Softwares não substituem calculistas de estruturas
Dia 4 de maio, profissional comemorou sua data. Para o professor Tales Pedro de Souza, desafio é formar novos talentos e conscientizar mercado
Por: Altair Santos
Dia 4 de maio comemorou-se o dia do calculista estrutural. É ele o responsável pela concepção do arcabouço estrutural que sustentará a edificação diante das ações que ela sofrerá ao longo de sua vida útil. O calculista avalia as ações que poderão agir e executa cálculos que determinam os esforços suportados em cada peça da estrutura à base de concreto. Se a estrutura for metálica, o calculista dirá qual o tamanho, forma e peso dos perfis, e como eles devem ser soldados entre si.
O profissional pode atuar em um amplo leque de atividades. Existem atualmente calculistas especializados em concreto, metais e madeira. De forma geral no caso da engenharia civil, esses profissionais calculam quais as cargas que serão suportadas pelas edificações e faz o dimensionamento da estrutura. As informações vão para outro tipo de calculista, que é o especializado em fundações. É ele quem determina como uma edificação vai se apoiar sobre o solo já estudado anteriormente. Neste caso, é desejável que o profissional seja conhecedor das questões em geotecnia.
Na entrevista a seguir, o engenheiro-calculista Tales Pedro de Souza, com 32 anos de experiência, explica como estão as demandas e os desafios da profissão. Confira:
Dia 4 de maio comemorou-se o dia do calculista de estruturas. Pergunta-se: há o que comemorar?
Diria que há sim motivos para comemorar, e não apenas no dia 4 de maio e sim em diversas ocasiões ao longo dos dias e anos de trabalho. Essas comemorações estão geralmente ligadas ao reconhecimento que clientes, construtores e arquitetos têm no nosso trabalho e, principalmente, quando vemos prontas as obras cujos projetos tivemos participação como calculista. Temos uma palestra que apresentamos em universidades, intitulada "Cálculo Estrutural: Arte ou Ofício?", que fala justamente do prazer que o calculista tem de participar da obra arquitetônica. Não apenas como um ofício de calculista, mas também com a arte da concepção, fundamental para viabilizar a ideia arquitetônica.
A profissão de calculista está conseguindo reposição no mercado? A percepção que se tem é que há poucos engenheiros-calculistas novos e boa parte já está há tempos na profissão.
Como em qualquer profissão e, essencialmente nesta, que é uma área de consultoria, obviamente a experiência e o conhecimento prático do cálculo estrutural fazem muita diferença. Não creio que haja tão poucos engenheiros novos calculando estruturas, mas os que se destacam acabam sendo os mais antigos, justamente pela confiabilidade que conseguem passar aos seus clientes. Historicamente, bons calculistas são aqueles que já trabalharam com outros mais antigos e puderam ter a chance de praticar o cálculo estrutural. Não sei dizer se esse processo é suficiente para criar a reposição ideal de profissionais e atender toda a demanda de cálculo estrutural. O que a gente sente é que se o pretenso calculista não souber a teoria, e como aplicá-la num projeto, ele não conseguirá se manter no ofício.
É uma profissão sob risco de extinção?
Não creio que essa profissão possa um dia ser extinta. Por mais avançados que possam ser os sistemas computacionais para o cálculo estrutural, eles sempre serão ferramentas de uma ciência e nunca a solução para os problemas. O calculista é quem determina as ações sobre uma estrutura e estas ações são dados para que um software possa processar qualquer cálculo. Se as ações estiverem erradas ou mal interpretadas todo o cálculo estará errado, colocando em risco as estruturas projetadas. Além do mais, conceber a estrutura que dará suporte a qualquer obra é também uma arte e uma boa concepção resultará num cálculo técnico e economicamente adequados a cada criação arquitetônica. Vale lembrar que o cálculo estrutural não existe apenas para edificações, mas também para pontes, barragens, obras industriais, navios, aviões, veículos, objetos das engenharias naval, aeronáutica e mecânica, além da engenharia civil. Assim, não vejo como a profissão de calculista poderia ser extinta.
Atualmente, com novos sistemas construtivos, vários tipos de concreto, estruturas mistas e inovações agregadas à construção civil, o que mudou para os calculistas?
Uma vez me perguntaram se, com tanta inovação tecnológica, por que eu não poderia projetar uma estrutura mais esbelta, com menores dimensões nas peças estruturais. Então, respondi que, enquanto não mudassem a lei da gravidade os esforços que agem em qualquer estrutura continuariam sempre os mesmos. Novos sistemas construtivos e inovações não mudam o princípio do cálculo estrutural, que se concentra nos esforços das estruturas. O que pode mudar é o dimensionamento dos elementos, com base nas resistências que esses novos materiais podem ter. Dimensionar uma viga em concreto armado, por exemplo, é bem diferente de dimensionar uma viga em concreto protendido e, certamente, o tamanho da viga dimensionada será diferente para cada caso. Diante de um novo sistema, então, basta o calculista estudar as propriedades do novo material e então aplicar suas características de resistências aos dimensionamentos que está fazendo. Isso, desde que o novo material seja técnica e economicamente interessante de ser utilizado pelo cliente.
As especificidades do concreto usado em uma obra são responsabilidade do engenheiro-calculista?
Sim e não. Essa é uma questão muito clara no meio técnico e nas atribuições do calculista de estruturas. Na verdade, falamos em propriedades do concreto. Então, a resposta é sim, se estivermos falando do que chamamos de propriedades do concreto endurecido. Já a resposta será não se estivermos falando das chamadas propriedades do concreto-massa. Logo, é sim responsabilidade do calculista especificar as propriedades que se esperam do concreto quando ele estiver endurecido, constituindo as peças da estrutura concretada. A principal propriedade chama-se "fck" e significa, simplificadamente, a resistência à compressão de um concreto. Outra propriedade também importante é o módulo de elasticidade do concreto, que determinará como uma peça da estrutura irá se deformar sob a ação dos carregamentos aos quais estará submetida. Agora, propriedades como a consistência da massa de concreto, extremamente importante para determinar a trabalhabilidade do concreto nas ações de concretagem ou, ainda, especificidades de dosagem (qual a quantidade de cada ingrediente para formar um concreto) são de responsabilidade de quem está dosando (fabricando) o concreto (a concreteira, por exemplo) e de quem está comprando e aplicando o concreto (a engenharia de obra, por exemplo). Em resumo, para que o cálculo estrutural dê certo, o concreto precisa atingir resistências e adquirir as propriedades que foram especificadas no cálculo. Contudo, para conseguir em obra um concreto que cumpra esta missão, o engenheiro de obra terá inúmeras variáveis que irão sugerir uma dosagem e consistência adequadas e nisto o calculista não tem nenhuma responsabilidade. Apesar desta separação de responsabilidades, inclusive definidas por normas técnicas, calculista e engenheiro de obra conversam muito sobre essas propriedades, especialmente se as obras forem de estruturas especialmente complicadas, onde as peças possam ser de mais difícil concretagem.
Com relação aos softwares, como o BIM e outros sistemas computacionais, há quem prefira investir neles e esquecer dos calculistas?
Há uma preocupação muito grande sobre o uso de softwares para o cálculo estrutural, como se estes softwares fossem a solução para qualquer problema de estruturas. Na verdade, eles devem ser encarados como ferramentas para o cálculo. Assim, saber operar um software não significa saber calcular estruturas. Esta pode ser uma diferença importante entre o engenheiro novo e o mais experiente. Não há sistema, por mais sofisticado que seja, que possa ser operado prescindindo do calculista. O software não concebe, ele é apenas uma ferramenta do processo de cálculo como um todo. Achar que, ao adquirir um software, o problema do cálculo está resolvido é a melhor maneira de colocar o empreendimento em risco de segurança estrutural. Falando de BIM, ele não é propriamente um software, e sim um conceito. O Building Information Modeling pretende ter modelado em três dimensões todos os elementos de uma construção e não somente a estrutura. Tecnicamente, nada tem a ver com cálculo estrutural em si. O software que nós utilizamos hoje para cálculo conta com modelagem tridimensional e propriedades destes elementos que permitem interação com modelos BIM. Mas este trabalho de compatibilização de todos os projetos sob modelos BIM não é atribuição do calculista de estruturas.
Ainda sobre os softwares, eles facilitaram ou dificultaram a vida dos calculistas?
Sem dúvida, facilitaram. Desde que o calculista os tome como ferramentas, apenas. Como já comentado, software não concebe estruturas e nem se responsabiliza pelas ações (forças) a serem aplicadas para calcular a estrutura. Também conforme já comentado, discute-se se o software na educação das engenharias ajuda ou atrapalha. Como disse, saber operar um software não significa saber calcular uma estrutura. O mais grave, inclusive, é usar o software e não saber depois avaliar se o resultado apresentado dos cálculos ou desenhos do software estão corretos e adequados. É preciso entender o cálculo estrutural em sua essência para se ter segurança ao calcular.
Para que um engenheiro queira se tornar um calculista, o que é recomendado ele fazer?
Em primeiro lugar, deverá simpatizar com uma série de disciplinas da graduação. Desde o início, é bom não desprezar as aulas de física, principalmente a parte de mecânica. Disciplinas de cálculo e geometria também. Mais para frente, nas disciplinas específicas, é fundamental entender muito bem a disciplina de resistência dos materiais - de fato, um primeiro contato com o cálculo estrutural. Aí vem a disciplina chamada teoria das estruturas, cujo nome já diz tudo. Tem também as disciplinas de sistemas estruturais (o nome varia de escola para escola). Esta última divide-se em estudos do dimensionamento de elementos estruturais nas modalidades de metálica, madeira e concreto. No meu tempo havia disciplinas optativas de estruturas de edifícios (uma visão prática do cálculo estrutural de um edifício) e outras como a disciplina de pontes. Com essa base teórica, o mais indicado é estagiar em um escritório de cálculo e praticar principalmente o desenho estrutural. De nada adianta saber tudo sobre o cálculo e não ter uma boa linguagem em forma de desenhos para a obra. A prática do desenho estrutural, assim como as boas conversas com calculistas mais velhos, ajudam a ter segurança sobre o resultado obtido nos softwares de cálculo.
Em termos de remuneração, é interessante ser um engenheiro-calculista?
Como todos os ofícios, há altos e baixos nesta questão. Estamos falando de construção civil, uma atividade econômica que sabemos nunca ter tido um nível de estabilidade constante. Vai depender da credibilidade adquirida pelo calculista no mercado. Vemos engenheiros, e até mesmos escritórios, que, diante de uma suposta facilitação dos trabalhos pelo uso de softwares, baixaram os preços dos serviços com o intuito de conseguirem muitos projetos. Essa estratégia tem se mostrado frágil e pouco duradoura. Mal comparando, para o construtor/empreendedor/cliente, o calculista é como um "médico de família", tal a responsabilidade que o ofício encerra. Assim, o calculista preparado terá sim como cativar seus clientes e, a partir daí, a remuneração será proporcional a esse bom atendimento e ao bom resultado da obra. Esse conceito não é muito diferente para qualquer outra especialidade da engenharia.
Quanto tempo é necessário para se formar um bom engenheiro-calculista?
Tempos atrás eu diria que seriam razoáveis uns bons dez anos de prática para se atingir uma certa maturidade nesta especialidade. Isso vai depender da quantidade de projetos que o escritório produz. Creio que a melhor formação desse especialista vem da diversidade de problemas que ele enfrenta no escritório. Como hoje a velocidade de projetos é maior, então o calculista em formação vai vivenciar muitos casos especiais em um tempo menor. Difícil dizer, mas talvez ele esteja pronto em cinco ou seis anos. Também é importante: por melhor que tenha sido o curso na graduação, o calculista vai estudar sempre. Os livros, principalmente os antigos, trazem vivências importantíssimas que ajudam a dar firmeza nos conceitos aplicados nos projetos do dia a dia. Não tem jeito, precisa ler muito.
Entrevistado
Engenheiro Civil Tales Pedro de Souza, com 32 anos de experiência em cálculo de estruturas. Sócio-fundador da Benedictis Engenharia e da S4 Sistemas de Engenharia
Contatos
calculista@benedictis.com.br
www.s4sistemas.com.br
talesps@terra.com.br
Crédito Foto: Arquivo pessoal/Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Zaha Hadid, a “arquiteta de todas as obras”
Reconhecida mundialmente, iraquiana morreu em 31 de março, mas deixou 36 obras com sua assinatura para serem construídas em 21 países
Por: Altair Santos
Dia 31 de março, morreu vítima de infarto, em Miami-EUA, talvez a mais renomada arquiteta do século 21: a iraquiana Zaha Hadid. Com exceção dos países da América Latina, há projetos dela em boa parte do mundo - do Azerbaijão a Hong Kong; do Líbano à Alemanha. Especialista em trabalhar com o concreto, Zaha Hadid era conhecida como a “arquiteta de todas as obras”.
Seu portfólio inclui de casas a prédios, de hospitais a museus, de bases militares a equipamentos esportivos, de pontes a objetos de decoração. Seu primeiro projeto premiado foi uma estação para bombeiros na Alemanha, em 1993. Desde então, Zaha Hadid ganhou todos os grandes troféus da arquitetura: Mies van der Rohe, Prêmio Pritzker (primeira mulher a ganhá-lo) e Praemium Imperiale.
A arquiteta foi também a primeira mulher a receber a medalha de ouro do Instituto Real de Arquitetos Britânicos, em reconhecimento por sua obra. Nascida em Bagdá, e graduada em matemática pela Universidade de Beirute, ela enveredou para a arquitetura após passar pela Associação Arquitetônica de Londres. Em 1979, Hadid abriu seu próprio escritório: o Zaha Hadid Architects.
Autora do projeto do parque aquático das Olimpíadas de Londres, em 2012, a arquiteta foi consultada sobre a possibilidade de projetar equipamentos para a Rio 2016. No entanto, o valor cobrado inviabilizou sua contratação. O escritório Zaha Hadid é considerado o que elabora os projetos mais caros do mundo. Contratada para pensar a infraestrutura dos Jogos de Tóquio, em 2020, também foi descartado pelo governo japonês. Só o estádio olímpico foi orçado em US$ 2 bilhões (R$ 8 bilhões).
Quatro obras ficarão prontas em 2016
Em 2015, o escritório da arquiteta envolveu-se em uma polêmica. Um bloco de concreto pesando aproximadamente 80 quilos desprendeu da fachada do prédio que abriga a biblioteca de economia da Universidade de Viena, na Áustria, e que leva a assinatura de Zaha Hadid. Por ter ocorrido de madrugada, quando o edifício e seu entorno estavam vazios, não houve nenhum vítima.
O desastre, porém, não foi suficiente para abalar o prestígio da arquiteta. Após a sua morte, aos 65 anos, Zaha Hadid deixa 36 obras com sua assinatura, e que ainda estão em construção em 21 países. Quatro deles serão concluídos em 2016: o terminal marítimo Salerno, na Itália (já inaugurado); a Port House, na Antuérpia, na Bélgica; Centro de Estudos e Pesquisas do Petróleo em Riade, na Arábia Saudita; e a Galeria de Matemática no Museu de Ciência de Londres, na Inglaterra.
O escritório Zahad Hadid não será desativado. Seguirá projetando e assumiu o compromisso de manter o legado da arquiteta. Após sua morte, o corpo de profissionais que atuava com ela divulgou uma nota em que reforça o comprometimento: “Zaha é o DNA de Zaha Hadid Architects. Ela continuará a nos guiar e a inspirar todos os dias, e trabalharemos do modo como Zaha nos ensinou: com curiosidade, integridade, paixão e determinação".
Entrevistado
Zaha Hadid Architects (via assessoria de comunicação)
Contato: press@zaha-hadid.com
Créditos Fotos: Divulgação/Zaha Hadid Architects
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Alemanha transforma área degradada em bairro perfeito
Espaço com 116 hectares propõe novo modelo habitacional. Ideia é gerar 100% da energia consumida e criar empregos para todos os moradores
Por: Altair Santos
Um extinto terminal ferroviário, usado para manobras de trens, dentro da cidade alemã de Heidelberg, está se transformando em um bairro perfeito. Na área de 116 hectares (1.160.000 m²) concentra-se a construção de um novo modelo de espaço habitacional. Além de ser capaz de gerar boa parte da energia consumida, o bairro tem a pretensão de ter taxa zero de desemprego. No local, são aceitas apenas startups. Para serem aprovadas, as empresas se submetem a um comitê da Universidade de Heidelberg, a mais antiga da Alemanha – fundada em 1364. A instituição avalia o perfil e o potencial de êxito dentro do Bahnstadt (nome do bairro). A prioridade são as empresas científicas de alta tecnologia.
O bairro também agrega estruturas para o dia a dia de seus habitantes: moradias, unidades comerciais, postos de saúde, escola de ensino fundamental, creches, áreas de recreação, espaços verdes, ciclovia e cinema. Atualmente, o Bahnstadt é o maior empregador de Heidelberg. São 12 mil postos de trabalho, dos quais 5 mil destes trabalhadores vão morar nos edifícios que começam a ficar prontos. A expectativa é de que todas as unidades sejam entregues no final do primeiro semestre de 2016. O projeto se propõe a estar 100% concluído em 2022. Para isso, não são medidos esforços nem recursos. Dois bilhões de euros (aproximadamente R$ 8 bilhões) são investidos na área.
A própria Universidade de Heidelberg desenvolveu os parâmetros para criar um selo de sustentabilidade, a fim de avaliar as unidades habitacionais. A construção usa blocos de concreto celular autoclavado e o projeto dos prédios, idealizado pelo escritório Fischer Architekten, explora grandes espaços envidraçados. O objetivo é cumprir com eficiência o desempenho térmico. No inverno, permitir a entrada de muita luz; no verão, proporcionar a difusão do calor. Por isso, os edifícios, com quatro pavimentos cada um, também possuem telhados verdes. Mas a principal característica das residências do Bahnstadt é que elas geram baixíssimas taxas de passivo ambiental, ou seja, reaproveitam até 70% dos resíduos para gerar energia.
Apartamentos custam R$ 1 milhão
Para o professor Wolfgang Feist, diretor do Instituto de Casas Sustentáveis da Alemanha, as residências de Bahnstadt se anteciparam às novas diretrizes de construção sustentável que entrarão em vigor na Europa a partir de 2021, através da Directiva Europeia Building Performance. "São casas com máxima eficiência energética, mas não é só isso: o bairro todo segue rigorosos conceitos de sustentabilidade”, diz Wolfgang Feist. De fato. O compromisso com a emissão zero do CO2 proíbe que veículos que utilizem combustíveis fósseis circulem nos 116 hectares do bairro. São permitidos bicicletas e veículos elétricos.
A iluminação pública também é inovadora. Os postes possuem lâmpadas de LED e elas são acionadas por uma central inteligente. Quando a iluminação natural fica abaixo de 30%, o sistema é acionado. Ao amanhecer, quando a iluminação natural chega a 30%, as lâmpadas se apagam automaticamente. Todo encanamento e cabeamento para operar distribuição de gás, internet e iluminação pública são subterrâneos. “Mesmo antes de estar totalmente pronto, já temos uma certeza: Bahnstadt funciona”, finaliza Wolfgang Feist. Para comprar um apartamento no bairro perfeito, basta ter 260 mil euros (cerca de R$ 1 milhão).
Veja aqui a área ocupada pelo Bahnstadt.
Entrevistados
Achim Fischer, relações públicas da cidade de Heidelberg
Parque Tecnológico de Heidelberg (via assessoria de comunicação)
Prefeitura de Heildelberg (via assessoria de comunicação)
Contatos
stadt@heidelberg.de
oeffentlichkeitsarbeit@heidelberg.de
www.technologiepark-heidelberg.de
Crédito Foto: Divulgação/Bahnstadt
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Escada pré-fabricada de concreto sobe no conceito da obra
Estruturas agilizam o cronograma. Feitas sob medida, depois de prontas elas são instaladas sem comprometer outras etapas da construção
Por: Altair Santos
Os projetos arquitetônicos que prevêem escadas estão dispensando construí-las in loco, e optando pelos equipamentos pré-fabricados. Os principais motivos: as estruturas são mais precisas e economizam tempo no cronograma da obra. Feitas sob medida, depois de prontas as escadas são instaladas sem comprometer outras etapas da construção. “Além destas vantagens, elas permitem ganho de espaço e dão mais leveza ao ambiente. Somando tudo, o investimento, colocado na ponta do lápis, acaba saindo mais em conta que a escada convencional”, aponta o engenheiro civil Ezequiel Cidral.
Especialista em pré-fabricados, o engenheiro lembra que as escadas de serviço de prédios ainda são construídas através do sistema convencional, seja por questões de projeto ou de logística. No entanto, quando elas têm a finalidade de ser um elemento decorativo da obra, opta-se pelas estruturas pré-fabricadas. Hoje, os principais consumidores deste tipo de produto são escritórios de arquitetura especializados em projetar casas. Neste caso, as escadas são personalizadas e podem custar de R$ 2.500 a R$ 30 mil, dependendo de suas características e dos materiais de acabamento.
Cada projeto de escada pré-fabricada de concreto necessita de fôrmas exclusivas. “Por exigir medidas exatas, uma escada nunca sai como a outra. Neste caso, temos que produzir fôrmas para cada uma delas”, ressalta Ezequiel Cidral. A fabricação de uma escada leva de dois a quatro dias, dependendo do porte da obra. Já a montagem pode chegar a 12 dias. No local em que será instalada, a escada é chumbada em paredes, vigas e pilares. “No caso de elementos que precisam ser fixados em vigas laterais, daí é necessário desenvolver sapatas próprias para receber essas estruturas”, completa o engenheiro.
Normas e medidas
As escadas pré-fabricadas devem atender tanto as normas técnicas relacionadas ao concreto armado quanto às de segurança. Depois de prontas, elas aceitam vários materiais de acabamento: granito, mármore, madeira, porcelanato, vidro ou qualquer outro tipo de revestimento. Atualmente também têm se destacado as escadas pré-fabricadas em concreto aparente.
A construção de uma escada tem quatro medidas prioritárias: a proporção dos degraus, o comprimento da escada, o número de degraus e a largura dos degraus.
Proporção dos degraus
É necessário que exista uma proporção entre altura e profundidade de cada degrau. Existe uma regra-padrão adotada pela maioria dos construtores, que é 18 centímetros de altura por 27 centímetros de profundidade.
Comprimento da escada
Muda de projeto para projeto, mas também existe uma regra para se chegar ao tamanho exato. Neste caso, ela deve levar em conta a altura e a profundidade de cada degrau da escada.
Número de degraus
Também existe uma regra: normalmente divide-se a altura entre os dois pavimentos por 18 centímetros, sempre levando em consideração as diferenças milimétricas do cálculo.
Largura do degrau
Também depende de cada projeto, mas o padrão vai de 80 centímetros a 120 centímetros.
Entrevistado
Engenheiro civil Ezequiel Cidral, CEO da Escadas Millenium
Contato: contato@escadasmillenium.com
Crédito Foto: Divulgação/Escadas Millenium
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Futuro tira engenheiro civil da “zona de conforto”
Pesquisa mostra que profissional precisa unificar conhecimentos contidos em outras atividades e investir na capacitação continuada
Por: Altair Santos
A engenharia civil se reinventa nos laboratórios de pesquisa, agregando inteligência artificial, robótica, nanotecnologia, impressoras 3D e até biotecnologia. No entanto, ainda conta com uma grade curricular ultrapassada, sobretudo no Brasil. Segundo recente pesquisa divulgada no Fórum Econômico Mundial, denominada "O Futuro do Trabalho", haverá a extinção de 5,1 milhões de empregos no mundo até 2021. No estudo, há um capítulo exclusivo que trata da engenharia e de profissões correlatas. A análise é que a formação da engenharia - sobretudo os cursos mais tradicionais, como a civil - terá que unificar ensinamentos contidos em outras profissões, além de adequar-se a uma nova realidade: a capacitação continuada.
A pesquisa avalia que, além das tecnologias, o cenário globalizado derrubou paradigmas e estabeleceu novos conceitos. Mesmo as empresas regionais já operam interligadas com outras partes do mundo. “Está em curso uma nova revolução industrial, que, consequentemente, impactará no conjunto de habilidades requeridas para prosperar neste novo panorama”, diz relatório que acompanha o estudo do Fórum Econômico Mundial. Essa revolução tem nome: Indústria 4.0. Ela representa a descontinuidade do modelo de produção vigente e deriva de novos produtos e processos ocorridos na fronteira da ciência, como a convergência entre info, nano, bio e neuro-cogno tecnologias.
Essas descobertas possuem aplicações em praticamente todas as áreas: da química à física, da biologia à medicina, da engenharia à computação. Não resta dúvida de que a “Quarta Revolução Industrial” abre um mundo de possibilidades, mas traz consigo grandes desafios aos profissionais, principalmente os que estão chegando agora no mercado de trabalho. “O tempo de ser especializado em uma única área do trabalho acabou”, indica o documento apresentado na 46ª edição do Fórum Econômico Mundial, que acontece anualmente em Davos (Suíça). Com essa análise, as grades curriculares dos cursos de engenharia - especialmente nas universidades brasileiras - estão colocadas em xeque.
Currículo defasado e evasão
A mais recente atualização curricular dos cursos de engenharia proposta pelo MEC (Ministério da Educação) ocorreu em 2002. Não há no horizonte nenhuma outra proposta de reforma, mesmo diante das insistentes indicações do mercado de trabalho. Para tentar qualificar minimamente seus graduados, as instituições de ensino superior têm feito ajustes pontuais na grade curricular. No entanto, sem diretrizes do governo federal, as escolas estão impedidas de implantar reformas profundas em seus cursos. No caso das universidades menos conceituadas, elas se restringem a oferecer apenas o conteúdo mínimo exigido pelo MEC. Isso criou uma disparidade entre cursos. Enquanto alguns chegam a ter 4.200 horas de carga horária, outros ofertam no máximo 3.600 horas ao longo de cinco anos de graduação.
Crítico do modelo de ensino das escolas de engenharia, o engenheiro civil Francis Bogossian, que já presidiu várias associações de classe, aponta que o Brasil caminha na contramão de outros países. Enquanto russos e chineses, por exemplo, investem maciçamente na formação de engenheiros, o país não consegue conter a evasão. ”De cada 172 alunos que ingressam nos cursos, apenas 95 os concluem. A formação de novos engenheiros também cresce muito abaixo das necessidades do país. Tem sido inferior à formação em Direito e Administração de empresas. Acrescente-se que os graduados em engenharia no Brasil são menos de 20% dos russos e de 8% dos chineses”, alerta, em artigo escrito recentemente, com o título Mais uma crise na nossa engenharia.
Veja a íntegra do documento do Fórum Econômico Mundial.
Entrevistado
Fórum Mundial do Trabalho (via assessoria de mídia)
Contato: contact@weforum.org
Crédito Foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
A 100 dias das Olimpíadas, Rio sofre com obras
Equipamentos esportivos dão sinais de que ficarão prontos a tempo, mas mobilidade urbana mostra fragilidade
Por: Altair Santos
Dia 27 de abril a cidade do Rio de Janeiro iniciou a contagem regressiva de 100 dias para o início dos jogos olímpicos. Transformada em canteiro de obras, a capital fluminense se divide em duas frentes. Uma se relaciona com os equipamentos esportivos, cuja boa parte está com a execução das obras entre 90% e 100%; outra, diz respeito às estruturas de mobilidade urbana projetadas para o Rio, e que ainda não se transformaram em legado olímpico. Pelo contrário, repercutem negativamente sobre o evento.
Além de correr contra o tempo para que as obras fiquem prontas até o início das Olimpíadas, a prefeitura do Rio precisa, agora, comprovar que as construções têm qualidade. A queda de um trecho da ciclovia Tim Maia reforça essa tese. Dia 21 de abril, a infraestrutura não resistiu ao impacto de uma forte onda e um dos tabuleiros pré-fabricados da ciclovia desabou, matando duas pessoas. As conclusões preliminares são de que houve erro de projeto, o que levou a estrutura a não resistir ao impacto da onda.
Inaugurada em janeiro de 2016, a ciclovia já havia causado preocupação no Tribunal de Contas do Município em julho de 2015, quando uma auditoria identificou problemas em sua construção. O documento alertou para “trincas” e “depressões”, pedindo a correção das falhas. A preocupação tornou-se pública após o acidente e a secretaria de obras do município disse que atendeu às solicitações do tribunal.
O caso da ciclovia, que por si só é emblemático, repercute sobre outras obras relevantes para a cidade, como o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) que leva ao aeroporto Santos Dumont e a linha de metrô que ligará a zona sul à zona oeste – local onde estão concentrados os equipamentos esportivos e a vila olímpica. O cronograma desse empreendimento prevê a inauguração para julho. Porém, só no final de abril é que as escavações foram concluídas.
Falta de planejamento
Mesmo assim, o poder público da cidade assegura que a chamada Linha 4 do Metrô será finalizada a tempo. "Eu garanto que o metrô será operacional durante os jogos olímpicos", insiste Rodrigo Vieira, secretário estadual de transportes do Rio de Janeiro. Segundo ele, as obras estão 93% finalizadas. Porém, mesmo com a palavra da autoridade, a prefeitura do Rio desenvolve um plano B. Entre eles, reforçar a frota de ônibus para os locais dos jogos, autorizar o serviço de vans particulares e decretar feriado na cidade para reduzir o fluxo de veículos.
Com o metrô, a meta é transportar 300 mil passageiros por dia e tirar 2 mil carros de circulação diariamente. Essa obra está para os jogos olímpicos como o velocista jamaicano Usain Bolt para o atletismo. Usando a Linha 4, o deslocamento da zona sul até a zona oeste do Rio será feito em 13 minutos. Hoje, de carro ou de ônibus, esse percurso não se concretiza em menos de duas horas. Eis o verdadeiro legado para uma cidade que espera 450 mil visitantes entre 5 e 23 de agosto.
A conta das Olimpíadas ainda não está fechada, mas já ultrapassa R$ 39 bilhões. Destes recursos, R$ 18 bilhões foram para investimento em mobilidade urbana no Rio de Janeiro. Os organismos públicos justificam os gastos elevados dizendo que a cidade passou 60 anos sem obras relevantes em transporte público. Em outras palavras, faltou planejamento adequado. Tanto lá atrás, quanto agora. Isso se reflete em orçamentos astronômicos, cronogramas apertados e perda de vidas humanas. Além das vítimas na queda da ciclovia, 11 operários morreram no conjunto de obras para os jogos. Diante deste cenário, e a 100 dias do início do evento, o Rio conseguirá uma medalha olímpica?
Entrevistados
Secretaria de transportes do governo do Rio de Janeiro e Secretaria de Obras Públicas da Prefeitura do Rio de Janeiro (via assessorias de imprensa)
Contatos
transportes@transportes.rj.gov.br
riourbe@pcrj.rj.gov.br
Créditos Fotos: Divulgação/Prefeitura do Rio/Fernando Frazão/Agência Brasil
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
STJ suspende ações envolvendo corretagem de imóveis
Tribunal tende a estabelecer uma nova maneira de composição dos contratos de compra e venda de imóveis, tornando mais clara a negociação
Por: Altair Santos
É recorrente nas transações imobiliárias que, do preço de venda do imóvel, o correspondente entre 5% e 6% seja destinado aos corretores imobiliários que atuam na negociação. Diante dessa situação, compradores insatisfeitos resolveram procurar o Judiciário e questionar a legalidade dessa prática por parte de construtoras e incorporadoras em repassarem ao consumidor a responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem imobiliária. Esse impasse se dá, principalmente, na venda de imóveis novos, negociados nos plantões de vendas.
A alegação é que o interesse na venda dos imóveis é das construtoras, e o comprador não deve pagar por um serviço que, em tese, não teria contratado. Não tardou para a controvérsia ser levada para análise do Superior Tribunal de Justiça, que determinou, por 180 dias, a suspensão de todos os recursos ligados à matéria, até emitir um parecer que acabe com a insegurança jurídica em torno da questão. A medida do ministro-relator do processo, Paulo de Tarso Sanseverino, vale para todo o território nacional e envolve os processos que tenham como matéria a restituição dos valores pagos a título de comissão de corretagem.
Segundo o advogado Marcos Lopata, especialista em relações de consumo entre empresas e seus clientes, não há como prever qual será a decisão final do STJ sobre a matéria. “Já houve pronunciamentos judiciais em ambos os sentidos, tanto pela legalidade quanto pela ilegalidade da cobrança da taxa de corretagem. Assim, o STJ pretende uniformizar o entendimento sobre a validade ou não da cláusula que repassa ao consumidor a responsabilidade pelo pagamento da comissão do corretor. Mesmo não podendo prever qual será a decisão do STJ, acredito que ela levará em conta o interesse de ambas as partes, trazendo transparência às negociações e garantindo o bom desenvolvimento das atividades dos corretores de imóveis”, avalia.
Lopata explica também por que se chegou a essa situação de impasse. “Muitos consumidores não concordaram em pagar os valores de comissão de corretagem sobre seus imóveis, baseados na justificativa de quem contrata o corretor é quem deve pagar pelo serviço prestado. Já as construtoras afirmam que ofertam o imóvel por um preço certo ao consumidor e que não há incremento no valor a ser pago, apenas o desmembramento dos valores, direcionando de 5% a 6% do valor do imóvel aos corretores que intermedeiam a venda. Diante de tais posicionamentos, não havia consenso no Judiciário quanto à legalidade ou não da prática, o que ensejou a discussão perante o Superior Tribunal de Justiça”, afirma.
Corretagem é legal
Especialista em contencioso cível, a advogada Thaís Braga Bertassoni lembra que o Código Cível reconhece a prática da corretagem e que não é essa prestação de serviço que está em julgamento. “Não há como delimitar o exato motivo das reclamações, mas, ao que parece, os consumidores vislumbraram uma possibilidade de recuperar parte dos investimentos aplicados na compra de seus imóveis. No entanto, importante lembrar que o Código Civil em seu artigo 722 autoriza a prática da corretagem como uma prestação de serviço, ligando uma pessoa (jurídica ou física) à outra para a realização de um negócio. No que tange aos corretores de imóveis, a atividade, além de permitida pelo Código Civil, é também regulamentada pelo CRECI (Conselho Regional de Corretores de Imóveis)”, define.
Em se tratando de poder Judiciário brasileiro, o tempo de 180 dias pedido pelo STJ é considerado pequeno - o prazo vence em 16 de junho de 2016. Porém, um dos motivos que levaram o tribunal a paralisar os processos é que havia decisões muito diferentes, dependendo do estado em que as ações eram julgadas. “A interpretação não era uniforme. No Paraná, por exemplo, as decisões tendiam a beneficiar, em geral, os consumidores, entendendo que quem demandava diretamente o serviço de corretagem devia pagar por ele. Já em São Paulo, por outro lado, existem decisões que beneficiam os corretores, por entender que o valor final do imóvel não era alterado com a cobrança de tal valor, estando a comissão do corretor englobada no valor total de venda da unidade imobiliária”, diz Thaís Braga Bertassoni.
A expectativa é de que o STJ não defina um novo modelo de negociação de imóveis no Brasil, mas estabeleça uma nova composição de acordos de compra e venda de imóveis, delineando claramente o contrato de corretagem, onde serão descritos os serviços prestados e as cláusulas atinentes a preços e prazos. Os advogados especialistas também acreditam que a palavra final sobre esse impasse seja mesmo do STJ, não devendo, o caso, parar no STF (Supremo Tribunal Federal). “Ao STF cabe a guarda da Constituição Federal. Neste caso, o que o STJ fará é pacificar o entendimento jurisprudencial”, finaliza Marcos Lopata.
Entrevistados
Advogados Marcos Felipe Trindade Lopata e Thaís Braga Bertassoni, especialistas em relações de consumo entre empresas e seus cliente e contencioso cível
Contatos
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Créditos Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Construção civil vai ao “divã” para não repetir erros
No ConstruBR 2016, setor debate temas recorrentes, como investimentos em produtividade e construção industrializada, e também faz “mea culpa”
Por: Altair Santos
No evento ConstruBR 2016, que aconteceu dias 14 e 15 de abril, na cidade de São Paulo, a construção civil nacional aproveitou para fazer “análise” de seus equívocos para corrigir a rota quando o país voltar a crescer. Promovido pelo SindusCon-SP, o encontro debateu temas recorrentes no setor, como produtividade e construção industrializada, mas com um outro viés, e acompanhado da seguinte pergunta: por que não houve o investimento necessário nesses avanços quando a construção civil experimentava forte crescimento, entre 2003 e 2013?
Ao ir ao “divã”, o setor buscou achar respostas que o ajudem a reencontrar o crescimento sustentável, com base em novas tecnologias, fim dos desperdícios e uma mão de obra mais qualificada. "Em algum momento vamos sair dessa situação e o setor precisa se preparar para isso, melhorando gestão, processos e qualificar a mão de obra", disse o vice-presidente de economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, ao apresentar o estudo "O desafio de elevar a produtividade da construção no Brasil". Esse trabalho já foi tema de reportagem, sob o título Produtividade da construção civil brasileira decai. Resumidamente, a pesquisa mostra que a construção civil é, em média, 30% menos produtiva que outros segmentos da economia do país.
Zaidan lembrou que o Brasil tem características que freiam o aumento da produtividade, mas lembrou das responsabilidades do setor. “Sem organização, melhora na gestão e na qualificação de mão de obra esse quadro não se altera”, alertou. A afirmação foi reforçada pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Walter Cover, que tratou da industrialização no canteiro de obras. “Os grandes vetores da produtividade estão em nossas mãos. Precisamos nos mobilizar melhor para que o assunto ganhe força”, completou.
Industrialização é caminho sem volta
Reforçando os benefícios dos processos de industrialização, o professor da Poli-USP, Ubiraci Espinelli, destacou o quanto a opção por pré-fabricados torna o processo mais rápido, econômico e sustentável. “O uso de pré-moldados não obriga que as construções sejam padronizadas ou sem diferencial criativo”, ressaltou, tendo sua opinião reforçada pelo vice-presidente de tecnologia e qualidade do SindusCon-SP, Jorge Batlouni, que mediou o debate. “Essas discussões fortalecem a ideia de que a industrialização só traz benefícios para o setor”, asseverou.
Walter Cover resumiu o atual momento da construção civil nacional como “a necessidade de sair da área de conforto”. Ou, nos momentos atuais, zona de desconforto. “Tudo passa por investir em melhores processos de produção para readquirir competitividade. Quando melhorarmos a produtividade, consequentemente a competitividade irá melhorar também. Assim, sairemos da área de conforto e buscaremos novas oportunidades, transformando o mercado da construção civil”, opinou.
Com a participação da comunidade acadêmica, o ConstruBR 2016 procurou unir iniciativa privada e escolas de engenharia para buscar soluções novas para a construção civil brasileira. “Juntos, vamos repensar o setor e buscar caminhos para uma indústria produtiva e competitiva. Só assim poderemos deixar um legado melhor para as novas gerações, ajudando os estudantes de hoje a se transformarem em atores de sucesso no futuro”, afirma o diretor da Faculdade de Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Antonio Muscat. Finalizando, o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto, foi taxativo: “A nova realidade econômica impõe que sejam abertos novos caminhos.”
Entrevistados
José Romeu Ferraz Neto, presidente do SindusCon-SP; Antonio Muscat, diretor da Faculdade de Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP); Jorge Batlouni, pelo vice-presidente de tecnologia e qualidade do SindusCon-SP; Ubiraci Espinelli, doutor em produtividade na construção da Poli-USP e Pennsylvania State University; Walter Cover, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), e Eduardo Zaidan, vice-presidente de economia do SindusCon-SP (todos palestrantes no ConstruBR 2016)
Contato: eventos@sindusconsp.com.br
Créditos Fotos: Divulgação/ConstruBR
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Fôrmas para parede de concreto protagonizam na Bauma
Equipamentos mostrados na feira alemã revelam o quanto evoluíram. Agora, podem atender de casas a arranha-céus com até 150 pavimentos
Por: Altair Santos
As empresas que fabricam fôrmas para paredes de concreto foram as protagonistas na Bauma 2016, que aconteceu de 11 a 17 de abril em Munique, na Alemanha. Entre as inovações, estavam fôrmas para construir arranha-céus com até 150 pavimentos. Elas suportam 40 toneladas de carga e vêm com adaptadores para aguentar os braços dos lançadores de concreto.
Outra novidade: fôrmas com sistema de aquecimento, que ajudam na cura do concreto em temperaturas congelantes. Além disso, as fôrmas multifuncionais também ganharam destaque. Elas podem ser usadas para construir de casas a edifícios de até 20 pavimentos. Sem contar as fôrmas de plástico, cada vez mais em uso na Europa.
“Fôrmas inteligentes” também chamaram a atenção na Bauma. Esse modelo mede em tempo real quando o concreto atinge a resistência para a desforma. O sistema envia dados através de um aplicativo. A mesma fôrma também evita desperdício. Durante a concretagem, ela emite sinais de alerta quando está prestes a ser completada pelo material, o que possibilita a redução do fluxo da betoneira, evitando o risco de transbordamento. Todos os equipamentos, garantem os fabricantes, estão adequados à norma técnica DIN EN 12812, que define critérios para o uso de fôrmas na construção civil europeia. No Brasil, a norma que trata do tema é a ABNT NBR 14931:2014 - Execução de estruturas de concreto - Procedimento.
Mas as surpresas na Bauma foram além no que se refere às fôrmas para concretagem. Elementos fabricados por impressoras 3D, vinculados a projetos elaborados por meio do sistema BIM, também já são possíveis. O software define os vários planos de uma obra, como sistemas elétricos e hidráulicos, e as fôrmas podem ser impressas de acordo com o projeto, já prevendo todos os pontos para encanamento e passagem de conduítes. Nesta tecnologia, as fôrmas utilizam o plástico como material para a impressão. “Já saímos daqui com fila de encomendas”, disse Jürgen Obiegli, presidente do conselho-executivo da Doka, fabricante austríaco de fôrmas, e que expôs na Bauma.
A feira
A Bauma é atualmente a feira relacionada à cadeia produtiva da construção civil que mais atrai público no mundo. Em sete dias, ele recebeu 580 mil visitantes de 200 países. Realizada de três em três anos, a edição de 2016 teve um crescimento de 9% no número de visitas em relação a 2013. As nações com maior número de pessoas que foram à Bauma são Áustria, Suíça, Itália, França, Holanda, Reino Unido, Suécia, Rússia, Polônia e República Tcheca. Em relação aos expositores, empresas de 58 países mostraram seus produtos na feira alemã. Ao todo, havia 3.423 expositores -1.263 da Alemanha e 2.160 de outros países. Em sua 31ª edição, a Bauma é citada como o principal evento do planeta para se apresentar novidades relacionadas a máquinas, veículos e outros equipamentos para a construção civil. A próxima feira vai acontecer de 8 a 14 de abril de 2019, sempre em Munique.
Entrevistado
Messe München GmbH, empresa organizadora da Bauma (via assessoria de imprensa)
Contato: info@messe-muenchen.de
Créditos Fotos: Divulgação/Bauma2016
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Anamaco cria loja-conceito para pequenos varejistas
Espaços entre 150 m² e 500 m² têm que priorizar arrumação dos produtos, comunicação visual, precificação e cartazeamento para atrair consumidor
Por: Altair Santos
A Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção) aproveitou a 22ª edição da Feicon Batimat, que aconteceu de 12 a 16 de abril, na cidade de São Paulo, para apresentar um novo conceito de loja de material de construção. O objetivo é estimular os revendedores a viabilizar um estabelecimento que desperte a vontade de comprar no consumidor.
Dentro da feira, em um estande de 150 m², foi montada uma “degustação” da loja-conceito da Anamaco, que já tem um protótipo funcionando na capital paulista. Chamado de projeto “Loja 4D”, ele aposta na interatividade. Estrategicamente, cada setor do local tem produtos correlatos. Assim, na área de cerâmicas e porcelanatos estão disponíveis argamassas e ferramentas usadas nesse tipo de obra. Outra novidade do espaço é encurtar o trajeto do consumidor. Se ele entra na loja para comprar materiais elétricos, a loja aponta a área específica.
Para os estabelecimentos que estejam funcionando, e queiram se submeter à transformação, o projeto da Anamaco inicia o trabalho estudando integralmente o espaço, passando por piso, paredes e iluminação. Em seguida, mobiliário, equipamentos, arrumação dos produtos, comunicação visual, precificação e cartazeamento. O projeto “Loja 4D” é voltado para varejistas que possuam lojas entre 150 m² e 500 m².
Antes de implantar a mudança, a Anamaco também recomenda que seja traçado um perfil do consumidor e do entorno onde o estabelecimento está localizado. O objetivo não é elitizar a loja, nem transformá-la em uma “butique de materiais para construção”. Pelo contrário, a meta é torná-la um ponto que ofereça bons produtos para todo tipo de público, mas levando em consideração, por exemplo, o autosserviço e a influência da internet na decisão de compra do consumidor.
Perfil do consumidor
A loja-conceito foi idealizada pelos escritórios de arquitetura Candossim & Cabana e Design Novarejo. O nome “Loja 4D” faz uma alusão ao fato de o projeto ser implementado em quatro dias, mas também corresponde à quarta dimensão, que é a da realidade do local. “As soluções não estão sendo propostas em uma realidade virtual ou aumentada, elas saem do papel e se concretizam nesses quatro dias”, explica Marcos Morrone, sócio-diretor da Design Novarejo.
Depois que a Loja 4D é montada, o estabelecimento ainda pode desenvolver outros módulos do projeto, de acordo com a pesquisa e o diagnóstico feitos sob medida. “Há, também, uma medição de fluxo de passantes, feitas através da rede wi-fi. Ela analisa o número de pessoas não apenas na frente da loja, mas também dentro do estabelecimento, por onde elas circulam e se elas finalizam a compra ou não. Isso é medido antes e depois que o projeto é finalizado, para analisar sua efetividade”, completa Marcos Morrone.
A Loja 4D também conta com o apoio da Escola do Varejo Anamaco. Para os lojistas é uma grande oportunidade de conhecer mais sobre os produtos e as novidades em materiais para a exposição de produtos, como estandes, displays em diversas dimensões, comunicação visual e mídia auditiva. Além disso, são oferecidos cursos de aperfeiçoamento, que contribuem para a profissionalização de vendedores e promotores do pequeno e médio varejo. “A Escola do Varejo Anamaco preenche uma das principais lacunas quando se fala em qualificação especializada e formação de mão de obra no nosso mercado”, garante o presidente da associação, Cláudio Conz.
Veja o vídeo sobre a loja-conceito da Anamaco:
Entrevistado
Cláudio Conz, presidente da Anamaco, e arquiteto Marcos Morrone, sócio-diretor da Design Novarejo
Contatos
gerencia.escoladovarejo@anamaco.com.br
presidencia@anamaco.com.br
Crédito Foto: Divulgação/Anamaco