Meta do gestor é alcançar a qualidade técnica da obra
Qualidade é um conceito subjetivo. Por isso, o gestor da obra não deve ter o foco no que o cliente avalia como qualidade, mas sim na qualidade técnica. Se o engenheiro civil ou o arquiteto buscarem a satisfação plena do cliente, eles podem colocar em risco o orçamento da obra e, consequentemente, a saúde financeira da construtora, pois as chances de extrapolar os custos são muito prováveis.
Para evitar esse erro, é importante priorizar o conjunto que engloba projeto, execução, materiais certificados e normalização. “A soma desses processos é que define a qualidade técnica”, explica o engenheiro civil e professor-doutor Tadeu de Souza Oliveira, titular da pós-graduação em engenharia civil da UniSociesc, em Florianópolis-SC.
Portanto, buscar a qualidade técnica significa construir empregando materiais certificados e adequados ao que está definido em projeto, cumprir o que determinam as normas técnicas e utilizar mão de obra que domine o sistema construtivo vigente. “Ao alcançar a qualidade técnica, certamente será atingido o grau de satisfação do cliente”, diz Tadeu de Souza Oliveira.
Em suas palestras sobre gerenciamento de obras, o professor-doutor lembra que qualidade técnica se atinge aprimorando processos. Por isso, ressalta, é importante fomentar dados durante a execução da obra, para que ela possa ser comparada após a ocupação do empreendimento. “O grande teste da qualidade técnica ocorre quando se verifica o desempenho do edifício após o Habite-se”, afirma.
Evolução dos materiais e dos processos construtivos melhora a qualidade técnica da obra
Na opinião do especialista, a construtora que organiza sua base de dados tende a construir um produto melhor que o outro. “A obra anterior produz dados para o aprimoramento da obra seguinte. Além disso, como uma edificação leva anos para ser concluída, as mudanças tecnológicas que ocorrem neste período podem ser agregadas na construção que vem a seguir. Os materiais evoluem, assim como os processos de construção, e isso ajuda a melhorar a qualidade técnica da obra”, destaca.
Para Tadeu de Souza Oliveira, o gestor de obras deve atender sete requisitos básicos:
- Dominar ferramentas e métodos de contabilidade, gestão de recursos humanos e de administração aplicados na gestão de canteiros de obras;
- Praticar procedimentos e metodologias de eficiência energética em canteiros de obras;
- Saber gerenciar situações práticas dos processos da construção civil em nível de canteiro de obras, com vistas na produtividade e rentabilidade econômica e financeira;
- Possuir habilitação para organizar processos de licitação de obras públicas, bem como gerenciar e fiscalizar a execução dos respectivos projetos;
- Aplicar métodos gerenciais focados em controle de custos, qualidade e inovação tecnológica;
- Estar atualizado quanto aos processos de sustentabilidade no canteiro de obras;
- Ser preciso na avaliação pós-ocupacional e saber interpretar os indicadores de qualidade que ela oferece.
Veja a palestra “Gerenciamento e qualidade de obras na construção civil”
Entrevistado
Reportagem com base na palestra “Gerenciamento e qualidade de obras na construção civil”, do engenheiro civil e professor-doutor Tadeu de Souza Oliveira
Contato: tadeu.oliveira@unisociesc.org.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Nova sede da Nike desafia as da Google e da Apple
As sedes da Google e da Apple, ambas na Califórnia, nos Estados Unidos, estão entre as construções mais inovadoras do mundo. Mas ter prédios corporativos que são referência para a engenharia civil e a arquitetura não são privilégio das empresas de tecnologia. Que o diga a Nike, que está perto de inaugurar sua nova sede mundial, em Oregon-EUA. As obras começaram em 2016 e a previsão é que a inauguração ocorra entre o final de 2018 e o início de 2019. Quando pronta, a edificação agregará uma série de soluções arquitetônicas inéditas.
Assinado por três renomados escritórios - ZGF Architects, SRG Partnership e Skylab Architecture -, a sede da gigante de materiais esportivos foi batizada de Campus. Não à toa. O complexo de um bilhão de dólares terá prédios conectados, e que funcionarão como uma universidade do esporte. Neles, a Nike pretende formar pesquisadores, testar equipamentos em laboratórios e criar produtos cada vez mais personalizados, principalmente para os atletas por ela patrocinados.
O projeto da nova sede da Nike atende requisitos da certificação LEED Platinum. Alguns dos aspectos sustentáveis do Campus incluem iluminação diurna natural dos prédios, vigas de concreto aparente que permitem a circulação de água, a fim de refrigerar as instalações, dispensando onerosos sistemas de ar-condicionado, além de uma estação de tratamento de águas cinzas para utilizá-las nas instalações hidrossanitárias dos banheiros e no paisagismo que envolve o Campus.
Para a Nike, o novo complexo corporativo representa também sua evolução como indústria de equipamentos esportivos. Fundada em 1964, ela iniciou a internacionalização de sua marca em 1984, quando inaugurou a sede da Nike World no edifício One Bowerman Drive, em Beaverton, no Oregon-EUA. O prédio homenageia seu fundador - Bill Bowerman. Em 2001, já transformada em uma multinacional, a Nike construiu novas sedes em Boston-EUA, em Xangai, na China, e em Milão, na Itália.
Cada prédio receberá o nome de um atleta patrocinado pela marca
No Campus, cada prédio receberá o nome de um atleta famoso patrocinado pela Nike. Dois já foram homenageados: a tenista Serena Williams e o ex-atleta Sebastian Coe, campeão olímpico e presidente do comitê que organizou os jogos olímpicos de 2012, em Londres. Em sua apresentação, a Nike fala da identidade dos prédios com as personalidades esportivas. “A arquitetura em si foi inspirada pelo movimento, enquanto os novos espaços de trabalho permitem que os funcionários continuem a imaginar, a inventar e a projetar o futuro do esporte em um ritmo cada vez mais acelerado”, diz.
Para que projetos de novos artigos esportivos possam surgir, a Nike não dará atenção apenas aos atletas de ponta patrocinados por ela. O Campus, cuja extensão engloba uma área de 300 mil m2, será também um parque linear para ser frequentado por crianças, jovens e adultos. Ao longo do espaço haverá quadras esportivas, pistas para correr e caminhar e equipamentos para manter a boa forma. Será a oportunidade que os pesquisadores terão para ver quais os desafios que o cidadão comum impõe a todo o aparato tecnológico que a empresa terá em sua nova sede para produzir seus artigos esportivos.
Faça um sobrevoo sobre a nova sede da Nike
Entrevistado
Nike.Inc (via assessoria de imprensa)
Contato: media.relations@nike.com
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Não é preciso ir à Justiça para resolver conflitos na obra
Estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que a gestão de terceiros é atualmente um dos principais desafios das construtoras. Empreendimentos de porte médio chegam a envolver mais de 20 prestadoras de serviço no canteiro de obras. Por isso, as chances de acontecerem conflitos são grandes. Na maioria das vezes, prazo da entrega e qualidade do trabalho são os pontos que mais geram divergências. Há casos mais graves em que os desentendimentos forçam o rompimento de contratos e paralisam a obra, gerando demandas judiciais que podem levar anos para serem resolvidas.
Segundo o gestor de suprimentos, Carlos Eduardo Denadai, o acordo amigável é a melhor solução. Por dois motivos: poupam tempo e geram menores impactos financeiros para os dois lados - gestor da obra e prestador de serviço. Mas para que o acordo não resulte em questionamentos futuros do prestador de serviço, e esse não bata às portas da justiça, o especialista destaca que é preciso atenção ao encerramento dos contratos. “A obra é realizada por etapas. Então, se já terminou a fundação, se já terminou a terraplanagem, é preciso exigir do prestador um termo de quitação do contrato. Com esse termo de encerramento de contrato, ele não poderá alegar que ficou faltando um aditivo ou algo parecido”, diz.
Para se chegar a uma boa quitação de contrato é necessário fazer uma boa gestão do contrato. “Os fornecimentos de serviços, de mão de obra, de equipamentos e de material de construção precisam de acompanhamento constante. O gestor da obra deve fazer isso, no mínimo, semanalmente, para repetir o processo quinzenalmente e mensalmente”, alerta Carlos Eduardo Denadai. Isso não apenas permite o controle dos contratos como o estabelecimento de estratégias de negociação. “É aqui que o gestor estabelece uma nova política de preço com determinado fornecedor ou até busca um novo fornecedor, se for o caso”, destaca.
Avaliação contínua de fornecedores deve ter como objeto o foco no resultado
Para não correr riscos contratuais, é importante também que a construtora, através de sua gestão de suprimentos, faça a avaliação contínua de fornecedores. “Esse não é um trabalho simples, pois ela mostra situações indesejadas e enxerga as falhas de contratação. Mas é importante que isso seja mostrado, por duas razões: corrigir falhas do fornecedor ou substituí-lo, se for o caso”, comenta Carlos Eduardo Denadai. “Hoje não dá mais para o construtor encontrar o fornecedor na assinatura do contrato e depois só vê-lo novamente na próxima concorrência. Isso esta fadado ao insucesso. É preciso estar junto com o fornecedor ao longo de todo o andamento da obra”, ressalta.
Por fim, o especialista reforça que tudo o que se almeja alcançar, no que se refere a ter prestadores de serviço e fornecedores que não tragam problemas, mas que atuem em conjunto para buscar a qualidade da obra, é a performance. “Hoje uma obra necessita ter foco no resultado, e todos os envolvidos precisam estar conscientes disso”, finaliza.
Veja palestra de Carlos Eduardo Denadai
Entrevistado
Reportagem com base em palestra do engenheiro civil Carlos Eduardo Denadai no Fórum de Compras e Engenharia de Suprimentos na Construção Civil
Contato: cursos@pini.com.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Boa concretagem não se limita à qualidade do concreto
O concreto chega ao canteiro de obras com suas características preservadas e atendendo todas as especificações de projeto. Passa nos ensaios, mas, no entanto, as fôrmas não estão devidamente limpas ou há problemas no nivelamento da “caixaria”. São erros que podem comprometer a concretagem, mesmo com o material seguindo todos os parâmetros.
Outra falha que a equipe da obra tende a cometer é querer concretar com chuva, o que coloca em risco a cura do concreto, assim como a concretagem em temperaturas acima de 30 °C, a qual também exige cuidados especiais. Tem ainda a equipe apressada, que decide iniciar o processo de desforma sem a cura inicial ter sido concluída ou, mesmo com a cura inicial permitindo a retirada das fôrmas, o procedimento de retirada acaba não sendo adequado.
Mais um erro que pode comprometer a concretagem é não respeitar o escoramento mínimo ou não reparar as falhas conhecidas como bicheiras. Para se evitar esse e os outros defeitos citados anteriormente é necessário se observar os procedimentos de pré e pós-concretagem. Para que o material atinja o desempenho idealizado em projeto, é importante que todas as etapas atendam os protocolos definidos em normas técnicas.
Em seu “Manual do Concreto Dosado em Central”, a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (ABESC) define que “a obtenção de um concreto com qualidade requer uma série de cuidados”. Esses cuidados, a ABESC nomeia como plano de concretagem, ou seja, “um conjunto de medidas a serem tomadas antes do lançamento do concreto para assegurar a qualidade da peça a ser concretada”.
Linha de orientação da ABESC é reforçada por palestra da Cia. de Cimento Itambé
A ABESC alerta também para as patologias que podem ser desencadeadas quando não observados os cuidados durante a pré e a pós-concretagem. O documento segue a mesma linha de orientação da palestra que a Cia. de Cimento Itambé promove sobre concretar com Cimento Portland. Nela, a assessoria técnica da empresa destaca que a boa concretagem passa pelo seguinte roteiro:
- Qualidade dos materiais componentes
- Estudo de dosagem no laboratório
- Eficiência dos equipamentos de produção
- Treinamento dos colaboradores
- Transporte em estado fresco
- Lançamento bem planejado
- Adensamento com equipamento adequado
- Cura
- Descimbramento
- Transporte do concreto seco
Diante de todos esses cuidados, a ABESC destaca em seu manual o seguinte alerta: “O controle do concreto no seu estado fresco é de vital importância para garantir suas propriedades no estado endurecido. Um dos grandes desafios dos tecnologistas de concreto é compatibilizar o desempenho do concreto desenvolvido em laboratório com aquele entregue na obra. Isto porque estes concretos estão sujeitos a formas diferentes de manuseio, transporte, lançamento, adensamento e cura. Logo, a garantia da qualidade do CDC (Concreto Dosado em Central) depende diretamente de uma aplicação efetuada de acordo com práticas recomendas e com a normalização técnica vigente.”
Veja o conteúdo da palestra concreto com Cimento Portland. Clique aqui.
Acesse o Manual do Concreto Dosado em Central, da ABESC.
Entrevistado
Reportagem com base no conteúdo do Manual do Concreto Dosado em Central, da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (ABESC) e na palestra sobre “Concreto com Cimento Portland”, da Cia. de Cimento Itambé
Contatos
abesc@abesc.org.br
asstec@cimentoitambe.com.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Setor residencial domina ranking das 100 maiores
Uma tendência que se verifica desde 2014, agora é dominante no ranking das 100 maiores construtoras do Brasil: as empresas que se dedicam ao segmento de obras residenciais (prédios e condomínios de casas) passaram a ser maioria entre as listadas, além de também predominarem no topo do ranking. Em sua 14ª edição, o levantamento da consultoria ITC (Informações Técnicas da Construção) faz essa constatação. Entre as 10 empresas que mais construíram em 2017 – ano que serve de base de dados para o ranking de 2018 – todas têm como vocação empreender no setor habitacional.
O levantamento considera a quantidade de metros quadrados construídos, o estágio das obras e o volume de lançamentos. A participação das empresas no ranking é espontânea, mas quem se propõe a ter seu desempenho avaliado precisa abrir todos os dados de produção. De acordo com os critérios usados para elaborar o ranking, a MRV ocupa o topo do ranking. É o sétimo ano seguido que a empresa com sede em Belo Horizonte-MG se posiciona em 1º lugar, mesmo com queda no volume de área construída. Em 2013, no auge da produção, a construtora empreendeu 8.707.012 m². Em 2017, foram 6.170.565 m².
O volume de obras listadas no ranking 2018 da ITC chega a 2.300, o que resulta em mais de 58,5 milhões de m². “O resultado impressiona, pois o país ainda vive um cenário econômico e político crítico. A lição tirada é de que, ao primeiro sinal da retomada da economia, o setor deve multiplicar os índices alcançados”, diz o comunicado da consultoria, ao divulgar o ranking. O levantamento da ITC também constatou que, apesar de as empresas ainda estarem focadas em desovar estoques, novos projetos começam a se impor em seus portfólios. Foi isso que fez, por exemplo, a Pacaembu Construções saltar do 4º para o 3º lugar no ranking.
Ranking atende quatro categorias: residencial, comercial, industrial e baixa renda
O levantamento do ranking de 2018 seguiu os mesmos critérios de anos anteriores, avaliando quatro grupos de obras:
- Residencial, que inclui edifícios residenciais e condomínios de casas.
- Comercial, que abrange faculdades, universidades, escolas, museus, teatros, centros de convenções, estádios, shopping centers, supermercados, fóruns, presídios, hospitais, clínicas, aeroportos, hangares, hotéis, flats, resorts, lazer, edifícios comercias, edifícios corporativos e galpões.
- Industrial, que contabiliza agroindustrial, alimentos e bebidas, consumo, energia e telecomunicação, ferrosos e não-ferrosos, materiais de construção, mecânica e elétrica e petróleo e gás.
- Residencial popular, que engloba edifícios residenciais e condomínios para baixa renda.
Na categoria “Lançamentos”, se destacou a Pacaembu Construções, com 715.373 m². Em “Obras Construídas”, o primeiro lugar ficou com a Pernambuco Construtora (2.664.609 m²). Em “Baixa Renda”, o destaque foi a MRV, com 6.098.160 m² - a empresa também construiu 72.405 m² para outras categorias. Regionalmente, no Sul se destacaram a Racional Engenharia, no segmento comercial; a FG Empreendimentos, no residencial, e a MATEC, no industrial.
Confira a íntegra do ranking 2018 da ITC
Veja o ranking ITC 2018 por categorias
Destaques regionais do ranking ITC 2018
Entrevistado
ITC (Informações Técnicas da Construção) (via assessoria de imprensa)
Contato: ranking@itc.etc.br
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Novela lembra 20 anos do Palace II: o que é mito, o que é verdade?
Na novela Segundo Sol, em exibição pela Rede Globo no horário das 21h, o personagem Severo Athayde é um empreiteiro que cai em desgraça quando parte de um edifício construído pela sua empresa desmorona e causa mortes. As investigações na ficção concluem que o prédio usou areia de praia na concretagem das estruturas.
A boa engenharia proíbe o uso de areia da praia como agregado do concreto. Ela contém grande quantidade de sais, como o sódio, que aumentam o risco de corrosão das ferragens dentro do concreto, além de modificar o tempo de pega do cimento, a velocidade de endurecimento e valores como resistência, durabilidade e elasticidade da estrutura.
Obviamente, a novela faz referência a uma tragédia que ocorreu há 20 anos, no Rio de Janeiro-RJ. Em 22 de fevereiro de 1998, desabava o edifício Palace II, que resultou na morte de oito pessoas. O folhetim explora a versão popular sobre o desabamento da edificação, de que teria sido usada areia de praia na produção do concreto estrutural do prédio, o que é mito.
O real motivo é que 31 dos 42 pilares foram executados segundo um projeto com falhas e subdimensionados, de tal forma que em vez de suportarem 480 toneladas cada um, estavam calculados para no máximo 230 toneladas. Resultado: os pilares não suportaram a edificação de 23 andares, que acabou desabando.
Essa é a versão oficial que consta no inquérito sobre a queda do edifício Palace II, após perícia realizada durante as investigações a respeito das causas do desabamento. Diz o laudo técnico: “Houve erro generalizado no dimensionamento dos pilares, principalmente erro gravíssimo nos pilares P4A e P44A, sobre os quais o edifício desabou.”
Coeficiente mínimo do concreto usado nos pilares não atendia a ABNT NBR 6118
A perícia também confirma que 31 dos 42 pilares estavam abaixo do coeficiente mínimo de segurança exigido pelas normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em especial a ABNT NBR 6118 – Projeto de Estruturas de Concreto: Procedimento. O laudo técnico é assinado por quatro peritos do Instituto Carlos Éboli e feito em parceria com o Instituto Nacional de Tecnologia e o departamento de engenharia civil da PUC-RJ.
O Palace 2 teve dois desmoronamentos: o primeiro ocorreu às 3h do dia 22 de fevereiro de 1998, com a queda das colunas 1 e 2 do prédio, onde havia 44 apartamentos, matando oito pessoas. No dia 24 de fevereiro, a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro anunciou a implosão do edifício para o dia 29. No entanto, dia 27 aconteceu outro desmoronamento, destruindo 22 apartamentos.
A implosão foi antecipada para o dia 28 de fevereiro de 1998, que pôs abaixo a totalidade do prédio, que tinha 176 apartamentos. O Palace II foi construído em 1990 pela construtora Sersan, que pertencia ao então deputado federal Sérgio Naya - morto em 2009. Em 2014, no mesmo terreno, foi construído o edifício Marapendi, dentro do condomínio Barra One. O novo prédio abriga 180 apartamentos.
Na época da tragédia, 120 dos 176 apartamentos estavam ocupados. As famílias prejudicadas receberam 1/4 das indenizações devidas pela construtora Sersan, responsável pela obra. Até hoje, através da Associação das Vítimas do Palace II, elas tentam, na Justiça, receber o que lhes é devido.
Entrevistado
Reportagem com base no laudo técnico sobre o desabamento do edifício Palace II, que consta no Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
Contato: ibccrim@ibccrim.org.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Dissertação de Mestrado
Análise das propriedades do concreto autoadensável com fibras de aço no estado plástico e endurecido com sílica ativa e com fíler calcário
- Roberto Carlos Carneiro -Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Fim de grandes obras faz PIB da construção despencar
Em 2007, os investimentos em infraestrutura no Brasil somaram R$ 21,90 bilhões. Em 2016, R$ 21,27 bilhões. Os números refletem o pior ciclo de expansão das obras de grande porte no país, segundo a mais recente edição da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), e que avalia dados até 2016. Comparativamente, em 2012 - auge da economia brasileira neste século -, o investimento em infraestrutura somou R$ 67,04 bilhões, mais que o triplo do verificado em 2016.
Outro dado apurado pela PAIC é que em 2016 o setor de construção civil deixou de movimentar R$ 55,3 bilhões, o que causou a falência de quatro mil empresas e a eliminação de 428.603 postos de trabalho. São números relacionados apenas às obras de infraestrutura. Comparando dados de 2015 com 2016, a queda atingiu 22,1%. Especialistas avaliam que o caminho para o crescimento passe pela chegada de novos protagonistas no setor e melhores práticas de governança e anticorrupção.
Segundo o gerente da pesquisa, José Carlos Guabyraba, “a retração das obras de infraestrutura no país deveu-se a problemas políticos, econômicos e empresariais, resultando em uma mudança estrutural no setor”. A conjuntura envolve o cerco da operação Lava Jato e o impacto que ela causou nas cinco maiores empreiteiras do país: Odebrecht, OAS, Camargo Correa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão. “Quando as construtoras de grande porte foram atingidas, não havia outras empresas prontas para ocupar o espaço”, avalia.
No ranking de obras, a infraestrutura caiu da primeira para a quarta colocação
O fim do ciclo de investimentos em eventos esportivos (Copa do Mundo e Olimpíadas) e em grandes hidrelétricas na bacia do rio Amazonas também impactou no Produto Interno Bruto (PIB) da construção. Consequentemente, a participação das obras de infraestrutura no PIB teve forte queda, passando de 41,3% para 29,5%. Com a desaceleração dos investimentos em obras públicas, o PIB da indústria da construção foi negativo em 5,2% no ano de 2016.
Entre produtos e serviços oferecidos pelas empresas, a construção de rodovias, ferrovias, obras urbanas e obras de arte especiais caiu da primeira para a quarta colocação, entre 2007 e 2016, segundo a pesquisa do IBGE. Com isso, as obras residenciais avançaram no ranking do PIB, passando da quinta para a primeira posição, entre 2007 e 2016.
De qualquer forma, o segmento voltado para construções habitacionais e prédios corporativos não conseguiu compensar a queda de obras de infraestrutura. Pelo contrário, também houve desaceleração, como registra a PAIC. “Em um contexto de instabilidade econômica começado em 2015, com aumento no desemprego e redução da renda, crédito mais escasso e caro, os agentes econômicos postergaram ou cancelaram os investimentos. Dessa forma, esse setor da construção refletiu queda real de 14,8% no valor das incorporações, obras e serviços voltados para edifícios residenciais e corporativos”, diz José Carlos Guabyraba.
Acesse a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC). Clique aqui.
Entrevistado
Agência IBGE
Contato: comunica@ibge.gov.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Concreto sustentável promete mudar o mobiliário urbano
O Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU-USP), vinculado ao campus da USP em São Carlos-SP, desenvolveu um concreto que pode transformar o mercado de artefatos de cimento não-estruturais. O material substitui 70% da areia natural por areia de fundição aglomerada com argila e 100% da brita por escória de aciaria de alto-forno das siderúrgicas e fundições (detrito que sobra da fabricação do aço). A vantagem do processo é ambiental, pois resíduos sólidos industriais voltam para a cadeia produtiva misturados ao concreto em vez de serem descartados em aterros.
Em parceria com a Escola de Engenharia da USP de São Carlos (EESC), o estudo desenvolvido no Instituto de Arquitetura e Urbanismo tem à frente o professor-doutor Javier Mazariegos Pablos, que desde 2012 busca aprimorar o que ele batizou de “concreto sustentável”. “O principal benefício do material é evitar o descarte inadequado de resíduos sólidos industriais”, defende. Agora, o desafio é conseguir dar escala à matéria-prima, para que o produto possa despertar o interesse do mercado.
Isso depende de uma logística competitiva para transportar a escória até fabricantes de artefatos de cimento. Outra questão envolve classificar a areia de fundição e a escória, para separar elementos nocivos à saúde e ao meio ambiente. Se for considerada nociva, é descartada; se não contiver itens perigosos, será misturada ao concreto. Para conseguir a certificação, devem ser realizados ensaios rigorosos, de acordo com as normas técnicas da ABNT, para garantir que nenhum resíduo que ofereça risco possa vir a ser agregado à matéria-prima.
Para siderurgia, agregar escória ao concreto é mais barato que descarte em aterro
No entender dos pesquisadores, a própria indústria siderúrgica poderia ser incentivadora do concreto sustentável, pois para ela custa mais caro o descarte em aterros credenciados que disponibilizar logística e recursos para incrementar a pesquisa do concreto sustentável. Para transportar o resíduo a locais adequados para o armazenamento custa mais 200 reais a tonelada, enquanto transformar a escória em produto adequado para o uso em artefatos de cimento custa menos da metade deste valor.
O concreto sustentável é não-estrutural, ou seja, não pode ser usado para a construção de fundações, lajes, pilares e vigas. Seu uso atende a pavimentação para veículos leves, calçadas e contrapisos. Com o material, é possível fabricar blocos intertravados, guias, grelhas, sarjetas e blocos para alvenaria de vedação, por exemplo. Nos testes realizados no IAU-USP, os elementos atingiram resistência de 11 MPa a 52 MPa, dependendo das características das escórias misturadas no concreto.
A pesquisa foi transformada em tese, denominada “Estudo para a reciclagem do resíduo sólido gerado pelas areias de fundição na construção civil”. A análise é assinada por Javier Mazariegos Pablos e Eduvaldo Sichieri, professor da escola de engenharia da Universidade de São Carlos. O documento destaca a necessidade de usar Cimento Portland para se obter a “estabilização dos resíduos”. As composições que obtiveram os melhores desempenhos mecânico, físico e químico foram utilizados na confecção dos artefatos testados na pesquisa.
Acesse a íntegra da pesquisa. Clique aqui.
Entrevistado
Reportagem com base na pesquisa “Estudo para a reciclagem do resíduo sólido gerado pelas areias de fundição na construção civil”, coordenada pelos professores Javier Mazariegos Pablos e Eduvaldo Sichieri, da IAU-USP e da EESC-USP
Contatos
javierpablos@usp.br
sichieri@sc.usp.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Por que o Brasil não tem graduação em engenharia sísmica?
Para quem quer se formar ou se especializar precisa ir para fora do Brasil. Mas por que o país ainda não tem graduação em engenharia sísmica, se existem terremotos que alcançam o território nacional? Na 69ª reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), realizada em julho de 2017, o professor Marcelo Sousa de Assumpção, do Departamento de Geofísica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP) foi o que chegou mais perto da resposta.
Para ele, o primeiro passo é revisar a norma técnica ABNT NBR 15421:2006 - Projeto de estruturas resistentes a sismos: Procedimento. A que está em vigor está baseada em um mapa de ameaça sísmica muito desatualizado. Recentemente, foram descobertas no Brasil muitas áreas que antes não eram tratadas como de risco. Entre elas, o Nordeste (Ceará e Rio Grande do Norte), norte do Mato Grosso, nordeste de Goiás e a área da Bacia do Pantanal, no Mato Grosso do Sul. “Nessas regiões a placa sul-americana é mais fina e fraca, além de serem regiões de concentração de tensões geológicas”, explica.
Revisão da ABNT NBR 15421:2006 ajudaria a chamar a atenção para a engenharia sísmica
Na avaliação de Marcelo Sousa de Assumpção, a partir da revisão da ABNT NBR 15421:2006, o Brasil terá um documento com regras mais claras para orientar a engenharia civil sobre a construção de edificações em áreas sujeitas a tremores de terra. Isso também ajudará as universidades a se posicionarem melhor sobre criar cursos que abranjam a engenharia sísmica. Até o momento, o país evoluiu significativamente em como detectar riscos sísmicos, mas não sobre como prevenir suas construções de eventuais abalos.
Por enquanto, os brasileiros que querem se graduar em engenharia sísmica precisam buscar a especialização fora do país. Estados Unidos e Portugal são os destinos mais procurados. Nos EUA, a Universidade de Stanford, na Califórnia, é considerada referência por causa dos estudos que realiza sobre a falha de San Andreas. Já em Lisboa existe a Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica e na Universidade do Porto, dentro da Faculdade de Engenharia, está um dos mais respeitados departamentos de engenharia sísmica da Europa.
O país tem tradição em estudar sismos por conta do terremoto que destruiu Lisboa em 1755, e que causou pelo menos 10 mil mortes - não há números oficiais sobre a tragédia. Já no Brasil, a engenharia sísmica no máximo é tratada como disciplina dentro da engenharia civil ou abordada em cursos de especialização e extensão, normalmente voltados à norma técnica ABNT NBR 15421:2006.
Entrevistado
Reportagem com base na conferência “Tremores de terra e o novo mapa de ameaça sísmica do Brasil”, durante a 69ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
Contato: eventos@sbpcnet.org.br