Quais os possíveis impactos da reforma tributária na construção civil?

Reforma tributária prevê que as operações com bens imóveis serão tributadas mediante um regime especial.
Crédito: Envato

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 45/2019, que faz a Reforma Tributária, foi aprovada pela Câmara dos Deputados em julho de 2023. A partir de agosto, o documento passou a ser analisado pelo Senado. Se aprovada, a reforma promete trazer mudanças significativas para diversos setores da economia. Qual será o impacto para a construção civil e para o mercado imobiliário?

“A reforma tributária pode ter um grande impacto no mercado imobiliário e na construção civil. Possíveis mudanças incluem novas regras para impostos sobre propriedade e renda, incentivos fiscais, transparência nas operações e tributação específica para o setor. Questões como tributação de dividendos, regimes tributários (Lucro Presumido e RET) e operações financeiras também estão envolvidas. Atividades como parcelamento do solo, locação e administração serão agrupadas com alíquotas específicas”, explica Jonata Tribioli, especialista em investimentos imobiliários e diretor da Neoin.

Um dos pontos principais a respeito desta reforma, segundo Cassiano Menke, coordenador da área de Direito Tributário de Silveiro Advogados, é a extinção de cinco tributos: IPI, ICMS, ISS, PIS e COFINS. “No lugar destes haverá um só, que é o tributo sobre bens e serviços (IBS), que vai ser dividido uma parte para os estados e municípios e outra parte para a União. A ideia é que haja uma alíquota, que se estima ser entre 25% e 27%, para todas as operações com bens e serviços. Se for aprovada a reforma, todos esses tributos que mencionei serão substituídos pelo IBS e pela CBS, e eles vão incidir sobre a receita obtida nessas operações com bens e serviços”, afirma Menke.

Um estudo feito pelo Itaú Unibanco prevê que o setor de construção deve sofrer alta relevante de alíquota – isto inclui a construção de edifícios (com regime específico, 40% do IVA setorial) e obras de infraestrutura (sem diferenciação); conforme mostra gráfico abaixo. 

Regime tributário especial para imóveis

Menke explica que a reforma tributária prevê que as operações com bens imóveis serão tributadas mediante um regime especial. Isso vale para as operações de construção e incorporação imobiliária, parcelamento solo, alienação de bem imóvel, locação, arrendamento de bem imóvel, administração e intermediação de bem imóvel. “Esse regime especial ainda não está desenhado, porque isso será feito por uma lei complementar, que será criada depois de ser aprovada esta emenda à Constituição”, comenta.

No caso da construção civil, pode haver ônus e bônus. “Não quer dizer que este regime especial terá menos tributação, mas uma forma diferente. Na área da construção civil, se aplicarmos a mesma carga tributária que será imposta em outros países, podemos enfrentar um aumento de custos. Isso é um efeito negativo esperado. Por outro lado, um possível efeito positivo é a tendência de simplificação. Hoje, no âmbito da construção civil, se paga ISS, que é municipal. Com a mudança, haveria uma unificação, uma vez que terá uma lei nacional para o ISS”, pontua Menke. 

De acordo com Menke, haverá uma ampliação da base tributável, por exemplo, porque há, hoje em dia, discussão sobre se incide ou não ICMS ou ISS no caso da construção civil. “Se o material é feito no local da obra, sobre ele não incide ISS, só ICMS. Se, por outro lado, esse material é comprado de fora e incide ISS sobretudo, porque o material é custo do serviço. Essa discussão vai acabar. Na verdade, vai ter uma alíquota de um tributo incidindo sobre toda essa base de receita bruta auferida na operação”, destaca.

Imposto sobre propriedade

Menke aponta que o imposto sobre a propriedade não muda, como o IPTU, o ITR e o ITBI. “O que a reforma está prevendo é alterar uma pequena regra sobre o IPTU, que é permitir que seja atualizada a base de cálculo do IPTU por meio de decreto. Na prática, isso já é feito atualmente, porque já há orientação dos tribunais superiores que tratam da matéria para que os municípios possam atualizar a base de cálculo respeitando evidentemente o índice de inflação, a base de cálculo dos imóveis para fins de IPTU a cada ano”, justifica.

Caso haja qualquer mudança na forma como o imposto sobre propriedade é calculado e cobrado, isso poderia impactar os custos associados à propriedade e à viabilidade dos imóveis, segundo Tribioli. “Aumentos nas taxas de imposto sobre propriedade podem resultar em um encarecimento dos imóveis, o que afeta tanto os proprietários como os potenciais compradores”, destaca.

Benefícios fiscais

Pelo projeto de reforma tributária, será proibido conceder isenção ou qualquer benefício em matéria de IBS e de CBS. “É vedado pela reforma que os municípios e os estados e a própria União concedam benefícios fiscais em matéria de operações com bens imóveis. Como dito anteriormente, o que pode acontecer é o regime especial para as operações com bens imóveis - o que não quer dizer que seja uma redução de carga tributária, só quer dizer uma forma diferente de tributação”, lembra. Isso acontece pelo fato das operações com imóveis terem uma natureza diferenciada das operações comuns. 

Entrevistados

Jonata Tribioli é especialista em investimentos imobiliários e diretor da Neoin, empresa que atua no segmento de cotas de empreendimentos imobiliários.

Cassiano Menke é coordenador da área de Direito Tributário de Silveiro Advogados. 

Contato:
Jonata Tribioli: jonata@neoin.com.br 
Cassiano Menke: cassiano.menke@silveiro.com.br

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP


Grupo CCR planeja investir R$ 1,8 bilhão em reformas de 15 aeroportos no Brasil

Reformas pretendem oferecer mais segurança e conforto aos funcionários e passageiros.
Crédito: Reprodução/grupoccr.com.br

O Grupo CCR divulgou o investimento total de R$ 1,8 bilhão na reforma de 15 aeroportos sob sua administração pelo Brasil. A previsão da empresa é de que 14 desses projetos sejam finalizados até o final de 2024 - apenas o Aeroporto Internacional de Curitiba ganhou um prazo mais amplo, até o final de 2026, tendo em vista a dimensão maior da obra.

Dos 15 locais contemplados, seis fazem parte do chamado Bloco Central (Goiânia, São Luís, Teresina, Palmas, Imperatriz e Petrolina) e nove do Bloco Sul (Curitiba, Foz do Iguaçu, Londrina, Bacacheri, Navegantes, Joinville, Bagé, Uruguaiana e Pelotas). 

A CCR, que contratou a HTB-Engenharia e Construção para a execução das obras, informa que as reformas já foram iniciadas em seis aeroportos: Palmas, Imperatriz, Londrina, Bagé, Uruguaiana e Pelotas. E garante que as operações nos locais não serão alteradas, já que o cronograma colocado em prática foi planejado de modo que todas as atividades sejam mantidas, sem qualquer impacto no fluxo.

“Nosso projeto para estes 15 aeroportos preveem desde ampliação de capacidade dos terminais até regularizações, porque alguns aeroportos são antigos", explica Fabio Russo, CEO da CCR Aeroportos. "As obras ocorrerão de forma simultânea, em 15 cidades diferentes, espalhadas por três regiões do país. É um grande desafio que está sendo tocado com maestria pelo nosso time e, a partir deste esforço coletivo de todos que fazem parte da CCR Aeroportos, vamos transformar estes aeroportos e prepará-los para o futuro.”

A assessoria de comunicação da empresa, que prevê a geração de mais de 2,3 mil empregos diretos durante a iniciativa, conta que as adequações programadas para cada aeroporto variam de acordo com cada necessidade. Haverá reforma e ampliação dos terminais de passageiros na maioria dos casos, assim como a adequação das RESAs (áreas de escape das pistas) à legislação vigente e também ampliação da quantidade de posições para aeronaves e adequações na pista de pouso e decolagem, por exemplo. Todas as intervenções estão previstas em contrato de concessão e visam proporcionar maior segurança e conforto à comunidade aeroportuária e aos passageiros.

Em relação ao investimento que será feito em cada uma das cidades, a CCR diz que os anúncios estão sendo feitos apenas a partir do início de cada uma das obras, com a obtenção de todas as licenças necessárias. Por isso, é possível mensurar, até agora, o volume de dinheiro empregado em Londrina (R$ 165 milhões), Imperatriz (R$ 48 milhões), Bagé (R$ 43 milhões), Pelotas (R$ 43 milhões), Palmas (R$ 36 milhões) e Uruguaiana (R$ 35 milhões), somando um total de R$ 370 milhões

Além das reformas nos aeroportos, a empresa também realiza obras de ampliação da capacidade de tráfego nas rodovias da região metropolitana de São Paulo, com investimento de R$ 1,4 bilhão, e, na área de Mobilidade Urbana, está focada na modernização da infraestrutura das Linhas 8 e 9 de trens metropolitanos da capital paulista.

Fontes
CCR Aeroportos

Jornalista responsável
Fabiana Seragusa 
Vogg Experience


Projeto Construa Brasil: novos guias e cursos EAD buscam agilizar e modernizar o setor

Guias atualizados sobre códigos de obras e alvarás fazem parte do projeto.
Crédito: Reprodução/gov.br

Foi em abril de 2022 o lançamento do Construa Brasil, um projeto do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) que pretende desburocratizar, digitalizar e industrializar o setor da construção por meio da melhoria do ambiente de negócios, contribuindo, assim, para a geração de empregos, a elevação do PIB e a retomada da economia.

Hoje, 16 meses depois, e com novo governo, a iniciativa segue promovendo ações para o cumprimento das metas traçadas no início. São elas:

  • Convergência dos Códigos de Obras e Edificações (COE);
  • Melhoria do processo de concessão de alvará para construção;
  • Difundir o BIM e seus benefícios;
  • Apoiar ações de estruturação do setor público para a adoção do BIM;
  • Criar condições favoráveis para o investimento público e privado em BIM;
  • Estimular o desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias relacionadas ao BIM;
  • Identificar e adequar o regulamento técnico para incentivo à Coordenação Modular;
  • Incentivo à construção industrializada.

Novos cursos EAD e guias orientativos 

Duas novas medidas do Construa Brasil foram apresentadas em março deste ano durante a 24ª Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios. Uma delas refere-se ao lançamento das segundas edições atualizadas de duas publicações: o Guia de Boas Práticas para Códigos de Obras e Edificações e o Guia de Boas Práticas para Obtenção de Alvarás de Construção.

Enquanto o primeiro apresenta exemplos adotados por municípios que modernizaram suas legislações urbanísticas, com orientações para a elaboração de regulamentos para edificações, o segundo traz sugestões para eliminar o excesso de burocracia nos processos de licenciamento de obras, com sugestões de ações de racionalização, integração e automatização de dados e procedimentos.

A outra iniciativa mostrada tem a ver com a disponibilização de cursos EAD (ensino à distância), para capacitar as equipes municipais e servir de suporte na implementação das mudanças de legislação pretendidas. Um dos módulos, por exemplo, aborda a interação eficiente entre tecnologias e codificações que compõem o BIM (sigla para Building Information Modelling - em português, Modelagem da Informação da Construção). Os cursos são abertos, gratuitos e contam com a emissão de certificado.

Resultados do Construa Brasil

Secretário Uallace Moreira apresenta resultados do Construa Brasil no evento Transformar Juntos.
Crédito: Reprodução/gov.br

A desburocratização é o primeiro dos três eixos do projeto, que também foca na digitalização e na industrialização do setor. No início de agosto deste ano, os resultados do Construa Brasil foram os destaques de um painel apresentado durante o evento Transformar Juntos, realizado pelo Sebrae, em Brasília. 

E dois dos casos abordados foram justamente sobre as experiências de desburocratização do programa nas cidades de Birigui (SP) e Porto Velho (RO), que reduziram o tempo de emissão do alvará de construção civil para 30 dias, em vez dos seis meses habituais. 

“As experiências mostradas no evento deixam em evidência o grande êxito do programa Construa Brasil no processo de desburocratização, reduzindo de forma substancial o tempo de liberação de alvarás, que é fundamental para acelerar as obras de construção civil no Brasil, que tem por finalidade principal gerar emprego e renda para o país”, avaliou o secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do MDIC, Uallace Moreira

Outro exemplo mostrado foi o caso da construção da Escola Municipal de Tapera, em Florianópolis (SC). Com o uso da modelagem, o local foi construído em 12 meses, metade do tempo previsto. O BIM, utilizado no processo, é um conjunto de tecnologias e processos integrados que permite a criação, a utilização e a atualização de modelos digitais da obra, de modo colaborativo, servindo a todos os participantes do empreendimento durante o ciclo de vida da construção.

Fontes
Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC)
Uallace Moreira, secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do MDIC

Jornalista responsável
Fabiana Seragusa 
Vogg Experience


PavPlus traz economia de mão de obra e material

PavpPlus oferece soluções para otimizar todas as etapas envolvidas na execução de uma estrutura de concreto protendido.
Crédito: Impacto Protensão

Para quem trabalha com construção civil, economizar com mão de obra e material ao mesmo tempo é um dos maiores desafios. Pensando nisso, o engenheiro Joaquim Caracas, sócio-fundador da Impacto Protensão, criou uma tecnologia que combina o sistema de lajes nervuradas com o conceito americano formado por lajes maciças protendidas com fôrmas planas. Este método ficou conhecido como PavPlus e, segundo o engenheiro, despertou o interesse de empresas nos Estados Unidos e da Europa na PTI Convention, um dos maiores eventos mundiais da área de tecnologia da construção civil

Das formas de plástico ao PavPlus

A história desse sistema começou quando Caracas criou uma metodologia com formas de plástico em suas obras, inspirada pelos brinquedos da LEGO®. Neste método, as fôrmas possuem dimensões padronizadas que são facilmente encaixadas. 

“Na construção civil, era comum o uso extensivo de madeira nas obras. Antes de concretar uma laje, era necessário construir uma forma, depois concretar e, em seguida, desmontá-la para transportar aos andares superiores. Uma das grandes vantagens dessa abordagem foi a eliminação das vigas internas das lajes. No Brasil, a cultura é de calcular viga e laje. Nós passamos a calcular tudo como laje – não existe mais viga.  Isto levou ao desenvolvimento de fôrmas de plástico de tamanho uniforme e à introdução de padronizações nas estruturas. Anteriormente, não havia um critério claro para o tamanho das lajes e faixas, resultando em inconsistências”, afirma Caracas.

Com isso, exclui-se a necessidade de uma mão de obra especializada – um dos grandes problemas da construção civil hoje. “A indústria da construção nos Estados Unidos tem enfrentado uma queda constante na produtividade desde a década de 1970. Aqui no Brasil, no Ceará, por exemplo, a média de idade de profissionais como carpinteiros, pedreiros e ferreiros é de 45 anos, indicando uma lacuna geracional preocupante. À medida que a nova geração demonstra menos interesse em atividades tradicionais da construção, como assentar tijolos ou fazer massa, a ênfase em transformar o setor em uma linha de montagem se torna ainda mais crucial. Até o momento, essa abordagem tem apresentado resultados positivos”, aponta o engenheiro.

Como funciona o PavPlus?

Essa mudança no sistema estrutural culminou no desenvolvimento do sistema PavPlus. De acordo com Caracas, o método inclui soluções para otimizar todas as etapas envolvidas na execução de uma estrutura de concreto protendido. “Isto inclui as armaduras passivas pelo uso de telas modularizadas; economia de concreto pela utilização de cubetas de plástico para lajes nervuradas; criação de processos na montagem das cordoalhas de protensão; aplicativos de montagem e de conferência, o primeiro processo informatizado do mundo para protensão não-aderente”, afirma.

“Quando você pensa em uma economia de material, a resposta seria utilizar o sistema de lajes nervuradas, pois economiza em torno de 30% de concreto, alivia o peso próprio da estrutura e consequentemente, economiza no aço. Mas pensando em produtividade, migra-se para o conceito americano, formado por lajes maciças protendidas com fôrmas planas. Tendo em vista que em torno de 50% do custo de uma estrutura é fôrma e mão de obra, pegamos todo o conceito do americano e transportamos para a laje nervurada, formando o Sistema PavPlus”, explica Caracas.

Vale destacar que, nesse contexto, a responsabilidade pela produtividade não recai mais exclusivamente sobre a mão de obra, mas sim sobre os processos utilizados. “A ausência de métodos bem definidos pode prejudicar a produtividade nas obras. Essa abordagem, inspirada em modelos de outros países, tem se mostrado eficaz”, diz o engenheiro.

PavPlus 2.0

Em outubro de 2021, foi lançado o PavPlus 2.0, uma evolução que permitiu a construção de lajes protendidas ainda mais finas, preservando sua capacidade de resistência. “Este sistema reduziu consideravelmente a quantidade de cabos de protensão necessários, diminuindo os custos de construção e otimizando o uso de recursos”, conclui Caracas.

Entrevistados
Joaquim Caracas é engenheiro e sócio-fundador da Impacto Protensão.

Contato:
joaquimcaracas@impactoprotensao.com.br

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP


Ecoparque terá paredes de concreto pré-fabricadas em sistema carrossel

Ecoparque Cascavel terá 32 edifícios residenciais, totalizando 3.840 apartamentos.
Crédito: Residencial Ecoparque

Localizado em Cascavel (PR), o empreendimento Ecoparque é um programa ambicioso para a criação de um bairro integrado. Este projeto, que promove a conexão entre as pessoas, suas moradias e os serviços essenciais, foi tema da palestra “Sistema Construtivo Ecoparque: Inovação na execução de edificações residenciais multipavimentos através da utilização de paredes de concreto pré-fabricadas produzidas em sistema carrossel“, durante a Concrete Show 2023. 

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=3dv3TnJgR4E 

“Mais do que um simples empreendimento de habitação, o Ecoparque tem como objetivo a transformação social e a melhoria da qualidade de vida de seus moradores. Isso é evidenciado por iniciativas como a implantação de creches e escolas em tempo integral, oferta de qualificação e treinamento profissional, construção de unidades de saúde, parques infantis e áreas de convivência, além da existência de áreas comerciais e de serviços dentro do próprio bairro”, afirma o engenheiro civil Breno Guilherme Nones, da Ecoparque Habitações Sustentáveis.

O primeiro empreendimento do grupo, o Ecoparque Cascavel, contará com 32 edifícios residenciais, totalizando 3.840 apartamentos, e sua construção terá início em 2024. 

Após esta primeira experiência, o modelo deverá ser reproduzido em outras partes do Brasil.  “A partir de 2025, as fábricas e condomínios do Ecoparque serão multiplicados por meio de franquias em todo o país, com a participação de construtoras e incorporadoras. O Sistema Construtivo Ecoparque será um grande passo para a industrialização da construção civil no Brasil, buscando revolucionar a forma de se construir moradias e diversificar as soluções oferecidas pela indústria de pré-fabricados”, destaca Nones. 

Uso de paredes de concreto pré-fabricadas produzidas em sistema carrossel

Um dos aspectos mais inovadores desse projeto é o uso do sistema carrossel na produção de elementos pré-moldados. “Neste sistema, as mesas transitam entre as estações de trabalho e o layout da fábrica é único e desenvolvido de acordo com o espaço disponível e a tipologia de elementos pré-fabricados produzidos”, explica Nones. 

Dentre os diferenciais do sistema carrossel com relação à produção estacionária, Nones menciona o fato de que as formas são transportadas até os materiais, além de serem dependentes entre si. Ainda, a produtividade está ligada à preparação das estações de trabalho, enquanto na produção estacionária está relacionada à otimização do uso da forma. Por fim, o sistema carrossel tem foco em velocidade (controle de processo) e o outro sistema prioriza a ocupação (planejamento de produção).

Processo de fabricação

De acordo com Nones, o processo de fabricação com sistema carrossel passa pelas seguintes etapas:

  1. Estação de limpeza: limpeza da superfície da forma (poeira e restos de concreto). Transporte dos resíduos até as caçambas coletoras. Aplicação de fluído desmoldante.
  2. Preparação da cofragem: plotagem da geometria dos elementos e da posição dos acessórios de produção. Também há a retirada da cofragem da área de estoque e posicionamento automático dos perfis de cofragem na forma. 
  3. Montagem dos acessórios: posicionamento manual de formas e acessórios de produção.
  4. Preparação das armaduras: a máquina de telas automatizada faz o corte e soldagem das barras de aço. Podem ser utilizados diferentes diâmetros de barras e espaçamentos na mesma malha. As armaduras de reforço são preparadas em maquinário convencional. É feito o posicionamento de treliças e armaduras de reforço. 
  5. Concretagem e adensamento: o distribuidor de concreto executa a concretagem dos elementos. A estação oscilatória realiza o adensamento do concreto. Também é feito o tratamento da superfície dos elementos que serão solidarizados in-loco (paredes duplas e pré-lajes), para garantir a melhor aderência com o concreto de preenchimento. 
  6. Câmara de cura: após a concretagem, a mesa é transportada até um dos compartimentos da câmara de cura, que conta com um transelevador para mesas de formas e diversos compartimentos para estoque. 
  7. Virador de mesas: equipamento utilizado para a execução de paredes duplas (elemento 3D). 
  8. Acabamento superficial: equipamento utilizado para o acabamento de paredes maciças. Procedimento executado com a cura parcial do concreto dos elementos. 
  9. Desmoldagem: retirada manual da cofragem e raspagem do excesso de concreto e materiais adesivos. Os perfis retirados são colocados sobre a esteira e destinados à estação de limpeza, onde os resíduos de concreto são retirados e o desmoldante é aplicado. Na sequência, os perfis são encaminhados para a área de estoque para nova utilização. Ainda há o saque das pré-lajes e das paredes de concreto em estação basculante.
  10. Estoque: destinação para a área de estoque para o escoamento da produção. 

Fonte
Breno Guilherme Nones é engenheiro civil da Ecoparque Habitações Sustentáveis

Contato
breno@ecoparque.com.br

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP


UHPC pode oferecer soluções únicas e competitivas em termos de custo

Para o professor Sri Sritharan, é provável que o Brasil também venha a criar a sua própria composição de UHPC em breve.
Crédito: Concrete Show

O Concreto de Ultra Alto Desempenho está revolucionando a indústria da construção e abrindo novas oportunidades para a pré-fabricação de elementos estruturais. Suas propriedades de resistência, durabilidade e eficiência estão permitindo a criação de estruturas mais leves, resistentes e sustentáveis. Isso é o que mostrou o professor Sri Sritharan, doutor em Engenharia de Estruturas pela Universidade da Califórnia - San Diego, professor titular da Iowa State University. Durante a Concrete Show 2023, ele falou sobre o Concreto de Ultra Alto Desempenho (UHPC, sigla em inglês) e as novas oportunidades para a pré-fabricação. 

“O UHPC pode oferecer soluções únicas e competitivas em termos de custo quando suas propriedades de material são aproveitadas no projeto do elemento/sistema, e soluções não convencionais são adotadas. Além disso, o UHPC proporciona oportunidades singulares para a construção pré-fabricada, como elementos esbeltos, uso efetivo de pré-tensionamento e produtos arquitetônicos e estruturais inovadores”, explica Sritharan.

Dentre as possibilidades de aplicação em pré-moldados, o professor cita vigas de ponte (formato tradicional em "I"); superestrutura de ponte (formato otimizado em "π"); sistema de laje de ponte (painéis tipo waffle); conexões; revestimento de tabuleiro; estacas; estruturas de casca (conchas) e torres de aerogeradores.

Definição e Componentes do UHPC

De acordo com Sritharan, o UHPC apresenta uma resistência à compressão mínima de 150 MPa, além de possuir especificações de durabilidade, ductilidade à tração e requisitos de tenacidade. Geralmente, são incorporadas fibras para atender a esses requisitos específicos.

“É importante notar que essa definição está sujeita a evoluir conforme novas versões de UHPC surgirem. Atualmente, estão sendo desenvolvidas novas formulações em diferentes partes do mundo. É provável que o Brasil também venha a criar a sua própria composição de UHPC em breve”, destaca o professor.

Propriedades de Engenharia e Vantagens

Apesar do UHPC ter um custo que pode chegar a ser seis ou dez vezes maior que o concreto tradicional, ele apresenta diversas propriedades únicas que o diferenciam dos materiais tradicionais. “Sua alta resistência à compressão, geralmente variando entre 180 e 200 MPa, permite que estruturas sejam projetadas com elementos mais esbeltos e rasos, reduzindo a quantidade de material necessário. Além disso, a notável capacidade de tensão sustentada e a característica de autocura tornam-no uma escolha popular para aplicações pré-fabricadas, onde a resistência ao tempo é fundamental. O UHPC também exibe maior resistência ao craquelamento e maior módulo de elasticidade, proporcionando maior durabilidade e menor deformação”, justifica Sritharan.

Comparativo: UHPOC x HPC x NC

Ao comparar as propriedades do UHPC otimizado, reforçado com fibras e tratado termicamente; Concreto de alta performance (HPC); e Concreto convencional (normal, ou NC), Sritharan obteve os seguintes resultados:

Propriedade  UHPC HPC Concreto convencional
Força de compressão 26-30 ksi(179-207 MPa) 12-18 ksi(82 – 124 MPa) 4-8 ksi(28-55 MPa)
Resistência à tração 1.7 ksi(12 MPa) 0.8-0.9 ksi(5-6 MPa) 0.3-0.7 ksi(2-5 MPa)
Módulo de elasticidade 800 ksi(55 GPa) 4800-6400 ksi(33-44 GPa) 3600-5100 ksi(25-35 GPa)

“O UHPC, em comparação com o concreto comum, demonstra ser um material extremamente durável. Isso se deve, em parte, à sua matriz muito mais densa. Como resultado, há uma notável ausência de espaços para a infiltração de umidade ou produtos químicos nessa matriz. Esse fato confere uma grande vantagem tanto para aplicações estruturais quanto arquitetônicas”, explica Sritharan.

Oportunidades para a Pré-Fabricação com UHPC

O uso de UHPC na pré-fabricação oferece uma série de vantagens substanciais. “A possibilidade de desenvolver e possuir a própria mistura de UHPC proporciona maior controle sobre o material e, consequentemente, a possibilidade de otimizar projetos estruturais. Sua resistência à compressão permite a aplicação eficaz de pré-tensionamento e produtos aprimorados de UHPC, resultando em elementos estruturais menores e mais eficientes. Além disso, o processo de cura acelerada por tratamento térmico permite uma rápida obtenção da resistência total, aumentando a produtividade e a eficiência”, aponta Sritharan.

Sustentabilidade e Aplicações

Os benefícios do UHPC também se estendem para a sustentabilidade. Sritharan cita algumas vantagens:

- Elementos mais esbeltos e rasos (quantidade menor de material);

- Vida útil aumentada e custos de manutenção reduzidos;

- Impacto do transporte reduzido;

- Construção acelerada, o que gera menor impacto sobre o público em deslocamento;

- Facilitar a inovação tanto para elementos arquitetônicos quanto estruturais;

- Aumentar a participação de mercado dos pré-moldados.

Fonte
Sri Sritharan é doutor em Engenharia de Estruturas pela Universidade da Califórnia - San Diego, e professor titular da Iowa State University.

Contato
sri@iastate.edu

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP


Paredes de concreto em prédios altos: por que utilizar?

Para Graziano, é preciso viabilizar a construção de edifícios de parede com 30 andares ou mais sobre pilotis e sem vigas de transição.
Crédito: Concrete Show

Quando começou, o uso de paredes de concreto era mais frequente em casas e edifícios baixos. No entanto, aos poucos, este sistema construtivo foi mostrando potencial para ser utilizado em prédios altos. Isso é o que apresentou o engenheiro Francisco Paulo Graziano, sócio-diretor da Pasqua e Graziano Consultoria, Concepção Estrutural e Projeto, durante o seminário “A Importância do Projeto Estrutural na Execução e Eficiência de Prédios Altos em Paredes de Concreto”, no Concrete Show 2023

“Desde o princípio, o potencial de se utilizar o sistema em edifícios altos era enorme, tendo em vista que a repetitividade aumenta a produtividade da mão de obra e a capacidade potencial resistente do sistema sempre foi superabundante. Em um estudo realizado em 2010 pela Pasqua e Graziano, já era possível inferir que o sistema tinha uma grande vocação para edifícios altos”, destaca Graziano. 

Benefícios do uso das paredes de concreto em prédios altos

Ao adentrar o cenário de edifícios altos, Graziano diz que é notável um aumento na espessura das paredes e das lajes. “No entanto, apenas uma parte das paredes é construída em concreto, sendo que a maior parte é composta por partições leves. Nesse contexto, surge uma ponderação: ‘estamos lidando com um volume substancial de concreto nesta empreitada’. No entanto, ao incorporarmos partições leves em determinadas seções, conseguimos reduzir consideravelmente a espessura média. Essa abordagem também contribui para diminuir o peso total exercido sobre as fundações", explica.

Graziano mostrou uma simulação realizada em 2016 para ilustrar essa ideia: “Ao comparar uma planta onde 100% das partições são em concreto, resultou em uma espessura média de 0,335 m3/m2. Ao remover partes que podiam ser substituídas por partições leves, sem ultrapassar a espessura da laje em mais de 12 cm, foi possível reduzir essa medida para 0,285 m3/m2. Essa otimização não apenas tem o potencial de tornar a estrutura mais econômica em termos de consumo de concreto, mas também oferece vantagens significativas para edifícios mais altos”.

Graziano cita que outra vantagem do uso das paredes de concreto é a minimização do número de ciclos operacionais. “Enquanto o sistema convencional fica pendente de muitos ciclos operacionais, o sistema em paredes de concreto tem dois ciclos, que operam mais rápido”, afirma.

Graziano também menciona outros pontos:

- Elétrica sobe junto com a estrutura;

- Revestimentos são minimizados;

- Desaprumo mais controlado;

- Fachada sobe junto com a estrutura;

- Custo mais próximo do previsto (assertividade);

- Ausência de “requadrações” (pois não há vigas). “Eu sempre lembro que quando eu trabalhava em obra que a requadração custava em obra por metro linear o que custava o metro quadrado do revestimento”, alerta Graziano. 

Equipes para trabalhar com paredes de concreto em prédios altos

Para Graziano, os arquitetos devem ter visão sistêmica e estar preocupados com a modularidade, assim como entender muito bem do sistema, suas potencialidades e restrições. Já os engenheiros de sistemas prediais devem compreender que as paredes são estruturas de maneira a minimizar as interferências que gerem custo direto e potencial de patologias. Engenheiros de fundações também necessitam de visão sistêmica e integração entre as disciplinas de geotecnia e estruturas. “Além disso, está previsto em norma que precisamos fazer uma interação solo-estrutura porque a estrutura da parede de concreto é extremamente rígida. Ela não vai apresentar uma patologia de recalque referencial. Se tiver problema, ela vai tombar – porque o prédio é muito rígido. O consultor de fundações deve estar ciente disso”, explica Graziano.

Revisão NBR 16055: o que contribuiu para a viabilidade?  

Graziano aponta que a revisão da NBR 16055 trouxe as seguintes melhorias:

  1. Viabilizou a integração do sistema convencional com o de paredes de concreto.
  2. Permitiu que paredes de até 18 cm possam ser armadas com tela simples e centrada.
  3. Aumentou a capacidade limite das paredes para utilização da expressão simplificada.
  4. Expandiu e elucidou procedimentos de verificação e de dimensionamento que viabilizam edifícios de maior número de andares. 

Próximos desafios

De acordo com Graziano, um dos próximos desafios é a integração das estruturas de concreto (NBR 6118) com as normas de Paredes de Concreto (NBR 16055), de maneira a utilizar-se o melhor das duas posturas de projeto estrutural.

Além disso, Graziano entende que é preciso viabilizar a construção de edifícios de parede com 30 andares ou mais sobre pilotis e sem vigas de transição. 

“Eu acredito que estamos só começando esse sistema e tem muito futuro pela frente, muita coisa pra aprendermos e desenvolvermos”, conclui Graziano. 

Fonte:

O engenheiro Francisco Paulo Graziano é sócio-diretor da Pasqua e Graziano Consultoria, Concepção Estrutural e Projeto. Ex-Presidente e atual Conselheiro da ABECE. Ele tem mestrado em Engenharia de Estruturas na EPUSP e é professor do Departamento de Estruturas da EPUSP desde 1979.

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Como trazer a sustentabilidade para a cadeia do concreto?

Para José Marques Filho, todo e qualquer projeto antes de ser começado tem que ter estudo de viabilidade sustentável.
Crédito: Marina Pastore

O aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2) devido à produção de concreto e o crescimento populacional global têm gerado discussões no setor. De acordo com dados do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), as mudanças climáticas têm ligações profundas com as atividades humanas, sendo que o setor de construção civil é bastante criticado por consumir muitos recursos naturais e gerar muitos resíduos. O dilema enfrentado pelos profissionais da área é complexo: por um lado, a sociedade cresce exponencialmente e demanda mais infraestrutura, incluindo moradia, transporte e energia; por outro, é imperativo reduzir as emissões de CO2 e adotar práticas mais responsáveis. Foi essa reflexão que o engenheiro José Marques Filho, professor do Departamento de Construção Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR), trouxe para a Concrete Show 2023, com a palestra “Abordagens de Sustentabilidade na Cadeia do Concreto”.

Para Filho, a abordagem de sustentabilidade na cadeia do concreto é multifacetada, englobando as dimensões ambientais, sociais e econômicas. “Hoje, nós do concreto, estamos falando pura e simplesmente de mudanças climáticas, o que é um erro, na minha opinião. Fala-se muito da emissão de gases e da pegada de carbono que permeiam toda a cadeia. No entanto, é preciso também olhar para a dimensão social, como a segurança no trabalho. Neste sentido, o concreto autoadensável é uma boa solução, uma vez que diminui peso, vibração e ruído. A capacitação dos trabalhadores para novas tecnologias é imperativa, assim como melhorar a comunidade local. A indústria da construção, um notável gerador de emprego e renda, deve conciliar esses aspectos. A economia é vital; as soluções não devem inflacionar o preço do cimento”, opina o professor.

Soluções holísticas para lidar com sustentabilidade na construção civil

Filho acredita que a indústria do cimento no Brasil é bastante avançada e é piloto em inovação. “É preciso um trabalho de ciclo de vida. A relevância dos métodos construtivos, análises estruturais e dosagem é tão crucial quanto o aprimoramento do cimento. Para alcançar isso, é necessária uma mentalidade de mudança. A eficácia da cadeia produtiva do concreto depende do uso de novos materiais, investigações apropriadas, processos construtivos otimizados e análises estruturais refinadas. Todo e qualquer projeto antes de ser começado tem que ter estudo de viabilidade sustentável”, afirma o engenheiro.

Dentre as tecnologias que já estão sendo usadas estão:

O concreto de alta resistência: 

1. - uso de sílica e metacaulim;

- evolução dos aditivos;

- pode ser economicamente vantajoso.

2. Medidas dos impactos de todos os elos da cadeia de produção em termos de GEE.

3. Concreto autoadensável está se sedimentando.

4. Análises e ensaios de durabilidade evoluíram.

5. Levantamentos dos impactos de concreto dosado em central e on-site.

6. Sedimentação dos estudos de granulometria do esqueleto granular – empacotamento.

7. Estudos de aglomerantes com adições (LC3 - adições – quaternários).

8. Aplicação de agregado pulverizado.

9. Pesquisas com usos de resíduos.

Filho acredita que a sustentabilidade depende de todos os processos da cadeia de produção. “Esforços isolados podem não ser totalmente efetivos. Além disso, é preciso repensar a normalização brasileira. Qualidade, inovação e foco na sustentabilidade devem estar dentro de todos os processos da cadeia do concreto. As soluções devem estar orientadas para os parâmetros necessários e não simplesmente à resistência à compressão. Metodologias construtivas, análises estruturais, estudos de durabilidade e dosagem são tão importantes quanto as iniciativas de melhoria do cimento”, explica o professor.

 Dentre as abordagens possíveis, o engenheiro menciona algumas possibilidades:

- Novos índices: CO2/MPa/idade; CO2/m2; CO2/m3; CO2/m2/idade; CO2/m3/idade. “Decisão e métodos de estudo utilizando índices que permitam avaliar a aderência da solução aos processos sustentáveis”, pontua. 

- Utilização de concretos com alta resistência, uma vez que reduzem relação CO2/MPa/idade e diminuem o volume de concreto e formas. Além disso, otimizam benefícios do cimento, aumentam durabilidade e proporcionam melhor controle da qualidade de execução. 

- Aplicação intensiva de agregado pulverizado, que gera nucleação de cristais, preenchimento de vazios e pode auxiliar nos parâmetros de concreto fresco. Ao utilizar técnicas de empacotamento, potencializa-se significativamente a resistência, tornando mais eficiente o cimento, diminuindo os índices que incluam emissões.

- Aplicação intensiva de adições com reações pozolânicas: sílica ativa, argila calcinada finamente moída etc.

- Durabilidade é um vetor óbvio da sustentabilidade. 

Fonte:
José Marques Filho é engenheiro e professor do Departamento de Construção Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Contato: jmarquesfilho@gmail.com.br

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Marina Pastore
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Industrialização pode ajudar a reduzir o déficit habitacional

Industrialização na construção civil reduz tempo de obra em até 70%, além de diminuir a quantidade de resíduos produzidos.
Crédito: AESCOM/MCid

O déficit habitacional no Brasil foi estimado em 5.876.699 domicílios em 2019, segundo os últimos dados divulgados pela Fundação João Pinheiro (FJP). Na pandemia, entretanto, esse índice parece ter aumentado. Em entrevista ao Massa Cinzenta, Renato de Sousa Correia, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), apontou que é preciso reduzir o déficit habitacional de quase 7 milhões de famílias sem moradia digna.

Durante o encontro entre a CBIC, a Caixa Econômica Federal e a Secretaria Nacional de Habitação (SNH) em julho de 2023, a industrialização do setor da construção foi apontada como ferramenta para contribuir com a resolução do déficit habitacional.

No evento, Inês Magalhães, vice-presidente de Habitação da Caixa, lembrou que a quantidade de unidades previstas para minimizar este índice nos próximos 20 anos é de cerca de um milhão de habitações por ano. Por isso, ela vê a necessidade de uma maior escala de produção.

O tema também fez parte do Seminário Industrialização da Construção Residencial, promovido pelo Sindicato da Construção Civil do Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS) e Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA-RS). Roberto Sukster, vice-presidente do Sinduscon-RS, ressaltou a importância de um esforço coletivo de toda a cadeia produtiva para tornar a construção industrializada uma realidade concreta. O presidente da Asbea-RS, Vicente Brandão, lembrou que a projeção do déficit habitacional para 2030, segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), é de 30,7 milhões de unidades. “Além de vontade política, é preciso muita agilidade no enfrentamento deste gargalo social”, pontuou Brandão.

Uma das vantagens deste sistema é que ele reduz tempo de obra em até 70%, além de diminuir a quantidade de resíduos produzidos. De acordo com Ricardo Brito, diretor de Engenharia da Callabrez, a industrialização consiste na utilização de sistemas construtivos que utilizam menor número de materiais e poucos processos. 

“Quando falamos em robotização ou digitalização isso vem desde a parte de projeto, passando pela execução e pela montagem. Industrializar efetivamente é quando estamos construindo offsite. Nós temos a planta, nós trabalhamos com as peças prontas na planta e trazemos para a montagem em canteiro. À medida em que a robotização avança, os processos de montagem começam a ficar muito mais seguros e eles passam a ser monitorados por drones e a fazer a operação dos guindastes com muito mais tecnologia envolvida. No projeto, a décima dimensão do BIM é a industrialização. Com relação à sustentabilidade, a industrialização tem um papel preponderante em relação à neutralidade de carbono”, afirmou a engenheira Íria Doniak, presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (Abcic) e vice-presidente da Federação Internacional do Concreto (fib) na gestão 2023-2024 durante o evento Concrete Show 2023. 

Entraves para industrialização da construção civil

No Brasil, ainda existem diversos desafios relacionados à industrialização. “Temos um mercado imenso para crescer com sistemas construtivos industrializados. As barreiras não são de natureza tecnológica – elas são referentes a questões tributárias, de financiamento (ainda demasiadamente longos), entre outros. Mas estes desafios estão sendo vencidos justamente porque estão sendo atropelados pela demanda da neutralidade de carbono. Não vai existir outra forma de desmaterializar a não ser utilizar o concreto de uma forma mais inteligente do que aquela que utilizamos hoje”, argumenta Íria.

“Nós precisamos trabalhar para mudar as políticas públicas no sentido de desenvolver projetos, como o Minha Casa Minha Vida, utilizando construção industrializada, como forma de reduzir a autoconstrução que gera muito desperdício. Temos muito potencial para crescer com relação a isso. Há vários sistemas construtivos que estão sendo desenvolvidos, como paredes de concreto pré-moldadas, alvenaria estrutural, entre outros. Com o déficit residencial que nós temos hoje, cabe ao Governo incentivar o uso de boas técnicas neste programa habitacional”, destacou Julio Timerman, vice-presidente do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon), durante o Concrete Show 2023.

Uma pesquisa conduzida pela FGV IBRE em abril de 2023 com empresas do setor de construção no país apresentou uma visão bastante desfavorável com relação ao uso de pré-fabricados: somente 34,6% das empresas incorporam este tipo de tecnologia em seus projetos. O desempenho mais positivo é observado entre as empresas que se dedicam a Edificações Não Residenciais, alcançando 47,7%. Mesmo entre as empresas que adotam abordagens industrializadas, apenas 24,5% empregam essas técnicas em mais da metade de suas empreitadas. 

De acordo com artigo da FGV “Construção: produtividade e modernização”, de Ana Maria Castelo, Iuri Viana e Carlos André Vieira, dentre os aspectos que dificultam a industrialização estão a qualificação da mão de obra, o custo do financiamento e a estrutura tributária que onera mais a aquisição de insumos industrializados, deixando a produção no canteiro menos onerosa do ponto de vista tributário. Segundo o artigo, no Brasil, há uma relação importante da questão da baixa produtividade na construção civil com os baixos níveis de utilização de processos industrializados. 

A construção que lida com a parte fabril tem um entrave grande que é a questão dos impostos – tanto a produção fabril quanto a do canteiro de obras terão uma questão de taxação maior. “É muito difícil ver este tipo de construção ficar muito mais barata do que aquelas feitas com os sistemas construtivos tradicionais. Ainda existe uma questão logística importante – há um processo de fábrica que demora muito mais tempo e que precisa ser transportado para o canteiro de obras e esta montagem é muito rápida. Necessariamente, há este descompasso, no qual o tempo de produção é muito diferente”, explica Daniela Dietz Viana, professora adjunta do Departamento Interdisciplinar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando no curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, com foco nas disciplinas da terminalidade de Engenharia de Serviços.

Para Daniela, uma das formas de entender este entrave é a questão do objetivo da construção. “Se o proprietário tem um ganho muito grande com esta questão do tempo, vai valer a pena gastar mais no produto e ganhar no tempo para ele ficar pronto. Há casos famosos de escolas e hospitais que foram desenvolvidos com esta tecnologia modular e tinham essa necessidade de serem produzidos de forma muito rápida”, aponta. 

Íria e Timerman apontaram durante o Concrete Show 2023 que atualmente existe uma dificuldade com relação à mão de obra, uma vez que os jovens hoje estão mais interessados na tecnologia. “Trabalhar a indústria para qualificar e reter a mão-de-obra num ambiente industrial acaba sendo mais fácil e também conseguimos produzir mais com menos em todos os sentidos – tanto dos recursos materiais quanto dos recursos humanos”, conclui Íria. 

Fontes:
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
FGV IBRE
Caixa Econômica Federal
Sindicato da Construção Civil do Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS)
Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA-RS)
Ricardo Brito é diretor de Engenharia da Callabrez

Daniela Dietz Viana é professora adjunta do Departamento Interdisciplinar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando no curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, com foco nas disciplinas da terminalidade de Engenharia de Serviços.

Contatos
CBIC: imprensa@cbic.org.br
FG IBRE: assessoria.fgv@insightnet.com.br
Caixa Econômica Federal: impre​nsa@ca​ixa.gov.br 
Sindicato da Construção Civil do Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS):   sinduscon@sinduscon-rs.com.br 
Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA-RS): asbea@asbea.org.br 
Assessoria de imprensa Callabrez – boncomunica@gmail.com  
Daniela Dietz Viana: dietz.viana@ufrgs.br
Abcic - sylvia@meccanica.com.br
Ibracon - fabio@ibracon.org.br

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Atualização da ABNT NBR 14725 é publicada

A norma anterior ainda pode ser aceita por 24 meses após a publicação da revisão.
Crédito: Envato

Em julho de 2023, foi publicada a atualização da norma ABNT NBR 14725, que estabelece novas diretrizes para classificação de perigo, rotulagem e a nova Ficha com Dados de Segurança (FDS). 

De acordo com Camila Hubner Barcellos Devincentis, superintendente do Comitê Brasileiro de Química – ABNT/CB-010 e gerente de Assuntos Regulatórios, Comissões Setoriais, Sustentabilidade e Inovação da Abiquim, a ABNT NBR 14725 constitui parte do esforço para a aplicação do Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos, no âmbito das Nações Unidas. “Ela se tornou referência para as empresas classificarem e comunicarem os perigos dos produtos químicos, por meio dos rótulos e de suas Fichas de Dados de Segurança (FDS), gerando maior segurança em todo o ciclo de vida do produto assim como para os trabalhadores, a sociedade e o meio ambiente”, explica Camila.

A ABNT NBR 14725 tem como base o Livro Púrpura da ONU (Purple Book) para classificação e comunicação de perigos segundo o Sistema Globalmente Harmonizado (GHS), que é revisado a cada dois anos, e não se encontra disponível no idioma português. “A revisão da ABNT NBR 14725 foi realizada justamente para contemplar a 7ª edição do Purple Book para o Brasil, considerando os critérios para classificação de perigo GHS para produtos químicos, bem como a comunicação de perigos por meio da rotulagem e Ficha de Dados de Segurança (FDS)”, destaca Camila.

A norma anterior ainda pode ser aceita por 24 meses após a publicação da revisão, de acordo com o citado na ABNT NBR 14725. “Entretanto, é importante ressaltar que esta é uma orientação, pois a ABNT NBR 14725 não está explicitamente citada em legislação brasileira, e nesse caso não tem caráter compulsório (obrigatório)”, justifica Camila.

O que muda com esta revisão?

A ABNT NBR 14725 - Produtos químicos — Informações sobre segurança, saúde e meio ambiente — Aspectos gerais do Sistema Globalmente Harmonizado (GHS), classificação, FDS e rotulagem de produtos químicos, antes dividida em 4 partes, em sua nova versão passou a ser uma única norma, segundo Camila.

Além disso, Camila aponta outras mudanças importantes:

Classificação de perigo
A - Inclusão das classes “explosivos dessensibilizados” e “perigos à camada de ozônio”;
B - Alteração nos critérios de classificação das classes de perigo “gases inflamáveis”, “toxicidade aguda”, entre outras;
C - Inclusão e/ou alteração de frases de perigo (frases H) e frases de precaução (frases P).

Rotulagem
A - Inclusão de regras para rotulagem de pequenas embalagens e produtos de uso interno.

Fichas de Segurança
A - Atualização do nome do documento, conhecido atualmente como FISPQ – Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos, para FDS – Ficha de Dados de Segurança, alinhada à nomenclatura do GHS.

Impactos para a construção civil

De acordo com o Decreto no 2.657/98 e a Portaria no 229/11 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que alterou a Norma Regulamentadora 26, todo produto químico classificado como perigoso de acordo com o Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos (GHS) deve possuir a FDS. “A ficha também é exigida para produto químico não classificado como perigoso, mas cujos usos previstos ou recomendados derem origem a riscos à segurança e saúde dos trabalhadores. No caso da construção civil, ela deve ser exigida para produtos do tipo: pigmentos, colas, adesivos e selantes, solventes, dentre outros”, afirma Camila.

Camila lembra ainda que a FDS é uma das principais ferramentas no processo de comunicação de perigos entre o fabricante e o usuário de produtos químicos, e as informações ali contidas contribuem para o atendimento a outras regulamentações existentes.

Entrevistada 
Camila Hubner Barcellos Devincentis é superintendente do Comitê Brasileiro de Química – ABNT/CB-010 e gerente de Assuntos Regulatórios, Comissões Setoriais, Sustentabilidade e Inovação da Abiquim 

Contato:
Assessoria de imprensa: daniela.nogueira@fsb.com.br

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