Qualidade do concreto começa na estocagem do cimento

É preciso evitar a todo custo que o Cimento Portland estocado entre em contato com a água ou com a umidade

Estocagem de cimento terá revisão na nova norma, mas, por enquanto, vale a regra “10x10x10”. Crédito: Divulgação
Estocagem de cimento terá revisão na nova norma, mas, por enquanto, vale a regra “10x10x10”. Crédito: Divulgação

Estocar Cimento Portland em local bem protegido da umidade e obedecer a cronologia da data de fabricação na hora de encaminhar o saco para a construção estão entre os procedimentos que ajudam na produção de um concreto de qualidade. As práticas constam nas normas técnicas relacionadas ao cimento e estão consagradas nas práticas divulgadas pela ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland).

Em um de seus documentos, intitulado “Como devo armazenar o cimento?”, a ABCP lembra que “a água é o maior aliado do cimento na hora de confeccionar argamassas e concretos, mas é o seu maior inimigo antes disso. Portanto, é preciso evitar a todo custo que o cimento estocado entre em contato com a água ou com a umidade, tomando os cuidados necessários à sua conservação, no depósito ou no canteiro de obras”.

A revisão das normas de cimento, iniciada pelo ABNT/CB-018, e que deve culminar na redação de uma única norma técnica que abranja todos os procedimentos que envolvem produção, manuseio e aplicações do Cimento Portland, fará também atualizações no item armazenamento. Mas, por enquanto, prevalece a regra básica “10x10x10”.   

Significa que o empilhamento deve ser de, no máximo, 10 sacos, colocados sobre estrados ou pallets, que fiquem a uma distância mínima de 10 centímetros do chão, assim como distantes 10 centímetros das paredes. Outra recomendação normativa é que o empilhamento fique, no mínimo, a 50 centímetros do teto. A pilha recomendada de 10 sacos também facilita a contagem na hora da entrega e no controle dos estoques.

Em seu documento sobre estocagem, a ABCP lembra que “é recomendável utilizar primeiro o cimento estocado há mais tempo, deixando o que chegar por último para o fim. Isso evita que um lote fique estocado por tempo excessivo, já que a recomendação geral é para uso até três meses da data da expedição.”

Saiba o que fazer se o cimento empedrar

O principal inimigo do cimento quando está no saco é o empedramento. Se isso ocorrer, pode inviabilizar sua utilização na obra, na indústria de pré-moldados e na fábrica de artefatos de cimento. Quando o empedramento for apenas superficial (grumos), é possível afofar o saco para que o material reconstitua sua forma original. Nos casos em que a sacaria já tenha sido aberta, recomenda-se esfarelar os torrões ou peneirar o cimento.

Mesmo assim, o uso do cimento empedrado só deve ser feito em construções que não envolvam estruturas de concreto armado, já que parte dele já teve sua resistência comprometida. Sua aplicação pode se dar em pisos, contrapisos e calçadas. “Enfim, observa-se que é fundamental a estocagem correta. Não apenas para evitar o risco de perda do cimento, como também comprometer a resistência final do cimento que não chegou a estragar”, recomenda a ABCP.

Escolha o Cimento Certo para sua obra

Entrevistado
Área técnica da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP (
via assessoria de imprensa)

Contato: dcc@abcp.org.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Presidente da CBIC antevê nova onda de crescimento

Avanços como taxa Selic a 6,75%, índice de confiança em ascensão e oportunidades para investimento em infraestrutura tendem a reverter paralisia

José Carlos Martins, presidente da CBIC: construção civil já pagou seu preço na crise
. Crédito: Cia. Cimento Itambé
José Carlos Martins, presidente da CBIC: construção civil já pagou seu preço na crise
. Crédito: Cia. Cimento Itambé

Dados apresentados pelo presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins, em palestra realizada no começo de março de 2018 na sede do SindusCon-PR, revelam que a construção civil começa a antever uma nova onda de crescimento, mesmo que em um ritmo lento e gradual.

Há quatro pontos elencados pelo presidente da CBIC que dão sustentação para esse ambiente de otimismo: a taxa Selic a 6,75%, o que tende a canalizar dinheiro do mercado financeiro para investimento; o índice de confiança do setor, que voltou a crescer; a disposição de bancos privados em entrar no mercado de financiamento imobiliário, o que já se torna realidade através dos números deste início de 2018, e as movimentações para atrair o setor privado para as grandes obras de infraestrutura.

José Carlos Martins lembra que, feito o ajuste macroeconômico pelo qual o Brasil passou, com o encaminhamento do ajuste das contas públicas e o controle da inflação, é inexorável que o país tenha de buscar o crescimento sustentável, sob risco de perder o que conquistou de 2016 para cá. Isso, segundo ele, passa por uma nova realidade do setor financeiro, que tende a deixar de investir em papéis para migrar para o investimento produtivo.

Segundo o presidente da CBIC, não restam dúvidas de que o Brasil caminha para uma nova onda de crescimento. "Hoje, com este novo cenário, as instituições financeiras terão de buscar as empresas no mercado para gerar novos negócios, a fim de ampliar resultados e ter rentabilidade. Trata-se de uma mudança muito grande, principalmente para a indústria da construção, pois o investimento vai migrar do papel para o investimento produtivo", destaca.

Martins avalia que, no que se refere a investimentos em obras de infraestrutura, o processo será mais lento, pois a desistência do governo federal em não levar adiante a reforma da Previdência, assim como a legislação que definiu o teto de gastos, praticamente impede o investimento público em megaobras. No entanto, ele assegurou que há um trabalho forte em Brasília para permitir que o investimento privado entre definitivamente no setor de infraestrutura.

Mercado imobiliário será o indutor em 2018

Outros aspectos que tendem a tornar os investimentos em infraestruturas mais lentos estão relacionados à corrida presidencial e à insegurança jurídica. “Tudo isso depende de decisões políticas”, completa. Por isso, José Carlos Martins avalia que 2018 terá o mercado imobiliário como principal indutor do crescimento da construção civil.

Em sua explanação, o presidente da CBIC trouxe números relevantes, que envolvem o último trimestre de 2017 e o mês de janeiro de 2018. Dados consolidados do país revelam que, entre outubro e dezembro do ano passado, as vendas cresceram 9,4%, os lançamentos aumentaram 5,2% e o estoque de imóveis novos já construídos baixou 12,3%, em comparação com o mesmo período de 2016.

Outro detalhe relevante é que, em janeiro de 2018, bancos privados, como Santander e Bradesco, realizaram mais financiamentos imobiliários que a Caixa Econômica Federal. Para José Carlos Martins, isso já é um sinal de que as instituições financeiras estão mudando sua forma de atuar, diante de um cenário de inflação baixa e juros baixos. “A Caixa não vai ser mais aquele indutor de financiamentos como era. Os bancos privados vão ser obrigados a entrar, e já estão entrando”, comemora Martins.

Confira o estudo Indicadores Imobiliários Nacionais, da CBIC

Entrevistado
Engenheiro civil José Carlos Martins,
presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção)
Contato: presidencia@cbic.org.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Normas de Cimento Portland serão unidas em uma só

O ABNT/CB-018 (Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados) instalou a comissão de estudo no dia 21 de fevereiro

Cimento Portland: nova norma terá comunicação mais acessível com o consumidor de Cimento Portland
. Crédito: Divulgação
Cimento Portland: nova norma terá comunicação mais acessível com o consumidor de Cimento Portland
. Crédito: Divulgação

Atualmente há oito normas técnicas relacionadas ao Cimento Portland. A maioria foi publicada entre 1991 e 1994. Os avanços tecnológicos, os compromissos ambientais assumidos pelos fabricantes e as exigências do mercado indicaram que elas deveriam ser revisadas. No entanto, o setor foi além. A partir de um texto-base elaborado pela ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), surge a proposta de unificar as normas em uma só, aproveitando os pontos comuns que há entre elas. Na entrevista a seguir, a superintendente do ABNT/CB-018 (Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados), a engenheira civil Inês Laranjeira da Silva Battagin explica como se darão os trabalhos para a elaboração desta nova norma técnica. Confira:

No dia 21 de fevereiro houve a primeira reunião para tratar da revisão das normas técnicas que abrangem o Cimento Portland. Ela foi considerada o start dos trabalhos?
A reunião tratou da reativação da comissão de estudo, procedimento que tem como finalidade estabelecer as bases para o trabalho a ser realizado, e que teve a seguinte pauta: abertura da reunião; apresentação dos participantes; explanação sobre o processo de elaboração de normas brasileiras; apresentação do âmbito de atuação da comissão de estudos; informações sobre a reativação da comissão de estudos; indicação do coordenador e escolha do secretário; definição do programa de trabalho e cronograma das próximas reuniões. Certamente espera-se que grande parte dos participantes dessa reunião faça parte do grupo que atuará na revisão das normas, mas a comissão de estudos é aberta e novos membros podem a ela se integrar.

Qual o objetivo: unificar todas as normas em uma só?
Essa é uma das propostas para a modernização das normas brasileiras de Cimento Portland, com base em documentos congêneres de outros países e também na norma da Comunidade Europeia.

Inês Battagin, superintendente do ABNT/CB-018: objetivo é que nova norma entre em vigor no máximo em um ano. 
Crédito: ABCP
Inês Battagin, superintendente do ABNT/CB-018: objetivo é que nova norma entre em vigor no máximo em um ano. 
Crédito: ABCP

Hoje há oito normas técnicas relacionadas a Cimento Portland, que são: Cimento Portland Comum - CP I e CP I-S (ABNT NBR 5732); Cimento Portland Composto - CP II (ABNT NBR 11578); Cimento Portland de Alto Forno - CP III (ABNT NBR 5735); Cimento Portland Pozolânico - CP IV (ABNT NBR 5736); Cimento Portland de Alta Resistência Inicial - CP V ARI (ABNT NBR 5733); Cimento Portland Resistente a Sulfatos - RS (ABNT NBR 5737); Cimento Portland de Baixo Calor de Hidratação - BC (ABNT NBR 13116); Cimento Portland Branco - CPB (ABNT NBR 12989). Como vai funcionar a revisão: os principais pontos de cada uma serão agregados na norma nova?

Essas normas técnicas tratam das especificações para cada um dos tipos de cimento citados. Note-se que a resistência aos sulfatos e o baixo calor de hidratação são propriedades que qualquer tipo de cimento pode apresentar, desde que comprovada pelos ensaios estabelecidos. Portanto, as normas ABNT NBR 5737 e ABNT NBR 13116 exigem que o cimento cumpra com sua especificação e, além disso, cumpra com as exigências específicas para demonstrar o desempenho de resistência aos sulfatos, ou baixo calor de hidratação, conforme o caso. Assim, as normas em vigor repetem alguns aspectos que são comuns a todos os tipos de cimento e trazem as particularidades de cada tipo. Acredito que será fácil reunir em um único texto todas essas informações e esse formato de apresentação trará uma maior facilidade para o consumidor do produto. A ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) entregou ao ABNT/CB-018 um texto-base contemplando essa proposta, de forma a agilizar os trabalhos da comissão de estudos.

A edição da nova norma levará em conta as inovações tecnológicas que envolvem hoje a produção de Cimento Portland?
Um dos princípios da normalização é buscar o consenso técnico de conteúdos atualizados. Então, muito embora a norma trate do produto e não do processo produtivo, há requisitos que deverão ser atualizados em função do atual estado da arte. Vale citar alguns aspectos que certamente serão considerados, por já serem práticas correntes, em função das inovações industriais. Entre eles, informar o prazo de validade do produto na sacaria e também permitir a estocagem dos sacos de cimento em pallets. O estabelecimento da massa das embalagens em norma deve também ser objeto de avaliação pela comissão de estudos, considerando exemplos de outros países e o fato de existirem no Brasil exigências legais, estabelecidas em portaria, quanto à tolerância de massa.

“O ABNT/CB-018 trata as questões de gestão ambiental e de sustentabilidade como prioritárias.”

E quanto às questões ambientais e de sustentabilidade que envolvem a produção de cimento, elas serão contempladas na norma?
Certamente, pois esse é um tema central dos trabalhos de revisão da norma, considerando as metas previstas pela indústria para atender as expectativas de mitigação de gases de efeito estufa e as possíveis alternativas apontadas pelo Cement Technology Roadmap Brasil. Esse trabalho, realizado junto ao WBCSD (World Business Council for
Sustainable Development) vem ao encontro das premissas de normalização técnica da ISO (International Organization for Standardization), que trata as questões de gestão ambiental e de sustentabilidade como prioritárias. Para disseminar e fortalecer a inclusão das questões de gestão ambiental e sustentabilidade nas normas técnicas, a ISO publicou dois documentos de base (Guias 64 e 82) que direcionam as ações em todos os campos e temas objeto de normalização. A ABNT, como foro nacional único de normalização e representante do Brasil junto às entidades internacionais, reconhece e adota os guias de normalização da ISO, sendo, portanto, obrigação das comissões de estudos da ABNT buscar estabelecer nas normas técnicas brasileiras requisitos que visem ao atendimento dessas diretrizes.

A produção de Cimento Portland também está muito vinculada à logística reversa. É possível que a norma abranja isso?
Como o processo da logística reversa já está estabelecido em lei, torna-se desnecessário tratá-la no âmbito da normalização técnica, salvo se houver alguma especificidade que possa facilitar o processo e se decida detalhá-lo, sem que haja qualquer tipo de confronto com o dispositivo legal.

Como funcionará a comissão do ABNT/CB-018 para preparar a norma?
Como é comum nos trabalhos das comissões de estudo da ABNT, as reuniões serão previamente agendadas. Nelas se devem discutir os assuntos técnicos propostos na pauta, tendo como meta a aprovação por consenso do texto que seja submetido ao processo de consulta nacional. Depois vem a homologação e a publicação como norma brasileira. O trabalho e a composição da comissão de estudo devem estar de acordo com os procedimentos internos da ABNT. A secretaria do ABNT/CB-018 é responsável por zelar por esse processo, pois a ABNT responde pela gestão das normas brasileiras, cujo conteúdo técnico é de responsabilidade das comissões de estudos.

“Em 2018, o programa de trabalho do comitê prevê a publicação de 20 normas técnicas, considerando 14 revisões e seis novos documentos.”

Existe expectativa de quando ela poderá ir a consulta pública e depois para publicação?
Tem sido exigido dos comitês brasileiros que imprimam celeridade ao processo, buscando finalizar os trabalhos em no máximo um ano. Especialmente, no caso de revisão de normas, a ABNT tem enfatizado a importância da objetividade, dando preferência a revisões frequentes e menos expressivas, que possibilitem a atualização dos conteúdos sem a necessidade de processos muito longos, o que pode também facilitar a assimilação das alterações pelo meio técnico afeito ao tema.

O CB-018 trabalha em outras normas técnicas no momento ou vai se concentrar prioritariamente nesta de Cimento Portland este ano?
O ABNT/CB-018 tem em seu acervo 287 normas técnicas brasileiras. Em 2018, o programa de trabalho do comitê prevê a publicação de 20 normas técnicas, considerando 14 revisões e seis novos documentos, além de outros 41 projetos de norma que estão previstos para serem desenvolvidos nas comissões de estudos em atividade e da confirmação de 30 normas técnicas em vigor.

Qual o papel da sociedade na elaboração e na aplicação das normas técnicas?
As normas técnicas são elaboradas pela sociedade para seu próprio uso. Portanto, devem refletir as possibilidades e necessidades dessa mesma sociedade, dentro do tema objeto de normalização, com base no conhecimento e nos avanços tecnológicos disponíveis no momento de sua elaboração.

Entrevistada
Engenheira civil Inês Laranjeira da Silva Battagin, superintendente do ABNT/CB-018 (Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados)

Contato: ines.consult@abcp.org.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Engenharia do futuro passa por sustentabilidade e inovação

Seminário na FAAP procurou quebrar o paradigma de que a sustentabilidade é cara e, portanto, voltada apenas para empreendimentos de alto padrão

Seminário na FAAP reuniu várias visões da construção civil sobre sustentabilidade, tecnologia e Inovação
. Crédito: FAAP
Seminário na FAAP reuniu várias visões da construção civil sobre sustentabilidade, tecnologia e Inovação
. Crédito: FAAP

Dia 19 de fevereiro, a Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) realizou em São Paulo-SP um amplo debate sobre os caminhos que a engenharia civil deverá tomar no futuro, com foco na sustentabilidade, na tecnologia e na inovação. O seminário "A Engenharia em sintonia com o futuro: sustentabilidade, tecnologia e Inovação" reuniu várias visões do setor, cujas opiniões foram mediadas por professores da graduação de engenharia civil e da pós-graduação em construção sustentável da FAAP. “O foco do debate foi instigar reflexões que irão contribuir para a formação dos profissionais envolvidos com projeto e construção, a fim de quebrar o paradigma de que a sustentabilidade é cara e, portanto, voltada apenas para empreendimentos de alto padrão”, explica a professora-doutora Ana Rocha Melhado.

A mediadora do debate lembrou que é possível que obras sejam reconhecidas como sustentáveis sem terem certificações de sustentabilidade. “O que se faz necessário é projetar e construir acima dos padrões normativos brasileiros, já que a construção sustentável é uma forte ferramenta de gestão que garante, por meio de padrões internacionais, o incremento do desempenho das edificações. Então, o conceito de construção sustentável deve ser aplicado a todos os padrões construtivos, visto que o objetivo é proporcionar desempenho, conforto, qualidade, independentemente do padrão, gerando resultados financeiros para todos aqueles que participam do processo”, destaca Ana Rocha Melhado.

A expectativa dos debatedores é de que, no médio prazo, a construção sustentável deixe de ser um ramo da construção civil para estar totalmente integrada ao setor. “Tenho uma visão positiva acerca dessa questão. Acredito que o setor caminha sempre em busca do desenvolvimento sustentável. Além disso, dados do GBC Brasil indicam que, dentre as razões da ascensão das construções sustentáveis, está o desejo das corporações de gerar economia. Prédios verdes, por exemplo, possuem taxas de condomínio menores, bem como garantem aos consumidores que a edificação em que moram ou trabalham, isto é, onde passam a maior parte do tempo de suas vidas, apresente desempenho acima de todas as normas técnicas que disciplinam os diversos sistemas de uma edificação”, reafirma a professora-doutora da FAAP.

Próximo passo é o avanço da Indústria 4.0 na construção civil

A Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) é pioneira em incluir na grade curricular da engenharia civil a disciplina construção sustentável. A matéria está integrada ao curso há oito anos. “Além disso, as demais disciplinas da graduação da engenharia civil são transversais, ou seja, se complementam nessa busca constante de incentivar o empreendedorismo sustentável e responsável”, destaca Ana Rocha Melhado, lembrando que agora a universidade começa a integrar a construção sustentável ao emprego de tecnologias vinculadas à indústria 4.0. No debate realizado no dia 19 de fevereiro, foram abordados pontos relevantes associados ao tema, apesar dos debatedores reconhecerem que a construção civil está muito atrasada no que se refere ao emprego à Indústria 4.0, tanto no Brasil quanto no exterior.

Os debates sobre a aplicação da indústria 4.0 na construção civil foram mediados pelo professor Regis Pasini. “As pesquisas e iniciativas de aplicar os conceitos da Indústria 4.0 estão mais concentradas no canteiro de obras, que também está sendo chamado de canteiro 4.0. Elas se concentram, principalmente, em utilizar a tecnologia RFID para fazer o sensoriamento de materiais nos canteiros de obras, aproveitando as possibilidades que o BIM oferece”, revela Pasini, frisando que a indústria 4.0 tende a levar as construtoras a priorizar o uso de pré-moldados nas construções. “Desta forma, o sensoriamento dos elementos seria enormemente facilitado”, completa.

Pasini reforça ainda que o canteiro 4.0 está muito ligado ao avanços tecnológicas das máquinas. Segundo ele, quando houver caminhões-betoneiras autônomos, por exemplo, a eficiência dos processos de entrega do concreto no canteiro de obras será otimizada. Ele lembra que os primeiros passos foram promissores. “O uso de robôs em demolição já garante uma maior precisão no processo, com ganhos também para a segurança. Outro exemplo da Indústria 4.0 é a fabricação de paredes de casas por impressão 3D. Os principais exemplos vêm da China, apesar de que o acabamento ainda seja ruim”, enfatiza.

Entrevistados
- Engenheira civil Ana Rocha Melhado, coordenadora da pós-graduação em construções sustentáveis da FAAP
- Engenheiro mecânico Régis Pasini, professor da Faculdade de Engenharia da FAAP

Contatos
rpasini@faap.br
pos@faap.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Depois de hotel, vem as casas em tubo de concreto

Arquiteto James Law desenvolveu o que ele batizou de casa Opod. São microapartamentos que podem reurbanizar o centro de Hong Kong

Opod: manilhas de concreto transformadas em moradia, que pode custar mais de R$ 50 mil a unidade
. Crédito: JamesLaw Cybertecture
Opod: manilhas de concreto transformadas em moradia, que pode custar mais de R$ 50 mil a unidade
. Crédito: JamesLaw Cybertecture

Tubos de concreto, normalmente usados em tubulações de saneamento básico, estão se transformando em residências na cidade de Hong Kong, na China. A metrópole é conhecida pela escassez de terrenos e pelos altos preços para se adquirir um imóvel ou até alugar. Para se ter ideia, o metro quadrado pode chegar a 184 mil dólares. Por isso, o escritório de arquitetura de James Law desenvolveu a casa Opod. O espaço tem 9,2 m2 e vem mobiliado sob medida. O microapartamento pode ser empilhado, formando blocos de unidades. Além disso, possibilita conectar-se à Internet das Coisas (IoT). Cada unidade custa cerca de 15,5 mil dólares (aproximadamente 50 mil reais).

Para James Law, o Opod pode ocupar áreas que hoje estão abandonadas no centro de Hong Kong, estimulando uma habitação mais digna para quem não tem onde morar ou mais confortável para quem aluga quartos na cidade, principalmente jovens trabalhadores solteiros, com idade entre 19 anos e 25 anos - o público-alvo do projeto. “Os jovens que moram em Hong Kong não têm como pagar por moradias. O Opod é uma unidade de habitação experimental, de baixo custo, e que pode aliviar os problemas de habitação a preços acessíveis de Hong Kong", afirma o arquiteto, assegurando que a maior vantagem é que as estruturas podem ser empilhadas, formando conjuntos habitacionais.

James Law afirma ainda que sua invenção é uma alternativa às casas-contêineres, que transformaram em caos urbano a periferia de Hong Kong. “O Opod pode ajudar a reurbanizar a cidade. No centro da metrópole há muitos terrenos mal aproveitados, servindo de refúgio para o acúmulo de lixo, e que servem para as habitações com Opod”, diz o arquiteto, que no final de 2017 foi convidado para integrar o projeto da Smart City Consortium, que será construída em Hong Kong, e que pretende atacar os problemas de moradia da metrópole chinesa. Esse problema se agrava na cidade desde 1º de julho de 1997, quando Hong Kong foi devolvida pela Grã-Bretanha à China. Nestes 20 anos, a metrópole experimentou um desordenado crescimento populacional.

A edição 2017 do relatório sobre o Impacto Demográfico na Habitação, desenvolvido por uma organização não-governamental (Ong) britânica mostra que Hong Kong é a cidade onde o mercado imobiliário é o menos acessível no mundo. Por isso, James Law se inspirou nos hotéis criados na Áustria e no México, entre 2009 e 2012, e que depois se espalharam por outras regiões do mundo, onde manilhas de concreto foram transformadas em quartos. O Daspark Hotel, localizado em Linz, na Áustria, foi o primeiro a transformar tubos em habitação. Os “quartos” estão lá até hoje e são muito requisitados por mochileiros que viajam pelos alpes austríacos, já que o hotel adota a política de preço “pague quanto puder”. A adaptação de ideia pode ser uma solução para cidades densamente povoadas.

Veja vídeo sobre o Opod em Hong Kong

Entrevistado
Arquiteto e design James Law, da JamesLaw Cybertecture (
via assessoria de imprensa)

Contato: enquiries@jameslawcybertecture.com

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Construção de estádios completa 10 anos de crescimento

Além dos países-sede de eventos esportivos, como Copa do Mundo e jogos olímpicos, Estados Unidos lideram em investimento para esse tipo de obra

NRG Stadium, em Houston-Texas: inaugurado em 2016, é considerado atualmente o mais moderno estádio do mundo. 
Crédito: Populous
NRG Stadium, em Houston-Texas: inaugurado em 2016, é considerado atualmente o mais moderno estádio do mundo. 
Crédito: Populous

Desde 2008, a construção de estádios tem sido um importante indutor da construção civil pelo mundo. Começou com as obras para a Copa de 2010, na África do Sul, quando a Fifa impôs regras novas que dificultavam a reforma de antigas estruturas e estimulavam a construção de novas praças esportivas, e seguirá em ritmo intenso até mesmo após a Copa 2018, na Rússia.

Além das obras nos países-sede de mundiais de futebol e olimpíadas, a indústria da construção tornou-se ativa também em apresentar soluções para construir e reformar estádios de clubes, assim como ginásios e autódromos. Só nos Estados Unidos, por exemplo, estão programados investimentos na ordem de US$ 15,5 bilhões entre 2018 e 2021.

A onda de reformas nos EUA começou em 2015. Crescendo em 2016 e aumentando ainda mais em 2017. Nestes três anos, foram investidos US$ 17 bilhões em novas instalações esportivas no país. Além de projetos para clubes da Major League Beiseboll (MLB) e da National Football League (NFL [futebol americano]), cresce também o investimento em estádios para clubes da MLS (Major League Soccer) – como é chamado o futebol nos Estados Unidos. 

Segundo Bruce Miller, arquiteto do escritório Populous, especializado em projetos para estádios, “o mercado de instalações para futebol nos Estados Unidos está em paralelo com a tendência global de equipes que fazem investimentos significativos em estádios melhores”. 

Estruturas esportivas tendem a ficar cada vez mais baratas

Outra razão para esse crescimento, segundo o arquiteto, é por que os estádios de futebol tendem a custar menos para construir do que os estádios da MLB ou da NFL, que requerem projetos arquitetônicos mais elaborados e voltados a um público diferenciado.

Um exemplo é o estádio do Los Angeles FC, com construção avaliada em US$ 350 milhões contra US$ 1,1 bilhão do estádio do Texas Globe Life Field - um dos times mais tradicionais do beisebol norte-americano - e US$ 2,6 bilhões do Los Angeles Rams and Chargers, da NFL.

Curiosamente, os Estados Unidos investem mais em estádios que os países-sede de Copas do Mundo e jogos olímpicos. Para a Copa de 2006, a Alemanha investiu US$ 6 bilhões. Em 2010, a África do Sul gastou US$ 8 bilhões. O Brasil, em 2014, gastou US$ 3,5 bilhões. Já para os jogos olímpicos de 2016 foram gastos US$ 3,06 bilhões só com as instalações esportivas. Na Rússia, os investimentos em estádios devem chegar a US$ 11 bilhões.

Para o arquiteto Bruce Miller, que atuou no projeto da Arena das Dunas, em Natal-RN, a tecnologia agregada à construção civil tende a reduzir os custos dos estádios a cada novo projeto. “A construção industrializada, as estruturas mistas e as certificações para construções sustentáveis estão transformando a maneira de se construir estádios, e para melhor”, avalia o especialista, assegurando que hoje já é possível ser menos oneroso erguer uma nova estrutura esportiva do que reformá-la.

Essa tese se confirma em números. Até 2021, serão inaugurados 11 estádios nos Estados Unidos e 9 na Europa.

Entrevistado
Bruce Miller, arquiteto-sênior do escritório Populous, com especialidade em construção de estádios (via assessoria de imprensa)
Contato: media@populous.com

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Crea-PR apoia exame para engenheiros

Modelo adotado pela Ordem dos Advogados do Brasil, e em estudo pelo Conselho Federal de Medicina, agrada presidente Ricardo Rocha de Oliveira

Dia 22 de janeiro de 2018 assumiu a presidência do Crea-PR o engenheiro civil Ricardo Rocha de Oliveira. Ele comandará o organismo pelos próximos três anos, substituindo Joel Krüger, que agora é o presidente do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia). Em sua gestão, Rocha de Oliveira defende o aumento da fiscalização e a maior valorização do exercício profissional da engenharia. Por isso, perguntado se apoiaria a ideia de que engenheiros sejam submetidos a exames como os promovidos pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), ele disse que a proposta é “interessante”.

Ricardo Rocha de Oliveira: busca de interação maior entre o Crea-PR e as universidades paranaenses. Crédito: Crea-PR
Ricardo Rocha de Oliveira: busca de interação maior entre o Crea-PR e as universidades paranaenses. Crédito: Crea-PR

Na entrevista a seguir, Ricardo Rocha de Oliveira também fala do impacto da crise na construção civil no Crea-PR, e de como o organismo pretende se aproximar ainda mais das escolas de engenharia do Paraná, para ajudar a elevar a qualificação dos novos engenheiros. O presidente também explicou como a tecnologia tem sido fundamental para intensificar a fiscalização do exercício irregular da profissão e de obras executadas sem a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Confira:

Em sua posse, o senhor disse que irá investir em inovação tecnológica para potencializar a ação fiscalizadora do Crea-PR. Como se dará isso?

O objetivo do Crea-PR, ao fiscalizar as obras e os serviços técnicos vinculados às diversas profissões que representa, é salvaguardar a sociedade de possíveis danos que possam vir a ocorrer na execução do objeto fiscalizado. A legislação determina que somente os profissionais habilitados possam executar obras e serviços de engenharia e agronomia, pois estão aptos a oferecer à sociedade um acompanhamento idôneo e tecnicamente eficaz. Para isso, o Crea-PR possui uma estrutura tecnológica já consolidada, mas que nessa nova gestão terá ainda mais foco, com a construção de novos produtos para cruzamento de informações, aumentando a eficiência e a eficácia de nossa fiscalização.

Dentro desta estrutura tecnológica existente, o que se destaca?
Um exemplo é o aplicativo do Crea-PR (disponível para Android e IOS) através do qual é possível fazer denúncias de forma ágil de obras e serviços, para a averiguação de nossas equipes. O usuário pode anexar imagens feitas com o próprio celular, cadastrar a coordenada GPS e, após o preenchimento, ele recebe um número de protocolo para acompanhar o processo. O app disponibiliza também a consulta da situação cadastral de profissionais e empresas registrados por nome ou número de registro, da situação de protocolos ou a localização de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), permitindo que cada cidadão possa contribuir com a segurança da sociedade.

Em termos de inovação, o que esperar dentro desta plataforma tecnológica?
Na nossa rotina, teremos uma plataforma SIG ainda mais integrada e amigável, para que os dados sejam plotados nas telas dos equipamentos de fiscalização, permitindo aos agentes fiscais a assertividade na aplicação de nossos recursos e esforços no combate ao exercício ilegal. Cabe ressaltar que o aplicativo utilizado pelas equipes de fiscalização – desenvolvido totalmente pela TI (Tecnologia da Informação) do Crea-PR – está em constante desenvolvimento, e passará por uma evolução significativa a partir da implantação de novos sistemas, como o progresso de nosso sistema de ARTs. Assim, ampliaremos o investimento em inovação tecnológica para potencializar a ação fiscalizadora e a detecção de atividades realizadas sem a efetiva participação dos nossos profissionais, atuando em conjunto com as diretrizes das câmaras especializadas e o apoio de nossos Inspetores espalhados por todo o estado.

“Sabemos que nem todas as instituições de ensino do país realmente formam profissionais qualificados para o exercício da profissão.”

Outra fala de seu discurso também abordou a aproximação do Crea-PR com as instituições de ensino de todo o estado. Qual sua ideia para isso ocorrer?
Como professor universitário e ex-reitor da Unioeste tenho o dever de aproximar ainda mais o Crea-PR das nossas instituições de ensino. Afinal, são as universidades que formam os novos profissionais e elas têm o dever de orientar seus alunos sobre a importância do registro profissional. Para isso, temos uma série de produtos e serviços oferecidos às instituições de ensino. Um exemplo é a revista Técnico Científica do Crea-PR, uma publicação multidisciplinar que proporciona a disseminação do conhecimento técnico e científico produzidos nas áreas de engenharias, agronomia e geociências. Desde o lançamento da revista, em 2013, já publicamos seis edições com mais de 100 mil acessos ao periódico. Também temos o Portal da Educação, que reúne informações relevantes sobre o nosso sistema profissional, com uma série de serviços voltados para as instituições de ensino. Por isso, tenho o compromisso de ampliar o portfólio de produtos e serviços já ofertados aos docentes. Temos também um grande desafio, que é estruturar os processos de acompanhamento, avaliação e análise de concessão de atribuições no novo formato, a partir da Resolução 1073 do Confea. 

O engenheiro recém-formado ou iniciante na carreira tem consciência da importância de se filiar ao Crea-PR?
Para exercer a profissão de engenheiro, agrônomo ou profissional das geociências são necessárias duas habilitações: a acadêmica, obtida pela diplomação por uma instituição de ensino devidamente registrada no ministério da Educação, e a habilitação legal, obtida pelo registro profissional junto ao Crea. Temos um programa específico para aproximar os estudantes do sistema profissional, o Programa CreaJr-PR, aberto a todas as instituições de ensino paranaenses, tanto as de nível superior quanto as de nível tecnológico e técnico. Mas nosso objetivo é ampliar ainda mais a participação dos estudantes. Para isso, criamos a assessoria de inserção profissional, que pretende fomentar, apoiar e debater com nossas instituições de ensino ações relacionadas à inserção profissional como, por exemplo, a criação de dispositivos de residência-técnica como processo de inserção dos egressos no exercício profissional.

Os conselhos de medicina estudam exames com médicos recém-formados para lhes conceder o direito de exercer a profissão, assim como já faz a OAB. Os Creas já cogitaram essa hipótese?

Na verdade, esse assunto não é uma atribuição dos conselhos regionais, mas sim do nosso conselho federal, o Confea, que é responsável por todos os normativos que os 27 Creas devem cumprir. Porém, acredito que a ideia é interessante, já que sabemos que nem todas as instituições de ensino do país realmente formam profissionais qualificados para o exercício da profissão. Também nos preocupa a formação de profissões ligadas ao nosso sistema através do EAD (Ensino a Distância).

“Quando o profissional fica desempregado obviamente ele pode pedir a suspensão de seu registro junto ao Crea.”

Atualmente, o Crea-PR tem quantos filiados, entre engenheiros civis e agrônomos?
O Crea-PR tem sob sua jurisdição mais de  90 mil profissionais e 18 mil empresas registradas. Mas não são apenas os engenheiros civis e agrônomos que fazem parte do nosso sistema. Além de todos os títulos de engenharia, nosso sistema engloba também os profissionais ligados às geociências, como geólogos e geógrafos, tecnólogos, técnicos industriais e agrícolas. Mas a modalidade civil possui mais de 30 mil profissionais, entre engenheiros civis, ambientais e técnicos em edificações. Já na área de agronomia são mais de 20 mil, entre engenheiros agrônomos, agrícolas, florestais e técnicos da modalidade.

A crise, e seus efeitos na construção civil, levaram os profissionais a se aproximar mais do Crea-PR ou a se afastarem?
A crise econômica afeta o mercado de trabalho, e quando o profissional fica desempregado obviamente ele pode pedir a suspensão de seu registro junto ao Crea. Obviamente que, a partir de 2014, tivemos uma redução do número de Anotações de Responsabilidade Técnica (ART), especialmente na área de construção civil.

O senhor avalia que a crise passou e que a construção civil conseguirá sair dos números negativos em 2018?
Não podemos falar em fim da crise, mas podemos perceber certo otimismo. A indústria da construção civil depende dos investimentos públicos e privados em construção pesada e infraestrutura e dificilmente retomaremos em 2018 os patamares de antes do início da crise. Acredito que teremos uma recuperação, mas de forma lenta e gradual.

Entrevistado
Doutor em engenharia civil Ricardo Rocha de Oliveira, professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná e presidente do Crea-PR.

Contato: presidencia@crea-pr.org.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

EUA revisam código de ética dos engenheiros. E no Brasil?

Documento reafirma fundamentos básicos da profissão e pode balizar futura atualização no Brasil, que fica a cargo do Confea/CREA

Código de ética: EUA atualizaram documento abordando temas que estão em pauta no Brasil. Crédito: Divulgação
Código de ética: EUA atualizaram documento abordando temas que estão em pauta no Brasil. Crédito: Divulgação

A sociedade nacional de profissionais da engenharia (NSPE, da sigla em inglês), que fiscaliza a profissão nos Estados Unidos, decidiu revisar o código de ética dos engenheiros. O novo documento inclui questões como delação premiada, comprometimento público com a transparência e define sanções profissionais a quem se envolver em atos como corrupção.
Não fossem nos EUA, pareceria se tratar de outro país. Porém, no Brasil, apesar dos escândalos revelados pela operação Lava Jato, os quais também envolveram engenheiros, o código de ética segue inalterado. No país, tal documento é de responsabilidade do Confea/CREA, cuja mais recente atualização ocorreu em 2002.

Em seu preâmbulo, o código de ética revisado para engenheiros norte-americanos define como a NSPE entende a profissão. “Engenharia é uma profissão importante. Como membros desta profissão, os engenheiros devem exibir os mais altos padrões de honestidade e integridade. A engenharia tem um impacto direto e vital sobre a qualidade de vida de todas as pessoas. Assim, os serviços prestados pelos engenheiros exigem honestidade, imparcialidade e equidade, e devem ser dedicados à proteção da saúde pública, segurança e bem-estar. Os engenheiros devem atuar sob um padrão de comportamento profissional que exige a adesão aos princípios mais elevados de conduta ética”, diz.

O código que baliza o comportamento ético dos engenheiros nos Estados Unidos tem seis fundamentos básicos:
1. Preserv
ar a máxima segurança, saúde e bem-estar do público.
2. Realizar serviços apenas em áreas de sua competência.
3. Emitir declarações públicas apenas de forma objetiva e verdadeira.
4. Agir para cada empregador ou cliente como um curador, no sentido de zelar pela obra.
5. Evitar atos enganosos.
6. Conduzir-se honrosamente, de forma responsável, ética e legalmente, de modo a aumentar a honra, reputação e utilidade da profissão.

Confea/CREA atualizou código de ética em 2002

Desde 1947, o código de ética dos engenheiros norte-americanos tem sofrido constantes atualizações pela NSPE. A mais recente foi publicada em abri de 2017. No Brasil, a mais nova atualização é de 2002, com entrada em vigor em 2003. O documento revisou itens da primeira edição, publicada em 1971, com o objetivo de orientar os engenheiros que entravam no mercado de trabalho no início do século 21. “O mundo do século XXI precisa estar presente em nosso aparato ético, e a atualização proporcionada pela Resolução nº 1002/2002 revigora um estatuto cuja essência permanece um símbolo da capacidade de nossos profissionais autorregularem suas demandas, em convergência com os anseios do público externo”, disse o Confea/CREA, quando da publicação do código de ética.

Em dezembro de 2014, para estar mais presente junto aos engenheiros, o organismo lançou uma versão de bolso do código de ética. O documento também passou por reforma quando houve a saída dos arquitetos da guarda do Confea/CREA, com a criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) no final de 2010. Hoje, o código de ética abrange engenheiros, agrônomos, geólogos, geógrafos e meteorologistas. Mais recentemente, em função da operação Lava Jato, que arrolou vários engenheiros em seus processos e condenações, o Confea/CREA criou um grupo de trabalho, denominado GT Ética Profissional, para preparar uma nova atualização. Um dos pontos relevantes é o artigo 75, que trata do “cancelamento de registro” em casos de “má conduta e escândalos praticados pelo profissional ou sua condenação definitiva por crime considerado infamante”. Foi concluída uma minuta que agora tramita pelos vários conselhos do Confea/CREA, mas ainda sem prazo para a atualização no código de ética.

Veja o código de ética atualizado pela NSPE

Veja o código de ética do Confea/CREA

Entrevistados
• National Society of Professional Engineers (NSPE) (
via assessoria de imprensa)
• Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) (
via assessoria de imprensa)

Contatos
pr@nspe.org
gco@confea.org.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Revestimento a base de concreto resiste a terremotos

Composto cimentício foi desenvolvido em parceria entre Canadá e Índia e as primeiras aplicações ocorrem em escolas indianas

Revestimento é pulverizado sobre uma parede de vedação convencional e transmite alta resistência aos blocos de concreto. Crédito: IS-IMPACTS/UCB
Revestimento é pulverizado sobre uma parede de vedação convencional e transmite alta resistência aos blocos de concreto. Crédito: IS-IMPACTS/UCB

A Universidade da Columbia Britânica (UCB), em Vancouver, no Canadá, desenvolveu um revestimento a base de concreto capaz de criar camadas ultrarresistentes sobre paredes de vedação. O material torna-as suficientemente fortes para suportar terremotos de até 9 graus na escala Richter. 

O concreto foi batizado de Eco-friendly Ductile Cementitious Composite (EDCC) [composto de cimento dúctil eco-amigável]. Projetado em escala molecular, e reforçado com fibras, o material tem alta maleabilidade em estado pastoso e ductibilidade comparável à do aço quando endurece. Isso permite que ele seja pulverizado sobre as paredes, facilitando sua aplicação. No entanto, a aplicação do EDCC requer que o material que irá recebê-lo possua elementos cimentícios.

Um dos pesquisadores, Salman Soleimani-Dashtaki, que faz doutorado no departamento de engenharia civil da UCB, explica que uma camada de 10 milímetros de espessura é suficiente para reforçar a maioria das paredes de vedação contra abalos. “Nos testes que realizamos, aplicamos o EDCC sobre uma parede de blocos de concreto e depois simulamos tremores. Não conseguimos quebrar o revestimento", explica.

EDCC combina Cimento Portland com fibras à base de polímeros, fly ash (cinza volante resultante da queima do carvão de termelétricas) e aditivos. "O concreto resistente ao terremoto é um ótimo exemplo de como a pesquisa aplicada em nossas universidades públicas está desenvolvendo uma geração voltada para a inovação e o empreendedorismo", avalia Melanie Mark, professora da disciplina voltada para a inovação na construção do departamento de engenharia civil da UBC.

EDCC tem múltiplas aplicações

Nemy Banthia acompanha teste sismológico aplicado sobre parede revestida com EDCC
. Crédito: IS-IMPACTS/UCB
Nemy Banthia acompanha teste sismológico aplicado sobre parede revestida com EDCC
. Crédito: IS-IMPACTS/UCB

A pesquisa foi coordenada por Nemy Banthia, também do departamento de engenharia civil da Universidade da Columbia Britânica, e financiada pelo Centro de Excelência de Pesquisa Canadá-Índia (IC-IMPACTS) hospedado pela UBC, e que funciona em parceria entre os governos do Canadá e da Índia. O valor do investimento é de US$ 60 milhões (cerca de R$ 100 milhões).

A aplicação prática do EDCC pelo IC-IMPACTS ocorreu em novembro de 2017, em uma escola na cidade indiana de Roorkee, no norte do país asiático, e que é altamente vulnerável a abalos sísmicos. O revestimento também foi aplicado em uma creche pública em Vancouver. Neste caso, para testar o desempenho acústico-térmico das paredes.

Outras obras em que o EDCC pode ser aplicado são casas em áreas sujeitas a tremores, além de oleodutos, pavimentos, plataformas offshore, estruturas resistentes a explosões e pisos industriais. "Esta tecnologia está ganhando atenção significativa na Índia e proporcionará às nossas empresas canadenses uma forte vantagem competitiva no crescente mercado global de infraestrutura", acrescenta Banthia, que também atua como diretor-científico da IC-IMPACTS.

Veja aplicação do EDCC no laboratório da UCB

Entrevistado
Engenheiro civil Nemkumar (Nemy) Banthia, Ph.D em materiais e estruturas de concreto e diretor-técnico do Centro de Excelência de Pesquisa Canadá-Índia (IC-IMPACTS)
Contato: info@apsc.ubc.ca

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Novo aeroporto de Floripa prevê execução recorde

Privatizado, e sob a gestão da Zurich Airport AG, cronograma projeta que novas estruturas estejam construídas até maio de 2019

Projeto investe maciçamente em estruturas pré-fabricadas de concreto e em elemento em aço para dar agilidade à obra. Crédito: Youtube/ Zurich Airport AG
Projeto investe maciçamente em estruturas pré-fabricadas de concreto e em elemento em aço para dar agilidade à obra. Crédito: Youtube/ Zurich Airport AG

Na mais recente pesquisa de satisfação dos passageiros, que o ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil realiza mensalmente nos 20 principais terminais aéreos do país, o Hercílio Luz, em Florianópolis-SC, recebeu a pior avaliação: 3,51. O cenário, no entanto, tende a mudar. A Zurich Airport AG, que em 2017 ganhou a licitação para administrar o aeroporto de Floripa, iniciou dia 15 de janeiro de 2018 a construção de um novo terminal, e tem pressa. O cronograma prevê que a obra estará concluída em tempo recorde, ou seja, até maio de 2019, para que possa entrar em operação até outubro de 2019.

A operadora do aeroporto da capital catarinense agora se chama Floripa Airport. Com a conclusão do projeto executivo, as obras prioritárias são: readequação da via de acesso, finalização do pátio de aeronaves, estacionamento térreo descoberto para 2.580 vagas, novo terminal de passageiros com 10 pontes de embarque (fingers), um viaduto de acesso e o aumento de acostamento em pista de pouso. As obras estão a cargo da Racional Engenharia e o projeto investe maciçamente em estruturas pré-fabricadas de concreto e elementos de aço para conseguir dar agilidade à reforma.

Dos quatro aeroportos leiloados em 2017 (Porto Alegre, Fortaleza, Salvador e Florianópolis), o de Floripa é o primeiro a entrar em obras. “Já temos os projetos executivos validados pelo cliente e seremos os primeiros entre os aeroportos concedidos no leilão a dar início às obras. Não teríamos conseguido essa antecipação se não fosse o modelo de contrato Design & Build”, ressalta Erika Matsumoto, vice-presidente da Racional Engenharia, que apostou em muita Tecnologia da Informação para cumprir o cronograma. O empreendimento está utilizando os conceitos de VDC (Virtual Design and Construction), a partir do modelo BIM (Building Information Modeling) desenvolvido exclusivamente para o projeto.

Floripa Airport confia em conclusão dentro do cronograma

Obras começaram em 1º de fevereiro de 2018 e construtora será bonificada se terminar no prazo ou antes da data definida. Crédito: Youtube/ Zurich Airport AG
Obras começaram em 15 de janeiro de 2018 e construtora será bonificada se terminar no prazo ou antes da data definida. Crédito: Youtube/ Zurich Airport AG

A construtora encampou a obra 100% e assumiu todos os projetos básicos e executivos do empreendimento, como arquitetura, fundações, estrutura, MEP (Mechanical, Electrical, and Plumbing [Mecânica, Elétrica e Hidráulica]), infraestrutura, paisagismo, mobiliário operacional, iluminação, Wayfinding (sinalização), BMS (Building Management System) e sistemas eletrônicos aeroportuários. “Estamos otimistas de que a fase de execução do projeto também será bem-sucedida e o projeto será entregue em tempo e dentro do orçamento", diz Tobias Markert, CEO da Floripa Airport.

O valor integral da obra é de R$ 500 milhões, mas o contrato de remuneração entre a Floripa Airport e a Racional Engenharia é no modelo PMG (Preço Máximo Garantido), em que a construtora recebe bônus se finalizar a construção no prazo ou antes, mas assume o ônus se ocorrer atraso. A obra envolve as seguintes áreas:
• Terminal de passageiros: 49.900,04 m²
• Central de utilidades técnicas: 656,94 m²
• Edifício Corpo de Bombeiros: 1.396,13 m²
• Área de acesso: 148,60 m²
• Viaduto: 4.589,76 m²
• Estacionamento e sistema viário interno: 105.908,46 m²
• Pátio e pistas de aeronaves: 312.795,00 m².

Veja vídeo de como ficará o aeroporto de Floripa após a reforma

Entrevistados
Racional Engenharia e Floripa Airport (
via assessorias de imprensa)

Contato: imprensa@floripa-airport.com

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330