Surge um novo nicho de mercado: o agroconcreto
Agricultores investem em pequenas concreteiras móveis para atender demanda de até 100 m³/dia, em regiões em que as betoneiras não chegam
Por: Altair Santos
O agronegócio brasileiro desconhece a crise e cresce a taxas anuais superiores à mundial. Segundo dados da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), através de seu Deagro (departamento de agronegócios), a produção de arroz, feijão, trigo, milho, café, carnes, laticínios, ovos, soja, algodão e açúcar levará o país a deter mais de 50% do mercado mundial até 2023. Para dar sustentação a esse crescimento, os empresários do setor investem em infraestrutura – na maioria das vezes, por conta própria.
São silos, galpões, pavimentação de pequenos trechos de estrada, barragens, alojamentos, residências, enfim, obras que precisam de concreto. Ao mesmo tempo, o setor é carente de fornecedores do material. Nem todas as áreas rurais possuem concreteiras disponíveis. Por isso, alguns empreendedores do setor decidiram investir no agroconcreto, ou seja, vêm comprando minicentrais, com capacidade de até 100 m³/dia, a fim de suprir suas demandas por concreto e fornecer material para outros empreendimentos no entorno.
O empreendedor Ronaldo Coutinho, da cidade de Mutum, na região leste de Minas Gerais, é um exemplo. Ele adquiriu uma minicentral e fornece concreto em um raio de 80 quilômetros. Seus principais clientes são produtores de café. A maior demanda dos cafeeiros é por áreas planas (radier de concreto) para a secagem dos grãos. Segundo Coutinho, que também fornece material para pequenos construtores da região, o agroconcreto responde por 20% de sua produção mensal.
Este nicho de mercado tem se mostrado tão atrativo, que fabricantes de equipamentos decidiram projetar máquinas especialmente para atender o fornecimento de concreto para o agronegócio. Na mais recente edição do Concrete Show, realizada no final de agosto, na cidade de São Paulo-SP, uma parte da feira foi dedicada exclusivamente para o agroconcreto. O setor tem se revelado tão atraente, que até indústrias estrangeiras se instalaram no país para atender o mercado. A italiana Fiori é uma delas.
A fabricante apresentou ao mercado brasileiro o CBV (Concrete Batching Vehicle). Trata-se de um equipamento que é uma central sobre rodas. Com tração 4 x 4, ele pode trafegar em qualquer terreno. Além disso, carrega um minilaboratório a bordo, que possibilita pesar e medir todos os materiais componentes (brita, areia, cimento, água e aditivos). Segundo o fabricante, a máquina tem capacidade para fazer 20 tipos diferentes de concreto. Com vários tamanhos de balão, ela pode produzir de 1,1 m³ até 5,5 m³ por batelada.
Pré-fabricados
Além de movimentar o setor de equipamentos, o agroconcreto estimula também o mercado de pré-fabricados à base de cimento. São vários os artefatos consumidos atualmente por fazendas e sítios. De postes, que substituem os palanques de madeira, a estruturas para erguer galpões.
Segundo o mais recente anuário da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada do Concreto), 12,5% dos associados indicaram crescimento na produção. Parte destes indicadores positivos veio das indústrias localizadas no interior dos estados das regiões sul e sudeste do país, e que aproveitaram as oportunidades geradas pela nova fronteira da construção pré-fabricada: o agronegócio.
Entrevistados
- Deagro (Departamento de Agronegócios) da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) (via assessoria de imprensa
- Fiori Group (expositor na Concrete Show)
- ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada do Concreto)
Contatos
deagro@fiesp.org.br
abcic@abcic.org.br
fioridobrasil@fioridobrasil.com.br
Crédito Fotos: Divulgação/CETCAF
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Após quase 30 anos, norma de vento entra em revisão
ABNT NBR 6123 foi publicada em 1988. De lá para cá, Brasil passou a conviver com fenômenos meteorológicos que exigem sistemas mais eficientes
Por: Altair Santos
A ABNT NBR 6123 - Forças devidas ao vento em edificações - é reconhecida por projetistas e engenheiros como uma norma bem concebida. Tanto que foi publicada em 1988 e, desde então, passou apenas por um processo de revisão de texto. Seus conceitos se mantêm intactos e servindo de referência para projetos e ensaios em túneis de vento. “Apesar de ela ter uma edição já considerada antiga, é uma das mais completas do mundo. Mas, obviamente, precisa de atualização, agregando os conhecimentos que foram adquiridos nestes quase 30 anos”, cita o professor do departamento de engenharia civil e coordenador do Laboratório de Aerodinâmica das Construções (LAC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Acir Mércio Loredo Souza.
O especialista palestrou na edição 2016 do Concrete Show, realizado recentemente na cidade de São Paulo. Nomeado coordenador da comissão encarregada de revisar a ABNT NBR 6123, o professor da UFRGS cita que um dos pontos cruciais a ser analisado está relacionado às referências de velocidade dos ventos nas regiões brasileiras. “Existe um mapa que fornece as velocidades referenciais, mas ele é dos anos 1970. Atualmente, há mais informações para atualizar esse mapa, incluindo boas evidências técnicas”, diz Acir Mércio Loredo Souza. Mais especificamente, o que precisa ser atualizado são as chamadas isopletas, que definem as linhas de velocidade dos ventos, e que, no mapa, são medidas em metros por segundo (m/s). Suas linhas lembram as de um mapa topográfico.
Instalação será dia 6 de outubro
A atualização desses dados fornece subsídios mais precisos para calculistas e para os laboratórios que promovem ensaios em túneis de vento. Por isso, os engenheiros-projetistas têm tanto interesse na revisão da ABNT NBR 6123, cuja comissão será instalada oficialmente dia 6 de outubro e estará sob a supervisão do Comitê Brasileiro da Construção Civil, o CB-2. Já houve reuniões preliminares e Acir Mércio Loredo Souza afirma que o objetivo é fazer um trabalho criterioso para demonstrar que a velocidade dos ventos deve ser respeitada para se projetar edificações com segurança. O professor lembra ainda que, além da velocidade, a aerodinâmica dos prédios e as cargas de vento que eles irão receber são fundamentais para o sucesso do projeto.
Em sua palestra no Concrete Show, o especialista lembrou que as mudanças climáticas tornam o Brasil cada vez mais suscetível a ciclones extratropicais e a tormentas TS (Thunderstorms), que podem evoluir para tornados. Ele citou como exemplo o ciclone Catarina, que em 2004 atingiu os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e o fenômeno que atingiu Porto Alegre e a região metropolitana da capital gaúcha, em janeiro de 2016. Também relembrou o prédio de 37 pavimentos que estava em construção em Belém-PA, em 2011, e que sofreu colapso de suas estruturas por que não foi levado em consideração o carregamento do vento em seu projeto. “Esses novos parâmetros passam a exigir sistemas mais eficientes, não apenas para estruturas, mas para fachadas e esquadrias. O importante é que a maioria dos acidentes causados pelo vento pode ser prevenida já na fase de projeto”, garante.
Entrevistado
Acir Mércio Loredo Souza, mestre e doutor em engenharia, professor do departamento de engenharia civil e coordenador do LAC (Laboratório de Aerodinâmica das Construções da Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Contato
acir@ufrgs.br
Crédito Foto: Divulgação/Cia. Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Obras na serra do Cafezal entram na reta final
Até o final de 2016, 22 dos 30 quilômetros estarão liberados para o tráfego de veículos, incluindo cinco viadutos e três túneis
Por: Altair Santos
Até o final de 2016 restarão oito quilômetros para que o trecho da BR-116, conhecido como rodovia Régis Bittencourt , esteja 100% duplicado e liberado para o tráfego. O traçado de 402 quilômetros, que liga as cidades de São Paulo e Curitiba, finaliza sua etapa mais complexa. Isso envolve a construção de quatro túneis e 24 viadutos, cortando a região conhecida como serra do Cafezal. O maior volume de obras concentra-se entre os quilômetros 348 e 361,5. Atualmente, todos os lotes contratados estão em execução.
Havia a expectativa de que um novo trecho de 4,5 quilômetros, envolvendo a liberação de três túneis e cinco viadutos, fosse autorizado para receber tráfego de veículos no começo do segundo semestre de 2016, mas, segundo a concessionária Auto Pista Regis Bittencourt, do grupo Arteris, houve atraso nas etapas de pavimentação, sinalização e iluminação dos túneis, o que protelou a abertura do trecho para outubro ou novembro. “Os três túneis já estão vazados e em fase final, ou seja, a etapa mais difícil da obra foi superada”, diz o engenheiro civil Eneo Pallazzi, diretor-superintendente da concessionária.
Atualmente, os canteiros de obras instalados ao longo dos 13,5 quilômetros que faltam ser duplicados na Serra do Cafezal, contam com um contingente de 1.500 trabalhadores. A maior concentração de frentes de obras está nos lotes 4 e 5, com serviços de terraplanagem para abertura das novas pistas, drenagem profunda (bueiros e galerias), revestimentos vegetais de taludes de cortes e aterros (encostas) e pavimentação. Nestes lotes, estão sendo construídos 19 viadutos, com execução de infraestrutura, mesoestrutura e superestrutura.
As fundações dos viadutos usam tubulões com base alargada e estacas raiz, por causa da impossibilidade de acesso de equipamentos de grande porte. Os pilares são erguidos como prolongamento dos tubulões de fundação. As vigas longarinas de concreto são moldadas “in loco” e apoiadas em cimbramento metálico. Os tabuleiros também têm as lajes moldadas “in loco” ou executados com vigas transversais e placas, ambas pré-moldadas, montadas por um guindaste de pequeno porte.
Conclusão em 2017
De acordo com o engenheiro Eneo Pallazzi, o modelo de construção das fundações atendeu exigentes restrições impostas pelas licenças ambientais. Por isso, tiveram que ser executadas praticamente de forma manual. “Tecnicamente é a melhor fundação que existe, pois é possível contar com um exame técnico de um engenheiro, de um geotécnico, ou de um prático, que vai constatar efetivamente ‘in loco’ a condição de suporte da base do tubulão. Com a escavação mecânica corre-se o risco de sobrar resíduos no fundo”, avalia.
Para construir os quatro túneis, a concessionária Auto Pista Régis Bittencourt também precisou atender restrições ambientais. Só podia ser escavado um volume de terra e rocha na ordem de 700 mil m³. Para cumprir as limitações do projeto, optou-se pelo sistema convencional NATM (New Austrian Tunnelling Method). A soma de todos os túneis tem uma extensão de 1.800 metros. “O túnel, apesar de ser bem mais caro que outras soluções convencionais, permite traçados mais convenientes. Isso resulta em um impacto ambiental menor”, resume Eneo Pallazzi.
Dos nove trechos da obra, os quatro maiores estão em fase final de execução. Isso representa 70% da duplicação. Os lotes 1, 2, 8 e 9 já estão em operação, e compreendem as duas extremidades da serra do Cafezal. O empreendimento está em curso desde 2010 e já foram concluídos 22 quilômetros de pista nova (17,5 quilômetros liberados para o tráfego). O trecho total engloba 30 quilômetros e a expectativa é de que esteja 100% concluído no segundo semestre de 2017.
Entrevistado
Engenheiro civil Eneo Pallazzi, diretor-superintendente da concessionária Auto Pista Regis Bittencourt
Contato
autopistaregis@autopistaregis.com.br
Créditos Fotos: Arteris
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Em 2025, construção civil voltará a patamares de 2014
Impactos da crise fizeram números do setor andar para trás, revela estudo encomendado pela ABRAMAT para a Fundação Getúlio Vargas
Por: Altair Santos
A crise econômica que se instalou no Brasil a partir de 2014, e que repercutiu fortemente na construção civil nacional, levará mais nove anos para que seus efeitos sejam zerados. Ou seja, apenas em 2025 é que o setor voltará a registrar números semelhantes aos de 2014. É o que aponta o estudo “cenários para a indústria brasileira de materiais de construção (2016-2025)”, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e encomendado pela ABRAMAT (Associação Brasileira da Indústria dos Materiais de Construção).
Para o presidente da ABRAMAT, Walter Cover, ”o material deverá ser útil no planejamento estratégico das empresas associadas e mesmo na definição de políticas comerciais e de investimento para o futuro próximo”. Em seu conteúdo, o estudo avalia que o PIB da construção voltará a crescer positivamente, e acima do PIB nacional, a partir de 2017. A FGV estima que, enquanto o Produto Interno Bruto do país crescer na média de 2,4%, no período 2017-2025, o da construção será de 3,7% - também na média.
Alicerçado em tendências, o conjunto de dados da FGV detecta que o volume de obras de infraestrutura poderá sobrepor-se ao de empreendimentos imobiliários. O cenário se baseia nas demandas detectadas recentemente pelo governo federal, de que o Brasil tem potencial para gerar negócios na ordem de R$ 269 bilhões, relacionados a projetos estruturantes. Esse montante de recursos foi apresentado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a investidores chineses.
Crescimento sustentável
Os cálculos do ministro se baseiam em projeções de 2016 a 2019, e envolvem empreendimentos nas áreas de petróleo e gás, energia elétrica, telecomunicações, transporte, estradas, saneamento, estradas de ferro, aeroportos e mobilidade urbana e portos. “Essa é uma previsão de crescimento substancial. É importante mencionar que o investimento foi o primeiro setor da atividade econômica que reagiu, porque há um sinal claro de que a economia brasileira está crescendo”, disse, em visita aos chineses nos primeiros dias de setembro.
Ainda que as obras de infraestrutura tendam a ser protagonistas até 2025, o segmento não vai ser o que mais irá gerar empregos. Pelos dados da FGV, daqui a nove anos 805 mil trabalhadores estarão atuando na área. Já o segmento de obras imobiliárias tende a chegar em 2025 empregando 2,7 milhões. A mesma projeção estima que toda a cadeia produtiva da construção civil voltará a empregar 3,5 milhões de pessoas em 2015 - mesmo número de 2014.
O lado positivo da análise é que ela conclui que os erros cometidos no período expansionista, de 2007 a 2014, foram plenamente entendidos pelo setor. Isso significa - avalia a FGV - que a construção civil brasileira estaria apta para imprimir um crescimento sustentável a partir de 2017. Feita a lição de casa, o estudo entende que o PIB do setor tem condições de crescer 4,5% ao ano, puxando a taxa de empregabilidade e a produção de materiais de construção, que se expandiria a uma taxa de 3,2%/ano para produtos de base (cimento, areia, cal, blocos de alvenaria e concreto) e de 3,85/ano para os acabamentos.
Entrevistado
Pesquisadores do FGV Projetos: Robson Gonçalves, Ana Maria Castelo, Ana Paula Ramos, Andréa de Paiva, Marco Brancher, Renata Michalani e Roberto Aragão
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robson.goncalves@fgv.br
Crédito Foto: Roman Milert/Fotolia
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Tombamento de obras de Niemeyer busca preservá-las
Reconhecidos pelo IPHAN, prédios também recebem a chancela da Unesco. Porém, títulos de patrimônio da humanidade não impedem patologias
Por: Altair Santos
Em 2007, no ano de seu centenário, Oscar Niemeyer encaminhou uma lista de 24 obras - escolhidas por ele - que deveriam ser tombadas pelo IPHAN (Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Além de emblemáticas, as construções despertavam uma preocupação no arquiteto: a necessidade de que precisariam ser urgentemente submetidas a obras de manutenção. Passados quase 10 anos, o IPHAN acelera esse tombamento para viabilizar a restauração de algumas edificações. Porém, a maioria dos prédios indicados por Niemeyer segue desprotegida.
Da lista organizada por Oscar Niemeyer, o primeiro tombamento envolveu o conjunto arquitetônico e paisagístico da Pampulha, ocorrido em 2007. O complexo localizado em Belo Horizonte-MG também foi tombado recentemente pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). O reconhecimento ocorreu em julho de 2016, mas há exigências para que o título seja mantido. A prefeitura de Belo Horizonte comprometeu-se com a demolição de obras anexadas ao conjunto - e que não estavam no projeto original -, além de restaurar os prédios e despoluir a Lagoa da Pampulha. O prazo dado pela Unesco é de três anos.
Em maio de 2016, o IPHAN tombou mais três obras de Oscar Niemeyer: o Museu de Arte Contemporânea de Niterói e a Passarela do Samba, ambas no estado do Rio de Janeiro, além do Parque do Ibirapuera, na cidade de São Paulo. Entre esses empreendimentos, o complexo do Ibirapuera é uma das obras mais conservadas da arquitetura de Oscar Niemeyer. Inaugurado em 1954, foi erguido para marcar as comemorações dos 400 anos de fundação da capital paulista. O sambódromo carioca também apresenta boa preservação, principalmente depois das reformas a que foi submetido, por causa dos jogos olímpicos Rio 2016.
Entre as obras já tombadas, e que levam a assinatura de Oscar Niemeyer, as que requerem mais cuidados são as que se encontram em Brasília. Os prédios projetados pelo arquiteto são tombados não apenas pelo IPHAN, mas pela Unesco. No entanto, a manutenção está a cargo do governo federal e do Distrito Federal. Algumas instalações, como Palácio do Planalto, Palácio da Alvorada, Congresso Nacional e Esplanada dos Ministérios, passaram por recentes reformas. No entanto, outras instalações são alvo de patologias graves.
Reformas inadequadas
O Teatro Nacional, por exemplo, teve que ser fechado em 2014 e não tem previsão para ser reaberto. Infiltrações e rachaduras estão entre os problemas que afetam o prédio. Idem para o Museu de Arte de Brasília, cujas manifestações patológicas, como excesso de umidade nas paredes internas, impedem a exposição de todo o acervo para visitação pública. Sobre a recuperação destes prédios, o IPHAN justifica que foge de sua alçada fiscalizar e promover reformas. “O IPHAN não monitora individualmente as reformas dos edifícios, pois não tem competência institucional para isso. Essa atividade é responsabilidade do governo local, que é o ente federativo responsável pela execução da política urbana”, diz nota do instituto.
Para avaliar processos de tombamento, o IPHAN conta com a participação de vários organismos ligados à cultura, ao turismo, à arquitetura e à arqueologia. Entre eles, o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). Mesmo com o envolvimento de vários setores, mas sem poder fiscalizador, o organismo tem detectado que muitos prédios tombados - sejam assinados por Oscar Niemeyer ou não - passam por reformas inadequadas em todo o Brasil. “O que se tem visto, de maneira geral, são reformas mal concebidas, desrespeitosas à arquitetura original da edificação e que não agregam valor algum ao edifício. Na verdade, são intervenções arquitetônicas de baixa qualidade, boa parte feita sem o acompanhamento de um profissional legalmente habilitado”, alerta o instituto.
Entrevistado
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) (via departamento de comunicação)
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faleconosco@iphan.gov.br
Créditos Fotos: Antônio Cruz/Agência Brasil, Divulgação/IPHAN, Caio Pimenta/SP Turis
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
ABCP, sinônimo de inovação (Podcast)
Renato Giusti, presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland, afirma que, em 80 anos, organismo ajudou a transformar construção civil nacional
Por: Altair Santos
Entrevistado
Engenheiro metalúrgico Renato Giusti, presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)
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renato.giusti@abcp.org.br
Crédito Foto: Divulgação/Cia. Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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Indústria da construção civil abre portas à inovação
Parceria entre EMBRAPII e Poli-USP libera R$ 30 milhões para o desenvolvimento de projetos que, no prazo de seis anos, devem chegar ao mercado
Por: Altair Santos
Criada em 2013, a EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) selou no Concrete Show 2016 o primeiro convênio com o setor da construção civil. O acordo vai permitir que a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) receba R$ 30 milhões para investir no desenvolvimento de materiais e produtos sustentáveis, os quais, em parceria com os fabricantes, têm o prazo de seis anos para chegar ao mercado.
A associação entre EMBRAPII e Poli-USP abre as portas da construção civil para a inovação, com o compromisso de que os materiais desenvolvidos tenham uma “pegada” ecoeficiente. Por isso, o coordenador do projeto será o engenheiro civil e professor-doutor Vanderley John, atuante em temas abrigados sob o guarda-chuva da construção sustentável. Seu trabalho será prospectar empresas que queiram atuar em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I).
A parceria com a EMBRAPII vai permitir que a indústria da construção possa aderir ao projeto, diluindo os riscos do investimento. Para cada projeto aprovado, as despesas serão divididas entre EMBRAPII, Poli-USP e a empresa beneficiada. Além disso, a Poli-USP colocará à disposição suas competências em recursos humanos e infraestrutura laboratorial. “É uma oportunidade de fazer a universidade cumprir seu papel no século 21, que é interagir com a sociedade”, disse o vice-reitor da USP, Vahan Agopyan.
A Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (ABRAMAT) atuará como parceira do projeto para ajudar na prospecção de empresas, como assegurou a diretora-técnica Laura Marcellini. Da mesma forma, a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) integra o projeto. “A indústria de cimento do Brasil é a mais ecoeficiente do mundo, mas queremos melhorar nossos parâmetros”, afirmou o presidente da ABCP, Renato Giusti, lembrando que o setor é modelar em ações de coprocessamento.
Reaproveitamento de materiais
O diretor da Poli-USP, professor José Roberto Castilho Piqueira, ressaltou a importância do convênio diante do cenário de esgotamento de matéria-prima, de fontes de energia e de recursos hídricos. “É fundamental que o meio acadêmico se preocupe com a obtenção de novas soluções que envolvem reaproveitamento de materiais e de insumos já utilizados e que esse reaproveitamento seja eficiente, traga economia, qualidade e durabilidade dos novos materiais a serem desenvolvidos”, apontou.
Para acordos como o realizado com a Poli-USP, a EMBRAPII segue o seguinte modelo de investimento: desembolso de até 1/3 das despesas do projeto, enquanto o restante é dividido entre a empresa parceira e a instituição de pesquisa científica e tecnológica, que pode ser pública ou privada. “Ao compartilhar riscos de projetos com as empresas (por meio da divisão dos custos do projeto), estimula-se o setor industrial a inovar mais e com maior intensidade tecnológica para, assim, potencializar a força competitiva das empresas tanto no mercado interno como no mercado internacional”, justifica o diretor-presidente da EMBRAPII, Jorge Almeida Guimarães.
Entrevistados
- Vice-reitor da Universidade de São Paulo, Vahan Agopyan
- Diretora-técnica da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (ABRAMAT), Laura Marcellini
- Presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), Renato Giusti
- Diretor da Poli-USP, professor José Roberto Castilho Piqueira
- Diretor-presidente da EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), Jorge Almeida Guimarães
Contato
contato@embrapii.poli.usp.br
Crédito Foto: Divulgação/Poli-USP
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Projetos mais exigentes alavancam concreto dosado em central
Construtoras seguem tendências e querem materiais com maior durabilidade e mais resistência, seja em obras de infraestrutura ou edificações
Por: Altair Santos
Projetos mais exigentes, assim como normas técnicas mais detalhistas, além de novos sistemas construtivos, como o de paredes de concreto, por exemplo, têm estimulado o mercado de concreto dosado em central no Brasil. Entre 2005 e 2012, esse setor saiu de 13% para 20,7% do consumo total de cimento no país. Com a crise econômica, o volume reduziu para 19%, mas o viés é de alta, como constata recente pesquisa da E8 Inteligência – consultoria voltada para coletar informações da construção civil.
Durante a 10ª edição da Concrete Show, a engenheira civil Glécia Vieira, coordenadora nacional da Comunidade da Construção, mostrou que o mercado de concreto dosado em central no Brasil ainda é dominado pelas chamadas “pequenas concreteiras”, que produzem até 100 mil m3 do material por ano. Estas empresas respondem por até 54% do que é consumido pelas obras que utilizam concreto dosado em central no país. As médias concreteiras (produção de até 500 mil m3 por ano) respondem por 31% e as grandes concreteiras (acima de 500 mil m3 por ano) ocupam 15% do mercado.
Segundo dados levantados pela E8 Inteligência, a produção de concreto dosado em central com 25 MPa a 30 MPa predomina tanto em pequenas quanto em médias e grandes concreteiras. Mas o mercado está mudando. “A tendência aponta que as construtoras têm buscado um concreto com maior durabilidade, menos sujeito a fissurações, principalmente nas obras de infraestrutura”, aponta Glécia Vieira. Já o mercado voltado para a construção de edificações tem solicitado um concreto mais fluido (autoadensável), com menor consumo de água e maior controle de qualidade.
Paredes de concreto e pavimento rígido
A pesquisa apontou que o controle tecnológico do concreto dosado em central não é uma virtude entre as pequenas concreteiras. Apenas 30% delas o fazem, e mesmo assim terceirizam o serviço, ou seja, contratam laboratoristas prestadores de serviço. Por outro lado, 67% das concreteiras médias fazem esse controle, enquanto as concreteiras grandes não só fazem 100% do controle tecnológico do material que produzem como têm laboratórios próprios.
Outra tendência verificada pelo estudo da E8 Inteligência é o crescimento do uso do concreto dosado em central nas chamadas autoconstruções, que são as obras particulares. Esse avanço se deve à urbanização das concreteiras e ao aprimoramento de equipamentos, como caminhões-betoneiras e bombas. A pesquisa aponta ainda que o mercado para o concreto dosado em central tende a crescer significativamente nos próximos 15 anos. Por dois motivos: os investimentos feitos pelas concreteiras entre 2005 e 2012 e as novas tecnologias construtivas. No caso dos empreendimentos imobiliários, as paredes de concreto moldadas in loco são uma aposta para o crescimento do concreto dosado em central.
Quanto às obras de infraestrutura, a expectativa é que o crescimento de projetos rodoviários que utilizem pavimento rígido alavanque o consumo de concreto dosado em central. “A infraestrutura, principalmente a rodoviária, apresenta perspectivas enormes para o crescimento do concreto no país. Atualmente, o Brasil possui apenas 7 mil de 203 mil quilômetros de rodovias pavimentadas com concreto, ou seja, 4%. Temos muito a evoluir, pois o material é durável, exige baixa manutenção e reduz o impacto ambiental”, avalia Ricardo Moschetti, gerente do escritório regional da ABCP, em São Paulo, durante o Concrete Show.
Entrevistados
Engenheira civil Glécia Vieira, coordenadora nacional da Comunidade da Construção
Engenheiro civil Ricardo Moschetti, gerente do escritório regional da ABCP, em São Paulo
Contatos
glecia.vieira@abcp.org.br
www.comunidadedaconstrucao.com.br
ricardo.moschetti@abcp.org.br
Crédito Fotos: Divulgação/Cia. Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Concreto de última geração atinge 250 anos e 155 MPa
Desde 2012, 498 obras construídas mundo afora já utilizaram material de alta tecnologia, que chega a um volume total de 15 milhões de m3
Por: Altair Santos
Qual é o futuro do concreto? Foi essa a pergunta que o especialista em superestruturas, Andreas Tselebidis, respondeu em sua palestra no Concrete Show 2016. Com doutorado em engenharia civil pela Universidade de Siegen, na Alemanha, o filho de gregos que virou discípulo de Hans Knoefel, conhecido na Europa como o "papa de concreto”, afirmou que as metrópoles do século 21 exigem estruturas altamente resistentes, duráveis e, ao mesmo tempo, sustentáveis.
Andreas Tselebidis citou que, desde 2012, já existem no mundo 498 edificações construídas, ou em construção, que usam concreto de última geração, cuja característica do material é atingir vida útil de até 250 anos e suportar pressões iguais ou superiores a 155 MPa. Esse concreto, com características autoadensáveis, permite construir superedifícios com alturas que ultrapassam 400 metros, e cujos projetos primam por estruturas cada vez mais esbeltas. “A tendência é termos prédios mais altos e mais finos”, estima.
Um exemplo é o edifício residencial 57th Street, que está em processo de concepção em Nova York. Trata-se do prédio mais fino do mundo, com 18 metros x 18 metros de área e altura de 451 metros. O projeto é do escritório Shop. “Estamos falando de edificações que não têm colunas centrais, que possuem grandes vãos internos, e que investem na otimização do espaço, pois, em sua maioria, são prédios residenciais. Tudo isso é possível por causa dos novos concretos”, assegura Andreas Tselebidis.
O próprio especialista em superestruturas atuou diretamente no projeto do 432 Park Avenue, também em Nova York, e cujos desafios impostos pelos arquitetos eram criar um concreto branco de alta resistência e com baixo consumo de água, já que a edificação se submeteu à mais rigorosa certificação sustentável. Para cumprir as metas, o concreto usou agregados especiais e aditivos. Ao final da obra, foi economizado 1,1 milhão de litros de água. “Já foram usados 15 milhões de m3 de concreto com essas características em construções de superedifícios”, cita Andreas Tselebidis.
Recordes
Outra propriedade destes materiais com alta tecnologia é que permitem grandes volumes de bombeamento. O recorde mundial pertence ao Shangai Tower Center, na China, onde 61 mil m3 foram concretados em 60 horas. Outra marca foi a concretagem do aeroporto de Dubai, nos Emirados Árabes, que ocorreu na mais alta temperatura ambiente: 54 °C. “Chegamos a ter 57 caminhões-betoneiras enfileirados, esperando por quatro horas para descarregar o concreto. Foi realizada a operação sem que o material perdesse suas características”, assegura o especialista.
Questionado sobre o cumprimento às normas técnicas, Andreas Tselebidis disse que as especificações do concreto utilizado nas quase 500 obras obedeceram todas as prescrições. “Os concretos que utilizam alta tecnologia não requerem que sejam alteradas as normas. Eles inovam em métodos construtivos, na logística da obra, nos critérios de sustentabilidade e no número de pessoas envolvidas no canteiro”, garante. “Vale destacar que nenhuma obra até agora construída apresentou sinais patológicos. Estamos falando de materiais que, obviamente, custam mais caro, mas são irretocáveis sob o ponto de vista de segurança de suas estruturas”, concluiu.
Entrevistado
Andreas Tselebidis, doutor em engenharia civil pela Universidade de Siegen (Alemanha) e diretor de tecnologias do concreto da Basf
Contato
andreas.tselebidis@basf.com
Crédito Fotos: Divulgação/Handel Architects LLP e Shop Architects
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Sustentabilidade social deve mover a arquitetura
Ruy Ohtake avalia que novo desafio dos profissionais está em pensar em moradias, espaços públicos e escolas para as populações mais carentes
Por: Altair Santos
Ícone da arquitetura brasileira, Ruy Ohtake, 78 anos, foi o convidado de honra da 10ª edição da Concrete Show. Após sua palestra, onde transitou por todas as fases da arquitetura nacional, ele concedeu entrevista exclusiva e revelou por que é tão fiel ao concreto. “O concreto é amigo da gente. Ele se molda a qualquer desenho que eu faço. Nenhum outro material tem essa característica. Além disso, possui uma textura diversificada. Outra vantagem é que o concreto gera peças acabadas e também pode receber cores na sua pigmentação”, afirma.
Em sua defesa intransigente do concreto, Ruy Ohtake lembra que suas primeiras obras com o material, as quais foram construídas há mais de 40 anos, seguem intactas até hoje. “O concreto é uma das grandes criações tecnológicas do homem, mantendo-se valorizado há mais de 100 anos”, assegurou, para, em seguida, alertar: “É importante dizer que a tecnologia sem criatividade perde valor. Só com criatividade é que a estrutura consegue cumprir seu papel, que é surpreender e inovar.”
Questionado sobre a qualidade da arquitetura brasileira contemporânea, Ruy Ohtake foi sucinto. “Nossa arquitetura é uma das mais reconhecidas no mundo. O que nos falta é tecnologia, em função da economia do país”, resume. Abordando o aspecto social, Ohtake assegura que no Brasil o arquiteto tem mais que a função de pensar exclusivamente em sua obra. “Em nosso país, o arquiteto tem que ter compromisso com a cidade em que ele está construindo”, diz.
Recentemente, Ohtake intensificou seu interesse por questões que envolvem planejamento urbano de pequenas e grandes cidades brasileiras. Para ele, o desafio que os gestores dos municípios enfrentam é conciliar crescimento com os interesses da população mais carente. “Para isso, é preciso abrir espaços públicos, pensar em espaços para a educação e em novos conceitos de moradia. Chamo a atenção para a sustentabilidade social. A água é importante, a captação da energia solar é importante, mas a condição humana das classes sociais mais desfavorecidas é mais importante”, destaca.
“Redondinhos de Heliópolis”
O projeto de Ohtake para o bairro de Heliópolis, um dos mais carentes da cidade de São Paulo, demonstra essa preocupação do arquiteto. Em 2011, ele foi convidado pela prefeitura paulistana para projetar um conjunto habitacional que substituiria uma favela no local. Após ouvir os futuros moradores, captando as expectativas deles para viver em edificações em que não estavam acostumados, o arquiteto desenvolveu um projeto com prédios redondos de cinco pavimentos, com quatro unidades por andar e cada uma medindo 50 m2. “Por que redondo? Porque o círculo é estético, melhora a ventilação e faz com que todas as unidades tenham uma insolação adequada”, explicou.
Os prédios ficaram conhecidos como “Redondinhos de Heliópolis”. Na primeira fase, entregue em 2014, foram construídas 500 unidades. A segunda etapa será concluída no final de 2016 e prevê a conclusão de mais 500 unidades. Na terceira fase, prevista para 2018, mais 500 unidades serão finalizadas. “Os prédios valorizam a convivência, trocando os estacionamentos nas portas dos prédios por áreas de lazer. Nestas edificações, os carros ficam para o lado de fora”, conclui Ruy Ohtake.
Entrevistado
Arquiteto Ruy Ohtake
Contato
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Crédito Fotos: Divulgação/Cia. Cimento Itambé