China confirma US$ 100 bi para nova “Rota da Seda”
Conjunto de obras, envolvendo construção de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e linhas de transmissão, passará por 60 países
Por: Altair Santos
No dia 14 de maio de 2017, o presidente chinês, Xi Jinping, fez o anúncio oficial da construção da nova “Rota da Seda”. O caminho histórico, criado em 200 a.C, foi a primeira ligação entre ocidente e oriente, e agora servirá de base para o ambicioso projeto liderado pela China e batizado de “One Belt, One Road” (um cinturão, uma rota). Com investimento assegurado de US$ 100 bilhões, os chineses vão financiar obras em 60 países. É a maior injeção de recursos em infraestrutura já feita no mundo e envolverá construção de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e linhas de transmissão de energia, dados e combustíveis.
Para o economista Kevin Sneader, da consultoria McKinsey, não há nenhum gesto de generosidade da China em liderar esse megaprojeto. “Os chineses estão olhando um volume de obras que vai atingir 65% da população mundial, cerca de 1/3 do PIB do planeta (perto de US$ 21 trilhões) e 1/4 de todos os bens e serviços que movimentam o mundo”, diz o especialista. “É um mercado com potencial para alavancar os negócios chineses em até US$ 3 trilhões por ano”, completa Kevin Sneader. Para se ter ideia do potencial econômico do empreendimento, o PIB do Brasil em 2016 foi de 1,473 trilhão, ou seja, menos da metade do que o “One Belt, One Road” pode gerar.
Na prática, a nova “Rota da Seda” vem se materializando desde 2013, quando a China assinou os primeiros acordos de cooperação bilateral com Hungria, Mongólia, Rússia, Tajiquistão e Turquia. Há também projetos em curso, incluindo a ligação ferroviária entre o leste da China e o Irã, a qual poderá ser expandida para a Europa. Existem também novas ferrovias em construção na direção do Laos e da Tailândia, além da implantação de um TAV (Trem de Alta Velocidade) entre a China e a Indonésia. Outra consequência é que as relações marítimas entre China e países do Oriente Médio - principalmente no transporte de contêineres - praticamente triplicaram nos quatro anos recentes.
Seis grandes eixos
A concepção do “One Belt, One Road” parte de seis grandes eixos: Eurásia, China-Mongólia-Rússia, China-Ásia Central-Oeste da Ásia, Península Índia-China, China-Paquistão e Bangladesh-China-Índia-Mianmar. A partir destes corredores partirão ramais que se estenderão ao longo de 60 países, não apenas por rodovias e ferrovias, mas também conectando essas economias pelo mar, por rios e por transporte aéreo. Ao longo desses eixos serão construídas linhas de transmissão de energia, de transmissão de dados e oleodutos. Estima-se que US$ 40 bilhões dos US$ 100 bilhões que a China promete injetar no projeto já estejam investidos em obras.
Segundo analistas, é a maior liberação de recursos de um só país em outras nações desde o Plano Marshall - lançado após a Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos financiaram a reconstrução da Europa. Para Joe Ngai, a China precisa do “One Belt, One Road” para se consolidar como potência mundial. “Apesar da população com mais de um bilhão de habitantes (1,371 bilhão), a economia chinesa já não sobrevive mais se alimentando apenas do mercado interno. A indústria da construção civil chinesa, por exemplo, cresceu muito e precisa desses países emergentes contemplados no One Belt, One Road para continuar se expandindo”, diz o também analista econômico da McKinsey. Todos os recursos disponíveis para o projeto virão do China Development Bank (Banco de Desenvolvimento da China).
Saiba mais sobre o One Belt, One Road.
Entrevistados
Economistas Kevin Sneader e Joe Ngai, da McKinsey&Company (via assessoria de mídias)
Contato
asia_media_enquiries@mckinsey.com
Crédito Foto: Governo da China
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Sete mandamentos na hora de comprar apartamento
Organismos ligados a construtoras, arquitetos e defesa do consumidor se unem para criar cartilha útil na hora de adquirir um imóvel
Por: Altair Santos
Adquirir um apartamento não passa apenas por ter recursos para comprá-lo. A escolha do imóvel é uma operação tão complicada quanto juntar o dinheiro ou obter financiamento para a aquisição. Por isso, um grupo de construtores, arquitetos e corretores imobiliários, junto com organismos de defesa do consumidor, listou o que pode ser chamado de os “sete mandamentos” na hora de comprar apartamento. Eles indicam o que é melhor para o consumidor: apartamento usado, novo ou na planta? Dão dicas sobre a localidade, sobre o andar ideal e também sugerem como inspecionar, e o que inspecionar. Por fim, são unânimes em aconselhar: nunca visite sozinho o apartamento que pretende comprar. Sempre leve alguém, mesmo que não seja especialista.
Ainda que a cartilha tenha como público-alvo os moradores da cidade de São Paulo, as dicas se estendem facilmente a qualquer região do país, sobretudo as que envolvem as principais capitais brasileiras. O primeiro dos mandamentos é definir a localidade. Veja o que diz a dica: escolha o bairro conforme as suas necessidades. O ponto principal é que o local possa colaborar com a qualidade de vida. Morar perto do trabalho, do colégio dos filhos, de supermercados, parques e shoppings, por exemplo, pode ser mais importante do que estar em bairros mais nobres. O objetivo deve ser ficar menos tempo no trânsito e mais tempo em casa.
O segundo mandamento refere-se ao tipo de apartamento: usado, novo ou na planta? Para os usados, faça uma boa vistoria. Os autores da cartilha recomendam que se verifique o valor do condomínio e as atas recentes de reunião de condomínio para não ser surpreendido por taxas de rateios, que podem encarecer o imóvel. Lembre-se de tirar ou exigir as certidões que garantem segurança ao negócio. Para quem não tem tempo ou experiência, o recomendável é solicitar apoio jurídico. No caso de unidades novas ou na planta, dois fatores podem influenciar a decisão: o tempo de espera e o valor que poderá ser investido. Quando um apartamento é comprado na planta, há mais tempo para se planejar financeiramente. Já quando se tem dinheiro para uma boa entrada, e a certeza de que conseguirá financiar o restante, um empreendimento pronto é o mais adequado.
Andar alto ou baixo? Eis o terceiro mandamento. Segundo os especialistas, recentemente os primeiros andares se tornaram mais procurados, por questões econômicas - costumam ter preço menor - e por que o envelhecimento da população fez crescer a demanda, principalmente em prédios sem elevador. A desvantagem é estar mais próximo da rua e também do barulho da área de lazer, por exemplo. Nos andares mais altos, a vista costuma ser privilegiada, mas o ponto contrário é o fato destes apartamentos estarem mais suscetíveis ao aparecimento de trincas, ainda que as técnicas construtivas estejam minimizando esse problema.
Na cartilha, o quarto mandamento é uma recomendação importante, para o caso de apartamentos novos: cuidado ao visitar o decorado. É preciso lembrar que ele é feito para encantar. A sugestão é que o comprador solicite a planta do imóvel e procure seu arquiteto para saber se os ambientes lhe atenderão plenamente. Também é preciso estar atento ao acabamento. Nos apartamentos novos, o acabamento do decorado pode ser diferente do que será entregue. Por isso, é importante ler o material descritivo, que fica disponível no cartório de registros e pode ser solicitado ao corretor.
O quinto mandamento é estritamente técnico. Dê atenção especial aos tipos de pedras (bancadas), metais, instalações de ar condicionado (drenos e rede frigorígena), tipo do piso (fabricante) e pé direito (altura do apartamento). Atenção: solicite a altura livre, ou seja, do piso acabado ao forro de gesso e o tipo de cobertura (massa corrida ou gesso rebaixado), além de esquadrias (tente identificar os fabricantes e a robustez das peças).
A Norma de Desempenho se faz presente no sexto mandamento. Os especialistas recomendam que pelo menos uma visita ao apartamento seja acompanhada de um arquiteto ou de um engenheiro civil. O profissional ajudará a verificar se a construção cumpre requisitos da ABNT NBR 15575, no que se refere ao desempenho térmico e acústico das paredes estruturais e de vedação, além das esquadrias.
O sétimo mandamento é uma recomendação do Procon. Antes de concretizar qualquer negócio, consulte o cadastro de reclamações do Procon de sua cidade, a fim de se inteirar da existência ou não de reclamações contra a incorporadora, construtora ou imobiliária. Realize também uma pesquisa no site do Tribunal de Justiça de seu estado para verificar se há algum processo contra a empresa e qual é o problema de que ele trata.
Entrevistado
Com base em cartilha elaborada conjuntamente por organismos como Secretaria Nacional do Consumidor, Fundação Procon-SP, Secovi-SP, SindusCon-SP e AsBEA (Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura)
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senacon@mj.gov.br
central@secovi.com.br
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Brasil tem mais de 20 mil obras públicas inacabadas
Entre os casos mais emblemáticos estão a ferrovia Transnordestina, a refinaria Abreu e Lima e a transposição do rio São Francisco
Por: Altair Santos
Instalada em novembro de 2016, a comissão de obras inacabadas do Senado Federal finalizou recentemente o mapeamento de projetos financiados com recursos federais, e que não foram concluídos desde a criação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em 2007.
Os números impressionam. São 22 mil obras inconclusas. Destas, o governo federal se comprometeu em retomar 1.600, com valores que vão de R$ 10 mil a R$ 1 bilhão. A comissão, que é provisória, irá concluir seus trabalhos no final deste ano.
Até lá, irá produzir um relatório de viabilidade técnica para cada uma das obras listadas. É possível que alguns projetos sejam declarados inviáveis e acabem definitivamente abandonados.
Para o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), que preside a comissão, boa parte das obras inacabadas está relacionada à má gestão. “Embora se reconheça que, em alguns casos, a paralisação da obra ocorre devido a restrições orçamentárias imprevisíveis, a causa maior do problema é a falta de profissionalismo dos gestores públicos”, reconhece.
O trabalho dos senadores é facilitado pela comissão mista do orçamento do Senado, que recebe relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre obras irregulares e repassa os dados. O coordenador do comitê, senador Telmário Mota (PDT-RR) disse que há indícios de irregularidades em centenas de obras em vários estados brasileiros. “São sobrepreços, aditivos em excesso, licitações irregulares. A recomendação é que sejam feitas auditorias em todas as obras irregulares”, afirma.
O Canal do Sertão, em Alagoas, é um exemplo de obra irregular, segundo o auditor do TCU, Rafael Esteves. “Esta era uma obra com recursos repassados pelo Ministério da Integração Nacional ao estado de Alagoas e o contratante é a Secretaria de Infraestrutura de Alagoas. A obra teve um sobrepreço de 74 milhões de reais, com o valor atualizado do contrato em torno de 680 milhões”, diz.
Abandono e descaso
Outro exemplo clássico é a Transposição do rio São Francisco. A obra foi iniciada em 2007 e deveria ficar pronta em três anos, ao custo de R$ 6,6 bilhões. Dez anos depois, já consumiu R$ 9,5 bilhões e demandará mais R$ 1,1 bilhão para a conclusão - provavelmente em 2018. Consórcios envolvendo construtoras investigadas pela operação Lava Jato, como OAS, Mendes Júnior e Galvão Engenharia, eram responsáveis pela obra. Porém, em 2013 foram substituídas sem que tivessem concluído o projeto.
Outra obra emblemática lançada no período do PAC, e que segue paralisada, é a Ferrovia Transnordestina. O objetivo do projeto é que houvesse a ligação entre os portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, entrando pelo extremo leste do Piauí. Dos 1.700 quilômetros, apenas 600 foram concluídos, a um custo de R$ 6,2 bilhões. O orçamento original era de R$ 4 bilhões. Estima-se que a obra precisará de mais R$ 5,5 bilhões para ser finalizada.
Pior é a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que estava orçada em R$ 2,4 bilhões, com investimento binacional do Brasil e da Venezuela, e que se encontra abandonada após consumir R$ 20 bilhões apenas do lado brasileiro.
Entrevistado
Comissão Especial de Obras Inacabadas do Senado Federal (via assessoria de imprensa)
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imprensasenado@senado.leg.br
Crédito Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Faltam normas técnicas e processos são muito lentos
Paulo Rewald, diretor de normalização da Abrasip, e Salvador Benevides, superintendente do ABNT/CB-002, relatam dificuldades do setor no Brasil
Por: Altair Santos
Palestrantes no Congresso Brasileiro da Construção (ConstruBR 2017), realizado em abril de 2017 na cidade de São Paulo, Paulo Rewald e Salvador Benevides abordaram as dificuldades para criar normas técnicas e revisar as já existentes, no âmbito da construção civil. Rewald, que é diretor de normalização do Secovi-SP e conselheiro da Abrasip (Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais), e Benevides, que é superintendente do ABNT/CB-002 - Comitê Brasileiro da Construção Civil, relataram que a criação ou a revisão de normas no Brasil não conseguem ser feitas em menos de quatro anos. “Assim, o país não acompanha o ritmo e nem faz a equalização com relação aos avanços tecnológicos alcançados lá fora”, dizem.
Paulo Rewald alerta que o descompasso na atualização de normas tem trazido problemas jurídicos aos construtores. “A Norma de Desempenho descreve uma relação de normas que devem ser seguidas. Isso gerou um problema, pois quase todas estão desatualizadas e com defasagens em seus textos. Então, é importante ter cuidado com isso, pois sabemos que hoje somos muito mais advogados que engenheiros, por causa de peritagens e fiscalizações, que levam em conta a Norma de Desempenho, mas não consideram as normas desatualizadas. Para se ter ideia, só na área de sistemas prediais existem cerca de três mil normas a serem seguidas, e a maioria está sem revisão há muito tempo”, revela.
De quem é a culpa?
Para evitar que os construtores caiam em armadilhas judiciais, a Abrasip gerou recomendações técnicas (RTs) sobre a Norma de Desempenho, que podem ser baixadas no site da organização.
Complementando o alerta de Paulo Rewald, o vice-presidente de tecnologia e qualidade do SindusCon-SP, Paulo Sanchez, entrou no debate para convocar a cadeia produtiva da construção civil a estar mais atenta às solicitações para que normas técnicas sejam revisadas. “Não é admissível que um setor veja que normas estão desatualizadas e não faça solicitações ao superintendente do CB-002, por via de cada uma de suas entidades, a fim de que possam entrar em processo de revisão. Quando se fala que as normas estão muito defasadas, o problema é nosso”, destaca.
Salvador Benevides comenta que no Brasil acostumou-se a fazer apenas “normas reativas”. “Se uma criança morre em uma piscina, por causa de falha no projeto do ralo, daí se reage para atualizar ou criar uma norma técnica. Se um prédio cai por causa de uma reforma mal feita, como aconteceu no Rio de Janeiro, se vai lá e é feita uma norma de reforma. Se acontece uma tragédia como a que ocorreu na boate Kiss, lá em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, se cria uma norma para saída de emergência. Só para reforçar o que digo, vale lembrar que nos últimos três anos apenas sete normas foram publicadas”, revela. Por isso, o superintendente do ABNT/CB-002 faz um apelo. “A participação em revisões e elaborações de normas técnicas no Brasil é pífia e o setor não se movimenta. Precisamos mudar esse cenário”, finaliza.
Entrevistados
- Engenheiro civil Paulo Rewald, diretor de normalização do Secovi-SP, conselheiro da Abrasip (Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais) e sócio-diretor da Rewald Engenharia
- Arquiteto Salvador Benevides, superintendente do ABNT/CB-002 - Comitê Brasileiro da Construção Civil
Contatos
cb002@sindusconsp.com.br
rewald@rewald.com.br
Crédito Fotos: ConstruBR
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Malha que molda o concreto pode decretar fim das fôrmas
Pesquisadores desenvolveram tecnologia na Escola Politécnica de Zurique e garantem que será tão revolucionária quanto a impressão em 3D
Por: Altair Santos
A Escola Politécnica de Zurique (ETH Zurich) ganhou a mais recente edição de uma das principais premiações europeias voltada para inovações na área da construção civil: a Conferência de Inovações em Concreto. Equipe multidisciplinar da universidade desenvolveu uma malha de aço que retém o concreto e dá forma ao material, descartando o uso de fôrmas.
O segredo da invenção está na estrutura da malha de aço e nas especificações do concreto usado para preenchê-la. Os pesquisadores desenvolveram um concreto com características entre o autoadensável e o convencional. Para a trama da malha, foi usado um robô que prepara as armaduras de acordo com o projeto.
Dois professores estão à frente do trabalho: Fabio Gramazio e Matthias Kohler, que iniciaram o projeto no Future Cities Lab, em Cingapura, mas se transferiram para a ETH Zurich para finalizar a pesquisa. Na escola suíça, eles se juntaram a Norman Hack, gerente de projeto da equipe multidisciplinar. “A malha Mold (nome que os pesquisadores deram à nova estrutura) tende a mudar o futuro da construção”, afirma Hack.
Os pesquisadores asseguram ainda que a malha vai revolucionar a arquitetura das edificações, pois elas não precisarão mais ficar limitadas às fôrmas, que impõem desenhos retangulares aos prédios. “Na construção convencional, a armadura de aço é confinada a uma fôrma de madeira ou alumínio, que limita os edifícios a formatos retangulares. A malha Mold vai permitir formas inusitadas, praticamente sem limites", enfatiza Norman Hack.
Economia de 40% no tempo da obra
Outra vantagem da nova tecnologia é a agilidade na construção. “Hoje, cada edifício que utiliza concreto é construído duas vezes. Primeiro é preciso montar as fôrmas e depois o preenchimento com concreto. Imaginamos que a malha Mold possa reduzir o tempo de uma obra em até 40%”, explica Hack.
Os pesquisadores asseguram que a nova tecnologia desenvolvida na Suíça é tão revolucionária quanto a impressão 3D em concreto. A justificativa é que a malha Mold permite construir edifícios altos, enquanto as impressoras 3D estão se limitando, no momento, a edificações térreas ou, no máximo, com três pavimentos.
A pesquisa foi desenvolvida dentro do núcleo da ETH Zurich que estuda a aplicação da robótica na construção civil. Criado em 2014, o departamento tem como objetivo revolucionar a arquitetura através da combinação de tecnologias digitais e sistemas de construção civil. O núcleo envolve 60 pesquisadores de seis diferentes disciplinas acadêmicas, entre elas engenharia civil e arquitetura.
Em 2017, a Conferência de Inovações em Concreto aconteceu em Oslo, na Noruega. No evento, os pesquisadores disseram que a aplicação da tecnologia está prevista para o projeto de um novo prédio que será construído dentro do campus da ETH Zurich, cujas obras devem começar no segundo semestre deste ano. Já está em desenvolvimento mais um robô para agilizar a produção da armadura, além de parcerias com concreteiras suíças para que produzam em grande volume o concreto com as características necessárias para preencher a malha.
Entrevistado
Arquiteto Norman Hack, PhD em fabricação digital pela Future Cities Laboratory of the Singapore-ETH Centre e pelo NCCR Digital Fabrication da ETH Zurich
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hack@arch.ethz.ch
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Crédito Fotos: NFS Digitale Fabrikation
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Conheça as 12 construções mais relevantes de 2017
Museu do Amanhã está na lista por causa das inovações na busca pela sustentabilidade, enquanto a Bélgica é o país com mais obras premiadas
Por: Altair Santos
O MIPIM Awards está para a arquitetura e a engenharia como o Festival de Cannes para o cinema. Coincidentemente, o evento anual acontece em Cannes, na França, e premia as melhores construções em 12 categorias: saúde, hotelaria, logística, prédio verde, prédio corporativo, retrofit, prédio residencial, centro comercial, reurbanização, obra futurista, cidade inteligente e prédio público. A premiação de 2017 ocorreu em março, escolhendo obras que foram concluídas em 2016. O Museu do Amanhã, construído na cidade do Rio de Janeiro, ganhou na categoria prédio verde.
O empreendimento concorreu com a sede da Siemens, em Munique; o edifício residencial 119 Ebury Street, em Londres; e a fábrica da Värtan Bioenergy, em Estocolmo. Ganhou por causa das inovações na busca pela sustentabilidade, como os painéis solares que se movem para rastrear o movimento do sol e maximizar a absorção de energia. A coleta de água da chuva para reutilização e a canalização de água da Baía da Guanabara para abastecer o sistema de ar-condicionado do prédio também foram decisivos para a conquista do prêmio. O Museu do Amanhã economiza anualmente 9,6 milhões de litros de água e 2.400 megawatts (MW) de eletricidade - o suficiente para alimentar mais de 1.200 residências -, além de ser o primeiro museu brasileiro a receber a certificação LEED Gold.
Nas categorias saúde, hotel e logística venceram o hospital psiquiátrico de Slagelse, na Dinamarca; o Maison Albar Hotel Paris Céline, que preservou uma casa de 1866, e o centro de logística da Nike, na Bélgica, cuja principal característica é uma fachada verde com comprimento de 1.300 metros, e que serpenteia a frente do prédio. Por dentro da estrutura passam os dutos do sistema de ar-condicionado do prédio, permitindo que a água irrigue as plantas e, ao mesmo tempo, mantenha equalizada a temperatura do edifício.
Revitalização de áreas abandonadas
A Polônia também foi contemplada com o MIPIM Awards, por causa do Varsóvia Spire, maior complexo de edificações corporativas do país. A obra foi premiada pela arquitetura - são três torres, uma com 220 metros e outras duas com 55 metros cada uma - e pela transformação que causou no centro de Varsóvia. Uma praça entre os três edifícios, com bares, restaurantes e lojas, modernizou a região. Impacto semelhante causou a revitalização de um conjunto de prédios no chamado centro velho de Bruxelas, na Bélgica. Os prédios dos anos 1960 eram repartições públicas do governo belga e foram transformadas em 134 modernos escritórios.
A Bélgica foi o país mais premiado. Ganhou três MIPIM Awards, incluindo o de reurbanização. A obra ocorreu em um espaço de 100 mil m² na região de Flandres, antes ocupado por uma mina de carvão, e que foi transformado em um complexo de edifícios residenciais e centro comercial. Já o prêmio de prédio residencial ficou com a SmartHoming GmbH. Trata-se de seis edifícios na região metropolitana de Berlim, que se aproveitam de várias tecnologias de sustentabilidade. Além disso, carros são proibidos de circular no condomínio. Completam a série de 12 premiações, o centro comercial Victoria Gate, em Leeds, na Inglaterra; o projeto futurista do World Trade Center chinês, em Pequim, e a Biblioteca Estadual de Beyazit, na Turquia.
Clique aqui e saiba mais sobre as obras premiadas no MIPIM Awards!
Entrevistado
Comitê organizador do MIPIM Awards (via assessoria de comunicação)
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mipim@ing-media.com
Crédito Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Tecnologia 3D permite construir casa em 24 horas
Obra foi projetada para suportar baixíssimas temperaturas. Por isso, utiliza várias tecnologias voltadas à obtenção de desempenho térmico
Por: Altair Santos
A tecnologia de impressão em 3D permitiu construir uma casa com paredes 100% de concreto, cuja estrutura foi projetada para ter vida útil de 175 anos. Com área útil de 40 m², a residência está em uma das regiões mais frias da Rússia, para que o desempenho de suas paredes seja testado ao máximo. O projeto é da Apis Cor, uma startup da construção civil localizada em São Francisco, nos Estados Unidos. O custo da estrutura em concreto não ultrapassou US$ 10 mil (cerca de R$ 33 mil), garante a empresa.
Os projetistas optaram por “imprimir” as paredes durante o inverno russo para testar componentes da impressora e as características da argamassa de cimento usada na construção das paredes. Concluíram que só é possível a impressão com temperaturas acima de 5 °C. Por isso, foi preciso cobrir o canteiro de obras com uma estufa para permitir que o maquinário operasse em temperatura ambiente de 15 °C. Segundo os engenheiros da Apis Cor, o próximo passo será desenvolver uma argamassa de cimento que possa ser usada em baixas temperaturas.
Depois da impressão, que durou 24 horas, uma equipe de sete operários atuou nas instalações de revestimentos, janelas, portas, telhado e acabamento da casa. O custo final chegou a US$ 45 mil (perto de R$ 150 mil). A casa tem um projeto arquitetônico que lembra o desenho de uma rosa-dos-ventos. Para imprimi-la, o equipamento foi projetado em formato de grua, a fim de que pudesse operar em um raio de 360°. O formato também ajudou na remoção da impressora, que foi retirada com um guincho, antes da instalação do telhado.
A cobertura da casa é plana e foi projetada com o propósito de testar a eficácia da estrutura para suportar grandes cargas de neve. Também não foram poupadas tecnologias para o acabamento interno da casa. No contrapiso, houve o uso de membranas de polímero, por causa do alto potencial de isolamento térmico. Sobre ele, um piso vinílico reforça a capacidade de resistência às baixas temperaturas.
Protótipo
A impressora 3D construiu paredes ocas para que elas pudessem ser preenchidas com poliuretano líquido. A tecnologia completa todos os vazios e ajuda a criar um microclima confortável na casa. No futuro, os projetistas avaliam que a evolução da impressora permitirá que esse preenchimento seja realizado simultaneamente com a construção das paredes. Por fim, foi usado reboco de alta aderência e permeabilidade, com o objetivo de evitar fungos e penetração de umidade.
Para revestir as paredes internas foi utilizado um tipo de argamassa composta por gesso, cimento branco e pó de mármore. O material potencializa o isolamento térmico do interior da casa. Além disso, houve a aplicação de uma tinta especial, resistente a severas condições meteorológicas. O mesmo critério foi usado na escolha das esquadrias e vidros das janelas. Os equipamentos têm painéis duplos para atingir altos níveis de isolamento e permeabilidade à luz, sem, porém, permitir a incidência de raios ultravioleta. Os idealizadores do projeto lembram que a casa é um protótipo, mas que, com os avanços tecnológicos, poderá ter condições de ser oferecida no mercado em um prazo máximo de cinco anos.
Veja como foi construída a casa:
Entrevistado
Apis Cor, startup norte-americana da construção civil (via assessoria de imprensa)
Contatos
press@apis-cor.com
www.apis-cor.com
Crédito Fotos: Apis Cor
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Na construção, terceirização eleva competitividade
Para professor Hélio Zylberstejn, construção civil brasileira só tem a ganhar com lei recentemente sancionada pelo governo federal
Por: Altair Santos
Professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Hélio Zylberstejn apresentou no Congresso Brasileiro da Construção (ConstruBR 2017) estudo que aponta o quanto a construção civil tem a ganhar com a nova lei da terceirização no mercado de trabalho, recentemente sancionada pela presidência da República. Os ganhos de competitividade e de agilidade na contratação de serviços estão entre as conquistas que podem ser alcançadas pelas construtoras. “A empresa não precisa mais fazer tudo, mas coordenar a produção para ganhar tempo no ritmo da obra”, defende.
Zylberstein também descartou o risco de precarização do trabalho. “A lei regulamenta uma prática que já existe, trazendo regulamentação e segurança jurídica a setores que tanto dependem de serviços terceirizados, como a construção civil”, afirma. O professor da USP ainda reforça que a reforma da lei trabalhista, em curso no Congresso Nacional, tende a complementar a lei de terceirização. “É uma oportunidade de mudança de cenário, importante para a retomada de crescimento do país”, afirma. No entanto, alerta: “Se o Congresso encher a reforma trabalhista de penduricalhos pode desfigurar a lei de terceirização.”
Um dos dados apresentados por Zylberstejn mostra que, exceto a Venezuela, nenhum país do mundo diferencia atividades segundo o critério atividade-meio e atividade-fim. “Pelo contrário, a terceirização é permitida integralmente. O que muda de um país para outro é o modelo nas relações de trabalho, tornando igual o terceirizado do não terceirizado para efeitos previdenciários”, conta. Em seu estudo, o professor da USP mostra que atualmente apenas seis atividades estão, de fato, terceirizadas no Brasil: montagem e manutenção de equipamentos, segurança e vigilância, tecnologia da informação, limpeza e conservação, pesquisa e desenvolvimento e telemarketing.
Fim dos conglomerados
Nestes setores, Zylberstejn mostrou os avanços que foram conseguidos com a terceirização. “A tecnologia da informação se tornou mais desenvolvida, assim como a logística ficou mais eficiente e abrangente. Houve melhoria dos modelos de gestão de recursos humanos, mostrando que hoje a empresa vencedora é a que horizontaliza, pois ela obtém ganho de competitividade e agilidade”, comenta. Para completar, o professor da USP afirma que o conceito de conglomerado está fadado à extinção. “Na primeira metade do século passado, as empresas eram conglomerados enormes na extensão e na profundidade das atividades, porque aquilo favorecia seus negócios. Hoje, as bem-sucedidas são as que sabem colher produtividade e qualidade da terceirização”, finaliza.
Entenda a diferença entre terceirização e contrato temporário:
Temporário
Trabalhador fica período determinado na empresa, para cobrir uma necessidade excepcional. Exemplo: férias, licença-maternidade ou aumento temporário da demanda.
Terceirizado
Trabalhador contratado por intermédio de outra empresa (prestadora de serviço). Nova lei estende essa forma de contrato à atividade-fim da tomadora de serviço.
Entrevistado
Hélio Zylberstejn, professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e co-fundador do Instituto Brasileiro de Relações de Emprego e Trabalho (IBRET)
Contato
hzy@usp.pr
Crédito Foto: SindusCon-SP/ConstruBR 2017
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Brasil ganha norma técnica para cidades sustentáveis
Tradução de norma internacional agora permite que meio técnico tenha parâmetros para verificar se um bairro ou cidade são sustentáveis
Por: Altair Santos
A NBR ISO 37120:2017 é a primeira norma técnica para cidades sustentáveis. Ela define 100 indicadores, envolvendo aspectos ambientais, econômicos, sociais e tecnológicos que devem nortear projetos desta natureza no Brasil. A coordenação da Comissão de Estudos Especial 268 da ABNT (CEE 268) esteve a cargo do professor-doutor do Departamento de Engenharia de Construção Civil (PCC) da Escola Politécnica (Poli) da USP, Alex Abiko.
A NBR ISO 37120:2017 é uma norma espelho da internacional. Alex Abiko atuou no estudo e na tradução da norma internacional já existente para esse tema: ISO 37120:2014 - Sustainable development of communities - Indicators for city services and quality of life. Para o professor-doutor da USP, a partir de agora o Brasil tem parâmetros para apontar o que é uma cidade sustentável ou um bairro sustentável. Confira na entrevista a seguir:
O Brasil já possui projetos de cidades e bairros sustentáveis, alguns já em construção. No que a NBR ISO 37120:2017 mexe com esses projetos?
O que tem acontecido no Brasil é que uma série de projetos se autointitulam projetos de bairros sustentáveis ou de cidades sustentáveis, mas quem garante que eles são sustentáveis? Tem aí a questão de quem está divulgando tende a utilizá-la como marketing e o público leigo compra a ideia de que são bairros ou cidades sustentáveis. A norma NBR ISO 37120:2017 procura dar conhecimento técnico sobre o que são cidades sustentáveis e comunidades sustentáveis. Ela contribui para que se possa diferenciar o que é um bairro ou uma cidade sustentável daquilo que não é um bairro ou uma cidade sustentável. Então, se o Brasil possui projetos de bairros e cidades sustentáveis - até acredito que alguns sejam -, não será a denominação dada pelo empreendedor ou pelo gestor do empreendimento que vai garantir que ele seja sustentável.
Hoje, há muitos países seguindo conceitos de cidades sustentáveis. Para o Brasil, a norma vai ajudar a impulsionar o surgimento de novas cidades sustentáveis?
Sem dúvida, vai impulsionar o surgimento de novas cidades sustentáveis, mas que não serão apenas aquelas que se autodeclaram sustentáveis. Teremos um critério técnico para dizer o que significa ser uma cidade sustentável e de que forma parametrizar a questão, sob o ponto de vista técnico e não apenas de marketing.
A norma publicada em janeiro de 2017 é uma tradução da ISO 37120:2014. Houve pontos que precisaram ser adaptados para o cenário brasileiro?
A norma não pode ser adaptada. Ela é uma tradução ipsis litteris da ISO 37120:2014. Por quê? Porque se você faz uma adaptação desta norma você não pode utilizar o número ISO 37120. Seria outra norma técnica. Então, o que fizemos? Criamos notas de rodapé à tradução. Nestas notas, apontamos principalmente aspectos relacionados a métodos de ensaio, que precisam ser adequados àquilo que usualmente é feito no Brasil.
Quando se fala em cidade sustentável, pensa-se logo em projetos de cidades que estão para ser construídas. Pergunto: as cidades já consolidadas podem se tornar cidades sustentáveis?
Diria que 98% das nossas cidades já estão construídas. São muito poucas as que têm características como as de Brasília, por exemplo. Isso é uma exceção. A tarefa é transformar, construir, ampliar e melhorar as cidades já existentes. A ideia é partir de um processo de transformação, para modificar, adaptar e expandir as atuais cidades, criando novos espaços, que, de alguma forma, sejam sustentáveis e que possam influenciar a cidade já existente.
No que a norma ajuda neste ponto: transformar cidades não-sustentáveis em sustentáveis?
A norma tem uma série de indicadores que contribuem para qualquer nova ação sobre a cidade, com o objetivo de que ela traga melhorias na sustentabilidade. Não partimos do pressuposto de que vamos recriar cidades. O que se pretende é melhorar as cidades existentes. Comparando, é como se tivéssemos fazendo uma reforma dentro do apartamento com a família morando dentro da unidade.
Cidades como Rio de Janeiro e São Paulo têm chances de se tornarem sustentáveis?
Primeiro é preciso perguntar: o que é uma cidade sustentável? Para ser mais preciso tecnicamente, eu perguntaria: cidades como São Paulo e Rio de Janeiro têm chances de se tornarem mais sustentáveis? Diria que elas nunca serão 100% sustentáveis, pois isso não existe. Pensar assim é uma peça de marketing.
Qual foi a receptividade da norma pelo mercado da construção e da academia voltada para o urbanismo?
Esta norma foi lançada em escala internacional em 2014. Começamos a fazer o trabalho de tradução em 2016 e no início de 2017 ela foi aprovada e publicada pela ABNT. É uma norma muito recente, mas a receptividade tem sido excelente. É importante dizer que uma norma se consolida quando sua utilização se torna voluntária, e não compulsória. Acredito que vamos conseguir isso, mas vai levar certo tempo.
E os organismos de governo, como eles recebem a norma?
Receberam muito bem. Temos conversado com o ministério das Cidades e com a Caixa Econômica Federal, que também participaram da tradução técnica da norma, assim como a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e da CDHU de São Paulo, além de outros organismos, e a recepção tem sido muito boa.
A partir da norma, se pretende criar um ranking de cidades sustentáveis no Brasil?
Elaboramos a norma e a oferecemos ao meio técnico. Se alguém quiser fazer o ranqueamento poderá fazê-lo. A norma permite que se faça um ranking, desde que se consiga levantar os indicadores de cada uma das cidades brasileiras. Já existem alguns rankings que instituições e empresas têm lançado. Agora, cabe a quem quiser, ou tiver iniciativa, desenvolver este tipo de projeto.
Qual país hoje está mais evoluído em viabilizar cidades sustentáveis?
Principalmente os países escandinavos. Eles estão bastante à frente nestas discussões de cidades sustentáveis. Acho que têm não só o conhecimento técnico, como também os recursos financeiros para fazer isso. Nunca vamos esquecer que não basta ter a ideia e a vontade. É preciso mobilizar recursos financeiros e toda uma estrutura institucional.
Entrevistado
Engenheiro civil Alex Abiko, professor-doutor do Departamento de Engenharia de Construção Civil (PCC) da Escola Politécnica (Poli) da USP (Universidade de São Paulo)
Contato
alex.abiko@usp.br
Crédito Fotos: Divulgação/USP
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Rawabi, um bairro planejado em plena Cisjordânia
Projetado para receber até 40 mil pessoas, empreendimento imobiliário supera embargos e gera novas perspectivas para a engenharia palestina
Por: Altair Santos
Rawabi é o primeiro bairro planejado da Cisjordânia. Por estar em uma área conflituosa, a obra precisou de acordos com Israel para ser viabilizada. A princípio, houve problemas para o fornecimento de água e a tentativa israelense de cobrar pedágio para que o material de construção chegasse ao canteiro. O Reino Unido, através do ex-primeiro-ministro Tony Blair, liderou a negociação, que contou também com intermediações dos Estados Unidos e da ONU (Organização das Nações Unidas). A solução foi que o projeto consumisse material de construção produzido em Israel, incluindo o cimento.
Resolvidos os impasses, Rawabi já é quase realidade. As obras começaram em 2012 e o bairro fica pronto este ano (2017). Terá população inicial de 25 mil pessoas, podendo chegar a 40 mil. Por causa do clima na região, os prédios foram construídos com blocos autoclavados, que ajudam no desempenho térmico das edificações. Além dos prédios, Rawabi conta com toda a infraestrutura, incluindo serviços. É um desafio da engenharia e da arquitetura, em pleno território palestino.
A Palestina, que faz fronteira com Israel e Jordânia, se divide em três partes: Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental. Rawabi fica a 25 quilômetros de Tel Aviv, a segunda maior cidade de Israel. O objetivo do bairro planejado é atrair a classe média da região, vendendo unidades entre US$ 65 mil e US$ 150 mil (cerca de R$ 200 mil a R$ 650 mil). O empreendedor é Bashar al-Masri, que tem nacionalidade palestina e norte-americana e iniciou o projeto em 2007.
Bashar al-Masri afirma que nestes dez anos não descansou um só dia. "Não parei um único dia. Não foi uma viagem fácil até aqui, mas o resultado vale a pena. Palestinos que estavam residindo em Dubai, no Reino Unido ou na América estão voltando para sua terra por causa de Rawabi”, destaca Masri, afirmando que o bairro planejado também ajuda a combater o preconceito contra a Palestina. “Rawabi mostra à comunidade internacional que não somos o que são levados a acreditar: um bando de terroristas. Estamos prontos para construir nosso estado. Aqui está a prova”, afirma.
Emprego para engenheiros e arquitetos
Rawabi, no entanto, compartilha de um problema comum a todo o território da palestina: a falta d’água. Apesar de todas as negociações, Israel impôs cotas. Os problemas com abastecimento e com a passagem de material até o canteiro de obras do bairro planejado atrasaram o cronograma em três anos. O valor do empreendimento, estimado em US$ 900 milhões, e financiado por construtoras do Catar, já está US$ 140 milhões mais caro. Bashar al-Masri, porém, acredita que, apesar de todos os percalços, o bairro vai conseguir se pagar em cinco anos.
Outro fator que motiva Bashar al-Masri é que todo o projeto contou com a participação da Palestine Polytechnic University, gerando emprego para engenheiros e arquitetos locais, além de envolver toda a comunidade acadêmica na construção de Rawabi. Um exemplo é a engenheira civil Hanan Khalaf, de 23 anos. Recém-formada, ela é um dos muitos jovens que trabalham no projeto. "É tudo muito moderno, muito profissional. Algo que nós não conhecíamos na Palestina, por causa da nossa difícil situação de embargos", revela. O desafio agora é tornar o bairro sustentável. O projeto prevê a atração de grandes marcas internacionais para o shopping center e também empresas de tecnologia, a fim de que Rawabi possa gerar mais empregos aos palestinos.
Entrevistado
Bashar al-Masri, empresário palestino que empreendeu o projeto Rawabi (via assessoria de comunicação)
Contatos
info@rawabi.ps
www.rawabi.ps
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330