Estaca escavada de concreto usa resíduos de pneus
Borracha substitui areia, mas estrutura consegue preservar resistência com a adição de mais cimento na mistura
Por: Altair Santos
Pesquisa desenvolvida na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp conseguiu tornar realidade a incorporação de resíduos de borracha proveniente da recauchutagem de pneus, substituindo parcialmente a areia. O estudo permite que o agregado seja usado em estacas escavadas e moldadas in loco, para obras do tipo residência de pequeno e médio porte (até dois pavimentos). Para compensar a perda de resistência do concreto, por causa da substituição da areia por partículas de resíduos de pneus como agregado miúdo, é aumentada a adição de cimento à mistura.
A pesquisa tornou-se realidade a partir da dissertação do engenheiro civil Valério Henrique França, com a orientação do professor Newton de Oliveira Pinto Júnior. O conceito inicial da pesquisa não tinha como objetivo produzir estacas escavadas, mas sim testar a aderência entre o aço e o concreto, preparado a partir da substituição parcial da areia por resíduo de borracha proveniente da recauchutagem de pneus. O rumo do estudo começou a mudar quando foram realizadas as pesquisas de campo. Foram moldadas três estacas em concreto convencional e outras três em concreto com resíduos de borracha. Os dois tipos de estacas revelaram comportamentos muito similares quanto à deformação e ao recalque.
Todas as estruturas moldadas tinham seis metros de profundidade e 30 centímetros de diâmetro. Elas foram submetidas a ensaios de carga sob pressão de até 25 toneladas. As estacas em que 10% da areia foram substituídas por resíduos de borracha se comportaram nos testes de resistência igual às estacas convencionais. Vale lembrar que a mistura também recebeu a mesma proporção a mais de cimento, ou seja, 10%. “Os testes comprovam que o aproveitamento de resíduos de borracha em estacas escavadas in loco é totalmente viável do ponto de vista técnico”, diz Valério Henrique França.
Trinta anos de pesquisa
A dissertação começou em 2003, na Faculdade de Engenharia do Campus de Ilha Solteira – unidade que integra a Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP). Na Unicamp, junto com o professor Newton de Oliveira Pinto Junior, Valério Henrique França, que hoje também é professor na Universidade Paulista (UNIP), vem desenvolvendo sua pesquisa para chegar ao mercado. Embora o processo ainda dependa de um estudo de viabilidade econômica, o pesquisador considera que o maior lucro advém do ganho ambiental.
A Unicamp alerta que pesquisas sobre a incorporação de resíduos de borracha de pneus em concreto têm sido realizadas há mais de 30 anos. Porém, o uso efetivo em estacas, particularmente em estacas moldadas in loco, não possui registro na literatura técnica e científica. Outra motivação para o estudo é que o Brasil fabrica anualmente 68 milhões de pneus, além de ser o segundo país do mundo em recauchutagem de compostos de borracha. Tal processo libera grande volume de resíduos e que, em aterros sanitários, levam até 240 anos para completar o ciclo de degradação.
Entrevistado
- Newton de Oliveira Pinto Júnior, professor-doutor do departamento de estruturas da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp (via assessoria de imprensa da Unicamp)
- Engenheiro civil Valério Henrique França, doutorando pela Unicamp, professor da Universidade Paulista (UNIP- Campus Araçatuba-SP) e gerente da construtora Andrade Galvão Engenharia Ltda. (via assessoria de imprensa da Unicamp)
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pintojr@fec.unicamp.br
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Estudo sobre Revolução 4.0 diz quais empregos vão sumir
Pesquisa indica que mais da metade das profissões hoje ofertadas no mundo estará suscetível a ser substituída por máquinas
Por: Altair Santos
O Instituto Global McKinsey, nos Estados Unidos, publicou o mais completo estudo sobre o impacto da Revolução Industrial 4.0 no emprego mundial. O levantamento mensurou quais profissões estão mais ameaçadas pela automação e pela robótica e mostra o porquê das empresas estarem propensas a trocar seres humanos por robôs. A pesquisa leva em conta a transformação que a Revolução 4.0 irá causar no mercado de trabalho até 2075. Ela sugere que 51% dos empregos hoje ofertados no mundo estão suscetíveis a serem substituídos 100% por máquinas.
O estudo lembra que algumas profissões já sofrem diretamente o impacto da automação e da robótica. Um exemplo é o profissional que exercia a função de caixa bancário e foi substituído por máquinas que aceitam depósitos, fornecem dinheiro, aceitam pagamento de contas e fazem investimentos. O mesmo vai ocorrer com caixas em estabelecimentos comerciais, prevê a pesquisa, lembrando que funções que exigem raciocínio repetitivo e trabalho braçal estão todas fadadas a serem substituídas por robôs. De operário a costureiras em fábricas de confecções, todos estão na lista.
A construção civil e a mineração também tendem a ser áreas muito impactadas pela presença da robótica. Assentar tijolos, rebocar paredes, pintar, armar ferragens, concretar e demolir são funções que máquinas já começaram a desempenhar. O relatório do Instituto Global McKinsey faz a seguinte análise: “A automação pode permitir que as empresas melhorem o desempenho, reduzam erros, elevem a qualidade e a velocidade e, em alguns casos, alcancem resultados que ultrapassem a capacidade humana”. Ainda segundo o estudo, a produtividade global pode aumentar de 0,8% a 1,4% com a entrada dos robôs no mercado de trabalho.
Haverá desemprego em massa?
O estudo aponta que apenas 5% das profissões hoje conhecidas não estariam ameaçadas pela robótica e a automação. A pesquisa traz ainda dados mais impressionantes. Aponta que as empresas podem economizar o equivalente a US $ 15 trilhões em salários anualmente. Revela também que na China a automação pode colocar em risco 395 milhões de postos de trabalho; na Índia, 235 milhões; nos Estados Unidos, 60 milhões, e no Brasil, quase 54 milhões. O Instituto Global McKinsey estabelece o ano de 2055 como um marco para o aprofundamento das transformações, mas alerta que, dependendo do país, elas podem chegar 20 anos antes (2035) ou 20 anos depois (2075).
Para os pesquisadores, há uma certeza: a forma como as pessoas trabalham hoje vai mudar. “A escala de mudanças na força de trabalho é de uma ordem de grandeza semelhante às mudanças tecnológicas ocorridas entre o final do século XIX e o decorrer do século XX. O mundo deixou de ser agrícola para se tornar industrial. Essas mudanças não resultaram em desemprego em massa, pois foram acompanhadas pela criação de novos tipos de trabalho. Não podemos dizer definitivamente se o cenário será diferente desta vez. Nossa análise mostra que os seres humanos ainda serão necessários na força de trabalho. Mas eles terão de aprender a trabalhar ao lado das máquinas”, conclui o estudo.
Clique aqui e leia o estudo completo do Instituto Global McKinsey.
Entrevistado
Instituto Global McKinsey, com base em pesquisa liderada por James Manyika, Michael Chui, Mehdi Miremadi, Jacques Bughin, Katy George, Paul Willmott e Martin Dewhurst
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media_relations_inbox@mckinsey.com
Crédito Foto: McKinsey Global Institute
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
México constrói habitação social com blocos de encaixar
Desenvolvidos no México, artefatos dispensam uso de argamassas para fixação e também não necessitam de mão de obra especializada
Por: Altair Santos
O arquiteto Jorge Capistrán fez da inovação uma oportunidade para estimular a construção de habitações de interesse social em seu país, o México. Através de sua empresa, a Armados Omega, ele criou o Block ARMO. São blocos de concreto produzidos com resíduos de construção, cujas peças formam paredes estruturais e de vedação encaixando-se umas nas outras. As peças dispensam o uso de argamassas e podem ser montadas sem a exigência de mão de obra especializada.
Cada Block ARMO mede 12 x 20 x 40 cm. A geometria lembra brinquedos infantis, como quebra-cabeças e Lego. Conforme as peças se encaixam vão dando sustentação umas às outras, criando paredes que podem ser sustentadas por pilares pré-fabricados em suas extremidades. Jorge Capistrán conseguiu patentear e obter autorização do governo mexicano para colocar no mercado o sistema construtivo inovador. Em 2015, a invenção ganhou o prêmio nacional de inovação tecnológica do México.
Com mão de obra treinada, a construção de uma habitação de interesse social com essa tecnologia pode ser erguida na metade do tempo de uma construção convencional. Os custos também sofrem redução – em média, 25% menos, dependendo de cada região do México. “A intenção é tornar o sistema ainda mais barato. Conforme a demanda for aumentando, a produção de artefatos cresce e permite baixar ainda mais o custo”, diz Juan Manuel Reyer, diretor-comercial da empresa.
O desenvolvimento da tecnologia começou em 2007. A ideia nasceu da intenção de projetar uma casa funcional e barata, que pudesse substituir habitações improvisadas. “Pensamos em elementos funcionais e decorativos, que são feitos do mesmo material e com os mesmos equipamentos, para otimizar a industrialização. O sistema é ilimitado em termos de formato das peças e pode se adaptar a vários tipos de projetos”, assegura Jorge Capistrán, que começou a construir os primeiros protótipos em 2011.
Validado pela Universidade de Stanford
Segundo o inventor do Block ARMO, as estruturas criadas por ele foram testadas e aprovadas pelo departamento de engenharia técnica da Universidade de Stanford. O interesse norte-americano surgiu depois que o sistema foi empregado para construir 300 casas em Serra Negra, na região de Puebla, considerada uma das áreas mais pobres da cidade mexicana. Os blocos passaram a integrar um programa de validação, coordenado pela Conacyt TechBA-FUMEC - organismo que viabiliza acordos tecnológicos e de pesquisa entre México e Estados Unidos.
Atualmente, a empresa que fabrica os blocos busca financiamento para seguir aperfeiçoando o material. Outra meta é conseguir a validação do Conselho Nacional de Habitação (CONAVI), para que possa entrar definitivamente nos sistemas construtivos validados pelos programas de habitação social do México. Com isso, estima Jorge Capistrán, a evolução da tecnologia estará assegurada e poderá ser difundida em outros países – principalmente, na América Latina, onde o déficit habitacional é um dos maiores do mundo.
Veja vídeo sobre a aplicação dos blocos em uma construção:
Entrevistado
Arquiteto Jorge Capistrán, dono da Armados Omega e idealizador do Block ARMO
Contato
info@armo-system.com
Crédito Fotos: Armados Omega
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Curso de engenharia civil une SindusCon-PR, FAE e SENAI
Graduação começa no primeiro semestre de 2018 e objetivo dos organismos é que alunos tenham oportunidade de vivenciar o dia a dia do setor
Por: Altair Santos
O SindusCon-PR, a FAE e o SENAI se uniram para criar um curso superior em engenharia civil. A graduação começa no primeiro semestre de 2018 e as inscrições para o vestibular já podem ser realizadas a partir do dia 11 de setembro. “Serão ofertadas 100 vagas, 50 para o turno matutino e 50 para o noturno”, explica o pró-reitor de ensino, pesquisa e extensão da FAE, Everton Drohomeretski.
Estudo recente mostra que a graduação de engenharia civil está entre as 10 com maior procura e matrícula de alunos no Paraná. Já em Curitiba, é o quinto curso com mais demanda. No entanto, existem gargalos a serem superados, segundo avalia o SindusCon-PR. Um deles, é a dissociação das disciplinas acadêmicas com o mercado de trabalho. É neste ponto que a engenharia civil da FAE pretende se diferenciar. “Ele foi projetado para contribuir com o desenvolvimento da construção civil do amanhã”, resume Everton Drohomeretski.
A graduação de engenharia civil da FAE terá cinco pilares: inovação, sustentabilidade, manejo de novas tecnologias e ferramentas, acessibilidade e novos modelos construtivos. “A formação vai incluir, desde cedo, conceitos avançados como BIM (Building Information Modeling) e tecnologias da indústria 4.0, como automação, sistemas inteligentes e tecnologias limpas. Mas os alunos também contarão com a matriz tradicional, pois é obrigatória a todos os cursos de graduação na área”, explica o pró-reitor.
O curso será 100% presencial e o corpo docente está em formação. “Para esse novo curso, como a FAE já conta com as graduações de engenharia mecânica e engenharia de produção, boa parte dos professores poderão ser aproveitados. Mas, para as disciplinas específicas, os professores ainda estão em fase de contratação. O processo seletivo já está quase concluído e, em breve, o corpo docente de engenharia civil estará completamente formado”, avisa Everton Drohomeretski.
Momento ideal
O pró-reitor avalia que o curso surge em um momento de retomada da construção civil, e que os primeiros formandos terão um mercado aquecido - e exigente - pela frente. “Foi para ofertar uma graduação voltada para esse novo mercado que a FAE se uniu à indústria, por meio da parceria com o SENAI, e aos engenheiros, através do SindusCon-PR. Eles nos disseram que os novos engenheiros civis precisam ser antenados e conhecedores de tecnologia, que entendam de gestão e sejam empreendedores, além de estarem atentos à sustentabilidade. São esses profissionais que vamos entregar ao mercado da construção civil”, diz Everton Drohomeretski.
A parceria permitirá que o SindusCon-PR faça a conexão com as empresas associadas, para que os alunos tenham oportunidade de vivenciar o dia a dia do setor. A FAE oferecerá toda a sua expertise, infraestrutura e os professores. Já o SENAI atuará na frente prática, disponibilizando laboratórios, estágios e projetos. “Para o SENAI, isso faz parte de sua missão institucional, que é oferecer condições e alternativas em educação para as indústrias”, reforça o diretor-regional do SENAI, José Antonio Fares.
Já o vice-presidente de área técnica do SindusCon-PR, Euclésio Finatti, complementa: “A criação do curso busca as mudanças que envolvem o setor, no que concerne à inovação. É preciso pensar a construção civil com mais produtividade, aliando o conhecimento com as novas tecnologias, métodos que trarão mais agilidade e assertividade nos projetos futuros.”
Entrevistados
- Engenheiro civil Euclésio Finatti, vice-presidente de área técnica do SindusCon-PR (via assessoria de imprensa)
- Psicólogo e mestre em gestão empresarial José Antonio Fares, diretor-regional do SENAI (via assessoria de imprensa)
- Doutor em Engenharia de Produção Everton Drohomeretski, pró-reitor de ensino, pesquisa e extensão da FAE (via assessoria de imprensa)
Contatos
imprensa@sindusconpr.com.br
senaicampus@pr.senai.br
imprensa@fae.edu
Crédito Foto: FAE
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Maior ponte sobre o mar será inaugurada na China
A HZMB liga Hong Kong, Zhuhai e Macau, ocupando extensão de 50 quilômetros, incluindo trecho de túnel submerso sob as águas
Por: Altair Santos
A maior ponte do mundo sobre águas marítimas está prestes a ser inaugurada na China. Com 50 quilômetros de comprimento - incluindo túneis -, a estrutura será aberta para o tráfego de veículos no final de 2017. Estima-se que em novembro esteja liberada para receber um fluxo de 40 mil veículos por dia, ligando as cidades de Hong Kong, Zhuhai e Macau.
Batizada de HZMB (Hong Kong-Zhuhai-Macao Bridge) a construção começou em 2009. Três anos foram consumidos apenas para pavimentar a ponte e o complexo de túneis, que ocupa 6,7 quilômetros e faz a interligação entre duas ilhas artificiais que precisaram ser construídas para dar suporte estrutural à HZMB e permitir o tráfego de supernavios.
O concreto empreendido na obra chegou a 1,320 milhão de m³. O aço presente nas armaduras equivale a 420 mil toneladas - suficiente para construir 60 torres Eiffel. Boa parte desse volume foi usada nas peças pré-fabricadas e pré-moldadas in loco utilizadas nos pilares, no tabuleiro da ponte e na estrutura do túnel.
Uma indústria de pré-fabricados, assim como uma central de concreto, foi instalada no canteiro de obras da HZMB para abastecer a construção. No entanto, a produção ficou paralisada por um ano, quando organismos de fiscalização da China constataram que o material fornecido não atendia as especificações de resistência do projeto.
Foram detidos dois engenheiros-seniores, dois gerentes de laboratório, 12 técnicos de laboratório e fiscais do departamento de engenharia civil e desenvolvimento de Hong Kong, que eram subornados para validar os testes com corpos de prova. O caso, descoberto em 2015, obrigou que todas as estruturas pré-moldadas fossem testadas novamente, com substituição de peças suspeitas.
A investigação ficou a cargo da Comissão Independente Contra a Corrupção (ICAC, da sigla em inglês) que detectou que eram produzidas amostras em conformidade com os projetos para fraudar laudos, mas que o concreto que ia para a obra não tinha as especificações exigidas. A paralisação fez o custo da ponte quase dobrar. De estimados US$ 10 bilhões, passou para US$ 19 bilhões.
Megaobras
A construção da HZMB também teve problemas com segurança. Dez trabalhadores morreram e mais de 600 ficaram feridos, num total de 275 registros de acidentes. A maior parte deles relacionados com as escavações marítimas para a instalação do túnel e também na construção das ilhas artificiais, que juntas consumiram 9.076.300 m3 de terra e resíduos da construção para que fosse realizado o aterro em pleno mar.
A HZMB faz parte de um complexo viário que busca tirar a sobrecarga de veículos que circulam pelas três cidades, por causa do tráfego gerado pelo aeroporto e o porto de Hong Kong. Além disso, a megaobra coloca a China como o país que mais concentra construções projetadas para bater o recorde no mundo - principalmente, as ligadas ao transporte. São chinesas a maior ponte sobre rio, a mais alta ponte sobre rio, o maior viaduto, o mais alto viaduto, o maior túnel rodoviário e o maior túnel ferroviário, além do maior aeroporto - o de Hong Kong -, e a maior hidrelétrica.
Veja vídeo sobre a construção da obra:
Entrevistado
Hong Kong-Zhuhai-Macao Bridge Corporation (via assessoria de imprensa)
Contato
hzmbo@hzmbo.com
Crédito Fotos: HZMB
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
No Brasil, concreto translúcido ainda está na academia
Pesquisadores alegam que faltam empresas dispostas a investir no material, o qual tem uso cada vez mais relacionado com a arquitetura
Por: Altair Santos
Em países europeus, assim como nos Estados Unidos, Canadá e Japão, o concreto translúcido está cada vez mais incorporado ao ambiente urbano e das edificações. A arquitetura desfruta do material para criar monumentos, destacar o mobiliário urbano ou como elemento decorativo em casas e edifícios. No Brasil, porém, a tecnologia ainda se limita às pesquisas acadêmicas, como revelou o professor-doutor Bernardo Tutikian, coordenador do Instituto Tecnológico de Desempenho para Construção Civil (itt Performance) da Unisinos-RS. “Faltam empresas para produzir e colocá-lo no mercado”, diz o pesquisador, que palestrou na edição 2017 do Concrete Show, realizado de 23 a 25 de agosto na cidade de São Paulo-SP.
O engenheiro civil Bernardo Tutikian atua na pesquisa do concreto translúcido desde 2009. Antes, em 2006, o professor-doutor Hélio Adão Greven deu os primeiros passos na UFRGS. Em 2008, com o professor Francisco Carvalho, foi a Universidade de Sobral-CE quem investiu no desenvolvimento do material. Em seguida, vieram a Universidade Federal de Santa Catarina, em 2010; a UNICAMP, em 2013, e mais recentemente a PUC-PR. No entanto, nenhuma empresa ainda se dispôs a produzir concreto translúcido em escala de mercado no Brasil, apesar de sua produção ser relativamente fácil. “O que torna o concreto translúcido é o uso de fibras ópticas. O essencial é que elas estejam de um ponto a outro, para permitir a passagem da luz”, explica Tutikian.
As fibras ópticas podem ser distribuídas uniformemente ou de forma randômica. Não existe uma restrição ao tipo de concreto a ser colocado na fôrma, apesar de que o autoadensável é o que tem sido usado com mais frequência. No começo do desenvolvimento da pesquisa, o custo do m3 ficava em torno de R$ 2.400,00. Atualmente, com a fibra óptica custando em torno de R$ 1,00 o metro, o valor de produção caiu consideravelmente. “O que ainda encarece é a mão de obra, já que o concreto translúcido segue produzido de maneira artesanal”, relata o professor da Unisinos, que ainda busca resposta sobre a durabilidade do material. “Temos peças na Unisinos que já duram dez anos. A dúvida é saber o quanto a fibra óptica resiste à alcalinidade do concreto. Diria que o estado da arte do concreto translúcido desenvolvido no Brasil hoje é de dez anos”, completa.
Luminosidade e normas técnicas
O concreto translúcido foi inventado em 2001 pelo húngaro Aron Losonczi, que patenteou a tecnologia em 2005. Não é à toa que a Hungria está entre os países que mais exportam peças de concreto translúcido. O material também está consolidado industrialmente em países como Alemanha, Áustria e República Checa. “Medições constatam que a tecnologia possibilita economia de até 20% no consumo de energia, devido à luminosidade que o concreto permite transpassar para o ambiente”, revela Bernardo Tutikian, lembrando que no Brasil o concreto translúcido deve seguir as principais normas técnicas que permeiam a construção civil no país, que são: ABNT NBR 15575 - Edificações Habitacionais - Desempenho; ABNT NBR 5674 - manutenção de Edifícios; ABNT NBR 14037 - Manual de Operações uso e Manutenção das Edificações, e ABNT NBR 16280 - Reforma em edificações - Sistema de gestão de reformas – Requisitos.
Entrevistado
Engenheiro civil Bernardo Fonseca Tutikian, professor-doutor e coordenador do Instituto Tecnológico de Desempenho para Construção Civil (itt Performance) da Unisinos-RS (com base em palestra concedida no Concrete Show 2017)
Contato
bftutikian@unisinos.br
Crédito Fotos: LitraCon e Cia. de Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Por que as incorporadoras saíram da Bolsa de Valores?
Entenda o que deu errado com as empresas que se aventuraram a colocar ações no mercado, mas não conseguiram dar retorno aos investidores
Por: Altair Santos
Entre 2005 e 2010, 27 empresas ligadas ao mercado imobiliário passaram a ofertar ações na Bolsa de Valores - as chamadas IPOs (Initial Public Offering [Oferta Pública Inicial]). Essa abertura aos investidores permitiu às incorporadoras captarem R$ 12 bilhões. O capital era suficiente para construir e oferecer financiamento a todas as faixas de renda que buscassem adquirir imóveis no Brasil. O cenário era tão favorável que algumas corporações do ramo triplicaram o tamanho. Parecia o cenário ideal, mas algo deu errado. Por quê?
Segundo o engenheiro civil Leonardo Nogueira Diniz, que entre 2011 e 2015 atuou como CEO da Rossi Residencial, as empresas do setor imobiliário que entraram na Bolsa de Valores tomaram decisões estratégicas equivocadas. Uma delas foi não procurar saber o perfil do investidor. “Os investidores queriam retorno rápido, em um setor em que o ciclo de maturação é de cinco anos. Quando as incorporadoras se depararam com essa incoerência, muitos já haviam fugido do investimento em ações no mercado imobiliário”, relata.
O especialista, que palestrou na edição 2017 do Concrete Show, realizado de 23 a 25 de agosto na cidade de São Paulo-SP, lembra ainda que outros erros impediram as empresas de dar retorno aos investidores. “Entre as medidas equivocadas, estão compras erradas de terrenos, expansão para mercados não tão maduros e a falta de cláusulas de barreira no setor. Como o mercado estava muito aquecido, qualquer um que tinha capital se tornou incorporador e construtor. Isso contaminou o mercado”, cita.
Com o fim das IPOs do mercado imobiliário no Brasil, as empresas passaram a trabalhar alavancadas, ou seja, sem capital começaram a buscar quem financiasse suas obras. “Boa parte deste dinheiro hoje, cerca de 80%, vem de bancos, poupança dos clientes e permuta por terrenos. O setor passou a se financiar muito com terceiros e a investir no imóvel na planta. O problema é que veio a crise e a demanda caiu. Daí, a regra dos imóveis na planta gerou uma explosão de distratos. Esse é o cenário atual do mercado imobiliário no Brasil”, descreve Leonardo Diniz.
Fim da aventura
Na análise do especialista, o momento do mercado imobiliário é para quem é do ramo. Por quatro motivos: os bancos restringiram os financiamentos, o desemprego e o risco de perda de emprego continuam altos, ainda existe uma alta taxa de imóveis estocados e os investidores fugiram do setor. O aspecto positivo, de acordo com Leonardo Diniz, é que as empresas amadureceram e passaram a entender melhor o consumidor. “Hoje, elas sabem que cada cidade é um mercado e que cada bairro é um mercado. Por isso, é preciso pensar em produtos diferenciados para o perfil de quem vai comprar imóvel”, avalia.
Outro ponto bem avaliado por Leonardo Diniz é que, com a baixa dos juros, o Brasil tende a ter dois mercados imobiliários futuramente. Um será o Minha Casa Minha Vida, para combater o déficit habitacional do país, e tendo a Caixa Econômica Federal como financiador e órgão regulador; o outro será gerido pelo mercado e pelos bancos privados, e que, dependendo da resposta, pode até estimular a volta das incorporadoras à Bolsa de Valores. Desta vez, sob uma nova realidade e com mais experiência.
Entrevistado
Engenheiro civil Leonardo Nogueira Diniz, sócio-fundador da Oakwood Real Estate, empresa de consultoria imobiliária (com base em palestra concedida no Concrete Show 2017)
Contatos
ldiniz@oakwood.com.br
www.oakwood.com.br
Crédito Fotos: Divulgação e Cia. de Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Vias do futuro chegam primeiro nas cidades menores
Municípios com até 300 mil habitantes adotam conceitos e materiais aprovados internacionalmente em suas ruas, superando as metrópoles
Por: Altair Santos
Segundo o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) vias do futuro devem atender a seis requisitos imprescindíveis. Precisam ter durabilidade, baixa manutenção, tecnologia para evitar ilhas de calor, além de ajudar a reduzir o consumo de energia, possuir baixo impacto ambiental e capacidade de reciclagem. No Brasil, há cidades seguindo a orientação do organismo da ONU, mas não são as metrópoles.
Municípios com até 300 mil habitantes, principalmente nas regiões sul e sudeste do país, decidiram adotar políticas de mobilidade urbana que contemplam os conceitos de vias do futuro. Os projetos são completos, como explica o engenheiro civil Alexsander Maschio, gerente regional da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). “O pavimento é um dos itens, mas têm ciclovias, calçadas, drenagens, galerias, arborização, mobiliário e iluminação, que influenciam na saúde dos cidadãos, na segurança da cidade e no convívio dos moradores”, revela.
Maschio palestrou na edição 2017 do Concrete Show, realizado de 23 a 25 de agosto na cidade de São Paulo-SP. O que as cidades pequenas e de médio porte entenderam é que cada tipo de via tem uma solução adequada, sejam elas de trânsito rápido, arteriais, vias coletoras ou locais. “Não se deve adotar uma solução única para todas as vias”, alerta o representante da ABCP, lembrando que o custo de construção não é o único fator a ser levado em conta.
Para o engenheiro civil, existem outros custos que precisam ser considerados, como custo de manutenção, de reabilitação após a vida útil, custo de impacto sobre os usuários, custo de operação e custo para a economia do município e para a sociedade. “Já imaginou uma via mal projetada e mal construída que precise de manutenção constantemente? O quanto ela vai impactar na vida das pessoas por ter que ser interrompida para o retratamento do pavimento? Quanto custa isso?”, questiona Alex Maschio.
Em qual cidade as pessoas querem morar?
Levando todos esses quesitos em consideração, cidades como Blumenau-SC, Timbó-SC, Francisco Beltrão-PR e Campo Largo-PR, entre outras, estão optando pelo pavimento intertravado com blocos de concreto, em vez do pavimento asfáltico. Para o representante da ABCP, o que pesa nesta decisão é o investimento de longo prazo. “O pavimento asfáltico tem um ganho inicial de 4% no começo, mas o pavimento intertravado acaba custando 40% menos no longo prazo. Por quê? Não precisa de manutenção e tem longa durabilidade. Além disso, agrega a sustentabilidade. Ele gera, em média, economia de 30% em consumo de energia, por causa da refletância. Também impacta nas ilhas de calor, pois absorve até 17 °C menos que o pavimento asfáltico”, relata.
Alexsander Maschio afirma que o desafio é levar as vias do futuro para as metrópoles. Algumas capitais já começam a testar projetos, como Curitiba-PR e Florianópolis-SC. O engenheiro admite que o processo nas grandes cidades é mais lento, mas avalia que os próprios moradores vão impor a mudança. “Na Idade Média, as cidades nasceram para a circulação a pé. A chegada do carro fez com que as cidades fossem invadidas. A prioridade aos veículos levou os pedestres a abandonar as ruas. Agora, é a hora de recuperar as cidades para quem mora nelas, que são as pessoas”, finaliza.
Entrevistado
Engenheiro civil Alexsander Maschio, gerente regional da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) (com base em palestra concedida no Concrete Show 2017)
Contato
alexsander.maschio@abcp.org.br
Crédito Fotos: Divulgação, Prefeitura de Blumenau e Cia. de Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Segredo dos concretos competitivos está na reologia
Restrições ambientais e de sustentabilidade exigem que material tenha cada vez menos água, sem perder a trabalhabilidade
Por: Altair Santos
Em uma construção civil cada vez mais competitiva e em busca da eficácia dos materiais, o estudo da reologia do concreto surge como o ponto fora da curva para que as empresas do setor consigam produtos mais sustentáveis, sem perder tempo e dinheiro. Em resumo, esse foi o tema central da palestra do professor da Escola Politécnica da USP, Rafael Pileggi, no Concrete Show 2017, que aconteceu de 23 a 25 de agosto na cidade de São Paulo-SP.
Especialista em engenharia dos materiais, Pileggi lembrou que a reologia é tão antiga quanto a física - até porque, o primeiro reologista foi Isaac Newton, quando formulou a lei fundamental da gravitação. Trata-se da ciência que estuda a relação entre os esforços e a deformação da matéria. “Simplificando, para aquilo que nos interessa, é entender como os materiais escoam ou entram em movimento. Especificamente, o concreto”, diz o professor da USP.
Recentemente, Pileggi passou a se concentrar na pesquisa do estado fresco dos concretos - o que, em geral, ocorre nas primeiras duas horas do material -, e como isso pode trazer ganhos de sustentabilidade e de competitividade para quem produz e consome o produto. Partindo do princípio de que a trabalhabilidade é o grande segredo do concreto, o professor da USP dedicou-se a estudos que permitem produzir materiais eficientes com cada vez menos água.
Concreto do futuro
Daí, o aprofundamento no estudo da reologia do material. “Reologia hoje é dosagem e mistura, e isso impacta no transporte, no lançamento, no adensamento e no acabamento do concreto. O estudo da reologia leva a sistemas mais eficientes, leva a menos consumo de energia no misturador ou no balão da betoneira, e isso é economia de recursos, o que, para as empresas, significa lucro”, descreve Rafael Pileggi, lembrando que o concreto nunca deixará de ser o segundo produto mais consumido no planeta. Porém, lembra, agora ele precisa ser mais sustentável, ter melhor trabalhabilidade e ser menos trabalhoso em seu manuseio.
De acordo com o professor da USP, o concreto do futuro deve atender os seguintes requisitos: emitir menos CO2, consumir menos água, ter fácil utilização, fazer melhor uso dos outros materiais que o compõem (cimento, areia, brita ou fibras), gerar eficiência energética, ser durável e estar apto para a automação. “Ninguém mais quer concreto que dá trabalho. O contratante quer concreto na bomba. Só que o concreto não pode entupir a bomba. Pelo contrário, dependendo da demanda, ele quer concreto autoadensável ou concreto lançado em spray. No futuro próximo, também não vai querer a mão de obra. O cenário é de um concreto lançado e espalhado por robôs. Para se chegar neste futuro, o estudo da reologia do concreto será fundamental”, conclui.
Entrevistado
Engenheiro de materiais Rafael Pileggi, professor da Poli-USP, especialista em materiais cimentícios ecoeficientes (com base em palestra concedida no Concrete Show 2017)
Contato
rafael.pileggi@poli.usp.br
Crédito Fotos: Cia. de Cimento Itambé e Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Leis são barreiras para China investir no Brasil
Asiáticos são os maiores parceiros comerciais do país, mas para reforçar aliança querem entender melhor o complexo sistema jurídico brasileiro
Por: Altair Santos
Desde 2009, a China é o primeiro parceiro comercial do Brasil. Só em 2016, o país investiu US$ 12 bilhões em projetos dentro do território brasileiro - o dobro dos Estados Unidos no mesmo período. No entanto, o investimento poderia ser muito maior, sobretudo em obras de infraestrutura. Os chineses já anunciaram o desejo de injetar R$ 32 bilhões em projetos relacionados com logística (ferrovias, rodovias e portos), energia, agroindústria, tecnologia e telecomunicações. Porém, o que represa esse volume de recursos é a legislação do Brasil.
Os chineses estão descobrindo que o sistema jurídico brasileiro tem um peso considerável para o êxito dos seus negócios. “A percepção deles é de que a nossa legislação é extremamente complexa e não tão amigável para os negócios. Abrir um canal de diálogo entre as empresas chinesas e especialistas nas várias áreas do direito brasileiro é uma iniciativa que pode favorecer, de modo pragmático, o entendimento do nosso sistema jurídico e ajudar a promover a relação bilateral entre o Brasil e a China”, afirma o professor Evandro Menezes de Carvalho, coordenador do núcleo de estudos China-Brasil da Fundação Getúlio Vargas-Rio (FGV-Rio).
Evandro Menezes de Carvalho coordenou o seminário “Brasil-China: Desafios Regulatórios e Legais para as Empresas e Investimentos Chineses no Brasil”, realizado dia 3 de agosto de 2017, na cidade do Rio de Janeiro. Ele dividiu a iniciativa com o diretor da estatal chinesa de petróleo, a China National Offshore Oil Corporation (CNOOC), Sheng Jianbo. A empresa integra o Claifund - Fundo de Cooperação Chinesa para Investimento na América Latina -, e que recentemente fez um aporte de US$ 15 bilhões para a criação do fundo Brasil-China de Cooperação para Expansão da Capacidade Produtiva.
Mais negócios, menos burocracia
O objetivo é investir em projetos prioritários para a infraestrutura do Brasil. Os recursos serão direcionados principalmente a projetos em setores como logística, energia, recursos minerais, tecnologia avançada, agricultura e agroindústria. De acordo com o secretário de assuntos internacionais do ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Jorge Arbache, esse fundo tem uma característica diferenciada em relação aos demais que a China mantém com outros países. "De todos os fundos geridos pelo Claifund, este é o único que tem acordo paritário, ou seja, com decisões do mesmo peso dos dois lados. É uma conquista", afirma Arbache. O Brasil contribuirá com R$ 5 bilhões para o fundo.
Antes, porém, os chineses querem entender também como funcionam as agências reguladoras na administração pública brasileira. Por isso, promoveram o seminário em parceria com a FGV-Rio. O encontro serviu ainda para compreender como funciona o outro lado: a visão empresarial chinesa. “Quanto mais os profissionais do direito se relacionam com essas empresas, mais aprendem sobre a visão chinesa dos negócios, o que pode favorecer empresas brasileiras no país asiático. Como existe um gap muito grande de conhecimento entre as partes, o seminário foi a primeira iniciativa no Brasil de aproximação com as empresas chinesas", resume Evandro Menezes de Carvalho.
Entrevistados
- Evandro Menezes de Carvalho, doutor em direito internacional pela USP e coordenador do núcleo de estudos China-Brasil da Fundação Getúlio Vargas-Rio (FGV-Rio) (via assessoria de imprensa)
- Economista Jorge Arbache , secretário de assuntos internacionais do ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (via assessoria de imprensa)
Contatos
evandro.carvalho@fgv.br
imprensa@planejamento.gov.br
Crédito Foto: Agência Brasil