Prédio sem elevador pode receber o equipamento?

É importante ter um projeto bem planejado. Em alguns casos, se faz necessário construir estrutura anexa para não comprometer o edifício

Por: Altair Santos

Com o envelhecimento da população brasileira, elevadores não são mais itens de luxo em edifícios. Porém, instalar o equipamento em prédios cujo projeto não previa seu uso, requer estudo criterioso de viabilidade técnica da edificação, incluindo cálculos estruturais. Há casos em que é necessário construir uma estrutura paralela para não expor a edificação antiga a esforços extras. Outro empecilho pode estar na arquitetura do empreendimento, que impede, por exemplo, a execução do fosso do elevador.

Fosso de concreto pré-fabricado construído sem afetar a estrutura do prédio, para a instalação de elevador
Fosso de concreto pré-fabricado construído sem afetar a estrutura do prédio, para a instalação de elevador

Em boa parte dos casos, as empreiteiras contratadas para avaliar a obra e promover a construção que vai receber o elevador optam por uma estrutura independente, que não cause sobrecarga no edifício. Quando isso ocorre, a solução pode estar em componentes pré-fabricados de concreto ou em aço. “Preferencialmente, os elevadores em prédios antigos devem ser instalados em estrutura própria. Com isso, garante-se a integridade da estrutura da edificação, pois a transmissão de esforços é feita de forma independente”, explica o engenheiro Sérgio Rodrigues.

Após a publicação da Norma de Desempenho, em 2013, tornou-se recomendável que retrofit em edifícios antigos, que não possuam elevadores, façam estudo de viabilidade para a instalação do equipamento. A ABNT NBR 15575 também tornou obrigatório que projetos de novos edifícios com até cinco pavimentos contemplem a instalação de elevadores. “As novas construções já nascem preparadas para suportar os esforços do equipamento. O mesmo não acontece com os edifícios antigos, em que esse tipo de demanda não era prevista”, completa Sérgio Rodrigues.

Para retrofit de prédios que planejem ter elevadores, é importante estar atento aos custos. Também é relevante que a instalação do equipamento tenha a aprovação de 100% dos condôminos, pois implica em alterar a estrutura da edificação. Por isso, obras desta envergadura não saem por menos de R$ 150 mil, dependendo do que for especificado no projeto. Se a estrutura para suportar o elevador for construída de forma independente do prédio, ela também vai precisar da aprovação unânime dos condôminos.

CREA precisa autorizar

Estruturas metálicas também podem ser anexadas aos edifícios antigos para receber elevadores
Estruturas metálicas também podem ser anexadas aos edifícios antigos para receber elevadores

Os modelos mais baratos de elevadores vendidos no Brasil não saem por menos de R$ 40 mil. O fabricante se responsabiliza pela instalação do equipamento e pela especificação do tipo de aparelho que melhor atende a edificação, mas não se responsabiliza pela parte estrutural, ou seja, o condomínio precisa contratar uma construtora especializada neste tipo de obra. A vantagem, após a instalação do elevador, é que ele facilita a mobilidade dos moradores e ajuda a valorizar o imóvel, em caso de venda ou locação.

Depois que a obra é entregue, o condomínio precisa passar por uma inspeção do CREA para que o uso do elevador seja autorizado. Também é obrigatório contratar uma empresa para a manutenção do equipamento. Quando o condomínio decide trocar esse fornecedor, é necessário fazer um comunicado ao CREA, pois as empresas que atuam nesta área precisam estar regularizadas no organismo, possuir responsáveis técnicos e terem autorização para prestar esse tipo de serviço.

Entrevistado
Engenheiro mecânico Sérgio Rodrigues, consultor da SECIESP (Sindicato das Empresas de Conservação e Instalação de Elevadores do Estado de São Paulo)

Contato
seciesp@seciesp.com.br

Crédito Fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Minha Casa Minha Vida faz 8 anos, entre acertos e erros

Em seu auge, programa foi grande alavanca para movimentar a cadeia produtiva da construção civil e criar milhões de empregos

Por: Altair Santos

Principal programa habitacional do país em 50 anos, o Minha Casa Minha Vida completa oito anos neste mês de março. No período, equilibra-se entre acertos e erros. Entre os pontos positivos estão o enfrentamento do déficit habitacional, focado em habitações de interesse social, além de atender faixas salariais que realmente carecem de casa própria. O programa também foi uma grande alavanca para impedir que o país fosse dragado pela crise internacional de 2008, movimentando a cadeia produtiva da construção civil e criando mais de um milhão de empregos.

Conjunto Viver Melhor, em Manaus-AM: inauguradas em 2012, unidades apresentam até problemas estruturais
Conjunto Viver Melhor, em Manaus-AM: inauguradas em 2012, unidades apresentam até problemas estruturais

Por outro lado, foi vítima de falta de gestão, o que, em um segundo momento, gerou inadimplência do governo federal com as construtoras - sobretudo as pequenas. O uso político do programa e falhas no mecanismo de cobrança de mutuários com prestações atrasadas, sobretudo na faixa 1, também causaram prejuízos ao Minha Casa Minha Vida. Esses fatores, aliados à crise econômica que atinge o país desde 2014, afetam a capacidade de investimento do MCMV.

É o que revelam números da ABRAMAT (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção). Até 2014, o programa respondia por 7% das vendas dos fabricantes, ou seja, R$ 5,25 bilhões por ano, dentro de um setor que gera negócios na ordem de R$ 75 bilhões. “Com a queda no volume de construções, atualmente o Minha Casa Minha Vida representa apenas 2% no volume de vendas dos fabricantes”, afirma Walter Cover, presidente da ABRAMAT.

Apesar das ações do governo federal para tirar o programa da inércia, prometendo contratar 600 mil novas unidades em 2017, a ABRAMAT avalia que este ano o impacto do Minha Casa Minha Vida na cadeia produtiva da construção civil será zero. A expectativa é que os reflexos positivos do MCMV só sejam sentidos em 2018. Por isso os fabricantes, através de sua entidade de classe, trabalham para ajudar o governo a alavancar o Cartão Reforma e o Construcard, a fim de reaquecer o chamado “mercado formiguinha” – aquisição de materiais para pequenas reformas.

Qualidade das obras
Diante destes entraves, o Minha Casa Minha Vida completa oito anos sem conseguir atingir seu principal objetivo: combater o déficit habitacional. Até 2012, essa meta foi cumprida. Nos primeiros três anos, o programa conseguiu redução anual de 2,8%. O déficit habitacional chegou a 5,4 milhões, mas atualmente já voltou a superar os 6 milhões. De 2014 até 2016, cresceu a uma taxa de quase 1,5%, o que praticamente anula o impacto positivo causado pelo MCMV nos primeiros anos.

Outro obstáculo que o programa precisa superar é a qualidade das obras. Patologias como infiltrações, rachaduras de lajes e trincas em paredes têm desencadeado uma série de ações de mutuários contra União, Caixa Econômica Federal e construtoras. Um exemplo emblemático está em Manaus-AM. Na capital amazonense, em 2012, foi construído o maior conjunto habitacional do MCMV para a faixa 1. Passados cinco anos, das 8.895 unidades de Viver Melhor, quatro mil apresentam problemas - algumas com comprometimento das estruturas. O resultado é um pedido de indenização na ordem de R$ 133 milhões.

São fatos que servem de alerta para que o Minha Casa Minha Vida faça os ajustes necessários e volte a ser protagonista para a cadeia produtiva da construção civil.

Entrevistados
ABRAMAT (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção) (via assessoria de imprensa)
CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) (via assessoria de imprensa)

Contatos
ascom@cbic.org.br
abramat@abramat.org.br

Crédito Foto: PAC

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Calçadas se adaptam aos usuários de smartphones

Na China, na Holanda e na Alemanha, cidades procuram se adequar às novas tecnologias e aos hábitos dos pedestres, e exportam ideias

Por: Altair Santos

Pedestres que caminham manuseando smartphones têm trazido preocupação aos gestores das cidades. O motivo é o aumento de acidentes, como atropelamentos e quedas, por causa da desatenção com o trânsito ou obstáculos nas vias. Por enquanto, a melhor solução para minimizar esses problemas tem sido adaptar as calçadas.

Iluminação de LED instalada em cruzamento da Bodegraven-Reeuwijk: calçada high-tech
Iluminação de LED instalada em cruzamento da Bodegraven-Reeuwijk: calçada high-tech

Em Chongqing, na China, foram criadas vias exclusivas para quem utiliza aparelhos celulares. A solução foi adaptar a sinalização no chão, que é para onde as pessoas olham quando estão caminhando e teclando seus aparelhos. Os urbanistas da cidade também decidiram dividir as calçadas. Pedestres sem smartphones de um lado, com smartphones do outro.

A iniciativa teve o incentivo das próprias fábricas chinesas de aparelhos celulares. O país já é o maior consumidor de smartphones do mundo. Em 2017, a China deverá ultrapassar 1,4 bilhão de habitantes, dos quais 800 milhões utilizam os equipamentos. O país é também o que mais usa internet móvel no mundo: 158 minutos por dia contra a média mundial de 117 minutos.
Na Holanda, o número de celulares é bem menor, se comparado com a China, mas na cidade de Bodegraven-Reeuwijk a ideia implantada em Chongqing foi aprimorada. As calçadas passaram a ter iluminação de LED nos cruzamentos, permitindo que o pedestre, mesmo olhando para seu smartphone, perceba se o sinal está aberto para ele ou não.

Rio estuda implantar

Em Augsburg, na Alemanha, área em que pedestres cruzam a linha do VLT recebeu o bompeln
Em Augsburg, na Alemanha, área em que pedestres cruzam a linha do VLT recebeu o bompeln

A calçada holandesa com iluminação de LED é uma parceria entre a prefeitura de Bodegraven-Reeuwijk e a HIG Traffic Systems. A empresa implantou o projeto-piloto em uma área escolar da cidade, reurbanizando as calçadas com pavimento intertravado (paver) e adaptando-as para receber a sinalização luminosa. “Buscamos uma região de maior vulnerabilidade, frequentada por vários estudantes jovens, para testar nosso sistema”, disse Mark Hofman, um dos desenvolvedores da HIG.

A inovação holandesa, implantada em fevereiro de 2017, se baseia em outras ideias. A principal delas, instalada em 2016 na cidade alemã de Augsburg, localizada a 35 quilômetros de Munique. Duas das calçadas mais movimentadas do centro de Augsburg, e que cruzam a área trafegada pelo VLT da cidade, receberam semáforos de solo (bompeln, em alemão). “Verificamos que 22% do público que passa por esses cruzamentos utilizam smartphones, e o risco de um acidente grave já estava ficando iminente”, justificou o porta-voz da prefeitura de Augsburg, Stephanie Lermen.

Os projetos implantados em Bodegraven-Reeuwijk e Augsburg podem chegar ao Brasil mais cedo do que se espera. Na cidade do Rio de Janeiro, por onde transita o VLT Carioca, a prefeitura recebeu proposta para implantar sinalização de LED nas calçadas. Inaugurado em 5 de junho de 2016, o Veículo Leve sobre Trilhos ainda não registrou nenhum acidente com pedestre em oito meses de operação.

Calçada na China: dividida entre quem usa e não usa smartphone
Calçada na China: dividida entre quem usa e não usa smartphone

 

Veja como funciona a calçada de LED na Holanda!

Entrevistados
- Mark Hofman, desenvolvedor da HIG Traffic Systems
- Stephanie Lermen, porta-voz da prefeitura de Augsburg

Contatos
info@hig.nl
augsburg@augsburg.de

Fotos: HIG Traffic Systems/ prefeitura de Augsburg

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Durabilidade do concreto centraliza debates nos EUA

Em Dallas, o Concrete 2029 reuniu PhDs ligados à fib e apontou tendências que devem nortear a qualidade das obras nos próximos anos

Por: Altair Santos

O evento Concrete 2029, realizado na penúltima semana de fevereiro de 2017, em Dallas-EUA, levou a comunidade internacional a se concentrar nos novos requisitos contidos em projetos para obras de infraestrutura, e que estão exigindo concreto com durabilidade de 100 anos. Três PhDs lideraram os debates. Além de fazer um apanhado das normas técnicas que prevalecem em países asiáticos, europeus e na América, Tracy Marcotte, Claude Bedard e Jacques Marchand defenderam que, para grandes obras, deveriam prevalecer os códigos internacionais da fib (Federação Internacional de Betão), a fim de que haja uma uniformidade nas construções, com foco na durabilidade e na manutenção.

Para debatedores do Concrete 2029, qualidade do concreto e qualidade do projeto andam de mãos dadas
Para debatedores do Concrete 2029, qualidade do concreto e qualidade do projeto andam de mãos dadas

O código da fib é consignado por 44 países (Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Bielorrússia, Brasil, Canadá, China, Croácia, Chipre, República Checa, Dinamarca, Egito, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Índia, Irã, Israel, Itália, Japão, Luxemburgo, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, Romênia, Rússia, Sérvia, Eslováquia, Eslovênia, África do Sul, Coréia do Sul, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Ucrânia, Reino Unido e EUA). Em tese, deve servir de base para as normas técnicas desenvolvidas dentro de cada uma destas nações. No Brasil, seus conceitos estão embutidos principalmente na ABNT NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento –, cuja mais recente revisão está em vigor desde 29 de maio de 2014.

Novas tendências
Para integrantes da indústria do concreto que participaram da Concrete 2029, os projetistas estão rigorosos com a questão da durabilidade quando especificam a resistência do material, mas são condescendentes na hora de estabelecer as manutenções periódicas e de expor o projeto a uma revisão. “Tornou-se comum o projeto especificar concreto de alta resistência, que ultrapassa facilmente 100 MPa, mas não há o mesmo grau de exigência no momento de verificar se um pilar foi bem dimensionado”, criticou Jay Thomas, representante dos construtores dos Estados Unidos, e que participou do evento. “Se queremos estruturas de concreto que durem mais de 100 anos, é preciso ir além da resistência do material”, completou.

O Concrete 2029 concentrou os debates em quatro pilares: strengths, weaknesses, opportunities e threats (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças). O seminário também focou nas novas tendências. Entre elas, estruturas mistas de concreto e madeira. O Canadá está investindo em projetos com os dois materiais e em Vancouver está em construção um edifício corporativo de 40 pavimentos que utiliza essa tecnologia. A alegação é que a madeira minimiza a pegada de CO2 do concreto, tornando a combinação mais sustentável que a tradicional estrutura mista aço-concreto. As construções em concreto feitas com impressoras 3D também estiveram no foco do evento. Para os debatedores, a normalização dos processos que envolvem esse tipo de obra deve ser priorizada pela fib.

Entrevistado
Conselho de Desenvolvimento Estratégico da Indústria de Concreto dos Estados Unidos, promotor do Concrete 2019 (via assessoria de imprensa)

Contato
sdc@concretesdc.org

Crédito Foto: SDC

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

De trevos e rotatórias a obras de arte da engenharia

Construções utilizam tecnologia de ponta para interligar rodovias e avenidas, sem que haja interrupção no tráfego de veículos

Por: Altair Santos

A engenharia de tráfego, junto com a engenharia civil e a engenharia calculista, tem conseguido transformar antigos cruzamentos e entroncamentos rodoviários em verdadeiras obras de arte. As rotatórias, também conhecidas como “balões” em algumas regiões do Brasil, evoluíram para estruturas complexas, que permitem que os veículos transitem sem que o tráfego congestione ou coloque em risco a segurança dos motoristas. O conceito perseguido pelos engenheiros que atuam nesta área é possibilitar que o trânsito flua ininterruptamente, mesmo em horários de pico.

Trevão de Ribeirão Preto-SP, considerado atualmente o maior entroncamento do país
Trevão de Ribeirão Preto-SP, considerado atualmente o maior entroncamento do país

No Brasil, o melhor exemplo deste tipo de obra está no quilômetro 307 da rodovia Anhanguera, no trecho que passa por Ribeirão Preto-SP. Uma rotatória com 420 metros de diâmetro, construída em 1972, foi substituída por um complexo viário com 11,8 quilômetros de extensão, que abrange 8 viadutos em concreto protendido e 20 alças de acesso e retorno. O objetivo era desafogar o tráfego diário de 80 mil veículos que passava pela rotatória até 2013, quando começaram as obras, e projetar uma estrutura capaz de suportar o aumento do fluxo ao longo de 30 anos. Atualmente, já passam pelo entroncamento 92 mil veículos.

A projeção é que em 2045 trafegarão pelo “trevão”, como foi apelidado o complexo viário, cerca de 160 mil veículos por dia. Todos os estudos de traçado e de volume do tráfego foram realizados com o auxílio dos softwares Power Civil e RM Bridge. Os alinhamentos horizontais, verticais e de superfícies possibilitaram analisar dinamicamente os impactos gerados no projeto. “Todas as alternativas foram amplamente estudadas pelas equipes de geometria e de estrutura, o que permitiu resolver antecipadamente todas as possíveis interferências que poderiam ocorrer durante sua execução”, explica o engenheiro civil José Eduardo Salvatto, que realizou os estudos viários.

Prêmio internacional

Trevo antes da remodelagem não estava mais suportando o fluxo de 80 mil veículos por dia
Trevo antes da remodelagem não estava mais suportando o fluxo de 80 mil veículos por dia

O projeto foi finalista do “Be Inspired” de 2016, na categoria “Inovation in Roads”, premiação que acontece anualmente em Londres. Além das soluções de tráfego encontradas para o complexo viário, a remodelação incluiu também a construção de uma passarela de pedestres com 440 metros de extensão, 212 metros de rampas de acesso e escadas e 4 metros de largura, para permitir o tráfego de pedestres e ciclistas, atendendo às mais exigentes normas de acessibilidade. A estrutura da passarela é composta de treliças metálicas, com vãos de cerca de 30 metros, piso formado por laje de concreto, apoiada sobre 14 pilares de concreto. Nas extremidades, estão dispostas rampas e escadas também em concreto armado.

Concluída quatro meses antes do prazo, a obra teve um custo de R$ 120 milhões e está em operação desde 2015. Ela coloca o Brasil na vanguarda de construção de trevos. O país, ao lado de Estados Unidos, China e Índia, é o que tem o maior número de trevos rodoviários no mundo. Os EUA são pioneiros neste tipo de construção. Os mais antigos surgiram nos anos 1920, por causa da expansão rodoviária. Já o primeiro trevo urbano com transposição por viaduto foi construído em Estocolmo, na Suécia, em 1935. Voltando ao Brasil, o estado de São Paulo, com seus 34.650 quilômetros de rodovias, é o que tem o maior número de entroncamentos com essas características.

Entrevistado
Engenheiro civil José Eduardo Salvatto, da Beta2 Engenharia

Contato
Eduardo.salvatto@beta2.com.br

Crédito Foto: Arteris/SETENGE-Beta2 e Reprodução

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Muro EUA-México consumiria 12,6 milhões de m³ de concreto

Se sair do papel, obra pode custar até US$ 25 bilhões e, comparadas as dimensões, só ficaria atrás da Muralha da China

Por: Altair Santos

Muro com placas de aço, construído no governo Bush, na região do Arizona
Muro com placas de aço, construído no governo Bush, na região do Arizona

O muro que Donald Trump promete construir ao longo de 1.600 quilômetros de fronteira EUA e México não é uma obra fácil e, muito menos, barata. Seu custo é estimado entre US$ 15 bilhões e US$ 25 milhões, dependendo da complexidade do projeto. Segundo pesquisa da AllianceBernstein – gerenciadora de fundos de investimentos –, trata-se também de uma construção complexa. Para realmente cumprir a função de impedir a invasão de imigrantes ilegais, o muro deverá ter pelo menos 20 metros de altura. Além disso, as fundações precisarão estar a cinco metros de profundidade para desestimular a escavação de túneis.

Uma comissão instalada no Congresso norte-americano avalia que o maior obstáculo da obra está no preço. Presididos pelo senador republicano Mitch McConnell, os parlamentares foram atrás de dados e compararam a megaobra a outras tentativas de isolar a fronteira com o México. O muro terá que cortar quatro estados – Califórnia, Novo México, Arizona e Texas – e mais da metade será às margens dos rios Grande e Colorado, o que agrega mais dificuldades ao empreendimento. Atualmente, 670 quilômetros da fronteira entre os dois países estão isolados por uma cerca com barras de aço. O projeto foi executado durante o governo de George W. Bush, em 2006, e na época custou US$ 2,4 bilhões.

Junto com a cerca, foi criado também o Secure Fence Act – organismo responsável por controlar a fronteira com o México. Na época, após mapear toda a divisa com o México, o Secure Fence Act sugeriu que se expandisse a construção de cercas para 1.100 quilômetros. No entanto, isso praticamente dobraria o custo do investimento e o Congresso dos EUA não autorizou mais recursos. No caso de uma grande muralha de concreto, a comissão do Senado concluiu que, além do valor da obra, sua manutenção e patrulhamento ainda custariam mais US$ 750 milhões por ano ao governo norte-americano. “Investir nessa obra é usar de forma ineficiente o dinheiro do contribuinte”, disse o deputado republicano do Texas, Michael McCaul, que integra a comissão montada no Congresso.

Maior obra da história

Muro que separa Israel do território da Cisjordânia: placas pré-fabricadas de concreto em uma extensão de 751 quilômetros
Muro que separa Israel do território da Cisjordânia: placas pré-fabricadas de concreto em uma extensão de 751 quilômetros

O engenheiro estrutural Ali F. Rhuzkan fez um levantamento, a pedido da consultoria AllianceBernstein, apontando números e dados técnicos sobre a megaobra. Entre eles:
1. O clima de deserto em algumas regiões da fronteira entre EUA e México inviabiliza a concretagem in loco do muro, por oferecer o risco de gerar patologias no processo de cura do material.
2. O ideal é que a obra fosse realizada com concreto pré-fabricado, mas a logística para o transporte e a montagem pode tornar o custo do muro inviável.
3. Estima-se que 12,6 milhões de m³ de concreto sejam empregados na megaobra, além de 4,1 milhões de m³ de vergalhões de aço, o que a tornaria a maior construção da história dos Estados Unidos.
5. É impossível estimar o número de operários e o custo para mantê-los durante a obra.

Na história da humanidade, apenas três muros usando estruturas de pedra e concreto foram erguidos para separar fronteiras. A mais emblemática é a Muralha da China, construída entre 221 a.C e 1664 d.C. Ela mede 8.850 quilômetros e historiadores chineses estimam que a obra custou a vida de cerca de um milhão de pessoas. Em 1961, foi erguido o Muro de Berlim, para separar a Alemanha Ocidental (capitalista) da Alemanha Oriental (comunista). A construção tinha 154 quilômetros de extensão e custou US$ 200 milhões (em valores atuais). Em 9 de novembro de 1989 foi derrubado.

Por fim, o muro separando Israel da Cisjordânia, cuja obra começou em 2002. Até 2016, quase 70% da execução havia sido concluída. A construção abrange 721 quilômetros, tem 8 metros de altura, trincheiras com 2 metros de profundidade e arames farpados e torres de vigilância a cada 300 metros. Placas de concreto pré-fabricado viabilizam a obra, que é a principal referência para o muro EUA México.

Croqui do muro EUA-México, pensado pelo engenheiro estrutural Ali F. Rhuzkan
Croqui do muro EUA-México, pensado pelo engenheiro estrutural Ali F. Rhuzkan

Entrevistados
- AllianceBernstein, gerenciadora de fundos de investimentos (via assessoria de imprensa)
- Engenheiro estrutural Ali F. Rhuzkan

Contatos
ir@abglobal.com
a.rhuzkan@gmail.com

Crédito Fotos: Washington Post/ Ali F. Rhuzkan/ EFE

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Brasil coleta mais esgoto, mas falha no tratamento

Nas 100 cidades mais populosas do país, 50% da população consegue ter acesso à coleta, mas só 42,7% das ligações recebem destinação adequada

Por: Altair Santos

Levantamento do Instituto Trata Brasil e da consultoria GO Associados revela que - pela primeira vez - mais de 50% da população do Brasil consegue ter acesso à coleta de esgoto. No entanto, o mesmo estudo mostra que, na outra ponta, o tratamento de esgoto ainda está precário. Só 42,7% recebem destinação adequada. Os dados, com base no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) (ano-base 2015), do ministério das Cidades, levam em conta números dos 100 municípios mais populosos do país.

Obra para tratamento de esgoto no Norte do Paraná: estado é o que tem melhor serviço de coleta e tratamento de esgoto
Obra para tratamento de esgoto no Norte do Paraná: estado é o que tem melhor serviço de coleta e tratamento de esgoto

O avanço detectado ainda não está no ritmo que permita ao Brasil cumprir as metas a que se propôs, quando lançou o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab). A proposta era que a universalização dos serviços de saneamento básico fosse alcançada em 2033. Com o atual volume de investimento (R$ 13 bilhões por ano) a meta só será atingida em 2050. Para conseguir cumprir com o estabelecido no Plansab, a destinação de recursos para saneamento básico deveria ser de, pelo menos, R$ 19 bilhões até 2033.

Boa parte dos investimentos para coleta e tratamento de esgoto continua priorizando as capitais. As principais cidades de cada estado absorvem 63% dos recursos. Mesmo assim, há capitais que ainda não atingiram metas que deveriam ter sido alcançadas em 2011. “Essas 26 grandes cidades abrigam quase um quarto da população do país, então é esperado que tenham os maiores desafios para levar os serviços de água e esgoto à totalidade da população, mas é também certo que são as que têm mais condições de fazer projetos e levantar recursos para a solução. E isso não vem ocorrendo”, explica Édison Carlos, presidente-executivo do Instituto Trata Brasil.

Vazamentos
O Paraná surge como uma exceção neste cenário. O estado é destaque no ranking, com quatro cidades – Curitiba, Londrina, Maringá e Ponta Grossa – atingindo 100% da coleta de esgoto. Pelo quinto ano seguido, a capital paranaense é a primeira entre as capitais, ocupando o 11º lugar no ranking geral. Maringá foi classificada em 5º, Ponta Grossa em 7º, Cascavel em 8º e Londrina em 9º. Também aparecem bem posicionadas Foz do Iguaçu e São José dos Pinhais. “Temos 100% da população urbana atendida com água tratada e 71% com o serviço de coleta de esgoto. Do esgoto coletado, 100% é tratado”, afirma o presidente da Sanepar, Mounir Chaowiche.

Nos números gerais do país, as deficiências que abrangem toda a cadeia do saneamento ainda deixam 35 milhões de brasileiros privados de coleta e tratamento de esgoto, e também de abastecimento de água. Neste quesito, de acordo com os dados do SNIS, o índice nacional de perda de água na distribuição chega a 36,7% no Brasil. Isso se deve a vazamentos nas tubulações, ligações clandestinas e erros de medição. “É um absurdo. São volumes gigantescos de água que se perdem. A solução não é fácil, pois são quilômetros e quilômetros de tubulações para serem trocadas. Mas tem que fazer, porque, se não fizer, não vai ter recurso para investir no sistema”, alerta Édison Carlos.

Veja aqui o resumo dos dados revelados pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

Entrevistados
Édison Carlos, presidente-executivo do Instituto Trata Brasil (via assessoria de imprensa)
Mounir Chaowiche, presidente da Sanepar (via assessoria de imprensa)

Contatos
tratabrasil@tratabrasil.org.br
imprensa@sanepar.com.br

Crédito Foto: AEN

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

“Esqueleto de concreto” preserva torre medieval

Obra construída no século XIV desafiou a engenharia moderna para que parte de sua estrutura, que desabou em 2006, fosse recuperada

Por: Altair Santos

Estrutura de concreto integrada à parede que foi reconstruída, e que se apoia em escada interna
Estrutura de concreto integrada à parede que foi reconstruída, e que se apoia em escada interna

A Tour des Pucelles (Torre das Donzelas) foi umas das principais masmorras europeias no período da Idade Média. Construída na Bélgica, há mais de 550 anos, a obra histórica já sobreviveu a grandes catástrofes. Desde ataques espanhóis em 1578, durante as Cruzadas, passando por um devastador terremoto em 1580 e um grande incêndio que atingiu a cidade de Zichem, em 1599. Mas foi em 2006 que o monumento realmente correu o risco de desabar. Parte de sua estrutura de pedra ruiu, o que desencadeou a mobilização da engenharia belga para salvá-la. A solução foi criar um “esqueleto de concreto” em seu interior, a fim de sustentar o que restou da torre.

Em 1962, a Tour des Pucelles foi declarada patrimônio da Bélgica, mas nunca passou por manutenção. Originalmente, a construção tinha 26 metros de altura, 15 metros de diâmetro e paredes com 4,2 metros de espessura. O concreto usado na obra é o terceiro na escala de evolução do material: o concreto medieval, usado entre 1200 d.C e 1800 d.C. Ele sucede o concreto antigo (5000 a.C e 100 d.C) e o concreto romano (100 a.C e 400 d.C). Em seu estudo “Evolução histórica da utilização do concreto como material de construção”, de 2002, o professor Paulo Helene escreve que o concreto medieval marcou a volta do uso do material depois de mais de 800 anos.

Prossegue Paulo Helene: “Depois da queda do Império Romano, as construções de concreto na Europa tiveram um grande declínio. Somente 800 anos mais tarde, por volta do ano 1200 d.C. os construtores reabilitaram o concreto como material de construção, utilizando-o em fundações e estruturas”. Vale lembrar que o concreto medieval hoje se aproximaria mais de um tipo de argamassa do que do material atualmente usado para moldar estruturas. Na Idade Média, ele era composto por uma mistura de gipsita, calcário, areia e água e usado para assentar as pedras. Assim foi construída a Tour des Pucelles, que em 2006 apresentava total degradação do material que dava sustentação às paredes.

Concreto autoadensável

Imagem da torre em 1981, antes do desabamento de parte de sua estrutura, em 2006
Imagem da torre em 1981, antes do desabamento de parte de sua estrutura, em 2006

Para recuperar o que restou da torre, a equipe de restauradores - liderada pelos arquitetos Marc Vanderauwera, Henk De Smet e Paul Vermeulen - contratou a empresa belga de engenharia Norbert Provoost. O primeiro passo foi restaurar a argamassa que unia os tijolos das paredes da torre, injetando concreto ultrafino nas partes que tinham vãos, e que chegavam a 40% da área construída. A etapa seguinte consistiu na reconstrução da parede que havia desabado. A solução encontrada pelos projetistas foi recriar a estrutura apoiada em uma escada interna, e a partir dela partiram as demais peças de concreto que passaram a sustentar a torre.

Para o reforço, usou-se 1.440 m³ de concreto autoadensável. Na nova parede da torre, foram colocados tijolos de vidro translúcido para melhorar a iluminação interna do monumento. No topo da Tour des Pucelles foi construído um mirante com estrutura metálica, o qual sustenta um telhado que protege a construção medieval. O objetivo é preservá-la melhor da chuva e, principalmente, do acúmulo de neve no inverno belga. A expectativa dos restauradores é de que, com manutenções periódicas, a estrutura se mantenha em pé por mais alguns séculos. A recuperação começou em 2008 e foi concluída em 2014.

 

 

Entrevistados
- Studio Roma, do arquiteto Marc Vanderauwera (via assessoria de imprensa)
- HDSPV Architects, dos arquitetos Henk De Smet e Paul Vermeulen (via assessoria de imprensa)

Contatos
info@studioroma.be
info@hdspv.be

Crédito Fotos: Agentschap Onroerend Erfgoed/ Norbert Provoost/ Febelcem

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Construção 4.0 segue longe do mercado brasileiro

Empresas que perseguem conceitos inovadores ainda são minoria no país. Destas, a maioria já pratica gestão de projetos através de softwares

Por: Altair Santos

Convencionou-se chamar de Construção 4.0 tudo o que abrange automação no canteiro de obras, gestão de projetos através de softwares e emprego de novas tecnologias construtivas, como a impressão 3D. Os conceitos desta nova tendência seguem os da Indústria 4.0, já consolidada principalmente no setor automobilístico. Neste segmento, os ganhos de produtividade, redução de custos e de economia de recursos naturais são notórios. É isso o que a construção civil passou a perseguir.

Há quase um ano, na Alemanha, Bauma 2016 dava impulso à Construção 4.0
Há quase um ano, na Alemanha, Bauma 2016 dava impulso à Construção 4.0

A partir da Bauma 2016 – maior feira internacional de máquinas, veículos, materiais e equipamentos para obras e construções - ficou claro que a Construção 4.0 é um caminho sem volta. Já existe uma lista de países que avança celeremente na adoção de procedimentos embutidos nesta nova tendência. Entre eles, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Portugal, Canadá, África do Sul, Angola, Austrália e China. Na América Latina, Argentina, Chile e México já estão na frente do Brasil, o que especialistas definem como um problema para o país.

Os entraves econômicos impostos à construção civil desde 2014 inviabilizam o Brasil de acompanhar esses avanços. O receio de analistas é que o país não consiga acompanhar as evoluções e perca competitividade. “Na Bauma 2016, percebemos que o Brasil precisa saltar etapas se quiser seguir na competição, rumo à quarta revolução industrial”, disse Uirá Falseti, diretor da UpSoul, em palestra na IT Forum Expo 365.

O consultor disse que também viu na Bauma 2016, em Munique, na Alemanha, inovações tecnológicas para a produção de agregados e de concreto, todas focadas na produtividade, na sustentabilidade e eficácia. Entre os equipamentos, havia betoneiras inteligentes, que controlam todas as especificações do material desde que ele sai da concreteira até o local da obra, além de equipamentos que transformam concreto de demolição em agregados para a produção de artefatos pré-fabricados não-estruturais.

Santa Catarina lidera
É importante ressaltar, porém, que a Construção 4.0 não prioriza apenas a manufatura de produtos, mas dá relevante importância aos cuidados que se deve ter com os projetos e às exigências do mercado. “No mundo todo, a demanda por materiais de construção flutua de acordo com as exigências do mercado e confronta fabricantes a fatores como redução de custos de produção, legislação ambiental e consumidores cada vez mais exigentes. Por isso, a importância da Construção 4.0, a fim de que o setor atinja essas metas”, completou Uirá Falseti.

No Brasil, segundo dados do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) aproximadamente 800 empresas ligadas à cadeia produtiva da construção civil já adotam algum modelo de gestão dentro do conceito Construção 4.0 ou estão viabilizando a implantação. Boa parte destas companhias está ligada à área de revestimentos, porcelanatos, tubos e conexões, o que faz de Santa Catarina o estado com o maior número de indústrias entrando no universo da Construção 4.0. “Acompanhamos a construção civil catarinense e sabemos que ela está empenhada na melhoria da produtividade e na busca de inovação. O setor está alinhado às tendências mundiais em automação de processos, novos materiais e sustentabilidade”, afirmou o presidente da FIESC, Glauco José Côrte, em recente seminário sobre inovação e novas tecnologias na construção civil.

Entrevistados
- Uirá Falseti, diretor da consultoria UpSoul
- Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) (via assessoria de imprensa)
- FIESC (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (via assessoria de imprensa)

Contatos
contato@upsoul.com.br
comunicacao@cte.com.br
imprensa@fiesc.com.br

Crédito Foto: Bauma

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Casa com painéis cimentícios é alternativa às favelas

Protótipo foi montado em Pequim, na China, e ganhou prêmio internacional como projeto voltado para a acupuntura urbana

Por: Altair Santos

Senhora Fan é a primeira moradora de uma “Plugin House”
Senhora Fan é a primeira moradora de uma “Plugin House”

Na China, arquitetos criaram uma casa com placas cimentícias que pode ser montada em um dia. Batizado de Plugin House, o projeto permite que as peças sejam encaixadas e parafusadas, poupando a instalação de canteiro de obras. As paredes pré-fabricadas têm o formato de “sanduíche” e recebem placas de EPS (poliestireno expandido) no interior, para aprimorar o desempenho termoacústico da casa.

A Plugin House ganhou o Archimarathon Award na categoria acupuntura urbana. O prêmio, concedido em Milão, na Itália, venceu outros 42 projetos voltados para a melhoria da qualidade de vida em ambientes urbanos. “É uma construção que faz refletir sobre as responsabilidades sociais dos arquitetos, principalmente em países com grande concentração populacional como a China”, diz o arquiteto Zhang Ke, que liderou o projeto.

 

Visão externa da “Plugin House”: contraste em uma das hutongs de Pequim
Visão externa da “Plugin House”: contraste em uma das hutongs de Pequim

O protótipo foi montado em um hutong de Pequim. Hutongs são equivalentes às favelas no Brasil. Geralmente são formados por aglomerados de casebres, sem nenhuma urbanização, e cercados de vielas onde não trafegam carros. Para se adaptar a esse ambiente, a Plugin House foi projetada para explorar ao máximo a luminosidade natural. As instalações hidrossanitárias da obra também exigiram soluções inovadoras.

Na China, os hutongs geralmente não têm captação de esgoto. As pessoas costumam compartilhar sanitários públicos. No entanto, na Plugin House o banheiro está ligado a uma fossa séptica, com um sistema de compostagem. Também há uma instalação de reúso da água do chuveiro e das pias da cozinha e do lavabo. “São sistemas simples que utilizam o que aquele ambiente urbano oferece como alternativas”, afirma Zhang Ke.

 

Acupuntura urbana

A oportunidade de construir a Plugin House veio de uma senhora chinesa que herdou uma moradia de sua mãe em um hutong em Pequim. Por isso, o protótipo foi batizado de “Mrs Fan Plugin House”. A construção antiga foi demolida para dar lugar à casa alternativa. A concepção do projeto durou um ano e a montagem da casa aconteceu no verão chinês de 2016.

Segundo o arquiteto, o projeto pode ser uma solução para urbanizar favelas em países emergentes, como China, Índia e Brasil, adaptando-o às particularidades de cada região. O custo para projetar a Plugin House foi US$ 10 mil (cerca de R$ 32 mil) mas os criadores avaliam que a produção em massa pode reduzir pela metade o valor da casa pré-fabricada.

Zhang Ke é defensor da acupuntura urbana. O conceito, criado pelo arquiteto e teórico social finlandês Marco Casagrande, combina desenho urbano com a tradicional medicina chinesa. Trata-se de um conjunto de ações pontuais e de revitalização que podem mudar progressivamente a vida nas cidades. Na maioria das vezes, essas intervenções estão relacionadas ao urbanismo e à sustentabilidade.

 

Veja vídeo da construção “Plugin House”:

Entrevistado
Arquiteto Zhang Ke, do escritório People's Architecture Office

Contato
office@peoples-architecture.com

Crédito Fotos: People's Architecture Office

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330