ABRAMAT combate sonegação fiscal e sonegação técnica

Presidente da associação, Walter Cover lembra que toda a cadeia produtiva é prejudicada nos critérios competitividade e qualidade

Por: Altair Santos

O presidente da ABRAMAT (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção) Walter Cover, está à frente de uma campanha que busca combater a sonegação fiscal e o que ele define como “sonegação técnica”. Neste caso, trata-se da falta de qualidade e de conformidade técnica dos materiais de construção. De acordo com Cover, a sonegação fiscal afeta diretamente a competitividade no setor. Já a “sonegação técnica” atinge o consumidor. “São produtos que chegam ao mercado sem confiabilidade e sem testes de durabilidade. Por isso, acabam trazendo danos às obras, no curto ou médio prazo”, alerta.

Walter Cover: cruzada contra sonegação fiscal e sonegação técnica na produção de materiais para a construção
Walter Cover: cruzada contra sonegação fiscal e sonegação técnica na produção de materiais para a construção

Cover destaca que os produtos que optam pela “sonegação técnica” são fabricados fora das especificações e em desacordo com as normas técnicas homologadas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). “O Código de Defesa do Consumidor proíbe a fabricação e comercialização de materiais fora das normas brasileiras. Quem produz, está sujeito às penalidades da lei”, destaca. O presidente da ABRAMAT ressalta ainda que a sonegação técnica e a sonegação fiscal coexistem. “Quem sonega imposto produz material de má qualidade. É o barato que sai caro”, diz.

O dirigente destaca que os dois modelos de sonegação levam a uma cadeia de prejuízos que atinge consumidores, fabricantes, comerciantes e governos. “Os temas estão relacionados. A queda de arrecadação faz com que os governos não tenham recursos para investir em obras públicas e de infraestrutura. Os danos são em cadeia. Além de prejudicar os governos, prejudica as empresas que pagam seus impostos e prejudica também os cidadãos. Pior é que em um momento de crise como o que vive o Brasil a sonegação aumenta, tanto a fiscal quanto a técnica”, relata.

Nota fiscal é essencial
Walter Cover afirma que iniciou uma série de reuniões com representantes de governos para começar uma cruzada contra os dois tipos de sonegação que atingem diretamente a cadeia produtiva da construção civil. “É uma batalha que precisa do apoio de todos. Os comerciantes devem exigir nota fiscal de seus fornecedores da indústria e o consumidor deve exigir nota fiscal de quem vende”, afirma o presidente da ABRAMAT, completando que não é por falta de normalizações que os produtos fabricados no Brasil deixam de ter qualidade. “Existem dois programas que cuidam da certificação de materiais de construção, de acordo com as normas brasileiras. Um são os programas setoriais de qualidade e o outro a certificação do INMETRO”, completa.

O presidente da ABRAMAT lembra ainda que um ambiente de sonegação dificulta a retomada do crescimento. “Veja que de janeiro a agosto de 2017, o mercado da construção teve queda de 6,1% em relação a 2016. Voltamos a um nível de produção semelhante a 2003. O impacto maior é no mercado das construtoras, que registra queda de menos 15%. Já o varejo experimenta crescimento de 2% este ano, em relação ao ano passado. É preciso reverter isso, e o combate à sonegação é uma das ferramentas”, finaliza.

Confira vídeos com explicações do presidente da ABRAMAT:


Entrevistado
Walter Cover, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat)

Contato
abramat@abramat.org.br

Crédito Foto: ABRAMAT

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Debates buscam agenda futura para a engenharia brasileira

Organismos ligados aos setores de obras procuram sensibilizar o poder público a adotar boas práticas na contratação e execução de projetos

Por: Altair Santos

Os Institutos de Engenharia do Paraná e de São Paulo, junto com o Clube da Engenharia do Rio de Janeiro e a Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (ANEOR), iniciaram uma série de debates que buscam, além de discutir o momento da engenharia brasileira, criar uma agenda futura para o setor. O objetivo é elaborar ações propositivas para a valorização desta área vital para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil.

Presidentes dos institutos de engenharia de São Paulo e do Paraná, Eduardo Lafraia e José Rodolfo de Lacerda, lideram ações propositivas
Presidentes dos institutos de engenharia de São Paulo e do Paraná, Eduardo Lafraia e José Rodolfo de Lacerda, lideram ações propositivas

Também outros organismos, como SindusCons e CREAs, foram convidados para elaborar uma agenda futura, cujos principais pontos estarão em um documento em defesa das boas práticas da engenharia brasileira. Na entrevista a seguir, José Rodolfo de Lacerda, presidente do Instituto de Engenharia do Paraná, antecipa quais tópicos serão abordados no manifesto. Confira:

Lideranças se reuniram recentemente para debater ações propositivas para a valorização da engenharia nacional - área vital para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil. Que ações são essas?
1. Dotar o país de infraestrutura para escoamento da produção e circulação ágil de bens e mercadorias em todo o território brasileiro.
2. Criar no país uma mentalidade de uso constante de energias renováveis.
3. Criar mecanismos confiáveis de contratação de serviços e obras.

Haverá novos encontros, a fim de que saia um documento direcionado ao poder público. Atingir a transparência em licitações é um dos objetivos?
Esse documento está em gestação e um dos objetivos é direcioná-lo ao poder público em todas as instâncias – municipal, estadual e federal, bem como aos poderes legislativo e judiciário. Atingir a transparência em licitações é um dos objetivos, mediante indicações de caráter técnico-jurídicas.

Quanto ao envolvimento da construção civil nacional em escândalos de corrupção, até onde vai a “culpa” do poder público?

Reuniões entre organismos representantes da engenharia nacional buscam alertar o poder público
Reuniões entre organismos representantes da engenharia nacional buscam alertar o poder público

Não se deve usar o termo “culpa”, mas responsabilidade. Nisso, o poder público, por ser o grande contratador e por englobar um volumoso número de pessoas que conseguem cargos por indicação política, e não por competência e conhecimento, passou a gerar verdadeiros conluios entre a entidade fiscalizadora e o executor mal-intencionado. Isso resultou na corrupção inevitável.

A operação Lava Jato atingiu muitas empresas ligadas à construção. O que deve mudar a partir dela?
1. Aperfeiçoar os controles de fiscalização.
2. Agilizar os processos contra os maus executores de serviços públicos.
3. Melhorar o nível técnico dos projetos.
4. Aperfeiçoar os regimes de contratação de serviços de projetos e obras.
5. Instituir auditorias em todos os serviços.

Qual o papel de organismos como IEP-PR, Clube de Engenharia, SindusCons e outros nesta mudança conceitual?
Exigir dos organismos estatais que as obras que devem ser executadas para melhorar as condições de mobilidade, produção, transporte e energia só devam ser feitas após estudos de viabilidade, bons projetos-executivos e auditoria constante dos custos financeiros.

O Brasil não consegue ter um plano nacional de infraestrutura. Por que isso ocorre?
Porque a parte técnica fica a reboque dos interesses políticos. Não há interesse por parte do poder público em resolver os grandes problemas nacionais, como saneamento básico, logística, ensino básico, ensino técnico, enfim, o “status quo” é mantido.

Privatizar e atrair empreiteiras internacionais é a saída?
Isto já é uma realidade hoje. Mas não se pode prescindir de tecnologia externa. Não existe país que detenha o conhecimento de tudo e o Brasil não é exceção. Privatizar alguns serviços é salutar, mas com controle e fiscalização eficientes. O poder público é péssimo gestor e a ocorrência de corrupção é consequência.

É contrastante a situação atual da construção civil brasileira com a capacidade técnica da engenharia nacional. Como convergir isso para a retomada do crescimento?
Diria que não há contraste, mas é flagrante que os mecanismos da construção civil no Brasil ainda estão em um patamar abaixo dos níveis internacionais em termos tecnológicos. Agora, a retomada do crescimento é função da gestão política oficial, já que o maior contratador é o Estado.

Há o risco da crise atual fazer a engenharia perder cérebros como ocorreu nos anos 1980 e 1990?
Já está perdendo. É um processo cíclico, assim como a economia e a política.

Entrevistado
Engenheiro civil José Rodolfo de Lacerda, presidente do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP)

Contato
iep@iep.org.br

Crédito Fotos: IEP

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Estruturas mistas de concreto e aço: prós e contras

Sistema empresta velocidade à obra e pode barateá-la. Porém, é importante que o projeto previna exposição ao fogo e riscos de corrosão

Por: Altair Santos

Gilson Queiroz: rapidez na construção de estruturas é a principal virtude do concreto associado ao aço
Gilson Queiroz: rapidez na construção de estruturas é a principal virtude do concreto associado ao aço

O professor-doutor Gilson Queiroz, do departamento de engenharia de estruturas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é considerado uma das sumidades brasileiras em estruturas mistas de concreto e aço. Recentemente, ele compartilhou seu conhecimento ao palestrar sobre os efeitos destes dois materiais, quando aplicados em elementos como pilares, vigas e lajes. Em web seminário, o especialista começou expondo os pontos positivos das estruturas mistas de concreto e aço em relação às estruturas 100% de aço e 100% de concreto, que são:

Vantagens em relação às estruturas de aço
- Baixo custo do concreto
- Proteção contra corrosão
- Proteção contra incêndio

 

Vantagens em relação às estruturas de concreto
- Redução ou eliminação de fôrmas e escoramentos
- Redução das dimensões de vigas e pilares
- Redução do peso próprio
- Aumento da precisão dimensional

Estruturas mistas com lajes alveolares pré-fabricadas são empregadas na construção de vários edifícios
Estruturas mistas com lajes alveolares pré-fabricadas são empregadas na construção de vários edifícios

Entre as virtudes das estruturas mistas destaca-se, principalmente, a rapidez na execução da obra. “O próprio concreto armado, quando surgiu, trouxe componentes de segurança, durabilidade e rapidez às construções. Afinal, o concreto armado também é uma estrutura mista, onde o componente de aço não é o perfil metálico, mas as barras da armadura”, destaca Gilson Queiroz, citando como exemplo uma obra em que ele atuou como consultor: o Shopping Center Estação BH, em Belo Horizonte-MG. O empreendimento ganhou menção honrosa no Prêmio ABCIC 2012 e ficou pronto em 11 meses, graças ao emprego de estruturas mistas em pilares, vigas e lajes.

Recorde mundial
Atualmente, o recorde mundial de construção com estruturas mistas pertence à Torre do Milênio. Trata-se de um prédio com 171 metros de altura, inaugurado em 1999, em Viena, na Áustria. O sistema de construção associando concreto e aço permitiu que, após a fase de execução das fundações, o edifício avançasse dois pavimentos e meio a cada 15 dias. “É uma obra muito bonita, com um núcleo de concreto armado, de onde partem vigas e pilares tubulares mistos, o que faz da edificação uma estrutura híbrida”, cita Gilson Queiroz.

Pilares de aço revestidos com concreto: uma das vantagens é a precisão dimensional
Pilares de aço revestidos com concreto: uma das vantagens é a precisão dimensional

No Brasil, o professor-doutor da UFMG lembra que os projetos que preveem o emprego de estruturas mistas de concreto e aço devem atender quatro normas técnicas:
- ABNT NBR 8800:2008 - Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios
- ABNT NBR 14762:2010 - Dimensionamento de estruturas de aço constituídas por perfis formados a frio
- ABNT NBR 14323:2013 - Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios em situação de incêndio
- ABNT NBR 6118:2014 - Projeto de estruturas de concreto - Procedimento

Gilson Queiroz reforça ainda que, no projeto de estruturas em situação de incêndio devem ser avaliados, além da resistência estrutural, os aspectos de isolamento térmico e estanqueidade à passagem dos gases devido às chamas. O especialista alerta também sobre o uso de sistemas mistos em regiões litorâneas e áreas industriais excessivamente poluídas. “Em ambientes agressivos demais, essa é uma solução que não é indicada, principalmente para situações em que os pilares são parcialmente revestidos. Neste caso, o concreto armado é a melhor opção”, ressalta.

Clique aqui e assista ao web seminário com o engenheiro civil Gilson Queiroz.

Torre do Milênio, em Viena, na Áustria: recorde mundial de construção com o emprego de estruturas mistas
Torre do Milênio, em Viena, na Áustria: recorde mundial de construção com o emprego de estruturas mistas

Entrevistado
Engenheiro civil Gilson Queiroz, professor-doutor do departamento de engenharia de estruturas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Contato
gilson@dees.ufmg.br

Crédito Fotos: UFMG, Gerdau e Wikipedia

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Apartamento com 2 quartos vira xodó do setor imobiliário

Pesquisa da CBIC, em parceria com o SENAI, revela que unidades-padrão dominam volume de vendas e lançamentos no primeiro semestre de 2017

Por: Altair Santos

Números trazidos pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) com base em dados coletados nas 18 maiores regiões metropolitanas do Brasil, mostra que os prédios residenciais com unidades que possuem dois quartos são o novo xodó do mercado imobiliário. De acordo com a pesquisa, 74% dos lançamentos feitos no primeiro semestre de 2017 envolvem apartamentos de 2 quartos e 65% das vendas, seja na planta ou de unidades já construídas, estão relacionados a produtos com essa característica.

Apartamento com dois quartos tornou-se a preferência dos brasileiros
Apartamento com dois quartos tornou-se a preferência dos brasileiros

O economista Celso Luiz Petrucci, presidente da Comissão da Indústria Imobiliária (CII) da CBIC - e coordenador da pesquisa - confirma a tendência. “O destaque no trimestre continua sendo a predominância dos lançamentos de imóveis com dois dormitórios e também a venda de unidades com esse padrão, com taxas de 74% e 65% , respectivamente. Isso indica uma presença muito forte do produto no momento econômico no país”, avalia. O estudo, intitulado “Indicadores Nacionais do Mercado Imobiliário”, foi realizado pela CBIC em parceria com o SENAI nacional.

A pesquisa detectou que, em números absolutos, foram vendidas 17.135 unidades de 2 quartos no país no primeiro semestre de 2017, porém apenas 41,2% eram lançamentos. A maioria pertencia a estoques, o que faz com que as vendas imobiliárias de janeiro a junho deste ano ainda sejam inferiores ao primeiro semestre de 2016 em 21,6% - avaliando-se os números nacionais. Quando se pega por região, percebem-se diferenças. Curitiba e região metropolitana, por exemplo, teve aumento de 58% no volume de vendas de lançamentos no primeiro semestre de 2017, em comparação ao mesmo período do ano passado.

A pesquisa abrangeu as seguintes regiões metropolitanas de grandes centros urbanos: Cuiabá, Distrito Federal, Goiânia, Belo Horizonte, Uberlândia, Rio de Janeiro, São Paulo capital, região metropolitana de São Paulo (38 municípios), Curitiba, Joinville, Porto Alegre, Fortaleza, Natal, Recife, Maceió, São Luís, João Pessoa e Manaus. No mesmo estudo de abrangência nacional, verificou-se que os apartamentos de 3 quartos representam 18,7% dos lançamentos e 22,2% das unidades vendidas. Já os com quatro quartos equivalem a 2,4% (lançamentos) e 4,5% (vendas). Para finalizar, os imóveis residenciais com um quarto são 5,9% (lançamentos) e 8,3% (vendas).

Razões
Analisando região por região pesquisada, o estudo concluiu que o desempenho das regiões tem sido desigual. Na comparação do segundo trimestre de 2017 contra o segundo trimestre de 2016, nove regiões aumentaram lançamentos e nove regiões reduziram os lançamentos na comparação do mesmo período do ano anterior. Na mesma análise, houve crescimento em vendas em sete regiões e queda em dez, sendo que uma ficou estável. “Tudo isso sinaliza que não se pode generalizar o desempenho de todas as regiões”, cita Celso Luiz Petrucci. Outro detalhe trazido pela pesquisa é que a média nacional do m2 no primeiro semestre foi de 5.924 reais. O m2 mais barato foi verificado em Uberlândia e o mais caro no Distrito Federal.

Segundo a diretora de marketing do portal VivaReal, as razões que levam o apartamento de 2 quartos a se tornar a preferência nacional têm dois aspectos. Um motivado pelas construtoras, que criaram um tamanho-padrão para aumentar a produtividade e aproveitar melhor os terrenos cada vez menores nos grandes centros urbanos; outro, pelo novo perfil do comprador. Na maioria dos casos, são solteiros, divorciados, casais sem filhos ou famílias com pouco número de filhos. Além disso, contando cada vez menos com empregadas domésticas, as pessoas optam por morar em imóveis menores e práticos.

Confira aqui o estudo completo.

Entrevistado
Economista Celso Luiz Petrucci, presidente da Comissão da Indústria Imobiliária (CII) da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção)

Contato
comunica@cbic.org.br

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Infraestrutura sustentável faz Brasil atrair investidores

No longo prazo, parcerias com o BID devem trazer 10 bilhões de reais ao país, principalmente em projetos para a região amazônica

Por: Altair Santos

O Brasil assumiu o compromisso internacional de, até 2025, reduzir em 37% as emissões de CO2 - em relação aos níveis de 2005 -, além de restaurar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e aumentar para 45% a parcela dos recursos renováveis em sua matriz energética. Para atingir essas metas, terá de investir maciçamente em infraestrutura sustentável, principalmente em áreas como saneamento, transporte e energia.

Marilene Ramos, diretora do BNDES: sozinho, Brasil não consegue viabilizar infraestrutura sustentável
Marilene Ramos, diretora do BNDES: sozinho, Brasil não consegue viabilizar infraestrutura sustentável

Para apontar soluções que levem ao cumprimento destas metas foi promovida recentemente a conferência Infrainvest - Infraestrutura Sustentável para o Brasil. No encontro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para um aporte inicial de R$ 2,8 bilhões (US$ 900 milhões) em projetos de energia sustentável - usinas eólicas e fotovoltaicas.

No longo prazo, a parceria pode chegar a 10 bilhões de reais, se forem viabilizados os projetos em aterros sanitários e saneamento básico, além de hidrovias, ferrovias e rodovias verdes. Participante do debate, que reuniu ainda dirigentes do BID e representantes de organismos internacionais voltados à sustentabilidade, a diretora do BNDES, Marilene Ramos, destacou que o mundo precisa ajudar o Brasil a investir em infraestrutura sustentável, sobretudo no que se refere à região amazônica.

A engenheira civil, que também é professora da Escola Brasileira de Administração Pública e Empresas da FGV, lembrou que o país não consegue sequer dar conta de investir em infraestrutura convencional. “O Brasil precisaria investir 5% do PIB em infraestrutura, mas a média histórica é de, no máximo, 2,5%. Porém, esse investimento só vem caindo, pois no aperto fiscal o primeiro setor a sofrer cortes é o de infraestrutura”, destaca.

País não dá conta sozinho
Sobre a geração de infraestrutura na Amazônia, Marilene Ramos lembrou que se não houver investimento internacional, o Brasil seguirá apostando em projetos do século passado, que desencadeiam mais desmatamento. “Cito o exemplo da BR-163, que é a principal ligação do setor produtivo do Centro-Oeste com os portos do Pará. No período de chuvas, a estrada se transforma em um atoleiro, que gera perdas de 150 milhões de reais ao país a cada dez dias, pois os caminhões não conseguem atravessá-la e a produção de grãos apodrece nas carrocerias. O que fazer ali: asfaltar ou construir uma ferrovia?”, questionou.

A diretora do BNDES prosseguiu com seu raciocínio: “Se não houver investimento em infraestrutura sustentável na região, o que custa caro, o Brasil, com seus recursos próprios, provavelmente optará por asfaltar a BR-163, o que vai gerar concentração urbana em volta da estrada e mais desmatamento. A melhor solução é uma ferrovia, mas que custa 15 bilhões de reais. Então, os investidores internacionais precisam acordar para o problema e ver que o Brasil não consegue fazer isso sozinho. Coloca-se sobre os ombros do país a obrigação de preservar a floresta, mas que ele não tem condições de operacionalizar apenas com recursos próprios”, destacou.

Veja a íntegra da conferência Infrainvest - Infraestrutura Sustentável para o Brasil:

Entrevistado
Reportagem com base nos debates ocorridos na conferência Infrainvest - Infraestrutura Sustentável para o Brasil

Contato
assessoria.fgv@insightnet.com.br

Crédito Foto: FGV-RJ

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Onde estão os melhores cursos de engenharia civil do mundo?

Entre os dez melhores, nove estão distribuídos entre o Reino Unido e os Estados Unidos. Oxford e Cambridge lideram ranking 2017/2018

Por: Altair Santos

A Times Higher Education, revista britânica que desde 2011 avalia universidades em todo o mundo, acaba de lançar o ranking anual das 1.000 principais universidades do mundo. A publicação é a mesma que recentemente listou as 100 melhores universidades sul-americanas, e que colocou a Unicamp como a principal do continente. Desta vez, a relação permite saber também quais se destacam no planeta em um determinado curso de graduação. Especificamente, sobre a engenharia civil, as duas melhores estão no Reino Unido: Oxford e Cambridge.

Universidade de Oxford, na Inglaterra: fundada em 1096, está no topo mundial do conhecimento
Universidade de Oxford, na Inglaterra: fundada em 1096, está no topo mundial do conhecimento

Entre as dez melhores na graduação em engenharia civil, nove se concentram no Reino Unido e nos Estados Unidos. A exceção é o Instituto de Tecnologia de Zurique, na Suíça. Na Grã-Bretanha, além de Oxford e Cambridge, há também o Imperial College London, que ocupa a 8ª posição. Nos EUA, estão California Institute of Technology (3º), Stanford University (4º), Massachussets Institute of Technology (5º), Harvard University (6º), Princeton University (7º) e University of Chicago (9º).

O que faz da Oxford a melhor é que ela prioriza a pesquisa e é uma das poucas no mundo em que a engenharia é estudada como uma disciplina unificada, ou seja, a universidade entende que um engenheiro civil precisa também entender de eletrônica, mecânica e outras disciplinas gerais da engenharia. O curso está vinculado ao departamento de Ciências da Engenharia. O ensino de graduação se concentra em quatro pilares: estruturas, geotecnia, engenharia de recursos oceânicos, costeiros e recursos hídricos e energia.

Em Cambridge, a engenharia civil está sob a tutela do centro Laing O'Rourke de Engenharia e Tecnologia de Construção. As disciplinas concentram-se no futuro das construções, buscando novos paradigmas e modelos inovadores, com base em pesquisas de gerenciamento, tecnologias e processos de construção. Tanto Oxford quanto Cambridge aceitam estudantes de outros países. No caso dos brasileiros, as universidades exigem que os alunos saídos do ensino médio façam um curso - o A-Levels, International Baccalaureate - e depois se submetam a uma espécie de vestibular para conseguir ingressar.

O caminho é mais fácil para quem já estiver cursando a graduação em engenharia civil no Brasil. Neste caso, o candidato precisa estar em uma universidade brasileira conceituada e ter notas impecáveis. Por outro lado, as escolas britânicas e norte-americanas estão sempre atentas a grandes cérebros em outros países e costumam oferecer bolsas de estudo para que eles se desenvolvam em seus cursos. No entanto, vale ressaltar que nenhuma das grandes universidades destes dois países é gratuita. Estima-se que atualmente 30 brasileiros cursem engenharia civil no top 10 do ranking da Times Higher Education.

No Brasil
Entre as 1.000 melhores universidades do mundo, 21 estão no Brasil. Na edição 2016/2017 do ranking, eram 27. Saíram da lista as seguintes escolas: UFPR (Universidade Federal do Paraná), UFBA (Universidade Federal da Bahia), UFG (Universidade Federal de Goiás), UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), UFLA (Universidade Federal de Lavras), UFV (Universidade Federal de Viçosa), UFF (Universidade Federal Fluminense), UEL (Universidade Estadual de Londrina) e UEM (Universidade Estadual de Maringá).

Entraram: Unifei (Universidade Federal de Itajubá), UnB (Universidade de Brasília), UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e a UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa). Todas têm cursos de engenharia civil em suas graduações. As melhores do país continuam sendo a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No ranking mundial, elas se posicionam entre as posições 251 e 500.

Veja os 10 melhores cursos de engenharia civil do mundo:

1. University of Oxford (Reino Unido)

2. University of Cambridge (Reino Unido)

3. California Institute of Technology (EUA)

4. Stanford University (EUA)

5. Massachussets Institute of Technology (EUA)

6. Harvard University (EUA)

7. Princeton University (EUA)

8. Imperial College London (Reino Unido)

9. University of Chicago (EUA)

10. ETH Zurich - Swiss Federal Institute of Technology Zurich (Suíça)

 

Confira aqui o ranking completo das 1.000 universidades.
 

Entrevistado
Reportagem com base no relatório da Times Higher Education sobre as 1.000 melhores universidades do mundo

Contatos
branding@timeshighereducation.com
www.timeshighereducation.com

Crédito Foto: University of Oxford

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Flórida desenvolve tecnologia para construir casas antifuracões

Estruturas são industrializadas com concreto pré-fabricado, não possuem partes metálicas ou de madeira, e suportam ventos de até 280 km/h

Por: Altair Santos

Casa antifuracão é toda em concreto pré-fabricado
Casa antifuracão é toda em concreto pré-fabricado

Desde que o furacão Katrina atingiu o estado da Luisiana, em 2005, destruindo cidades inteiras e importantes dos Estados Unidos, como New Orleans, um grupo de engenheiros da Flórida passou a trabalhar no desenvolvimento de tecnologia que permitisse construir casas antifuracões. Outra preocupação era que o sistema pudesse ser acessível para a compra, com preço médio de US$ 150 mil (algo em torno de R$ 500 mil). Chegou-se ao projeto batizado de ForeverHome.

A casa é inteiramente industrializada com concreto pré-fabricado e não possui nenhuma estrutura metálica ou de madeira. Outra característica é que todos os elementos são assentados sobre um radier suspenso sobre potentes pilares que ficam a 1,8 m do solo. Os fabricantes asseguram que a construção resiste a ventos de até 170 mph (cerca de 280 km/h), ou seja, furacões de categoria 5 - o mais destruidor de todos. “Nosso projeto excede as especificações da FEMA em duas vezes e meia”, diz Joseph Rogge, porta-voz da ForeverHome.

Casa é montada sobre potentes pilares de concreto que ficam a 1,80 m do solo, para permitir a passagem do vento
Casa é montada sobre potentes pilares de concreto que ficam a 1,80 m do solo, para permitir a passagem do vento

A FEMA (Federal Emergency Management Agency) ou Agência Federal de Gestão de Emergências estabeleceu critérios para a construção de casas mais seguras desde que os Estados Unidos foram atingidos pelo Katrina. Além disso, o ANSI (American National Standards Institute), que é o organismo que chancela as normas técnicas nos EUA, também já obriga uma série de medidas para projetos de edifícios construídos em áreas sob o risco de furacões. “Também no âmbito do ANSI nossas casas atendem além das normas”, assegura Rogge.

Clinton Krell, engenheiro que desenvolveu o projeto da ForeverHome, conta que os pilares e o radier de 8 polegadas (20 cm) são moldadas no local, para, em seguida, as peças pré-moldadas da casa serem montadas sobre as estruturas construídas no terreno. As paredes são fabricadas com concreto convencional de 60 MPa de resistência e medem 3 polegadas (7,5 cm). Internamente, elas são preenchidas com 2 polegadas (5 cm) de isolantes termoacústicos. O telhado segue o mesmo padrão, e ainda recebe uma membrana externa à prova d’água para evitar infiltrações.

LEED Platinum

Todas as estruturas da casa são erguidas sobre um radier de concreto suspenso por pilares
Todas as estruturas da casa são erguidas sobre um radier de concreto suspenso por pilares

A construção possui certificação LEED Platinum. Os fabricantes garantem que entregam a casa com a “chave na mão” em um prazo de dez semanas. A edificação mede 360 m2 e uma preocupação dos arquitetos foi evitar que a construção tivesse um aspecto brutalista. Pelo contrário, depois de pronta a habitação se parece muito com uma casa de veraneio. “É um bunker, mas não se parece com um bunker”, comenta Joseph Rogge.

Os construtores asseguram que a casa antifuracão permite ao comprador economizar com seguro. O prêmio anual para construções na costa do golfo dos Estados Unidos costuma chegar a US$ 7 mil (R$ 22 mil). Da ForeverHome, em função das certificações que a construção obteve, as seguradoras cobram o prêmio de US$ 2,8 mil (perto de R$ 9 mil) por ano. Nos recentes furacões que atingiram os Estados Unidos, muitas famílias na região de Miami e de Orlando, na Flórida, e no Texas - alvo do Harvey - não precisaram procurar abrigo, pois estavam instaladas em seus “bunkers de concreto”.

 

 

Entrevistado
Joseph Rogge, porta-voz da ForeverHome

Contatos
jrogge@epiccreative.com
www.aboutforeverhome.com

Crédito Fotos: ForeverHome

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Designers inovam e criam relógios de concreto

Joia masculina se junta a outros elementos decorativos que passam a utilizar o material para ganhar novo visual e textura

Por: Altair Santos

Aggregate-Watches1
Cada mostrador do AgregatteWatch tem um visual único

O relógio é uma peça que não para de se transformar. Em mais um passo em direção à inovação, designers norte-americanos decidiram incorporar o concreto à joia masculina. O material substitui os mostradores tradicionais e, segundo os designers Jonathan Thai e Mike Yim - criadores dos modelos -, o objetivo foi manter as imperfeições no acabamento, para que nenhum relógio se pareça com outro. “As bolhas que emergem na superfície do concreto, durante a cura, dão detalhes diferenciados aos mostradores”, dizem.

Os criadores da peça já atuaram na área de design industrial e engenharia. Por ter conhecimento de produção de concreto, Mike Yim foi quem projetou usar o material como matéria-prima para o mostrador. A estrutura tem 13 milímetros de espessura e foi fabricada com concreto leve autoadensável (CLAA). Apesar de ter 4,3 centímetros de diâmetro, possui resistência à compressão de 43 MPa. “Quisemos aliar requinte, mas sem deixar a brutalidade do concreto de lado”, explica.

 

Mostrador tem 13 milímetros de espessura e usa concreto leve autoadensável
Mostrador tem 13 milímetros de espessura e usa concreto leve autoadensável

O relógio pesa 90,72 gramas e os designers informam que o sucesso das peças os fazem pensar em produzir novas joias usando o concreto como matéria-prima. “A ideia de experimentar o concreto de maneiras não-convencionais e reinventá-lo em um contexto artístico se mostrou não apenas fascinante, mas despertou o interesse do público”, revelam. O modelo mais barato é vendido ao preço de 129 dólares nos Estados Unidos – cerca de 400 reais. “São peças exclusivas, pois a desforma do concreto faz com que um design seja diferente do outro”, completam.

De joias a objetos do dia a dia
Outros relógios usando concreto já chegaram ao mercado. Porém, utilizam o material como uma moldura em torno do tradicional mostrador de metal ou plástico. A incorporação do betão ao corpo da joia é a inovação do escritório de design Agregatte, que usou o crowdfunding (financiamento coletivo) para viabilizar o projeto. Os primeiros cem relógios produzidos foram presenteados a quem ajudou com recursos na fabricação das peças.

Protetor de smartphone com concreto: designers investem cada vez mais no material
Protetor de smartphone com concreto: designers investem cada vez mais no material

Projetar joias, obras de arte e até roupas usando concreto se tornou prática comum entre designers. O material se incorpora também a objetos do dia a dia, incluindo capas para smartphones, luminárias e peças de decoração com concreto translúcido. Na Austrália, o designer Johannes Kirnbauer desenvolve joias femininas usando o concreto como matéria-prima. Anéis, colares, pulseiras e gargantilhas fazem parte da coleção que agrega o material a pedras preciosas e metais como prata e ouro.

Todos esses artefatos têm um elemento em comum que é misturado ao concreto: o talco industrial. Ele oferece textura e acabamento ao material, além de permitir o molde em fôrmas de silicone, poliuretano e látex, explorando toda a versatilidade do betão. A crescente aplicação do concreto em elementos que não se referem à construção civil também tem despertado o interesse da indústria química, que passou a produzir aditivos específicos para materiais que exigem um acabamento mais refinado e leve.

 

 

Entrevistado
Designers Jonathan Thai e Mike Yim, da Agregatte (via assessoria de comunicação)

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alexandra@aggregatewatches.com
www.aggregatewatches.com

Crédito Fotos: AgregatteWatch e Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Sensores dizem medir tempo de cura do concreto. Será?

UFJF desenvolveu estudo sobre equipamentos e concluiu que eles ajudam, mas precisam ser acompanhados de cálculos matemáticos

Por: Altair Santos

O mercado de equipamentos para a indústria do concreto os batizou de “sensores inteligentes”. São aparelhos portáteis, alguns deles equipados com câmeras fotográficas, que prometem medir o tempo exato da cura do concreto, assim como a temperatura e a resistência do material. Além disso, de acordo com os fabricantes, as informações são coletadas por softwares que analisam as propriedades do concreto e compartilham os dados com a obra em tempo real.

Sensores para monitorar o processo de cura do concreto funcionam, mas em conjunto com cálculos matemáticos
Sensores para monitorar o processo de cura do concreto funcionam, mas em conjunto com cálculos matemáticos

A pergunta é: esses equipamentos cumprem o que prometem? A eficácia desses aparelhos já foi até argumento para uma tese desenvolvida no departamento de engenharia civil da Universidade Federal de Juiz de Fora - MG. Coordenador do estudo, o professor-doutor Antônio Eduardo Polisseni responde se os sensores para concretagem realmente funcionam. Confira:

O senhor esteve à frente do estudo “Utilização de Sensores Destinados a Prever a Taxa de Evaporação da Água do Concreto, no Estado Fresco, com a Finalidade de Controlar sua Fissuração Superficial”. A pergunta é: os sensores realmente cumprem esse papel de determinar o tempo exato de cura do concreto?
Neste trabalho, os sensores foram utilizados para prever a necessidade de se iniciar o processo de cura em uma superfície de concreto recém-lançado. Especificamente, uma laje de transição que receberia cinco pavimentos em alvenaria estrutural em blocos cerâmicos. A laje foi concebida com a tecnologia de concreto protendido, utilizando-se protensão leve. No meio técnico, é quando a taxa de evaporação de água de uma superfície de concreto atinge valores maiores que 1,5 litro/m²/h. Por isso, a probabilidade de uma laje com essas características fissurar é muito grande. Para monitorar a quantidade de água que evaporava da superfície do concreto foram utilizados sensores. Eles ajudaram a medir as condições ambientais de temperatura do concreto, temperatura do ar, velocidade de vento e umidade relativa do ar.

Atualmente, o mercado oferece uma variedade desses equipamentos. Alguns prometem fazer a medição por infravermelho, a laser, além de softwares que asseguram analisar a propriedade do concreto e compartilhá-los com a obra em tempo real. Essas ferramentas ajudam a tornar os concretos mais eficientes?
Os sensores utilizados na obra que citei não visavam medir o aumento de temperatura na massa do concreto simplesmente, como é o caso do que ocorre quando se estuda “concreto massa”. Os sensores que medem velocidade de vento, umidade relativa do ar e sua temperatura, além dos termômetros de vareta ou infravermelho, são eficazes para detectar estes parâmetros físicos, que, junto com fórmulas matemáticas, permitem determinar a taxa de evaporação de água do concreto.

Antônio Eduardo Polisseni: equipamentos auxiliam na busca da qualidade do concreto, mas ainda são pouco usados no Brasil
Antônio Eduardo Polisseni: equipamentos auxiliam na busca da qualidade do concreto, mas ainda são pouco usados no Brasil

O tempo de cura é muito subjetivo, pois depende de vários fatores – climáticos, inclusive. Será que esses equipamentos não medem, de fato, o tempo de pega inicial do concreto, em vez da cura?
Estamos falando de taxa de evaporação de água que, de certa forma, está ligada à pega do concreto. Quando do lançamento do concreto, a norma brasileira NBR 7212 (ABNT NBR 7212 - Execução de Concreto Dosado em Central) estabelece que a temperatura do ar no ambiente seja de no mínimo 5 °C e no máximo de 30 °C. Porém, as diferenças climáticas no Brasil são imensas e variam de região para região. Da mesma forma, a temperatura do concreto em determinadas regiões brasileiras pode atingir 34 °C, 38 °C, o que não é conveniente. Nestes casos, deverão existir estudos específicos para, de alguma forma, arrefecer a massa de concreto. Utiliza-se, por exemplo, gelo em escama, pois uma massa de concreto com alta temperatura é sinônimo de aparecimento de trincas de retração que vão ocorrer nas primeiras horas e não poderão ser combatidas nem com armadura de pele ou mesmo com a utilização de fibras sintéticas ou metálicas. O arrefecimento desta massa de concreto tem que ser estudado e operacionalizado no campo.

Qual o principal benefício desses sensores que medem o concreto antes de seu estado endurecido?
Medir a taxa de evaporação de água para que se monitore em tempo real quando deve ser iniciada a cura. Chamo a atenção que não vamos fazer aspersão de jatos de água diretamente sobre o concreto com 60 minutos ou menos de lançamento, porém podemos criar um microclima através da aspersão de uma névoa de água ou mesmo a aspersão de agentes químicos de cura. Desta forma, não causaremos abrasão na superfície do concreto.

É possível esses equipamentos também definirem uma melhor reologia do concreto?
De uma forma resumida, a reologia do concreto está relacionada com as suas características de deformação e de mobilidade. Atualmente, nas obras procura-se especificar concretos que tenham propriedades reológicas, por exemplo, facilidade de lançamento. Estes concretos, em função das condições ambientais, poderão ser monitorados por meio de sensores com o objetivo de se prever o início de sua cura no canteiro de obra.

Está bem difundido o uso desses equipamentos na construção civil?
Não. Mas é uma grande oportunidade do meio técnico pensar nesta oportunidade de tecnologia. Quem executa obras, tais como barragens, pavimentos rígidos, pisos industriais, sapatas em centros urbanos, tem preocupação com a possibilidade do aparecimento de trincas nas estruturas de concreto. Esses equipamentos podem ajudar a minimizar ou mesmo evitar que estas trincas ocorram.

O senhor sabe dizer se o Brasil já dispõe de tecnologia para produzir sensores ou boa parte destes equipamentos são importados?
Sim. Existem empresas brasileiras que fornecem estes equipamentos. Porém é de suma importância que o engenheiro que for fazer uso destes equipamentos saiba utilizá-los em conjunto com as equações matemáticas que modelam o fenômeno.

O estudo que o senhor esteve à frente usou um tipo específico de sensor ou foram usados diversos equipamentos?
Foram vários sensores, juntamente com os cálculos matemáticos.

Entrevistado
Antônio Eduardo Polisseni, engenheiro civil e professor-doutor da Universidade Federal de Juiz de Fora, com experiência em projetos, materiais, componentes de construção e sistemas construtivos

Contato
aepolisseni@gmail.com

Crédito Fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Novo funding promete alavancar setor imobiliário

Banco Central regulamenta a LIG (Letra Imobiliária Garantida). Título tende a ampliar o volume de financiamentos para imóveis

Por: Altair Santos

Recentemente regulamentada pelo Banco Central, a LIG (Letra Imobiliária Garantida) é o novo funding que promete alavancar o setor imobiliário. Segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) o título de longo prazo permitirá que o crédito imobiliário possa alcançar o equivalente a 20% do PIB em recursos para investir, o que, com a caderneta de poupança e o FGTS, não tem sido possível. Além disso, a LIG poderá permitir que investidores estrangeiros se interessem pelo setor imobiliário do Brasil. A expectativa é de que a letra imobiliária seja oferecida a partir de 2019 e leve de dois a três anos para se consolidar, como explica Renato Ventura, vice-presidente da Abrainc, na entrevista a seguir:

Renato Ventura: expectativa é de que a LIG ajude a baixar o custo do financiamento de imóveis no Brasil
Renato Ventura: expectativa é de que a LIG ajude a baixar o custo do financiamento de imóveis no Brasil

O que vem ser a LIG?
São títulos emitidos por instituições financeiras, e que possuem dupla garantia. Uma é a própria instituição, com seu balanço; outra é o conjunto de ativos imobiliários atrelados à emissão da LIG.

Qual a importância da LIG para o mercado de incorporação imobiliária e na retomada do crescimento econômico?
O mercado imobiliário tem dependido de fontes de financiamento limitadas – basicamente, a caderneta de poupança e o FGTS. Em 2015, o crédito imobiliário representava 9,1% do PIB. Este número atinge 62,9% nos EUA, 68,3% no Reino Unido e 21,4% no Chile. Assim, o setor imobiliário está aquém de seu potencial no Brasil. A LIG se constitui em alternativa de mercado, muito importante para que o setor imobiliário possa cumprir sua função de produção de habitação, de acordo com as necessidades do país.

Como está o processo de implantação da LIG no Brasil?
No final de agosto foi cumprida a etapa que faltava, que foi a regulamentação pelo Banco Central no dia 29. Agora, é a fase de início de aprendizado, lançamento e atração de investidores.

Já há uma perspectiva de quando esse novo modelo de investimento poderá ser vendido no Brasil?
Imaginamos que nos próximos meses este processo será iniciado, passando a ganhar volume à medida que o conhecimento deste novo instrumento seja disseminado.

A LIG pode substituir a poupança, como principal fomentador do mercado imobiliário no Brasil?
A ideia é de que sejam complementares. Sendo um instrumento de mercado, a LIG tem amplo potencial de crescimento.

A LIG tende a ser um fomentador da construção civil no Brasil?
Sim, o funding é fundamental para o setor. Trata-se de um novo instrumento de mercado, muito importante para fazer crescer a oferta de recursos para financiar a construção civil.

A LIG pode atrair investidores estrangeiros para o mercado imobiliário brasileiro?
Sim. A LIG se inspira em instrumento tradicional e bem-sucedido, principalmente na Europa, que são os covered bonds. Isso, aliado à sua adequada regulamentação, traz todas as condições para que estes papéis recebam a confiança dos investidores internacionais.

Para quem quer comprar um imóvel para morar, qual o impacto que a LIG causará?
A maior disponibilidade de funding se traduz em mais oferta - e possivelmente melhores custos - de recursos para o mercado imobiliário. Significa que causará efeito nos financiamentos para a aquisição de moradias.

E para quem compra imóvel para investir, qual o impacto?
O mesmo. O beneficiário será o mercado e o país, com maior produção e menores custos nos imóveis.

A implantação da LIG depende de alguns cenários econômicos que ainda precisam ser definidos? Caso sim, quais?
A LIG é um título de longo prazo. Com isso, além de suas condições, seu sucesso depende de inflação controlada e taxas de juros compatíveis. O equilíbrio fiscal e a estabilidade econômica são fundamentais para seu sucesso.

Entrevistado
Engenheiro civil, administrador e mestre em real estate pelo Massachusetts Institute of Technology, Renato Ventura – vice-presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc)

Contato
comunicacao@abrainc.org.br

Crédito Foto: Abrainc

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330