Argamassa estabilizada: veja cuidados na produção
Controle tecnológico passa por três etapas, que incluem a liberação das cargas e retenção de amostras
O uso da argamassa estabilizada se tornou comum em todo o país, nos últimos anos o volume entregue em obra cresceu consideravelmente se comparado aos demais tipos de argamassa utilizados. Seus diversos benefícios estão sendo cada vez mais reconhecidos pelas construtoras e obras que fazem uso dos sistemas argamassados. Por se tratar de um material pronto para aplicação e de fácil uso, a argamassa proporciona um aumento da eficiência, além de reduzir as variações nas propriedades do material durante a construção. No entanto, seu uso, apesar de bastante difundido dentro das construtoras e fabricantes, ainda apresenta alguns desafios, como por exemplo, variações e erros de dosagem, falta de controle no processo produtivo e em obra, além da falta de cuidado no recebimento, armazenamento e uso da argamassa nos locais de aplicação. Tamanha a importância do tema, que o mesmo teve um espaço dedicado em dois seminários dentro do 64º Congresso Brasileiro do Concreto, em Florianópolis, em especial na palestra “Cuidados na Produção de Argamassa Estabilizada”, do engenheiro e mestre Luiz Alberto Trevisol, gerente técnico da Hobimix.
“A argamassa estabilizada é uma argamassa úmida pronta para uso, composta pela mistura de ligantes inorgânicos, agregados miúdos, aditivos e água, podendo conter adições, que mantém as suas propriedades físicas do estado fresco por um período prolongado. É produzida em central dosadora e entregue em caminhões betoneira”, afirma Trevisol Junior.
Por que usar a argamassa estabilizada?
De acordo com o gerente técnico da Hobimix, o uso da argamassa estabilizada proporciona inúmeras vantagens.
“Por se tratar de uma argamassa dosada e produzida em central, o controle técnico é rigoroso. Portanto, proporciona ao usuário uma maior garantia técnica, já que todo o processo produtivo é monitorado em tempo real, começando no registro dos traços pelo departamento técnico, passando pela caracterização e controle das matérias primas, que no processo são todas dosadas em massa, em balanças calibradas periodicamente, com uso de aditivos de última geração. Além disso, há o uso da tecnologia da informação para registrar todas as variações do processo em tempo real, garantindo assim que as cargas produzidas atendam rigorosamente o que foi pré-determinado pelo departamento de desenvolvimento em relação ao desempenho do produto, garantindo uma menor variação do traço”, explica.
O controle técnico realizado pela empresa produtora também é uma garantia para o cliente. Da mesma forma, os ensaios de liberação das cargas, moldagens de corpos de prova e a validação das propriedades mecânicas garantem o desempenho e a durabilidade da argamassa entregue, segundo Trevisol Júnior.
Ainda, o engenheiro aponta que a argamassa estabilizada oferece melhor homogeneidade, melhor acabamento e menor desperdício de material.
Em obra, a logística de canteiro também é vantajosa, já que a argamassa chega pronta e em condições de uso. Isso diminui o tempo de espera nos pontos de aplicação e, aumenta a produtividade e, consequentemente, gera uma considerável redução de custo”, afirma Trevisol Junior.
Cuidados na produção: estabilidade da argamassa
De acordo com gerente técnico da Hobimix, a estabilidade da argamassa está relacionada principalmente a três fatores: retenção de água, manutenção do ar incorporado e desempenho e dosagem do aditivo estabilizador.
“Para que esses fatores sejam garantidos e respeitados é importante entendermos das propriedades físicas e químicas dos materiais constituintes no traço. Por exemplo: uma boa distribuição granulométrica da areia facilita a incorporação de ar, regula o consumo e retenção de água. O tipo de cimento interfere diretamente no desempenho da argamassa, já que os cimentos possuem características diferentes e, consequentemente, a compatibilização com os aditivos químicos também é diferente”, expõe Trevisol Junior.
A respeito dos aditivos, é importante entender se as bases químicas são compatíveis com o cimento utilizado. “A dosagem e desempenho deles dependem dessa compatibilização. Uma dosagem racional parte do entendimento das propriedades dos materiais. O aditivo incorporador de ar é responsável pela formação de bolhas a partir de cadeias apolares de cargas negativas. Ao se aproximarem, geram o efeito de repulsão fazendo com que haja um deslizamento, proporcionando à argamassa a plasticidade. As bolhas formadas não geram capilares entre si, impedindo assim a saída de água da argamassa colaborando na retenção de água”, destaca Trevisol Junior.
Ainda, o aditivo estabilizador é responsável por envolver os grãos de cimento, impedindo a chegada da água, evitando assim a hidratação do cimento. “O tipo de açúcar utilizado na fabricação deste aditivo interfere diretamente na estabilidade e no comportamento da argamassa no estado endurecido. O tipo e a quantidade de cal também são um balizador na estabilidade da argamassa. Pela simples presença de Hidróxido de Cálcio – Ca(OH)₂, há um consumo maior de aditivo estabilizador. Por fim, o armazenamento da argamassa em obra deve garantir que a água presente na mesma não seja perdida. Desta forma sugere-se a película de água sobre a argamassa entregue nas caixas”, propõe o engenheiro.
Controle tecnológico
Trevisol Junior explica que o controle tecnológico na Hobimix é dividido em três níveis/etapas:
- Controle de liberação das cargas: todas as cargas produzidas passam por uma avaliação. São realizados dois ensaios: índice de consistência pelo método flow table e o teor de ar incorporado pelo método gravimétrico. Esses ensaios são realizados pelos próprios motoristas e os resultados são registrados em uma ficha de carregamento que contém os parâmetros máximos e mínimos para cada um dos ensaios. Se, por uma eventualidade, os parâmetros fugirem do padrão, o departamento técnico é acionado para correção antes da liberação das cargas para a obra.
- Retenção de amostras das argamassas: é feita de forma estatística. Com as amostras, são realizadas avaliações de estabilidade (ensaios de ar e consistência) dentro do período de uso da argamassa, além de moldagens de corpos de prova para a realização de ensaios mecânicos no estado endurecido.
- O terceiro nível de controle é realizado em parceria com algumas obras, onde estão posicionados a grande parte do volume produzido. O departamento técnico faz a coleta da argamassa em obra. Nessa etapa, é realizado o ensaio de teor de ar incorporado para avaliar como a argamassa está chegando em obra. A partir daí, são registradas as informações de onde a argamassa está sendo aplicada: qual pavimento, se o uso é interno ou externo, qual o tipo de substrato, se tem chapisco ou não, além de todas as informações de carregamento e horários. Com as amostras coletadas são realizados ensaios de estabilidade, calorimetria para identificar início e fim de pega, retenção de água, além da moldagem de corpos de prova para a realização dos ensaios no estado endurecido. Esse acompanhamento gera uma ficha de registro, que é utilizada como demonstrativo de resultado, caso o cliente solicite, e como identificação de possíveis pontos de correção e/ou melhoria pelo departamento técnico.
Por outro lado, o controle em obra realizado pela construtora/cliente dificilmente é realizado, de acordo com Trevisol Junior. “Pela falta de normas que exigem tal controle, a maioria das construtoras se atém a realizar apenas a validação das argamassas em pequenos panos teste ou em prismas moldados (no caso de argamassas de assentamento) antes do início do uso das argamassas. Durante a obra, são pouquíssimas construtoras que fazem um acompanhamento”, conclui o gerente técnico da Hobimix.
Entrevistados
Luiz Alberto Trevisol Junior, gerente técnico da Hobimix é engenheiro civil, mestre em engenharia de materiais com trabalho voltado ao estudo das propriedades e desempenho da argamassa estabilizada
Contato
luiz.alberto@hobimix.com.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
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