Venda de máquinas para concretagem tende a reagir em 2018
Estudo da Sobratema, ancorado por dados de outros organismos ligados à construção civil, sinaliza que fim da recessão está próximo
Em 2017, as projeções da ABIMAQ (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos), da ANFIR (Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários) e da ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) apontavam expectativa de venda de 400 novos caminhões betoneira em todo o Brasil. Até setembro deste ano, foram comercializados 165 equipamentos. O volume atual permite dizer que a queda, em relação ao que foi projetado, deve ser de 56% em 2017. Já para 2018, os números são mais animadores. Espera-se que 235 caminhões betoneira sejam vendidos em todo o país no próximo ano.
A estatística faz parte do anuário da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração), intitulado “Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção”. De acordo com o levantamento, divulgado dia 9 de novembro de 2017, na cidade de São Paulo-SP, a queda no volume de vendas de máquinas para concretagem está diretamente relacionada ao consumo de cimento no Brasil, que até setembro de 2017 havia sido 7,4% menor que em relação ao mesmo período de 2016. “É um impacto em toda a cadeia”, diz o economista e consultor da Sobratema, Brian Nicholson.
Outro segmento afetado foi o de centrais de concreto comercializadas no país. No começo de 2017, a expectativa era de que 30 novos equipamentos fossem vendidos em todo o território nacional. No entanto, até setembro deste ano apenas 15 tinham sido comercializados. Para 2018, o estudo da Sobratema aponta que 23 novas centrais de concreto tendem a ser vendidas. “Apesar da retração, entendemos que o setor está no fim de um forte ciclo de recessão”, prevê Afonso Mamede, presidente da associação. O segmento de máquinas para a construção experimenta o terceiro ano de forte queda nas vendas.
Em seu levantamento, a Sobratema alerta que o mercado de construção e de infraestrutura ainda não foi impactado de forma significativa pelo início da recuperação econômica, mas alguns dados já apontam para um viés de alta. Segundo Eurimilson Daniel, vice-presidente da associação, um desses sinais vem do setor de máquinas seminovas e usadas. “Muitas empresas colocaram suas frotas à venda para pagar dívidas e outras, com mais saúde financeira, estão comprando. Com a previsão de reaquecimento, a tendência é que mais empresas voltem às compras, incluindo equipamentos novos. O que precisa é que as obras voltem. Sem obras, não há compra de máquinas”, comenta.
Otimismo gradual
Atualmente, não é apenas o setor de máquinas para concretagem que está afetado. De acordo com o estudo da Sobratema, a queda é generalizada desde 2015. Neste ano, as vendas devem totalizar 12,1 mil unidades contra 14,4 mil em 2016. Só a linha amarela (máquinas para movimentação de terra) vai fechar o ano com queda de 9%. Para 2018, o levantamento projeta retomada nas vendas. “A linha amarela deverá apresentar crescimento de 8%. As demais categorias de equipamentos tendem a ter um aumento de 7,3%, incluindo o setor de máquinas para concretagem”, diz o relatório da associação.
Entrevistado
Reportagem com base no “Estudo Sobratema do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção” (via assessoria de imprensa)
Contato: sobratema@sobratema.org.br
Crédito Fotos: Sobratema
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Tecnologia 3D já permite “imprimir” pontes de concreto
Pequena cidade holandesa incorpora estrutura desenvolvida pela Universidade Tecnológica de Eindhoven em seu plano de mobilidade urbana
Na Holanda, a tecnologia que permite imprimir estruturas de concreto em 3D deu mais um passo. Desta vez, viabilizou a construção de uma ponte. A estrutura serve a uma ciclovia e possui 8 metros de comprimento e 3,5 metros de largura. Com capacidade para suportar 5 toneladas, a obra de arte foi projetada para durar 30 anos, pelo menos. Desenvolvida por engenheiros da Universidade Tecnológica de Eindhoven, junto com a empresa de construção BAM Infra, a ponte é a primeira impressa em 3D a usar concreto protendido na concepção de suas peças.
A estrutura foi dividida em seis partes e montada in loco na região rural de Gemert, no norte da Holanda, no dia 17 de outubro de 2017. O processo de impressão foi inédito porque os pesquisadores da Universidade Tecnológica de Eindhoven conseguiram aprimorar a tecnologia de impressão em 3D ao incorporar cabos de aço, tornando o concreto protendido. O material melhora os esforços de tração da ponte, aumentando a resistência e a durabilidade. Apesar de ter sido projetada para receber bicicletas e pedestres, a estrutura pode perfeitamente suportar veículos leves sobre quatro rodas.
Como as peças foram impressas em laboratório, a emissão de CO2 foi controlada, o que diminuiu a pegada de carbono das estruturas. Outra característica da impressão é que ela permite produzir peças a uma velocidade muito maior em relação ao método convencional. Segundo os pesquisadores da universidade, quando a tecnologia estiver amplamente dominada, a impressão de estruturas de concreto poderá ser até três vezes mais veloz que os métodos convencionais. “Só o fato de dispensar o uso de fôrmas já acelera todo o processo”, afirmam.
Preferência à inovação
Outra vantagem da impressão em 3D, de acordo com os envolvidos no desenvolvimento da tecnologia, é que ela possibilita criar estruturas de qualquer tamanho e formato. “Com a incorporação do concreto protendido à impressora, em breve será mais vantajoso economicamente substituir pontes do que tentar consertá-las”, garantem os pesquisadores, afirmando que o próximo passo da Universidade Tecnológica de Eindhoven é conseguir imprimir elementos maiores. Para isso, eles terão que desenvolver uma impressora com mais estrutura.
A ponte instalada em Gemert faz parte de um projeto de mobilidade urbana para a pequena cidade holandesa de pouco mais de 16 mil habitantes. Além da estrutura em 3D, o complexo viário também ganhou uma rotatória pré-fabricada em concreto e aço, pesando 1,2 milhão de toneladas e que foi instalada em seis horas. A opção por projetos inovadores é estimulada pela prefeitura de Gemert. “Desafiamos os players do mercado a inovar, desenvolver novas tecnologias sustentáveis e reutilizar materiais tanto quanto possível. Ao avaliar cotações e convites para nossos projetos, as empresas que vêm com um plano inovador e sustentável têm sempre a nossa preferência”, diz o representante de Gemert, Christophe van der Maat. A cidade também está financiando um projeto para a construção de casas com impressão em 3D.
Veja vídeos sobre a construção da ponte
Entrevistados
Universidade Tecnológica de Eindhoven e BAM Infra (via assessorias de comunicação)
Contato
info@tue.nl
info.infra@bam.com
Crédito Fotos: BAM Infra
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Intenção de abrir mercado da construção gera polêmica
Governo quer desburocratizar entrada de empresas e profissionais estrangeiros no país, a fim de retomar obras de infraestrutura
O governo federal prepara um projeto de lei que busca destravar a burocracia e acabar com a reserva de mercado na construção civil brasileira. O objetivo é permitir que construtoras estrangeiras operem no Brasil, e que engenheiros de outras nacionalidades possam trabalhar no país. Atualmente, engenheiros civis estrangeiros que vêm atuar no Brasil precisam esperar mais de um ano para obter licença do CONFEA-CREA. Com o projeto de lei, assim que uma construtora vencer uma licitação pública, a emissão do registro deve ser automática para os engenheiros estrangeiros que ela contratar para a obra.
A medida é polêmica e gera mobilização dos engenheiros brasileiros. Recentemente, a Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) alegou que o projeto de lei pode agravar o desemprego entre engenheiros brasileiros. O organismo estima que existam atualmente 50 mil profissionais fora do mercado de trabalho no país. "Isso significa que, mesmo diante de um trágico cenário de desemprego na engenharia brasileira, o governo irá privilegiar profissionais de outros países. É uma medida que aprofunda a desnacionalização da economia e o desmonte da engenharia nacional", protesta o presidente da Fisenge, Clóvis Nascimento.
Dentro do governo, a visão é de que o projeto de lei possa criar um ambiente de novos investimentos na infraestrutura do país, já que as grandes empreiteiras brasileiras - em função das descobertas reveladas pela operação Lava Jato - ficaram com sérias restrições (financeiras e jurídicas) de atuar em licitações e concessões públicas. Além disso, setores estratégicos entendem que, com a retomada da atividade econômica, construtoras nacionais médias e pequenas não terão como dar conta de todos os projetos que tendem a surgir, em função da demanda reprimida no setor da construção civil.
Confiança e barreiras
No mais recente boletim da Sondagem da Indústria da Construção, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a ociosidade no setor chega a 42%. Significa que a cadeia produtiva está operando com apenas 58% de sua capacidade máxima. No mesmo levantamento, a CNI detecta que o Índice de Confiança do Empresário da Construção está em alta. Em outubro, atingiu 53,8 pontos. O resultado está acima da média histórica, de 52,6 pontos. Na avaliação da CNI, o indicador demonstra otimismo do empresariado com as condições da economia e das empresas nos próximos seis meses.
Em nota, a economista da confederação, Flávia Ferraz, avalia que a confiança cresceu em função da redução dos juros e da recuperação gradual da economia. "A construção depende muito de financiamentos e, com a queda dos juros, caem os custos dos empréstimos para os compradores de imóveis e para as empresas que precisam de recursos", afirma. No entanto, há barreiras que ainda precisam ser vencidas, segundo revelou a recente Sondagem Indústria da Construção. As mais mencionadas foram carga tributária, demanda interna insuficiente e falta de capital de giro. A CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), que apoia o projeto de lei gestado pelo governo, entende que essas barreiras podem ser superadas com o ingresso de construtoras estrangeiras no país.
Entrevistado
- Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (via assessoria de imprensa)
- Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) (via assessoria de imprensa)
- Confederação Nacional da Indústria (CNI) (via assessoria de imprensa)
- Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) (via assessoria de imprensa)
Contatos
imprensa@planejamento.gov.br
ascom@cbic.org.br
imprensa@cni.org.br
comunicacao@fisenge.org.br
Crédito Foto: CBIC
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Caixa elege melhor faixa do MCMV e libera R$ 8,7 bi
Contratos para famílias com renda entre R$ 1,5 mil e R$ 4 mil são os que trazem os melhores retornos ao banco, pois são pagos religiosamente
Sem dinheiro para contemplar todas as faixas de financiamento imobiliário, a Caixa Econômica Federal decidiu priorizar aquela que é considerada a que melhor cumpre os contratos dentro do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). A eleita foi a faixa que inclui famílias com renda mensal entre R$ 1,5 mil e R$ 4mil, as quais terão disponíveis uma linha de crédito suplementar de R$ 8,7 bilhões. O banco vai remanejar para a área de habitação popular o dinheiro que iria para outras linhas que também se beneficiam dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
A decisão da Caixa de priorizar essa faixa de renda do Minha Casa Minha Vida tem a ver também com o fato de que ela corresponde a 86% dos financiamentos feitos com recursos do FGTS. Assim, o banco acredita que poderá normalizar boa parte dos créditos voltados ao MCMV, e que vinham enfrentando atrasos por falta de recursos dentro do banco. Os R$ 8,7 bilhões que foram redirecionados estavam reservados para linhas de crédito oferecidas pelo banco a empresas pequenas e médias e também a financiamentos imobiliários destinados à classe média alta.
Outra razão que levou a Caixa a remanejar esses recursos é que havia queixas de que os contratos de crédito habitacional, mesmo com carta de financiamento já aprovada, estavam parados devido à falta de recursos. Em nota, o banco confirma sua decisão. “As avaliações dos imóveis em garantia ao crédito de pessoa física que tiveram sua validade expirada durante o período de transição serão renovadas automaticamente até o final do ano (2017), garantindo a continuidade dos financiamentos”, diz. Essa linha de crédito da Caixa vai contemplar cotas de financiamento de até 80% do valor do imóvel.
Na nota divulgada pelo banco, ele explica que a medida tem o objetivo claro de “manter aquecida a indústria da construção civil do país, responsável por gerar emprego e renda”. A Caixa afirma ainda que a contratação do crédito imobiliário neste ano está cerca de 20% superior em relação ao mesmo período do ano passado. Até outubro de 2017, a instituição financeira diz ter emprestado R$ 72,4 bilhões em todas as suas modalidades de crédito imobiliário.
Faixa 1
Segundo o vice-presidente de habitação da Caixa, Nelson Antonio de Souza, a opção de liberar R$ 8,7 bilhões à faixa do MCMV que contempla família com renda mensal de até R$ 4 mil se deve ao baixo risco das operações. O banco explica que boa parte destas famílias pode usar o FGTS para dar entrada no imóvel, o que faz com que o aporte de capital da instituição financeira seja de melhor qualidade. “Dado o cenário atual de escassez de capital, o banco público busca empréstimos seguros”, afirma Nelson Antonio de Souza.
A Caixa tem sido muito prudente para liberar recursos às outras faixas do MCMV. O ministério das Cidades tomou a frente em muitas destas ações, principalmente no que se refere à faixa 1 (famílias com renda mensal de até R$ 1,8 mil) onde a meta é fechar 2017 com 100 mil unidades contratadas, das quais 92.304 já foram celebradas. Os recursos vêm diretamente do ministério e a Caixa apenas faz o repasse. Neste ano, o ministério das Cidades já celebrou convênios com 337 municípios, movimentando 192 empresas da construção civil - todas contratadas para viabilizar as obras dos projetos relacionados à faixa 1 do Minha Casa Minha Vida.
Entrevistado:
Caixa Econômica Federal (via assessoria de imprensa)
Contato: imprensa@caixa.gov.br
Crédito Foto: ministério das Cidades
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Pesquisas sobre “cimento verde” avançam e miram 2050
Na Alemanha, está em processo de implantação a primeira planta-piloto para produzir o material sem a utilização de clínquer
O Instituto de Tecnologia de Karlsruhe (KIT), na Alemanha, é um dos principais centros de pesquisa sobre consumo de energia da Europa. Desde 2009, entre seus estudos prioritários está o desenvolvimento de “cimentos verdes”. O objetivo é chegar a um material que gere menor emissão de CO2 e consuma menos quantidade de energia para ser produzido. Os avanços não param. No recente simpósio “O Futuro do Cimento”, que aconteceu em Paris (França), o KIT apresentou seus estudos mais recentes sobre a produção de cimentos que substituem o clínquer pelos hidrosilicatos de cálcio (Celitement®).
A descoberta permitirá produzir cimento com 50% menos consumo de energia, pois a mistura é atingida a 500 °C em vez dos 1.450 °C tradicionalmente necessários para a produção do material. Para o engenheiro químico-chefe do instituto, Peter Stemmermann, as pesquisas estão em evolução e o próximo passo é a construção de uma planta-piloto que permita produzir 100 quilos por dia do novo aglutinante. “Essa produção vai possibilitar realizar a aplicação do cimento em vários tipos de sistemas construtivos, a fim de que o material possa ser produzido em larga escala”, diz o pesquisador.
De acordo com Stemmermann, o “cimento verde” será realidade a partir de 2050. “Atualmente, são produzidas cerca de dois bilhões de toneladas de Cimento Portland por ano, em todo o mundo. Se todas as fábricas do planeta vierem a adotar a tecnologia que estamos desenvolvendo, meio bilhão de toneladas de dióxido de carbono deixaria de ser emitido na atmosfera a cada ano. Isso contribuiria enormemente para a preservação do clima. Mas, obviamente, não estamos falando de uma transformação a curto prazo. Imaginamos que podemos atingir esse cenário a partir de 2050 ", diz.
Além do desenvolvimento tecnológico, o centro de pesquisa da Alemanha também precisa viabilizar economicamente o “cimento verde”. “O caminho para uma implementação de produção em massa é longo. Certamente, exigirá vários anos de desenvolvimento extensivo. As etapas passam por testes exaustivos e pelos processos de certificação, de regulamentação e de normalização. Nossa previsão é de que, no curto prazo, o cimento à base de Celitement® só deverá ser usado para aplicações especiais e totalmente inovadoras. Superadas todas as barreiras, e com a produção em grande escala, o material tende a se tornar viável economicamente para a aplicação na maioria das obras”, prevê o engenheiro químico-chefe do KIT.
No Brasil
No Brasil, no começo desta década, pesquisadores da Escola Politécnica da USP, liderados pelos professores Vanderlei John e Rafael Pileggi, conseguiram produzir um tipo de “cimento verde”, usando uma tecnologia menos complexa que a em desenvolvimento na Alemanha. O que os especialistas brasileiros fizeram foi substituir parte do clínquer por pó de calcário cru superfino. O rearranjo na fórmula do cimento produzido na USP permitiu reduzir a emissão de CO2 em 50%. Atualmente, a tecnologia embrionária ainda encontra-se limitada a estudos acadêmicos.
Entrevistado
Peter Stemmermann, engenheiro químico-chefe do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe (KIT) (via assessoria de imprensa)
Contato: presse@kit.edu
Crédito Fotos: Markus Breig
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Universidade cria grupo para “fiscalizar” normas técnicas
Quando documentos entram em consulta pública, estudantes da UNIVALI debatem texto, promovem ensaios e até propõem alterações aos comitês da ABNT
Na UNIVALI (Universidade do Vale do Itajaí), em Santa Catarina, o professor Rafael Zapelini Possobon formou um grupo de acadêmicos de engenharia civil para “fiscalizar” as normas técnicas em processo de elaboração ou revisão. O objetivo é testá-las antes que sejam publicadas. O grupo costuma entrar em ação quando as normas vão para consulta pública. Eles analisam, criticam, debatem, tiram dúvidas com professores e especialistas, testam em laboratório os dados da consulta e assim participam do processo normativo.
Possobon afirma que o objetivo é disseminar a prática da observância das normas publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Desde a criação, o grupo já analisou cerca de uma centena de normas técnicas. Boa parte delas relacionadas aos comitês técnicos CB-002 – Construção Civil, e CB-018 – Cimento, Concreto e Agregados. O professor da UNIVALI revela como surgiu a ideia e o tipo de conhecimento que a análise de normas técnicas agrega aos estudantes. Confira:
O senhor coordena um grupo de acadêmicos na UNIVALI para “fiscalizar” normas técnicas. Como surgiu a ideia?
Trabalho também como consultor dos sindicatos ligados à construção civil e quando comecei a dar aula percebi que a universidade também poderia acompanhar o desenvolvimento das normas, pois é interessante para os alunos, e para o setor também. Quanto mais pessoas monitorando o processo, melhor ele vai ficar.
O grupo tem integrantes fixos ou a cada norma são chamados novos acadêmicos?
O grupo tem integrantes fixos, que se reúnem toda a semana para discutir quais normas vão ser analisadas, e como está a situação. Sempre que existem itens muito específicos, e que necessitam de algum especialista, nós envolvemos essa pessoa, para que ela possa trocar informações, às vezes até com outros professores de outras disciplinas.
Normalmente, participam do grupo acadêmicos de qual período?
O grupo é aberto, mas na prática envolve alunos a partir do quarto e quinto períodos, que já têm condições de analisar as normas.
Qual a importância para os acadêmicos fazerem parte de grupos como esse?
O processo normativo por si só deve ser o mais democrático possível. Quanto mais pessoas participarem, melhor as normas vão ficar. Então, o fato de os acadêmicos estarem participando, desde a sua formação, do processo normativo faz com que eles se tornem profissionais mais atualizados.
A ABNT enxerga com que olhos a análise do grupo da UNIVALI?
A princípio, não tive nenhuma documentação oficial da ABNT em relação a isso, mas tivemos uma publicação no site deles e acredito que vejam com bons olhos.
Quantas normas já foram analisadas pelo grupo e qual causou mais impacto no texto final?
Já chegamos na centena. Cada norma é marcante para cada aluno. Nós atuamos em uma nova para revestimento cerâmico externo que teve bastante repercussão. Cada um tem a sua experiência e as normas acabam marcando de maneira diferente cada acadêmico.
Do CB-002 – Construção Civil, e do CB-018 – Cimento, Concreto e Agregados, quantas normas já foram analisadas?
Estes são os comitês que mais o grupo analisa normas, pois eles são os mais relevantes para a construção civil. Há outros importantes, como o CB-024, que é de segurança contra incêndios, que também analisamos bastante. Mas 60% das normas analisadas pelo grupo englobam o CB-002 e CB-018.
Esse grupo da UNIVALI é o único que fez esse tipo de trabalho ou a iniciativa existe em outras universidades?
Não conheço outro grupo que faça trabalho semelhante. É possível que estejamos sendo inovadores dentro das universidades.
Entrevistado
Engenheiro civil Rafael Zapelini Possobon, professor da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) na disciplina de teoria das estruturas II e engenheiro-administrador da Zapelini Construtora e Incorporadora Ltda
Contato: rafael.possobon@gmail.com
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
IBRACON debate ensino de engenharia e aponta soluções
Um dos pontos centrais está na formação dos professores mais novos, que possuem muita base teórica e pouco conhecimento prático
Um dos eventos paralelos à 59ª edição do Congresso Brasileiro do Concreto, que aconteceu de 31 de outubro a 3 de novembro, em Bento Gonçalves-RS, debateu o ensino de engenharia civil no país. O objetivo foi avaliar a qualidade, a capacidade de atualização das disciplinas e a legislação que rege as grades curriculares - principalmente, de graduação. O seminário, promovido pelo IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto) reuniu professores, alunos e gestores de instituições de ensino, além de representantes de organismos de classe ligados ao setor.
Segundo o professor Cesar Henrique Sato Daher, do Grupo IDD - promotor do encontro -, um dos temas debatidos foi o seguinte: profissionais experientes ministrando aulas versus profissionais recém-formados com pós stricto-sensu (mestrado e doutorado), mas que não possuem nenhuma experiência profissional. “Não somos contra os mestres e doutores nas universidades, muito pelo contrário, mas acho que eles devem focar mais na pesquisa científica aplicada ao mercado, ao desenvolvimento de novas técnicas e produtos. O que somos contra é recém-formados virem a dar aula sem terem, antes, alguma experiência de mercado. Não seria melhor termos professores com cancha, dividindo a sala de aula?”, afirma o especialista.
Comparativamente, Daher abordou a questão do ensino de engenharia civil nas universidades públicas e privadas. “As instituições públicas possuem professores excelentes, mas com metodologias mais tradicionais e uma exigência maior por parte dos estudantes. Não há relação de consumo especificamente, mas apenas de ensino. Por outro lado, não há grandes investimentos em infraestrutura e na avaliação dos professores. Já as maiores instituições de ensino privado investem em novas metodologias de ensino e em infraestrutura, mas têm professores nem sempre tão qualificados e principalmente, em geral, alunos com uma menor formação básica”, diz.
De acordo com Daher, são dois os desafios: melhorar o ensino médio, para que os estudantes cheguem com uma melhor formação à faculdade, e atingir um meio termo entre a forma de ensinar dos cursos de engenharia civil das universidades públicas e das privadas. Até por que, frisa o professor, atualmente a maioria dos novos engenheiros formados vem do ensino privado. Ele cita o mercado de Curitiba como exemplo. “Eu me formei no final da década de 1990, quando tínhamos engenharia civil praticamente em três instituições de ensino: UFPR, CEFET - hoje UTFPR - e PUC. Hoje, contabilizam-se 16 cursos de engenharia civil em Curitiba e região metropolitana”, relata.
Força-tarefa
No encontro ocorrido em Bento Gonçalves-RS, Cesar Henrique Sato Daher defendeu que as entidades de classe dos engenheiros (CONFEA, CREAs, Institutos e Clubes de Engenharia e SINDUSCONs) se unam em uma força-tarefa e se manifestem junto ao MEC (Ministério da Educação) para que ocorra uma reforma curricular na graduação de engenharia civil. Para ele, há dois problemas que precisam ser tratados como prioridade: a diminuição drástica da carga horária dos cursos e a metodologia antiga de ensino. “O conteúdo dos currículos diminuiu consideravelmente. Além disso, existem novas tecnologias no mercado, as quais as universidades em geral não acompanham”, destaca.
Por isso, a importância de seminários como o promovido pelo IBRACON, revela Daher. “A exigência do MEC por professores com mestrado e doutorado tem colocado nas escolas de engenharia professores que não tem nenhuma experiência de mercado, e que acabam ensinando apenas teoria. Isso gera uma grande defasagem entre a universidade e o mercado. Seminários como este são para movimentar a comunidade, e também gerar manifestos junto ao CONFEA e aos CREAs, para que eles levem isso ao MEC. Acreditamos que a comunicação tem que ser de baixo para cima, e não o inverso”, finaliza.
Entrevistado
Engenheiro civil Cesar Henrique Sato Daher, diretor do IBRACON-PR, vice-presidente da ALCONPAT Brasil, coordenador da câmara de materiais do IEP e diretor de planejamento do Grupo IDD
Contato: daher@idd.edu.br
Foto
Cesar Henrique Sato Daher: é preciso um “meio termo” entre a qualidade da universidade pública e a infraestrutura da universidade privada
Crédito: Grupo IDD
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Curitiba ganha prédio com pontuação máxima LEED Platinum
Construção possui estação para tratamento de esgoto, é capaz de tornar a água da chuva potável e tem ponto para carregar carro elétrico
A edificação com a maior pontuação já concedida a uma obra que buscou certificação LEED Platinum na América Latina está em Curitiba-PR. O prédio da RAC Engenharia, inaugurado no começo de 2017, recebeu 97 pontos para empreendimentos corporativos. Significa que o projeto atendeu vários requisitos. O principal deles, o NET Zero Energia, o qual permite que o edifício faça a geração de sua própria energia, inclusive para movimentar aparelhos de ar-condicionado e elevadores. Os painéis fotovoltaicos instalados na obra possibilitam geração anual de 26.509 kW, em condições climáticas normais da cidade.
O prédio também usa soluções arquitetônicas, como brises (também conhecidos como quebra-luz) e telhado verde, o que ajuda a reduzir o consumo do ar-condicionado e, consequentemente, de energia elétrica. “Comparando com um prédio-padrão, o projeto conta com uma redução de 46% no consumo de ar-condicionado”, explica o engenheiro civil Ricardo Cansian, diretor da RAC Engenharia. O edifício possui ainda uma estação própria de tratamento de esgoto, a qual permite o reúso das águas cinzas e negras nos vasos sanitários e da água da chuva, tornando-a potável.
A edificação tem ainda um ponto de recarga para carros elétricos, o que é novidade em termos de prédio corporativo no Brasil - o requisito ajudou a obter a pontuação inédita para a certificação LEED Platinum. Por conta das inovações, a construção também foi condecorada no 4º Prêmio Saint Gobain de Arquitetura, na categoria habitat sustentável, o que denota a vocação da RAC para obras sustentáveis. Após concluir seu prédio, a empresa agora se debruça em dois projetos que também buscam a certificação verde: a sede do Conselho Regional de Educação Física do Paraná e a escola profissionalizante Dr. Celso Charuri, ambas em Curitiba.
Prédio gera economia de R$ 20 mil por ano
Além disso, a empresa está envolvida em vários outros projetos que buscam a certificação LEED, e que vão começar a ser executados a partir de 2018. “As construções verdes se tornaram a melhor opção de negócio do mercado imobiliário, principalmente para prédios corporativos. Isso se deve ao engajamento de toda a cadeia produtiva da construção civil, que envolve construtoras, arquitetos, fornecedores de produtos e serviços e outros agentes do mercado. A gama de empreendimentos que buscam certificações está crescendo significativamente”, diz Ricardo Cansian.
A projeção é de que o investimento no prédio da RAC Engenharia se pague em, no máximo, 10 anos. “A economia proporcionada pelo correto dimensionamento dos sistemas é capaz de reduzir o consumo geral do edifício em 27%. Só a economia de energia, se comparado a um edifício-padrão, é de aproximadamente R$ 20 mil por ano. Porém, o que norteia a opção por esse tipo de construção não é a questão monetária, mas a busca por soluções que tornam a edificação mais eficiente, otimizando o uso dos recursos naturais e evitando excessos. Trata-se mais de uma mudança de visão sobre a forma de conduzir os negócios e os projetos na construção civil do que meramente uma questão de custo”, opina Cansian.
Entrevistado
Engenheiro civil Ricardo Cansian, diretor da RAC Engenharia
Contato: rac@raceng.com.br
CréditoFoto: RAC Engenharia
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Livro mostra evolução das tecnologias na construção civil
Obra aborda o progresso de São Paulo, impulsionado pela cafeicultura, e as construções inovadoras, a partir da verticalização da cidade
Com o apoio do SindusCon-SP, o livro “História, desenvolvimento e tecnologia na construção civil em São Paulo” (BB Editora) aborda a evolução dos métodos construtivos ao longo do final do século 19 e do início do século 21, e também a formação do setor da construção civil na capital de São Paulo, como ressalta o autor. “A partir da fundação da escola politécnica da USP, em 1893, e com os investimentos da elite cafeeira, surgiram as primeiras obras emblemáticas da cidade: Pinacoteca do Estado (1900), Theatro Municipal (1911), Estação Pinacoteca (1914), Palácio dos Correios (1922) e Palácio das Indústrias (1924)”, diz o jornalista Eder Santin.
Para compor o livro, o autor consolidou várias entrevistas. Entre elas, com o professor e engenheiro Paulo Helene, que destaca que a tecnologia na construção civil foi incorporada com a verticalização das obras. “A construção de edifícios altos, por si só, é um indutor de evolução tecnológica. Nesse aspecto, a primeira obra importante da cidade foi o edifício Martinelli, de 1929 (30 andares). Depois do Martinelli, o desafio da altura tornou-se uma marca da cidade de São Paulo, destacando-se os edifícios altos que surgiram no centro da cidade (Zarzur, Altino Arantes-Banespa, Edifício Itália e Copan) e também no chamado centro expandido de São Paulo”, relata Santin.
O livro retrata parte do acervo fotográfico do SindusCon-SP, que, ao ser fundado em 1934, teve papel importante na incorporação de novas tecnologias construtivas e na vocação de São Paulo para obras inovadoras. Entre elas, o hotel Unique e o edifício e-Tower, recordista em resistência à compressão, com concreto de 125 MPa. “O valor é considerado um recorde mundial em resistência de concreto colorido”, afirma Jorge Batlouni Neto, da Tecnum, que construiu o edifício em 2002. Tem ainda o prédio Torre Norte do CENU (1999), cujas fundações consumiram 2.700 m3 de concreto, em uma operação contínua com duração de três dias.
Tema inesgotável
Além dos aspectos históricos e técnicos, o livro destaca o importante papel da geração de construtores que ocupou o SindusCon-SP a partir dos anos 1990. “Esses jovens empresários à época organizaram-se para buscar respostas para questões amplas e complexas sobre os temas que afetavam a indústria da construção, como produtividade, tecnologia, relacionamento com empregados, fornecedores e parceiros, meio ambiente e recursos naturais, legislação, economia e políticas para o setor (mercado imobiliário, habitação e infraestrutura). Graças a essa visão, o setor evoluiu em termos de conhecimento técnico e de gestão”, cita Eder Santin.
O autor avalia que o livro não esgotou o tema, e que novos volumes podem surgir. No entanto, ele procurou fazer uma ampla abrangência sobre a construção civil em São Paulo. “O livro conduz o leitor pelos principais pontos que marcaram o crescimento da cidade de São Paulo e o papel das empresas e dos engenheiros nesse percurso. Como um relato histórico, a obra trata de obstáculos e superações, na medida em que qualquer mercado - principalmente a construção civil - está sujeito a fatores econômicos, comportamentais, ambientais, tecnológicos e legais. A evolução do setor reflete a adaptação das empresas a esses fatores”, conclui.
Entrevistado
Jornalista Eder Santin, autor do livro “História, desenvolvimento e tecnologia na construção civil em São Paulo”
Contato: esantin@cidadela-editora.com.br
Foto
Eder Santin, com o livro que retrata a evolução da construção civil na cidade de São Paulo
Crédito: SindusCon-SP
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Artefatos de concreto vibroprensado: saiba como fazer
Tecnologia é a mais utilizada no mundo para fabricar artefatos, mas cimento de boa qualidade e máquinas calibradas são imprescindíveis
O processo vibroprensado é o mais utilizado no mundo para a fabricação de artefatos de concreto. A tecnologia resulta em melhor desempenho do produto e mais produtividade. Além disso, as vibroprensas permitem a produção de uma grande família de produtos. Mas é preciso atenção à calibragem da máquina de vibrocompressão, que é o coração do processo produtivo. Outros cuidados estão relacionados ao preparo do concreto, passando pela granulometria, a qualidade do cimento e os ensaios de resistência à compressão.
Engenheiro civil com 35 anos de experiência em produtos vibroprensados, Idário Fernandes já proferiu mais de 250 cursos e palestras no Brasil e no Mercosul sobre cimento, concreto e artefatos. Autor do livro “Blocos e Pavers - Produção e Controle de Qualidade”, o especialista está no 59º Congresso Brasileiro do Concreto, promovido pelo IBRACON, e que acontece em Bento Gonçalves-RS, de 31 de outubro a 3 de novembro de 2017. Sua palestra vai tratar de concreto vibroprensado. Antes, ele detalha a tecnologia na entrevista a seguir. Confira:
O processo vibroprensado ainda é o mais utilizado no mundo para a fabricação de artefatos de concreto?
Sim, é o mais utilizado no mundo. São conhecidos como artefatos de concreto os produtos cimentícios de pequeno porte, feitos com Cimento Portland, agregados, água, aditivos e, opcionalmente, adições, independentemente do método empregado, seja ele o do concreto plástico, extrusado ou vibroprensado. São exemplos de artefatos de concreto vibroprensados os blocos, os blocos intertravados, tubos, cobogós, vasos, balaústres, entre outros. De concreto plástico, os principais artefatos são os pisos e revestimentos cimentícios. Do processo extrusado, alguns modelos de pisos e as telhas de concreto, que na verdade são telhas de argamassa. Destes, com certeza, os produtos obtidos no processo vibroprensado são maioria no mundo.
As outras tecnologias conseguem ser competitivas sob o ponto de vista mercadológico?
Sim, elas conseguem o seu lugar ao sol porque agregam valor devido, sobretudo, à melhor aparência do produto, em virtude do acabamento proporcionado pelos moldes de silicone, poliuretano, fiberglass, plástico ou aço. Um piso cimentício, seja ele elevado, fulget (cimento e pedriscos), levigado (antiderrapante) e atérmico (não transmite calor nem frio), ou mesmo o intertravado feito em forminha de plástico, é mais bonito que o produto vibroprensado e o mercado valoriza e compra beleza. Muito embora seja possível fazer um intertravado dormido de alta resistência no quesito concreto, ele sofre nos quesitos formato e produtividade, devido à necessária concavidade da peça para desforma e as poucas possibilidades de automação do processo. Mesmo com estas dificuldades, o processo vibroprensado é um segmento que cresce a cada dia, sobretudo ao baixo investimento para se iniciar um negócio.
O que é mais relevante para se produzir artefatos de concreto com qualidade: uma vibroprensa bem calibrada, concreto com granulometria adequada ou um bom cimento?
Todos são muito importantes. É um conjunto. Faltou um quarto item muito importante, que é o conhecimento do processo. Mas se tiver que eleger um, com certeza será o cimento. Com uma supermáquina e um superagregado não se faz um bom produto se o cimento não for bom. Já se o cimento for de qualidade, ele pode suprir a deficiência dos outros itens. Porém, com ônus, que cairá no custo do produto, pois as deficiências serão pagas com o maior consumo do aglomerante.
A mão de obra que atua nas fábricas de artefatos está bem capacitada ou ainda precisa se adequar aos novos tempos?
É um círculo vicioso. A oferta é muito maior que a demanda. Logo não se tem um preço justo pelo produto. Com preço baixo a margem é baixa, e não tendo margem não tem como se manter ou investir em treinamento de mão de obra especializada. Isto gera uma rotatividade grande de pessoal. Alguns vendedores/instaladores de máquinas não prestam o devido treinamento aos seus clientes, porque se enquadram nos critérios citados. Cerca de 20% das recomendações dos meus relatórios de consultoria dizem respeito a alterações ou melhorias nos equipamentos, inclusive em alguns equipamentos importados. Já a ABCP (www.abcp.org.br) oferece cursos para aperfeiçoamento da mão de obra de produção de artefatos de concreto.
Há uma família grande de artefatos de concreto, mas o principal continua sendo o bloco de concreto. Com a chegada da Norma de Desempenho, esse produto já está adaptado às novas exigências do mercado?
O bloco em si ainda não. Mas, com a integração do revestimento e uso de cores claras, que refletem a luz, o sistema atende a ABNT NBR 15575 – Norma de Desempenho. O bloco de concreto de hoje é praticamente o mesmo produto de quando o sistema chegou ao Brasil, na década de 1960. Pouco evoluiu, mas isto não é um problema do Brasil. Ocorre em outros lugares também. Em países muito frios o bloco ganhou recheio de EPS (isopor) ou paredes mais espessas e maiores vãos, com bolsões de ar para isolamento térmico. Já estão em andamento na ABCP esforços em busca de alternativas para que o bloco melhore seu desempenho térmico e acústico. O sistema carece também de uma atuação forte da interface entre o produtor e o usuário, a fim de acabar com cortes das peças, elementos compensadores. É preciso divulgar o bloco elétrico, com encaixe da caixinha do interruptor; o bloco hidráulico, para evitar o corte da parede; os blocos em ângulo, para sair do quadrado, ou seja, tem campo para evoluir e tornar o sistema ainda mais atraente. Isto facilitaria a vida do produtor, que teria menos componentes e menor investimento em moldes, além do produto ficar mais competitivo, por ser mais simples de aplicar.
Com relação aos artefatos permeáveis, como está o mercado e qual a qualidade dos produtos disponíveis?
O piso drenante, seja ele em formato de bloco intertravado ou de placas, vem ganhando significativa fatia no segmento de calçamento e é uma excelente ajuda para diminuir os efeitos das enchentes. O artefato evoluiu muito e tem excelente aceitação no mercado graças ao trabalho da ABCP, que designou profissionais competentes para dedicação com foco neste produto. Falta maior consciência do poder público em exigir um percentual de área pavimentada em piso drenante nas novas edificações e em áreas públicas, além do incentivo aos munícipes para trocarem suas calçadas impermeabilizadas por essa inteligente e ecológica forma de calçamento.
As indústrias de artefatos se preocupam com ensaios de resistência à compressão, e outros ensaios, como deveriam se preocupar?
Existem três grupos:
1. O que possui laboratório próprio e faz uso disso como ferramenta para ajustar custos, evitando enviar ao mercado produtos com resistência muito acima do exigido por norma ou abaixo do que foi vendido.
2. O grupo que faz ensaios esporádicos, ou quando é argumento de venda, pois o cliente exige.
3. O grupo que não faz ensaios e vende para quem prefere pagar barato, fazendo vista grossa para as especificações técnicas do produto.
Particularmente, no segmento de pisos cimentícios e de telhas, este cenário é menos preocupante, pois eles atuam em segmentos mais elitizados e mais exigentes.
O que as indústrias de artefatos de concreto estão buscando em termos de inovação e sustentabilidade?
No segmento concreto seco ou, como dizem os americanos, "semi dry concrete”, além do piso drenante, evoluímos pouco. No segmento concreto plástico ou dormido temos o avanço dos revestimentos cimentícios e dos cobogós. No extrusado, as telhas cresceram em tamanho, diminuindo o número de peças e peso por m².
Comparativamente ao mercado internacional, como o senhor qualificaria a indústria de artefatos de concreto no Brasil?
Se compararmos com países de primeiro mundo, temos quilômetros a percorrer. Eles utilizam muito o intertravado mesclado, intertravado dupla capa - combinação de dois ou mais formatos -, paginação inteligente e perfeita harmonia com a jardinagem, o que mantém o piso limpinho. Se compararmos com alguns de nossos vizinhos temos produtos, equipamentos, tecnologia e normas superiores. Servimos inclusive de referência a eles. O problema, diria, é que temos normalização adequada, mas não temos a responsabilidade em cumpri-la ou a coragem de exigi-la.
No início desta década houve um grande crescimento de pequenas indústrias de artefatos de concreto no Brasil. Provavelmente, estimuladas pelo bom momento que a construção civil viveu até 2014. A pergunta é: as que sobreviveram estão conseguindo produzir artefatos de qualidade?
Aí temos dois cenários: empresas que têm lastro, que não dependem exclusivamente daquele negócio, e que optaram por manter a qualidade e apostar no “compra quem concorda em pagar o custo de um bom produto”. Por outro lado, há empresas que não possuem outra fonte de renda, entraram numa guerra de preço absurda, às vezes com produtos vendidos a preço de custo para manter o negócio rodando. Nestas, infelizmente, a qualidade tem deixado a desejar.
Nas suas consultorias, quais os erros mais comuns que o senhor detecta nas fábricas de artefatos?
Os principais são cinco:
1. Alto desvio padrão, provocado pelo desconhecimento do problema da dispersão de massa (peso) na bandeja, resultante da diferença de massa alimentada nas diferentes cavidades do molde.
2. Desconhecimento da influência da variação da umidade na compactação e na resistência do produto.
3. Desconhecimento de métodos expeditos e baratos para um controle de qualidade “just in time” com a produção. É uma inocência esperar o laudo do laboratório para saber que o produto necessita de ajustes.
4. Ausência de qualquer processo de cura dos produtos. Alguns acreditam que para curar basta colocar o produto dentro de um compartimento sem portas, com grandes aberturas no teto ou paredes.
5. Desconhecimento dos recursos e dos princípios de funcionamento dos equipamentos. Tem máquina que faz 800 ciclos em 7 horas e outra, da mesma marca e modelo, em outra empresa, que produzem 1.600 ciclos no mesmo período.
A indústria de vibroprensas nacional já está no mesmo patamar das máquinas produzidas fora do país?
Infelizmente ainda não. Das seis maiores empresas de máquinas que existiam no país há seis anos, quatro praticamente desapareceram por conta do mercado extremamente recessivo. Surgiram novas e boas opções, mas de pequeno porte para se adaptarem a um mercado retraído. Elas possuem desempenho proporcional ao investimento quando comparadas com as estrangeiras, porém com custo unitário de produto maior, devido ao emprego de muita mão de obra (pouca automação) emprego de mais cimento na mistura, devido à pouca capacidade de prensagem, e alto índice de paradas para manutenção ou reparos, devido à idade de desenvolvimento ainda precoce.
Entrevistado
Engenheiro civil Idário Fernandes, consultor em tecnologia de concreto e sistemas construtivos e dono da Doutorbloco Consultoria em Concreto
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Crédito Fotos: Doutorbloco