Resíduo de concreto vira aliado do “pavimento verde”

Estudo desenvolvido na UTFPR mostra que transformação de RCD em agregado para estradas vicinais gera ganhos ambientais e econômicos

Uso de resíduos da construção em rodovias rurais permite que empresas da construção e prefeituras atuem em conjunto
Uso de resíduos da construção em rodovias rurais permite que empresas da construção e prefeituras atuem em conjunto

Um dos gargalos da construção civil no quesito sustentabilidade passa pela destinação do RCD (Resíduos da Construção e Demolição). Mas há soluções. Uma delas é apontada pelo engenheiro florestal Marcelo Langer, conforme pesquisa desenvolvida por ele na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). O estudo mostra as vantagens do uso do RCD na pavimentação de estradas rurais. Na entrevista a seguir, Langer explica como. Confira:

O senhor desenvolveu um estudo em 2015 sobre o uso de resíduos da construção para pavimentar estradas rurais. Houve a aplicação prática da pesquisa?
O estudo que desenvolvi entre os anos de 2014 e 2015 foi o resultado de implantações práticas que desenvolvi ao longo de mais de 20 anos como gestor florestal. Especificamente, para o trabalho desenvolvido durante curso de especialização em Construções Sustentáveis na UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), fiz a implantação e acompanhamento técnico por um ano em uma área florestal na cidade de Arapoti-PR, e em um condomínio residencial em São José dos Pinhais-PR. No primeiro, utilizei os Resíduos da Construção e Demolição (RCD) transformados em Agregados de Resíduos de Concreto (ARC) por meio de usina móvel. No segundo, utilizei os RCD transformados em Agregados de Resíduos Mistos (ARM) produzidos em usina fixa.

Em quais trechos das estradas rurais de Arapoti-PR o pavimento alternativo foi aplicado e quais ganhos foram obtidos?
Houve a aplicação em trechos de estradas florestais, estradas municipais e estaduais da zona rural. Também foi aplicado em trevos de acesso e saída de máquinas e veículos, além de levantamento da base de estradas, cabeceiras de pontes, construção de bueiros e outras estruturas de rodagem. Foi empregado ainda para a formação de base para estradas localizadas em terrenos de elevado acúmulo hídrico. No condomínio em São José dos Pinhais-PR, foi usado para a construção de estacionamentos, calçadas, quadras esportivas e áreas de lazer.

Destinação dos resíduos da construção para pavimentar estradas rurais gera ganhos ambientais e econômicos
Destinação dos resíduos da construção para pavimentar estradas rurais gera ganhos ambientais e econômicos

E quanto aos ganhos obtidos?
Os ganhos foram os seguintes:
- Reaproveitamento dos resíduos, transformando-os em ARM e ARC, aumentando o ciclo de vida e atendendo aos princípios da sustentabilidade, economia circular e a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS)
;
- Redução da contaminação ambiental, da poluição sólida a ambientes rurais e urbanos, do uso de matéria-prima natural (cascalhos) e de custos operacionais
;
- Redução da perda de partículas sólidas dos leitos de estradas em períodos chuvosos e, como consequência, redução da contaminação dos rios e corpos hídricos
;
- Compatibilidade técnica, pois a capacidade de agregação dos materiais ARM e ARC às partículas do solo foi comprovada, gerando uma camada de cobertura resistente e adequada aos níveis de volume e carga de trafegabilidade
;
- Resistência dos ARM e ARC após um ano de fluxo intenso de veículos, tanto de passeio como de cargas pesadas, e também às intempéries climáticas.

Além da questão da sustentabilidade, quais as vantagens de se pavimentar estradas vicinais com resíduos da construção?
Normalmente, os RCD são materiais que geram custos para as empresas da construção civil, pois necessitam ser descartados corretamente em locais adequados e ambientalmente licenciados. Para isso, há taxas e custos de transporte e descarte. Utilizando o sistema de transformação dos RCD em ARM e ARC, se evitam os custos e passa-se a ter uma nova matéria-prima para um novo sistema produtivo. Em breve, os resíduos resultantes da construção e demolição deverão se tornar matéria-prima e oportunidade de negócios para muitas empresas no Paraná e no Brasil.

Os resíduos da construção são o calcanhar de Aquiles do setor, no que se refere à destinação. A aplicação dos resíduos para pavimentar estradas é a solução?
Os resíduos de qualquer setor produtivo se tornam problema quando não gerenciados e quando não é compreendido seu potencial econômico. Como exemplo, em um grande edifício residencial na cidade de São Paulo-SP, onde realizei o levantamento dos custos da gestão dos RCD para pagamento de taxas, serviços de transportes e uso de locais para a destinação final, o valor destes custos foi da ordem de 4 milhões de reais. Isso, sem considerar as perdas e desperdícios identificados no processo construtivo convencional. Por outro lado, as empresas agroflorestais têm custos anuais elevados para a aquisição de cascalhos e outros materiais de revestimento, a fim de assegurar a trafegabilidade das estradas rurais. Então, por que não promover este diálogo e integração entre o setor da construção civil, agroflorestal, governos e sociedade, por meio do uso dos RCD, ARM e ARC, que possuem custos inferiores à aquisição de outros materiais naturais com alto impacto ambiental e elevados benefícios socioambientais? O ganho é para todos.

É possível saber o quanto é necessário de resíduos para pavimentar um quilômetro de estrada vicinal?
Depende de várias condições. Entre elas, as condições do terreno, sua declividade, tipo do solo e do material a ser empregado, além de precipitação pluviométrica média no local, trafegabilidade, intensidade e volume de cargas, largura e classificação de uso do modal. Seria imprudente afirmar qualquer quantia, mas é possível fazer o seguinte exercício para um recapeamento simples, sem base e outras infraestruturas necessárias para a edificação correta e sustentável de uma estrada rural: em um modal de um quilômetro de extensão, com cinco metros de largura média, onde normalmente se emprega uma camada de 20 centímetros de material de cobertura, serão necessários mil metros cúbicos de ARM ou ARC para o recapeamento.

É possível estimar o volume de resíduos de construção e demolição (RCD) que é gerado no Brasil anualmente?
A indústria da construção civil, em seu processo produtivo, gera perdas estimadas em 150 quilos de resíduos por metro quadrado, e cerca de 75% dos resíduos gerados pela construção nos municípios provêm de descarte de reformas e demolições, geralmente realizadas pelos próprios usuários dos imóveis. A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) informou que em
2014 foram coletados cerca de 45 milhões de toneladas de RCD, aproximadamente 55% de todo o Resíduo Sólido Urbano (RSU), apresentando aumento de 4,3% em relação aos volumes coletados em 2013. Em 2010, na cidade de Curitiba, segundo a secretaria municipal de meio ambiente, o volume de RCD foi de 2.400 t/dia (toneladas por dia). No Paraná o volume de resíduo da construção civil se aproxima a 17.000 t/dia. De acordo com o relatório de pesquisa setorial 2014/2015 da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil (ABRECON), a produção de RCD é de aproximadamente 500 quilos por habitante/ano. Considerando a população brasileira em 2014, o volume de RCD gerado por ano no país é de cerca de 101.399.759 t/dia.

Marcelo Langer desenvolveu pesquisa sobre RCD na pavimentação de estradas rurais entre 2014 e 2015
Marcelo Langer desenvolveu pesquisa sobre RCD na pavimentação de estradas rurais entre 2014 e 2015

Entrevistado
Doutor em engenharia florestal Marcelo Langer, com experiência em gerenciamento de operações, gestão de recursos naturais, florestais e engenharia de produção. Também é especialista em certificações ambientais, sociais e econômicas (FSC, ISO, LEED, Aqua)

Contato: malanger04@yahoo.es

Crédito Fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Atraso na infraestrutura do Brasil intriga o mundo

Relatório do Banco Mundial aponta os porquês de o país não conseguir impulsionar seu desenvolvimento em ritmo semelhante ao do século 20

Mesa de debates do seminário promovido pela FGV para repercutir o relatório do Banco Mundial e debater a infraestrutura brasileira
Mesa de debates do seminário promovido pela FGV para repercutir o relatório do Banco Mundial e debater a infraestrutura brasileira

O Banco Mundial publicou recentemente o documento “Back to Planning: How to Close Brazil’s Infrastructure Gap in Times of Austerity” (De volta ao planejamento: como preencher uma lacuna de infraestrutura no Brasil em tempos de austeridade). O estudo faz questionamentos sobre as razões do país não conseguir modernizar sua infraestrutura, apesar de despender grandes volumes de recursos. O principal argumento do relatório é que o Brasil precisa melhorar sua capacidade de planejar. “A falta de um plano que ataque os principais problemas do país é uma das razões pelas quais os sucessivos programas governamentais não resultam em soluções concretas”, diz o documento do Banco Mundial.

O relatório levou a Escola Brasileira de Economia e Finanças, vinculada à Fundação Getúlio Vargas, a promover o seminário “Modernização da Infraestrutura Brasileira”. O evento foi concluído com uma conferência de Mansueto Almeida, secretário de acompanhamento econômico do ministério da Fazenda, que reconheceu que a modernização da infraestrutura do país é pré-condição para o crescimento sustentável da economia. No entanto, o representante do governo alertou que o ponto de inflexão para o Brasil conseguir retomar sua capacidade de investimento, e também atrair investimentos internacionais em infraestrutura, passa pela aprovação da reforma da Previdência.

No passado, outra realidade 

Segundo o Banco Mundial, o país pode estar perto de destravar um de seus principais gargalos. Tanto é, que faz uma análise otimista na conclusão de seu documento. “O Brasil está em excelente posição para atrair financiamento comercial para sua infraestrutura. Com mais atenção ao planejamento e governança do setor, as perdas podem ser reduzidas e os recursos efetivos disponíveis para a infraestrutura podem ser dobrados rapidamente. Isso, por sua vez, ajudaria a impulsionar o crescimento e melhorar a qualidade dos serviços públicos, sem a necessidade de muito dinheiro público adicional”, avalia. O relatório cita que infraestrutura em transporte e saneamento básico são setores que mais podem atrair investimento no curto prazo.

O Banco Mundial também faz um comparativo entre o presente do país e seu passado, revelando que o Brasil já foi um dos maiores investidores em infraestrutura do mundo. “O Brasil nem sempre foi um país que investiu pouco em infraestrutura. Entre as décadas de 1920 e 1980, as taxas de investimento em infraestrutura excederam 5% do PIB. Estes foram anos em que os rendimentos per capita do país cresceram cerca de 4% ao ano. O Brasil explorou seu vasto território interior, mudou a capital do Rio de Janeiro para Brasília e investiu fortemente em geração de energia e telecomunicações. Ao mesmo tempo, sofreu um rápido processo de urbanização”, relata o documento.

Veja a íntegra do relatório
“Back to Planning: How to Close Brazil’s Infrastructure Gap in Times of Austerity”
(De volta ao planejamento: como preencher uma lacuna de infraestrutura no Brasil em tempos de austeridade)

Veja vídeo do seminário "Modernização da Infraestrutura Brasileira"

Parte 1

Parte 2


Entrevistado
Reportagem com base no relatório do Banco Mundial e do seminário “Modernização da Infraestrutura Brasileira”, da FGV
(via assessoria de imprensa) 

Contato: speakersbureau@worldbank.org

Crédito Foto: EPGE/FGV-RJ

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Bloco imita Lego e permite construção industrializada versátil

Invenção britânica atende a uma série de obras. De muros de contenção a barreiras para rodovias, além de armazéns para estocar produtos

Paredes com blocos de concreto podem atingir até quase 9 metros de altura, sem precisar de fundações
Paredes com blocos de concreto podem atingir até quase 9 metros de altura, sem precisar de fundações

Muros de contenção, que precisam suportar grandes cargas, podem ser erguidos com blocos maciços de concreto inspirados no Lego. As estruturas, inventadas no Reino Unido, têm versatilidade para atender vários tipos de projetos: de paredes corta-fogo a galpões, passando por barreiras para isolar rodovias e ferrovias. Os blocos têm medidas que podem chegar a 1,6 m x 0,8 m x 0,8 m, e pesar 2.400 quilos. Pré-fabricados, eles permitem que a construção industrializada amplie seu raio de atuação.

Os blocos, registrados como Legioblocks, possibilitam que as construções sejam rearranjadas de acordo com a necessidade e do espaço disponível. Por exemplo, servem para criar compartimentos que armazenem materiais, construir muros e paredes de contenção, edifícios industriais ou atender obras emergenciais, com barreiras para isolar áreas de deslizamento e criar desvios para rodovias em obra. “Esses blocos são disruptivos (provocam modificações ou alterações), no sentido de que são um passo à frente na tecnologia existente”, avalia Owen Batham, diretor de marketing da Elite Precast Concrete, uma das duas empresas britânicas que produzem Legioblocks.

Blocos usados como barreira de som para proteger floresta em Eindhoven, na Holanda

Blocos usados como barreira de som para proteger floresta em Eindhoven, na Holanda

A versatilidade deste tipo de pré-fabricado amplia seu uso na Europa. Recentemente, ao sul de Eindhoven, na Holanda, foi usado como barreira de som para proteger os animais que vivem em uma pequena floresta às margens de uma das autoestradas mais movimentadas do país: a A2. Outra aplicação ocorreu na divisa entre a Inglaterra e a Escócia, em que os blocos de concreto foram usados para canalizar um rio e impedir que seu transbordamento interditasse uma das principais linhas de trem da região.   

Resistência de 50 MPa

Por dispensar argamassas ou outros materiais para fixação, os blocos de concreto inspirados no brinquedo Lego só precisam de uma equipe treinada para operar o guindaste e que saiba encaixar as peças. Por causa do peso, os blocos também dispensam fundações. O único pré-requisito é a preparação do terreno para que ocorra o assentamento das estruturas de concreto.

Versatilidade permite que blocos sejam remanejados para se adequar ao armazenamento de materiais
Versatilidade permite que blocos sejam remanejados para se adequar ao armazenamento de materiais

Os Legioblocks também foram fundamentais na modernização do porto de Porto Mulhouse-Rhin, na França, instalado à beira do rio Reno. O terminal abastece com cargas a terceira principal hidrovia do país. Nele, foi construída uma área de 18 mil m2 para o armazenamento de minerais, que é o principal produto escoado pelo porto. Um dos pré-requisitos é que as estruturas suportassem a pressão dos minerais, sem impedir o trabalho dos equipamentos de carga e descarga.

Os blocos de concreto são produzidos com 50,0 MPa de resistência. Os fabricantes garantem que podem erguer paredes com até 8,8 m de altura – há casos especiais que atingiram 13,0 m. As peças podem ser empilhadas e desempilhadas a qualquer momento, o que permite que se ajustem a qualquer capacidade de armazenamento. A solução britânica ainda é compatível com as certificações de construção sustentável. "O concreto usado para fazer os blocos usa escombros de concreto antigo como agregado em sua composição. Assim, recursos não são desperdiçados e ficam na cadeia produtiva, o que limita os efeitos ambientais negativos", completa Jan Busser, diretor-gerente da Jansen Recycling BV - outra empresa que fabrica Legioblocks na Grã-Bretanha. 

Peças maciças de concreto também foram utilizadas na canalização de um rio, entre a Escócia e a Inglaterra
Peças maciças de concreto também foram utilizadas na canalização de um rio, entre a Escócia e a Inglaterra

Entrevistados

Owen Batham, diretor de marketing da Elite Precast Concrete, e Jan Busser, diretor-gerente da Jansen Recycling BV (via assessorias de imprensa)

Contatos
sales@legioblock.com
sales@eliteprecast.co.uk

Crédito Fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


Quais obras usam concreto de ultra-alto desempenho?

Também conhecido como CUAD, material tem uso limitado. Geralmente, a aplicação se limita a obras militares e projetos em laboratório

Desenvolvido nos anos 1990, em parceria entre pesquisadores franceses e canadenses, o concreto de ultra-alto desempenho (CUAD) é uma evolução do concreto de alto desempenho (CAD). Surgiu como uma encomenda especial da engenharia militar, para a construção de pontes pré-fabricadas com elementos esbeltos. Para a produção deste concreto auto adensável são utilizados Cimento Portland, sílica-ativa, pó de quartzo, agregados miúdos, aditivos superplastificantes, pequenas quantidades de água e microfibras de aço para alcançar resistências que podem atingir 800 MPa.

No Brasil, um dos tipos de concreto de ultra-alto desempenho mais usados é o concreto de pós-reativos (CPR). Sua aplicação, porém, tem sido extremamente limitada. Além do custo, o fato de outros concretos suprirem as exigências de boa parte das obras especiais faz com que o CAUD seja praticamente um concreto usado em protótipos. Até hoje, apenas quatro países aplicaram esse concreto especial em obras públicas: Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos e Canadá. O material foi usado em pré-fabricados para construir passarelas esbeltas e elementos côncavos que recobrem estações de trem.

Arco da passarela Seonyu, em Seul - Coreia do Sul: um das poucas obras públicas que usam CUAD
Arco da passarela Seonyu, em Seul - Coreia do Sul: uma das poucas obras públicas que usam CUAD

Boa parte destas obras foi erguida nos anos 1990, quando o CUAD tentou um impulso no mercado da construção civil. Fora do Brasil, o material é chamado de Ultra-high Performance Concrete (UHPC)  e a construção mais emblemática é a ponte Seonyu – uma passarela para pedestres erguida em Seul, na Coreia, cujo arco central possui 120 metros de vão. O deck da estrutura tem 4,3 metros de largura e 3 centímetros de espessura, com resistência de 500 MPa. A passarela está localizada em um parque com várias espécies nativas de bambus. Por isso, seu projeto arquitetônico busca homenagear a flexibilidade da planta.

Novas pesquisas

Atualmente, há um bom número de universidades trabalhando em pesquisas com o concreto de ultra-alto desempenho. O objetivo é torná-lo um produto tão mais resistente quanto mais acessível ao mercado. Nas universidades de Michigan e Connecticut, nos Estados Unidos, está em desenvolvimento um CUAD (ou UHPC) que permita processos menos caros. ”O alto custo do material, juntamente com procedimentos de construção complicados e dispendiosos, impediu a adoção generalizada do UHPC nos EUA”, dizem os professores Tony Naaman, da Universidade de Michigan, e Kay Wille, da Universidade de Connecticut.

Os dois trabalham em parceria no desenvolvimento do que eles chamam de um “UHPC alternativo”. “O que buscamos é um produto que possa ser comercialmente viável. Hoje há casos em que o metro cúbico do concreto de ultra-alto desempenho ultrapassa os 500 dólares. Nosso objetivo é reduzir esse custo pela metade. De que forma? Utilizando componentes que estão disponíveis no mercado, sem que o material perca suas principais características: desempenho extremamente alto, alta resistência à compressão, alta resistência à tração e alta resistência à penetração de cloretos”, completam os pesquisadores norte-americanos.

Entrevistados
- Tony Naaman, professor-emérito do departamento de engenharia civil da Universidade de Michigan
- Kay Wille, professor-assistente da Universidade de Connecticut

Contatos
naaman@umich.edu
kay.wille@uconn.edu

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Curitiba redescobre pavimento de concreto para BRT

Trecho norte da Linha Verde vai transformar capital paranaense entre as que mais têm malha urbana com piso rígido

Trecho da Linha Verde norte, em Curitiba: quando pronta, avenida terá 18 quilômetros de pavimento em concreto

Trecho da Linha Verde norte, em Curitiba: quando pronta, avenida terá 18 quilômetros de pavimento em concreto

A nova etapa da Linha Verde, em Curitiba - agora concentrada na região norte da capital paranaense - tem o pavimento de concreto como protagonista. A obra, depois de anos parada, foi retomada e a canaleta central, projetada para receber um BRT (Bus Rapid Transit) recebe piso rígido. O concreto também está presente nas várias trincheiras ao longo do percurso novo da avenida, construída para minimizar congestionamentos e aprimorar o transporte público em Curitiba.

Com o novo trecho, a Linha Verde da capital paranaense terá 18 quilômetros de pavimento em concreto, e cortando 14 bairros da cidade. Segundo o gerente da regional sul da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), o engenheiro civil Alex Maschio, trata-se da obra com pavimento em concreto mais extensa de Curitiba. “Consequentemente, é a com maior consumo de concreto. Somando todos os trechos já executados, com este que será em breve licitado, deve-se ter um total de 33.000 m³ de concreto em pavimento. Acrescentando as camadas de base cimentada (BGTC) das vias comuns, estima-se um consumo total de cimento na ordem de 15.000 toneladas”, diz.

Em relação ao trecho sul da Linha Verde, em função da geometria da pista, foi possível utilizar o asfalto existente como base para o novo pavimento de concreto (whitetopping). Já a parte norte da obra terá apenas pavimentação bruta em concreto. Isso, no entanto, não interfere na qualidade de um ou outro trecho. “O dimensionamento se mantém igual ao longo de toda a extensão”, afirma Alex Maschio, lembrando que a ABCP possui um termo de cooperação técnica com a prefeitura de Curitiba para supervisionar as obras que utilizem soluções a base de cimento.

Com a conclusão do trecho norte da Linha Verde, e outros projetos ainda não licitados, Curitiba estará entre as capitais com mais quilômetros em pavimento em concreto. “Incluindo esse trecho faltante da Linha Verde norte, a extensão total de malha com pavimento de concreto em Curitiba deve ultrapassar os 100 quilômetros. Isso a coloca entre as capitais com maior quantidade de pavimento de concreto. Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília também executaram muitos corredores em concreto por causa da Copa do Mundo 2014. Assim como São Paulo, que tem números muito mais expressivos que as demais capitais quando se trata de pavimento em concreto”, explica Maschio.

Concreto x asfalto

Com a conclusão da Linha Verde norte, Curitiba estará entre as capitais que mais utilizam pavimento em concreto em sua malha urbana
Com a conclusão da Linha Verde norte, Curitiba estará entre as capitais que mais utilizam pavimento em concreto em sua malha urbana

O gerente da regional sul da ABCP afirma que, finalmente, as prefeituras estão superando o mito de que o pavimento em concreto é mais caro que o asfalto e, por isso, acabava perdendo terreno nas cidades. “Essa resistência é bem menor hoje. Além disso, com as recentes altas no preço do asfalto, é fácil identificar situações em que o custo inicial em concreto já é mais baixo do que o pavimento flexível. Considerando no longo prazo então, não há discussão”, comenta.

Além disso, as diretrizes das agências financiadoras (Caixa, FGTS, BRDE e BID) cada vez mais exigem que as soluções implantadas tenham durabilidade maior e pouca manutenção. “Isso se encaixa perfeitamente ao pavimento de concreto. O próprio Conselho Curador do FGTS, por exemplo, já recomenda a adoção de pavimentos com durabilidade acima de 20 anos para os BRTs, o que invariavelmente torna a opção pelo pavimento de concreto muito competitiva. Em alguns casos, até mais barata que soluções em asfalto, se compararmos apenas o custo de implantação”, finaliza Maschio.

Veja as vantagens do pavimento em concreto

Leia o que diz o Conselho Curador do FGTS

Entrevistado
Engenheiro civil Alex Maschio, gerente regional sul da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)

Contato: alexsander.maschio@abcp.org.br

Crédito Fotos: Pedro Ribas/SMCS

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

E se o prédio em que você mora virar patrimônio histórico?

Retrofit e pequenas reformas não são proibidos, mas aumenta a burocracia. Geralmente, os cuidados maiores são com a preservação da fachada 

Edifício Metropolitain: retrofit preservou a fachada do antigo Palácio Rosa, construído em 1936

Edifício Metropolitain: retrofit preservou a fachada do antigo Palácio Rosa, construído em 1936

Rio de Janeiro, Salvador, Recife e São Paulo são as cidades com o maior número de prédios tombados pelo patrimônio histórico, em uma tendência que se espalha pelo Brasil. Recentemente, passou a crescer também a quantidade de construções residenciais com essas características. Neste caso, para quem mora no edifício tombado, o que fazer? A primeira informação relevante é saber que o prédio não fica impossibilitado de receber retrofit ou de passar por pequenas reformas. O que aumenta é a burocracia.

Além de o imóvel não poder ser demolido, as obras de manutenção, restauração e reforma devem ser previamente submetidas à análise e aprovação dos respectivos organismos de preservação. Boa parte dos edifícios residenciais tombados no Brasil foi construída entre a década de 1930 e 1950. As edificações costumam entrar para o patrimônio histórico depois que completam 50 anos de vida útil. Um exemplo é o condomínio Três Irmãos, prédio construído em 1946 no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro-RJ.

O projeto de restauração da fachada do edifício, que é tombado pelo patrimônio histórico, precisou atender exigências do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). O organismo aprovou o uso de equipamentos de pintura industrial para o retrofit de 1.700 metros lineares de fachada. “Levamos sete dias para cobrir a área, contra 30 dias se fizéssemos a pintura de forma manual, com rolo”, compara o arquiteto Diogo Caprio, responsável pela restauração. A opção por máquinas se deu por causa da precisão na pintura, o que ajudará a preservar o edifício.

Prédios tombados também precisam de uma administração diferenciada. Síndico do edifício Metropolitain, no Largo do Machado, no Rio, Levi Soares Vieira está à frente da construção que antigamente era conhecida como Palácio Rosa, de 1936, e que foi tombada em 1998. A edificação foi reconhecida pelo patrimônio histórico do Rio de Janeiro por causa de sua arquitetura art-déco carioca e a importância como marco na paisagem do bairro do Catete.

Até 1988, pouco se preservava

Levi Soares lembra que, em 2010, o prédio recebeu autorização para se transformar em um edifício comercial com 162 escritórios. Toda a infraestrutura hidráulica, elétrica e de telefonia foi refeita, mas a fachada precisou ser preservada. O retrofit teve a coordenação do Conselho de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro. “Os condôminos também recebem orientações específicas, sobre como preservar o prédio, por causa do valor para a coletividade”, explica.

No Brasil, patrimônios tombados são relativamente novos. A preservação de edificações só se tornou lei a partir da constituição federal de 1988, que em seu artigo 216 trata “da proteção do patrimônio cultural brasileiro, constituído pelos bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. A constituição fortaleceu o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que foi fundado em 1937, no primeiro governo de Getúlio Vargas, mas raramente cumpria sua função. A partir de 1988, os governos estaduais e municipais também passaram a criar seus organismos de preservação patrimonial.

Entrevistado
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Contato: comunicacao@iphan.gov.br

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Desemprego só vai cair se construção civil subir

Dados oficiais mostram que setor já chegou a empregar 8 milhões de trabalhadores; hoje, vê seu PIB decrescer mais que o do país  

Fila de trabalhadores da construção civil em frente a canteiro de obras, na Bahia: retrato do setor
Fila de trabalhadores da construção civil em frente a canteiro de obras, na Bahia: retrato do setor

A alta taxa de desemprego no Brasil - 12,4%, segundo a mais recente medição do IBGE - está diretamente relacionada ao baixo desempenho da construção civil. O setor é o único que tem capacidade de gerar vagas no curto prazo. Dos atuais 13,1 milhões de trabalhadores sem emprego no Brasil, estima-se que 2/3 atuavam no segmento. No auge da empregabilidade, entre 2009 e 2014, segundo dados da PNAD Contínua, a cadeia produtiva da construção chegou a absorver 8 milhões de trabalhadores.

Desde 2015, com o aprofundamento da crise, a construção civil viu seu PIB despencar mais que o PIB nacional. Caiu 14,3% contra 5,5% do país. Resultado: a cadeia produtiva só absorve atualmente três milhões de vagas formais. Entre setembro de 2016 e setembro de 2017, segundo o CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), foram fechadas 1,5 milhão de vagas. Estudo da LCA Consultores, encomendado pelo Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), mostra que, enquanto a construção civil não voltar a absorver mão de obra em grande volume, a taxa de desemprego no país seguirá alta.

Os números, no entanto, seguem instáveis. Em setembro de 2017, de acordo com dados do CAGED, foram criadas 380 vagas formais na construção civil em todo o país. Já em outubro de 2017, os números voltaram a ser negativos: houve o fechamento de 4.764 empregos no setor. "A economia brasileira está melhorando, mas a construção que é um setor que tem um impacto enorme não está. O PIB da construção já caiu 3 anos seguidos e continua caindo", resume Petrônio Lerche Vieira, diretor-executivo do Sinicon.

Para o Instituto Brasileiro de Economia, ligado à Fundação Getúlio Vargas, o PIB da construção civil fechará 2017 com queda de 5,7%, ante uma alta de 0,8% do PIB nacional – soma de todas as riquezas produzidas pelo Brasil. Por causa destas projeções, dirigentes de cinco das mais importantes representações sindicais no país - Central Única dos Trabalhadores (CUT); Força Sindical; União Geral dos Trabalhadores (UGT); Nova Central e a Federação Internacional dos Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM) - estiveram recentemente em audiência com o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins.

União de forças

O objetivo é unir forças para encontrar soluções que permitam à construção civil retomar o crescimento, principalmente reativando pelo menos 5 mil obras públicas paralisadas desde 2015.  “A indústria de construção civil e pesada encontra-se majoritariamente paralisada em todo o país”, diz Nilson Freitas, representante da ICM. Já o presidente da CBIC entende que é importante também atrair investimentos. “Essa é uma agenda comum, em que temos trabalhado intensamente. Além de retomar obras paralisadas, o reaquecimento do setor passa também pela recuperação do investimento”, afirma José Carlos Martins.

Para ressaltar a importância da cadeia produtiva da construção civil na economia, o Sinicon lembra que cada R$ 1 milhão investido no setor gera 46 novos empregos diretos e R$ 450 mil em salários ao longo de toda a cadeia. Os dados destacam ainda que os investimentos em infraestrutura têm impactos de longo prazo sobre a competitividade e a produtividade da economia. Por outro lado, destaca que homens com idade entre 30 e 40 anos, e com ensino médio incompleto, são os mais vulneráveis ao desemprego no setor.

Entrevistados
Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) (via assessoria de imprensa)
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) (via assessoria de imprensa)

Contatos
comunica@cbic.org.br
sinicon@sinicon.org.br

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Guaratuba terá praça-modelo com pavimento permeável

Projeto vai recobrir 10 mil m2 e segue os conceitos de “rua completa”, do Sinaenco, e Soluções para Cidades, da ABCP

Projeção mostra toda a área que será revitalizada em Guaratuba-PR

Projeção mostra toda a área que será revitalizada em Guaratuba-PR

A cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, terá a primeira praça-modelo, seguindo todos os parâmetros do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) e do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil). A escolha do projeto passou por um concurso público nacional, que envolveu 40 escritórios. O vencedor foi um consórcio de arquitetos de Florianópolis-SC (Desterro Arquitetos + Bloco B Arquitetura + Giz de Terra). “O projeto em si resgata a história da formação urbana de Guaratuba, quando praça e igreja formavam um largo voltado para a baía. A visita ao local e a conversa com moradores foram determinantes para o desenvolvimento de um desenho marcante e linhas simples”, explica o arquiteto Arthur Lins.

Conhecida como Praça Central, a praça Coronel Alexandre Mafra é uma das mais antigas do Paraná. Ela é o marco-zero da cidade de Guaratuba, que foi fundada em 1771. A revitalização envolverá uma área de 10 mil m2, recebendo pavimento intertravado permeável. CAU e IAB avaliam que o projeto pode servir de modelo para futuras revitalizações de praças em cidades com população até 50 mil habitantes. “O paisagismo desenvolvido projeta uma praça viva e conectada aos espaços verdes pré-existentes. Além de uma praça de qualidade para a população local, também será um espaço de qualidade para o turismo de Guaratuba”, completa Arthur Lins.

Pavimento permeável irá recobrir boa parte dos 10 mil m2 da Praça Central de Guaratuba-PR

Pavimento permeável irá recobrir boa parte dos 10 mil m2 da Praça Central de Guaratuba-PR

Segundo Carolina Huergo, arquiteta da secretaria municipal do urbanismo da prefeitura de Guaratuba, uma das prioridades era que o projeto vencedor contemplasse elementos que garantissem sustentabilidade à praça. “Por isso, a pavimentação com blocos de concreto era uma das exigências no edital do concurso”, diz. A expectativa da prefeitura é de que as obras possam iniciar em 2018. Antes, será feita uma nova licitação para a contratação das empresas que irão executar o projeto. “A proposta é iniciar a licitação em 2018. Itens quanto à execução e aos fornecedores serão definidos dentro do processo licitatório, para que sejam seguidas as legislações vigentes”, afirma Carolina Huergo.

Inspiração

Além da revitalização da praça, o projeto se estenderá ao entorno do local, que envolve prédios históricos de Guaratuba. “Essa integração resulta em um desenho que prioriza o pedestre, a acessibilidade universal e a restrição ao automóvel. O objetivo é estimular o uso da bicicleta através de ciclofaixas e vias compartilhadas, sem alterar o fluxo de veículos. As vias serão delimitadas por balizadores e a velocidade máxima reduzida, garantindo assim o trânsito seguro de pedestres e ciclistas, já que todo o entorno da praça estará no mesmo nível”, explicam os arquitetos, que se inspiraram em dois conceitos: o “rua completa”, apoiado pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), em parceria com a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), e a plataforma Soluções para Cidades, da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland).

Além do pavimento permeável, o projeto arquitetônico da praça prevê áreas verdes

Além do pavimento permeável, o projeto arquitetônico da praça prevê áreas verdes

Entrevistados
Arquiteto e urbanista Arthur Lins, da Desterro Arquitetos, e Carolina Huergo, arquiteta da secretaria municipal do urbanismo da prefeitura de Guaratuba-PR

Contatos
arthur@desterro.arq.br

urbanismo@guaratuba.pr.gov.br

Crédito Fotos: Desterro Arquitetos + Bloco B Arquitetura + Giz de Terra

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Prédio verde já tem a preferência em vendas e locações

Empreendimentos corporativos com certificação sustentável começam a se tornar tendência na cidade de São Paulo e se espalham pelo país

Até 2020, prédios verdes serão maioria entre os empreendimentos corporativos na cidade de São Paulo
Até 2020, prédios verdes serão maioria entre os empreendimentos corporativos na cidade de São Paulo

As empresas que compram e alugam lajes em edifícios corporativos estão optando por prédios verdes. As edificações com certificação de sustentabilidade registraram taxa de vacância de 20,6% no terceiro trimestre de 2017 (julho, agosto e setembro) contra 32% dos edifícios convencionais. Em quatro anos, a curva sofreu uma drástica inversão. Até 2013, os prédios de escritórios A e A+ (alto e altíssimo padrão) mas que não possuíam selos verdes, registravam vacância de 11,4%.

A razão desta guinada a favor dos edifícios sustentáveis é a economia. Não está relacionada apenas com o impacto da crise econômica, mas com o desejo das corporações em gerar economia com a logística que envolve seus negócios. Um exemplo: prédios verdes têm taxas de condomínio que custam entre 15% e 25% a menos que os valores cobrados por edifícios convencionais. Os dados foram apurados pela Engebanc Real Estate, com base em dados levantados em uma pesquisa condominial na cidade de São Paulo-SP.

Apesar de abranger lajes corporativas na capital paulista, o levantamento reflete uma tendência nacional: a de que os projetos para prédios corporativos estão preferindo buscar os selos de sustentabilidade para ganhar mercado. O motivo é que as empresas multinacionais, que são as que mais compram ou alugam lajes, estão preferindo os empreendimentos com certificação. É uma tendência que cresceu sobremaneira nesta década. Conectadas com essa preferência dos locatários, as construtoras estão optando por erguer prédios verdes.

Segundo o levantamento da Engebanc Real Estate, atualmente na cidade de São Paulo 72% dos edifícios construídos a partir de 2012, ou em construção, têm certificação de sustentabilidade. Quando todos os empreendimentos forem concluídos, o que deve ocorrer até 2020, a capital paulista terá mais prédios verdes do que edifícios convencionais nas novas regiões corporativas da cidade, que englobam Pinheiros, Faria Lima, Avenida Paulista, Jardins, Jardim Paulistano, Itaim Bibi, Vila Olímpia, Berrini, Roque Petroni, Santo Amaro, Chácara Santo Antônio e Morumbi.

Sustentabilidade ainda é mito

Nestas localidades há 138 imóveis comerciais, dos quais 63 já possuem certificação sustentável. Para 2018, o estudo da Engebanc Real Estate estima que a oferta de lajes novas em prédios verdes crescerá mais 11%. Nas regiões pesquisadas, há mais seis edifícios em fase final de construção, e que possuem selos de sustentabilidade, o que vai acrescentar mais 150 mil m2 a favor dos empreendimentos certificados. “Essa movimentação aconteceu por uma tendência mundial e, principalmente, pela necessidade das empresas estrangeiras que, ao vir para o Brasil, trazem a premissa de ocupar prédios com essas características, por um posicionamento já consolidado lá fora”, destaca Leandro Angelino, gerente de inteligência de mercado e marketing da Engebanc Real Estate.

A projeção é que em dez anos o m2 dos edifícios sustentáveis esteja igual ou até mais barato que dos edifícios convencionais. Hoje, as construções com certificação têm custo 10% maior. Para Angelino, o encarecimento ainda se deve ao fato de que a sustentabilidade ainda é muito subjetiva na hora de precificar uma obra. “Conforme ela (a sustentabilidade) for deixada de ser tratada como mito, e incorporada ao dia a dia das pessoas, os custos tendem a diminuir”, avalia. 

Entrevistado
Engebanc Real Estate
(via assessoria de imprensa)

Contato: escritorios@engebanc.com.br

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Materiais de construção antifogo são desafio à indústria

Grupos de engenheiros defende que certificações sustentáveis só sejam concedidas a edifícios que forem resistentes a incêndio

A indústria de materiais de construção da Europa está à frente de pesquisas que buscam criar produtos que sejam imunes ao fogo. Os avanços foram debatidos em vários simpósios e conferências realizadas no continente, entre maio e setembro de 2017. Quem lidera o movimento é a Fire Safe Europe (FSEU), para quem a denominação de construção sustentável só será 100% verdadeira quando as edificações, e os materiais empregados nas obras, conseguirem ser “imunes” ao fogo.

Em um dos eventos promovidos pela FSEU o palestrante foi Karl Downey, gerente de construção sustentável da European Cement Association (CEMBUREAU). Ele também integra o Concrete Initiative - movimento que apoia construções de prédios com a tecnologia de paredes de concreto. Seus integrantes defendem que o concreto é o material com a melhor eficiência quando o assunto é resistência ao fogo. “Infelizmente, quando se trata de construir sobre os preceitos de sustentabilidade, o fogo não é levado em consideração”, diz Karl Downey.

O representante da CEMBUREAU critica os certificadores de construções sustentáveis, alegando que eles ignoram as normas de resistência ao fogo. "Geralmente, o fogo não é apresentado como um problema de sustentabilidade. Talvez, por que seja tratado em um contexto diferente, ou inserido em questões como eficiência energética. Mas nosso entender é de que um edifício sustentável só pode realmente receber essa denominação se for resistente a incêndios", afirma. 

O movimento Concrete Initiative atua para que normas técnicas europeias sejam revistas, a fim de que abranjam a resistência ao fogo nos pontos em que se referem a construções sustentáveis. “Temos novas propostas para que sejam definidos quesitos como desempenho energético. Acreditamos que a sustentabilidade deve ser resiliente a condições climáticas extremas e condições de incêndio", afirma Karl Downey, revelando a razão pela qual apoia construções com paredes de concreto. “O concreto não gera combustão, não derrete, não emite gases tóxicos e atua como um escudo na proteção de pessoas, quando elas escapam de um incêndio”, completa.

Dados alarmantes

As discussões sobre incêndios em edificações aumentaram na Europa após a tragédia que atingiu o prédio Grenfell Tower, em Londres-Inglaterra, em junho de 2017. O uso de revestimento inadequado transformou um incêndio de pequenas proporções, que começou a partir do curto-circuito em uma geladeira, em uma tragédia com 79 mortes. Esse caso engrossou as estatísticas europeias. Dados da Fire Safe Europe revelam que ocorrem 5 mil incidentes de incêndio por dia no continente. 

Anualmente, 70 mil pessoas são hospitalizadas devido a ferimentos graves causados ​​por fogo em edificações e 4 mil são mortas. Os gastos e os prejuízos causados por incêndios envolvem 126 bilhões de euros por ano na Europa, o que equivale a 1% do PIB do continente. “Projetar e fabricar materiais pensando em combater incêndios deve ser prioridade na indústria da construção. Caso contrário, continuaremos a conviver com histórias tristes causadas pelo fogo, e que poderiam ser evitadas", finaliza Karl Downey.

Entrevistados
- Engenheiro civil Karl Downey, gerente de construção sustentável da European Cement Association (CEMBUREAU) e integrante do movimento Concrete Initiative
- Fire Safe Europe (FSEU)
(via assessoria de imprensa)

Contatos
info@eupave.eu
secretariat@firesafeeurope.eu

Crédito Foto: European Pressphoto Agency

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330