UNICAMP passa a ser a principal universidade latina

Ranking da revista britânica Times Higher Education valoriza volume de pesquisas e transferência de conhecimento da universidade

Por: Altair Santos

A Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) assumiu o primeiro lugar no ranking de universidades da América Latina, incluindo o México, segundo levantamento da revista britânica Times Higher Education - especializada em notícias sobre o ensino superior em todo o mundo. A UNICAMP, localizada em Campinas-SP, superou a USP (Universidade de São Paulo) pela primeira vez. O que faz a diferença é a capacidade de transferir conhecimento para o mercado, sobretudo para a indústria, e o volume de citações em trabalhos internacionais. A USP segue liderando em número de pesquisas, mas que ficam restritas ao universo acadêmico.

Reitor Marcelo Knobel, em assinatura de convênio com universidade da Coreia: UNICAMP lidera em parcerias internacionais
Reitor Marcelo Knobel, em assinatura de convênio com universidade da Coreia: UNICAMP lidera em parcerias internacionais

O desempenho da UNICAMP engloba também seus trabalhos relacionados à engenharia civil e à arquitetura e urbanismo. No total, a Times Higher Education avalia 13 quesitos relacionados à qualidade do ensino, pesquisa, transferência de conhecimento e grau de internacionalização. "A USP lidera na qualidade de seu ambiente de pesquisa, mas a Universidade de Campinas supera em quantidade de citações em outros trabalhos internacionais e em transferência de conhecimento para a indústria", diz Phil Baty, editor do ranking, que, pela segunda vez, avalia as universidades sul-americanas.

Marcelo Knobel, reitor da Universidade Estadual de Campinas, disse que o resultado do ranking reflete a estratégia de 15 anos de investimentos que a instituição fez em sua área de pesquisa e dos esforços para transferir conhecimento. “A universidade tem um processo muito seletivo na contratação de professores focados em pesquisa e trabalha em estreita colaboração com empresas”, relata. Para Knobel, a partir de agora, o esforço deve ser redobrado. “Temos agora um esforço extra para, apesar da grave crise que estamos atravessando, conseguir manter essa posição no cenário internacional”, ressalta.

O reitor afirma que a UNICAMP - assim como as demais universidades públicas do Brasil - trava uma luta com a escassez de recursos. "Nosso orçamento está perto do que era em 2008, mas o problema é que a universidade cresceu cerca de 30% nesse mesmo período. Mesmo com a expansão, tivemos que restringir nosso investimento em novos edifícios. Isso afetará a pesquisa e o funcionamento da universidade", afirma. A falta de investimento se reflete no ranking. Em 2016, o Brasil teve 23 universidades entre as 50 melhores da América Latina. Neste ano, foram 18.

Chile é o que mais cresce
Para Phil Baty, editor da Times Higher Education, a situação de crise do país acende a luz de alerta para a competitividade das universidades do país. Segundo ele, proporcionalmente, o Brasil já gasta menos com o ensino superior que Argentina, Chile, Colômbia, México e Uruguai. “Os salários dos pesquisadores brasileiros também são muito baixos para os padrões mundiais e estão entre os menores na região", completa. Resultado: o Chile já tem 15 universidades no top 50 - em 2016, eram 11. A Colômbia subiu de quatro para cinco e a Argentina surge na lista das 50 melhores pela primeira vez, com duas escolas.

No top 10, cinco universidades são brasileiras. Além de UNICAMP e USP, aparecem UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo [7º lugar]), UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro [8º]) e a PUC-Rio (9º). Ao todo, 32 instituições brasileiras aparecem no ranking, que inclui 81 universidades de oito países. No entanto, em relação à lista de 2016, 20 escolas brasileiras caíram no ranking. O levantamento da Times Higher Education detectou também o aumento de universidades privadas entre as melhores do continente. Na edição deste ano, elas já representam 50% entre as ranqueadas.

Confira aqui o ranking completo da Times Higher Education para a América Latina

Entrevistados
- Phil Baty, diretor editorial e de rankings globais da Times Higher Education
- Reitoria da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (via assessoria de imprensa)

Contatos
Phil.Baty@tesglobal.com
portal@unicamp.br

Crédito Foto: Antoninho Perri/UNICAMP

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Depois de 37 anos, ABNT NBR 6120 está em revisão

Expectativa é de que novo texto da norma técnica, cuja edição original ocorreu em 1980, seja publicado no ano que vem

Por: Altair Santos

Sob a coordenação do engenheiro civil João Alberto Vendramini e secretariada pelo engenheiro civil Odinir Klein Júnior, a ABNT NBR 6120 - Cargas para o cálculo de estruturas de edificações - entrou em processo de revisão. A expectativa é de que vá para consulta pública até o final de 2017, com previsão de publicação em 2018. A norma técnica é uma das mais relevantes para engenheiros-calculistas e projetistas. No entanto, estava há 37 anos sem revisão. Por isso, a elaboração de seu texto-base requereu um estudo intenso. De cinco páginas, passou a ter 62, com a inclusão de termos, definições e simbologias, além da atualização de todas as tabelas. Na entrevista a seguir, João Alberto Vendramini explica as alterações mais relevantes e porque a norma ficou tanto tempo sem ser revisada. Confira:

João Vendramini: nova ABNT NBR 6120 vai desencadear a revisão de outras normas técnicas
João Vendramini: nova ABNT NBR 6120 vai desencadear a revisão de outras normas técnicas

A ABNT NBR 6120 - Cargas para o cálculo de estruturas de edificações -, está em processo de revisão. Quais as principais mudanças?
A norma foi completamente revisada. A versão de 1980 tinha apenas cinco páginas e a proposta pela comissão possui 62 páginas. A norma passou por uma nova formatação, com a inclusão de termos, definições e simbologias, de forma a adequá-la às demais normas pertinentes. Todas as tabelas de peso específico dos materiais de construção foram revistas e checadas, assim como as tabelas de ações permanentes, que também foram ampliadas. As ações permanentes de materiais de armazenagem foram revistas e ampliadas e passaram a ocupar um anexo específico, devido à sua extensão. As tabelas de ações variáveis também foram completamente revistas, tendo todos os seus valores checados com normas internacionais e adaptados à realidade brasileira, além de serem ampliadas com a inclusão de ambientes omissos na versão de 1980. Incluímos uma tabela de forças horizontais em guarda-corpos e barreiras de proteção de pessoas, cujas prescrições antes estavam espalhadas por diversas normas, dificultando a correta aplicação das cargas nos projetos. Acrescentamos um capítulo de cargas em coberturas (telhados) inexistente na versão anterior. No caso particular das ações de veículos, após uma grande pesquisa dos veículos autorizados a trafegar em território brasileiro, foi desenvolvida uma categorização das garagens e demais áreas de circulação, a fim de classificá-las de acordo com o tipo de veículo que ali trafega e, por conseguinte, especificar cargas diferentes para cada categoria. Foram definidas forças horizontais devido ao impacto de veículos em pilares e barreiras e também foi incluída uma tabela de cargas decorrentes da ação de empilhadeiras, para obras comerciais e industriais, onde este tipo de veículo é bastante comum. Da mesma forma, foram estudados os helipontos, sua classificação conforme o Comando da Aeronáutica e os carregamentos pertinentes, de acordo com o tipo de helicóptero e as ações decorrentes, que passaram a ocupar um capítulo específico na norma. Para os edifícios comerciais, industriais, centros de distribuição, logística e afins foram estabelecidas cargas de atuação nos pavimentos - item inexistente na versão de 1980, e que muito poderá ajudar aos projetistas estruturais na falta de informações mais específicas de seus clientes. O capítulo de redução de cargas variáveis foi reescrito de forma a se tornar mais claro e explicativo, apresentando também uma pequena revisão conceitual.

A ABNT NBR 6120 é uma norma que tem uma correlação forte com a ABNT NBR 6118. A revisão aproxima ainda mais as duas normas?
Na verdade, a ABNT NBR 6120 é uma norma complementar a todas as outras normas de projeto estrutural, tal como a ABNT NBR 6118, mas também outras, como, por exemplo, a ABNT NBR 8800 - Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios.

Por que a ABNT NBR 6120, cuja primeira edição é de 1980, ficou tanto tempo sem revisão?
A revisão das normas da ABNT é trabalho realizado pela comunidade científica pertinente, de forma voluntária e sem remuneração, implicando, muitas vezes, em custos significativos para os membros das comissões de norma, tais como despesas de viagens, hospedagem etc. Assim, muitas normas ficaram esquecidas no tempo. Recentemente a ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), através de acordo com a ABNT, assumiu a responsabilidade de manter atualizadas as normas inerentes a projetos estruturais e, desde então, diversas normas passaram por revisões. A própria ABNT NBR 6118 já recebeu duas revisões sob a coordenação da ABECE, assim como a ABNT NBR 9062 (Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado). Neste momento, estamos trabalhando na elaboração de um texto-base para a revisão da ABNT NBR 8800, que precisa ser atualizada, entre outras normas do setor.

A ABNT NBR 6120 é a norma há mais tempo sem revisão?
Não saberia lhe dizer ao certo, mas tenho a impressão que se não for é uma das mais antigas sem revisão. Outra que estava muito tempo sem revisão é a ABNT NBR 6123 - Forças devidas ao vento em edificações -, editada em 1988 e cuja comissão de estudos para revisá-la foi aberta recentemente.

O novo texto da ABNT NBR 6120 já entrou em processo de consulta pública?
Não, ele está em fase de revisão para depois passar para editoração na ABNT. Terminada a editoração, o texto volta para a comissão de estudos para uma checagem final, eventuais correções e, em seguida, ficará disponível para consulta pública por um período de 60 dias. Imaginamos que o texto vá para consulta pública até outubro deste ano, no máximo.

Existe uma previsão de quando ela poderá entrar em vigor?
Passado o processo de consulta pública, a ABNT recebe os comentários sobre o texto-base, que deverão ser analisados pela comissão, a bem de verificar sua pertinência e validade. Após todo este processo, o texto será, eventualmente, adaptado atendendo aos comentários aprovados pela comissão e, então, retorna à ABNT para uma nova editoração. Imaginamos que no começo de 2018 a norma entrará em vigor.

A entrada em vigor da ABNT NBR 6120 vai provocar a revisão de outras normas?
Sim, mas não de forma obrigatória e imediata. Nesta revisão da ABNT NBR 6120 foram trazidos dados importantes que estavam espalhados por outras normas, como, por exemplo, especificações sobre pontes rolantes e telhados, - que estavam na ABNT NBR 8800, e cargas em garagens, que estavam especificadas na ABNT NBR 7188.

Quanto à ABNT NBR 6118, ela também precisa ser revisada em breve?
A NBR 6118 passou por revisão em 2014, inclusive foi traduzida para o inglês e registrada como norma ISO, garantindo, desta forma, seu uso internacional. Acredito que sua próxima revisão será por volta de 2019 ou 2020.

Foi o CB-O2 que ficou responsável pela revisão, e quantos especialistas atuaram na elaboração do texto?
A revisão da ABNT NBR 6120 teve minha coordenação, como representante da ABECE, e como secretário, que é a pessoa que mais trabalha na comissão, o engenheiro Odinir Klein Júnior. Também houve a colaboração de mais de 35 profissionais, além daqueles que, mesmo não participando das reuniões, nos enviaram sugestões e comentários durante o processo de elaboração do texto final.

Entrevistado
Engenheiro civil João Alberto de Abreu Vendramini, vice-presidente de relacionamento da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e diretor-técnico da Vendramini Engenharia

Contato
joao@vendramini.com.br

Crédito Foto: Vendramini Engenharia

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Minha Casa Minha Vida: CGU vê patologias em 54% das obras

Infiltrações, falta de prumo e esquadros, além de rachaduras, trincas e vazamentos, estão entre os problemas mais comuns

Por: Altair Santos

Levantamento da Controladoria-Geral da União (CGU), em parceria com o ministério da Transparência, aponta que 54,6% das unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) apresentam patologias ou erros na execução da obra. O relatório, divulgado dia 16 de agosto de 2017, apura dados desde 2015 e leva em consideração apenas as reclamações de mutuários registradas na Caixa Econômica Federal, a fim de que o banco pudesse acionar as construtoras responsáveis para os reparos dentro da garantia de cinco anos, como estabelece o Código do Consumidor e o Código Civil.

Em seu auge, entre 2009 e 2014, Minha Casa Minha Vida consumiu R$ 225 bilhões: mesmo assim, há muitas obras avariadas
Em seu auge, entre 2009 e 2014, Minha Casa Minha Vida consumiu R$ 225 bilhões: mesmo assim, há muitas obras avariadas

Significa que os mutuários que detectaram patologias, mas não oficializaram reclamações, não constam nas estatísticas. Com base nos dados oficiais, fiscais da Controladoria-Geral da União visitaram 77 empreendimentos e 1.472 unidades habitacionais em doze estados (Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe). Segundo a avaliação da CGU, os problemas mais comuns são infiltrações, falta de prumo (verticalidade de paredes e colunas) e de esquadros (se os planos medidos estão com ângulo reto), além de rachaduras, trincas e vazamentos.

As habitações mais atingidas foram as dos beneficiários que se enquadram nas faixas 2 e 3 do MCMV.O relatório também detectou problemas nas áreas externas das edificações, como alagamentos, iluminação deficiente e falta de pavimentação. No entanto, essas avarias representam menos de 20% do espectro pesquisado. Segundo nota da CGU, “o levantamento oferece oportunidades de aprimoramentos para mitigar as fragilidades identificadas”. Os dados foram repassados ao Conselho Curador do FGTS e ao ministério das Cidades, a fim de que possam desenvolver um melhor controle de qualidade das obras.

Ranking de problemas

Rachaduras estão entre as patologias mais detectadas por fiscais da CGU
Rachaduras estão entre as patologias mais detectadas por fiscais da CGU

A Controladoria-Geral da União recomenda também avaliações periódicas, a fim de que se crie um ranking para detectar os seguintes aspectos: construtoras com maior número de problemas, tipos de defeitos mais comuns nas unidades habitacionais, principais causas das patologias e localidades com maior número de falhas. “A CGU permanece na busca conjunta por soluções e realiza o sistemático monitoramento das providências adotadas pelos gestores federais responsáveis”, completa o relatório do organismo, que recomenda também a substituição de beneficiários que não atendam as regras do programa.

Entre as unidades habitacionais visitadas pelos fiscais da CGU, 47,2% dos mutuários disseram que obtiveram respostas das construtoras e que os reparos das patologias foram feitos. O relatório aponta que esse número também deve ser melhorado, já que, entre 2009 a 2014, o Minha Casa Minha Vida envolveu R$ 225,5 bilhões em volume de recursos para a construção de quase três milhões de unidades habitacionais. “Destaca-se a identificação de oportunidades de melhoria quanto à aprovação e análise dos projetos por parte da Caixa (Econômica Federal), a fim de que as planilhas orçamentárias possam gerar obras com melhor qualidade”, finaliza a análise da CGU.

Clique aqui e confira o relatório completo da Controladoria-Geral da União

Entrevistado
Reportagem baseada em relatório da Controladoria-Geral da União

Contato
cgu@cgu.gov.br

Crédito Fotos: Radiobras/EBC e Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Gestão das rodovias privatizadas vai além do pedágio

Manutenção de milhares de quilômetros exige planejamento e obediência às normas e parâmetros já consolidados para esse tipo de trabalho

Por: Altair Santos

Diretor de engenharia da Engelog - empresa do grupo CCR -, o engenheiro civil Luiz Felipe Alves palestrou, em recente web seminário, sobre como uma concessionária de rodovias no Brasil opera para fazer a logística das estradas. No caso da CCR, o monitoramento e a manutenção de rodovias envolvem 52,5 milhões de m2 de pavimento, 1.596 estruturas de concreto e 9.275 obras de arte. “O controle é feito com base em normas, parâmetros e estudos já consolidados para esse tipo de trabalho, e que engloba um grande número de profissionais”, diz Luiz Felipe Alves.

Obras em rodovias dependem de logística criteriosa para que o tráfego de veículos não seja interrompido
Obras em rodovias dependem de logística criteriosa para que o tráfego de veículos não seja interrompido

Atualmente, a CCR detém a concessão de 2.904 quilômetros de rodovias. Segundo Luiz Felipe Alvez, dependendo do tamanho da intervenção que uma estrada irá sofrer - instalação de uma ponte, de um viaduto ou a duplicação de um trecho -, o trabalho de logística e de planejamento pode começar até cinco anos antes. “O prazo longo permite fazer toda a gestão perante as agências reguladoras, assim como a gestão de processos de licença ambiental, para que o projeto não sofra interferência quando for dado o start da obra. A ação tem que ser altamente precisa, para não impactar no tráfego diário de veículos”, explica.

Além do trabalho de manutenção e de melhoria das estradas, a concessionária é responsável também por licenciar todos os serviços terceirizados que queiram se instalar às margens de uma rodovia. Isso envolve desde a definição do local para determinado serviço até o apoio de engenharia para o empreendimento, como a definição de acessos e saídas que se conectem com a estrada. A gestão também ocorre quando a rodovia faz parte do trajeto de alguma carga especial. “Neste caso, é feito um estudo prévio sobre o impacto da carga na rodovia e qual o melhor horário para ela trafegar, a fim de que não prejudique o fluxo dos outros veículos”, diz Luiz Felipe Alvez.

Pesquisa de pavimentos
O engenheiro civil relata ainda que é uma preocupação constante de sua área de atuação estar atento a sinistros que acontecem nas rodovias, como desmoronamentos de encostas, deterioração da pista por causa de enchentes ou enxurradas, assim como danos a obras de arte, seja por causa de acidentes ou por fenômenos da natureza. Por isso, relata Luiz Felipe Alvez, a Engelog está envolvida também com a pesquisa na área de pavimentos e tipos de concreto que ajudem a melhorar a resistência das estradas que estão sob seus cuidados. “A busca por soluções otimizadas de engenharia é uma constante em nosso trabalho. Por isso, temos um acervo técnico bem constituído, para que ele abasteça as pesquisas que desenvolvemos”, afirma.

Para fazer o monitoramento das rodovias, assim como a elaboração de projetos e o desenvolvimento tecnológico de pavimentos e obras de arte, a concessionária envolve 217 engenheiros e 232 profissionais de nível técnico. Toda essa operação já consumiu R$ 191,7 milhões, desde que a CCR passou a fazer a gestão de rodovias. O gasto maior - seja de recursos quanto de tempo -, revela Luiz Felipe Alvez, se dá na fase de concepção e detalhamento do projeto, o que levou a concessionária a adotar a ferramenta BIM. “É a etapa em que a competência e o conhecimento podem influenciar nas mudanças. A partir do momento em que se entra na fase de licitação, contratação e construção, as dificuldades para implantar mudanças são maiores”, conclui.

Clique aqui e assista ao web seminário Gestão de projetos na engenharia rodoviária

Entrevistado
Engenheiro civil Luiz Felipe Alvez, diretor de engenharia da Engelog, empresa do grupo CCR (com base no web seminário “Gestão de projetos na engenharia rodoviária”)

Contato
contato.imprensa@grupoccr.com.br

Crédito Foto: CCR

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Segundo pesquisa, mulher qualifica indústria do concreto

Por outro lado, estudo apresentado nos Estados Unidos mostra também que a mão de obra feminina encontra dificuldades para atuar no setor

Por: Altair Santos

Mulheres que atuam na indústria norte-americana do concreto criaram em 2005 a Aliança das Mulheres que trabalham com Concreto (WICA – Women in Concrete Alliance). Há 12 anos, elas vêm realizando ações para aumentar o espaço do sexo feminino no setor. O grupo, fundado pelas engenheiras civis Kimberly Kayler e Kari Moosmann, ganhou o apoio do Instituto Americano de Concreto (ACI) e também vem marcando presença em vários eventos que ocorrem em outros países, a fim de disseminar seus conceitos.

Diretoria da Women in Concrete Alliance (WICA): elas se unem para ganhar mercado nos EUA
Diretoria da Women in Concrete Alliance (WICA): elas se unem para ganhar mercado nos EUA

No entanto, apesar dos esforços, recente pesquisa revelada pela WICA mostra que a resistência à mulher ainda persiste. O estudo mostra que, mesmo mais qualificadas, as mulheres que se candidatam a vagas na indústria do concreto perdem a disputa para homens que têm até 80% menos especialização. O levantamento revela ainda que os salários das mulheres que trabalham neste setor são, em média, 20% menores, mesmo com elas ocupando a mesma função que homens.

Por outro lado, a mão de obra feminina que consegue superar as barreiras se mantém por mais tempo no mesmo trabalho. A média dos homens é de cinco anos por empresa, enquanto as mulheres ficam até quinze anos na mesma companhia. Segundo Kimberly Kayler, o cenário tende a mudar nos próximos anos, por um único motivo: o volume de mulheres que estão nas universidades norte-americanas cursando engenharia civil já supera o de homens. “Estimo que em dez anos a indústria do concreto será obrigada a contratar mulheres. Mas por que não fazer isso agora?”, questiona.

O estudo teve a coordenação de Sefla Fuhrman, doutora em engenharia civil pela Universidade de Nova Orleans, e foi divulgada pela WICA e pela ACI. “Me especializei na aplicação do concreto na paisagem urbana. O material agregou muita tecnologia, mas a indústria ainda resiste a contratar mulheres. Acho que poderíamos ajudar na questão da sustentabilidade do concreto”, avalia a autora da pesquisa.

Diante dos resultados do estudo, Mike Schneider, presidente da ACI, propôs que o Instituto Americano de Concreto se empenhe em criar um programa que incentive a contratação da mão de obra feminina na indústria norte-americana do concreto. "Compete ao setor ter mais diversidade e inclusão em nossa força de trabalho. Ao fazer isso, teremos um suprimento adequado de profissionais e comerciantes para apoiar a demanda da indústria. Atrair mais mulheres para a indústria é uma solução possível", afirmou.

No Brasil

Mulheres que atuam na indústria do concreto ganham 20% a menos nos EUA, mesmo ocupando a mesma função que os homens
Mulheres que atuam na indústria do concreto ganham 20% a menos nos EUA, mesmo ocupando a mesma função que os homens

No Brasil, não existe estudo que abranja o tema mulher na indústria do concreto. O que há são programas que procuram qualificar a mão de obra feminina para atuar na construção civil. Um deles é desenvolvido por alunos da USP, no campus de São Carlos-SP, e que promove a ação empreendedora de mulheres para atuarem em serviços elétricos, hidráulicos, civis e de marcenaria.

A USP integra o programa Enactus, que fomenta o empreendedorismo social dentro das universidades e está presente em 36 países e em mais de 1.700 instituições de ensino. No Brasil, atua desde 1998 e engloba 84 universidades. Nestes quase 20 anos, já foram impactadas mais de dez mil mulheres. O programa, atualmente, envolve mais de dois mil estudantes e cem professores.

 

 

 

Entrevistado
Women in Concrete Alliance (WICA) (via assessorial de imprensa da ACI)

Contatos
kkayler@constructivecommunication.com
kmoosmann@constructivecommunication.com
www.womeninconcretealliance.org

Crédito Fotos: ACI e Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Concreto substitui o aço em grandes vãos de cobertura

Utilização de elementos protendidos, que seguem rigorosos critérios de fabricação, permite que a BPM Pré-Moldados cresça neste mercado

Por: Altair Santos

Vigas de concreto protendido para coberturas industriais: tecnologia permite que substituam o aço para atender grandes vãos
Vigas de concreto protendido para coberturas industriais: tecnologia permite que substituam o aço para atender grandes vãos

O emprego da tecnologia do concreto na construção industrializada já permite produzir elementos estruturais, como vigas de cobertura, capazes de atender vãos de até 30 metros. Para o engenheiro civil Nivaldo de Loyola Richter, da BPM Pré-Moldados, isso se deve à evolução das características de resistência e às novas possibilidades de moldagem do concreto de alto desempenho. “O desenvolvimento do concreto permite que o material seja matéria-prima para elementos estruturais que até pouco tempo estavam restritos a peças em aço”, destaca.

A aplicação de elementos protendidos como solução para sistemas de cobertura de grandes áreas tem se revelado também uma vantagem técnica e econômica, principalmente para layouts de prédios industriais e comerciais. “A possibilidade de dispor de áreas com modulação de 25x20 m, com utilização de vigas de transição de 20 metros, podendo chegar até uma modulação de 30x24 m, torna possível o atendimento da maioria das necessidades exigidas para edificações industriais e comerciais, ou seja, é possível cobrir áreas com até 720 m2 com a presença de apenas um pilar”, assegura Nivaldo de Loyola Richter.

Além de mais econômica que as estruturas metálicas, o uso de peças de concreto pré-moldado para a cobertura de grandes vãos também torna as construções mais resistentes a meios agressivos. A razão, segundo explica o sócio-fundador da BPM Pré-Moldados, está na tecnologia empregada na fabricação dos elementos. “Como são todos protendidos, não existe risco de fissuração, pois estão sempre comprimidos”, relata Nivaldo Richter.

Custo-benefício

Elementos fabricados pela BPM Pré-Moldados passam por rigorosos processos de controle antes de irem para o mercado
Elementos fabricados pela BPM Pré-Moldados passam por rigorosos processos de controle antes de irem para o mercado

Entre esses elementos, destacam-se as terças tubulares protendidas, com seção simétrica nos dois eixos transversais, as quais passam por rigoroso controle das características e de deformação do concreto. “A constante busca de melhoria em novas tecnologias, tanto de projetos quanto de processos de industrialização, possibilita à BPM dispor destes produtos diferenciados no mercado”, destaca o engenheiro civil.

Nivaldo Richter reforça ainda que, além do emprego da tecnologia, é preciso manter o foco na segurança, na durabilidade e no respeito às normas técnicas. “Optar por soluções que não sigam esses três pilares pode até aparentar vantagem inicial, porém a análise de custo-benefício, quando realizada com critério, mostra que essa é uma escolha errada, pois o custo-benefício precisa avaliar a economia e as vantagens geradas ao longo do tempo”, frisa o engenheiro, que costuma transmitir seus mais de 30 anos de experiência em palestras onde aborda a evolução das estruturas de concreto.

 

Nivaldo Richter: seus mais de 30 anos de conhecimento costumam ser transmitidos em palestras
Nivaldo Richter: seus mais de 30 anos de conhecimento costumam ser transmitidos em palestras

Entrevistado
Engenheiro civil Nivaldo de Loyola Richter, sócio-fundador da BPM Pré-Moldados, integrante da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada do Concreto) e membro da IPHA (International Prestressed Hollowcore Association)

Contato
bpm@bpm.com.br

Crédito Fotos: BPM Pré-Moldados

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Competitividade internacional do Brasil virá de trem

Para melhorar principalmente o escoamento da produção de grãos, país precisou investir R$ 25 bilhões na reestruturação de sua malha ferroviária

Por: Altair Santos

Professora-doutora da Escola Politécnica da USP, Liedi Legi Bariani Bernucci é especialista em infraestrutura de transportes e aponta que o Brasil só conseguirá ter competitividade internacional se consolidar sua malha ferroviária. Ela lembra que a opção pelo modal rodoviário foi um erro estratégico, com o qual o país convive desde os anos 1950. “Parar de investir em ferrovias prejudicou também o sistema rodoviário nacional”, diz a especialista.

Nos anos 1950, Brasil tinha quase 7 mil quilômetros a mais de ferrovias do que existem atualmente
Nos anos 1950, Brasil tinha quase 7 mil quilômetros a mais de ferrovias do que existem atualmente

Para ela, os investimentos devem priorizar o escoamento de grãos dos estados com grande produção agrícola para os portos. Liedi Legi Bariani Bernucci destaca quatro ferrovias que precisam não apenas ser finalizadas, mas interligadas. São a Norte-Sul, a transnordestina, a FICO (Ferrovia de Integração do Centro-Oeste) e a FerroGrão, entre Sinop-MT e Marituba-PA. Na avaliação da professora da USP, a conclusão dessas obras só se viabiliza se houver investimento privado.

A especialista entende que, apesar do grande aporte de investimento em obras, os recursos destinados para a reestruturação da malha ferroviária nacional vão gerar economia ao país. “São investimentos de bilhões de reais, mas que também trarão economia de bilhões de reais”, diz. De acordo com Liedi Legi Bariani Bernucci, a economia virá através da redução da perda de grãos e na conservação das rodovias, já que o impacto dos veículos pesados sobre as estradas irá diminuir.

De acordo com dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT), a má qualidade do pavimento das rodovias brasileiras impõe perda anual de R$ 3,8 bilhões ao transporte de cargas no Brasil. “É preciso atacar isso, pois não adianta ter eficiência na produção agrícola se não existe uma forma de transporte que seja eficiente e minimize perdas”, alerta a professora da Escola Politécnica da USP.

Mais capacidade de transporte
Levantamento da Associação Nacional dos Transportes Ferroviários (ANTT) revela que a extensão e a modernização da malha ferroviária nacional precisam de investimentos na ordem de R$ 25 bilhões. São recursos que vão aumentar o potencial de transporte do país e permitir que o volume de cargas cresça 32% em dez anos. O estudo da ANTT avalia que o Brasil irá aumentar em 430 bilhões a capacidade de toneladas transportadas por quilômetro útil (TKU) com o aprimoramento e a ampliação de suas ferrovias.

Segundo Liedi Legi Bariani Bernucci, o aumento da competitividade e o retorno financeiro que as ferrovias podem trazer aos investidores dificilmente deixarão de atrair capital estrangeiro. “O montante de dinheiro é expressivo e é necessário atrair investidores privados, pois até as ferrovias que estão prontas precisam se modernizar. Carajás, por exemplo, carece de duplicação”, diz.

A professora da USP alerta ainda que o país deveria priorizar o transporte ferroviário de grãos, para depois investir em ferrovias que atendam a produção de minérios, petróleo e cana de açúcar. “A produção de grãos é o grande mercado brasileiro hoje. E ela só tende a crescer se puder escoar por trilhos, em vez de estradas”, conclui. O país tem atualmente 29.817 quilômetros de ferrovias, contra 36 mil que existiam na década de 1950. Os Estados Unidos são líderes mundiais neste modal, com 226.427 quilômetros.

Clique aqui e ouça a entrevista da professora-doutora Liedi Legi Bariani Bernucci

Entrevistados
- Engenheira civil e professora-doutora da Escola Politécnica da USP, Liedi Legi Bariani Bernucci (base em entrevista à rádio USP)
- Associação Nacional dos Transportes Ferroviários (ANTT) (via assessoria de imprensa)

Contatos
liedi.bernucci@gmail.com
ascom@antt.gov.br

Crédito Foto: Flickr

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Perto dos 160 anos, torre do Big Ben passa por retrofit

Elizabeth Tower precisa sofrer reparos em sua estrutura, a fim de que possa suportar as 14 toneladas do relógio mais famoso do mundo

Por: Altair Santos

Big Ben: torre que abriga o relógio mais famoso do mundo ficará três anos em reforma
Big Ben: torre que abriga o relógio mais famoso do mundo ficará três anos em reforma

Inaugurado em 1858, a torre que abriga o relógio mais famoso do mundo – o Big Ben – ficará três anos sem receber visitas. Oficialmente chamada de Elizabeth Tower, a edificação passará por reformas em sua estrutura e na fachada, além de ganhar elementos que vão melhorar a mobilidade para receber os milhares de turistas que a visitam anualmente, e também dos que trabalham na manutenção do relógio. Uma das novidades será a implantação de um elevador. O retrofit tem custo estimado em 150 milhões de reais e todo o projeto está a cargo de empresas de arquitetura e de engenharia britânicas.

Um dos reparos mais urgentes está relacionado ao reforço da estrutura de aço que sustenta o relógio. O equipamento pesa quase 14 toneladas e inspeções detectaram rachaduras e até uma pequena inclinação, o que compromete uma das qualidades do Big Ben: a precisão. Por isso, projetistas avaliam envolver o relógio em uma armadura de concreto. Para que isso ocorra, primeiro é necessário tratar das patologias que afetam a torre. Entre elas, rachaduras e fissuras, além do prédio carecer de reforços em seus pilares.

Antes das obras começarem, um aparato de andaimes foi instalado em volta da torre para escorá-la e também para permitir o acesso dos operários aos vários pontos que terão de ser reformados. Outra preocupação é com os sinos que compõem o Big Ben. Estudo da Universidade de Leicester, cujo departamento de engenharia civil presta assessoria técnica para a reforma, aconselhou que os sinos não sejam retirados, sob o risco de que eles possam não emitir mais o mesmo som de antes.

Instalação de andaimes marca início das obras na Elizabeth Tower
Instalação de andaimes marca início das obras na Elizabeth Tower

Martin Cockrill, técnico do departamento de engenharia da Universidade de Leicester, que lidera a equipe que assessora a reforma da Elizabeth Tower, também orienta sobre a recuperação do campanário do prédio, a fim de que não seja afetada a sonoridade do sino. Segundo ele, haverá a colocação de sensores nas paredes, a fim de que o espaço mantenha o mesmo desempenho acústico. “O objetivo é fazer tudo para preservar o som do conjunto de sinos”, diz.

Símbolo mundial
As reformas na Elizabeth Tower começaram em 2 de março de 2017. Além das obras estruturais, a torre ganhará equipamentos para prevenção de incêndio. Com o objetivo de poupar a escadaria em espiral de 334 degraus, também será instalado um elevador de serviço para atender as equipes de manutenção do relógio, que diariamente precisavam subir e descer a escada. No entanto, os turistas terão que continuar encarando os 334 degraus, já que é uma espécie de ritual para quem visita o Big Ben, em Londres.

Estrutura de aço que suporta o relógio apresenta problemas e alvenaria do prédio também vai precisa tratar patologias
Estrutura de aço que suporta o relógio apresenta problemas e alvenaria do prédio também vai precisa tratar patologias

A última grande reforma pela qual passou a Elizabeth Tower foi entre 1983 e 1985. “As propostas atuais abordarão uma manutenção mais minuciosa, pois teremos a tecnologia da construção a serviço da obra”, afirma Martin Cockrill. Já Tom Brake, porta-voz da comissão da Câmara dos Comuns, que autorizou o orçamento para a reforma, justifica o gasto, garantindo que é uma obrigação governamental assegurar que as “futuras gerações tenham a Elizabeth Tower preservada”. “Não estamos falando apenas de um símbolo britânico, mas mundial”, reitera. A Elizabeth Tower faz parte do complexo do Palácio de Westminster, que abriga o parlamento do Reino Unido.

Entrevistado
Assessoria de comunicação do parlamento do Reino Unido

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Crédito Fotos: UK Parliament

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Para indústria química do concreto não existe crise

Em 2016, setor cresceu 1,4% e movimentou R$ 350 bilhões, puxado por produtos voltados para melhorar a produtividade na construção civil

Por: Altair Santos

A química está cada vez mais presente nos canteiros de obra. Em destaque, os hiperplastificantes utilizados na produção de concreto, e que melhoram a hidratação, aceleram a cura, ajudam o material a emitir menos CO2 e reduzem o consumo de água em até 40%, em relação aos processos convencionais. Esses produtos lideram o segmento da indústria química voltado para a construção civil, o qual fez o setor crescer 1,4% em 2016, com faturamento de US$ 113,5 bilhões (perto de R$ 350 bilhões) segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

Outra prova da relevância da construção civil para a indústria química é o crescimento da participação de grandes players do segmento no setor de obras. “A indústria química desempenha papel importante na formulação e na produção de matéria-prima utilizada na construção civil. Os produtos agregam qualidade e ganho de tempo na execução de obras, gerando alternativas mais sustentáveis”, afirma o diretor do portfólio de Infraestrutura da UBM Brazil, Renan Joel.

Além da participação das indústrias, o universo acadêmico no Brasil tem sido pró-ativo em pesquisas de produtos que ajudem a construção civil a produzir obras menos agressivas ao meio ambiente. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), Aldo Zarbin, as universidades brasileiras produzem 2% de todos os estudos envolvendo ciência química no mundo, o que coloca o Brasil em 15º no ranking das nações que mais publicam artigos acadêmicos. “No país, o número de publicações na área química cresce mais que a média mundial. Temos a oitava maior indústria química do mundo e a construção civil é um dos setores que mais atrai pesquisas”, diz Zarbin.

Espaço para crescer mais
O aprimoramento da indústria química voltada para a cadeia produtiva da construção torna cada vez mais crescente o uso de argamassas industrializadas, assim como estimula a construção industrializada do concreto. A ponto de as principais marcas internacionais da indústria química apontarem o Brasil como um dos mais promissores mercados mundiais nos próximos dez anos. “Observamos uma grande transformação no mercado de químicos para a construção, sobretudo nos segmentos de argamassa, pré-moldados de concreto e gesso. Hoje, os fabricantes oferecem produtos com valor agregado muito maior que anos atrás e o número de empresas aumentou exponencialmente”, destaca Leonardo Dias, gerente-geral de um dos players do setor.

O engenheiro químico Danilo Silva, especialista em sistemas construtivos, avalia que há mais espaço para crescer, pois a construção residencial ainda usa pouco o concreto usinado. “No setor habitacional, ainda existe um déficit habitacional significativo e uma infraestrutura precária, que precisa ser desenvolvida. O percentual de consumo de concreto dosado em central utilizado nas construções residenciais ainda é muito baixo. Predomina a cultura da autoconstrução, com o concreto produzido em obra e sem uso de aditivos. Porém, essa tendência começa a ser revertida aos poucos”, diz.

Entrevistado
Reportagem com base no estudo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) (via assessoria de imprensa)

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abiquim@abiquim.org.br

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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Concretos das cidades servem de filtro contra poluentes

Estudo desenvolvido nos Estados Unidos e Cingapura mostra que material presente nas construções das metrópoles absorve dióxido de enxofre

Por: Altair Santos

Pesquisadores da Stony Brook University, nos Estados Unidos, e da Universidade Nacional de Cingapura descobriram que o concreto presente nas cidades, seja em prédios, pavimentos, viadutos, pontes e outras obras, funciona como esponja, absorvendo um dos poluentes mais nocivos à vida: o dióxido de enxofre (SO2). O gás é expelido desde erupções vulcânicas até fermentações alcoólicas. Nas metrópoles, a queima de combustíveis pelos veículos automotores também despeja um grande volume de SO2 na atmosfera. Além disso, o dióxido de enxofre é um dos causadores da chuva ácida.

Concreto das edificações funciona como esponja para aprisionar poluentes, revela pesquisa
Concreto das edificações funciona como esponja para aprisionar poluentes, revela pesquisa

Segundo os pesquisadores, a descoberta de que o concreto pode absorver o gás poluente tende a mudar o preconceito ambiental contra resíduos do material, permitindo que os descartes de obras deixem de ser vistos como vilões, desde que bem aproveitados. “Nossas descobertas abrem a possibilidade para que os resíduos de concreto provenientes de demolições da construção possam ampliar esse efeito-esponja”, diz Alex Orlov, professor-associado de ciência de materiais e engenharia química na Faculdade de Engenharia e Ciências Aplicadas na Stony Brook University, e um dos coordenadores da pesquisa.

O estudo detectou que quanto mais novo o concreto mais ele tem capacidade de absorver poluentes, principalmente o SO2. “Isso reforça a necessidade de reciclagem do material. Mas o mais importante é que descobrimos soluções ambientais em um produto antes apenas tachado de poluidor”, ressalta Orlov. “Isso pode levar a um novo pensamento dentro das cidades”, completa. Na pesquisa desenvolvida pelas universidades dos EUA e da Cingapura foram testados vários tipos de concreto para ver qual conseguiria os maiores níveis de absorção do dióxido de enxofre. A conclusão foi que todos mantiveram desempenhos semelhantes.

Organização Mundial de Saúde
O resultado do estudo foi publicado no Journal of Chemical Engineering, com o seguinte título original: “Reactions of SO2 on hydrated cement particle system for atmospheric pollution reduction: A DRIFTS and XANES study”. A Stony Brook University e a Universidade Nacional de Cingapura polarizaram a pesquisa por possuírem laboratórios de luz síncrotron. As instituições acadêmicas também integram programas da Organização Mundial de Saúde com foco na busca de soluções para o combate à poluição nos centros urbanos. Segundo a OMS, sete milhões de mortes prematuras em todo o mundo podem estar ligadas à má qualidade do ar nas cidades.

A pesquisa concluiu ainda que concretos aparentes desempenham melhor a função esponja do que concretos cobertos por algum tipo de revestimento. Diante desta observação, o coordenador do estudo avalia que vias com pavimento rígido e edifícios com fachadas brutalistas são mais eficazes. “O concreto revestido também cumpre essa função de absorver poluentes, mas em menor grau”, adverte Alex Orlov. Os resultados do estudo ainda podem ser aprofundados, pois as primeiras impressões foram publicadas na edição de 1º de julho de 2017 no Journal of Chemical Engineering.

Clique aqui e saiba mais sobre a pesquisa.

Entrevistado
Alex Orlov, professor-associado de ciência de materiais e engenharia química na Faculdade de Engenharia e Ciências Aplicadas na Stony Brook University

Contato
alexander.orlov@stonybrook.edu

Crédito Foto: Wikipedia

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330