Alvenaria estrutural lidera industrialização de obras
Especialista avalia que sistema construtivo já predomina em empreendimentos habitacionais com mais de 100 unidades construídas.
Especialista avalia que sistema construtivo já predomina em empreendimentos habitacionais com mais de 100 unidades construídas
Por: Altair Santos
Se há ponto positivo no fato de o Brasil enfrentar escassez de mão de obra na construção civil, ele se evidencia na determinação do setor em compensar esse gargalo com investimentos em novas tecnologias e em sistemas construtivos que dependam menos da manufatura. Dentro do processo de industrializar o canteiro de obras, o engenheiro civil e professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Guilherme Aris Parsekian avalia que a alvenaria estrutural é o que tem obtido resultados mais significativos, principalmente quando empregado em construções habitacionais de larga escala.
Para ele, a alvenaria estrutural tem permitido a algumas construtoras brasileiras implementar dentro dos canteiros de obras sistemas muito semelhantes às linhas de montagem da indústria automobilística. “Em obras com mais de 100 unidades habitacionais isso já ocorre, mas o ideal seria que a construção civil chegasse ao nível em que nada fosse produzido no canteiro de obras, ou seja, o fabricante forneceria componentes que se encaixariam perfeitamente em qualquer unidade. Isso ainda não acontece, mas vai acontecer a partir do momento em que sistemas de coordenação modular estiverem implementados na construção civil“, diz Parsekian.
O professor da UFSCar, no entanto, constata que a evolução da alvenaria estrutural como sistema construtivo racional, econômico, seguro e bem acabado está condenando a alvenaria convencional a empreendimentos de pequeno porte. “Se a quantidade de unidades for muito grande, como a gente tem vários casos atualmente, o sistema tijolo a tijolo não é mais economicamente viável. Por isso, a alvenaria estrutural tem sido cada vez mais aceita como processo estritamente industrializado. E como ela está muito bem organizada, tem estimulado a busca de novos sistemas. Por exemplo, paredes de concreto, quando existe uma quantidade grande de obras, é outro sistema que está com boa aceitação”, explica.
Como industrializar
Parsekian alerta que construtoras que se utilizam da alvenaria convencional e querem migrar para novas tecnologias, a fim de sistematizar o canteiro de obras, devem procurar os profissionais especializados e organismos de disseminação de conhecimento tecnológico. “A própria ABCP (Associação Brasileiro de Cimento Portland) tem uma série de publicações sobre vários sistemas construtivos e disponibiliza essa informação”, afirma, completando que o custo maior é o de se implantar a tecnologia. “Implementar custa mais, mas desde que o processo seja bem feito e bem treinado esse custo se dilui com o tempo. Já a implementação incorreta vai gerar falhas e, consequentemente, aumentar o custo do processo.”
Segundo o especialista, se o Brasil tivesse uma norma de coordenação modular que fosse obrigatória, e não apenas recomendável, é possível que a industrialização nos canteiros de obras já estivesse disseminada. “Tem alguns entraves que a gente pode colocar, como, por exemplo, a questão da coordenação modular. No Brasil, ela não é obrigatória, mas só uma recomendação, e mesmo assim os agentes financeiros liberam recursos para obras sem coordenação modular efetiva. Esse é um entrave, como é a questão tributária sobre a industrialização do setor e a qualificação da mão de obra”, ressalta.
Vale lembrar que o Brasil tem uma norma de coordenação modular decimétrica (módulo de 10 cm) aprovada desde 1950: a NB-25R. Entre os anos 1970 e 1980, o Banco Nacional da Habitação (BNH) promoveu a implementação dessa importante ferramenta para a racionalização da construção civil. A própria Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) tem quase 30 normas sobre coordenação modular, mas ela é ainda pouco utilizada pelo meio técnico. Guilherme Parsekian , no entanto, avalia que as novas gerações de engenheiros civis e arquitetos têm uma proposta de industrialização mais arraigada e que, no futuro, isso será inerente à profissão. “Na universidade eles já chegam com o propósito de dominar tecnologias, o que estimula as mudanças”, finaliza.
Entrevistado
Guilherme Aris Parsekian, coordenador do curso de graduação em engenharia civil da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Currículo
– Engenheiro civil pela UFSCar, mestre em estruturas (distinção) pela EESC-USP e doutor em construção civil pela EP-USP, com pós-doutorado pela University of Calgary
– Desde 1994 trabalha com alvenaria estrutural, tendo participado de vários projetos e pesquisas
– É membro de comitês de norma de alvenaria estrutural da ABNT e norte-americana, revisor de revistas especializadas e autor de vários artigos e livros técnicos
– Atualmente é coordenador do curso de engenharia civil da UFSCar, onde também é professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Construção Civil, além de desenvolver consultorias em projeto de edifícios, avaliação experimental do desempenho estrutural e pesquisas aplicadas na área
Contato: parsekian@ufscar.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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