EUA investem em engenheiros especialistas em concreto

Objetivo da ACI (American Concrete Institute) é minimizar risco de retrabalho em estruturas e impedir prejuízo anual de 21 bilhões de dólares

Por: Altair Santos

Em 2015, estudo apresentado no World of Concrete – maior feira sobre concreto e derivados do mundo – chamou a atenção das autoridades dos Estados Unidos. Dizia que 25% dos reparos em estruturas de concreto feitos no país, no período entre 2013 e 2014, abrangiam construções novas com um ou dois anos de execução.

Rick Yelton, do World of Concrete: estruturas não estão atendendo às expectativas
Rick Yelton, do World of Concrete: estruturas não estão atendendo às expectativas

Não se trata, portanto, de anomalias decorrentes da idade do material, mas de erros na concepção do concreto. “Detectamos que as principais razões das falhas estão ligadas ao uso inadequado de materiais, falta de conhecimento sobre novas tecnologias aplicáveis ao reparo e pouco treinamento para os profissionais que atuam na área”, revelou Rick Yelton, um dos coordenadores do World of Concrete, e que recentemente esteve no Brasil para falar das medidas tomadas nos EUA para enfrentar esse problema.

Rick Yelton cita que erros como não-conformidade com a resistência exigida no projeto, agregados de baixa qualidade, especificações técnicas não condizentes com o que a obra exige e mão de obra não-qualificada para o manuseio do concreto acabam desencadeando retrabalho em várias obras, gerando um custo bilionário por ano em reparos. “Para nós foi constrangedor concluir que os gastos com reparos em concreto chegaram à casa de US$ 21 bilhões ao ano. Isso demonstrou que estruturas que deveriam durar entre 50 anos e 60 anos não estavam atendendo a expectativa”, analisou.

O especialista ressaltou ainda que algumas estruturas avaliadas no estudo apresentavam problemas com menos de um ano, desde a execução. “Retrabalho em estruturas novas não gera apenas custos elevados, mas pode afetar a credibilidade do concreto que, todos sabem, é o material mais confiável do mundo, quando produzido com qualidade”, disse.

Curso e revisão da ACI 546-14
Para minimizar esses riscos, a ACI (American Concrete Institute) passou a dar cursos online para engenheiros civis norte-americanos que queiram se especializar em produção e controle do concreto. Além disso, a ACI desenvolveu um código para a reparação de concreto, e que foi publicado em 2014. O documento serviu para atualizar a norma técnica ACI 546-14, da qual Rick Yelton, que também é fabricante de concreto nos EUA, integrou o comitê.

“A ACI 546-14 fornece orientação para a seleção de materiais, aplicação destes materiais e métodos para a reparação, proteção e reforço de estruturas de concreto, principalmente no que se refere ao cobrimento”, afirmou o especialista. “Há um capítulo específico sobre cobrimento, e de como se evitar ninhos, que são algumas das anomalias que mais detectamos em nosso estudo. A proteção das armaduras é fundamental”, completou Rick Yelton.

A ACI 546-14 traz em seu capítulo 9 as tecnologias e novos materiais usados para reparar concreto. Entre eles, resina epóxi, resina de uretano, argamassa plástica, selantes plásticos e de silicone, além de calda de cimento. “São técnicas de reparo que já comprovaram bons resultados e que ensinamos como manuseá-las no curso. Temos um objetivo claro de, até 2020, reduzir em 50% as anomalias que tanto dão prejuízo à construção civil nos Estados Unidos e, imagino, em outros países também”, finalizou Yelton.

Entrevistado
Rick Yelton é coordenador do World of Concrete e engenheiro de minas pela Universidade de Missouri-Rolla, além de MBA em negócios internacionais pela Universidade de St. Louis
Contato
ryelton@hanleywood.com

Crédito Foto: Divulgação/Construction Summit

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Escola sustentável em Curitiba vende energia excedente

Construído dentro dos padrões da certificação LEED Platinum, edifício tem miniusina em seu telhado, com 370 m² de painéis fotovoltaicos

Por: Altair Santos

A nova unidade de ensino do Senac na cidade de Curitiba-PR é a mais autossustentável do Brasil na modalidade escola. Inaugurado no final de julho de 2016, o prédio possui uma miniusina de energia em seu telhado, com 370 m² de painéis fotovoltaicos. “É uma instalação inovadora, e grande, se comparada com o que tem sido implantado no país. É a maior registrada pela Copel em termos de mini e microgeração de energia no Paraná”, afirma o engenheiro eletricista André Bollini, que fez a consultoria ambiental do empreendimento para que recebesse a certificação LEED Platinum.

Escola do Senac tem fachada que ajuda no controle térmico, sem ofuscar a iluminação natural das salas
Escola do Senac tem fachada que ajuda no controle térmico, sem ofuscar a iluminação natural das salas

O certificado agrega as mais altas pontuações em relação às construções sustentáveis, e tem como característica o uso inteligente de recursos naturais, a otimização dos materiais e a eficiência de equipamentos instalados no edifício. Segundo o diretor da RAC Engenharia, construtora responsável pela execução da obra, Ricardo Cansian, alcançar este alto nível de sustentabilidade exigiu que os conceitos da LEED Platinum fossem implantados desde a concepção do projeto até a conclusão do prédio. “São procedimentos que vão gerar economia que pode chegar a 52% em energia elétrica e a 42% em água”, destaca.

As 228 placas solares instaladas na cobertura da edificação foram fundamentais para que a unidade do Senac alcançasse os índices de sustentabilidade exigidos pela certificação LEED Platinum. A inovação do sistema é que, em dias de baixa demanda da escola, como finais de semana e feriados, o excedente de energia elétrica produzido pelas placas será vendido para a Copel - companhia de energia do Paraná. Isso vai gerar créditos ao Senac, permitindo abatimento na fatura mensal. “Estimamos que o retorno de investimento de todo o sistema se dará em aproximadamente 7 anos e meio”, revela Ricardo Cansian.

Canteiro de obras

André Belloni: instalações aproveitam ao máximo a ventilação natural e a luz do dia
André Belloni: instalações aproveitam ao máximo a ventilação natural e a luz do dia

Além da miniusina, o sistema de iluminação da escola também vai permitir menor consumo de energia da rede elétrica. O prédio tem 2,5 mil lâmpadas de LED com fotocélulas instaladas na área externa (fachadas, postes e balizadores externos) e nas salas de aula, que contam com sensores que desligam a iluminação quando estiverem vazias. Os ambientes também foram projetados para aproveitar ao máximo a ventilação natural e a luz do dia. Quando não for possível atender o conforto térmico naturalmente, o prédio aciona um sistema de climatização inteligente, capaz de atuar conforme a demanda de cada ambiente.

O edifício foi construído em sistema convencional de alvenaria. Para se habilitar à certificação LEED Platinum, a compra de materiais com baixa emissão de poluentes e a gestão do canteiro de obras foram primordiais. “O canteiro atingiu performances exemplares perante os critérios de certificação. Todos os materiais puderam ser reciclados, gerando o mínimo de impacto no entorno”, diz André Bollini. A execução da obra durou 18 meses. Projetada pelos arquitetos Eduardo Almeida e André Leite, a edificação tem 3.174,66 m² de área construída, com seis pavimentos. Ela está preparada para receber diariamente até 1.500 pessoas, entre alunos e funcionários do Senac.

Placas para captar energia solar vão suprir entre 30% e 50% do consumo do prédio
Placas para captar energia solar vão suprir entre 30% e 50% do consumo do prédio

Entrevistados
Engenheiro civil Ricardo Cansian, diretor da RAC Engenharia
Engenheiro eletricista André Belloni, gerente de projetos da Petinelli – Soluções em Green Building

Contatos
rac@raceng.com.br
info@petinelli.com

Crédito Fotos: André Sade/Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Em pleno século 21, marquises ainda caem. Por quê?

Erros de projeto, falta de manutenção e uso inadequado estão entre as principais causas que levam ao desabamento dessas estruturas

Por: Altair Santos

Marquise caída em Porto Alegre, em 2007: cidade é uma das mais vulneráveis a esse tipo de acidente
Marquise caída em Porto Alegre, em 2007: cidade é uma das mais vulneráveis a esse tipo de acidente

No Brasil, em pleno século 21, marquises ainda caem. Pior: fazem vítimas fatais. Em 2015, houve 15 casos registrados de marquises que desabaram no país – três delas com vítimas. A estatística pode ser maior, pois há casos que não são comunicados aos organismos de fiscalização. Neste ano, os acidentes não regrediram. Entre janeiro e julho aconteceram nove desabamentos de marquises construídas em concreto armado, causando cinco mortes e deixando três pessoas feridas.

As quedas acontecem indiscriminadamente, do sul ao norte do país. Mas em um estado o volume de quedas de marquises é maior: o Rio Grande do Sul. Só em 2016, houve dois desabamentos e três mortes. Em 25 de abril, em São Leopoldo, uma pessoa morreu e outra ficou ferida. Em 21 de julho, foram duas vítimas fatais em Porto Alegre. Neste acidente recente, o CREA-RS concluiu que houve sobrecarga na estrutura.

Segundo o professor Marcelo Medeiros, coordenador da pós-graduação em engenharia da construção civil da UFPR (Universidade Federal do Paraná), as principais causas que levam as marquises ao colapso estão relacionadas às seguintes possibilidades: deficiências de projeto, mau posicionamento das armaduras, corrosão de armaduras, sobrecarga e escoramento incorreto.

O engenheiro civil ainda lembra que dois problemas fundamentais fazem com que as marquises caiam. Um é conceitual: alguns especialistas as projetam como se fossem lajes. O outro está relacionado à manutenção. Segundo Marcelo Medeiros, marquises precisam ser constantemente avaliadas, o que dificilmente ocorre no Brasil. “Marquises fogem à regra de que o concreto avisa quando vai desabar. Elas simplesmente caem”, afirmou, em palestra no 1º Simpósio Paranaense de Patologia de Construções (SPPC).

Atenção especial

Marcelo Medeiros, da UFPR: marquises fogem à regra de que o concreto avisa quando vai desabar
Marcelo Medeiros, da UFPR: marquises fogem à regra de que o concreto avisa quando vai desabar

Marcelo Medeiros explica também que marquises são estruturas de concreto armado que precisam ter um olhar diferente. “Fica claro que é fundamental criar a conscientização de que uma marquise é um elemento de características diferenciadas em relação ao resto da estrutura e, por isso, deve ter atenção especial na fase de projeto, execução e uso. Além disso, um programa de manutenção preventiva é de extrema importância para qualquer estrutura de concreto armado e, no caso das marquises, muito mais, já que se trata de uma estrutura isostática e com um único vínculo que sofre ruptura brusca, sem aviso”, disse em artigo que escreveu em parceria com Maurício Grochoski, intitulado “Marquises: por que algumas caem?”, publicado na edição 46 da Revista Concreto.

O professor da UFPR ainda lembra em seu artigo que uma marquise consiste em um elemento estrutural que fica em contato com a edificação principal apenas pela região de engastamento. “Isto implica em uma característica, se não perigosa, no mínimo merecedora de atenção especial, seja no projeto, na execução e na conservação desta ao longo do tempo”, diz, complementando que o profissional para as vistorias periódicas de marquises não pode ser um simples engenheiro civil. “É preciso especialização e muita experiência na área de patologia e funcionamento estrutural do concreto armado”, finaliza.

Leia o artigo completo.

Entrevistado
Engenheiro civil Marcelo Medeiros
, professor e coordenador da pós-graduação em engenharia da construção civil da UFPR (Universidade Federal do Paraná)

Contato:
medeiros.ufpr@gmail.com

Crédito Fotos: Divulgação/PetCivil UFPR

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Obras irregulares geram prejuízo de R$ 31 bilhões

Tribunal de Contas da União mostra que boa parte dos problemas está relacionada a saneamento básico, obras rodoviárias e mobilidade urbana

Por: Altair Santos

VLT de Cuiabá: obra emblemática de desperdício de recursos públicos
VLT de Cuiabá: obra emblemática de desperdício de recursos públicos

Em seu mais recente relatório sobre obras irregulares no Brasil, o Tribunal de Contas da União (TCU) detectou 535 problemas em empreendimentos financiados com recursos do governo federal. Entre as irregularidades detectadas, há erros na execução de obras, processos licitatórios suspeitos, projeto básico ou executivo que não atende as exigências da obra, falta de formalização e descumprimento de convênios - no que se refere à contratação de mão de obra -, além de sobrepreço e superfaturamento, assim como falta de fiscalização pelos organismos técnicos.

Boa parte dos empreendimentos fiscalizados está vinculada a saneamento básico, obras rodoviárias e mobilidade urbana. Juntas, elas geraram prejuízo de R$ 31 bilhões à União. O documento do TCU, conhecido como Fiscobras, teve como relator o ministro Walton Alencar Rodrigues, que fez a seguinte constatação: “As auditorias abrangeram aproximadamente R$ 20,5 bilhões em dotações orçamentárias de 2015. No entanto, se for considerado o montante dos objetos auditados (editais, contratos e contratos de repasse), o volume de recursos fiscalizados no Fiscobras chega a R$ 31 bilhões.”

Nas falhas detectadas pelo TCU, encontram-se obras em que foram encontrados indícios de irregularidade grave, com recomendação de paralisação (IG-P), e indícios de irregularidade grave, com retenção parcial de valores (IG-R). No caso do IG-P, significa que o Congresso Nacional pode decidir pela suspensão da execução física, financeira e orçamentária de contratos, convênios ou editais de licitação no empreendimento em que se tenha identificado o problema. Segundo o Fiscobras, foram constatados indícios de irregularidades graves dos tipos IG-P e IG-R em 62,9% do total de obras fiscalizadas.

Quase nenhuma obra escapa

Rodovia do Parque, no Rio Grande Sul: já concluída, mas sob investigação
Rodovia do Parque, no Rio Grande do Sul: já concluída, mas sob investigação

Entre os empreendimentos que mereceram a indicação de paralisação pelo TCU, cinco se destacam: Vila Olímpica, em Parnaíba-PI (em construção); BR-448, no Rio Grande do Sul (Rodovia do Parque, já em operação); VLT de Cuiabá, no Mato Grosso, e corredor de ônibus da Radial Leste (trechos 1 e 3), na cidade de São Paulo-SP. Em outras quatro obras, os problemas foram classificados como IG-R: Canal do Sertão, em Alagoas; terminal fluvial de Barcelos, no Amazonas (em obras); Ferrovia Norte-Sul, no trecho que passa por Goiás (em construção) e refinaria Abreu e Lima, em Recife-PE (em construção).

Segundo o ministro-relator, nestas diligências o TCU detectou ainda o interesse em obtenção de benefício financeiro da ordem de R$ 872 milhões. As obras destacadas pelo relatório são: melhorias no aeroporto de Vitória-ES (R$ 140 milhões), dragagem do Porto de Paranaguá-PR (R$ 50 milhões) e melhorias no aeroporto de Macapá-AP (R$ 11 milhões). Com relação a essas investigações, o TCU informa que encaminhou as informações ao Congresso Nacional, e que mantém relatório público na internet. Essas informações podem ser acessadas pela opção “Obras Públicas”, no portal TCU (www.tcu.gov.br).

Entrevistado
Tribunal de Contas da União (TCU) (via assessoria de imprensa)
Contato: imprensa@tcu.gov.br

Crédito Fotos: Divulgação/TCU

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Retrofit se especializa para atender Norma de Desempenho

Apesar de a ABNT NBR 15575 exigir eficiência termoacústica apenas de edificações novas, construções antigas se beneficiam de suas referências

Por: Altair Santos

Mercado voltou-se para produzir produtos que atendem a norma, como as mantas acústicas
Mercado voltou-se para produzir produtos que atendem a norma, como as mantas acústicas

A Norma de Desempenho acrescentou um novo segmento ao mercado da construção civil: a de produtos voltados para atender a ABNT NBR 15575, quando o assunto é retrofit. Eles procuram se adequar a três dos principais pontos da norma, que são desempenho térmico, desempenho acústico e luminosidade. Vão de esquadrias para janelas, passando por portas, argamassas, tintas, mantas, pisos, luminárias e até papéis de parede.

Recentemente, o Labaut (Laboratório de Conforto Ambiental e Eficiência Energética da Universidade de São Paulo) realizou estudo sobre a qualidade destes produtos. A conclusão foi que alguns não cumprem significativamente o que prometem. A recomendação ao consumidor é que, ao adquirir materiais para retrofit, se observe os selos de qualidade e as certificações do produto.

Sobre este quesito, o engenheiro civil Carlos Borges, vice-presidente de tecnologia e qualidade do Secovi-SP, e que esteve à frente da coordenação da Norma de Desempenho em sua primeira fase, lembra ainda que, a partir da ABNT NBR 15575, os materiais e produtos passaram a ser obrigados a trazer informações sobre desempenho, a fim de que todos os profissionais vinculados à obra (projetistas, engenheiros e arquitetos) tenham como especificá-los, seja para uma construção nova ou para uma reforma.

Vantagens e riscos

Janelas com desempenho térmico e acústico também ajudam retrofit dentro da norma
Janelas com desempenho térmico e acústico também ajudam retrofit dentro da norma

No entanto, vale lembrar que a Norma de Desempenho não exige que edificações construídas antes de 19 de julho de 2013 - data em que entrou em vigor - atendam seus requisitos. Portanto, a decisão por reformas que busquem eficiência termoacústica ou ganhos de consumo de energia e de água deve ser, exclusivamente, dos usuários e dos arquitetos que irão viabilizar o retrofit. “O que pesa, neste caso, é o grau de exigência de quem habita a edificação e o desejo de requalificar o edifício dentro de conceitos de conforto e sustentabilidade”, diz o arquiteto Nelson Solano Vianna, especialista em retrofit predial e coordenador de um curso específico sobre o tema.

Por outro lado, reforça Carlos Borges, é salutar pensar em reformas dentro dos padrões exigidos pela Norma de Desempenho. “Edificações são organismos vivos que precisam de manutenção, e eventualmente reformas. Penso que adequar retrofit à norma é positivo, pois temos um acervo de um milhão e meio de edifícios no Brasil que já completou ou está completando cinquenta anos. Já imaginou ter de derrubá-los para construir novos prédios? Então, é de interesse da sociedade que as construções durem bastante e sejam readequadas aos padrões atuais de desempenho”, afirmou.

Estima-se que produtos com especificações para atender a Norma de Desempenho tenham custo entre 20% e 40% a mais do que os convencionais. Isto ocorre por que eles precisam passar por ensaios, que ainda custam caro no Brasil. Por outro lado, corre-se o risco de que fabricantes declarem que seus produtos cumprem a ABNT NBR 15575, mesmo que não tenham sido submetidos a ensaios. “Isso faz com que a prática de autodeclaração de desempenho ganhe espaço, o que é uma questão que considero extremamente perigosa”, alerta Luiz Henrique Ferreira, diretor da Inovatech Engenharia.

Portas estão entre os produtos que evoluíram significativamente após a publicação da norma
Portas estão entre os produtos que evoluíram significativamente após a publicação da norma

Entrevistados
- Laboratório de Conforto Ambiental e Eficiência Energética da Universidade de São Paulo
- Engenheiro civil Carlos Borges, presidente-executivo da construtora Tarjab e vice-presidente de tecnologia e qualidade do Secovi-SP
- Arquiteto Nelson Solano Vianna, diretor Geros Arquitetura e consultor em retrofit predial
- Engenheiro civil Luiz Henrique Ferreira, diretor da Inovatech Engenharia
Contatos
labaut@usp.br
secovi@secovi.com.br
geros@geros.com.br
www.inovatechengenharia.com.br

Crédito Fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Vai pintar concreto? Cuidado: escolha a tinta certa

Qualidade se mede pela capacidade de resistir à penetração de gases, que podem desencadear carbonatação e outras patologias na estrutura

Por: Altair Santos

Tintas de baixa qualidade descascam e podem contaminar blocos de concreto com fungos e bactérias
Tintas de baixa qualidade descascam e podem contaminar blocos de concreto com fungos e bactérias

Pintar o concreto é a forma mais fácil de proteger a estrutura de agressividades do ambiente, de raios ultravioletas e de patologias como a carbonatação. Mas é preciso cuidado com a composição química da tinta. O produto precisa ter boa resistência para bloquear a entrada de gases no concreto. É importante também se precaver contra tintas que possam carregar fungos e bactérias. Neste item, elas devem seguir a norma técnica publicada em maio de 2016: a ABNT NBR 16445 - Tintas para construção civil - Método para avaliação de desempenho de tintas para edificações não industriais - Detecção de bactérias redutoras de sulfato em tintas, vernizes e complementos.

A ABNT NBR 16445 deve ser aplicada em conjunto com a ABNT NBR 11702:2010, que foi revisada em 2011 e confirmada em 2014. Ela estabelece a classificação dos tipos de produtos empregados nas pinturas de edificações não-industriais. O objetivo básico destas normas é minimizar o risco de que tintas vendidas no mercado possam carregar bactérias redutoras de sulfato (BRS), as quais são muito danosas - principalmente, quando em contato direto com blocos de concreto ou com o concreto aparente. Em paredes ou pisos com esses materiais, o recomendável é que só sejam aplicadas demãos de tinta quando a argamassa ou o concreto tenham atingido 28 dias de cura.

Parede interna em concreto aparente só deve receber pintura se estiver livre de umidade
Parede interna em concreto aparente só deve receber pintura se estiver livre de umidade

Segundo os membros do CB 164 - Comitê de Tintas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – é preciso também estar atento à meteorologia para manusear tintas. Sol em excesso, umidade e ventos fortes são fatores que influenciam no resultado final da pintura. Após um período chuvoso, por exemplo, é necessário aguardar pelo menos três dias de estiagem para que a umidade absorvida pela alvenaria evapore. No caso do concreto aparente, recomenda-se de cinco dias a uma semana de espera. Por outro lado, quando há forte incidência da luz solar, o solvente pode evaporar rapidamente e prejudicar a cura da tinta na parede.

Verniz requer cuidados especiais
No caso de tintas específicas para concreto, é recomendado realizar ensaio para ver se o produto é resistente à penetração de gases agressivos, principalmente se a opção são os vernizes. O motivo é que os vernizes se deterioram mais rapidamente que as tintas. Por isso, quanto mais ricos em resina maior a resistência à penetração de gases. As resinas, principalmente em revestimentos sobre o concreto, ajudam substancialmente na resistência à alcalinidade e aos raios ultravioletas. Mas o CB 164 faz a seguinte observação: recomenda-se que o concreto seja pintado e não envernizado, e que a tinta tenha garantia mínima de cinco anos e expectativa de vida de dez anos.

Se a opção for pelo verniz sobre concreto aparente, sugere-se que a pintura seja renovada de três em três anos. Se não houver a renovação neste período, muito provavelmente deixarão de exercer a função protetora, expondo a estrutura a fenômenos patológicos. Principalmente, se a espessura do recobrimento da armadura estiver abaixo do limite pedido pelas normas técnicas. Então, conclui-se: para envernizar concreto, o recobrimento deve ter ampla margem de segurança.

Verniz deteriora mais rápido que tintas, o que requer uma rotina de manutenção diferente
Verniz deteriora mais rápido que tintas, o que requer uma rotina de manutenção diferente

Entrevistado
CB 164 (Comitê de Tintas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
Contato: cb164@abnt.org.br

Crédito Fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Novo Canal do Panamá deixa mercado naval mais competitivo

Expansão da principal hidrovia do mundo agora permite que embarcações de grande calado trafeguem entre o Atlântico e o Pacífico

Por: Altair Santos

Inaugurado em 26 de junho de 2016, o novo Canal do Panamá duplica a capacidade da hidrovia que liga os oceanos Atlântico e Pacífico. O alargamento, que custou US$ 25,5 bilhões (cerca de R$ 90 bilhões), agora pode receber navios de até 14 mil TEUs (unidade usada para medir a capacidade de contêineres). O canal tende a aumentar a competitividade da marinha mercante, principalmente em países que possuem embarcações de grande calado. Estados Unidos e China saem na frente neste quesito. Por outro lado, prejudica quem não tiver portos preparados para receber os supernavios, que tendem a dominar a travessia Atlântico-Pacífico.

Navio de contêineres vindo da Grécia, e em direção à China, foi o 1º a passar pelo novo Canal do Panamá
Navio de contêineres vindo da Grécia, e em direção à China, foi o 1º a passar pelo novo Canal do Panamá

O Brasil poderia ter se preparado para a nova realidade do comércio marítimo se tivesse adequado seus portos em Manaus-AM e Suape-PE - os que se encontram mais próximos do Canal do Panamá - para servir como terminais de contêineres. Além disso, o país também não transformou nenhum de seus portos na região nordeste para funcionar como um hub (concentrador de cargas) no Atlântico. Seria estratégico para a economia brasileira servir de entreposto para as embarcações conhecidas como New Panamax - superiores a 350 metros de comprimento. Mesmo assim, a nova hidrovia tende a aumentar a competitividade dos portos no norte e nordeste do Brasil.

Segundo a autoridade portuária do Canal do Panamá, o argelino Moreno De Ducreux, a obra vai mexer com a infraestrutura de boa parte dos países. "As companhias marítimas, as instalações portuárias, as linhas férreas e os centros de distribuição de diferentes regiões terão de se readaptar para tirar proveito dos navios maiores e mais eficientes que passarão a navegar entre o Atlântico e o Pacífico. Estamos falando de embarcações com, no mínimo, 9.000 TEUs", alerta Ducreux.

Números superlativos
Para poder receber navios de grande porte, o Canal do Panamá passou seis anos em obras. O consórcio responsável pela expansão da hidrovia envolveu a espanhola Sacyr, a italiana Salini Impregilo, a belga Jan de Nul e a panamenha Cusa. Foram consumidos na ampliação da via interoceânica 4,5 milhões de m³ de concreto e 220 mil toneladas de aço. A expectativa é de que passem pelo canal 600 milhões de toneladas de mercadorias por ano, o equivalente a 5% do comércio mundial. Pela ordem, os países que mais devem se beneficiar do canal são Estados Unidos, China, Japão, Colômbia, Coreia do Sul, Peru, México, Equador, Canadá e Panamá.

No dia da inauguração do novo Canal do Panamá, o primeiro navio a cruzar a via foi o chinês COSCO Shipping Panamá. A embarcação, com 299,98 metros de comprimento e 48,25 metros de largura, tem capacidade de carga 9.472 TEUs. Após sair do porto de Pireus, na Grécia, ela levou 14 dias para chegar ao Panamá. Na passagem do navio, o CEO da Autoridade do Canal do Panamá - estatal que controla a travessia -, Jorge L. Quijano, declarou que a nova via começava a operar com o pedido de 170 navios para cruzar de um oceano a outro. “Há mais de 100 anos, o Canal do Panamá ligava o Atlântico e o Pacífico. Hoje, conecta o presente ao futuro”, discursou.

Entrevistado
Autoridade do Canal de Panamá (via departamento de comunicação)
Contato: info@pancanal.com

Crédito Foto: Divulgação/Pancanal

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Setor da construção civil começa a dar sinais de reação

Indicadores apontam para retomada da confiança dos empresários a partir deste semestre, caso governo federal tome as medidas certas

Por: Altair Santos

Lentamente, a cadeia produtiva da construção civil começa a dar sinais de recuperação. A expectativa dos principais agentes do setor é de que haja um impulso maior neste segundo semestre de 2016, para que se consolide um viés de alta em 2017. Segundo o mais recente termômetro da ABRAMAT (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), existem expectativas positivas, mas com ressalvas. “Apesar da evolução no humor dos empresários, a realidade das vendas ainda aguarda melhoras. Quem sabe, em julho, haja a consolidação de números positivos”, afirma Walter Cover, presidente da associação.

Estimular a abertura de canteiros de obras é uma das estratégias para combater o desemprego
Estimular a abertura de canteiros de obras é uma das estratégias para combater o desemprego

O termômetro da ABRAMAT mostra que 54% dos empreendedores das indústrias de materiais de construção afirmam pretender realizar investimentos nos próximos 12 meses. A pesquisa também indica que 23% dos empresários estão otimistas com os sinais emitidos pelo governo federal para o setor da construção civil. Isso, ressalta a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), implica no resgate da credibilidade do país e no controle e qualificação dos gastos públicos “São passos que permitirão recuperar a capacidade de investimento”, diz o presidente da CBIC, José Carlos Martins.

O presidente da ABRAMAT lembra que é preciso também pensar em soluções para o comércio de materiais de construção. “O desemprego e o medo do desemprego têm postergado reformas nas moradias, responsável por 50% do consumo de materiais de construção. A indústria do setor requer uma política para estimular esse mercado. Já o segmento das construtoras depende de crédito imobiliário em condições favoráveis e de um programa consistente de obras para infraestrutura”, afirma, já fazendo o alerta: “Mesmo com esses incrementos não voltaremos tão cedo ao ritmo de atividade do passado recente (período 2009-2014)”.

Alternativas viáveis
No entanto, não dá para ficar parado. Voltar a crescer, ainda que minimamente, é fundamental. Por isso, Walter Cover afirma que a ABRAMAT vem realizando reuniões com organismos governamentais, em particular com a Caixa Econômica Federal e com o comitê gestor do FGTS, para reestimular o crédito. Esses encontros têm trazido resultados. Recentemente, a Caixa Econômica ampliou o limite de financiamento de R$ 1,5 milhão para R$ 3 milhões nas operações de crédito do Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), válido a partir de 25 de julho de 2016. Essa modalidade financia imóveis sem emprestar dinheiro do FGTS.

A Caixa também está prestes a fomentar o crédito para obras menores. A intenção do governo federal é anunciar, em breve, um pacote de medidas que reaqueçam o varejo da construção civil. Entre elas, o lançamento de um cartão que vai disponibilizar R$ 5.000 de saldo para famílias que recebem até R$ 1.600 por mês. Os recursos poderão ser usados para pequenas reformas, sendo possível sacar para pagar a mão de obra e comprar material diretamente na loja de construção. “São medidas ainda tímidas, mas que começam a movimentar o mercado. O importante é sair da inércia”, avalia Walter Cover.

Entrevistados
Walter Cover, engenheiro agrônomo, Ph.D em economia agrícola e presidente da ABRAMAT (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção)
Engenheiro civil José Carlos Rodrigues Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)

Contatos
abramat@abramat.org.br
comunica@cbic.org.br

Crédito Foto: Dênio Simões/ Agência Brasília

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Por qualidade de vida, novo engenheiro quer empreender

Pesquisa em 16 países revela que conceitos como startups, compartilhamento de ideias e bem social formam novo perfil dos profissionais

Por: Altair Santos

Pesquisa global com novos engenheiros de 16 países, incluindo o Brasil, mostra que a geração de 18 anos a 34 anos está mais disposta a empreender do que a buscar empregos convencionais dentro do setor. Boa parte dos entrevistados pensa em atuar em startups, trabalhando com inovações em suas áreas, seja qual for o ramo da engenharia. Eles buscam empreender em pesquisa e colocar no mercado produtos que ajudem a transformar o ambiente em que vivem. Além disso, não abrem mão da qualidade de vida quando o assunto é conciliar trabalho com vida pessoal.

Pesquisa revela vocação de novos engenheiros em empreender
Pesquisa revela vocação de novos engenheiros em empreender

Chamada de “Sage’s Walk With Me”, a pesquisa foi encomendada pela britânica Sage, que atua mundialmente no segmento de contabilidade integrada, controle de folha de pagamento e recursos humanos. No levantamento, foram detectados cinco perfis de novos engenheiros-empreendedores, assim divididos:

• Planejadores
Extremamente metódicos na forma de trabalhar gostam de planejar cuidadosamente todos os passos para o sucesso. São ambiciosos, nunca tomam nada pelo valor da aparência e costumam ser questionadores.
• Técnicos
Amam seus trabalhos e não suportam a ideia de ficar sem nada para fazer. Confiam no poder e na eficiência da tecnologia para estar sempre um passo à frente da concorrência. Acreditam em sua capacidade de manter e de conquistar novos clientes.
• Exploradores instintivos
Amam o desconhecido e adoram explorar novos territórios. Confiam em seus instintos e nas “armas” que possuem. Valorizam a imagem moderna que transparecem, assim como o legado que esperam deixar.
• Realistas
Engenhosos, mas costumam atrelar o sucesso dos negócios à tecnologia e não a eles mesmos. Alternam a tomada de decisões entre se deixar levar pelo instinto e por assumir abordagens mais técnicas.
• Caçadores de emoção
Como se entediam facilmente, estão sempre em busca do próximo desafio e não se importam com as aparências. Trabalham melhor na companhia de outras pessoas e acreditam que a ideia de causar um “impacto social” é superestimada.

Foram ouvidos 7.400 engenheiros com vocação para o empreendedorismo. Uma das principais tendências mostradas pelo estudo é o desejo de fazer a diferença. Proporcionar um “bem social” é especialmente importante para os entrevistados no Brasil (81%) e na África do Sul (80%). Para os pesquisados na Suíça (24%), Austrália (20%) e França (19%), a felicidade dos empregados é um fator de motivação, enquanto 34% dizem que começaram um negócio no intuito de serem donos de seus próprios destinos.

Futuros líderes empresariais
Abrir mais de um negócio próprio é o desejo de 62% dos entrevistados. Desse total, 52% dizem que devem empreender mais vezes, pois têm muitas ideias que querem compartilhar. “O Brasil se destaca nesse quesito. Por aqui, os jovens estão descobrindo o empreendedorismo cada vez mais cedo e 72% dos entrevistados declararam que já têm planos de serem donos de pelo menos duas empresas. Eles anseiam em poder transformar suas ideias em realidade, e em serem seus próprios chefes”, diz Jorge Santos Carneiro, presidente da Sage no Brasil.

Foram entrevistados profissionais em início de carreira nos seguintes países: Brasil, África do Sul, Estados Unidos, Cingapura, Espanha, Portugal, França, Suíça, Austrália, Bélgica, Nigéria, Polônia, Alemanha, Canadá, Inglaterra e País de Gales. Segundo Stephen Kelly, CEO da Sage, o objetivo da pesquisa é procurar entender como pensa a futura geração de líderes empresariais. “Os dados coletados são importantes para quem quer fazer negócios com esses jovens empreendedores, comprar deles, contratá-los ou criar políticas para ajudá-los a crescer”, afirma.

No levantamento, as respostas que obtiveram os maiores percentuais foram:
•61% dos 7.400 entrevistados globalmente disseram que podem sacrificar o lucro da empresa para se manter fiéis aos próprios valores. Essa realidade é ainda maior entre os ouvidos na África do Sul, onde 78% concordaram com a pergunta estimulada. Nos Estados Unidos, a pergunta foi opção de 70% dos entrevistados e em Cingapura de 72% dos entrevistados.
•66% dos 7.400 entrevistados globalmente marcaram que a vida pessoal vem antes do trabalho. A afirmação é ainda mais relevante para entrevistados da Espanha, onde 79% concordaram com a pergunta estimulada. Em Portugal, a pergunta foi opção de 75% dos entrevistados e na França de 65% dos entrevistados.
•Entre os 7.400 entrevistados globalmente, um em cada três (34%) é movido pelo desejo de ser dono do seu próprio destino, à frente do anseio em ganhar dinheiro (21%).

Acesse o conteúdo completo da pesquisa (em inglês).

Entrevistados
Stephen Kelly, CEO da Sage Global e Jorge Santos Carneiro, presidente da Sage no Brasil
Contatos
imprensa@sage.com.br
www.sage.com

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Inconcluso, novo metrô será testado nos Jogos Olímpicos

Mais importante obra de mobilidade para a cidade do Rio de Janeiro era para ter sido entregue há 16 meses, e a um custo de R$ 5 bilhões

Por: Altair Santos

A Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro, obra estratégica para os Jogos Olímpicos, entra em operação dia 1º de agosto, mas sem estar concluída. A estação da Gávea, por exemplo, só ficará pronta no primeiro semestre de 2018. Além disso, o período de testes do trecho de 16 quilômetros, que engloba as cinco estações recentemente concluídas (Nossa Senhora da Paz, Jardim de Alah, Antero de Quental, São Conrado e Jardim Oceânico), vai ocorrer durante o evento.

Seis composições, com seis vagões cada uma, vão atuar no período olímpico: 11 mil passageiros por hora
Seis composições, com seis vagões cada uma, vão atuar no período olímpico: 11 mil passageiros por hora

O planejamento inicial previa que a obra seria concluída 16 meses antes das Olimpíadas, e que seria testada sem passageiros por 12 meses. Por conta do cronograma atrasado, os testes começaram dia 1º de junho de 2016, no período da madrugada, e irão até o dia 31 de julho de 2016. A partir do dia 1º de agosto de 2016, e no período olímpico (de 5 a 21 de agosto de 2016), o metrô só estará acessível para quem tiver ingressos ou credenciais. Serão seis composições, cada uma com seis vagões, com capacidade para transportar 11 mil passageiros por hora, em cada um dos sentidos.

Após os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, em setembro, a Linha 4 voltará a ser fechada para receber os ajustes finais, e só deve ser plenamente liberada no começo de 2017. A previsão é que o modal transporte 300 mil passageiros por dia. Recente relatório do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) julgou temerário esse procedimento de testes com passageiros no período olímpico, principalmente pelo histórico de obras que apresentaram problemas logo após terem sido inauguradas.

Diz o relatório do TCE-RJ: “É preciso cautela, lembrando o que aconteceu com algumas obras do legado olímpico: os buracos que surgiram na pista do novo Joá (túnel) apenas dez dias depois da inauguração; a queda de um trecho da ciclovia Tim Maia, em 21 de abril, e que provocou a morte de duas pessoas, além das falhas na geração de energia para o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), o que deixou dezenas de passageiros a pé.”

Estação Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca: ponto final do eixo olímpico
Estação Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca: ponto final do eixo olímpico

Custo superior a R$ 10 bilhões

A secretaria de transportes do Estado do Rio de Janeiro rebate a preocupação do TCE-RJ. “A fase de testes ocorreu durante as madrugadas dos meses de junho e julho, em paralelo à conclusão das obras. Já a etapa atual, com “marcha em branco” (simulação da operação sem passageiros), é utilizada para o treinamento da equipe de profissionais, a checagem de tempo do percurso entre as estações, a abertura e fechamento de portas e a aceleração dos trens. Para esses procedimentos, a gestão da Linha 4 usou a mais rigorosa norma técnica de segurança para funcionamento de metrô no mundo: a NFPA-130”, conclui a nota.

A NFPA-130, que ganhará uma nova versão em 2017, define que antes de uma linha de metrô entrar em operação ela precisa passar pelas seguintes averiguações, com as composições em funcionamento, e sem passageiros: bitola dos trilhos; risco de estrangulamento na entrada das estações; sistema de freios automáticos; sinalização da via; energia da linha férrea; energia das estações e energia das composições; cruzamentos X e Y dos trilhos; sistema de ventilação; elevadores, escadas rolantes, iluminação, bilheterias, catracas, sistema de alto-falantes, situações de pânico e emergência; saídas de emergência, baldeação e testes de oferta, além de demanda para não superlotar o metrô.

Orçada inicialmente em R$ 5 bilhões, a Linha 4 do Metrô do Rio chegou ao custo de R$ 9,77 bilhões, dos quais R$ 6,6 bilhões foram financiados pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em junho de 2016, o Estado do Rio de Janeiro precisou levantar mais R$ 989 milhões para concluir a obra no trajeto olímpico e reservar mais R$ 500 milhões para continuar as obras do trecho da estação da Gávea. Apesar de todos os recursos disponíveis, mesmo assim as obras atrasaram cerca de um ano e meio.

Testes da Linha 4 deveriam iniciar há 12 meses, mas só começaram em junho de 2016
Testes da Linha 4 deveriam iniciar há 12 meses, mas só começaram em junho de 2016

Veja vídeo do teste da Linha 4 do Metrô do Rio

Entrevistados
Secretaria de transportes do Estado do Rio de Janeiro e Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) (via assessorias de imprensa)

Contatos
transportes.imprensa@gmail.com
ouvidoria@tce.rj.gov.br

Créditos Fotos: Henrique Freire/Ascom Secretaria de Transportes RJ/

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330