enfrenta fechamento de empresas.
Materiais de construção
Setor apresentou queda de 12,6% nas vendas e 5,5% menos postos de trabalho em 2015. Atualmente, opera com dois terços da capacidade. Expectativa de 70% é negativa e apenas um terço prevê investir nos próximos 12 meses.
Materiais plásticos e PVC
A perspectiva é de queda de 4%. O setor era o 4º maior empregador, atualmente já é o 5º. Os investimentos caíram 35%.
Construção metálica
O setor teve perda da ordem de 30% em produção e vendas. Não há previsão de melhora em 2016.
Cimento
Setor fechou 2015 com queda de 9,2% em relação a 2014. A estimativa é que haja retomada somente no segundo semestre de 2017. Capacidade instalada é de 90 milhões de toneladas, previsão inicial era aumentar para 110 milhões de toneladas até 2018, porém, o consumo está em 57 milhões.
Máquinas e equipamentos
Em 2014, a entidade registrou 27.070 unidades vendidas para o setor da construção. Em 2015, foram 13.490 unidades. Se consideradas gruas e guindastes, a queda chegou a 57,8%. A expectativa é fechar o ano com queda de 2,1%.
Construção
O número de empregados apresentou queda de 11,3% em 2015. No acumulado dos últimos 12 meses, foram fechados 515 mil postos de trabalho, configurando a previsão de queda de 6% (desde 2010 vem caindo o número de empregos). A previsão de fechamento do PIB da construção em 2015 é de queda de 8%. Previsão para 2016 é queda de 6%.
Indústria ferroviária
O setor conseguiu manter o número de vagões dos últimos dois anos: 4.700 vagões. A previsão é fechar 2016 com 473 carros, 10,7% maior que em 2014/2015.
Obras públicas
Haverá queda efetiva por volta de 10% a 15% em 2016, em comparação com 2015, que por sua vez, também teve queda. PIB do setor deve cair 3% em 2016.
Entrevistado
Carlos Eduardo Pedrosa Auricchio, diretor titular do Departamento da Indústria da Construção da Fiesp (Deconcic)
Contato: observatorio@fiesp.com
Créditos Fotos: Divulgação/Fiesp
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Exportar é a saída para fabricantes da construção civil
Produtos brasileiros têm mercado, principalmente na América Latina e nos Estados Unidos, mas é preciso estar atento à burocracia e à logística
Por: Altair Santos
Diante da retração do mercado interno, fabricantes de materiais para a construção estão em busca de clientes no exterior. Os produtos brasileiros, como cimento, artefatos de concreto, cerâmicas e porcelanatos, além de canos e peças hidráulicas, têm bom conceito de qualidade no exterior. A desvalorização do real diante o dólar também serve de estímulo para as exportações. Mas é preciso estar atento às exigências de determinados países para conseguir atendê-los.
Os Estados Unidos, por exemplo, com um mercado de 320 milhões de consumidores em potencial, exigem não apenas que o produto esteja adequado às suas normas, mas verificam também a estrutura das empresas. Para se adequar, o recomendável é que a companhia faça um levantamento do mercado, planeje e avalie economicamente e financeiramente se é viável competir lá fora. Veja as recomendações de Alcides Rocha, especialista em governança corporativa, planejamento empresarial e finanças:
Em recente artigo escrito pelo senhor há uma defesa pela exportação. No caso da construção civil, ela tem potencial para exportar?
Acredito que sim. Tendo um bom produto, qualidade e preço competitivo, existe espaço sim. Cabe analisar o segmento e mostrar o melhor caminho para exportar sem sustos e com eficiência.
Potencialmente, quais países teriam perfil para consumir o que a indústria da construção civil produz no Brasil?
Acredito que inicialmente os países da América Latina, pela proximidade e “baixo” custo de logística. O mercado norte-americano também, pela alta escala e pelo consumo alto. Nossa construção civil é bastante desenvolvida e pode sim conquistar espaço em outros países.
Estamos falando, obviamente, de exportações de materiais de construção e produtos de acabamento. Mas haveria espaço para o Brasil exportar projetos, sistemas construtivos, enfim, tecnologia da construção civil para outros países?
Desde que sejam inovadores e eficientes, sim. Os consumidores de qualquer país buscam inovação, sustentabilidade, rapidez e respeito ao ambiente. Só quero destacar, que a empresa deve estudar o mercado, as normas técnicas de cada país e ter um plano logístico adequado.
E mão de obra, o Brasil tem potencial para exportá-la?
Sim, porém de forma mais restrita. Acredito que temos como exportar mão de obra para serviços mais “artísticos”, como marmorista e jardinagem. Não vejo serviços básicos como exportáveis.
O envolvimento de grandes empreiteiras brasileiras com a Operação Lava Jato prejudicou o potencial do Brasil de exportar construção civil?
Infelizmente sim. Não só na construção civil, mas em todos os segmentos. Quando expomos esse tipo de falta de governança em nossas maiores corporações, nossa imagem como nação fica arranhada.
A burocracia para exportar não desestimula a tentativa de buscar negócios fora do país?
De certa forma sim. Mas se a empresa buscar uma consultoria focada nesse tipo de serviço de apoio às corporações que querem exportar tudo fica mais fácil. Por isso, um planejamento adequado para “levar” a empresa para fora das nossas fronteiras reduz tempo, racionaliza o investimento e traz resultados mais rápidos.
Quais setores da economia brasileira estão se mantendo aquecidos graças à exportação?
O agronegócio, e a indústria de tecnologia estão aproveitando a desvalorização da nossa moeda.
O Brasil não tem tanta tradição de exportar serviços. Como reverter esse cenário?
Essa é uma missão de longo prazo, pois envolve qualificação da mão de obra e a barreira do idioma. Além disso, as leis trabalhistas são extremamente diferentes das brasileiras, o que pode gerar um ponto de conflito entre empregado e empregador.
Entre o desejo de exportar e a concretização da exportação, quantas etapas devem ser superadas?
Tudo começa com um planejamento bem feito, que envolve análise de mercado, produto, preço, legislação & obrigações e análise SWOT (do inglês Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threats [Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças]). Trata-se de um trabalho completo, similar ao de abertura de uma empresa.
Qual a influência do preço do dólar nas exportações brasileiras, independentemente do setor?
Nos ajuda, pois com o Real enfraquecido nosso preço fica competitivo frente ao produto americano. Mas isso somente não basta. Lembro que o consumidor está cada vez mais exigente e quer produtos de boa qualidade, com bom preço e inovador. Por isso, a empresa tem que manter um excelente padrão de qualidade para se sustentar entre os melhores do mercado interno, e para ter condições de “entrar” nesse competitivo mercado mundial.
Entrevistado
Alcides Rocha, graduado em administração de empresas e pós-graduado em planejamento empresarial e finanças, é especialista em governança corporativa e presidente da Finance365
Contato: alcides.rocha365@outlook.com
Créditos Fotos: Divulgação/Finance365