Engenharia pública fraca reflete má qualidade das obras
Profissionais querem resgatar a essência da boa técnica na construção, que é: quem projeta não executa e quem executa não fiscaliza
Por: Altair Santos
O enfraquecimento da engenharia pública, no entender quase unânime de organismos como SindusCons, CREAs, Clube de Engenharia e Institutos de Engenharia, é um dos responsáveis pela má qualidade das obras contratadas pelos três níveis de poder (federal, estaduais e municipais). Viadutos que caem, ciclovias que desabam, projetos que não condizem com a realidade ou que não saem do papel estão entre as consequências desse desmonte de uma importante ferramenta de fiscalização do poder público.
Os departamentos da engenharia pública costumavam funcionar como organismos de engenharia consultiva, avalizando ou não projetos. No entanto, novos modelos de gestão praticamente sucatearam esse serviço, deixando a fiscalização da obra a cargo das próprias empresas contratadas. O que engenheiros defendem é que se resgate a essência da boa técnica na construção civil, que é: quem projeta não executa e quem executa não fiscaliza. É o que defende Pedro Celestino Pereira, presidente do Clube de Engenharia. Confira a entrevista:
O enfraquecimento da engenharia pública é um dos responsáveis pela má qualidade das obras públicas?
Com certeza. Enquanto existiu como engenharia de prestígio, a engenharia pública era responsável pela viabilidade, pelo projeto básico e contratava outros para complementar o que não pudesse ser feito dentro de sua estrutura. Assim, surgiram empresas de projetos, de consultoria e de engenharia. Foram empresas constituídas para suprir essa lacuna. Essa foi a regra que prevaleceu entre os anos 1960 e 1990. Após o governo Collor, surge a Lei 8.666, que rege o processo de licitações de obras e serviços de engenharia. A partir dela, as contratações e serviços de obras passaram a ser feitas preferencialmente pelo critério de menor preço e, dentro da filosofia dominante de enxugamento do Estado, passou a vir uma terceirização absurda de atividades que eram precípuas do setor público. Isso fez com que os engenheiros da área pública fossem relegados à condição de carimbadores de faturas, se distanciando do trabalho, do projeto e da execução dos empreendimentos. Esta fragilização é porta aberta para a corrupção.
O Regime Diferenciado de Contratações, criado em 2011, piorou a situação?
A fragilização aumentou nos três níveis do poder, culminando com as obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas, quando foi criado o Regime Diferenciado de Contratações com o uso de pregões para definir os vencedores de obras e serviços de engenharia. Pregão você faz para comprar papel higiênico, mas contratar um serviço de engenharia, um serviço técnico especializado por este método é caminho para abrir mão de qualidade. Nesses pregões, o orçamento apresentado pelos organismos sofre descontos na faixa de 40% até 50%. Na área técnica, não é possível ter uma diferença tão grande de preços. No máximo, se pode admitir diferenças de preços de até 10%, como era na legislação anterior. Hoje, o menor preço prevalece.
No artigo Engenharia em Xeque, de 20 de maio, publicado no site do Clube de Engenharia, é dito que houve o desmonte de ferramentas de fiscalização do poder público. Quais seriam essas ferramentas?
O poder público era diretamente envolvido na fiscalização dos empreendimentos. No momento que foi terceirizada a atividade, ele deixou de se envolver com a fiscalização e passou a ser simplesmente o órgão pagador. Pior: com o Regime Diferenciado de Contratação, quem executa passou a ser responsável pelo projeto e pela própria fiscalização. Isso é um absurdo. A boa técnica diz que quem projeta não executa, quem executa não fiscaliza. É a forma de se ter controle da obra. O que você quer em qualquer empreendimento é qualidade, prazo e custo. Isso tem que ser feito por entidades independentes. Se você dá ao empreiteiro todo o poder, é o caminho para haver desvios e perda de qualidade. Ele pode até entregar antes do prazo, mas vá ver se a qualidade é a necessária e se o preço é o orçado.
Os departamentos da engenharia pública costumavam funcionar como organismos de engenharia consultiva, avalizando ou não projetos. Como está isso hoje?
Está perdido. As atividades de planejamento são inerentes à área pública, pois não cabem num mandato. Isso se perdeu. Não significa que o engenheiro da área pública vai fazer o projeto ou tocar a obra. A função dele é comandar o processo. Mas hoje não é assim, hoje ele só carimba a fatura.
Novos modelos de gestão praticamente sucatearam o serviço de engenharia pública, e hoje a fiscalização da obra fica a cargo das próprias empresas que ganham a licitação, é isso?
Apenas nas obras com Regime Diferenciado de Contratação. Tem obras que a fiscalização fica a cargo de empresas privadas de engenharia consultiva. Mas na medida em que os profissionais da área pública perderam o contato com a realidade das obras, passaram a ser burocratas. Assim, perderam a condição crítica da fiscalização. Hoje, se tem um processo de contratação em que a engenharia consultiva está subordinada ao empreiteiro. Ele é quem paga o projetista, ele é quem paga o fiscal. Neste modelo, o empreiteiro entra casado com a empresa de engenharia consultiva para dar soluções que são soluções que lhe convém, e não necessariamente convém à sociedade.
A engenharia pública tem chances de voltar a ser bem utilizada pelos governos?
Esta é a luta do Clube de Engenharia, junto com outras entidades. Hoje, nos jornais, a engenharia está mais nas páginas policiais do que na editoria de Cidades.
Para qual dos três níveis de poder público (municipal, estadual e federal) a engenharia pública faz mais falta?
No nível federal, porque tem os empreendimentos de maior vulto. Mas ela faz falta em tudo.
Como organismos como CREA e SindusCon veem ou deveriam reagir a essa questão da engenharia pública?
Já existe uma consciência por parte dos organismos de representação profissional, de que é necessário resgatar o papel da engenharia pública e de que ela vai favorecer a própria atividade profissional das empresas privadas. Não há contradição alguma, em vista da Operação Lava Jato e dos acidentes em obras de grande porte, para que ressurja essa consciência, de que é necessário resgatar o papel da engenharia pública.
Entrevistado
Engenheiro civil Pedro Celestino Pereira, presidente do Clube de Engenharia
Contato
presidencia@clubedeengenharia.org.br
Crédito Foto: Divulgação/Clube de Engenharia
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Ponte com “balão” evita alta velocidade no Uruguai
Obra em área de preservação ambiental foi apontada por escritórios de arquitetura como um dos cinco projetos mais ousados do mundo
Por: Altair Santos
Inaugurada em 22 de dezembro de 2015, a ponte Laguna Garzón, que corta uma importante reserva natural do Uruguai, tem um desenho arquitetônico singular, e providencial. Foi graças ao projeto do arquiteto uruguaio Rafael Viñoly que a estrutura conseguiu sair do papel, superando as barreiras ambientais que a impediam de ser construída. Declarada como área protegida desde 1977, por causa das várias espécies de aves que habitam o local, a Lagoa Garzón faz parte da Reserva da Biosfera, na região sudeste do Uruguai, entre os condados de Maldonado e Rocha.
Desde 1960 era reivindicada uma ponte na região, considerada também de forte apelo turístico. Porém, os projetos sempre foram embargados. A alegação era de que o tráfego de veículos causaria desequilíbrio na região. A solução foi fazer o transporte por balsas, que prevaleceu de 1994 a 2015. Até que Rafael Viñoly teve a ideia de projetar uma ponte em formato de rotatória ou “balão”. O desenho permitiu a criação de um lago e de um pesqueiro em seu centro, impedindo que a velocidade máxima ultrapasse 40 km/h. Além disso, a estrutura tem capacidade para receber até 1.000 veículos/dia.
Construídas sobre estruturas de concreto armado, a ponte-rotatória está localizada na Rota 10 – uma das principais rodovias do Uruguai. De “Ponte da Discórdia”, como era chamada, a obra transformou-se em uma espécie de cartão postal da região. “O conceito da ponte sobre o Lago Garzón é transformar a travessia de veículos em um evento que reduz a velocidade dos carros, para fornecer a oportunidade de desfrutar vistas panorâmicas de uma paisagem incrível”, define o arquiteto Rafael Viñoly. Ao custo de pouco mais de R$ 40 milhões, o empreendimento começou a ser construído em setembro de 2014 e foi inaugurado em dezembro de 2015.
Ecologicamente correta
A ponte tem um raio de 51,5 metros, unida por dois trechos retos nas entradas. A extensão da estrutura é de 323 metros. A travessia é permitida apenas para veículos de passeio, já que o tráfego pesado se desloca pela Rota 9. “Esta é uma rota eminentemente turística”, diz o engenheiro civil Carlos Marasco, responsável pela obra. A Ponte sobre o Lago Gárzon é uma PPP (Parceria Público-Privada) entre o governo do Uruguai e a construtora Las Garzas Blancas S/A. Seu cronograma foi cumprido integralmente à risca. Trata-se da única do mundo em formato de rotatória.
Em enquete com 20 dos mais renomados escritórios de arquitetura da Europa e dos Estados Unidos, a ponte sobre o Lago Gárzon foi colocada entre as cinco do mundo que se destacam por seus desenhos audaciosos. Entre elas, estão também a Lucky Knot, em Changsha, na China; a Danjiang, em Taipei, Taiwan; a Sölvesborg, na Suécia, e a Zhangjiajie, também na China. A coincidência entre essas obras é que elas priorizam a mobilidade urbana. Além de permitir o acesso de carros, têm espaço exclusivo para a circulação de pedestres e ciclistas. “O projeto é de uma ponte ecologicamente correta”, conclui Rafael Viñoly.
Veja vídeo da ponte sobre o Lago Garzón:
Entrevistados
Ministério de Transporte e Obras Públicas do Uruguai (MTOP) (via assessoria de imprensa)
Rafael Viñoly Arquitetos (via assessoria de imprensa)
Contatos
rlee@rvapc.com (assessoria de imprensa do escritório Rafael Viñoly Arquitetos)
consultas@mtop.gub.uy
Créditos Fotos: Divulgação/MTOP
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Dissertação de Mestrado
Resistência à compressão de testemunhos extraídos de concreto: Efeito do diâmetro, da direção de extração e das classes de Resistência
– Ícaro Mariani Ribeiro dos Santos – Universidade Federal do Paraná.
Nanotecnologia garante futuro dos prédios históricos
Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Portugal testa produtos nanoestruturados que fazem a “assepsia” dos prédios seculares do país
Por: Altair Santos
A nanotecnologia é a mais nova aliada dos prédios históricos. O Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Portugal desenvolve pesquisa com nanopartículas que penetram nas paredes dos edifícios e promovem profunda limpeza, eliminando fungos, bactérias e outros agentes agressivos. A descontaminação biológica decompõe microrganismos que estimulam as patologias em estruturas.
Acionadas pela luz solar, as nanopartículas reagem e matam as células de organismos vivos nocivos às estruturas, e que estão infiltradas nas paredes. “Os poluentes que se acumulam nas superfícies das fachadas, como NO (monóxido de nitrogênio), NO2 (dióxido de nitrogênio), SO2 (dióxido de enxofre) e VOCs (sigla em inglês de compostos orgânicos voláteis), são extremamente agressivos para os materiais antigos. Por isso, é fundamental manter as fachadas limpas”, explica a engenheira civil Rosário Veiga, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Portugal (LNEC).
Para fazer essa “assepsia”, o LNEC passou a trabalhar em produtos nanoestruturados fotocatalíticos de autolimpeza à base de TiO2 (dióxido de titânio), e que podem ser aplicados por jato de água, jato de ar, jato abrasivo ou laser. Esses materiais têm a capacidade potencializada pela reduzida dimensão das partículas e reagem estimulados pela luz solar - especificamente pelos raios ultravioletas.
A principal função destes produtos é promover a descontaminação biológica. “Os nanomateriais fotocatalíticos possuem propriedades bactericidas, que chamamos de biocidas. Eles destroem a membrana celular de organismos vivos que se infiltram nas paredes e causam as patologias”, diz Rosário Veiga.
Por isso, além da limpeza, as nanopartículas também dificultam a penetração da água nas paredes, graças ao dióxido de titânio combinado com hidrófugos nanoestruturados. “Eles são eficientes, pois não comprometem a respirabilidade das paredes”, cita a pesquisadora, que revela que o LNEC também trabalha na produção de um tipo de nanocal, que possa ser aplicado nas paredes externas dos prédios históricos. O objetivo é que o material dê mais coesão às argamassas antigas, além de melhorar o desempenho térmico dos edifícios.
Investimento maciço
A nanotecnologia é hoje um dos segmentos que mais recebe investimentos para pesquisas, incluindo aí as voltadas para a construção civil. Desde o início dos estudos, em 1998, até o início desta década, já foram destinados recursos na ordem de US$ 2,5 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões). Na mesma proporção, contabiliza-se a publicação de quase quatro mil artigos e mais de 350 patentes vinculadas à nanotecnologia.
Só nos Estados Unidos já existem mais de 50 empresas desenvolvendo e produzindo materiais nanoestruturados. A expectativa é de que até 2025 o mercado mundial de nanotecnologia movimente US$ 1 trilhão (R$ 4 trilhões, aproximadamente). No Brasil, as pesquisas relacionadas a esse setor da ciência ainda estão limitadas a algumas universidades. As que estão mais avançadas neste campo são a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Clique aqui e saiba mais sobre a aplicação de nanotecnologia em prédios históricos
Entrevistada
Engenheira civil Rosário Veiga, pesquisadora do Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Portugal (LNEC).
Contato
rveiga@lnec.pt
Créditos Fotos: Divulgação/LNE
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Lições que a engenharia tirou da tragédia da Gameleira
Desabamento ocorrido em 1971 ajudou a melhorar práticas em canteiros de obras e a aprimorar normas técnicas voltadas à construção civil
Por: Altair Santos
Em 4 de fevereiro de 1971, o Brasil viveu aquela que é considerada a maior tragédia da construção civil nacional: o desabamento do Palácio das Exposições, no Parque da Gameleira, em Belo Horizonte-MG. A obra, que pretendia ser um amplo espaço com 7.820 m², ruiu quando começaram a ser retiradas as escoras que sustentavam as lajes. Ao todo, 119 operários ficaram soterrados e 69 morreram.
As conclusões técnicas sobre o colapso da estrutura é que o concreto não atingiu o tempo de cura necessário para que o escoramento pudesse ser retirado e que a resistência não seguiu os parâmetros definidos pelo engenheiro-calculista. Também aconteceram falhas no processo de destacamento das escoras. É o que consta nos laudos periciais usados pela Justiça de Minas Gerais para emitir a sentença em 2006 - 35 anos depois do acidente.
Dizem os documentos sobre a retirada do escoramento: “O método utilizado, embora não tenha causado a ruptura, impediu que se avaliasse previamente o desempenho da estrutura, permitindo que o desabamento ocorresse de maneira imprevista”.
Outra falha é que a obra, que começou em 15 de junho de 1969, até o dia da tragédia não tinha um engenheiro responsável. “A suntuosidade do empreendimento exigia que as decisões fossem concentradas em um profissional ou um grupo de profissionais dotados de grande capacitação técnica. Contudo, não havia um norte a seguir, desempenhando cada um dos réus suas atribuições como se fossem partes isoladas do conjunto da obra”, denuncia o laudo.
Tragédia influencia normas e Código Penal
Os projetos arquitetônicos e estruturais eram de Oscar Niemeyer, que na época encontrava-se exilado e não podia acompanhar a obra, e do engenheiro Joaquim Cardozo, que se retirou da profissão após a tragédia. Ambos não foram arrolados no processo, pois a perícia detectou que os projetos estavam corretos. O que houve foi erro na execução. Por isso, a Justiça condenou o Estado de Minas Gerais, a construtora Serviços Gerais de Engenharia S.A. (Sergen) e o Departamento de Obras Públicas (Deop) - organismo responsável pela fiscalização.
Mesmo com os problemas detectados, a tragédia poderia ter sido evitada. Quinze dias antes do desabamento, relatos afirmam que as estruturas estalavam e que houve um afundamento de até 50 centímetros em algumas áreas do piso. Os depoimentos estão no livro do jornalista Roberto Amaral, que em 2014 lançou o ”À Sombra da Gameleira”. “Era possível ter evitado a tragédia, porque vários sinais foram dados”, diz pesquisador.
A partir do acidente que trouxe abaixo 10 mil toneladas de concreto, a engenharia nacional decidiu rever conceitos e tirou lições importantes da tragédia, como uma normalização mais rigorosa quanto aos procedimentos envolvendo o concreto para grandes estruturas. A norma para lajes nervuradas foi uma delas. A NB-01, conhecida como a norma-mãe do concreto e hoje identificada como ABNT NBR 6118 - Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento. A tragédia influenciou também para mudanças nos artigos 250 a 284, do Código Penal, e que tratam das responsabilidades sobre desabamento e desmoronamento.
Entrevistado
Tribunal de Justiça de Minas Gerais (consulta aos autos do processo, via assessoria de imprensa)
Contato
imprensa@tjmg.jus.br
Crédito Foto: Reprodução/Arquivo Público
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Pequeno varejo da construção se une em cooperativas
Na Alemanha e nos Estados Unidos, essa solução fortaleceu o comércio de bairro para competir com as grandes redes do setor
Por: Altair Santos
A Anamaco promoveu recentemente o 1º Encontro Internacional do Varejo de Material de Construção. Ao trazer palestrantes da Europa e dos Estados Unidos, a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção buscou mostrar iniciativas inovadoras de sucesso praticadas em países do hemisfério norte, e que podem ser adaptadas à realidade brasileira.
Na Alemanha e nos Estados Unidos, a venda online de materiais de construção já é realidade. Nestes países, outro tipo de serviço que cresce no comércio de material de construção é o que promove workshops dentro das lojas, e que ensinam o cliente a fazer pequenas reformas. Trata-se do modelo “faça você mesmo” (do it yourself).
As cooperativas também surgem como soluções bem-sucedidas para enfrentar as grandes redes. Nelas, pequenos comerciantes se unem para conseguir descontos dos fornecedores e ganhar competitividade nos preços, além de oferecer pronta entrega. “É importante compartilhar novos conceitos e inspirar o setor a se espelhar nos bons exemplos internacionais”, diz Marcos Atchabahian, presidente do conselho deliberativo da Anamaco.
Entre os palestrantes do encontro esteve Philipp Löesche, diretor de marketing da Knauber. A empresa é uma rede com 40 anos de experiência na Alemanha. Seu foco é vender material de construção para a classe média alemã e, por isso, prioriza muito o “do it yourself”. “Nossos 750 funcionários, espalhados pelas nossas sete lojas, têm a missão de orientar o cliente a deixar a casa dele mais bonita”, afirma em sua palestra.
A Knauber também investe em tecnologias para vender mais. Entre elas, o comércio online, quiosques de autoatendimento e simuladores de projetos, onde o consumidor pode, através de um aplicativo baixado no smartphone, ver como o ambiente da sua casa vai ficar com o uso de determinado material. “Isso atrai a atenção do cliente e mostra como ficará a casa antes mesmo da reforma”, completa Philipp Löesche.
Cooperativismo
O evento também teve a participação do secretário-geral da Associação Europeia do Varejo de Material de Construção (EDRA) e da Rede Global do Varejo de Material de Construção (GHIN), John Herbert. Os organismos reúnem mais de 22 mil lojas - boa parte voltada para o comércio local. “O comerciante local de material de construção é aquele que conhece o cliente, vive no bairro e, muitas vezes, sabe até onde o consumidor mora. Ninguém melhor que ele para enfrentar a impessoalidade das grandes redes de varejo”, assegura Herbert.
Os ensinamentos do dirigente da EDRA e da GHIN foram complementados por Alberto Vidal, diretor de desenvolvimento de negócios internacionais da ACE. Trata-se de uma rede cooperada que engloba 4.700 pequenos lojistas, principalmente nos Estados Unidos. “É um modelo de negócio que permite aos comerciantes pequenos terem poder de barganha junto aos fornecedores e fabricantes”, explica.
Nos Estados Unidos, a ACE conta atualmente com 14 centrais de distribuição, que cobrem o país praticamente de costa a costa, além de frota compartilhada. “Tudo isso sem tirar a independência do comércio. Apenas ajudamos o varejista a crescer mais, sem perder as características de loja do bairro”, garante Alberto Vidal.
Saiba mais sobre a EDRA e a GHIN.
Saiba mais sobre a ACE.
Entrevistados
Marcos Atchabahian, presidente do conselho deliberativo da ANAMACO
Philipp Löesche, diretor de marketing da Knauber
John Herbert, secretário-geral da Associação Europeia do Varejo de Material de Construção (EDRA) e da Rede Global do Varejo de Material de Construção (GHIN)
Alberto Vidal, diretor de desenvolvimento de negócios internacionais da ACE
Contatos
dir.mktnovosnegocisos@anamaco.com.br
philipp.loesche@knauber.de
herbert@edra-online.org
avidal@acehardware.com
Crédito Foto: Divulgação/Anamaco
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Sarcófago de Chernobyl está em colapso. Por quê?
Há 30 anos, concreto usado para isolar reator da usina não possuía tecnologia para suportar radioatividade. Por isso, é alvo de patologias
Por: Altair Santos
Trinta anos depois da explosão do reator da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, a comunidade europeia está financiando uma obra de 2,1 bilhões de euros para encapsular o local do desastre e impedir que nos próximos 100 anos haja novo vazamento. O risco existe porque o concreto usado para moldar o sarcófago que envolve o reator está entrando em colapso. A radioatividade causou fissuras e desencadeou patologias no material, mesmo com o uso de chumbo em sua mistura.
Há três décadas, o concreto utilizado não detinha a tecnologia de hoje. Atualmente, o concreto pesado, que usa hematita, barita ou magnetita como agregados graúdos, é o mais recomendado para sarcófagos de reatores nucleares. A alta densidade, entre 2.800 a 4.500 kg/m³, é comprovadamente um excelente isolante radioativo. Também não se descarta a utilização de limalhas de ferro, bolas de ferro ou de chumbo para encorpar o concreto, sem que seja necessário aumentar suas dimensões.
O que os russos não conheciam, na época em que decidiram blindar o reator, é que o concreto pesado tem uma trabalhabilidade que precisa ser monitorada rigorosamente. Caso contrário, ele tende a segregar os agregados graúdos, assim como ter retardo de pega e de endurecimento, escreveu o pesquisador Marco Forlin Mateus Birck, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), em trabalho divulgado em 2012. Quando ocorreu o acidente de Chernobyl também não havia aditivos que corrigissem esses problemas.
Isolante radioativo
No entanto, alerta Marco Forlin Mateus Birck, aditivos em concretos pesados também carecem de cuidados. Se bem usados, podem melhorar o lançamento e reduzir a tendência de segregação. “Deve-se ficar atento para assegurar que a mistura não sofrerá adensamento inadequado e as partículas do concreto pesado não segregarão”, ressalta o pesquisador em seu estudo. Realizado o processo corretamente, o concreto pesado é excelente isolante radioativo.
Na nova operação para encapsular o reator 4 da usina, cogitou-se construir um cubo de concreto pesado para isolar o equipamento. Porém, a alta radioatividade no local impediu essa hipótese, pois colocaria em risco mais vidas humanas. A solução foi erguer um gigantesco arco de aço de 29 mil toneladas que cobrirá o reator. A estrutura tem 108 metros de altura, 250 metros de largura e 150 metros de comprimento. Quando pronta, terá consumido 30 mil toneladas de aço. É o suficiente para cobrir a Estátua da Liberdade dentro de um estádio de futebol como o Beira-Rio.
Só essa obra está avaliada em 990 milhões de euros. O custo total de 2,1 bilhões engloba ainda o trabalho de logística, de contratação de mão de obra e de projeto e execução. Os países que financiam a megacobertura são Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Reino Unido, Itália, Japão e Rússia. A obra deve ser concluída em 2018.
Veja aqui o vídeo sobre a gigantesca cobertura da usina de Chernobyl.
Entrevistado
Engenheiro civil Marco Forlin Mateus Birck, pesquisador da UFRGS, através de seu estudo desenvolvido em 2012, sobre concreto pesado
Contato
deciv@cpgec.ufrgs.br
Crédito Foto: Divulgação/Nils Bøhmer
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
USP cria living lab para testar materiais inovadores
Projeto do edifício é do Centro de Inovação em Construção Sustentável (CICS) e servirá de incubadora para novos conceitos construtivos
Por: Altair Santos
Um edifício construído com materiais e sistemas inovadores, para que suas próprias estruturas e demais instalações possam servir de laboratório para pesquisas voltadas para a construção civil. É isso que pretende o Centro de Inovação em Construção Sustentável (CICS) da USP (Universidade de São Paulo) ao projetar seu primeiro living lab. “A proposta é criar um ambiente integrado e sinérgico, acolhendo e unindo departamentos, laboratórios e pesquisadores de diferentes áreas, e que trabalhem com o tema construção civil sustentável. Incluem-se aí, empresas e suas respectivas áreas de pesquisa e desenvolvimento (P&D)”, cita o professor Francisco Cardoso, titular e chefe do departamento de engenharia de construção civil da Escola Politécnica da USP.
Além de Francisco Cardoso, que também é membro do CICS, o projeto tem em sua comissão coordenadora os professores da Poli Vanderley John, Vahan Agopyan e Orestes Gonçalves. Todos aprovaram a concepção arquitetônica do prédio, que foi desenhado pelo tradicional escritório paulistano aflalo/gasperini. A construção tem previsão de começar no segundo semestre de 2016 e flexibilidade é a palavra-chave da planta. Por ser um living lab, o edifício deve permitir mudanças e substituições em áreas como fachadas, coberturas, revestimentos e iluminação. O objetivo é fazer experimentos que possibilitem medir geração e consumo de energia, qualidade da água reaproveitada e eficácia térmica e acústica. Segundo o CICS, o projeto está orçado em R$ 15 milhões.
O living lab da USP vai agregar também o Laboratório de Microestrutura e Ecoeficiência de Materiais (LME), onde a universidade concentra a pesquisa de materiais para infraestrutura, como concretos ecoeficientes, e que serão utilizados na construção do edifício. “Na obra, outras tecnologias também serão testadas em condições reais de uso. Teremos ainda espaço para fazer demonstrações, já que é nosso papel divulgar os avanços tecnológicos e o conhecimento técnico-científico nesse tema”, diz Vanderley John. “O living lab será o centro de uma rede de interlocução qualificada, atraindo parceiros compromissados com a realização de experimentos, desenvolvimento e validação de novas tecnologias na área da construção civil”, completa Francisco Cardoso.
Inédito no Brasil, comum na Europa
Enquanto o living lab da USP é inédito no Brasil, em outros países trata-se de um laboratório presente em boa parte das melhores universidades do mundo, e também em corporações cujo negócio é o desenvolvimento tecnológico. Na área da construção civil, todos têm metas comuns: conseguir aumentar o ciclo de vida das edificações e a capacidade delas de se adaptarem aos novos conceitos construtivos, como baixa geração de resíduos, reciclagem e autossuficiência energética. Um dos living lab recentemente inaugurados está na universidade de Dübendorf, na Suíça. O foco deste laboratório é desenvolver robôs que saibam construir em larga escala. Também foi inaugurado há pouco tempo um living lab em Wallonia, na Bélgica, com recursos divididos entre o governo local e a Rede Europeia de Living Labs (ENoLL). Neste caso, o objetivo é qualificar mão de obra para atuar com as novas tecnologias na construção civil.
Entrevistados
- Engenheiro civil e professor Francisco Cardoso, titular e chefe do departamento de engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP
- Centro de Inovação em Construção Sustentável (CICS) da USP (via assessoria de imprensa)
Contato
cics@lme.pcc.usp.br
Crédito Foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Projeto do SindusCon-DF qualifica concreto na obra
Inovadora, ação tem conseguido fomentar boas práticas, otimizar processos e incentivar a legalidade e o cumprimento de normas técnicas
Por: Altair Santos
Criado há seis anos, o projeto Indicadores do Concreto tem ajudado a melhorar a qualidade das obras em Brasília e nas cidades-satélites. A parceria entre SindusCon-DF e IEL-DF (Instituto Euvaldo Lodi) realiza o mapeamento dos processos de concretagem no Distrito Federal, no que se refere à logística e à qualidade. Todos os dados tornam-se públicos, o que ajuda a disseminar a cultura do uso do indicador como ferramenta de gestão na obra. Também propicia uma cultura de troca de experiências entre os canteiros de obras e, o mais importante, dificulta a ação de concreteiras piratas ou informais na região coberta pelo SindusCon-DF.
Segundo a engenheira civil Gezeli Farina de Roure Bandeira de Mello, que está no projeto desde o início, a disseminação de boas práticas é a principal virtude do Indicadores do Concreto. “Continuamente, ele fomenta a otimização de processos e de produtos. Tudo com respeito à legalidade às normas vigentes”, afirma. A gestora completa que, embora o projeto não tenha como conceito principal a gestão da obra, ele acaba influenciando positivamente para que isso ocorra. “Ao longo desses seis anos, foram poucos os engenheiros de obra que não participaram do programa, assim como as empresas. Hoje, eles são parceiros que ajudam a levar o que aprenderam para a gestão de suas obras”, diz Gezeli.
Existe uma exigência para que se participe do projeto Indicadores do Concreto: a obra precisa utilizar concreto dosado em central produzido fora do canteiro. Outra obrigação de quem aceita fazer parte é concordar que todos os dados coletados sejam disponibilizados no site do projeto. “O Indicadores do Concreto disponibiliza todas as suas ações para consulta pública e gratuita. Lá estão o histórico, as empresas participantes, relatórios numéricos, gráficos das séries temporais dos indicadores, as pesquisas de opinião, os informativos quinzenais e o link para o blog do projeto. Além disso, divulgamos o projeto em todas as mais importantes redes sociais”, revela a engenheira.
Projeto não fiscaliza obra
O projeto Indicadores do Concreto é uma iniciativa da Diretoria de Materiais e Tecnologia do Sindicado da Construção Civil do Distrito Federal (DIMAT/SindusCon-DF). Para que um canteiro de obras seja cadastrado, ele precisa seguir um protocolo que consiste em visita à obra, apresentação do projeto ao engenheiro responsável e verificação da real disposição do canteiro em colaborar. Somente após esta confirmação o empreendimento é cadastrado. A participação do canteiro de obras é voluntária, não implica em custo e cada empresa pode inscrever quantas obras quiser. Trimestralmente, um comparativo entre os canteiros cadastrados mede os desempenhos específicos e faz a média de todos os participantes. O projeto não fiscaliza obra.
Além do SindusCon-DF e do IEL-DF, a Federação das Indústrias de Brasília (FIBRA) e o Instituto Senai de Tecnologia (IST-DF) também apoiam o Indicadores do Concreto. A equipe que coordena o projeto conta com um gerente, um estagiário estatístico, dois estagiários de engenharia e consultoria na área de informática.
Entrevistada
Engenheira civil Gezeli Farina de Roure Bandeira de Mello, gestora do projeto Indicadores do Concreto
Contato
estudos.iel@sistemafibra.org.br
www.projetoconcreto.org.br
Créditos Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Belo Monte transforma Altamira para o bem e para o mal
Hidrelétrica expande receitas do município paraense e multiplica população. Porém, má gestão não consegue viabilizar qualidade de vida
Por: Altair Santos
Assim como a obra de Itaipu transformou a cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná, Belo Monte vem transformando Altamira, município paraense que é o maior do Brasil em área (159.695,938 km²). Em sete anos, a construção da hidrelétrica praticamente duplicou a população da cidade. Beneficiada pelo plano de compensação sócio-ambiental que o consórcio Norte Energia teve que assinar para viabilizar a usina, Altamira já recebeu investimento direto de R$ 3,092 bilhões - equivalente a 10% do custo de Belo Monte.
Esse dinheiro foi investido diretamente na infraestrutura do município. Em tese, saúde, saneamento e habitação foram os mais contemplados. Até 2019, a obra de Belo Monte tende a ser o principal ativo econômico do município. Quando a hidrelétrica ficar pronta, ela continuará encabeçando o orçamento do município com os royalties. Assim como Foz do Iguaçu, há mais de 40 anos, e que até hoje tem a usina de Itaipu como sua principal fonte de arrecadação.
Orçada em R$ 26 bilhões, Belo Monte será a terceira maior hidrelétrica do mundo em potência, atrás da chinesa Três Gargantas e de Itaipu. O cronograma de conclusão da obra atingiu 90%, e em fevereiro de 2016 entrou em operação a primeira das 18 turbinas. Esse equipamento tem capacidade de gerar 611,1 megawatts (MW). Quando estiver em operação plena, a hidrelétrica no rio Xingu vai produzir até 11,233 mil MW.
O potencial de Belo Monte é diretamente proporcional aos desentendimentos entre o consórcio Norte Energia e o poder público de Altamira, por conta do plano de compensação para minimizar impactos ambientais e sociais. Houve o comprometimento de se investir R$ 300 milhões em saneamento básico, além de um aterro sanitário, que inexistia no município. No quesito saúde pública, foram construídos quatro hospitais e reformados outros três. Idem em educação, onde 270 novas salas de aula deveriam reforçar o atendimento a 22 mil alunos.
Falta gestão pública
Boa parte das obras já foi entregue pela Norte Energia, mas elas ainda não conseguem levar qualidade de vida à população de Altamira. O motivo está na gestão dos empreendimentos. O poder público do município alega não ter recursos para equipar os empreendimentos e contratar profissionais, como professores e médicos. Assim, hospitais prontos ainda não estão atendendo e salas de aulas novas não recebem alunos. O mesmo acontece com o saneamento básico. Ainda que haja uma nova estação de tratamento de água e esgoto na cidade, falta encanamento nas ruas para levar esses benefícios às casas.
Em recente nota oficial, em função de reportagens publicadas na imprensa, a Norte Energia afirma que não cabe a ela fazer a gestão dos equipamentos entregues, e às prefeituras de Altamira e outros municípios menores no entorno de Belo Monte. “É inegável que pouquíssimos municípios brasileiros receberam tantos avanços e obras em tão pouco tempo, sem contar os mais de R$ 300 milhões em tributos municipais pagos na região”, diz o documento. Enquanto o impasse não se resolve, a população paraense espera que a hidrelétrica não gere apenas energia elétrica, mas também bem-estar social.
Entrevistados
- Norte Energia S.A (via assessoria de imprensa)
- Prefeitura de Altamira-PA (via assessoria de imprensa)
Contato
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Créditos Fotos: Regina Santos/Norte Energia