Estudo revela melhorias na segurança do trabalho no setor da construção civil
As informações oficiais do Anuário Estatístico da Previdência Social e os dados abertos sobre as Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs) serviram de base para o novo estudo realizado pela Comissão de Política de Relações Trabalhistas (CPRT/CBIC), em correalização com o Sesi Nacional.
O levantamento, desenvolvido pelo médico e especialista em Segurança e Saúde do Trabalho (SST), Gustavo Nicolai, reuniu o número de incidências de doenças e acidentes no setor da construção entre 2010 e 2022. E o resultado mostrou uma redução de 11,7% na categoria de incidências de doenças de trabalho, deixando o setor na 8ª colocação, na comparação com outras atividades econômicas. No levantamento divulgado em 2022, a construção havia ficado na 7ª posição.
Já em relação aos índices de acidentes de trabalho, a construção mostrou valores 12 vezes menores do que a atividade de maior sinistralidade e se manteve no 6º lugar, o mesmo posto ocupado em 2022.
"Os números mostram como o nosso setor vem se desenvolvendo no sentido da prevenção de acidentes", diz Ricardo Michelon, presidente da CPRT, da CBIC. "São dados que permitem o desenvolvimento de estratégias mais eficientes de prevenção aumentando a nossa assertividade nas ações."
A CPRT informou ao Massa Cinzenta que informações mais detalhadas sobre o estudo são divulgadas apenas aos associados da CBIC.
Semana Canpat discutiu saúde e segurança no trabalho
De 2 a 6 de outubro, mais de 20 entidades se reuniram durante a Semana Canpat, promovida pela CBIC, para discutir o tema "Gestão da Segurança e Saúde na Construção: Como um Ambiente Seguro Favorece a Produtividade?".
Foram realizados diversos painéis técnicos com a presença de especialistas de diferentes áreas, que, de forma on-line, compartilharam informações sobre assuntos como sistema de ancoragem, cintos de segurança para trabalho em altura e principais mudanças e avanços nas normas reguladoras.
Um dos convidados foi Luiz Carlos Lumbreras Rocha, auditor fiscal do trabalho, que falou sobre as obrigatoriedades para que o trabalhador realize atividades em altura, de acordo com a NR-35. Segundo ele, o profissional precisa ser aprovado no processo de capacitação, que envolve treinamento, teórico e prático, inicial, periódico e eventual.
"A aptidão e a capacitação estão ligadas à atividade desenvolvida pelo trabalhador, e, consequentemente, a autorização que é dada pela empresa tem que levar em conta isso: o que ele vai fazer, o tipo de capacitação (se é suficiente para o que ele vai fazer) e a aptidão que foi avaliada (se considerou o que ele vai fazer)", explicou Rocha.
Rodrigo Fonseca, engenheiro e membro da comissão de estudo, implantação e uso do Sistema Individual Contra Queda pela Animaseg, também participou da Semana Canpat e falou sobre alguns erros que podem causar graves acidentes ou até morte.
Seguindo a cartilha Trabalho em Altura, da SIT (Secretaria de Inspeção do Trabalho), ele cita como exemplos de "o que não fazer" durante obras de construção o uso de vergalhão dobrado e de anel de suspensão. "Apesar de alguns dispositivos de ancoragem terem esse formato [do anel de suspensão], a configuração de projeto, de material e de testes é muito diferente", enfatiza.
Fontes
Comissão de Política de Relações Trabalhistas (CPRT)
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
Jornalista responsável
Fabiana Seragusa
Vogg Experience
Quais os impactos do conflito entre Israel e Hammas para o cimento?
A disputa territorial entre palestinos e judeus se arrasta por décadas. Em outubro de 2023, o grupo Hamas realizou um ataque surpresa a Israel, deixando centenas de mortos. O governo israelense, por sua vez, declarou guerra e prometeu retaliações. Como este conflito deve afetar o setor de cimento e construção civil no Brasil?
Para Paulo Camillo Penna, presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), no conflito entre Rússia e Ucrânia, houve um desarranjo generalizado que impactou no preço do petróleo. “Houve uma escalada da guerra, até porque envolve a OTAN e outros países como Estados Unidos e Europa, fornecimento de gás (a Rússia tem um gasoduto importante em termos de fornecimento) e um desarranjo em termos de transporte marítimo. O coque já era objeto de reajuste já há algum tempo, desde 2020 ele subia com outros insumos da cadeia do cimento, mas ele foi impactado porque ele guarda uma correlação com o petróleo e com o carvão. O preço do carvão se descolou do preço do petróleo e houve um reajuste significativo do preço do coque, mas apenas durante o início da guerra, quando ele chegou a subir 40%. Isso fez com que houvesse uma mudança na operação da energia na composição do preço. A energia é o maior custo da indústria do cimento – seja ela elétrica ou térmica. A composição anterior já era alta: cerca de 50% do custo do cimento era energia (no ápice do crescimento coque chegou a 70%). A composição era 35% coque e 15% da energia elétrica. Houve um aumento significativo tanto no custo da energia elétrica quanto do coque antes da guerra. E, durante o período do conflito, também houve um reajuste importante (40%). Entre janeiro de 2020 e março de 2022, houve uma alta de 740%, influenciado pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Houve também um desarranjo no frete marítimo, devido a dificuldades logísticas e aumento do gasóleo (combustível marítimo). Posteriormente, houve uma redução importante no preço, mas ainda com valores acima do início dos reajustes, que foi em janeiro de 2020”, explica.
No entanto, o cenário neste conflito entre Israel e o Hammas é um pouco diferente. “No dia 07 de outubro, houve um aumento no preço do petróleo que chegou a US$ 90 o barril. Depois houve um recuo para US$ 85 e hoje estamos em US$ 87. Em termos de preço do coque, ainda não fomos afetados – e espero que isso não aconteça. 90% do coque utilizado no Brasil é importado do Golfo do México, então a preocupação reside na escalada desta guerra. Isto é, o agravamento dela pode afetar o mercado internacional de petróleo de forma significativa. Se isto ocorrer, poderia haver um reflexo para o coque. No entanto, hoje ainda não houve impacto, já que barril do petróleo está variando entre US$ 85 e US$ 87, valores menores, inclusive, do que antes do conflito”, afirma Penna.
Como diminuir a dependência do coque
Diante destes momentos instáveis que o mundo tem passado, como os conflitos e a pandemia, uma das saídas é buscar alternativas ao uso do coque. “Essa instabilidade fez com que acelerássemos de uma forma significativa os esforços da redução do uso do coque”, pontua Penna.
A indústria brasileira tem seguido um grande programa de redução de emissões de CO2, que foi lançado em 2019. “Um dos pilares para a diminuição dessas emissões é o uso de combustíveis alternativos. Esta diversificação também traz uma proteção para a indústria. Dentre as opções estão os pneus e biomassas feitas a partir de casca de babaçu (Norte e Nordeste), caroço de açaí, licuri, casca de arroz provenientes das plantações (Sul) e cavacos de madeira de reflorestamento (Centro Oeste e Sudeste). Além de substituírem o coque como uma fonte de energia alternativa, estas opções também livram o ambiente de passivos e até mesmo de ameaças sanitárias. Também tem o CDR (combustível derivado de resíduos) e CDRU (combustível derivado de resíduos urbanos). Com o uso dessas opções, também se reduz a necessidade dos aterros sanitários, que produzem o gás metano, que é mais poluente que o CO2. Tudo isso também gera riquezas em linha com a economia circular a partir de resíduos. Este processo traz riquezas para as populações, bem-estar ao reduzir o risco de doenças e aumento de renda. Com esta estratégia, os aspectos sociais, ambientais e econômicos se reúnem, o que gera vários benefícios”, pondera Penna.
Impactos no crescimento do setor
Apesar do cenário de incertezas, Penna acredita que hoje este conflito não deve impactar em novas construções. “A desaceleração dos últimos anos não foi motivada por nenhum desses conflitos. O que tivemos foi uma desaceleração econômica gerada pela pandemia, desajustes de natureza política, a economia que não cresceu e um alto nível de endividamento da população brasileira. A demanda por cimento está intimamente ligada à massa salarial e renda. Estes aspectos, por sua vez, estão conectados a empregos e indicadores macroeconômicos. A taxa de juros, que chegou a um nível alto, desestimulou e estabeleceu uma competição grande entre os ativos imobiliários e os ativos financeiros. Ou seja, aqueles que estão investindo em ativos financeiros estão despidos de preocupação com relação aos resultados. Isto é, o nível de risco que se apresentou fez com que boa parte dos investimentos que poderiam ser feitos na construção civil fossem canalizados para investimentos financeiros. Além disso, houve a redução da renda das famílias. Nós já estamos praticamente com o mesmo número de empregos existentes de antes da pandemia, mas a massa salarial, o volume de renda, ainda é inferior. Nós tivemos um aumento dos postos de trabalho, mas não tivemos o aumento da renda. E isso afeta diretamente o setor de construção. Depois disso, em 2022 e 2023, estamos em queda. Nossa expectativa é que tenhamos uma melhora, mas ainda assim o ano fechará negativo, em -1% em relação a 2022. Nós vamos acumular uma queda de vendas importante”, conclui Penna.
Entrevistado
Paulo Camillo Penna é presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC).
Contato
Assessoria de imprensa – daniela.nogueira@fsb.com.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
Especialista avalia mercado de paredes e pavimentos de concreto
Fatores técnicos, econômicos, ambientais e estéticos são alguns dos aspectos levados em conta na hora de escolher por utilizar paredes de concreto em um projeto. Indicado para uma variedade de tipos de obras, o método é uma opção especialmente válida para aquelas que requerem alta resistência estrutural.
"A escolha de utilizá-las dependerá das necessidades específicas do projeto, das regulamentações locais e das preferências do construtor", diz Alvaro Sérgio Barbosa Jr., coordenador técnico de Programas e Projetos da Abesc (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem). "É importante envolver engenheiros e arquitetos experientes no processo de tomada de decisão para garantir que a escolha seja apropriada para a obra em questão."
O especialista, que participou de um seminário no 64º Congresso Brasileiro do Concreto com o tema "Desenvolvimento de Mercado de Paredes e Pavimento de Concreto", destaca a consistência do setor de paredes de concreto e projeta avanços ainda maiores. "Nós, da Abesc, acreditamos que o mercado, quanto ao sistema, está consolidado, mas que existe um grande espaço a ser conquistado nos modelos até médio e alto padrão", avalia, em entrevista ao Massa Cinzenta. "Esse é o motivo que levou a Abesc a trabalhar modelagens mais otimizadas em consonância com as novas versões das normas atualizadas."
Ainda em relação às paredes de concreto, Alvaro S. Barbosa Jr. ressalta alguns dos diferenciais e vantagens desse método construtivo, como, por exemplo, a sua capacidade de suportar cargas pesadas - por isso, são ideais para armazéns, estacionamentos subterrâneos e edifícios de múltiplos andares, por exemplo. Além disso, as paredes moldadas in loco (concretagem no local) aceleram o processo de construção, em comparação com as de alvenaria, e oferecem flexibilidade de design, já que podem ser personalizadas com acabamentos diversos.
Onda crescente dos pavimentos de concreto
Quando o assunto é o PUC (Pavimento Urbano de Concreto), o representante da Abesc afirma que esse é um sistema sustentável, econômico e replicável. "O que estamos observando é uma onda crescente, por meio do trabalho coordenado pela Abesc em conjunto com a cadeia técnica e produtiva do concreto."
Alvaro Jr. explica que esses pavimentos vêm ganhando espaço em vias urbanas no Brasil e em outros lugares devido à sua durabilidade e baixa manutenção. "Não inventamos nada, apenas aplicamos as melhores práticas e colocamos de uma forma clara e transparente para todos os agentes públicos (Federal, Estadual e Municipal), loteadores, construtoras", diz.
Segundo ele, algumas medidas podem ser adotadas para incentivar prefeituras e governos a optarem por esta tecnologia, como: demonstrar o custo-benefício, apresentar projetos-piloto e estudos de caso, promover parcerias com a indústria, estimular a pesquisa e a inovação e viabilizar normas e regulamentações favoráveis.
Já sobre o mercado de concreto de forma geral, o coordenador da Abesc cita algumas tendências que podem indicar um cenário positivo, em relação a construções de infraestrutura e urbanismo. Uma delas tem a ver com o crescimento populacional, que deve levar a uma demanda constante por novas estruturas de concreto, incluindo pavimentos e paredes.
O investimento em infraestrutura também é fundamental, já que muitos governos ao redor do mundo estão colocando em prática projetos que, geralmente, envolvem construção de estruturas de concreto, impulsionando o mercado. Sustentabilidade, durabilidade, inovações tecnológias e políticas de incentivos são outros fatores que podem contribuir para o desenvolvimento ainda maior do setor.
Fontes
Alvaro Sérgio Barbosa Jr., coordenador técnico de Programas e Projetos da Abesc
Jornalista responsável
Fabiana Seragusa
Vogg Experience
Estratégia BIM-BR deverá ser atualizada
O Building Information Modeling (BIM) já é uma realidade na construção civil. Em 2022, FURNAS Centrais Elétricas e a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) desenvolveram um projeto pioneiro que integra o BIM ao Sistema de Informação Geográfica (GIS) e ao Enterprise Resource Planning (Planejamento de Recursos Empresariais). Neste mesmo ano, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur), de Salvador, expediu o primeiro alvará de construção em formato BIM para um empreendimento na cidade. Outro exemplo é a Arena do Galo, o primeiro estádio brasileiro construído 100% com o emprego da tecnologia BIM. Estes são só alguns exemplos de como esta metodologia vem sendo utilizada. No entanto, ainda há diversos desafios para ampliar o seu uso no Brasil.
Retomada da Estratégia BIM-BR
A estratégia BIM, delineada no Decreto Nº 9.983 de 22 de agosto de 2019, encontra-se atualmente em processo de revisão para incorporar novos participantes ao Comitê Gestor do programa, bem como para ajustar-se às novas diretrizes governamentais. Estas políticas abrangem preocupações relacionadas à sustentabilidade e à industrialização do setor. Dentre os recém-incluídos no Comitê, destacam-se os Ministérios das Cidades e da Educação. O primeiro, em virtude de sua priorização da tecnologia BIM nas obras do programa "Minha Casa Minha Vida". O segundo, devido à necessidade de capacitar mão de obra especializada para a utilização efetiva do sistema integrado.
Recentemente, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) reuniu representantes de entidades ligadas à Construção Civil para tratar da retomada da Estratégia BIM-BR. A partir do próximo ano, os principais projetos governamentais relacionados à habitação, mobilidade e infraestrutura, entre outros, deverão dar preferência à adoção dessa tecnologia.
Uma das entidades presentes no encontro foi a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que recebeu de forma positiva a retomada do programa e se comprometeu em contribuir com a pauta. “A CBIC se comprometeu a enviar sugestões para a reformulação do Decreto Nº 9.983, e está à disposição para todos os tipos de parcerias que viabilizem o BIM em concorrências públicas e em projetos da importância do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida (MCMV)”, apontou Dionyzio Klavdianos, presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da CBIC.
Outra questão abordada na reunião foi o desafio da capacitação de profissionais e gestores públicos para disseminação do BIM. “O BIM está no centro da nova política industrial, foi incluído no Novo PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e tem função importante no Minha Casa Minha Vida. O governo está encaminhando sua parte, mas as entidades são de fundamental importância para o desenvolvimento da tecnologia. Além de ser um setor estratégico para geração de emprego e renda em áreas como habitação, infraestrutura e lazer”, afirmou Rafael Codeço, diretor de Desenvolvimento da Indústria de Bens de Consumo Não Duráveis e Semiduráveis do MDIC.
O decreto para atualizar a Estratégia BIM e o Comitê Gestor deve ser publicado nos próximos meses, segundo o MDIC.
Desafios do BIM
Dentre os principais desafios de utilizar o BIM é a integração de todos os agentes da cadeia de produção. Em entrevista ao Massa Cinzenta, Rodrigo Koerich, presidente do BIM Fórum Brasil, afirmou que esta metodologia ainda está mais restrita à fase do projeto, que é onde as tecnologias que estão disponíveis para projeto conseguem ser integradas. No entanto, na fase de execução, existem tecnologias, mas elas estão desconectadas. “Muitas startups fazem pedacinhos do processo de gerenciamento da construção, mas não o fazem de maneira integrada”, destacou.
Fontes
Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC)
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
Rodrigo Koerich é presidente do BIM Fórum Brasil
Contatos
MDIC - imprensa.sepec@economia.gov.br
CBIC - imprensa@cbic.org.br
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Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
64º Congresso Brasileiro do Concreto reúne mais de 1.500 participantes
Mais de 1.500 participantes compareceram diariamente ao 64º Congresso Brasileiro do Concreto, realizado de 18 a 21 de outubro em Florianópolis. Desse total, 1.273 foram congressistas nacionais e internacionais responsáveis por apresentar artigos científicos e promover conferências e seminários sobre diversos assuntos relacionados ao tema desta edição, Inovação e Sustentabilidade.
"É, sem dúvida, o maior fórum de engenharia de concreto do país e quiçá do mundo, conforme depoimentos de experientes congressistas estrangeiros", afirma o professor e engenheiro civil Paulo Helene, diretor-presidente do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto), entidade organizadora do evento.
O especialista ressalta a importância do Congresso conseguir integrar tecnologistas de concreto, academia, projetistas, construtores, consultores, laboratórios de controle, empresários, industriais e órgãos públicos. "Toda a cadeia esteve presente interagindo e construindo consensos nas interfaces das áreas, ainda que seja essa uma ação dinâmica e permanente no tempo, ou seja passível de mudanças e aperfeiçoamentos."
Novidades no Congresso Brasileiro do Concreto
O professor Paulo Helene conta que, nesta edição do Congresso, foi apresentada pela primeira vez uma peça pré-fabricada em Concreto de Ultra-Alto Desempenho (UHPC Ultra High Performance Concreto), por meio de uma passarela projetada pela Unisinos e construída pela Cassol, com 8 metros de vão por 2 metros de largura, que deu acesso ao saguão principal do evento.
Outra novidade foi que os participantes também puderam acompanhar ao vivo uma demonstração de concretagem completa de pavimento urbano, com concreto autoadensável, gerenciada pela Abesc (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem). "Incluindo a sub-base, a base, a concretagem da laje de concreto com fibras, a cura e o acabamento vassourado, com corte de juntas com disco de corte", explica o diretor-presidente do Ibracon.
Participantes do evento
A 64ª edição do Congresso Brasileiro do Concreto contou com 12 seminários temáticos, tendo a inovação e a sustentabilidade como elementos transversais em todos eles. Segundo Paulo Helene, "seminários como pré-fabricação e a industrialização, produção de concreto em centrais, reforços e reparos, sustentabilidade, argamassas, materiais poliméricos, reação álcali-agregado e inspeção de pontes e viadutos se destacaram, com público de alto nível".
Participaram nomes como Ricardo Couceiro Bento, que falou sobre Avaliação do Ciclo de Vida para Projetos de Estruturas Sustentáveis, Luiz Alberto Trevisol, com o tema Cuidados na Produção de Argamassa Estabilizada, e Jorge Christófolli, que tratou de Concretagem de Grandes Blocos de Fundação.
Já em relação a especialistas internacionais, o evento teve a presença de renomados pesquisadores, como o professor da Universidade Estadual do Michigan (Estados Unidos), Venkatesh Kodur, que apresentou estratégias para mitigação do fogo em estruturas com novas gerações de concreto, o professor da Universidade Loughborough (Inglaterra), Sérgio Cavalaro, que abordou a impressão 3D em concreto, e o professor emérito da Drexel University (Filadélfia, Estados Unidos), Ahmad Hamid, que demonstrou como o projeto pode melhorar o desempenho estrutural e ambiental das estruturas de concreto.
"A inserção internacional do Ibracon e o intercâmbio com experts de várias nações é fundamental para o nosso meio técnico desenvolver-se rapidamente com espírito crítico, confiança e segurança", avalia Paulo Helene. "Os problemas graves de mudança climática, de novas forças da natureza, de incêndios, vendavais, enchentes, são comuns a todos os povos, e cabe à engenharia dominá-los para dar boas respostas de segurança e qualidade de vida à sociedade à qual serve."
Fontes
Congresso Brasileiro do Concreto
Paulo Helene, professor, engenheiro civil e diretor-presidente do Ibracon
Jornalista responsável
Fabiana Seragusa
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Concretagem de grandes blocos de fundação tem diversos desafios
A concretagem de grande volume se tornou cada vez mais comum, especialmente em blocos de fundações, trazendo consigo desafios específicos que demandam procedimentos técnicos complexos e uma atenção minuciosa. Para garantir a qualidade e durabilidade da estrutura, é essencial aplicar conceitos avançados de tecnologia do concreto. Durante o 64° Congresso Brasileiro do Concreto, o engenheiro Jorge Luiz Christófolli, gerente de desenvolvimento técnico da Concrebras, falou sobre os desafios e técnicas envolvidos na concretagem de grandes blocos de fundação.
Desafios da Concretagem de Grandes Blocos de Fundação
A concretagem de grandes blocos de fundação é uma tarefa complexa, que envolve diversos desafios técnicos. Christófolli menciona alguns dos principais:
Composição do Concreto: Determinar a composição da dosagem do concreto é fundamental para garantir a qualidade e durabilidade da estrutura de fundação.
Logística da Concretagem: Planejar a logística da concretagem é crucial para garantir que o concreto seja aplicado de forma eficiente.
Logística de Insumos: Além do concreto, é essencial planejar a logística de fornecimento e aplicação dos insumos necessários, como agregados e aditivos.
Monitoramento de Temperatura: Durante a fase de execução, é importante monitorar a temperatura para evitar problemas como a formação de Etringita Tardia (Delayed Etringite Formation - DEF).
“Todas as medidas que foram tomadas na fase de planejamento são essenciais. Sobretudo, elas são importantes para que a obra seja concluída, executada sem nenhum tipo de intercorrência. O planejamento tem que ser muito bem feito para que no momento de execução, não haja nenhum tipo de situação que comprometa a qualidade da estrutura. E este plano tem que abranger todas as possibilidades de falha – estoque de matéria prima, atendimento dos fornecedores, energia elétrica necessária para o funcionamento dos equipamentos, entre outros fatores. Tudo isso deve ser previsto, sempre tendo um plano b ou c em mente”, afirma o engenheiro.
Etringita Tardia (DEF) e Suas Implicações
A formação de Etringita Tardia (DEF) é um fenômeno que pode prejudicar a durabilidade do concreto. De acordo com Christófolli, trata-se de uma manifestação patológica, uma “doença” da estrutura. Descoberta na década de 1980 na Alemanha e Inglaterra, a Etringita Tardia é caracterizada pela expansão da pasta matriz e na região de interface com os agregados. Ela resulta de uma reação química entre íons de sulfato (SO42-) e aluminato tricálcico (C3A), formando o sulfo-aluminato de cálcio hidratado. “São comportamentos que ocorrem em determinadas situações e prejudicam a durabilidade da estrutura. Como já é uma manifestação patológica conhecida, então é preciso tomar as medidas necessárias para que isso não ocorra. Isso pode se dar através da adição de gelo e das sílicas ativas. Trata-se de ações que são tomadas na fase de construção para que a formação da Etringita Tardia não ocorra”, explica o engenheiro.
O processo de formação da DEF envolve várias etapas, incluindo a formação da Etringita Primária na fase inicial de hidratação, a decomposição da Etringita primária devido a altas temperaturas (>65 ºC) durante o processo de cura, e a adsorção e dessorção dos íons sulfato pelo C-S-H (silicato de cálcio hidratado). A formação da Etringita Tardia pode ocorrer sob determinadas condições, como alta permeabilidade, liberação de íons SO4 pelo C-S-H, e estrutura em contato com água, como em locais com lençol freático próximo.
Análise de Risco e Classes de Exposição
O Laboratório Central de Pontes e Estradas da França (Laboratoire Central des Ponts et Chaussés) faz algumas recomendações baseadas em estudos históricos e também estabelece alguns parâmetros para projeto e execução dessas fundações. Eles definem dois critérios: risco de segurança da estrutura e classe de exposição das estruturas.
A análise de risco de segurança da estrutura está dividida em três níveis. “A categoria I abrange estruturas onde as fissuras têm baixas ou aceitáveis consequências. A categoria II abrange a maioria das estruturas de concreto, onde a ocorrência de fissuras não afeta e pode contribuir para a deterioração da capacidade de suporte. A categoria III é reservada para situações em que a ocorrência de fissuras é inaceitável, como em contenções de radiação nuclear, túneis e barragens”, expõe o gerente de desenvolvimento técnico da Concrebras.
Além disso, as classes de exposição da estrutura, como XH1, XH2 e XH3, levam em consideração o ambiente (principalmente o solo) em que a estrutura será construída, variando de ambientes secos a úmidos e permanentemente úmidos (em locais onde há lençóis freáticos, por exemplo).
Ao “cruzar” os riscos de segurança da estrutura e classes da exposição das estruturas, obtém-se os níveis de prevenção da formação da Etringita Tardia. Neste contexto, o nível com maior risco é quando há uma construção de categoria III e um ambiente classificado como XH3. “Nestes casos, a temperatura máxima deve ficar abaixo de 65 °C nas condições normais e o limite pode ser definido em 75 °C se houver adição mineral como a ‘sílica ativa, metacaulim’ e a validação da composição for feita por um laboratório especializado em DEF”, comenta Christófolli.
Reação álcali-agregado (RAA)
De acordo com Christófolli, trata-se de um outro desafio da concretagem de grandes blocos de fundação. “São reações químicas que ocorrem ao longo do tempo dentro da estrutura e que provocam a expansão da matriz. Consequentemente, este processo gera fissuras que comprometem a estabilidade e durabilidade da estrutura”, comenta o engenheiro.
Definição das Características Reológicas do Concreto
A concretagem de grandes blocos de fundação geralmente envolve a aplicação de diferentes camadas de concreto, cada uma com características específicas, por exemplo:
- 1º - Camada inicial para proteção da armadura de base: concreto fck (1º) CAA (concreto autoadensável) ou Fluido – Refrigerado e Estabilizado
- 2º - Camada intermediária: Concreto Refrigerado e Estabilizado I – fck (2º)
- 3º - Camada final: Concreto Refrigerado – fck (2º).
“Existem duas fases do concreto – a plástica e a endurecida. A primeira delas é a fase plástica, que é quando há a mistura dos elementos – cimento, areia, água e aditivos. Este estado dura cerca de duas a três horas e é quando você consegue aplicar o concreto ou lançá-lo em fôrmas na obra para atingir o formato desejado para fazer pilares, vigas ou outros elementos. Quando ele está suficientemente maleável, permite a passagem pela tubulação das bombas de concreto. Depois de três ou quatro horas, o concreto entra em fase de hidratação, endurecimento e resistência. Para volumes muito grandes, é necessário mais de um dia para a concretagem. No entanto, se no dia seguinte o concreto já estiver endurecido, gera-se uma “junta fria”, uma interface de contato do material antigo com o material novo em estado plástico. Isto é, cria-se uma superfície de transição. Só que isso nem sempre é adequado numa estrutura, pois cria uma região de fragilidade. Para evitar isso, utilizamos aditivos estabilizantes, produtos químicos que neutralizam a hidratação do cimento por determinado tempo. E isso deve ser determinado no planejamento”, defende Christófolli.
Case Yachthouse
Durante a palestra, Christófolli usou o case do edifício residencial de alto luxo Yachthouse Residence Club, localizado em Balneário Camboriú (SC), para ilustrar os desafios da concretagem em grandes blocos de fundação. Com duas torres, o bloco de fundação foi construído em duas etapas totalizando 8.792 m3. Para lançar o concreto nos blocos de fundação das duas torres do empreendimento, foram mais de nove etapas de planejamento – este processo demandou dois meses de pesquisa. “Como a resistência do concreto especificada no projeto era o fck 50,0 MPa, foram elaboradas simulações matemáticas do comportamento térmico da estrutura com diversas combinações de dosagem. Uma das conclusões dos estudos teóricos foi a necessidade do uso da incorporação de gelo na mistura do concreto, para a redução da temperatura de lançamento. Isso acontece, pois, as reações de hidratação do cimento são exotérmicas, ou seja, liberam calor nessa fase. Conforme as dimensões das peças concretadas, o calor gerado poderia atingir valores acima de 65 °C, o que em determinadas condições pode gerar produtos secundários na hidratação, e que comprometem a durabilidade e a vida útil da estrutura. Foram realizados ensaios de dosagem experimental em laboratório, simulações teóricas de modelagem do comportamento térmico da estrutura, ensaios de comportamento reológico de concreto, resistências à compressão aos 7, 28 e 63 dias, módulo de elasticidade, além dos ensaios de caracterização de todos os materiais utilizados”, explica Christófolli.
Entrevistado
Jorge Luiz Christófolli é engenheiro e gerente de desenvolvimento técnico da Concrebras.
Contato
jorge@concrebras.com.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
Argamassa estabilizada: veja cuidados na produção
O uso da argamassa estabilizada se tornou comum em todo o país, nos últimos anos o volume entregue em obra cresceu consideravelmente se comparado aos demais tipos de argamassa utilizados. Seus diversos benefícios estão sendo cada vez mais reconhecidos pelas construtoras e obras que fazem uso dos sistemas argamassados. Por se tratar de um material pronto para aplicação e de fácil uso, a argamassa proporciona um aumento da eficiência, além de reduzir as variações nas propriedades do material durante a construção. No entanto, seu uso, apesar de bastante difundido dentro das construtoras e fabricantes, ainda apresenta alguns desafios, como por exemplo, variações e erros de dosagem, falta de controle no processo produtivo e em obra, além da falta de cuidado no recebimento, armazenamento e uso da argamassa nos locais de aplicação. Tamanha a importância do tema, que o mesmo teve um espaço dedicado em dois seminários dentro do 64º Congresso Brasileiro do Concreto, em Florianópolis, em especial na palestra “Cuidados na Produção de Argamassa Estabilizada”, do engenheiro e mestre Luiz Alberto Trevisol, gerente técnico da Hobimix.
“A argamassa estabilizada é uma argamassa úmida pronta para uso, composta pela mistura de ligantes inorgânicos, agregados miúdos, aditivos e água, podendo conter adições, que mantém as suas propriedades físicas do estado fresco por um período prolongado. É produzida em central dosadora e entregue em caminhões betoneira”, afirma Trevisol Junior.
Por que usar a argamassa estabilizada?
De acordo com o gerente técnico da Hobimix, o uso da argamassa estabilizada proporciona inúmeras vantagens.
“Por se tratar de uma argamassa dosada e produzida em central, o controle técnico é rigoroso. Portanto, proporciona ao usuário uma maior garantia técnica, já que todo o processo produtivo é monitorado em tempo real, começando no registro dos traços pelo departamento técnico, passando pela caracterização e controle das matérias primas, que no processo são todas dosadas em massa, em balanças calibradas periodicamente, com uso de aditivos de última geração. Além disso, há o uso da tecnologia da informação para registrar todas as variações do processo em tempo real, garantindo assim que as cargas produzidas atendam rigorosamente o que foi pré-determinado pelo departamento de desenvolvimento em relação ao desempenho do produto, garantindo uma menor variação do traço”, explica.
O controle técnico realizado pela empresa produtora também é uma garantia para o cliente. Da mesma forma, os ensaios de liberação das cargas, moldagens de corpos de prova e a validação das propriedades mecânicas garantem o desempenho e a durabilidade da argamassa entregue, segundo Trevisol Júnior.
Ainda, o engenheiro aponta que a argamassa estabilizada oferece melhor homogeneidade, melhor acabamento e menor desperdício de material.
Em obra, a logística de canteiro também é vantajosa, já que a argamassa chega pronta e em condições de uso. Isso diminui o tempo de espera nos pontos de aplicação e, aumenta a produtividade e, consequentemente, gera uma considerável redução de custo”, afirma Trevisol Junior.
Cuidados na produção: estabilidade da argamassa
De acordo com gerente técnico da Hobimix, a estabilidade da argamassa está relacionada principalmente a três fatores: retenção de água, manutenção do ar incorporado e desempenho e dosagem do aditivo estabilizador.
“Para que esses fatores sejam garantidos e respeitados é importante entendermos das propriedades físicas e químicas dos materiais constituintes no traço. Por exemplo: uma boa distribuição granulométrica da areia facilita a incorporação de ar, regula o consumo e retenção de água. O tipo de cimento interfere diretamente no desempenho da argamassa, já que os cimentos possuem características diferentes e, consequentemente, a compatibilização com os aditivos químicos também é diferente”, expõe Trevisol Junior.
A respeito dos aditivos, é importante entender se as bases químicas são compatíveis com o cimento utilizado. “A dosagem e desempenho deles dependem dessa compatibilização. Uma dosagem racional parte do entendimento das propriedades dos materiais. O aditivo incorporador de ar é responsável pela formação de bolhas a partir de cadeias apolares de cargas negativas. Ao se aproximarem, geram o efeito de repulsão fazendo com que haja um deslizamento, proporcionando à argamassa a plasticidade. As bolhas formadas não geram capilares entre si, impedindo assim a saída de água da argamassa colaborando na retenção de água”, destaca Trevisol Junior.
Ainda, o aditivo estabilizador é responsável por envolver os grãos de cimento, impedindo a chegada da água, evitando assim a hidratação do cimento. “O tipo de açúcar utilizado na fabricação deste aditivo interfere diretamente na estabilidade e no comportamento da argamassa no estado endurecido. O tipo e a quantidade de cal também são um balizador na estabilidade da argamassa. Pela simples presença de Hidróxido de Cálcio - Ca(OH)₂, há um consumo maior de aditivo estabilizador. Por fim, o armazenamento da argamassa em obra deve garantir que a água presente na mesma não seja perdida. Desta forma sugere-se a película de água sobre a argamassa entregue nas caixas”, propõe o engenheiro.
Controle tecnológico
Trevisol Junior explica que o controle tecnológico na Hobimix é dividido em três níveis/etapas:
- Controle de liberação das cargas: todas as cargas produzidas passam por uma avaliação. São realizados dois ensaios: índice de consistência pelo método flow table e o teor de ar incorporado pelo método gravimétrico. Esses ensaios são realizados pelos próprios motoristas e os resultados são registrados em uma ficha de carregamento que contém os parâmetros máximos e mínimos para cada um dos ensaios. Se, por uma eventualidade, os parâmetros fugirem do padrão, o departamento técnico é acionado para correção antes da liberação das cargas para a obra.
- Retenção de amostras das argamassas: é feita de forma estatística. Com as amostras, são realizadas avaliações de estabilidade (ensaios de ar e consistência) dentro do período de uso da argamassa, além de moldagens de corpos de prova para a realização de ensaios mecânicos no estado endurecido.
- O terceiro nível de controle é realizado em parceria com algumas obras, onde estão posicionados a grande parte do volume produzido. O departamento técnico faz a coleta da argamassa em obra. Nessa etapa, é realizado o ensaio de teor de ar incorporado para avaliar como a argamassa está chegando em obra. A partir daí, são registradas as informações de onde a argamassa está sendo aplicada: qual pavimento, se o uso é interno ou externo, qual o tipo de substrato, se tem chapisco ou não, além de todas as informações de carregamento e horários. Com as amostras coletadas são realizados ensaios de estabilidade, calorimetria para identificar início e fim de pega, retenção de água, além da moldagem de corpos de prova para a realização dos ensaios no estado endurecido. Esse acompanhamento gera uma ficha de registro, que é utilizada como demonstrativo de resultado, caso o cliente solicite, e como identificação de possíveis pontos de correção e/ou melhoria pelo departamento técnico.
Por outro lado, o controle em obra realizado pela construtora/cliente dificilmente é realizado, de acordo com Trevisol Junior. “Pela falta de normas que exigem tal controle, a maioria das construtoras se atém a realizar apenas a validação das argamassas em pequenos panos teste ou em prismas moldados (no caso de argamassas de assentamento) antes do início do uso das argamassas. Durante a obra, são pouquíssimas construtoras que fazem um acompanhamento”, conclui o gerente técnico da Hobimix.
Entrevistados
Luiz Alberto Trevisol Junior, gerente técnico da Hobimix é engenheiro civil, mestre em engenharia de materiais com trabalho voltado ao estudo das propriedades e desempenho da argamassa estabilizada
Contato
luiz.alberto@hobimix.com.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
Engenheiro civil explica a importância da Avaliação do Ciclo de Vida na construção
A conscientização das empresas em colocar a sustentabilidade como uma meta real é algo fundamental para que seja possível reduzir os impactos ambientais a médio e longo prazo. E a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é um procedimento que serve exatamente para mensurar e avaliar os impactos que um produto ou material causa no meio ambiente e, consequentemente, na saúde humana, ajudando na escolha das melhores opções.
O professor, doutor e engenheiro civil Ricardo Couceiro Bento é especialista no tema e promoveu um curso sobre o assunto no 64º Congresso Brasileiro do Concreto, realizado pelo Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto) de 18 a 21 de outubro, em Florianópolis. Ele conta que seu enfoque é nas estruturas de concreto armado, e que, apesar da metodologia já ser aplicada no exterior desde 1990, ainda há muitas dúvidas sobre a ACV.
Por isso, o Massa Cinzenta pediu para que o engenheiro explicasse alguns pontos básicos sobre a utilização da Avaliação do Ciclo de Vida na construção civil. Ele também é membro do Ibracon, da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), do Instituto de Engenharia e do GPBE (Grupo Português do Betão Estrutural).
Qual a importância da Avaliação do Ciclo de Vida para a construção civil? É algo obrigatório de se fazer?
Ricardo Couceiro Bento - As empresas necessitam reduzir os impactos ambientais resultantes de suas atividades. A construção civil é uma das grandes consumidoras de recursos materiais e energéticos, além de emissora de gases do efeito estufa.
A ACV é um procedimento sistemático para mensurar e avaliar os impactos que um produto ou material causa no meio ambiente e sobre a saúde humana, o que a torna o melhor procedimento para o diagnóstico e tomadas de decisão, para ser efetuada a melhoria de nossos produtos.
A ACV não é obrigatória, espera-se que em um futuro próximo seja ao menos incentivada pela sociedade, talvez por meio de liberação facilitada de créditos para a construção de quem a efetuar e aplicar melhorias embasadas nela.
É um processo demorado, como um todo? Quais são as fases de avaliação?
Ricardo Couceiro Bento - A adoção da ACV em edifícios e outras construções é uma tarefa complexa e tediosa. Uma construção incorpora centenas de produtos individuais, e em um projeto de construção pode haver dezenas de empresas envolvidas.
Além disso, o ciclo de vida esperado de um edifício é excepcionalmente longo, as fronteiras do sistema não são claras, etc. Assim sendo, a ACV, então, não pode ser realizada no setor da construção com o mesmo nível de detalhe como na indústria.
As fases de uma ACV são, primeiro, a definição de um objetivo claro e execução de um escopo, em seguida, a execução de um inventário. Posteriormente, é efetuada uma avaliação do impacto do ciclo de vida - essa fase tem a função de agregar os dados do inventário e apoiar a interpretação, que seria a fase final.
O sistema de avaliação foi se aperfeiçoando de qual forma, ao longo do tempo?
Ricardo Couceiro Bento - A ACV é normalizada por um conjunto de normas da série ISO 14040. O aperfeiçoamento tem sido feito com uma abordagem conceitual da complexa avaliação das estruturas, que é uma avaliação do ciclo de vida integrada (ACVI). Esta abordagem integra os principais aspectos da sustentabilidade:
- aspectos ambientais;
- aspectos econômicos;
- e aspectos sociais durante toda a vida da estrutura.
Como é feito o cálculo de indicadores de desempenho ambiental no Brasil?
Ricardo Couceiro Bento - Os indicadores ambientais são projetados para avaliar o impacto ambiental da tecnologia ou atividade. Tais impactos estão principalmente relacionados ao uso de recursos naturais (INPUTS do ciclo de vida) e à geração de resíduos e emissões (OUTPUTS do ciclo de vida).
No Brasil quanto no exterior, o desejável é que a indústria promova a execução de Declarações Ambientais do Produto (DAP). As DAPs sinalizam o compromisso do fabricante em medir e reduzir o impacto ambiental dos seus produtos e serviços e reportar esses impactos de uma forma transparente.
Com uma DAP, os fabricantes reportam dados comparáveis, objetivos e verificados por terceiros. Na falta desses [dados], o que ainda é predominante, temos estudos nacionais em desenvolvimento, que acabam utilizando valores com uma grande margem de variação.
Fontes
Congresso Brasileiro do Concreto
Ricardo Couceiro Bento, professor e engenheiro civil
Jornalista responsável
Fabiana Seragusa
Vogg Experience
Nova bateria de cimento poderá abastecer casas daqui a 18 meses, diz Franz Ulm
Um supercapacitor feito apenas de cimento, carbono negro e água é a nova criação divulgada por pesquisadores do prestigiado Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Cambridge, na região de Boston, nos Estados Unidos.
Assinado pelos professores Franz-Josef Ulm, Admir Masic e Yang-Shao Horn, do MIT, o estudo explica que este equipamento poderá ser utilizado como um novo sistema de armazenamento de energia elétrica, de baixo custo, ajudando na transição mundial para as energias renováveis.
Os especialistas citam como exemplos dois usos importantes desse supercapacitor. Ele poderia ser incorporado à fundação de concreto de uma casa, armazenando energia para um dia inteiro, com pouco ou nenhum custo adicional ao projeto. E também seria uma opção para estradas de concreto, que forneceriam recarga para carros elétricos de forma automática, enquanto eles trafegam pelas vias.
Franz-Josef Ulm, professor de Engenharia Civil e Ambiental e um dos pesquisadores do estudo, disse ao Massa Cinzenta quando ele avalia que o supercapacitor irá se tornar realidade, podendo ser utilizado, de fato, no dia a dia. "Dezoito meses para uma casa independente de energia. E aproximadamente 5 anos para estradas com carregamento automático."
Ulm afirma que "a tecnologia tem certamente potencial para ser disruptiva, no que diz respeito ao armazenamento de energia", e que o diferencial se dá porque ela pode ser produzida e operada em qualquer lugar, por qualquer pessoa, com baixo custo. "Isto torna o supercapacitor muito diferente de outras soluções de armazenamento de energia. Se isso conduzirá a uma revolução no setor de energias renováveis, é uma questão de saber com que rapidez esta tecnologia será adotada ao redor do mundo", declara o pesquisador. "Todos sabemos que tal revolução é necessária para combater as alterações climáticas e para que possamos passar dos combustíveis fósseis para as energias renováveis, em maior escala", complementa.
Como funciona o supercapacitor
De acordo com a MIT, os capacitores são dispositivos, em geral, simples, constituídos por duas placas eletricamente condutoras, que têm a capacidade de se manterem carregadas de energia e liberá-la quando necessário, rapidamente. Já o supercapacitor pode armazenar cargas muito maiores, como é o caso da novidade apresentada no estudo.
Para chegar a esse equipamento, os pesquisadores quiseram criar uma opção ao que existe atualmente, já que, segundo eles, as baterias existentes são muito caras e dependem principalmente de materiais como o lítio, cujo fornecimento é limitado. E armazenar energia é algo essencial, já que formas alternativas de energia, como eólica e solar, são produtivas em períodos variáveis, que muitas vezes não correspondem aos picos de utilização.
O professor Ulm também revelou ao Massa Cinzenta que, até o momento, os experimentos estão sendo feitos em menor escala. "Agora, somos capazes de armazenar a energia e a potência para carregar um smartphone num sistema de 12 volts. Estamos trabalhando na combinação desses sistemas de 12 volts para atingir a potência necessária para uma casa", explica.
Fontes
Massachusetts Institute of Technology (MIT)
Franz-Josef Ulm, professor de Engenharia Civil e Ambiental do MIT
Jornalista responsável
Fabiana Seragusa
Vogg Experience
Empresa UOVO produz tanques em formato de ovos de concreto para a indústria vinícola
Instalada em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, a UOVO é a primeira empresa do Sul do Brasil a produzir tanques de concreto para a indústria vinícola e de destilados. A ideia do projeto foi ser uma alternativa para empresas que buscam processos de elaboração especiais para as bebidas, já que o formato e o material utilizados proporcionam diversos benefícios.
O lançamento oficial foi realizado durante a ProWine, em São Paulo, entre os dias 3 e 5 de outubro. Paula Grazia Reginato, diretora da UOVO ao lado de Pedro Antônio Reginato e Adelar Silvestro, contou ao Massa Cinzenta que a participação na feira foi definitiva para que outros mercados produtores, não só os brasileiros, conhecessem a proposta e a história da empresa - e para que também pudessem constatar, pessoalmente, a qualidade dos produtos.
"Além disso, a troca de ideias, sugestões com produtores que já utilizam esses tipos de tanques (principalmente na Argentina, Uruguai e Chile), foi de extrema importância para identificarmos possíveis melhorias futuras", afirma Paula. "O reconhecimento pelo público, pela iniciativa da UOVO em fazer esses modelos em escala industrial no Brasil, foi muito satisfatório, pois é uma tendência do mercado de bebidas o uso de tanques de concreto, que está chegando com mais força no Brasil recentemente", explica.
Expertise no ramo de concreto
A UOVO já surgiu tendo como respaldo a experiência de 44 anos da Concresul, que é cliente exclusivo da Itambé, e de 20 anos da Acor Tintas e Revestimentos. As empresas são consideradas referência em serviços como pavimentação asfáltica, britagem e central dosadora de concreto (no caso da Concresul), e argamassa pronta e tintas prediais (no caso da Acor), entre outros.
Os diretores da UOVO, que atuam nestas empresas e acumulam sólido know-how nestas áreas, oferecem, agora, seus conhecimentos neste novo projeto ao unir as paixões pelo trabalho em concretagem, tintas minerais e revestimentos com as nuances do mundo do vinho e destilados.
Paula Grazia Reginato diz que foram dois anos de pesquisa, projetos e testes até chegarem aos dois modelos disponibilizados atualmente, o tanque ovóide e em esfera. "Temos planos de lançar novos modelos, mas antes queremos 'sentir' o mercado. A demanda dos clientes, não só da indústria vinícola, mas também de cervejarias e outras bebidas, vão dar a direção a seguir, não só em termos de modelos, mas também de capacidade."
A diretora ressalta que os tanques de concreto são fabricados em diversos países da Europa, nos Estados Unidos e, mais recentemente, na Argentina. "Os produtores brasileiros costumam importar de fornecedores italianos, franceses e, em alguns casos, da Argentina. Além do trâmite para importação do produto, o frete é um fator que também pesa bastante, afinal, são tanques pesados, e em alguns casos envolvem transporte marítimo", afirma Paula, destacando o benefício de haver um produto fabricado no país. "A UOVO tem as vantagens de estar em solo brasileiro, em meio a uma das principais regiões produtoras de vinhos, otimizando atendimento, entrega e pós-venda."
Benefícios do tanque de concreto
De acordo com a UOVO, o tanque de concreto, sem cantos e bordas, faz com que o vinho se movimente de forma constante no interior oval do recipiente, sem sofrer interferência externa e tendo pouco contato com o oxigênio, e a porosidade do material (que proporciona a micro-oxigenação lenta e gradual) preserva o caráter frutado do vinho, deixando-o limpo e íntegro tanto no visual quanto no paladar.
Além disso, o material proporciona temperatura constante e natural, facilidade de limpeza e durabilidade dos tanques. Atualmente, a UOVO oferece opções de tanques para vinhos tintos com capacidade para 1,125 mil litros (formato oval) e 1,5 mil litros (esfera).
O Merlot safra 2022 da Vistamontes, de Bento Gonçalves, foi o primeiro vinho elaborado nos tanques da UOVO. Ele ficou armazenado por nove meses nos ovos de concreto, destacando a fruta e o frescor da bebida.
Fontes
UOVO
Paula Grazia Reginato, diretora da UOVO
Jornalista responsável
Fabiana Seragusa
Vogg Experience