Nascem os primeiros Robocops para a construção civil

Startups trabalham no desenvolvimento de exoesqueletos que protejam os trabalhadores da construção civil e agilizem tarefas
. Crédito: Divulgação
Startups trabalham no desenvolvimento de exoesqueletos que protejam os trabalhadores da construção civil e agilizem tarefas
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O mercado de robôs voltados para a construção civil tende a movimentar 166,4 milhões de dólares até 2023, nos Estados Unidos. Da ficção do Robocop para a realidade, a indústria da robótica avalia que conseguirá povoar os canteiros de obras investindo na tecnologia dos exoesqueletos. São equipamentos que podem revestir os operários, dando a eles a força de uma máquina. Os projetistas avaliam que empilhadeiras, pequenos tratores e guindastes, além de andaimes e escadas, poderão facilmente ser substituídos pelas armaduras robóticas.

Protótipos de exoesqueletos buscam poupar esforços com equipamentos como britadeiras, furadeiras e lixadeiras
. Crédito: Divulgação
Protótipos de exoesqueletos buscam poupar esforços com equipamentos como britadeiras, furadeiras e lixadeiras
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Nos Estados Unidos, o mercado de desenvolvimento de exoesqueletos está entregue às startups. Uma delas é a Built Robotics, cujo CEO é Noah Ready-Campbell, um ex-engenheiro da Google, que saiu da gigante de tecnologia para fundar sua empresa de inovação. Filho de construtor, ele trabalha para transformar escavadeiras, empilhadeiras e guindastes em exoesqueletos. “A ideia por trás da Built Robotics é usar a tecnologia de automação para tornar a construção mais segura, mais rápida e mais barata”, resume.

Noah Ready-Campbell não está sozinho. Há um grupo de engenheiros que abraçaram a missão de desenvolver a robótica como solução para os trabalhos de risco da construção civil. Eles não pesquisam apenas exoesqueletos, mas projetam robôs capazes de substituir o homem em funções que envolvem a construção de elementos estruturais de uma obra, como paredes, lajes, vigas e fundações. Interessadas neste mercado, gigantes como a Caterpillar já se associaram a algumas dessas startups.

Um dos desafios da robótica é conseguir criar um processo de linha de montagem para os canteiros de obras, a fim de que os robôs possam operar com a mesma eficácia já consolidada, por exemplo, na indústria automobilística. Como isso nem sempre é possível, exoesqueletos tornam-se opções mais versáteis para a construção civil. No entender dos engenheiros que atuam nessa nova revolução industrial, as futuras ferramentas vão mudar também o conceito de mão de obra na construção civil.

Canteiro de obras do futuro não está tão longe quanto se imagina

Primeiro exoesqueleto mecânico desenvolvido pela Ekso Bionics facilita o trabalho braçal no canteiro de obras
. Crédito: Ekso Bionics
Primeiro exoesqueleto mecânico desenvolvido pela Ekso Bionics facilita o trabalho braçal no canteiro de obras
. Crédito: Ekso Bionics

Atenta a esse mercado, a Ekso Bionics espera lançar até 2020 os primeiros exoesqueletos robotizados para a construção civil. A empresa é uma das pioneiras dos Estados Unidos no desenvolvimento de exoesqueletos para o mercado da medicina, cuja prioridade é ajudar na reabilitação de acidentados que perderam a mobilidade nos membros inferiores.

No entanto, de olho em um mercado interno que pode atender 11 milhões de trabalhadores - número estimado dos que atuam na construção civil dos Estados Unidos -, a Ekso Bionics criou uma divisão voltada exclusivamente para desenvolver equipamentos para o setor. No começo de junho de 2018, ela apresentou na feira Safety 2018, realizada em San Antonio, no Texas-EUA, um exoesqueleto protótipo. Batizado de EksoVest, ele alivia a sobrecarga sobre os braços para quem usa ferramentas como furadeiras e britadeiras. É o primeiro passo para o canteiro de obras do futuro.

Veja vídeo do primeiro exoesqueleto usado na construção civil

Entrevistado
Reportagem com base em artigo da revista digital ZDNet e informações da Ekso Bionics (
via departamento de comunicação)
Contato: Enquiries@eksobionics.com

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Comunicar e treinar são mantras para a gestão da obra

O canteiro de obras é um local de trabalho com peculiaridades próprias. Ao contrário dos que atuam no serviço público, na indústria ou no comércio, a construção civil opera com projetos, ou seja, tem começo, meio e fim. Boa parte dos que trabalham em ritmo de empreitada sabe que ao final do empreendimento haverá demissão de mão de obra. É diferente de uma empresa convencional, em que o funcionário é absorvido pelo complexo organizacional e segue uma estrutura de cargos e atividades. Por isso, a gestão de pessoas é diferente no canteiro de obras. Muitas vezes, a hierarquia vale menos que a forma de comunicar e de treinar a equipe. 

Segundo o consultor de empreendedorismo e gestão de negócios, Joaquim Alvarenga Neto, comunicar e treinar são mantras que fazem a diferença no canteiro de obras. “Não adianta ser um bom engenheiro ou ser um bom arquiteto se o gestor não consegue resolver conflitos que vão além do conhecimento técnico. No local da obra, o gestor de pessoas precisa ser também um gestor de conflitos, no sentido de mediar diferenças que vão desde aspectos culturais até dificuldades de convívio. Se não houver o controle, isso seguramente vai impactar na qualidade da obra. E como é que se faz esse controle? Demonstrando conhecimento e usando a comunicação como instrumento para propagar o conhecimento e formar um espírito de equipe na obra”, relata.

Palavra que melhor define gestão de pessoas em canteiro de obras é engajamento

Joaquim Alvarenga Neto reforça em palestra pública, dentro de seu canal no Youtube, que as estruturas de produção na construção civil são baseadas em equipes, onde a comunicação é o melhor instrumento para definir regras e transmitir objetivos. “A comunicação é instrumento estratégico para se alcançar o treinamento e o desenvolvimento de quem atua no canteiro de obras”, define. O consultor reforça ainda que isso vale, principalmente, para empreendimentos de médio e pequeno portes, onde o turn over (troca constante de mão de obra) é mais acentuado. “Neste tipo de obra é preciso fazer uma gestão de pessoas focando no indivíduo, a fim de motivá-lo a aderir ao espírito de equipe. Essa adesão se faz vinculando treinamento com bonificações, que muitas vezes não precisam ser financeiras, mas de cunho social”, alerta.

Se pudesse resumir em uma palavra o que é gestão de pessoas em canteiro de obras, o palestrante afirma que escolheria “engajar”. “A busca do engajamento é constante. Sob esse olhar organizacional, o gestor de pessoas dentro da obra minimiza o risco de retrabalho e de ineficiência. Também reduz o desperdício e melhora o processo produtivo. Sabendo engajar, ele chega aos pilares de qualquer modelo de gestão de pessoas, que é seguir o planejamento, manter a organização e não perder o controle”, completa Joaquim Alvarenga Neto. O consultor lembra ainda que o canteiro de obras é um local em que o trabalhador é exposto ao esforço físico e pressão psicológica. “Quem atua no canteiro precisa cumprir cronogramas apertados. Então, é sempre importante valorizar a participação e compartilhar o mérito quando uma etapa é concluída com sucesso”, finaliza.

Veja a íntegra da palestra de Joaquim Alvarenga Neto

Entrevistado
Reportagem com base em palestra do engenheiro civil, consultor de empreendedorismo e gestor de negócios Joaquim Alvarenga Neto

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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Concreteiras dos EUA abrem guerra aos prédios de madeira

Concreteiras dos Estados Unidos mostram força ao bloquear incentivos aos prédios de madeira. Crédito: NRMCA
Concreteiras dos Estados Unidos mostram força ao bloquear incentivos aos prédios de madeira. Crédito: NRMCA

Tramita no Senado dos Estados Unidos um projeto que dá incentivos fiscais para quem projetar e construir edifícios de madeira superiores a 25 metros de altura. A medida causou imediata reação da National Ready Mixed Concrete Association - NRMCA (Associação Nacional de Concreto Pré-misturado). Foi desencadeada uma campanha junto à comissão de agricultura do Senado norte-americano para que o projeto sequer seja avaliado. A alegação é de que o contribuinte não pode pagar por incentivos fiscais desta natureza, que ferem a lei de mercado dentro dos Estados Unidos. 

A NRMCA defende o veto ao projeto usando três argumentos. Primeiro, alega que construções em madeira vão incentivar a importação de matéria-prima de reflorestamento em detrimento da indústria concreteira norte-americana, o que pode desequilibrar o mercado da construção civil dos Estados Unidos. Segundo, sustentam que a madeira ajuda no equilíbrio entre emissão e sequestro de CO2, desde que ela não seja extraída da natureza. Por fim, avalia que a indústria de seguros age por trás do projeto, já que os riscos que envolvem a construção de prédios de madeira são mais elevados e, consequentemente, exigem apólices mais caras.

A NRMCA encomendou uma pesquisa ao Boston College, o qual fez cotações de seguro para hipotéticos edifícios de madeira e concreto para o relatório “Levantamento de Custos de Seguros para Edifícios Multifamiliares Construídos com Molduras de Madeira e Concreto”. O levantamento apontou que o risco para o construtor de prédios em concreto era de 22% contra 72% para o construtor de edifícios de madeira. A diferença de uma apólice para outra se dá por causa das maiores ameaças às estruturas em madeira, que são o fogo e a degradação do material.

Para o setor do concreto, estruturas de madeira trazem “custos ocultos” embutidos

Segundo o porta-voz da NRMCA, Kevin Lawlor, o estudo da Boston College mostra “os custos ocultos” que existem em edifícios de madeira. "No momento em que incêndios em edifícios residenciais se tornam recorrentes, a durabilidade do concreto resulta em uma diferença marcante em termos de custos de seguro. Os prédios em concreto possuem apólices menores porque o material não entra em combustão e suas estruturas são menos propensas a degradações ao longo da vida útil. Então, as taxas de seguro refletem essa durabilidade", diz o dirigente.

Os que defendem prédios com estruturas de madeira alegam que as edificações têm baixo impacto ambiental, se comparado com o concreto, e podem ser construídos com mais rapidez. As estruturas utilizam a tecnologia conhecida como Cross Laminated Timber (CLT) [Madeira Laminada Colada Cruzada]. Independentemente das vantagens e desvantagens, a pressão exercida pelo segmento das concreteiras fez o Senado dos Estados Unidos recuar. O projeto deixou de ser tratado com urgência pela comissão de agricultura e já não tem mais prazo para ser analisado.

Veja vídeo que a NRMCA distribuiu aos senadores dos EUA

Entrevistado
National Ready Mixed Concrete Association - NRMCA (Associação Nacional de Concreto Pré-misturado)
(via assessoria de imprensa)

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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Nova regra do distrato traz segurança às construtoras

Projeto de lei busca regulamentar o distrato e conta com apoio de organismos ligados à construção civil. Crédito: Divulgação
Projeto de lei busca regulamentar o distrato e conta com apoio de organismos ligados à construção civil. Crédito: Divulgação

No começo de junho de 2018, a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que regulamenta o distrato - quando o comprador de um imóvel, geralmente na planta, desiste do negócio. Atualmente, não há nenhuma regulamentação para esse tipo de desacordo, o que tem levado a maioria dos casos para os tribunais. Com o texto que foi aprovado, o comprador receberá 50% do que pagou, quando o imóvel estiver vinculado ao regime tributário do Patrimônio de Afetação, e 25% nos demais casos.

No entender dos organismos ligados à construção civil e ao mercado imobiliário, o setor passa a ter um novo marco regulatório que trará maior segurança na comercialização de seus empreendimentos. “Esse projeto é um avanço inegável, pois garante os direitos do consumidor que paga seu imóvel em dia e vinha sendo prejudicado pelo distrato. Além disso, devolve previsibilidade ao incorporador e reduz o litígio na compra e venda de imóveis”, afirma o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins.

O projeto ainda precisa ser aprovado no Senado para ir à sanção presidencial. Mas também protege o comprador que adquiriu o imóvel na planta, honrou seus compromissos, mas viu a construtora/incorporadora não entregar a obra no prazo determinado. Neste caso, a empresa deverá pagar multa de 1% por mês de atraso. Caso o comprador desista do imóvel, passados 180 dias da entrega prevista, ele deverá receber da construtora todo o valor pago integralmente e mais multa por atraso estipulada no contrato.

Para o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz, o projeto de lei traz mais segurança jurídica às relações que envolvem compra de imóveis. "Sem regulamentação, os distratos penalizam injustamente os empreendedores, desmotivando-os a planejar novos lançamentos e causando um risco sistêmico de grandes proporções", cita. Assim, segundo o dirigente, as regras vão trazer previsibilidade ao negócio e colaborar para desafogar o judiciário. “Os distratos têm contribuído para o desemprego na construção, colocado em risco a saúde financeira das empresas e sobrecarregando o judiciário com ações”, completa.

Se o comprador arranjar outro comprador poderá ficar livre da multa

O projeto de lei também diz que, havendo revenda do imóvel distratado antes do prazo para pagamento da restituição, a construtora/incorporadora deverá devolver o valor ao comprador em até 30 dias. Outra regra define que o comprador pode ficar isento do pagamento da multa contratual de 25% ou 50%, desde que apresente outro comprador para o imóvel objeto do distrato. Neste caso, a negociação tem que atender dois requisitos: a operação de compra e venda precisa da anuência da incorporadora e o novo comprador tem que comprovar que possui capacidade financeira para assumir o financiamento.

O substitutivo disciplina ainda a desistência da compra de imóveis realizada em estandes de venda e fora da sede do incorporador do empreendimento. Neste caso, o direito de arrependimento poderá ser exercido em sete dias, contados da compra do imóvel, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive da comissão de corretagem. Se o comprador não manifestar o arrependimento em sete dias, o contrato será considerado irretratável.

Confira o texto aprovado na Câmara dos Deputados e que seguirá para aprovação no Senado e sanção da presidência da República. Clique aqui.

Entrevistados
- Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
(via assessoria de imprensa)
- Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP)
(via assessoria de imprensa)
- Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (SECOVI-SP)
(via assessoria de imprensa)

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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Greve dos caminhoneiros passa por ferrovias inacabadas

Ferrovia Norte-Sul: sem a ligação com São Paulo, ferrovia deixa de escoar R$ 12 bilhões por ano em cargas. Crédito: Flávio Correa/VALEC
Ferrovia Norte-Sul: sem a ligação com São Paulo, ferrovia deixa de escoar R$ 12 bilhões por ano em cargas. Crédito: Flávio Correa/VALEC

A greve dos caminhoneiros, que praticamente paralisou o setor produtivo do país no mês de maio de 2018, é consequência da equivocada política de logística do Brasil, que prioriza as rodovias em vez das ferrovias. Boa parte da safra e da produção industrial brasileira poderia escoar pelos trilhos se quatro importantes eixos estivessem concluídos.

As obras estratégicas incluem a Ferrovia Transnordestina, que deveria ter 1.700 quilômetros, mas está com apenas 600 quilômetros concluídos; a Norte-Sul, que é um projeto que nasceu no governo José Sarney (1985-1989) e deveria ter 4.155 quilômetros, dos quais apenas 1.199 foram finalizados, mas com parte ainda inoperante; a Ferrovia do Aço, que completa quatro décadas sem conclusão, e a Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol), que ligaria Tocantins à Bahia, em uma extensão de 1.527 quilômetros, mas cujo traçado não avançou de 30% do projeto original.

A Transnordestina tem erros de concepção de projeto e de logística que atrasam sua conclusão. Idealizada para ligar os portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, passando pelo estado do Piauí, a ferrovia está com parte dos viadutos praticamente concluída, mas os trilhos não avançam. Outro equívoco foi ter começado a obra do interior em direção ao litoral. Se tivesse sido o contrário (litoral-interior), com 30 quilômetros construídos a obra já estaria servindo para desafogar o transporte de cargas dos municípios no entorno do porto de Suape. Orçada inicialmente em 4 bilhões de reais, a Transnordestina já consumiu 6,2 bilhões e, estima-se, pode precisar de mais de 5,5 bilhões para a conclusão.

Já a Norte-Sul também sofre com erros de planejamento. Os trechos concluídos não se interligam. Com a ferrovia picotada, o país deixa de transportar 12 bilhões de cargas por ano. O único trecho efetivamente em operação liga Porto Nacional, em Tocantins, a Anápolis, em Goiás, com baixo volume de transporte de cargas. Para se tornar lucrativa, a Norte-Sul precisa concluir os 1.537 quilômetros entre Porto Nacional e Estrela D'Oeste, no norte de São Paulo – quase na divisa com o Triângulo Mineiro. Com isso, se conectaria à malha ferroviária de São Paulo e conseguiria escoar a produção até o porto de Santos. Trata-se de uma obra que ficará para o próximo governo.

Ferrovia deveria ser concluída em mil dias, mas está inacabada há quatro décadas

Ponte sobre o rio São Francisco, da Fiol: ferrovia desperta o interesse dos chineses
. Crédito: VALEC
Ponte sobre o rio São Francisco, da Fiol: ferrovia desperta o interesse dos chineses
. Crédito: VALEC

Das estradas de ferro sem conclusão, a Ferrovia do Aço é a mais antiga. O projeto nasceu no início dos anos 1970. O objetivo era escoar o minério de Minas Gerais para Rio de Janeiro e para São Paulo. Apenas o trecho entre Itabirito-MG e Volta Redonda-RJ foi construído. O percurso entre Minas e São Paulo não foi iniciado, assim como o traçado que ligaria Itabirito a Belo Horizonte-MG. Ironicamente, a ferrovia recebeu o apelido de “Ferrovia dos Mil Dias”, pois a previsão era de que fosse concluída em três anos. Já se passaram quatro décadas.

A Fiol começou a ser construída em 2011. A ferrovia era uma das obras estratégicas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), mas os trilhos não chegaram sequer a ultrapassar o território da Bahia. O projeto original ligaria o porto de Ilhéus a Figueirópolis, no Tocantins, em uma extensão de 1.526 quilômetros. Atualmente, o canteiro de obras da Fiol encontra-se praticamente desativado. Desde 2015, o ritmo veio desacelerando por falta de recursos. O orçamento original do projeto foi estimado em 6,4 bilhões de reais. A ferrovia desperta o interesse de investidores chineses, que buscam uma alternativa ao Canal do Panamá como ligação entre o Atlântico e o Pacífico.

Entrevistado
Comissão Especial de Obras Inacabadas do Senado Federal
(via assessoria de imprensa)

Contato: imprensasenado@senado.leg.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Cresce uso de paredes de concreto entre países latinos

Já consolidada no Brasil, tecnologia avança também no México, na Costa Rica, na Colômbia, na Bolívia e no Chile. Crédito: Divulgação
Já consolidada no Brasil, tecnologia avança também no México, na Costa Rica, na Colômbia, na Bolívia e no Chile. Crédito: Divulgação

Nos dias 4 e 5 de junho, a cidade de Salvador-BA recebeu o II Congresso Iberoamericano de Habitação. O evento ocorre de três em três anos e abrange as tecnologias construtivas em uso no continente para a construção de casas e edifícios habitacionais. O tema deste ano foi paredes de concreto. O sistema ganha cada vez mais adesão entre os países latino-americanos, por duas razões: durabilidade e rapidez na execução da obra. Já consolidada no Brasil, no que se refere a habitações que atendem o programa Minha Casa Minha Vida, a tecnologia também começa a ser dominante no México, na Costa Rica, na Colômbia, na Bolívia e no Chile.

O evento realizado na capital da Bahia contou com o apoio da Associação Brasileira das Empresas de Serviço de Concretagem (Abesc). O presidente e o consultor da associação, Jairo Abud e Arcindo Vaquero, lembraram que o sistema de paredes de concreto consolidou-se no Brasil por que a Abesc, em conjunto com a ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), fomentou o núcleo Paredes de Concreto, formado em 2007, para unir as empresas do setor e propagar a tecnologia. O objetivo era alcançar o processo de industrialização na construção de moradias, o que parece ter sido atingido.

Atualmente, o núcleo Paredes de Concreto afirma com segurança que o sistema construtivo absorve 20% menos mão de obra, é 30% mais barato e permite construir na metade do tempo consumido pela alvenaria convencional e pela alvenaria estrutural. Não é à toa que o sistema construtivo já é o mais usado no programa Minha Casa Minha Vida. Dados da Caixa Econômica Federal de 2016 revelam que, naquele ano, a tecnologia foi predominante em 52% dos projetos apresentados ao banco para captação de recursos. A adesão às paredes de concreto cresceu rapidamente, já que em 2014 apenas 36% das unidades produzidas com recursos da Caixa utilizavam o sistema.

Experiências bem-sucedidas no Brasil inspiram demais nações do continente

No Brasil, as paredes de concreto ganharam impulso com a ABNT NBR 16475 (Painéis de parede de concreto pré-moldado – requisitos e procedimentos), publicada em março de 2017. A norma técnica adaptou o sistema às exigências da ABNT NBR 15575 (Edificações Habitacionais – Desempenho) melhorando, principalmente, o desempenho térmico e acústico das construções que utilizam a tecnologia. O sistema também ganhou no SINAT (Sistema Nacional de Avaliações Técnicas) dois Datecs (documentação de avaliação técnica) que comprovam e atestam o atendimento aos requisitos da Norma de Desempenho.

As experiências bem-sucedidas do Brasil com as construções em paredes de concreto despertaram o interesse de construtores latino-americanos que estiveram no II Congresso Iberoamericano de Habitação. No evento, todo o conhecimento acumulado pelo núcleo Paredes de Concreto foi repassado aos participantes, como forma de compartilhar a técnica e propagar o método por todo continente. Segundo Ary Fonseca Júnior, coordenador do núcleo, as empresas já perceberam que o sistema parede de concreto é importante para o seu próprio negócio. Por um simples motivo, diz: a tecnologia reflete positivamente no resultado da construtora.

Entrevistado
Reportagem com base nos painéis realizados no II Congresso Iberoamericano de Habitação

Contato
congresovivienda2018@ficem.org

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Pequenos fornecedores devem evitar práticas predatórias

Quando o produto e o serviço são bons, construtoras satisfeitas não observam apenas o preço. Crédito: Divulgação
Quando o produto e o serviço são bons, construtoras satisfeitas não observam apenas o preço. Crédito: Divulgação

Em um ambiente de poucas obras, os pequenos fornecedores de material de construção ficaram sem margem para barganhar preços com construtoras. Neste caso, o que fazer? Especialistas recomendam aos empresários não adotarem práticas predatórias, sob a alegação de que podem perder o negócio. A medida pode trazer ganho momentâneo, mas tende a impactar na receita e no futuro da empresa. O recomendável, alertam, é investir na qualidade e em contrapartidas técnicas, tanto para quem atua no segmento de produtos quanto no de serviços.

As contrapartidas técnicas podem ser viabilizadas de duas formas: na primeira, o próprio fornecedor busca agregar novas tecnologias aos seus produtos. Como nem sempre há recursos para esse tipo de investimento, a alternativa para o pequeno fornecedor é definir parcerias com as construtoras de maior porte. Essas empresas podem viabilizar o acesso a laboratórios, universidades e associações que fomentam pesquisas e possuem equipes que conseguem transferir conhecimento para os fabricantes de materiais de construção ou prestadores de serviço para a construção civil.

O objetivo destas parcerias é agregar valor ao produto, a fim de que ele siga competitivo no mercado. Da mesma forma, serve para preservar a fidelidade dos clientes mais relevantes para o negócio. Entre os pequenos fornecedores, é comum existirem um ou dois compradores estratégicos, que muitas vezes consomem até 80% da produção mensal da empresa. Em tempos de crise, empresas com essas características precisam cuidar para que seu volume de vendas não fique abaixo de 50% ao mês. Se isso ocorrer, especialistas alertam que o risco de o pequeno fornecedor ou prestador de serviço não ter condições de honrar seus compromissos são grandes.    

Compartilhar logística, armazenamento e mão de obra também é alternativa

Doutor em engenharia civil e professor-doutor da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp, Paulo Sérgio de Arruda Ignácio pondera que, em momentos de baixa demanda, buscar reduzir os desperdícios também contribui para que o fornecedor mantenha a saúde de seus negócios. Ele sugere que parte dessa economia pode vir da logística. De que forma? Quando a rota entre o canteiro de obras e de mais de um fornecedor estiver no mesmo trajeto, o professor sugere que apenas um veículo seja utilizado para transportar os materiais. O mesmo tipo de economia vale para o transporte da mão de obra, no caso dos prestadores de serviço.

O professor da Unicamp define essa estratégia como compartilhamento, que pode se estender também às áreas de armazenamento. Ele cita que um fornecedor localizado mais perto do canteiro de obras da construtora pode servir de ponto estratégico para que outros fornecedores armazenem seus produtos em seu terreno. Desta forma, explica, as distâncias encurtam e, consequentemente, os gastos com transporte também. Para Paulo Sérgio de Arruda Ignácio, atuar em pool é uma alternativa que estimula o ganha-ganha entre os pequenos fornecedores. O especialista finaliza dizendo que o mesmo procedimento pode ser feito com a mão de obra entre os prestadores de serviço.

Entrevistado
Reportagem com base em entrevista do professor-doutor Paulo Sérgio de Arruda Ignácio ao Construcompras. Titular da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp, o profissional tem formação em engenharia de produção e doutorado em engenharia civil

Contato
paulo.ignacio@fca.unicamp.br
www.fca.unicamp.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Brasil terá centro de P&D para via Hyperloop

Estruturas do Hyperloop de Abu Dhabi são fabricadas em Toulouse, na França. Crédito: Hyperloop TT
Estruturas do Hyperloop de Abu Dhabi são fabricadas em Toulouse, na França. Crédito: Hyperloop TT

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Hyperloop Transportation Technologies (Hyperloop TT) firmaram parceria para instalar um centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em Contagem-MG, a fim de construir a primeira via Hyperloop no país. O sistema opera sobre plataformas elevadas construídas com concreto pré-moldado, onde são assentados os tubos pelos quais trafegam as cápsulas que podem transportar tanto pessoas quanto cargas.

A tecnologia usa levitação magnética e ausência de atrito com o ar. Com o acordo, o Brasil será um dos 40 países que já trabalham em cima da nova tecnologia e, consequentemente, candidata-se a receber uma via do transporte futurista, que atinge velocidade equivalente à do som (1.234 km/h). O sistema Hyperloop foi idealizado em 2013 pelo empresário Elon Musk, dono da Tesla e do SpaceX.  Em 2014, o megaempreendedor liberou a patente da tecnologia para que outras empresas pudessem desenvolvê-las.

Segundo o presidente da ABDI, Guto Ferreira, o objetivo é aproximar a Hyperloop de instituições brasileiras de pesquisa para desenvolver tecnologias e alternativas ao atual sistema de transporte de carga, baseado em rodovias, e que acarreta custo elevado para o país. “Transporte e logística são gargalos importantes que o Brasil precisa resolver para impactar positivamente o conjunto da economia”, diz Ferreira.

Junto com o centro de P&D, será desenvolvida no Brasil a Hyperloop Academy, para buscar parcerias com universidades, outros centros de P&D e startups brasileiras. A escolha de Contagem-MG está relacionada ao apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e da prefeitura de Contagem. O acordo foi consolidado por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP), com investimento de R$ 26 milhões.

Primeiro Hyperloop do mundo terá 10 quilômetros e será inaugurado em 2020. Crédito: Hyperloop TT
Primeiro Hyperloop do mundo terá 10 quilômetros e será inaugurado em 2020. Crédito: Hyperloop TT

Primeira via Hyperloop do mundo será inaugurada em 2020, em Abu Dhabi

Além disso, o município mineiro cederá uma área construída de 22 mil m2 para abrigar a divisão de pesquisas da companhia e um laboratório para a fabricação da primeira via Hyperloop brasileira. A previsão é de que o centro de P&D comece a operar no final de 2018. "Minas Gerais e o município de Contagem são um dos centros de distribuição de carga mais importantes para o Brasil. A posição geográfica estratégica nos estimulou a montar o primeiro centro de pesquisa da Hyperloop TT no país", afirma o presidente da empresa, Bibop Gresta.

A primeira via Hyperloop do mundo está em construção em Abu Dhabi e deve ser concluída até 2020. Ela vai ligar a região próxima da fronteira com Dubai ao aeroporto Internacional Al Maktoum. O trecho terá 10 quilômetros e o protótipo está em construção na cidade de Toulouse, na França, para ser levado aos Emirados Árabes. O sistema será alimentado por painéis solares instalados ao longo das linhas e estações.

Uma das missões dos engenheiros envolvidos no projeto é pesquisar um concreto de alta resistência que suporte o sistema de transporte. O projeto prevê que as cápsulas corram dentro de túneis de aço sustentados por elementos pré-moldados, numa arquitetura que lembra os monotrilhos e os metrôs de superfície.

Cápsulas trafegam dentro de tubos, por levitação magnética e ausência de atrito com o ar. Crédito: Hyperloop TT
Cápsulas trafegam dentro de tubos, por levitação magnética e ausência de atrito com o ar. Crédito: Hyperloop TT

Entrevistado
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)
(via assessoria de imprensa)

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abdi@abdi.com.br 

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Na construção, tecnologia 3D chega lentamente ao Brasil

Maquetes que utilizam gesso como material são o primeiro passo da impressão 3D no Brasil. Crédito: ZPrint
Maquetes que utilizam gesso como material são o primeiro passo da impressão 3D no Brasil. Crédito: ZPrint

No mundo, a impressão 3D já movimenta um mercado de 35 bilhões de dólares. Um dos setores que usufrui desta tecnologia é a construção civil. No Brasil, equipamentos capazes de moldar de artefatos a casas começam a ser apresentados ao mercado, ainda que lentamente. Por enquanto, o segmento de maquetes é o primeiro a se beneficiar da tecnologia, já que máquinas conseguem imprimir em gesso, em tempo recorde e com muito mais precisão as miniaturas.

Existem também as impressões 3D em nylon, como explica Tiago Ferraz de Barros, gerente de marketing para a América Latina da 3D Systems. “As impressões em gesso servem para modelos visuais completos, sendo ideais para apresentar conceitos e para a aprovação de projetos. Já as impressões em nylon, na tecnologia SLS, permitem criar modelos com resistência e boa resolução, podendo ser usados para testar projetos funcionais”, diz.

Por sua capacidade ilimitada de reproduzir qualquer objeto, as impressoras 3D também possibilitam que os engenheiros criem novos projetos, testando materiais mais leves, flexíveis e resistentes. Porém, apesar de toda a potencialidade da tecnologia, ela ainda é pouco explorada pela construção civil brasileira. “A impressão 3D amplia o leque de possibilidades dentro dos projetos, principalmente se eles estiverem ligados ao uso do BIM”, destaca Tiago Ferraz de Barros.

A quebra de patente da impressão 3D, ocorrida em 2014, passou a tornar a tecnologia cada vez mais popular e com custos cada vez mais palpáveis. Atualmente, existem impressoras cujos preços variam de 500 dólares a 20 mil dólares. A viabilidade econômica passou a gerar uma série de startups vinculadas à tecnologia, inclusive dentro da construção civil. Porém, o setor ainda perde para outros segmentos em que a impressão 3D já está completamente agregada ao dia a dia das pesquisas e do desenvolvimento de projetos e materiais.

Carga tributária nacional é um dos obstáculos para a impressão 3D

Entre eles, o aeroespacial, onde a tecnologia possibilita a produção de peças de alta performance e resistência. A medicina também se beneficia intensamente das impressões 3D, criando próteses e órteses cada vez mais eficazes e adaptadas ao corpo humano. O mesmo ocorre com a odontologia, o setor automotivo, a moda e a indústria plástica.

Na construção civil, o país que lidera a tecnologia 3D é a Holanda. Em 2017, os holandeses produziram a primeira obra de infraestrutura usando a tecnologia: uma ponte na região rural de Gemert, no norte do país. Impulsionada pelas pesquisas desenvolvidas dentro da Universidade Tecnológica de Eindhoven, a Holanda se prepara para construir condomínios de casas com impressão 3D em concreto.

As unidades terão uma arquitetura futurista, com formatos curvos. Batizado de Project Milestones, o condomínio tem incentivos fiscais da autoridade municipal de Eindhoven. Diferentemente do Brasil, onde a carga tributária para a importação da tecnologia 3D ainda é proibitiva, incidindo tributos como ICMS, ISS e IPI sobre produtos impressos em três dimensões. 

Entrevistados
Universidade Tecnológica de Eindhoven, BAM Infra e 3D Systems
(via assessorias de comunicação)

Contato
info@tue.nl
info.infra@bam.com
press@3dsystems.com

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

Norma de Desempenho entrará em processo de revisão

Maria Angélica Covelo Silva apresentou a proposta de revisão no 90º ENIC: meta é que a nova ABNT NBR 15575 entre em vigor em 2019. Crédito: ENIC/CBIC
Maria Angélica Covelo Silva apresentou a proposta de revisão no 90º ENIC: meta é que a nova ABNT NBR 15575 entre em vigor em 2019. Crédito: ENIC/CBIC

Publicada em 19 de julho de 2013, a ABNT NBR 15575 - Norma de Desempenho de Edificações - vai entrar em processo de revisão. A engenheira civil Maria Angélica Covelo Silva, que acompanhou todo o processo de elaboração da norma técnica, assim como sua implantação, entregou formalmente, no 90° ENIC (Encontro Nacional da Indústria da Construção), o pedido de abertura de processo de revisão à direção da ABNT. Segundo ela, a revisão vai partir de um levantamento efetuado em conjunto pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), pelo SENAI Nacional, pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) e pelo Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP). O foco da revisão estará em aspectos como segurança contra incêndio, desempenho térmico, lumínico, acústico e durabilidade. Para cada um deles, um conjunto de ajustes e avanços necessários foi identificado, envolvendo aspectos como a definição de conceitos, atualização de normas referenciadas e a harmonização com outras normas e legislações. Na entrevista a seguir, Maria Angélica Covelo Silva explica os principais pontos da revisão. Confira:

Recentemente, no 90º ENIC, a senhora abordou a revisão da Norma de Desempenho (ABNT NBR 15575). Como está esse processo de revisão?

Como a norma completa em 19 de julho cinco anos em vigor, partiu da CBIC, SENAI, SindusCon-SP e Secovi-SP a iniciativa de fazer um trabalho de levantamento das necessidades de revisão face à experiência dos diversos agentes da construção civil desde 2013. Este levantamento foi realizado sob minha coordenação técnica, mas com a coordenação-geral da COMAT (Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da CBIC) e do SindusCon-SP, além de amplo envolvimento das entidades representativas das áreas de projeto, fabricação de materiais e sistemas e construção, assim como instituições de pesquisa. Uma vez organizadas as necessidades identificadas, isso permitiu planejar a melhor forma de realizar o processo de revisão. Assim, com este planejamento, se espera que seja um processo objetivo e diretamente focado nos pontos que requerem aperfeiçoamento, com o princípio básico de não se alterar parâmetros e critérios, mas de focar na precisão, clareza e adequação às práticas dos diversos processos produtivos envolvidos.

Quando deve ser instalada comissão de revisão e quem vai coordená-la?

A instalação está prevista para o mês de agosto, o que ainda vai ser confirmado por solicitação das entidades à ABNT. A coordenação de uma comissão de estudos só é definida na instalação dela.

A senhora participará do processo de revisão? Caso sim, de que forma?

Sem dúvida participarei, pois a comissão de estudos requer contribuição de todos os profissionais do setor que têm vivência no tema. A princípio serei uma participante da comissão, contribuindo com minha experiência como consultora na aplicação da norma.

O estudo técnico da CBIC, do SENAI, do SindusCon-SP e do Secovi-SP vai nortear a revisão?

Na verdade não é um estudo técnico. Como mencionei, estas entidades tomaram a iniciativa de levantar de forma organizada as necessidades apontadas por especialistas, projetistas, consultores, pesquisadores, profissionais de empresas incorporadoras e construtoras, a fim de elaborar documentos que identificam melhorias a serem propostas na comissão de estudos. Não é possível listar aqui os principais pontos, pois são detalhes técnicos que não podem ser resumidos. Podemos dizer apenas que nos debruçamos neste trabalho, de forma mais detalhada, nos requisitos de segurança contra incêndio, desempenho térmico, desempenho lumínico e desempenho acústico. Além disso, numa iniciativa da Escola Politécnica da USP, sob a coordenação do professor-doutor Vanderley John, as entidades apoiaram também a análise do requisito de durabilidade em workshop específico. 

Qual balanço a senhora faz da Norma de Desempenho nestes cinco anos?

Ela foi um importante avanço para o setor, na medida em que incorporou requisitos e critérios que definem o que é qualidade de empreendimentos habitacionais. Isso possibilitou nivelar o mercado com base no comportamento das edificações em relação a requisitos que são internacionalmente definidos como aqueles que as edificações precisam apresentar quanto à segurança, habitabilidade e sustentabilidade. Embora toda a base conceitual venha de normas ISO, publicadas desde a década de 1980, a ABNT NBR 15575 foi objeto de grande discussão e avaliação para a nossa realidade, tendo resultado em uma norma totalmente moldada às nossas práticas no Brasil. Por outro lado, o mercado brasileiro de produção habitacional ainda não a incorporou por inteiro e levará algum tempo para uma maior homogeneidade em sua aplicação. Mas é uma questão de tempo para ela se tornar natural para todos e poder balizar melhor o mercado, tanto do ponto de vista competitivo do setor, gerando competição saudável quando se baliza os empreendimentos por suas características, quanto pelo lado do usuário, que vai encontrar produtos imobiliários mais uniformes naquilo que é o desempenho mínimo definido pela norma.

Em sua exposição sobre a norma, no ENIC, a senhora disse que é necessário “revisar a redação em itens onde há necessidade de maior clareza e precisão”. A norma ainda suscita problemas de interpretação?

Sim, percebemos que há interpretações diferentes do que foi o objetivo do requisito em alguns itens da norma e, ao analisar o texto, é possível constatar que dá margem para interpretações diferentes.

O desaquecimento que a construção civil experimentou recentemente causou algum impacto na absorção da Norma de Desempenho pelo mercado?

Para empresas que não haviam trabalhado ainda para incorporar os requisitos em seus projetos e produtos, no caso da indústria, o desaquecimento fez postergar as ações necessárias. Há necessidade de dedicação de profissionais e outras implicações para atender a norma, seja nos empreendimentos, seja para quem projeta ou fabrica sistemas e componentes. Para quem não se mobilizou para isso na época da publicação da norma, houve sim impacto.

Em termos de programa Minha Casa Minha Vida, a Norma de Desempenho foi absorvida nestes cinco anos?

Do ponto de vista de adequação das especificações e requisitos do ministério das Cidades, para que os empreendimentos do programa atendam a norma, sim. Houve a adequação dos Programas Setoriais da Qualidade e do SiAC do PBQP-H, que incorporou a necessidade das construtoras evidenciarem em seus sistemas da qualidade o atendimento à norma. Desde então, as empresas que desenvolvem empreendimentos no programa Minha Casa Minha Vida vêm sendo levadas a demonstrarem o atendimento à norma. Mas não se pode dizer ainda que todas integralmente estejam já prontas em todos os requisitos, pois há diferenças regionais grandes quanto à disponibilidade de recursos técnicos e até de postura e planejamento de cada empresa para cumprir a norma.

Existe expectativa de quando o texto revisado da norma deverá entrar em vigor e, entrando em vigor, qual o impacto que causará na construção civil?

O trabalho todo está sendo planejado para que a revisão esteja concluída no primeiro  semestre de 2019. Então será uma questão de prazos de consulta nacional e publicação, mas espera-se concluir tudo dentro do ano de 2019. Não se espera impacto no sentido de mudar o que ela tem hoje. O impacto que se espera é no sentido de dar mais clareza, de facilitar o entendimento, a aplicação e a adequação às práticas técnicas, assim como os processos de produção que temos no mercado.

Entrevistada
Engenheira civil Maria Angélica Covelo Silva, mestre e doutora em engenharia, diretora da NGI Consultoria e Desenvolvimento

Contato
ngi@ngiconsultoria.com.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330